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A professora Elizabeth Macedo é muito feliz ao findar seu texto intitulado: Fazendo a Base virar
realidade: competências e o germe da comparação, (2019, p. 54 ) nos apontando o que é a base.
Ali encontramos um respiro para oxigenar os que buscam as brechas, por um currículo contra
hegemônico. Assim, sigo com a pesquisa com um pouco mais das certezas que tinha e sigo ainda
acreditando que professoras e professores ao refletirem sobre seus próprios fazeres e irem
além dos conhecimentos e informações que possuem, possam ser sujeitos da experiência no
que nos aponta LARROSA, (2002, p.19) “como aquele que se define não por sua passividade,
por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura, mas aquele que vai além dos
manuais de instrução e modelos.” Encontra jeitos próprios (GALLO, 2014) de promover a
formação na prática na palavra, no fazer, no ser, são também sujeitos do currículo que é feito
nas escolas ou nos lugares e tempos em que acontecem (MACEDO, 2019).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GALLO, Silvio. mínimo múltiplo comum. In: Ribetto, Anelice. (Org) políticas poéticas e práticas
pedagógicas (com minúsculas). Rio de Janeiro: Lamparina, FAPERJ, 2014. p.30.
LARROSA, Jorge Bondía. Nota sobre a Experiência e o Saber da Experiência. Revista Brasileira
de Educação, Rio de Janeiro, jan/abr.2002, n.19, p.20-28.
Era início do ano letivo, eu e as crianças do 1º ano do Ensino Fundamental, nos reuníamos
todas as manhãs para abraços, cantorias, histórias e certa manhã, levei para a roda de
conversa um poema que ganhara da Professora Maria Tereza Goudard, ainda na
graduação e que compartilho agora com vocês:
NOMES E HISTÓRIAS
MARIA COMEÇA COM MAR JÁ VEM COM LEÃO AUGUSTO, LEANDRO,
E TERMINA COM DIA MARCADO AURORA
QUE MAIS POSSO O PEDRO TEM PEDRA NO JOÃO, MARINA DA GLÓRIA
IMAGINAR NOME BENEDITA, SÉRGIO,
COM QUEM SE CHAMA MARCELO PARECE VITÓRIA
MARIA? MARTELO CADA UM TEM SUA
ROBERTA É SORRISO O MARCOS É CHEIO DE HISTÓRIA
ABERTO MARCAS E VOCÊ, COMO SE CHAMA?
LUCIANA É LUZ QUE O SEVERINO É SEVERO? POIS A HISTÓRIA DO SEU
ATRAVESSA NOME
LEONARDO, Ê NOME SÓ VOCÊ PODE CONTAR.
DANADO!
Ainda na leitura do texto, as crianças iam associando alguns nomes as pessoas da família,
amigos, parentes, e quando o nome se coincidia com alguém da turma, era aquela
algazarra. Confesso, que inicialmente minha intenção era investir na associação dos
nomes das crianças a outras palavras para ampliarem seus repertórios de escrita, mas o
próprio texto faz um convite para cada um contar a própria história do nome e assim o
fiz. As crianças não conheciam as histórias dos seus nomes, assim, enviei a proposta para
que os responsáveis pudessem escrever a história do nome da sua criança. Na semana
seguinte iniciei a roda de conversa contando sobre meu nome e no centro da roda, ficou
recheada de histórias. Conforme o combinado, seriam lidas duas histórias por dia. Uma
mais encantadora que a outra, afinal um nome sempre tem um porquê de ser escolhido
para alguém.
As crianças ficavam empolgadas com a história de cada colegas. Teciam muitos
comentários e perguntas e essas revelavam quão rico poderiam ser nossos próximos dias.
Comecei a anotar o que as crianças se interessavam em saber ebulidos pelas histórias.
Entre desenhos e narrativas e escritas, as crianças iam dando muitas pistas. A partir
daquelas histórias as crianças se aproximaram muito mais umas das outras, os desafetos
da turma foram naturalmente resolvidos, as crianças passaram a usar vocabulários novos
e ter interesses pelos lugares, músicas, e outras histórias citadas pelos responsáveis. Ah,
não posso esquecer como esta proposta envolveu as famílias que entenderam que seriam
colaboradoras a todo o tempo nos processos de alfabetização de suas crianças sem que
tivéssemos que usar como balizadora das aprendizagens a cartilha.
A partir do poema, as histórias dos nomes, abriram inúmeras curiosidades das crianças e
um leque de possibilidades de práticas que puderam ser desenvolvidas em parceria com
as crianças. Conhecemos algumas particularidades das crianças e famílias, marcamos
entrevistas com pediatras, uma vasta literatura de onde e como nascem os bebês, uma
curiosidade apontada logo de primeira por muitas das crianças, a adoção, a costura e o
crochê como parte da cultura das famílias de preparar a chegada dos bebês e muitas outros
temas encaminharam o currículo do primeiro ano daquela turma. Muito mais que uma
lista de conteúdos a seguir, tínhamos como fio condutos as curiosidades das crianças
associadas a pesquisa e as linguagens comunicativas expressivas, assim, fomos
construindo uma gama de conhecimentos culturais, sociais, científicos e financeiros .que
se apresentavam em um currículo que emergia do cotidiano, com curiosidades e desejos
de crianças e professora.