Você está na página 1de 12

1/6 a 8/7

A arte como observadora


da realidade
A relação entre arte e realidade é objeto de
reflexão nos mais diversos campos do
conhecimento. Uma obra artística evoca
elementos simbólicos compartilhados,
despertando conexões estabelecidas
socialmente, algo por si suficiente para
despertar relações com o vivido. Esse
dispositivo pode tornar-se ainda mais instigante
quando, anacronicamente, são antevistos os
desdobramentos de um contexto.

Essa é uma posição exclusiva da qual a arte


desfruta: a de um observador que, isento
de obrigações, simplesmente ocupa-se de
registrar algo prestes a eclodir. Em olhar
retrospectivo, trata-se de uma propriedade
expressa de maneira singular no romance
intitulado 1984, do escritor inglês George
Orwell, lançado em 1949, no qual se apresenta
uma distopia, cujo controle se dá pela vigilância
mútua. A história do protagonista, que faz o
revisionismo histórico em favor do regime,
cônscio das ambivalências latentes, cai
como uma fábula visionária para uma
atualidade que se depara com os efeitos
da chamada pós-verdade.
Não bastasse tanto, o autor escreveu um
apêndice pouco explorado à época, que permite
reabrir as questões da obra em perspectiva,
acrescendo nova camada de leitura. É desse
ponto, no qual a arte toma um posto de
observadora de si mesma, que o Núcleo
Experimental tece sua versão da narrativa
homônima para o teatro.

Ao abrigar esse projeto, o Sesc reafirma sua


crença no teatro contemporâneo como uma
representação estética de potência para trazer
à luz questões que nos constituem subjetiva
e politicamente.

Sesc São Paulo


SOBRE AS OBRAS
QUE NOS ATRAEM
E, AO MESMO TEMPO, REPELEM
A essência do duplipensamento é a capacidade
de aceitar dois conceitos completamente
contraditórios e acreditar que ambos são
integralmente verdadeiros. Pois bem, atração
e repulsa é o que eu sinto quando leio 1984, a
magistral obra de George Orwell a respeito do
controle do Estado (totalitário) sobre a vida do
cidadão comum, sobre a (des)politização que
forma massas de manobra com a população,
sobre a (auto)vigilância contínua que produz
paranoia ininterrupta, sobre a onipresença das
(tele)telas na vida das pessoas, entre tantos outros
temas que parecem saltar de 1949 diretamente
para os dias de hoje.

A adaptação de Duncan MacMillan e Robert


Icke faz mais ainda: ressalta e funde, a partir
do romance, duas ideias aparentemente
opostas – ficção e realidade. Qual delas é
mais preponderante sobre a outra? Elas são
necessariamente excludentes? No que acreditar
mais, naquilo que se supõe ficcional ou no que nos
ensinaram que é real? Em época de ficcionalização
da vida privada através das infames redes sociais,
os adaptadores colocam Winston Smith – o pacato
funcionário do Ministério da Verdade, que ainda
traz em si uma centelha de consciência – no
centro de um redemoinho de acontecimentos ora
reais, ora ficcionais, que poderia muito bem ser
encarado como um reality show a respeito do
próprio Winston. Desta forma, MacMillan e Icke
amplificam o alcance do romance e aproximam a
distopia ao nosso presente.

O resultado é = atração + repulsa.

No Núcleo Experimental, costumamos dizer


que os temas que nos interessam discutir sobre
o palco são aqueles que nos provocam raiva.
Esta montagem de 1984 vem contaminada
dessa revolta, dessa profunda indignação em
relação à Polícia das Ideias, que persegue o livre
pensamento e vaporiza quem não corrobora o
sistema; em relação ao Ministério da Verdade que
produz uma sequência interminável de notícias
falsas que confundem e manipulam os fatos;
em relação ao Departamento de Ficção, que
imbeciliza e amansa a população e até mesmo
à Novafala, a tentativa do poder estabelecido
de minar a linguagem ao ponto de impedir a
capacidade de pensamento.

Por esse ponto de vista, 1984 é 2018.


E a Oceânia é aqui.
Quem é o seu Grande Irmão?

