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Copyrighr by Q CIéiia Guerreiro Ramos
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Ficha Catdográfica elaborada pela Divido dq, .
Processamento TCuiico - SIBIIUFRJ ,

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R175 Ramos, Alberro Guerreiro, 1982


Introdu@o critica i sociologia brasileira I Alberto Guerreiro
Ramos. Rio de janeiro: Editora UFRJ, 1995. .'
292 p., 14 X 21 un. (strie Terceira Margem)
<.
D a Sociologia em Mangas d e Camisa A
Apendice; 15 p.
Túnica Incossúdl d o Saber
1. Sociologia - Brasil 2. Sociologia Qmdo e Ensino. CMVUBrigagao
I. Titulo.
O Negro Como Lugar
CDD 301.0981
Jocl RuJino dos Santos
ISBN 85-7108-128-X ,.
3
Prefacio
Capa PRIMEIRA PARTE ;'L b;

Victor Burron Crítica da Sociologia Brasikirt~ :%3


13
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Revisão I - Notas para um esmdo critico da
Josette Babo sociologia n o Brasil -- -. . 35
= = Proicto "rrifico e 11 - Critica e autocritica 49
Editoração
-
111 - Nacionalismo e xenotoma - - - =
-7/= -
Alice Brito . %
IV - A dinâmica da sociedade poirtica n o Brasil
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- Esforços d e teorizaeo da reaiidade
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I
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Universidade Federal do Rio de Jiuicir~
-- Forum de Citncia e Cultwa - --
- - -. -- .. . .- --, -. -
nacionai politicamente orientados, d e
r .
-
1870 aos rgssos dias -- -
Editora UFRJ i.

Av. Pasteur, 250lsala 106 - Rio de Janeiro I - Os republicanos dc 1870


CEP: 22295-900 II - O movimento positivista
Td.: (021) 295 1595 r.35136137 III - Sylvio Romero c a sociologia da
Fax: (021) 295 1397 e 295 2346 socied.tdr reprblicana
N - Os idcdlog~sk ordcm r progresso
Apoio V - A revoluçao k c k s c mldia
Fundação Universidria Jost BoniBcio -
VI A-revoluçdo de 1930
MI - Concldo
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I - Patologia Social do
"Branco Brasileiro
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Há o tema do negro e há a vida do negro. Como tema, o negro


tem sido, entre n6s, objeto de escalpelaçáo perpetrada por lite-
ratos e pelos chamados "antrop610gosn e "sociólogosn. Como vida
ou realidade efetiva, o negro vem assumindo o seu destino, vem

particulares da sociedade brasileira. Mas uma coisa C o negro-tema;


outra, o negro-vida.
O negro-tema t uma coisa examinada, olhada, vista, ora como
ser mumificado, ora como ser curioso, ou de qualquer modo como
-um risco, um tráço da realidade nacional que chama a atençáo.
O negro-vida C, entretanto, algo que não se deixa imobilizar;
é despistador, protéico, multiforme, do qual, na verdade, não se
pode dar versáo definitiva, pois t hoje o que náo era ontem e será
amanhã o que náo C hoje.
H i sociedades paruenues... naçóes rastaquouères.
Alberto Torres Malformuladas as retratações verbais do negro no Brasil, elas já
estão caducas ou já se revelam falsas, porque o negro-vida é como
o rio de que fala Herdclito, em que não se entra duas vezes.
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DOCUMEM-os oe UMA SOCIOLOGIAMILITANTE .,I I - PATOI.OCIA SOCIAL.DO "UIUNCO" BRASILEIRO

Eis por que toda atitude de formalização diante do negro busca de um conceito de "patologia'social". Pode a sociedade ficar
conduz a apreciações ilusórias, inadequadas, enganosas. E Ç uma doente? Existem enfermidades coletivas ? Se se dá uma resposta
atitude de formalizaçáo que estii na raiz da quase totalidade dos positiva a tais perguntas, é forçosa a delimitação objetiva do que
estudos sobre o negro no Brasil. @ se entende por "patologia social".
O tema das relações de raça no Brasil chega, nestes dias, a um Entre os sociólogos, o tema foi inicialmente tratado pelos
momento polêmico. Até aqui se tem faiado nwna antropologia adeptos do biologismo ou do organicismo, corrente segundo a
e numa sociologia do negro. Hoje, condições objetivas da socie-
dade brasileira colocam o probleina do "branco" e aqueles estudos 4 a sociedade é um organismo. Haveria assim paralelismo entre o
mundo social e o mundo biológico. Este paralelismo é exagerado
"antropológicos" e "sociológicos" rapidamente perdem atualidade. por uns, moderadanienre proclamado por outros, mas todos os
Há hoje uma contradição entre as idéias e os fitos de nassas organicistas aceitam que o social é uma extensão do biológico.
relações de raças. No plano ideológico, C dominante ainda a Admitem, assim, que no organismo social, tal como no orga-
brancura como critdrio de estética sociai. No plano dos fatos, é nismo vegetal e animal, há, entre outros, dois estados que se
dominante na sociedade brasileirá uma camada de origem negra, 4 podem discernir como normal ou patológico.
nela distribuída de alto a baixo. Que 6 normal? Que é patológico? A questão é extremamente
O Teatro Experimental do Negro e a literatura científica por dificil e as soluções que tem suscitado são muito controvertidas.
ele suscitada vêm tentando criar uma consciência desta contradição 1 No domínio da sociedade, de modo geral, os sociólogos organi-
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e, ao mesmo tempo, desenvolver, sob várias formas, uma ação cistas definiram o normal ou em termos generosos, mas utópicos,
social para resolvê-la. como Novicow, OLI conforme perspectiva conservadora; isto é,
Na realização desse trabalho, entretanto, estamos desajudados, para estes, patológicas seriam todas as tendências que perturbam
temos de criar os nossos próprios instrumentos práticos e teóricos. o equilibrio natural da sociedade, a sua saúde. A saúde da socie-
Nestas condições, na elaboirção do presente estudo não se p6de dade equivaleria, para diversos organicisras, a um estado de que
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. Mcnefiçia-megrãm a ciasse aominante.~áo-)àitõI
utilizar a copiosa 1 1 t e r a t Ü w b '.*A T

+es de raça, produzida por brasileiros. De màdo gemi, os nossos


especiaiistas neste domínio têm contribuído mais para c o n b d i r .
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mesmo, entre os organicistas, quem, como Francis Galton e Alexis
Carrel, afirmasse que a pobreza é doença, uma espécie de tara e,
do que para esclarecer os suportes de nossas relaçóes de raça, como portanto, um problema de eugenia.
demonstrar mais adiante. Tão evidentes falácias do biossociologismo o levaram a desa-
-- -.

