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por Margarete Ticianel

Na sociedade atual a informação é instantânea, acelerada, e muito acessível. As redes sociais


nas palmas das mãos de crianças e adolescentes em seus smartphones modificaram a forma de pesquisar e
de como ter o primeiro contato com um novo conceito. O que antes demorava horas para conhecer, hoje
leva segundos, o que era novidade vinda da fala do professor agora é apenas outra forma de ouvir o que já se sabe.

Portanto, o importante na escola, atualmente, é saber o que fazer com tantas informações,
como estabelecer relações e a aplicabilidade, para que elas deixem de ser apenas informações e passem a ser
um novo conhecimento. Para isso é necessário outro olhar do educador sobre o processo de aprendizagem.

Ele não é mais o detentor do saber, não transmite conhecimento e muito menos é o centro do
processo. A passividade do aluno no desenvolvimento escolar passa a ter cada vez menos resultados concretos
na sociedade moderna.

Não é de hoje que as teorias da aprendizagem nos trazem a necessidade de interação social e o aluno
protagonista como principais elementos da construção significativa do conhecimento. Podemos citar, por
exemplo, Lev Vygotsky (1896-1934), John Dewey (1934) David Ausubel (1918-2008) e Paulo Freire (1921-
1997). Todas essas abordagens têm como centro do processo o aluno e, para que ele construa novos saberes
partindo das informações que já fazem parte do seu repertório, há a necessidade de vivenciar situações, resolver
problemas, planejar e executar projetos, aprender fazendo e, assim, ser protagonista da aprendizagem.

Como ferramenta para transformar as aulas em experiências vivas vem as Metodologias Ativas,
que tem como princípio estimular a autoaprendizagem e a curiosidade do estudante para pesquisar, refletir
e analisar possíveis situações para tomada de decisão, sendo o professor um facilitador desse processo.
Então, as Metodologias Ativas servem como recurso didático base para uma formação crítica e
reflexiva.

Atualmente, muitas leituras equivocadas colocam as Metodologias Ativas como dependentes


da tecnologia e, por essa razão, desistem-se de trabalhá-las em sala por falta de estrutura, mas na verdade o que é
necessário para o desenvolvimento dessas práticas é que o aluno seja colocado como protagonista do seu percurso
de aprendizagem, com envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo.

Ao planejar qualquer atividade com Metodologias Ativas os objetivos devem estar claros para
o professor e para os alunos. O aluno tem que ter plena consciência do que se espera dele no final
daquele momento de aprendizagem. Trazemos alguns exemplos de metodologias ativas que ajudam muito
na aprendizagem dos alunos de qualquer nível/ ano e que podem ser aplicadas sem a necessidade de uma grande
estrutura tecnológica e envolve o educando em um processo reflexivo de sua aprendizagem. Veja alguns
exemplos:

Sala de aula invertida

A sala de aula invertida é uma estratégia que faz parte do conceito de ensino híbrido. No ensino híbrido, os
alunos têm a oportunidade de estudar, pelo menos em parte, por meio do ensino on-line, com algum elemento de
controle do estudante sobre o tempo, o lugar, o caminho ou o ritmo. Além disso, esse estudo deve acontecer em
parte em casa e em parte em um ambiente supervisionado por um professor, integrando essas aprendizagens de
modo que elas se complementem formando um curso integrado e não apenas estudem um conteúdo
antecipadamente e voltem para a sala para uma aula tradicional que repita aquilo que ele já aprendeu nestes
estudos.

Também conhecida como Flipped Classroom, a sala de aula invertida é uma estratégia
pedagógica em que os modelos tradicionais de aula e lição de casa são alterados, permitindo ao estudante se
preparar e antecipar os estudos antes mesmo de chegar na sala de aula.

Pequenas aulas em vídeo são assistidas pelos alunos em casa antes da aula, enquanto o tempo
da aula é dedicado para exercícios e discussões. Os vídeos podem ser criados pelo professor ou os
vídeos disponibilizados na rede. O vídeo pode ser substituído por uma gravação em formato de áudio.
Essa estratégia possibilita que os alunos com mais dificuldade vejam o vídeo várias vezes para poder entender
e registrar suas dúvidas, o professor é um mentor orientador que durante a aula partirá dos apontamentos
e questionamentos trazidos pelos estudantes.

Também podem ser orientados para pesquisas em diversos sites a partir de um roteiro elaborado pelo
professor.

Rotação por estações

Nessa estratégia, os estudantes são organizados em grupos (essa separação deve ser de acordo com o objetivo
proposto, ela pode ser por afinidade, por grupo colaborativo ou por perfil de trabalho) cada um dos quais realiza
uma tarefa de acordo com os objetivos do professor para a aula em andamento.

É de crucial importância que as atividades propostas sejam diversificadas, com o uso de


recursos diversos, em espaços de aprendizagens diferentes e que proporcione a possibilidade de que os
alunos aprendam entre eles.

É importante ressaltar que o trabalho em cada estação deve ser independente das outras. Ou
seja, precisa ter começo, meio e fim, sem exigir um exercício prévio para sua compreensão, pois cada grupo
vai começar em uma estação diferente e circular a partir dela, é preciso que os grupos sejam capazes de resolver
cada desafio isoladamente.

