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Muitos alunos têm dificuldade de ler porque acham que estão lendo, mas não estão de
fato envolvidos na construção do sentido. Como nos lembra Tovani, “o significado chega
porque estamos engajados propositalmente em pensar enquanto lemos” (Tovani, 2004: 9).
Esses alunos podem estar fazendo uma pseudoleitura (Buehl, 2009: 32). Não é difícil
detectar quando isso está acontecendo. Algumas situações comuns mencionadas por Buehl
(2009: 33) são:
Procurando respostas – os alunos procuram respostas para as perguntas feitas pelo professor
correndo os olhos superficialmente pelo texto (skiming). Embora essa seja uma forma de
realizar a tarefa, esses alunos não estão lendo de fato, eles não necessariamente
compreenderam ou aprenderam o que leram. Esses alunos costumam dizer o seguinte: “Eu
não tenho problemas com o para casa. Eu só tenho problemas com as provas”.
Processamento superficial – Os alunos estão com os olhos no texto, mas não estão
realmente pensando sobre o que está escrito ali. Estão de fato pensando outras coisas! Eles
costumam esperar que o professor explique o que eles precisam saber e costumam dizer: “Eu
li, mas não entendi nada!”.
Lendo e esquecendo – Alguns alunos leem por obrigação, “mas como não investem em
realmente compreender o que o autor está dizendo, aproveitam muito pouco dessa leitura”
(Buehl, 2009: 33). Esses alunos costumam falar: “Eu li, mas não me lembro de quase nada”.
Aí o professor tem vontade de chorar, não é?
Esses alunos precisam entender que isso que estão fazendo não é leitura. Eles não
estão verdadeiramente lendo. Eles estão olhando para o texto superficialmente e precisam se
acostumar a usar algumas estratégias, caso contrário, não vão desenvolver a capacidade de
aprender com os textos.
O ensino da leitura é em grande parte o desenvolvimento de estratégias de leitura,
como mostram Cafiero e Coscarelli (2012: 10) nos seguintes trechos do texto “Ler e ensinar a
ler”:
Lidar com a materialidade do texto e com as intenções que nele são
marcadas pelo autor exige boas estratégias de leitura. O aluno vai ler
melhor se aprender estratégias que o orientem a agir sobre o texto,
articulando suas partes, relacionando conhecimentos, tecendo significados,
criando sentidos.
Na leitura, o bom leitor usa boas estratégias, ou bons caminhos, para
compreender. Essas são ações mentais que ele realiza sobre o texto. Algumas
delas ele realiza sem nem perceber, outras são mais conscientes, quando, por
exemplo, duvida do que leu e volta a ler para verificar sua leitura. Ou seja, o
bom leitor age sobre o texto monitorando sua leitura, ou verificando se está
compreendendo (Cafiero e Coscarelli,2012: 12).
A escolha de algumas estratégias pode ser uma questão pessoal, ou seja, alguns
leitores podem se adaptar a algumas estratégias, ao passo que outros podem preferir usar
outras. Além disso, diferentes textos ou gêneros textuais vão demandar estratégias também
diversificadas. Listamos aqui algumas estratégias que podem ser úteis por serem usadas por
leitores experientes. Essa lista, que toma por base a sugerida por Coiro e Dobler (2007), é
interessante porque expõe estratégias que usamos na leitura e muitas vezes sem mesmo nos
darmos conta do quanto elas são importantes para compreender:
1. passar os olhos no texto todo antes da leitura e observar os elementos que se
destacam: títulos, subtítulos, fotos, gráficos, itálicos;
2. fazer algumas previsões sobre o que vai encontrar naquele texto (a leitura
inspecional, que se faz logo no início, possibilita fazer perguntas ao texto antes de
começar a lê-lo);
3. estabelecer objetivos para a leitura (perguntando-se, por exemplo: para que
eu preciso ler esse texto? O que quero ou preciso encontrar?);
4. monitorar a compreensão – isso significa, durante a leitura, ir perguntando se
compreendeu (diante de um texto longo e complexo, o leitor competente faz isso
constantemente. É preciso ensinar o leitor pouco experiente a monitorar sua
compreensão.);
5. fazer perguntas sobre o conteúdo do texto (exercitar a ação de perguntar ao
texto pode ser uma excelente estratégia de compreensão).
Algumas outras ações de leitores experientes podem ser adicionadas como:
6. inferir o sentido de uma palavra ou expressão desconhecida, observando o
contexto em que esta se insere;
7. usar dicionário impresso ou eletrônico para saber o significado de palavras ou
expressões usadas no texto, para as quais não foi possível inferir significado;
8. marcar as partes mais importantes do texto com um marca-texto;
10. esquematizar o texto, tomando como referência marcas que ele mesmo traz,
como tópicos, subtítulos, negritos;
11. fazer anotações relevantes nas margens do texto lido;
Material produzido por
Carla Viana Coscarelli e pela
equipe do Redigir, FALE/UFMG