Por outro hdo, receio que alguns leitores, impressionados com creditar-se.
os aspectos verbais aparentes deste estudo, nele descubram inten- ..;. Os trabalhos de Durkheim são um passo adiante neste domínio
ç6es agressivas. A esses leitores asseguro, com sinceridade, que o - das ciências sociais. Em primeiro lugar, porque ele propõe, com
meu propósito é, ao contrfirio, generoso e pacifista. toda clareza, e pela primeira vez, o problema da definição do
Isto posto, passemos ao assunto. normal e do patoldgico. Durkheim sustenta em sua obra Les Règles
de la rnkthode sociologique' teses plenamente aceitáveis pela mo-
O tema do presente estudo - "patologia sociai do 'branco' derna sociologia historicisra. Este historicismo transparece, por
brasileiro" - implica um dos mais complicados problemas de
exemplo, quando o autor adverte que "as condições de saúde e de
terminologia científica. Muitos especialistas se tem perdido na
doença não podem ser definidas in abstract~"~ e que "é preciso
D E U M A SOCIOI.OGIA
DOCUMENTOS MILITANTE

renu~iciar ao hábito, ainda muito generalizado, de julgar uma Depois de estabelecer, pela observação, que o fato é
instituição, uma prática, uma máxima moral, como se fossem boas geral, demonstrar-se-ão as condições que determinaram esta
ou ~ n á sem si mesmas e por si mesmas, para todos os tipos sociais no passado e procurar-se-á saber, em seguida,
se estas condições persistem ainda no presente ou se, ao
indistintamente".' E, além disto, para convencer-nos da boa qua-
contrário, mudaram. N o primeiro caso, ter-se-á direito d e
lidade de seu historicismo, proclama a necessidade de renunciar às tratar o fenômeno como normal e, no segundo, d e lhe
definições que pretendam atingir a "essência dos fenômenos".* recusar este caráter.'
Durkheim considera, portanto, o critério do normal como algo
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-4
-$.e * Embora não pretenda adotar estritamente esta regra n o pre-
a ser induzido das condiçóes particulares de cada sociedade e sente estudo, reconheço que ela propicia explicação satisfatória d o
segundo os seus limites faseológicos. Diz ele: caráter patológico do quadro atual das relaçóes de raça no Brasil.
para saber se um fato social C normal náo basta observar sob Faço um parêntese para explicar-me.
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que forma ele se apresenta na generalidade das sociedades
que pertencem a determinada espécie, é preciso ainda ter
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Nas condições iniciais da formação d o nosso pais, a desvalo-
cuidado de consideiá-Ias na fase correspondente de sua
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rizaçáo estdtica da cor negra, ou melhor, a associação desta cor ao
evoluçáo.' ..;.<.I
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, feio e ao degradante afigurava-se normal, na medida em que não
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U m fato social - acrescenta - não pode ser dito normal para ,ii? havia, praticamente, pessoas pigmentadas senão em posições infe-
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determinada espécie social senão em relação a uma fase, igualmen- .í$ riores. Para que a minoria colonizadora mantivesse e consoli-
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1
te determinada, de seu desenvolvimento." dasse sua dominação sobie as populações de cor, teria de promover
'4
Por conseguinte, para Durltheim, o critério d o normal e d o i t: I no meio brasileiro, por meio de uma inculcaçáo dogmática, uma
patológico varia historicamente numa mesma sociedade. Ele t uma comunidade lingüística, religiosa, de valores esttticos e de costu-
coisa dentro de determinadas condições desta sociedade. Muda, se mes. Só assim, diria Gumplowicz, poderia apoiar sua autoridade
estas condições se transformam. O nosso sociólogo foi, mais uma em sólidos pilares, o que sempre constitui, para todo poder, um
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valioso elemento de conservação, uma efetiva garantia de duração .9
vez, muito preciso quando a este propósito esclareceu que certo
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fato
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social,
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embora generalizado em determinado momento,
er anormal, d o pontGJe vistasocioiógico.-
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pode
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Estas observações de Gumplowicz se coadunam perfeitamente
a d e u m escritor marxista,-GV. Hékhanev, queescreve&
6 o que acontece nos períodos de transiçáo, em que o Na representaçáo do homem, a influência das particu-,
todo está em traiisformaçáo sem se ter fixado definitiva- laridades raciais não pode deixar de se exercer sobre o "ideal
mente em forma nova. Neste caso, o único tipo normal que de beleza" próprio do artista primitivo. Sabe-se que cada
esteja no presente, realizado e dado nos [?tos, pertence ao raça, sobretudo nos primeiros estádios d o desenvolvimento
passado e, portanto, não está mais em ajuste com as novas social, se considera como a mais bela e se orgulha antes d e
condições de existência. U m fato pode assim persistir ...sem I tudo daquilo que a distingue das outras raças (cf. Ln
responder as exigências da situação. Ele não tem, senão, i Qzrcstioirs Foi~dumentulesdu Mnrxisme. Paris, 1947, p. 2 14).
neste caso, as aparências da normalidade, pois a genera-
lidade que apresenta C apenas etiqueta falaciosa, uma vez
Pléklianov observa ainda que as particularidades da estética d e
que, náo se mantendo senáo pelo força cega do hábito, náo cada raça subsistem apenas durante certo tempo, isto é, em de-
é mais o índice de que o fenômeno observado esteja estrei- terminadas condições (pág. 2 14). E acrescenta:
tamente ligado i s condições gerais da existência coletiva.' Quando uma população C obrigada a reconhecer a su-
Para superar as dificuldades que as épocas de transiçáo apresen- perioridade de outra mais desenvolvida, seu amor próprio
de raça desaparece e passa a imitar os gostos estrangeiros
tam ao esforço dos que pretendem distinguir nelas o n o m a l do
considerados até então ridículos, mesmo vergonhosos e
patológico, Durkheim formula esta regra: infames (pág. 214).
DE UMA SOCIOLOGIAMILITANTE
DOCUMENTOS

