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Esmigalhamos – em verdade – suas estátuas,
os expulsamos – em verdade – dos santuários,
porém dos deuses – nem por isso – pereceram.

Konstantínos Kaváfis

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SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, R2B PRODUÇÕES
E SOCIEDADE LÍQUIDA APRESENTAM

UM SOLO DE LAERTE KÉSSIMOS


DRAMATURGIA DE LEONARDO MOREIRA
DIRIGIDO POR AURA CUNHA

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[Morro pela boca; vivo pelos olhos]
1990
Nesse momento, fico até feliz que minha mãe esteja
morta: ela não está aqui para testemunhar esse
momento horrivelmente absurdo que vivemos: ela
não vê nosso pesadelo diário, os traços de uma
gente que promove e festeja a morte d’ [Os negros;
os judeus; os homossexuais; as mulheres;
os comunistas; os aleijados] – 1990; e dos
indesejáveis [mulheres / ciganos / comunistas
/ homossexuais / negros / aidéticos / judeus /
aleijados] – Sem título, 1991. Ela não está aqui
vendo essa gente triste e careta, sem apreço pela
humanidade, que despreza a diferença, a cultura,
a natureza, a ciência, a beleza. Que não sabe o
que é prazer. Gente gananciosa que quer dinheiro,
poder e escravo. Que destilada o ódio. Que desfila
a ganância e a guerra. Mas uma coisa me deixa
triste: ela não está aqui, testemunhando a minha
resistência, apesar de tudo. Ela não conheceu o
Laerte, que me ensinou a desenhar um coração.
Ela ia gostar dele. Tenho certeza. Ela ia dizer que
ele é um homem sensível e elegante. Ela não
está aqui com a gente, reunida nessa sala de
espetáculos, para viver alguma experiência que
dê sentido à vida, tentando reinventar a realidade.
(É, a vida é besta, mãe! Como você sempre fez
questão de reiterar.) Em nossa última conversa ela
me disse: que bom, minha filha, que você pode,
na sua profissão, falar o que você pensa, fazer o
que você quer, ser quem você é. Que bom que,
mesmo com todas as dificuldades da vida, você
não desistiu! E rindo, finalizou: LULA LIVRE!

Aura Cunha

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São tantas as verdades
1988
Quarta-feira, 26 de outubro de 2019. Estou aqui sentado
no meu ateliê escrevendo um texto para o programa da
peça. Como começar? Conheci o trabalho do Leonilson
há mais de dez anos, e à primeira vista, fui abduzido
para essa relação louca de afeto e reconhecimento com
sua obra e sua biografia. Desde os primeiros encontros
com o trabalho dele, algo ainda sem forma começou a
crescer na minha cabeça. Uma vontade de contar a sua
história da minha maneira. Vontade de perambular pelas
esquinas do meu mundo, e de refletir sobre uma série de
coisas que ficam dando voltas na minha cabeça.

Além disso, eu acredito que, nos tempos atuais, em que


a opressão e o conservadorismo se erguem como uma
onda alta que pode nos derrubar com força, trazer à tona
um artista gay (vale ressaltar a tragédia que é, esse ainda
ser um tema controverso em nosso país); HIV positivo
(esse tema migrou de uma epidemia descontrolada para
um preconceito escondido, cruel e silencioso) e a favor
de uma política subjetiva e íntima (quando a subjetividade
e a intimidade são os primeiros alvos de políticas
opressivas) já é, em si, um ato político. Cada vez que as
ondas conservadoras tentam nos derrubar, mergulhamos
mais, e mais fundo. Nesse momento da minha vida, eu
acredito que a tábua a que nos agarramos no meio desse
naufrágio só pode ser poética – a um só tempo pessoal
e política.

Pensei que talvez fosse bonito terminar esse texto


copiando um pensamento da Violeta Parra: “É muito
maior. É muito mais terrível. A vida é mais forte que uma
pintura, um poema, uma canção”.

Laerte Késsimos

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José Leonilson
Leonilson é um dos principais nomes da arte
contemporânea brasileira, conhecido por sua obra
singular e autobiográfica. Nascido em Fortaleza, em
1957, Leonilson mudou-se com a família para São Paulo
ainda pequeno, e logo cedo começou a demonstrar
o seu interesse pela arte. Fez cursos livres na Escola
Panamericana de Arte e depois ingressou no curso de
Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado,
deixando-o incompleto, para iniciar sua trajetória artística.

Na década de 1980, fez parte do grupo de artistas que


retomou a prática da pintura, conhecido como ‘Geração
80’. Participou de importantes mostras no Brasil e no
exterior, como Bienais, Panoramas da Arte Brasileira, e a
emblemática Como vai você, Geração 80?. Interessado
em moda, trabalhou com o grupo teatral Asdrúbal Trouxe
o Trombone, com a criação dividida de cenários e figurinos
do espetáculo A Farra da Terra. A convite de Gloria Kalil,
apresentou sua interpretação sobre moda em evento de
lançamento de coleção da grife Fiorucci.

