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Em aula: aprender a fazer as alianças com as linguagens estranhas com as quais o ocidente
havia recusado. O valor da aliança é pragmático, estratégico: sua potência, seu poder. Tecer as
relações. Linhas e nós de Tim Ingold.
E aí está a contradição da antropologia: fazer essas alianças que a sociedade que engendrou a
antropologia recusou.
1. Ciência como base fundamental, e indiscutível, sobre a qual se assentam “as ciências”.
O que impede o debate sobre uma etnologia do fazer científico, ou seja, da ciência
como conjunto de práticas passíveis de serem também investigados
2. Lei dos quatro estágios na Antropologia
a. Primeiro estágio: antropologia engatinhando; culturas resistentes
b. Segundo estágio: antropologia ganha prestígio acadêmico; culturas
tradicionais começam a desaparecer
c. Terceiro estágio: auge do prestígio da antropologia; “fardo do homem branco”
passa a desconstruir a própria antropologia
i. O pós-modernismo prevalecia
d. Quarto estágio: as culturas que se pensava desaparecidas está presentes;
reantropologização de diversas regiões da terra que se pensava fadadas à
monocultura
i. Tanto culturas fortes quanto uma disciplina forte
3. Metodologia versus Conteúdo
a. A insegurança de se usar o “método científico” com limitação à antropologia (e
a qualquer ciência social, aparentemente)
i. “objetividade , certeza e controle só são exigidos quando grandes
volumes de dados precisam ser armazenados, transportados,
combinados e modelados”
1. Ou seja, as ditas ciências “duras” estão pouco se importando
com a justificativa de suas práticas
b. “Científico”: logística e conteúdo
i. Rigor metodológico são “sonhos inúteis”, de acordo com Latour
4. E no entanto, a Antropologia de fato modelou, documentou e produziu tantos
“agenciamentos” quanto as ditas ciências duras
a. Inventividade dos conceitos antropológicos? “inovação nas agências que
aparelham nosso mundo”
i. O problema, no entanto, como aponta Ingold, é que essa noção de
agenciamento é a de uma produção no seio do fazer científico, não
como um a priori. Ou seja, para todos os efeitos, continuamos diante
de uma matéria inerte. Só que ela ganha vida e dança debaixo das
luzes do laboratório
5. A antropologia já alcançou uma redefinição desnorteante dos humanos que povoam o
mundo
a. Paremos então de nos justificar, é isso?
i. Paremos com o “dilema narrativo de sua própria reflexividade”
6. O que uma aplicação da antropologia deve ser, portanto:
a. Reflexão positiva: colocar de volta ao centro a prática real da antropologia,
com toda a sua produção (diários, entrevistas, narrativas etc.)
i. Mostrar a produtividade do campo, então?
b. Integração mais ampla: abandonar o debate estéril do lugar do observador –
as mediações são bem-vindas, são elas que produzem mais dados, mais
informações.
i. Parar com a perda de tempo da pureza da objetividade.
c. Promoção política: abandonar a ideia de neutralidade da ciência com relação à
política. Ao contrário, produzir ciência é produzir também política. E política
depende da produção científica
d. Redefinição moderna: “Não estudamos mais sistemas de crenças, mas
também sistemas de verdades, nos quais a própria noção de crença evapora,
revelando um novo campo que eu chamei de “antropologia simétrica”
i. Deixar de lado a oposição entre “crenças” e “verdade” e ser ofensivo
no estudo de produção de verdades.
7. Em geral, uma reflexão otimista do potencial de produção da antropologia, mas que,
ao mesmo tempo em que admite o engendramento entre política e ciência, trata essas
mesmas política e ciência como generalidades pouco definidas. Qual política e qual
ciência, afinal de contas, qual produção queremos, devemos engendrar?
a. Um defesa da antropologia como política para se eximir do debate político
real. Como se política fosse uma coisa só homogênea.
Paul Veyne: Como se escreve a história
1. A contrário do que afirma Latour, o debate sobre o estatuto de ciência não é vão.
a. Porque ciência não é algo geral ou generalista, é um termo específico
2. Não basta, tampouco, dizer que a história é subjetiva
a. Que a subjetividade do humano o torna incompreensível
i. Um argumento que valeria também para a antropologia
3. A história não é a esperada “física do homem”
a. O que não quer dizer que não seja importante, que não tenha possibilidades
de renovação
4. A história não é ciência
a. Não tem método, Não explica
b. A história é um “romance real”
5. O objeto da história, os fatos dos humanos, não torna esse mesmo objeto importante
ou especial
a. É um modo de conhecimento
i. Busca de constantes escondidas por detrás dos fenômenos:
possibilidade de repetibilidade
b. Distinção não entre ciências naturais e humanas, mas entre ciências naturais e
ciências “do mundo”
i. Ciências físicas e ciências cosmológicas: imutabilidade X
repetibilidade?
c. A história é uma narrativa: seleção, simplificação, organização de eventos
julgados como importantes
i. E os eventos são, ao mesmo tempo, o limite dos historiadores: sempre
laterais, sempre incompletos, sempre apreendidos por indícios.
d. Portanto, a história não pode ter a pretensão de retratar fidedignamente o
evento. O evento não se repete na recriação da história: ele é reinterpretado,
remixado.
6. Evento destaca-se, identifica-se, em contraste a um fundo de uniformidade. É uma
diferença
a. Atração pela variação dos valores na sensibilidade ocidental
b. Pequenas particularidades que se multiplicam dentro da banalidade do
passado
c. E o estudo de outras “civilizações” enriquece também nosso conhecimento
sobre a civilização do historiador que realizou o estudo
d. “espantar-se com o óbvio”
7. O valor de cada evento
a. Mesmo os que se repetem, ainda possuem valor de particularidade e interesse
historiográfico porque continuam sendo “diferença”
b. A história é, afinal de contas, o estudo do contingente, do particular
c. E o interesse dos eventos é sempre por sua contingência, ou seja, por
emergirem em um dado momento
8. A história é anedótica: sempre narra
a. Mas busca uma lógica e uma compreensibilidade
i. Inteligibilidade: explicar, ensinar
b. E no entanto , a história também é incoerente, não lógica.
i. Uma tapeçaria bordada a partie de pedaços heterogêneos de
tecidos/fatos/eventos