I
Para garantir a espoliação, a minoria dominante de origem Estas orientações são, porém, as que infundem hoje mais reser-
européia recorria não somente à força, à viokncia, mas a um vas do ponto de vista cientifico. Tais orienta@es perdem terreno 1
sistema de pseudojustificações, de estereótipos, ou a processos de cada dia e se revelam inaceitáveis, pois não oferecem explicação
domesticaçãa psicológica. A afirmação dogmática da excelência da suficientemente objetiva para o processo genético dos ideais da
brancura ou a degradação estética da cor negra era um dos suportes cultura ou da sociedade. O ethos, a norma, os pattem da cultura
psicológicos da espoliaçáo. Este mesmo fato, porém, passou a ser ou da sociedade não são originários, não são incondicionados; ao
patológica em situações diversas, como as de hoje, em que o contrário, refletem relações concretas e se transformam quando tais
processo de miscigenação e de capilaridade social'0 absorveu, na relações se alteram.
massa das pessoas pigmentadas, larga margem dos que podiam É muito perigoso, na análise sociológica, partir da noção de
prodamar-se brancos outrora, e em que não hd mais, entre n6s, ethos, ou norma, como se tais coisas fossem independentes ou
coincidência de raça e de classe." deminculadas dos elementos materiais da cultura. Nas sociedades
Mas,fechemos o parêntese e prossigamos. coloniais, o ethos, a norma são inculcados de fora para dentro, isto
é, não chegam a formar-se como produto dos fatores endógenos de
Outra tentativa de tratar o tema da patologia social é devida
tais sociedades. As sociedades coloniais, em sua estrutura total, são
a Eduardo Spranger.I2 Este autor, porém, coloca a questão em
regidas por critérios heceronômicos, principalmente a sua eco-
termos abstratos.
nomia como a sua psicologia coletiva. A norma e o ethos que Ihes
Spranger considera a cultura como um superorganismo que são impostos não traduzem ordinariamente a sua imanência.
vive sobre os indivíduos e por cima da cadeia das geraç8es, e admite Como adverte Georges Balandier13, estas sociedades estão afe-
a existência, em toda cultura, de uma norma que preside h sua
estrutura e seu funcionamento. Esta normq ele a entende, porém,
tadas por um estado crdnico de crise e, em grau maior ou me- '
nor, devem ser consideradas como sociedades doentes (sociétés
em termos vagos. A enfermidade é algo contra a norma, contra a maladcs), a pesquisa de suas normas coincidindo com a pesquisa
"enteltquia diretriz", contra a "idéia normativa* que lhe é ima- de sua auto-regulaçáo.
=te. Alguns antropólogos norte-americanos e alemães aproxi- - -
--
mam-se desta concepçáo d
dominantes, sáo remanescentes de fases ultrapassadas de nossa
chamam de p a m m (Ruth Benedict) ou ethos (Kroeber, Margaret
evolução econdmico-social, e se destinam a ser superadas em con-
Mead), oy pidcuma (Frobenius), como uma espécie de pincfpio
seqiiência do aparecimento de novos fatores objetivos que estão já
metafhico srdenador da cultura.
condicionando a vida do pais.
A pseudocifncia de autores com^ esses tem sido levada dema-
As dificuldades que envolvem o tema da patologia social pa-
siadamente ao pé da letra por mais de um literato brasileiro
recem superáveis quando se procede em termos casulsticos e con-
aficionado da uantropologia" e da "sociologia". Entre eles se indui
Arthur Ramos, que conseguiu fazer carreira de "cientista", e atd de cretos. Quero dizer, quando se renuncia a uma definição genérica
sábio, em nosso país, à custa de glosas e da divulgação de teorias da patologia social e se passa a mostrar a patologia das situaçóes
singularmente consideradas.
"antropol6gica.s" de discutlvel validade cientifica. A quaiidade es-
sencialmente literária e secundariamente científica dos trabahos de É este o caminho que seguirei. A minha tese é a de que, nas
Arthur Ramos 4 parente em seu ensaio sobre Cultura e Ethos, presentes condições d7 socieakde brasileira, existe uma patologia social
publicado na revista Czdtura, na I, editada pelo Ministério da do "brancoNbrasileiro e, particularmente, do "branco" do "Norte" e
Educa90 e Cultura. do aNordcsteY (Aqui, e em alguns outros lugares deste estudo, as

