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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

APOLOGÉTICA

ALEX FALCÃO RIBEIRO

JUDAS 3
UMA ANÁLISE EXGÉTICA-APOLOGÉTICA.

Trabalho da matéria de
Apologética do curso de Teologia
no Seminário Presbiteriano Brasil
Central, sob a orientação do
professor Rev. Guilherme Bispo
de Souza Junior.

Goiânia,13 de março de 2020.


2

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 3

1 ASPECTOS CONTEXTUAIS.......................................................................... 3
2 ASPECTOS LINUÍSTICOS......................................... ................................... 4
3 ANÁLISE TEOLÓGICA-APOLOGÉTICA....................................................... 5

CONCLUSÃO..................................................................................................... 8

BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 9
3

INTRODUÇÃO

O presente trabalho exegético tem como objetivo fazer uma interpretação


do texto de Judas 3, contudo ele não seguirá os moldes exegéticos tradicionais,
pois ele buscará fazer uma aplicação com a matéria da apologética. Dessa
forma, o objetivo final é apresentar: se o texto é apologético e em qual categoria
ele se encaixa. Dessa forma será apresentado nesta pequena exegese: os
aspectos contextuais, aspectos linguísticos e análise teológica-apologética.

Segue abaixo o texto de Judas 3:

3 Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum


salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a
batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. 1

1 ASPECTOS CONTEXTUAIS

O livro recebe a atribuição autoral de Judas, contudo pouco se sabe sobre


quem vem a ser esse Judas. O que se sabe é que ele possui bom conhecimento
das tradições judaicas e que ele é irmão de Tiago. Possivelmente, o autor dessa
carta seja Judas, irmão de Jesus e de Tiago. Quanto a data de composição desta
carta se sabe menos ainda, mas supostamente atribui-se a data 65 d.C pois diz-
se no versículo 18 que os destinatários da carta ouviram a pregação dos
apóstolos e outro fato que colabora para essa data é a autoria ser atribuída ao
irmão de Jesus. Esse livro recebe o status de canônico pelos pais da igreja, como
Clemente de Roma, Hermas, Barnabé e até mesmo a Didaquê. (CARSON;
MOO; MORRIS, 2014)

Dois aspectos são bastante relevantes para a interpretação da passagem


de Judas 3. Primeiro, embora os destinatários não podem ser identificados na
carta, percebe-se uma forte aproximação entre o autor e o público a quem ele
se dirige, pois o autor os chama de amados. O conteúdo da carta de Judas é
fortemente pastoral e apresenta um zelo pela fé deles, para que não sejam
contaminados por falsos mestres. O segundo aspecto relevante é o tema

1
Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Jd 3). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
4

abordado na carta que polemiza contra falsos mestres que estavam infiltrando o
seu ensino dentro da igreja. Embora o autor não diga qual a natureza desses
ensinamentos a sua exortação é que os crentes não fiquem na defensiva, mas
lutem pela fé em Cristo Jesus. (GUNDRY, 1987; CARSON; MOO; MORRIS,
2014)

Segundo Elwell & Yarbrough (2002, p.371) o livro apresenta o seguinte


esboço: I. Saudação (v.1,2); II. A razão para escrever (v.3,4); III. O julgamento
de Deus no passado (v.5-7); IV. Alerta contra os falsos profetas (v.8-16); VI.
Doxologia (v.24,25).

Neste livro de Judas temos referências a duas obras pseudoepígrafas:


Apocalipse de Enoque e Assunção de Moisés. Aqui cabe uma observação, pois
conforme afirma Gundry (1987, p.400) as citações extraídas de tal material não
implicam, necessariamente, na crença de que fosse divinamente inspirado e até
mesmo históricos, pois os Escritores do NT poderiam estar somente ilustrando
um ponto qualquer com uma literatura típica de seu contexto social e religioso.

O propósito principal da carta é de caráter apologético, pois ele deseja


combater o falso ensino de que a liberdade e a salvação dos cristãos pela graça
dão a eles licença para pecar. (BÍBLIA DE GENERBRA, 2009). E de acordo com
Calvino, a carta apresenta relevância pois se considerarmos o que Satanás tem
tentado em nossa época, desde quando o evangelho começou a ser vivificado,
e quais as artes ele ainda emprega ativamente com o fim de subverter a fé e o
temor de Deus, e que utilidade teve esta advertência nos dias de Judas, ela se
faz mais que necessária em nossos dias. (CALVINO, 2015)

2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS

O texto da GNT (2008, p. 695) apresenta uma variante para o texto de


Judas 3. O que significa que há uma divergência entre alguns manuscritos. O
texto da GNT indica o pronome ημών (nossa), enquanto outro manuscrito indica
υμών (vossa). Isso alteraria o significado do texto, pois o autor não incluiria na
salvação que ele está citando. Contudo, essa variante é classificada como A que
significa que é um grau altíssimo de certeza de que o texto é como esta na GNT.
5

Omanson (2010, p.540) afirma que a opção ημών (nossa) te manuscritos de


melhor qualidade e possivelemte remonta o texto original.

