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Aparentemente retirado de Druidismo: Inspiração de Ontem e de Hoje de


Emma "Bobcat" Restall Orr.

Um jovem, de olhos fechados, senta-se sobre as raízes cinzentas de uma velha faia. Sua
cabeça está levemente inclinada para o lado, balançando ao ritmo que ele parece ouvir no
interior. Ele franze a testa, atento, inclinando-se um pouco para a frente, como que buscando
ouvir com maior clareza as sutilezas de uma melodia, e seus lábios formam um sorriso.
Entreabrindo seus olhos, ele mete a mão nos bolsos de sua jaqueta, movendo seus pés alguns
centímetros, suas botas de caminhada se enterrando levemente no solo enlameado, e ele leva
sua flauta metálica à boca, fechando novamente os olhos e respirando como se fosse suspirar.
Ele começa a tocar, e enquanto as notas se erguem sob o brilho suave do sol de outono uma
outra folha seca vem caindo, quase sem pelo, levada pela brisa.

Uma imagem de um Druida. Permita-me o leitor que lhe mostre outra, de um fogo que arde,
ouro alaranjado brilhando numa grande bandeja de ferro preto, sob o negro céu noturno. As
chamas custam a se erguer por entre o emaranhado de ramos de freixo, uma língua amarela
de fogo saindo da madeira como se estivesse brincando de esconder, enquanto três mulheres
se movem em silêncio seus corpos em movimento, sinuosos, depois tesos, e novamente
flutuando como se o vento frio fosse água tépida. Ao redor delas, vêm-se pedras; algumas
caídas, outras erguidas, cada uma delas assistindo, ouvindo as mulheres, o canto baixo a bocas
fechadas, a melodia que brota de suas almas, enquanto invocam através de sua reverência a
mãe escura da criação, sua deusa do inverno.

Num monte cerimonial, a algumas milhas de distância, poucas horas após o romper da aurora,
temos um homem enrolado numa túnica de pele de lobo e úmida com o orvalho matinal. Seus
olhos bem abertos, seus braços erguidos aos céus, ele solitariamente revive a dor de um
ancestral há muito morto. Em silêncio, ele pede em meio à sua excitação por alguma
orientação divina, enquanto as palavras jorram de sua boca. Um gavião paira sobre o vale
abaixo com seu olhar atento, sustentado pelo vento. Corvos cortam os ares sob o céu cinza-
pálido. A história deve ser contada, não importa quem esteja ouvindo.

À luz do dia, antes do trabalho, uma mulher vai a seu jardim, seus pés pisando as folhas secas
caídas sobre a grama. Seus dedos acariciam a folhagem do teixo, demonstrando sua afeição,
enquanto ela se dirige para seu altar. Ela traz um buquê de flores vermelhas nas mãos.
Quando se aproxima, ela se curva em saudação: "Salve, Espíritos", ela murmura. Sua testa
franze levemente, sem que ela perceba. Depositando os botões sobre a antiga laje de granito,
a donzela das flores sorri, sua face de pedra ajustando o foco para melhor usar a energia
diante dela. A mulher sente. Por um instante, ela fecha seus olhos, e encaminha suas orações.
Em seu caminho de volta à casa, ela apanha uma amora da sebe, apertando-o entre seus dedos,
e levando o sumo carmim a seus lábios sorridentes.

Quatro imagens do Druidismo. Nenhuma delas semelhante à imagem pré-concebida de homens


trajando túnicas brancas, barbados, com cajados entalhados e uma foice dourada presa ao
cinto. Na verdade, essa imagem do Druida trajando branco não possui mais do que duzentos
anos, e foi criada num período onde a tradição era vista com renovado interesse, quando uma
figura da literatura clássica de dois milênios antes foi escolhida entre tantas outras: a
descrição de Plínio de um Druida colhendo o visgo do carvalho sagrado. Se tivessem escolhido
Estrabo, o estereótipo poderia ser bem diferente, mas seus Druidas - trajando vermelho,
com ornamentos dourados - talvez não apresentassem a dignidade e a nobreza que se buscava.
Com o retorno dos viajantes ingleses, trazendo estórias das culturas primitivas das Américas
e da África, os interessados pela herança dos Celtas tropeçavam em si mesmo em busca de
fatos e provas; do tecido formado pelo cristianismo não-conformista e pelo antiquarianismo (a
arqueologia inicial) surge uma nova espécie de Druidismo. Era patriarcal e hierárquico, um
sistema de aprendizado para a sociedade masculina letrada, e também monoteísta, pois
apresentava os Druidas cultuando o sol como a "mais elevada Luz", um precursor do Cristo.

Os ensinamentos desses Druidas ainda exerce influência sobre certas Ordens e grupos
atualmente. Uma Ordem chegou a usar barbas falsas até o início do século XX, as quais
provavelmente estão penduradas em um armário de seus escritórios. Essa imagem ainda está
bastante forte em nossa cultura. Porém, de modo geral, o Druidismo praticado hoje em dia é
substancialmente diferente daquele surgido do resgate ocorrido no século XVIII. Apesar de
ainda existirem muitos na tradição que ainda confeccionam suas próprias vestes brancas (em
sua maioria de tecidos naturais sem tingimento), existem muitos outros que trajam túnicas
verdes, azuis, vermelhas e roxas, e até mesmo pretas, descobrindo nas cores as ligações com
o meio ambiente no qual vivem. Folgo em informar que as barbas hoje estão longe de serem
compulsórias...

A imagem arquetípica criada no período do reavivar do interesse pela tradição, contudo, ainda
tem seu papel, se bem que somente se olharmos para quem está por baixo das túnicas. Pois eis
ali um homem de idade avançada, gentil e sábio, seus olhos reluzentes de vida, e até mesmo de
troça - o brilho do Conhecimento. Fragilizado pela idade avançada e por sua extraordinária
experiência tanto de dor quanto de poder concedido, pelos anos de ver o interior, ele a um
mesmo tempo vulneravelmente humano e totalmente invulnerável, graças a sua consciência do
Espírito. Sem dúvida, não importa se ele é o velho mago britânico Merlin, o mítico bardo
Taliesin ou o irlandês Amergin, ou ainda o Gandalf de Tolkien ou o Panoramix dos quadrinhos
franceses, esta é a figura responsável por atrair tantos para esta Tradição.

Mas que Tradição?

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