I
i
DOCUMENTOS
03 U M A SOCIOI.OGIA
1 MILITANTE

palavras Norte e Nordeste são empregadas em seu sentido popular Deve-se lembrar que num país, como o Brasil, onde não
e não técnico-geográfico) .I3" existe uma "linha de cor" intransponlvel como a que ainda
se encolitta nos Estados Unidos, toda delimitação verbal das
Esta patologia consiste em que, no Brasil, principalmente na- diversas cores torna-st extremamente diflcil. Pessoas com
quelas regiões, as pessoas de pigmentação mais clara tendem a 1116 ou 118 de sangue preto. que na República norte-
manifestar, em sua auto-avaliação estética, um protesto contra si antericana seriam classificados como "rolored". aqui se con-
próprias, contra a sua condição étnica objetiva. E é este desequi- sideram, e siio unnivenalmente consideradas, "brancasn. E,
librio na auto-estimação, verdadeiramente coletivo no Brasil, que por motivos evidentes, mesmo pessoas de tez nitidamente
morena. quando atingem certo grau de bem-estar ou de
considero patológico. Na verdade, afeta a brasileiros escuros e
instruçb, tendem a se inserir no grupo que inclui a maior
claros, mas, para obter alguns resultados terapêuticos, considerei, parte da aristocracia econhica e inteltctual, o dos brancos.
aqui, especialmente, os brasileiros claros. AnPoga tendencia verifica-se nos casamentos em que um
Para dar um flagrante de como o brasileiro considera vexatória dos conjuges t moreno e outro branco; adota-se para toda
a famllia esta cor. Seria ficil multiplicar os exemplos dessas
a sua condição racial, parece-me bastante ilustrativo um documen-
tendCncias paM os matizu mais daros, nas dcdaraç6es da
to de nossa estatistica oficial. Trata-se de uma publicação do cor, que se manifestam tanto pela qualificaçáo de brancos.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.14 aplicada em casos para os quais seria mais apropriada a de
Apresentam-se, no primeiro capítulo desse estudo, os resultados pardos, como pela de pardos, aplicada em casos
do Recenseamento de 1940, rio que diz respeito à composição da que se deveriam tlassificar entre os pretos, conforme um
crit6rio mais racional. Mas, mesmo esse critério racional
população segundo a cor. A publicação começa esclarecendo que,
seria de determinação extremamente diflal, como demons-
nas instruções para o preencl-iimento dos questionários, só se tram todas as tentativas realizadas para tstabelecf-10.
previram as respostas "branca", "preta", "amarela" ou um traço Nos boletins censidrios preenchidos pelo chefe da fa-
(-), quando o recenseado não se enquadrasse em nenhuma dessas milia, ou pelo recenseado isolado predominou o arbltrio
classificaçóes. Isso, fundamenta a publicação, porque a "Comissão pessoal; todavia C certo que, via de regra, apenas numa
Censitária quis evitar a obrigação, para o recenseado, de aplicar a nioderada fraciio dos casos esse arbltrio se afastou do riso
-
e q u e àsão
si m e s m o q u a l i f i ~ e ~ dcor susadascom senti&-
de desprezo"I5, procedimento que, embora "passível de critica do Maior pcrturbafão (o grifo 4 meu) foi causada pelo
preenchimento dos boletins por pane do agente mensea-
ponto de vista da técnica censitária", "representa", do ponto de dor, ocorrçncla muito freqfientc no interior, em virtude L
vista da "dignidade humana"(sic) (são palavras da publicação), escassa instrução das populaçijes. Os critdrios pessoais do

t
"ótima solução de um problen-ia dificil"(sic). agente, em parte, influenciadospeka srca prdpria cor (o grifo
- -
Mas, continua o follieto, os intuitos da Comissão foram frus- 8 meu), fonm aplicados, então, em centenas de casos. E,
quando delegados municipais acharam conveniente intervir
trados. Por que? Eis aqui a raiz patológica da frustração:
para limitar esse arbitrio, em muitos casos conseguim,
pela inclusão de uma notável fração de pardos entre os apenas, unifid-10, em certo rumo, varidvel conforme os,
brancos e de unia menor mas não desprezivel fração dos pontos de vista individuais dos pr6prios delegados. Em
mesmo entre os pretos, e, talvez, pela atribuição de uma aiguns niuniclpios, quasc: todos os que nb foram quaiifi-
fração dos pretos aos grupos de pardos.I6 cados brancos foram qualificados ptetor; em outros, pardos e

