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JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS: REGRESSÃO AO ESTADO DE

NATUREZA DO HOMEM  
 

Arthur Enrique Perez N° 1

Lucas Santos Martins Oliveira N°20

Lukas Hideki Koga de Oliveira N°21

Matheus Augusto Silvestre Ramalho N°19

Orientador: Prof. Esp. Leandro Raphael Vicente

RESUMO

O objetivo desse estudo permeia a apresentação e explicação sobre a justiça com as


próprias mãos, qual os motivos das pessoas cometerem esse ato, e se o mesmo seria um
problema ou a solução. Para falarmos sobre o tema em questão usaremos como base livro
de um filósofo que outrora já abordaram o assunto justiça, seu conceito e escreveu sobre o
tema, sendo ele: Leviatã e Do Cidadão de Thomas Hobbes, uso de sites de pesquisa para a
obtenção de dados a fim de enriquecer o trabalho, além de outros artigos que contrariam e
corroboram com a ideia do filósofo.

Palavras-chave: Justiça. Crime. Filosofia. Estado

INTRODUÇÃO

“Homo homini lupus”, tal frase é de autoria do dramaturgo romano Platus e


faz parte de uma das suas peças, todavia fica mais conhecida por seu uso em uma
das obras “Do cidadão” do filósofo inglês Thomas Hobbes, “O homem é o lobo do
homem” está proposição tem o significado de que as maiores ameaças que o ser
humano pode enfrentar, é contra outros seres humanos, podendo revelar que o
homem é o predador de si próprio, sendo ele vilão de si mesmo.

Este artigo tem o foco de pesquisa e expressar as ideias de Hobbes sobre


justiça em nossa sociedade atual, uma vez que vemos alguns casos de “Justiça”
sem ser algo feito pelo Estado e sim por um grupo de pessoas, sendo esse ato um
crime, com base no Código Penal.

Tais medidas para esses atos não vem a partir da nossa sociedade atual, algumas
civilizações antigas já adotavam um código de leis que se baseia na reciprocidade
de crimes; Quando alguém matava outra pessoa, o assassino era morto pagando o
mesmo com o mesmo crime que cometeu, conhecido pelo código de Hamurabi,
baseado nas Leis do Talião, criada pelo sexto rei da suméria, Hamurabi, da primeira
dinastia babilônica, no século XVII a.C.

Para os Romanos outrora, a criação das Leis das XII Tábuas “disciplinou a
utilização da vingança privada”. Tendo a justiça passada a responsabilidade para o
poder do estado, e não mais particular, isso nos é contado por Cleber Masson, em
Direito Penal Esquematizado. Além de Roma, é notório a criação de vários códigos
de lei ao redor do mundo antigo, todos eles corroborando com a ideia de Hobbes
que a única forma de instituir um tal poder capaz de defender o povo.

Sendo assim, neste artigo, temos o objetivo de explicar o motivo das pessoas
quererem realizar a “Justiça com as próprias mãos”, tendo um ponto de vista pela
corrente filosófica do Contratualismo por parte das ideias do filósofo Inglês Thomas
Hobbes, bem como iremos discorrer a influência que tais atos causam na sociedade.

A fim de granjear tal objetivo, bem como a formação desse artigo científico,
usaremos o método de pesquisa bibliográfica. Foram estudadas e aplicadas as
ideias e obras de Thomas Hobbes, onde o mesmo trata do tema justiça e do
homem, sendo elas, “Leviatã” e “Do cidadão”, além das interpretações dessas obras
por parte de outros artigos.

A relevância deste trabalho se dá por conta de crimes que vem acontecendo


seguindo essa característica, o uso da violência, possuindo um caráter de vingança
e resolução de problemas sem a intervenção do estado,  para explicar tais
acontecimentos este artigo conta com três capítulos, o primeiro consiste em explicar
o conceito de justiça por parte de Hobbes, e o que leva o homem cometer esses
atos, o segundo trata em relação a “fazer justiça com as próprias mãos” seria a
solução ou seria um problema, e para finalizar o terceiro e último capítulo, a
influência que passa para as pessoas de fazer justiça com as próprias mãos.