Leonilson era um viajante apaixonado. Morou


temporariamente em Madri, Milão e Munique, e viajava
frequentemente pelo Brasil e exterior, buscando e
vivenciando novas experiências. Essa paixão foi
fundamental para fazer dele um artista atualizado, sempre
em contato com as últimas tendências, por dentro dos
movimentos que agitavam o cenário cultural-artístico da
época.

O artista faleceu jovem, em decorrência do vírus HIV, na


cidade de São Paulo, em 1993, aos 36 anos de idade.
Deixou cerca de 4.000 obras, além de múltiplo acervo
documental. Sua poética trata sobre sua existência,
debate sentimentos, alegrias, conflitos, dúvidas e
principalmente, no final de sua vida quando descobre ser

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portador do vírus HIV, sobre suas angústias, medos, a
convivência com a doença e o impacto que ela causa
na sua vida. Sua produção é considerada por críticos
brasileiros e internacionais de grande valor conceitual para
a arte no Brasil, sendo o retrato autêntico e incansável
de uma geração e, que por abordar questões cruciais
inerentes à subjetividade humana, se faz capaz de gerar
identificação e diálogo universal.

Fonte: site Projeto Leonilson – www.projetoleonilson.com.br

foto: Eduardo Brandão

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Equipe criativa e técnica
SER JOSÉ LEONILSON
Idealização e atuação LAERTE KÉSSIMOS
Direção AURA CUNHA
Dramaturgia LEONARDO MOREIRA

A partir de depoimentos sonoros gravados por José Leonilson


(1990-1993) e Laerte Késsimos (2016-2019), com referências a
Adriano Pedrosa, Alain de Botton, Aura Cunha, Barrett Strong,
Bitu Cassindé, Christian Flores, David Bowie, Eduardo Jardim,
Garth Greenwell, Georges Vigarello, Gustave Flaubert, James
Baldwin, Jonah Lehrer, Jonathas de Andrade, Lisette Lagnado,
Louise Bourgeois, Marvin Gaye, Norman Whitfield, Paul Thomas
Anderson, Rosa Montero e Violeta Parra.

Assistência de direção AMANDA LYRA


Música original MARCELO PELLEGRINI
Desenho de luz ALINE SANTINI
Cenografia MARISA BENTIVEGNA
Pesquisa, figurino e direção audiovisual LAERTE KÉSSIMOS
Pesquisa corporal DIEGO HAZAN
Operação de som PEDRO RICCO
Operação de vídeo ALLYSON DO NASCIMENTO
Operação de luz CÉZAR RENZI
Diretor de fotografia (filme, rio da minha infância) ANDRÉ PORTO
Montagem de luz PAJEÚ OLIVEIRA
Assistência de cenografia AMANDA VIEIRA
Cenotecnia ALÍCIO SILVA
Assessoria de vídeomapping ALEXANDRE GONZALEZ
Produção musical e pós de áudio SURDINA
Fotografia e registro em vídeo LEEKYUNG KIM
Réplicas camisa do pai LEOPOLDO PONCE
Direção de produção RENATA BERTELLI E GUSTAVO SANNA
Produção executiva LUDMILLA PICOSQUE E YUMI OGINO
Assessoria de imprensa POMBO CORREIO
Apoio institucional para pesquisa PROJETO LEONILSON

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Obras de Leonilson (em ordem de aparição em cena)
Auto-retrato (sic) - 1993
El Puerto - 1992
Para o meu vizinho de sonhos - 1991
Leo não consegue mudar o mundo - 1989
Jogos perigosos - 1990
O q. você desejar, o q. você quiser eu estou pronto para servi-lo - C. 1990
Os pensamentos do coração - 1988
[São Paulo não é nenhuma Brastemp] - 1992
[Isolado; frágil; oposto; urgente; confuso] C. 1991

Fotos Leonilson (em ordem de aparição em cena)


Ronaldo Miranda
Eduardo Brandão

Fotos caracterização Laerte/Leonilson e fotos obras Laerte


André Porto

Este espetáculo estreou 14/11 na sala multiuso TUSP/CEUMA

Agradecimentos

Ana Lenice Dias Fonseca da Silva, Bianca Amaro, Bitu


Cassundé, Carlos Nader, Casa Líquida, Cadu Cardoso,
Eduardo Brandão, Equipe do Projeto Leonilson, Itaú
Cultural, Jan Fjeld, Julia Feldens, Kil Abreu, Lisette
Lagnado, Luna Martinelli, Ofélia Lott, Pedro Luis,
Solange Dias, Tuna Dwek, Zaila B.