O referido documento, elaborado por especialistas, por dever de (pelas respostas mediante traço, ou pelas deciaraçóa explí-
citas de morenos, pardos, mulatos, cabodos etc.). Att entre
oficio a par das circunsthncias concretas que influenciam a decla-
municlpios confinantes e de composicio Ctnica da popu-
ração da cor pelo cidadão brasileiro, reza ainda: lação pouco diferente, verificou-seesse contraste na qiiaiik
caçáo do* niio brancos. como foi documentado em varias
crtudos da série de 'Análises de Resultados do Censo
no "Norte" e no "Nordeste", enquanto a população do Sul se torna
Demográfico', compil&s pelo Gabinetç TCcnim do Ser- cada vez mais escura...
viço Nacional de Rcceqscarncnto, de 1940. Estes resultados estão a indicar que, no Brasil, o negro L mais
Deve-se. logo, iiircrpretar, com grande prudkncia, a negro nas regiões onde os brancos são maioria e C o mais claro nas
apuração censidria da cor, evitando-se toda condusáo apres-
regiões onde os brancos síio minoria.
sada que niio resistiria a uqia sCria anilise cdtiw.
No que diz r e p i t o aos brancos, pode-se a f m a r com Semelhantes aspectos, que os resultados numéricos do Recen-
seguranp que o trrímero npurmio acede sensiueImente o qnr seamento vêm ressaltar com tanta clareza, servem para sublinhar
co~rsrnrirlduttta c i ~ ~ s ~ c rea6izm.h
a ~ ã o confime mitirio o&- a patológia social do brnnco brasileiro. Grifo a pdavra branco, pois
tiuo (o grifo C meu). que o nosso branco é, do ponto de vista antropológico, um mes-
O número apurado dos pretos, pelo contdrio, deveria tiço, sendo, entre n6s, pequena minoria o branco não portador de
ficar scnsivelmcnce inferior à realidade, se as declarações
procedessem dos interessados; mas cumpre lembrar que a
e
sangue pret?. no Norte e no Nordeste do Brasil, por tanto, onde
ação dos agentes recenscadores não foi sempre dirigida nesse são mais nltidos os traços da patdogia social do "branco" brasi-
mesmo sentido, c que em certos casos foram incluídos leiro, e em nenhui; lugar do nosso pais mais do que no Estado
numerosos pardos entre os declarados pretos. da Bahia, que apresenta em sua composição demográfica o mais
O número apurado dos pardos provavelmcnte está abai- forte contingente de indivlduos de cor (70,19% da população
xo do que seria dado por uma classifica#o objetiva, sendo,
total, em 1950).
& certo, ntuior o ndrrrero dor pardos classif;cados entre os
brancos (o grifo C meu) do que o possivcl arccdente em A minoria "branca" de Estados do "Norte" e do "Nordeste",
favor dos pardos nas trocas de classificação com os como o da Bahia, merece a atenção daqueles que se dedicam i
Melhor flagrante não se poderia obter da ~erturbacáoosico1~- ciência das relações humanas, porque em seu comportamento
r r------
gica do brasileiro em sua auto-avaliação estética. Todos aqueks apresenta interessante problema de psicologia coletiva. Trata-se
informes mostram o sentimento de inferioridade que lhe suscita a de minoria que sofre de "instabilidade auto-estimativa", visto que
sua verdadeira
-
condigo étnica. Esse sentimento é tão fone, no-
cidadão bnsdeiro, que vicia G dados do Réienseamento, levando
-
tende a disfarçar a sua condição étnica efetiva, utilizando-se de
mecanismos psicoiógicos compensatorios a o que -
este a resultados paradoxais. !l o caso, por exemplo, que se con- inferioridade.
figura, em 1940, nestas palavras: Este fato caracteriza, efetivamente, como patológico o quadro
a mais elevada proporfiio ermc pretos c pardos (148 pretos das relações de raça, no Brasil, e especialmente nos Estados do
para 100 pardos) se encontra na regiáo Sul, que tw a "Norte" e do "Nordeste".
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elciiieiitoç cI:i i i i i i i c ~ i - i ; "[)i-;iiic:il'
i "Norte" e iio "Norrlesic"
D O C U M E N T O S V 1 UMA MILITANTE
SOCIOLOGIA

Recenseamento. Consta que, certa vez, um editor argentino de r m minha única reserva, não me agra-
que ~ o b r ~ ~ u j ; i s sessa
suas poesias sobre motivos negros fez uma propaganda em que o daria para marido de qualquer das minhas filhas.
apresentava ao público como um "grande poeta negro do Brasil". Nortista 4 também um inteligente redator de O Glo60, jornal
A alcunha, porém, teria levado o poeta alagoano a, em longa carta, em que escreve diariamente uma crbnica sobre a vida noturna do
pedir ao editor argentino que cessasse na propaganda as alusões Rio. Na edição de 18/1/55 daquele jornal, o referido redator
que o apresentavam como homem de cor. Este mesmo cidadão publica a fotografia de uma artista de night club, seguida desta
escreveu, diretamente em língua alemã (o que é significativo na legenda:
perspectiva adleriana do protesto), um livro em que sustentava A moça de hoje - Esta C a bonita bailarina negra.
uma tese arianizante. Mas,outro poeta nortista, residente em São Nilza. do elenco do BCgrrip. Bela de corpo e de cara. Dela
Paulo, de pele tostada, foi mais taxativo. Tendo sido considerado se poderia dizer: "Isso em branco" ..15
numa entrevista como poeta negro, requereu se lhe fizesse um E para terminar esta enumeração de ocorrências em que se
exame de sangue no Instituto de Biotipologia da Penitenciária de tornam flagrantes os traços adlerianos da psicologia coletiva do
São Paulo para provar a pureza do seu sangue, Recentemente, um nortista, desejo reportar-me a um recente artigo publicado no
romancista da raça negra, mas "ernbranquecido" por processos jornai O Globo (ediç5o de 3/5/55), intitulado "0 Brasil e a Máe
decorativos, quimicos e mecânicos, numa autodescrição que fizera Preta". O autor deste artigo é um conhecido escritor brasileiro
a pedido de um repórter da revista O Cruzeiro, se declara "moreno (Gilberto Freyre). Sublinhemos, inicialmente, que, no momento
carregad0".~3 em que o pais comemorava o Dia das Múes, 6 um "nortista* que
Por sua vez, um intelectual "branco" do Estado de Pernambuco, levanta a sua voz para distinguir a "mãe pretan da "mãe branca*.
perguntado, num inquérito sociológico, como receberia o casa- E na sua óptica ele vê uma e outra como dois pálos. Leia-se o artigo
mento de parente seu com pessoa de cor preta, responde:24 e 14 estão, em cores vivas, os aspectos dlnicos em que venho
Devo estabelecer uma graduação, ao justificar meu insistindo. A palavra "senhoran só ocorre ao articulista aplicar à
ponto de vista pessoal sobre coloração pigmendria, o qual "mãe brancan, à "iaiíí brancan. Nos refolhos do inconsciente do
- -- --=
me
e fisiológicos. O branco, nessa gradaçáo, vem em primeiro "senhora", como "dama", ou seja, não associada a sugestões subal-
lugar, seguindo-se-lhe o indio, o mulato, e, por fim, o
negro. A cor prco nunca me agradou. Ela não C uma
ternas. Textualmente ele descreve as ''máes pretas* (o artigo C
slntcse, conio o branco. É a pr6pria audncia da cor, na sdrie ilustrado por um desenho, representando uma "babán, tendo ao
prismitica. Luto, trevas, fumo, se associaram na formação colo um menino branco) como
de um complexo qiic remonta. ralva. à minha meninice e Joanas, Marias, Benditas, Amaras, Luzias. JaUnus, a r -
a que tambtm náo C estranha a influencia de "históriw-de- rcgmdo num braço um filho branca e a o outro um' tilho .
1 :
trancoso", com personagens que eram "negros velhosn, preto; dando d e mamar aos dois dos mesmos peitos mater-
perversos c de hórrido aspecto. De sorte que. para ser rigo- nalmente gordos; dando aos dois de comer d o mesmo p i d o
rosamente verdadeiro, devo afirmar que não receberia bem amolengado por sua daces c sibias mãos negras; ensinando
o casamento de filho ou filha, irmão ou irmã, com pessoa aos dois as mesmas palavras Kceis, os mesmo brinqudos
de cor preta. Entreranto, não creio que essa repugnbcia, simples, as mesmas palminhas de guint, osmesmos b c l i l i -
por si só, deva prevalecer sobre altas razões sentimentais, de-pintainho, as mesmas b8nçiios a Pai. a Mãe, a Av&, a
morais e mencais. para evicar uqióes entre brancos c pessoas Av6, a Padrinho, a Madrinha, a Papaido-Ctu, a Mamãe-
de cor. A minha esposa tem boa dose de sangue de hdios. c$KÇu, aos wncos protetores de casa, a Dindinha Lui;
Mas um negro, a não ser que possuisse dores excepcionais, ninando os dois com as mesmas cantigas de ninar menino
DOCUMENTOS
D E U M A SOCIOLQGIA
MILITANTE