1. O que leva o indivíduo a fazer justiça com as próprias mãos?

Antes de tudo, cabe definir o conceito de “Justiça”. A justiça é um conceito


abstrato que se refere a um estado ideal de interação social em que há um
equilíbrio, que por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interesses, riquezas
e oportunidades entre as pessoas envolvidas em determinado grupo social.

Para compreender os conceitos de justiça e sua forma feita independente é


de suma importância o estudo acerca das ideologias de Thomas Hobbes,
especificamente de seu livro, "o Leviatã".

Que seja portanto ele a considerar-se a si mesmo, que


quando empreende uma viagem se arma e procura ir bem
acompanhado; que quando vai dormir fecha suas portas; que mesmo
quando está em casa tranca seus cofres; e isto mesmo sabendo que
existem leis e funcionários públicos armados, prontos a vingar
qualquer injúria que lhe possa ser feita. (HOBBES, 1651, p.46)

Esse trecho retirado da obra onde diz exatamente a imensa insegurança do


homem, onde ela existe até mesmo em lugar considerado seguro. Em um mundo
sem estado, as pessoas teriam liberdade para fazer o que bem entender para sua
sobrevivência, porém essa alta liberdade acabaria se tornando uma insegurança
pois as imprevisibilidades das ações do próximo os levaria a pensar em sua
autopreservação e, com isso, a abdicarem de sua liberdade completa já que não
existem regras, então para viverem em ordem e em maior segurança o estado entra
para limitar esse poder.

Então, o estado tem a autoridade de punir alguém que tenha cometido algo
ilegal, como por exemplo, um crime, mas quando as autoridades acabam não sendo
efetivas o suficiente ou rapidamente para alimentar a sede de justiça surgem as
pessoas que tentam fazer o "serviço" por conta própria, onde geralmente é feito com
falta de provas, falta de experiência e com extrema violência, que fazem o que
fazem motivados pela raiva e por ver a justiça sendo feita. Expressões de tentativas
de justiças com as próprias mãos podem vir por meio de manifestações, pacíficas e
até mesmo violentas, ou por linchamentos coletivos, (que por muitas vezes são
feitos sem provas concretas e assim tirando vidas inocentes). Mas por que as
pessoas tentam fazer justiça de forma independente?

Segundo a psicóloga Marina Rodrigues: “A violência desperta na população


uma sensação de medo e com o aumento da criminalidade as pessoas se veem
vulneráveis. Então, há a percepção de que o Estado é ausente e ineficiente,
despertando nas pessoas a vontade cometer atos violentos, já que há essa
sensação de que estamos sozinhos, sem proteção. Com isso, cria-se na cabeça a
ideia de que resolver o problema dessa forma talvez resolva a situação. O que não é
bem assim”

Conclui-se que o ato de fazer a justiça com as próprias mãos é uma


problemática que cada vez mais vem ocorrendo. Onde em grande parte dos
acontecimentos a pessoa agredida é julgada sem provas concretas e por muitas na
tentativa de resolver o crime, acaba resultando em um novo criminoso.

2. Relação do Estado com a justiça com as próprias mãos.

O Estado é uma personalidade jurídica criada pela vontade de unificação e


desenvolvimento do homem, na qual ele atua em um espaço delimitado dentro de
um território, tendo uma força soberana sob a população, onde possui controle de
instituições públicas, como o exército, além de que o mesmo refere-se a uma
construção política baseada num pacto de não-agressão e que gera um contrato de
convivência. Tendo que a sua função corresponde ao ato de regulamentar e
preservar o interesse do povo.