Segundo Kistemaker (2006, p.496) as seguintes palavras devem chamar


a nossa atenção nesse texto: 1) ποιούμενος (trad. Empregava) - está no
particípio presente médio e tem uma ideia de concessão. 2) πράψειν (trad.
Corresponder-me) Judas usa o infinitivo presente ativo para a carta que tinha a
intenção de escrever e o aoristo infinitivo γράψαι para sua epístola.
ἐπαγωνίζεσθαι (trad. Batalhardes) – a preposição ἐπί intensifica o significado
desse composto. O tempo presente do infinitivo mostra uma ação contínua.
Dessa forma, o autor mostra que eles estavam preocupados em escrever a esse
público com o intuito de exortá-los a viver uma vida de batalha constante pela fé
contra os falsos ensinos que estavam adentrando a vida da Igreja. Além disso,
ele mostra a responsabilidade dos destinatários de que essa fé foi entregue a
todos os santos, indicando a participação deles na propagação do evangelho.

3 ANÁLISE TEOLÓGICA-APOLOGÉTICA

Sabe-se que os irmãos da carta a quem está sendo endereçada estão


enfrentando ataques de falsos mestres. Mas porque Judas está tão preocupado
em escrever a eles para que eles batalhem? Qual as implicações teológicas
desse texto?

A primeira implicação que esse texto nos dá é o cuidado pastoral que


Judas tem com esses irmãos. Diversas vezes é apresentado vocativos de amor
e cuidado a esses irmãos. Judas se preocupa com os riscos que esses falsos
ensinamentos podem trazer para a fé desses irmãos amados, por isso ele sente
o ímpeto de exortá-los a viver uma vida de batalha contra os erros e
ensinamentos contrários as ordenanças de Deus. Segundo Calvino (2015, p.
503) “caso eles não se conscientizassem de quão necessária era a exortação
dele, poderiam vir a ser indolentes e negligentes; mas, ao fazer este prefácio,
que ele escrevia impulsionado pela necessidade da situação deles, era como se
ele tivesse tocado uma trombeta com o fim de despertá-los de seu torpor.” Dessa
forma, aqui encontramos uma das primeiras aplicações dentro da apologética,
pois como um instrumento para a glória de Deus, a apologética tem o intuito de
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zelar pela integridade da sã doutrina e do evangelho que rotineiramente são


diversas vezes atacados por falsos ensinamentos de toda ordem. A preocupação
de Judas é de natureza apologética, pois ele sabe que se esses irmãos não se
atentassem em batalhar pela fé eles seriam facilmente seduzidos por esses
ensinamentos.

Segundo, o texto nos exorta a batalhar por um motivo genuíno: a fé.


Contudo, o que vem a ser a fé nesse texto? Segundo Kistemaker (2016, p.491)
a fé a que Judas se refere é o conjunto de crenças do cristianismo, que eles
haviam recebido dos apóstolos (v.17). Judas mostra que como crentes eles
possuem uma missão importante defender a fé em Jesus Cristo que foi pregada
pelos apóstolos. Ao dizer que essa fé foi entregue a todos os santos os crentes
estavam incumbidos de lutar a mesma luta que todos os crentes devem lutar.

Por fim, a última implicação está que essa exortação por batalhar pela fé
entregue a todos os crentes é um dever contínuo. O verbo que indica esta ação
nos mostra que essa ação não deve cessar, ou seja, deve ser uma constante na
vida do crente. Calvino (205, p.503) ao comentar o texto diz “o que traduzi,
“corroborar a fé, pelejando”, significa o mesmo que esforçar-se em reter a fé, e
corajosamente rebater os assaltados contrários de Satanás. Pois ele lhes
recorda que, para que perseverem na fé, é preciso que várias disputas sejam
travadas, e guerras contínuas mantidas. Ele diz que a fé foi uma vez entregue,
para que soubessem que a haviam obtido para este fim: para que jamais
fracassem ou desvaneçam.”

Dessa forma, faz-se a seguinte pergunta: o texto é apologético? Para isso


é necessário definir apologética que segundo Frame (2010, p.13) é a disciplina
que ensina a dar os cristãos a dar uma razão para a sua esperança. Diante dessa
definição e do exposto o texto em si não faz uma defesa expressa de um dogma
que está sendo atacado ou muito menos tenta expor a argumentação de outro
pensador. Por isso, se tomar como base de que a apologética é apenas quando
debatemos ou respondemos a um questionamento esse texto isoladamente não
pode ser considerado apologético em si.