pequeno; contando aos dois as mesmas histbrias de bichos aquela página depreciativa a nosso respeito, em seu livro Pmagrz.
compadres de bichos, de papbcs inimigos de nencns mal- Michaux diz que, apesar do tempo que passou aqui (malgrè le
criados, de mouna encantadd, de mouras tortas, de velhos t e m p p a d h-bnr)náo pBde estabelecer contato com os brasileiros,
de surráo, de reis, de rainhas, de princesas, de fidas; ttatan-
do os dois com OS mesmos ungkntos e os marnos &os.
pois que encontrou a "sua inteligência cafeinadayysempre "em
reflexos e jamais em reflexóes"(1eur intelligence caftinke, toute em
Nada mais compreensivel, por conseguinte, que este brasileiro
r k ! e s , jamais em répexions).28
tenha sido o criador da "lusotropicologia", isto 6,uma apologética
do colonizador português. O caráter patológico do protesto racial do "branco" brasileiro é
O desajustamentodo "branco" brasileiro ao seu contexto étnico evidente, levando-se em conta aspectos estruturais de nossa socie-
o leva, por outro lado, muitas vezes, a aderir a ficções. Não gosta, dade, em nossos dias.
por exemplo, que se diga que o Brasil é um pals de mestiços. Na atual fase de desenvolvimento economico-social do Brasil,
Conhecido cronista social recebeu, certa vez, como protesto a uma não existem mais suporte concretos que permitam a nossa mi-
alusão sua menos cortês sobre Ali Khan, uma carta de censura fiotia de "brancos" sustentar SUAS atitud& arianizantes. De um
cujo autor dizia que o príncipe deveria ser melhor tratado pois lado, verifica-se que desapareceram, desde há muito, do pds, as
era amigo do Brasil e tiáo se confundia com certa espécie de situações estruturais que confinavam a massa pigmentada nos
estrangeiros que afirmam no exterior que somos um pais de "mal- estratos inferiores da escala econômica; e, de outro, observa-se
trapilhos, de cobras e de negro^...".^^ que a massa pigmentada, preponderante desde o inicio de nossa
Isto não impede, entretanto, que o estrangeiro veja o "branco" formago, absorveu, pela miscigenaç80 e pela capilaridade social,
brasileiro tomo um espécime um tanto bizarro e pitoresco. Há gande parte do contingente branco, qiie, inickdmente, podia
uma página de Tibor Mende que ine parece ilustrativa da maneira considerar-se isento de sangue negro. O que, nos dias de hoje, resta
como o europeu vi! o nosso "branco". Narrando o seu primeiro
encontro no Brasil com utn funcionário do Itamarati, escreve
T i h n v -27. --

e seiíor bastos. du Ministtre dcs Maires Ctrangères,


chef de section au Pdilris Itamarrty, Ctait venu me ptendre
- _ de brancos puros em nosso meio é uma quota relativamente
pequeQa. O Brasil C, pois, do ponto de vista hnico, um pds de
mesti0.r
- .

OS fatos aa reíuiaaae ernica riu prasii, FICJ IIIWIIIUJ, WLW


iluminando a consciência do mestiço brasileito e o levam a perce-
pour me conduirt &ns sa maison de Copacabana. Bien
qu'il eat une gnndmkre française -qu'il mentionnait trop ber a mificididade, em nosso meio da ideologia da brancura. O
souvent pour qu'on n'oubliat son aristuice et s b origina ideal da brancura, tal como o ilustramos anteriormente, nas con-
-
aristoeratiqu~, i1 &ait Ir Brbilien typc, si toutd0is ceia diçóts atuais, é uma sobrevivencia que embaraça o processo de
existe dans um pays préscntant une a m i g m d e variCt4.
maturidade psicol6gica do brasileiro, e, além disso, contribui para
Nos relations, nouCcs en Europt A I > O C W ~ O ~ d'unc btève
~ amitit aussi vite que
rencontr, s'Ct&ent t ~ h s f o r m C een enfraquecer a integração social dos elementos constitutivos da
m0rissent l u fruits som Ic solei1 tropical du BrCsil, suis sociedade nacional.
avoir le temps de dhtebppit les vitamim néce~~aires. Bastos Antes dos soci&logos,os fil6sofos já tinham percebido a natu-
Cnit infiiiiment bon, cordial et sans fiçon, bien g u ' w n
soucieux du presrigt social. ct il Cprouvair parfois un brusque reza sociológica da simpatia e, ao mesmo tempo, o seu papel social.
bboin de v o u faite dcs confidenccs. Segundo eles, a simpatia seria originariamente um estado psicoló-
Foi certamente evocando a imagem ridlcula de um desses gico que aparece mamo entre os animais, desde que percebam que
I ,