O Estado de acordo com Thomas Hobbes trata-se de: “Uma pessoa de cujos
atos se constitui em outrora uma grande multidão, mediante pactos recíprocos de
seus membros, com o fim de que essa pessoa possa empregar a força e os meios
de todos, para assegurar a paz e a defesa comuns”. (2015, p.46) Nesse contexto, o
Estado assume um papel mediador nas relações sociais possibilitando o
desenvolvimento e a autonomia de cada cidadão dentro dos limites previstos em lei. 

Ademais, para Hobbes, antes da formação do conceito de uma sociedade, os


homens viviam em um ‘estado de natureza’ , onde o homem era sozinho e
unicamente se preocupava em suas necessidades e desejos, além de defender seus
direitos naturais, a vida e a liberdade’, Hobbes afirma que a natureza humana é
egoísta, ou seja, as pessoas colocariam as suas vontades a frente do bem comum.
Assim surge a necessidade de Estado soberano cujo teria a função de garantir a
vida, a prosperidade e a paz, ou seja, um leviatã.

Na Concepção do filósofo um Estado forte levaria o povo a paz, entretanto, o


Brasil é um país enorme e em muitos lugares o Estado não consegue alcançar
completamente, é aí que para fazer ‘justiça’, o povo toma o lugar de um ente de
personalidade jurídica, fazendo o que seria de competência do governo, tais atos
bárbaros se relacionam com a teoria da anomia, que retrata a desordem social,
neste caso, a falência da justiça estatal da mesma maneira que, a falta da eficácia
policial, ,estimula o crescimento de “justiceiros”. 

Simultaneamente a isso expresso é dever do governo proteger o cidadão, tal


dever expresso no art. 144 de CRFB/88: 

A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I-polícia federal;
II-polícia rodoviária federal;
III-polícia ferroviária federal;
IV-polícias civis;
V-polícias militares e corpos de bombeiros militares.
 
A segurança pública é o que o cidadão espera do Estado, não só isso, mas
também a investigação dos crimes que fica no comando da polícia civil, contudo a
dificuldade da mesma em solucionar os delitos cometidos por criminosos, tal
agravante faz com que o povo cometa a “justiça” mesmo sem provas, agindo no
lugar polícia, estimulado pela “sede de vingança” e não apenas pela busca da
legitimidade, por conseguinte retornando ao seu estado de natureza, assim
confirmando a frase de Hobbes “O homem é o lobo do homem”.  
3. Justiça com as próprias mãos - Até quando é justo?
Retomando o conceito de justiça por Thomas Hobbes apresentado no 1°
capítulo, sua ideia de justiça exposta na filosofia do mesmo, a tal se mostra
dependente da ideia de estado civil. Afinal, a justiça só é possível em meio a uma
intervenção do poder soberano estatal. O filósofo deixa isso claro quando afirma
que 
para que as palavras “justo” e “injusto” possam ter lugar, é
necessária alguma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente
os homens ao cumprimento dos seus pactos, mediante algum terror de
algum castigo que seja superior ao benefício que esperam tirar do
rompimento do pacto (Hobbes, Leviatã, 2003, p. 124).