Além disso, no conceito de rotação por estações, uma dessas estações precisa ter algo relacionado à tecnologia.

O tempo é muito importante para a atividade de rotação e deve ser respeitado criteriosamente.Esse
aspecto organiza o desenvolvimento das rotações o faz com que os alunos fiquem focados em
realizar a atividade dentro do tempo determinado. Ao pensarmos em uma aula de 50 minutos,
geralmente as estações têm 15 minutos cada.
Metodologia a partir de perguntas
Apesar de muitas pessoas acreditarem que as metodologias ativas estão diretamente ligadas ao uso
da tecnologia, isso não é verdade, como mencionado no início do texto. Diversas estratégias podem
ser usadas para colocar o aluno ativamente no processo de aprendizagem.
Outro exemplo de como podemos estimular os alunos a pensarem criticamente e colocá-los como
protagonista nas aulas é o uso de perguntas estratégicas. As perguntas estimulam os alunos a pensar
criticamente sobre o conteúdo a ser desenvolvido na sala de aula e podem ser planejadas pelo
professor ou pelos próprios alunos, de acordo com a estratégia escolhida.
De acordo com Lemov (2011, p. 255), “Uma boa sequência de perguntas permite a construção do
domínio sólido até mesmo de ideias complexas”. Afirma ainda que o questionamento em sequência
funciona como a construção de “degraus” que, se forem sólidos, podem levar os alunos a se
tornarem hábeis nesta escalada, desenvolvendo seu pensamento crítico e sua participação ativa
neste percurso.
Há diversos propósitos no uso de perguntas, uma delas é estimular os alunos a “raciocinar” sobre o
que está sendo estudado, ou seja, ao invés de receber o conceito “pronto” do professor, ele mesmo
pode construí-lo por meio da reflexão e confrontação de ideias.
Segundo Masetto (2003, p. 90), para desenvolver este tipo de metodologia o professor precisa ter
uma atitude ativa e dinâmica, pois precisará não só planejar antecipadamente este trabalho, como
intervir durante a realização da aula para que, de fato, os alunos possam se desenvolver plenamente.
Diversas estratégias podem ser utilizadas para este trabalho. Uma sugestão é fazer uso de uma
técnica de perguntas chamada pequenos grupos para formular questões. Ela pode ser usada para
aprofundar os conhecimentos, compreender um assunto, desenvolver habilidades de trabalhar em
grupo, ouvir e dialogar com os colegas.
Para isso, os alunos deverão receber com antecedência o texto a ser utilizado na aula. Cada um
deverá trazer duas ou três perguntas “inteligentes”, ou seja, perguntas que tragam dúvidas ou
aspectos importantes que gostariam de entender com maior profundidade com base no texto lido.
Isso significa que as respostas não podem estar todas já descritas no material, pois, neste caso, a
atividade não contribuiria para o aprofundamento do tema.
Durante a aula, formam-se grupos com cinco alunos cada um e terão 15 minutos para ler todas elas
e deverão escolher duas delas ou elaborar duas novas questões a partir das perguntas trazidas pelo
grupo.
Cada pergunta deverá ser escrita em uma folha em branco, de maneira legível e com o nome do
grupo que a elaborou.
Iniciam-se, então, as rodadas: o grupo que formulou as perguntas passa as questões para o grupo do
lado, sem serem respondidas. O grupo que recebê-las terão 15 minutos para respondê-las. Em
seguida, as perguntas respondidas passam para o outro grupo que terá dez minutos para ler as
perguntas, entendê-las, ler as respostas e redigir a sua própria resposta, que poderá ser concordando
com o primeiro, complementando ou corrigindo, sem riscar nada, apenas escrevendo abaixo da
primeira resposta. Dependendo do tempo, passa-se a folha para mais um ou dois grupos, repetindo a
mesma orientação.
Terminada a rodada a folha é devolvida ao grupo que elaborou as questões para analisar todas as
colocações feitas pelos grupos anteriores e, então, elaborar a sua resposta final, concordando ou não
com o que foi escrito anteriormente.
Em seguida, as respostas serão socializadas com toda a classe e o professor poderá complementar
ou esclarecer algum ponto, podendo ampliar a discussão com toda a classe. Ao final, ele poderá
falar ainda sobre a pertinência das perguntas e o quanto conseguiram trazer dos aspectos
importantes do tema.

Concluindo…
Esses são apenas alguns exemplos para ajudá-lo a pensar nas possibilidades de mudar as estratégias
da sua aula trazendo cada vez mais o aluno como protagonista deste processo.
É importante, ainda, que as estratégias de metodologias ativas propiciem na aprendizagem, espaço
para o aluno usufruir de sua autonomia e reflexão, momentos de metacognição, como o registro
reflexivo, e o processo autoavaliativo.
Certamente, todo esse processo levará os alunos a serem cada vez mais protagonistas da sua própria
aprendizagem e o professor poderá perceber os avanços nos resultados do seu trabalho.

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