brasileiros dvidos de europeizaçáo que Henri Michaux escreveu $30 semelhantes. Hume, deseiivolvendo peilsamentas de Spinoza,
I .1
Docu~eN-i-osDi, Uh.M SOCIOLOGIA
MII.I.~ANI.E I - Pxroi.oc1~SOCIAL
DO "BIUNCO"BIZASILEIRO
I

considera a simpatia como a causa primaria da sociedade, pois ela ao meio físico e social, e se selecionam e testam na experiência
suscita a imitação e reduz uma nação a um tipo genérico, variando social efetiva. Nestas condiçóes, a prevalência dos valores autênti-
de intensidade na proporçáo direta da relação e identidade dos cos numa comunidade "leva à completa estabilidade e integraçáo
indivíduo^.^^ do ser humano", assegurando-lhe
- "liberdaden e facultando-lhe o
Posteriormente a Hume, o filósofo e quase sociólogo Adam "controle do ambiente", a criação e manutenção de grupos, insti-
Smith desenvolve uma Teoria dos sentimentos morais (1759), na tuições, leis e pautas de direitos e deveres, orientando com êxito
base do significado social da simpatia. Adam Smith procura mos- a sociedade na luta e na sobrevivência intragrupd e possibilitando
trar que a sociedade humana subsiste enquanto certa bilateralidade o estabeiecimento de laços e relações sociais íntimas e duráveis de
simpática entre seus membros neutraliza as tendências individua- ~olidariedade.~'
listas e desagregadoras. A sociabilidade, para Smith, repousa na Nenhum grupo social alcança níveis altos de vida histórica se
simpatia, no fato de cada indivíduo "simpatizar com a situação da os seus membros internamente não se inter-relacionam pelo sen-
pessoa que é objeto de sua observaçáo" e desta última "assumir a timento singenético, de que fala L. Gumplowia, cujo substrato
situaçáo do espectador" ou, como diriam atualmente os soci6logos b i c o 4 o fato percebido da semelhança física e da semelhança
norte-americanos, no fato de os indivíduos serem capazes de se intelectual. É o "singeni~mo'~ que faz de cada grupo um grupo A
ajustarem às expectativas uns dos outros?0 parte, observa acertadamente Gumplowia, que o leva a glorificar
A sociologia norte-americana não deixou perderem-se estas o que lhe é práprio e o qrre tem & mais imediato, rebaixando e
observações fecundas. Giddings3' inspirou-se diretamente em menosprezando o que não lhe Cprbprio e o que estd afccsksdo &.
Adam Smith, quando sustentou ser a consciência da espécie Segue-se daí - acrescenra o - que a história escrita
(conscz'ousnessofkind) o elemento subjetivo primário, fundamental européia designa a Europa como o coroamento da criaçáo e o
de toda sociedade. Tanto as sociedades animais como as sociedades centro do desenvolvimento histórico, que a história chinesa imita
humanas são tanto mais integradas, quanto mais,. entre os seus a mesma afirmação a propósito da China, a história americana a
membros, se reforça a consciência da similitude, quanto mais propósito da América e que, em suma, cada povo, cada tribo, sim
~ a r a c t e c e s + u s o s f a ~ e 1 - ~ f e f f t e i h a~~ e s~ ~ 0 para
~= - 6
-
s . - -
~ - . ~

Giddings, a consciência da similitude converte em normas os dificultado o desenvolvimento entre os brasileiros deste sentimento
hábitos coletivos e os costumes, os quais a sociedade utiliza para e, segundo Azevedo Amarai, ter-nos-íamos habituado "a ter ver-
reforçar a sua coesão integral e assim perpetuar-se. Neste ponto, gonha de n6s mesmos", e "acreditamos, através de nossa cultura
a atual sociologia norre-americana confirma Giddings, pois os seus livresca, que só 4 grandioso o que corresponde aos padróes éticos
epigonos ainda aceitam classificações de contato social, como a de e étnicos das civilizaçóes que se elaboram em torno do Mediter-
C. H. Cooley, que os divide em primários e secundários, e a de râneo e do Bdtico" ." Afetaria a personalidade do brasileiro um
. ,..
N. S. Shaler, que os diferencia em simpatéticos e categóricos, sentimento de inferioridade, ao contrário do que tem acontecido
classificações que implicam no reconhecimento do papel sociai _U_
com outros povos, que se acreditam
gt
,
&