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Catálogo Exposição
COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO

Dos desentendimentos e dos entendimentos - 2019


Folhas de ouro imitação sobre conchas marinhas de Valizas/Uruguai
14 cm

Faca - 2019
Folha de ouro 22k sobre madeira e cama de veludo
8x37 cm

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Como se desenha um coração? - 2019
Acrílica e caneta posca sobre lona
109x154 cm

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Rio da Infância - 2019
Aquarela e nanquin sobre papel
44x32 cm

O primeiro desejo - 2019


Bordado sobre tapete - 79X48 cm
(trabalho tátil)

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Run with me - 2019
Bordado, linha metálica e metal banhado a ouro, sobre lona e linho,
com fundo de cetim
49,5X30 cm

O Boizinho - 2018
Acrílica sobre tela
65x50 cm

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Sem título - 2019 Do bom coração - 2019
717 Pérolas e 1 guizo bordados sobre Bordado sobre tecido e fundo de
brim e feltro algodão cru
40X50 cm 43x82 cm

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ão - 2019 O Porto 1 - 2018 Teus oceanos - 2018
e fundo de Bordado sobre brim Bordado sobre crepe e fundo de cetim
godão cru 79X195 cm 38x69 cm
43x82 cm

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Camisa do pai - 2018 Estou aqui tentando
Bordado sobre camisa do meu pai Bordado sobre vestido feito a
48x80 cm

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Estou aqui tentando (vestido no1) - 2019 Phedra - 2018
do sobre vestido feito a mão, algodão e cetim Saia de veludo
50X80 cm 12 m de roda x 95 cm de altura

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Jogo favorito - 2019
Acrílica e caneta Posca sobre madeira
122x17 cm

Ponte - 2018
Acrílica sobre massa corrida e papelão
81x30x36 cm

Remendo - 2019
Bordado e linha dourada sobre veludo
107x33 cm

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Ser José Leonilson - 2017
Bordado sobre voil
20x20 cm

Me tienes bajo tu hechizo- 2019


Bordado e botões dourados sobre lenço
20X21 cm

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Que pena siente el alma - 2019
Cobertor térmico, pássaros empalhados, lâmpada e cortina

Todo seu - 2019 Namorados - 2


Caneta posca sobre espelho em Caixa de música, espelho, miniaturas de f
moldura de cobre folheadas com folhas de ouro 22k e l
18x16 cm 8X8X6

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Hay más futuro que passado - 2018
Acrílica sobre copos descartáveis de café
12, 10 e 10 cm

Namorados - 2018 Todo seu 2 - 2019


espelho, miniaturas de ferro Caneta posca sobre espelho em caixa de
m folhas de ouro 22k e linha maquiagem de metal
8X8X6 cm 16,5x9,5 cm

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O Impostor - 2019 Primeiro encontro - 2019 Em
Bordado sobre linho Acrílica sobre tela Tec
40x56 cm 40x50 cm g

Bordado da mãe - 2019 Sem título - 2019


Bordado da minha mãe, miçangas, Acrílica sobre tela
conchas e canutilhos sobre jeans, em 40x50 cm
fundo de voil bordado - 44x53 cm

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Embaixo tem um coração - 2017 Você que eu quero imenso - 2017
Tecido, linha de algodão, coração e Bordado, pérolas e guizo sobre feltro
guizos - 20x28 cm (trabalho tátil) 28X35 cm

Tempo amor distância - 2017 Autorretrato com Goiaba - 2018


Bordado sobre feltro Bordado sobre linho com fundo de
19x27 cm cetim - 39x32 cm

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Mau começo - 2019 Mr. Lion - 2018
Madeira e folhas de ouro Acrílica e caneta posca sobre lona
22k 101x6x2 cm 9x86 cm

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Ilha - 2019 Space oddity - 2019
Madeira e tecido Foguete e astronauta de brinquedo
102x6x6 cm folheados com folha de ouro
imitação 35x4 cm | 3,5 cm

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Coleção de objetos dourados -2019 Você é o oceano em mim - 2019
Baú de madeira com objetos variados Bordado sobre feltro
folheados com folha de ouro imitação 19x27
e livro dourado

Avião - 2019 Trem BH/Vitória - 2019


Folha de ouro imitação sobre avião de metal Folha de ouro imitação sobre miniatura
17x15 cm de trem de passageiros 3,5x23 cm

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O Porto 1 - 2017 Algo que se esconde - 2017
Dedicatória (desejo) sobre livro Saco de veludo bordado com linha de
41x26 cm algodão e moedas - 22X16 cm

Idade de pedra - 2019 Idade de ouro - 2002/2019


Máscara mortuária de cimento (36 Folha de ouro 22k sobre máscara
anos) 24x16 cm mortuária de gesso (20 anos)
24x14 cm

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Sem título - 2019
Acrílico sobre lona costurada
64x40 cm

O lobo - 2018
Bordado e strass sobre travesseirinho com gizos
25x19 cm

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Use me - 2018
Bordado sobre travesseiro de organza e cetim
49x70 cm

A parte boa - 2017


Bordado e acrílica sobre organza e algodão
65x50cm

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Um adeus - 2019
Couro sintético e folha de ouro 22k sobre miniaturas de metal
17,5x12 cm

Coleção - 2019
Miniaturas de metal, estojo de maquiagem, folha de ouro imitação e folha
de ouro 22k
14x14 cm

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Rita, Velázquez, Elétron (velório), luva, sorvete (ou picolé), borboleta,
dedo cortado (perigoso?) e os pássaros mortos - 2019
Série de 22 fotografias em papel algodão - 15x21 cm

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apoio institucional para pesquisa

produção

realização

- Este projeto foi realizado com apoio do Prêmio Cleyde Yáconis - Secretaria Municipal de Cultura -

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