Contudo, quando se faz a análise do texto e de seus detalhes percebe-se


que a preocupação do autor é totalmente exegética. Desde o início da carta
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vemos que Judas tem o zelo de escreve uma carta para orientar os irmãos a lidar
com o problema que estava surgindo dos falsos ensinamentos que estavam
atacando a fé deles.

Como mencionado anteriormente, a apologética tem o intuito de ensinar


os cristãos a dar a razão da fé. Isso é o que Judas faz ao exortá-los a batalhar
diligentemente pela fé cristã e defender as crenças do cristianismo. além de
ensinar o autor mostra as responsabilidades que essa batalha assume na vida
do cristão. Eles têm o que se é chamado de responsabilidade pela tradição da
Igreja, pois conforme afirma Kistemaker (2006, p. 491-492) “A idéia de tradição,
de evangelho e de mensagem com autoridade que foi passada à igreja era
integral no Cristianismo desde o princípio”. O ensinamento dos apóstolos como
um todo foi transmitido à igreja de uma vez por todas (comparar com Lc 1.2; Rm
6. 17; 1Co 11.2).”

Dessa forma, conclui-se que o texto de Judas 3 não apresenta em si um


debate apologético, mas convoca os cristãos a fazerem apologética como prova
do zelo e da responsabilidade que eles tem de manter firme as convicções do
evangelho e da são doutrina – o que torna o texto apologético dentro de seu
contexto mais amplo.

A próxima pergunta que almeja-se responder é sendo esse texto


apologético, qual o modelo apologético em que ele se encaixa? Para definir é
necessário recorrer aos modelos apresentados por John Frame em Apologética
para a glória de Deus. Ele faz distinção de três modelos de apologética cristã:
apologética como prova; apologética como defesa e apologética como defesa.
Esse modelo auxiliará na compreensão do estilo apologético utilizado por Judas
nesse versículo.

Frame define esses modelos de se fazer apologética da seguinte forma2:


1) Apologética como prova é a tentativa de provar o cristianismo como verdadeiro
por meio de uma base racional para fé. Serve tanto para crentes quanto para
descrentes em mostrar elementos da racionalidade da fé. 2) Apologética como
defesa tem o intuito primário de responder diretamente objeções dos descrentes
acerca da fé cristã. 3) Apologética como ofensiva é o inverso da apologética

2 FRAME, John; Apologética para a glória de Deus. P.13-14


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como defesa, pois ela parte do crente levantando questionamentos para o


descrente acerca da sua cosmovisão.

Diante deste exposto, percebe-se que há na proposta apologética de


Judas uma caraterística ofensiva de ir em confronto com os falsos ensinamentos.
Ele propõe uma postura ofensiva de batalhar. Embora essa postura de batalha
possa ser utilizada também em contexto de defesa. Contudo, quando
analisamos a sequência do texto fica claro e evidente a postura ofensiva de
expor o pensamento que vai contrário as Escrituras.

Por fim, diante dessa análise fica claro que tanto o texto analisado como
todo o texto do livro de Judas têm um caráter apologético e que esse deve ser
encarado como um ensino para a vida.

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que o texto de Judas 3 é apologético e caracteriza-


se mais como uma apologética ofensiva. Além disso, devemos encarar essa
responsabilidade de defender a fé como algo grandioso e que está em nossa
responsabilidade manter a tradição da Igreja fiel as Escrituras. Terminando
percebemos a conexão desse texto com 1Pe 3.15-16 que diz:

15 antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração,


estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos
pedir razão da esperança que há em vós, 16 fazendo-o, todavia,
com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que,
naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os
que difamam o vosso bom procedimento em Cristo.
É nosso dever zelar pela manutenção da fé cristã e é nosso dever batalhar
diligentemente com amor e temor buscando proclamar sempre o nome de Cristo.
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BIBLIOGRAFIA

ALAN, Kurt et all. (Eds.). The Greek New Testament. Fourth Revised Edition.
Stuttgart: UBS, 2008.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 2 ed. São Paulo e Barueri. Cultura Cristã
e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos – SP: Editora Fiel.
2015.

CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao novo


testamento. 1a ed. reimp. São Paulo: Vida Nova, 2008.

ELWELL, Walter A.; YARBROUCH, Robert W. Descobrindo o novo


testamento: uma perspectiva histórica e teológica. 1º ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2002.
FRAME, John. Apologética para a glória de Deus. São Paulo: Cultura Cristã,
2010.

GUNDRY, Robert H. Panorama do novo testamento. 4ª ed. São Paulo: Vida


Nova, 1987.
KISTEMAKER, S.J. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Cultura Cristã,
2006.
OMANSON, Roger L. Variantes textuais do novo testamento: análise e
avaliação do aparato crítico de o novo testamento grego. 1ª ed. Barueri –
SP: Sociedade bíblica do Brasil, 2010.

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