Zé Henrique de Paula
Diretor
Apresentação
Imaginem uma sociedade onde somos vigiados,
monitorados e onde os fatos históricos e atuais são
distorcidos em favor dos interesses do governo.
Qualquer semelhança é mera coincidência. Este
cenário é retratado no espetáculo 1984, baseado
no clássico do jornalista e romancista inglês
George Orwell, adaptado pelos dramaturgos e
diretores britânicos Duncan Macmillan e Robert
Icke. Eles escolheram como ponto de partida de
sua adaptação o Apêndice do romance, o que cria
uma nova perspectiva para o inferno vivido por
Winston Smith na fictícia Oceânia.

A peça se passa em um futuro distópico (no ano


de 1984? 2084?), quando o Estado impõe um
regime extremamente totalitário comandado pelo
Grande Irmão. Oceânia é dominada pelo medo
e repressão; qualquer comportamento suspeito
pode ser considerado um “pensamentocrime”
(na tradução de Novafala) e você pode ser
“vaporizado” pela Polícia das Ideias. Winston Smith
tem a ideia de escrever um diário, apaixona-se
pela camarada Julia, do Departamento de Ficção
e começa a questionar a ideologia do partido,
mas nada escapa ao Grande Irmão. A partir do
momento em que Winston toca sua caneta no
papel, uma série de acontecimentos o conduz até a
chegada ao temido Quarto 101.
NÚCLEO EXPERIMENTAL
É um grupo de artistas que, desde 2005, se dedica
a explorar novos autores e repensar os clássicos,
focando na busca de excelência artística,
na formação e aperfeiçoamento de seus atores
e na opção por textos que dialoguem com a
sociedade contemporânea.

Nossa missão é fazer do teatro uma plataforma


para aquilo que a cultura pode oferecer de
melhor ao povo de uma cidade: entretenimento
aliado à inteligência, debate de ideias aliado
ao prazer, experiência estética aliada a uma
responsabilidade social.

Nosso repertório contempla mais de 20 peças


produzidas e um público direto de mais de 250.000
espectadores. Dentre as produções, as mais
recentes são: Urinal, O Musical e Lembro Todo Dia
de Você, que juntas somam mais de 50 indicações
a prêmios.
Biografias
GEORGE ORWELL (1903-1950) é o pseudônimo de
Eric Arthur Blair, escritor e jornalista inglês.
Nascido em Motihari, na índia Britânica, no dia 25
de junho de 1903. Veio de família aristocrata. Seu
pai trabalhava no Departamento de ópio do Serviço
Civil indiano e sua mãe teve grande influência em
sua carreira literária. Os estudos de Orwell foram
feitos na Escola São Cipriano e, posteriormente, no
Eton College, em Londres.

Em 1922, Orwell trabalhou em Burma, atual


Myanmar, assumindo um posto na polícia
do império. Em Twante, atuou como oficial
subdivisional e foi promovido a assistente da
Superintendência Distrital. A experiência em
Burma gerou o romance Burnese Days (1934) e
vários ensaios.

De volta a Londres, George Orwell resolveu viver


uma experiência como mendigo, o que também fez
em Paris e serviu de material para o livro Down
out In Paris and London (1933). Mas seus livros
mais famosos foram, A Revolução dos Bichos
(1945) e 1984 (1949), uma das publicações mais
vendidas do século XX.

Inicialmente adepto das ideias do comunismo,


George Orwell abandonou o pensamento socialista
quando tomou conhecimento das atrocidades e da
falta de liberdade dos países comunistas. O livro
1984 era uma crítica aos regimes totalitários. Na
obra, ele retratava um mundo fictício, no qual,
o personagem Winston Smith era o único que
preservava um senso de liberdade interior.

George Orwell faleceu vítima de tuberculose, em


Londres, Inglaterra, no dia 21 de janeiro de 1950.

ROBERT ICKE (adaptação). Escritor e diretor


premiado, Icke é diretor associado do Almeida
Theatre de Londres, onde escreveu e dirigiu as
montagens de Mary Stuart, Tio Vânia e Oresteia.
Por Oresteia, que foi produzido também no West
End, ganhou o Olivier Award, o Critics Circle Award
e o Evening Standard Award, na categoria Melhor
Diretor. Suas outras produções para o Almeida
Theatre incluem Mr. Burns, de Anne Washburn;
The Fever, de Wallace Shawn; a Ilíada e a Odisséia.
Boys, Romeu e Julieta (Headlong Theatre) e The
Red Barn (National Theatre). Icke é especialmente
conhecido por suas adaptações de clássicos, como
1984. Suas duas últimas produções: Hamlet e
Édipo, estão atualmente em cartaz em Londres.
 
