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MATEUS MARTINS FRANÇA

RA:184093

É importante para um educador, tornar o conteúdo apresentado ao aluno


como algo a ser experienciado e partir daí dar um sentido prático e cotidiano para o
conhecimento. Tendo isso como ideal, meu intuito com esse ensaio é trazer a partir
das minhas experiências como aluno, artista e, a prática ainda pouco explorada,
como educador, questionamentos sobre como o ensino é capaz de influir na criação
artística e como isso se deu ao longo da minha trajetória.
Segundo Vygotsky o desenvolvimento da linguagem se dá através das
interações entre o indivíduo e a cultura em que ele está socialmente inserido. Ao
tratarmos a arte como linguagem entende-se que ela possui a finalidade de
comunicar uma ideia e/ou sentimento, portanto é algo que se desenvolve por meio
de interações entre as pessoas que a consomem, produzem e ensinam. Assim
como não se pensa o desenvolvimento da fala sem que haja uma exposição aos
sons e gestos da língua, torna-se impensável o desenvolvimento da arte sem que se
tenha uma exposição à ela, e assim como no desenvolvimento de uma língua como
português por exemplo temos professores que nos ensinam a organizar aquilo que
se quer comunicar de maneira mais clara e objetiva através desse instrumento, o
mesmo se aplica às artes. Portanto o ensino se torna uma ferramenta
imprescindível para que o indivíduo se expresse.
Porém, tem-se hoje uma realidade em que para a maioria das instituições de
ensino, sejam elas universidades ou escolas, o caráter subjetivo do aprendizado é
muitas vezes deixado em segundo plano. É esse o ponto que acredito ser uma falha
nas instituições de ensino que participei e participo. Há sempre uma grande
preocupação com jogar os conteúdos para os alunos sem trazer isso para um
âmbito afetivo, que como foi dito no artigo A relação afeto cognição se torna
essencial para o aprendizado. Afetivo no sentido de considerar as experiências
sensíveis e emocionais com o conhecimento parte importante do processo de
desenvolvimento das habilidades e que não foque somente portanto, no âmbito
racional. Quando tratamos do ensino da arte, no caso a música que é o que eu tenho
mais vivência, não basta passar para o aluno estruturas teóricas e dar a ele um
conjunto de regras que devem ser seguidas, sem fazer com que depois o aluno
experimente isso, por tentativa e erro e a partir disso tire suas conclusões sobre o
sentido daquela regra para o seu fazer artístico, a técnica deve ser apresentada
como um meio e não como um fim.
Essa experiência com o conteúdo que está sendo tratado faz com que o
aluno tenha aquele conhecimento como algo sólido. Jorge Larossa Bondía em seu
artigo Notas sobre a experiência e o saber de experiência defende o ponto de que
existe um saber no ato de passar por situações e que isso é algo que não é
valorizado na sociedade atual, Bondía parte da ideia de que vivemos numa
“sociedade de informação”, ou seja, o saber e o conhecimento se resumem a entrar
em contato com as informações e processá-las, assim, não se torna uma
necessidade que algo efetivamente aconteça por não possuir tempo para
experienciar o acontecimento. Como é o meu caso com o estudo da música.
Durante a vida toda estudei a formação das escalas, e dos arpejos e como esses
assuntos se relacionam com determinados acordes em contextos específicos e só
fui perceber no início deste ano que eu não possuía esse conhecimento como algo
concreto, como sons que tenho internalizados e sei reconhecer ou imaginar
funcionalidades para eles. E a partir desse momento de consciência passei a revisar
uma série de assuntos que são relativamente básicos porém agora com mais
carinho e paciência com o processo de aprendizado, e com a perspectiva de tornar
aquilo algo que eu realmente tenha como ferramenta para a imaginação. Portanto, é
a partir dessas experiências afetivas com o conhecimento que o aluno começa a
fazer das informações algo que ele consegue imaginar e reconhecer que imagina. E
aqui entra um ponto chave da discussão que é a importância de fomentar nos
alunos o desenvolvimento dos processos criativos.
No documentário Tarja Branca, há uma discussão sobre o que significa o ato
de brincar e como isso é importante no aprendizado do ser humano
independentemente de sua idade ou momento de vida mas principalmente quando
se é criança, pois entende-se a brincadeira como uma ação que instiga a
imaginação do indivíduo, e o faz criar situações que apesar de não serem
necessariamente reais no âmbito palpável, se tornam reais no que diz respeito à
subjetividade humana e aos seus processos sensíveis. Para Wallon (1978) o
conhecimento do mundo objetivo é feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o
sentir, o pensar e o imaginar. (TASSONI e LEITE, p.9).
Não me espanta, que os processos criativos do indivíduo seja travado ou
inibido quando pensamos num sistema de ensino onde o brincar a partir de
determinada idade é visto como um ato de imaturidade e exige-se da pessoa
considerar o sentir e o imaginar esferas a serem deixadas de lado para um
aprendizado efetivo e concreto. Transpondo isso ao contexto artístico, se torna
difícil dar significado a uma linguagem quando se delimita a expressão, ao plano do
pensar e não se estende o potencial que isso tem para a comunicação do sentir e do
imaginar.
Portanto instigar a imaginação e a criatividade do aluno se torna uma tarefa
importante para o educador. Dar ao aluno ferramentas que o ajudem na transmissão
daquilo se quer dizer se torna essencial para o desenvolvimento da linguagem
artística como a expressão de um ser que pensa, sente e imagina. Essa visão
holística do conhecimento leva o fazer artístico para a tarefa que lhe cabe que é por
fim comunicar.

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