Ao contrário da justiça aplicada pelo Estado, na qual Hobbes falava, a


“Justiça” aplicada pelo povo, não segue princípios e leis, criadas por um contrato
social,  quando o homem abre mão de sua liberdade total e irrestrita, realizando um
‘pacto’, passando a viver em sociedade, sob a proteção poder Soberano. Essa
autotutela popular é perigosa, pois não há regra que pare com a raiva e instinto do
homem, o único, desejo aqui expresso é: Vingança, fazer com que a pessoa que
cometeu algum mal, pague pelo que fez, e sinta dor por conta disso. O resultado
desse ato, é sempre o mesmo, morte, uma vez que aqui o propósito e saciar a sede
de vingança. Sendo assim aquela justiça do poder estatal, que está para trazer a
paz e controlar os homens, torna-se ineficaz e supérflua.
Somente um ato de justiça com as próprias mãos, pode desencadear uma
reação em cadeia, veja o exemplo:
Um indivíduo A, possui um filho, na qual foi assassinado, tal indivíduo vai
atrás de “justiça” sem esperar um julgamento baseado em provas, assassinando um
dos responsáveis pela morte do seu filho, entretanto um indivíduo B, vai atrás de
“justiça” por causa de seu parente assassinado, assim gerando um ciclo vicioso de
acontecimentos. 
Além disso, pare para pensar, na justiça do judiciário, injustiça também
ocorrem, mesmo com todos princípios, entretanto, tais equívocos acontecem
baseados nas leis e na constituição, uma justiça popular sem regras e ali apenas
para vingar algum acontecimento, e diversas vezes pautado em boatos e por muitas
desigual, ninguém que rouba merece a morte, tão pouco aquele que cometeu um
homicídio, também merece, logo, nunca é justo, imagine se o judiciário pautasse-se
apenas em boatos e vingança?
Portanto, não há justiça quando é falado sobre ‘justiça popular’, o Código de
Hamurabi já passou a muitos anos, abdicamos nossa liberdade total para termos
algo que possa nos conduzir nos moldes da sociedade, e julgar cada caso, com um
código de leis nas mãos, não apenas agir no impulso, mas, capaz de obrigar
igualmente os homens ao cumprimento dos seus pactos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude dos fatos mencionados, pode-se compreender a noção justiça pela
visão de Thomas Hobbes para fazer um paralelo, ao porque o homem comete o
crime de justiça com as próprias mãos, mesmo sabendo que irá ser punido pela lei,
para explicar isso o filósofo usa a frase, o homem é o lobo do homem, na qual o
mesmo vive em uma guerra de todos contra todos e para promover a paz e
segurança é necessário um Estado forte, cruel e violento. 
Para haver a justiça, é necessário que o homem que antes vivia em seu
estado de natureza, abdica sua liberdade total, assim passam a viver juntos,
surgindo a necessidade de Estado soberano cujo teria a função de garantir a vida, a
prosperidade e a paz, ou seja, um leviatã, que sua responsabilidade corresponde ao
ato de regulamentar e preservar o interesse do povo. É possível notar que, em
nosso país, o Estado não é atinge todas as áreas, por isso nos lugares onde o
mesmo não é tão presente, há mais casos de justiça com as próprias mãos.
Hobbes falava que a natureza humana é essencialmente egoísta, buscando
apenas satisfazer suas próprias vontades, ou seja, as pessoas colocariam as suas
vontades a frente do bem comum.
Após retomado o conceito de justiça pelo filósofo, nota-se que o justiça
popular não segue tais parâmetros, uma vez que a mesma é pautada em “acerto de
contas” e não segue leis nem princípios, e esse ato de justiça provoca uma reação
em cadeia que pode não ter fim, o julgamento popular é algo que não é justo, pois
não possui embasamento e não é pautado em algo, por isso o uso do Estado para
julgar com o auxílio de algum código de lei.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOBBES, T. Leviatã: Ou matéria, forma e poder de um Estado


eclesiástico e civil. 1. ed. São Paulo: Martin Claret. 2003.

HOBBES, T. Do Cidadão. 1. ed. São Paulo: Edipro. 2016.

FRÓES, R. Por que fazemos justiça com as próprias mãos. OIMPARCIAL,


2017. Disponível em: https://oimparcial.com.br/brasil-e-mundo/2017/03/por-que-
fazemos-justica-com-proprias-maos. Acesso em: 30 mar. 2020.

SIGNIFICADOS. Significado da frase o homem é o lobo do homem.


SIGNIFICADOS 2016. Disponível em: https://www.significados.com.br/o-homem-e-o-
lobo-do-homem. Acesso em: 20 mar. 2020.

GARCIA, G. Prisões na antiguidade: o direito penal nas sociedades


primitivas. AMBITOJURIDICO, 2016. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/prisoes-na-antiguidade-o-direito-
penal-nas-sociedades-primitivas. Acesso em: 27 mar. 2020.

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