DUNCAN MACMILLAN (Adaptação) Escritor e
diretor premiado. Suas peças incluem People,
Places and Things (National Theatre, West End);
Every Brilliant Thing, a adaptação de City of Glass,
de Paul Auster, escrita juntamente com Chris
Rapley. Macmillan adaptou e dirigiu juntamente
com Robert Icke, a versão para o teatro de 1984
de George Orwell, a peça cumpriu tournée em
vários países, teve três temporadas no West End e
ficou em cartaz na Broadway. Por esta montagem,
Macmillan foi premiado como Melhor Diretor no
Reino Unido.
Ficha Técnica – 1984
WINSTON – Rodrigo Caetano
O’BRIEN – Carmo Dalla Vecchia
JULIA – Gabriela Fontana
CHARRINGTON – Eric Lenate
PARSONS – Rogério Brito
SRA. PARSONS – Inês Aranha
MARTIN – Laerte Késsimos
SYME – Fabio Redkowicz
CRIANÇA – Chiara Scallet
GOLDSTEIN – Rodrigo Lombardi
CRIMINOSO – Bruno Fagundes
OGILVY – Gabriel Malo
VOZ OFICIAL DA TELETELA – Guilherme
Sant’Anna
VOZ DA PROFESSORA DE GINÁSTICA – Clara
Carvalho
VOZ DO DITÓGRAFO – Maria Manoella

Texto – Robert Icke e Duncan MacMillan, a partir


do romance de George Orwell
Tradução e direção – Zé Henrique de Paula
Direção musical – Fernanda Maia
Cenografia – Bruno Anselmo
Iluminação – Fran Barros
Figurinos – Zé Henrique de Paula
Design de som – João Baracho
Direção audiovisual – Laerte Késsimos
Direção de movimento – Gabriel Malo
Assistente de direção – Felipe Ramos
Assistentes de cenografia – Cesar Costa
e William Linitch
Assistente de figurinos – Fernando Fecchio
Tradutor assistente – Davi Tápias
Projeto gráfico e edição de fotos – Laerte
Késsimos
Fotografia de estúdio – Ronaldo Gutierrez
Coordenação de produção – Claudia Miranda
Produção executiva – Laura Sciulli
e Louise Bonassi
Assistentes de produção – Mariana Mello
Assessoria de imprensa – Pombo Correio
Assessoria jurídica – Grace Carreira
Diretor de palco – João Paulo Oliveira
Contrarregras – Diego Machado e
Jonas Meirelles
Operador de som – João Baracho e
Guilherme Ramos
Operador de luz – Tulio Pezzoni
Operador e técnico de videomapping – Alexandre
Carvalho Gonzalez
Direção de fotografia (vídeo) – Marco Lomiler
Som direto (vídeo) – Hudson Teixeira
Desenho de som e mixagem (vídeo) – Jonathan
Macias
Costureira – Tania Maria Bezerra
Prótese – Fran Barros
Cenotécnica – FCR Produções Artísticas
Coordenação de cenotécnica – Luis Rossi
Pintura de Arte – Fabio de Souza
Marcenaria – Fernando de Oliveira
Adereços – Alberto Souza

Agradecimentos: SP Escola de Teatro, Nábia


Villela, Helo Bortz, LandMark / Flat Fortune
Residence, Grupo Ultra, Gleiber Felix, Marco
Antônio Pâmio e Emma Magnus.

Esta obra é apresentada com a permissão de Bill


Hamilton, como agente literário do espólio de
Sonia Brownell Orwell.
1984
1/6 a 8/7/2018
Sextas e sábados, às 21h.
Domingos, às 18h.
Teatro Anchieta
Duração: 120 minutos.

Sesc Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245
01222-020 São Paulo - SP
Tel: (11) 3234-3000
email@consolacao.sescsp.org.br
/ sescconsolacao

sescsp.org.br/consolacao

Você também pode gostar