integrativo da simpatia. <


parcicularmenre nobres, particularmente distinguidos. como
Radjhakamal Muhrjee, em seu estudo sociol6gico sobre a a ,a. povos eleitos entre todos os povos. reforçando, mediante
gênese dos valores, considerou-se precisamente em sua função inte- esta solidariedade, a superioridade de seus membros sobre
4
.,:
)
I os membros dos outros povos, corroborando seus senti-
grativa. Para Mukerjee, os valores sáo mecanismos de orientação @
.$&e- mencos singcnéticos entre os membros de sua comunidade
sociai do homem, instrumentos de ajuste de grupos e indivíduos 4 (Gumplowia).
Torna-se assim perccptlvel a crueldade, a má-fé e a intenção trabalho, de certo, é necessário e, além disto, de efeitos positivos,
"cismogenCtica"(Bateson) subjacentes nos nossos estudos sobre o nisto que suscetlvel de libertar muitas pessoas do que se chamou
negro no Brasil. A função deles tem sido a de contribuir para minar protesto racial. Mas são os fatos mesmos que, em d u m a andise,
nas pessoas de cor, em nosso meio, o sentimento de segurança. Os propiciarão o desaparecimento daquela anormalidade de nossa
nazistas utilizaram também processo semelhantes com os judeus. psicologia coletiva.
Para inferiolizá-los, entre outros processos, transformaram-nos
Este problema envolve uma questão de articulação de gerações.
em assunto. Consulte-se, por exemplo, o livro Die juden in
fi natural que os caracteres daquela patologia se mostrem mais
Deutschk~nd~~, publicado por uma editora nazista. Nesta obra se
vivos nas gerações mas velhas, que receberam, de gerações outras
encontram tópicos sobre "a emancipação dos judeus"; "o desenvol- que alcançaram a plena vigência do regime escravo, uma definição
vimento demográfico dos judeus desde o século XLX"; "os judeus pejorativa social do negro e do mulato. As gerações mais moças,
na vida econômican; "os judeus na imprensa"; "os judeus na entretanto, se mostram mais acessíveis a admitir os novos critérios
polltica"; "os judeus como vultos da cultura alemã"; "os iudeus na de avaliação que os fitos estão impondo.
literatura"; "os judeus no teatro"; "os judeus na música"; "os
A partir de certa idade - observa um estudioso de questões
judeus e a imoralidade"; "os judeus e a criminalidade". Títulos
geracionais, François MentrC 37 - O homem não muda, o indiví-
esses perfeitamente equivalentes aos de capítulos de obras "antro-
duo se torna estável e vive sobre o capital intelectual e moral que
pológicas" e "sociológicas" sobre o negro no Brasil, de autores
comanda sua atividade. Dai o caráter polêmico que o tema das
nacionais. Eis aqui alguns títulos extraídos de Erttrdos afio-brasi-
relações de raça assume nos dias de hoje, entre n6s. Ele reflete uma
kiros (Rio, 1935) volume contendo trabalhos apresentados ao 1'
tensão entre gerações
- que elaboraram os ingredientes de sua me-
Congresso Afiro-brasileiro reunido em Recife em 1934: "o negro
mbria cdetiva dentro de "quadros" sociais diversos.
no folclore e na literatura do Brasil"; "ensaio etnopsiquiáuico I

sobre os negros e mestiços"; "contribuição ao estudo do fndice de


7-. Como Maurice Halbwachs, cada um pode dizer: "Je porte
1

Lapicque"; "os negros na história das Alagoas"; "as doenças men- avet moi un bagage de souvenirs hist~riques".~"
Estes souvenirs
-
ais entre os negros de Pernambuco"; "longevidaden; "grupos
sangüíneos da raça negra". Por outro lado, no 2* Congresso Afro-
brasileiro realizado em 1937, em Salvador, apareceram estudos
f'
* +,& $
um. Muitos brasileiros ainda vivos descendem de avós que possuí-
ram escravos, enquanto outros não. Tais circunstâncias importam.
-#E$:
sobre: "costumes e práticas do negro"; *o negro e a cultura no
,L%
r@?W necessariamente na formaç50 psicológica de cada um.
Brasil"; "influências da mulher negra na educação do brasileiro"; A tradiGo da brancura que ainda sobrevive,.entre nds, terá
"culturas negras, problemas de acu1turac;ão no Brasil"; "a liberdade de ser ultrapassada por outra tradição, tradição que estamos assis-
religiosa no Brasil: a macumba e o batuque em face da lei"; "o tindo nascer e que representa novas condições objetivas da vida
moleque do carnavai" .36 Isto aconteceu em Salvador, no ano de brasileira.
1937. Note-se como todos os estudos mencionados implicam Nos dias de hoje, a idealizaçáo da brancura, na sociedade
sempre um ponto de vista branco. brasileira, é sintoma de escassa integraçiio social de seus elementos,
É óbvio que o desaparecimento dos aspectos aqui descritos da C sintoma de que a consciência da espécie enue os que a compõem
patologia social do "brmco" brasileiro náo ocorrerá como conse- mal chegou a instituir-se. Este, porém, C um processo social nor-
qiiencia de mero trabalho de reeducação e esclarecimento. Este mal que não poderíí ser definitivamente obstaculizado. Apenas
uma situação colonial temporária tem embaraçado este processo.
A luz de uma sociologia indutiva, isto é, de uma sociologia tifica. Todavia; apesar disto, suas aniílises dos processos de
cujos critérios sejam induzidos da realidade brasileira, e não imi- dominação das minorias são, em muitos aspectos, aceitáveis.
tados d a prática de sociólogos d e outros países, a luz de uma Vide o seu livro na tradução espanhola -La Lucha de Razm.
sociologia cientlfica, o que se tem chamado n o Brasil d e "problema Madrid, s.d., p. 247.
d o negro" é reflexo da patologia social d o "branco" brasileiro, d e (10)A capilaridade social é um processo simultaneamente as-
sua dependência psicol6gica .39 cendente e descendente de renovação nos vários estratos da
sociedade. Abrange o processo discrito por Vilfredo Pareto
F Q uma
~ minoria d e "brancos" letrados que criou esse "pro- como ucurculação de elites e de classes". Vide PARETO,
blema", adotando critérios de trabalho intelectuai não induzidos Vilfredo. TraitP de sociologie. Paris, 2 vols. 1 917 e 1919. !
d e suas circunstâncias naturais direta.
(11) Entre virios sociólogos e antropólogos brasileiros é corrente
Nestas condições, reconhece-se hoje a necessidade d e re- a tese de que os nossos problemas raciais refletem determi-
examinar o tema das relações de raça n o Brasil, dentro d e uma nadas relações de classe. Esta tese é insuficiente, a meu ver.
posição de autenticidade étnica. Explica apenas aspectos parciais da questão. I
S6 a simples tomada desta posição vale como meio caminho (12)Vide SPRANGER, Eduardo. "Patologia Cultural?". In La i
andado n o discernimento das incompreensóes reinantes em nossas &+riencia de h vida. Buenos Aires: Realidad, 1949. I

relações d e raça, atualmente. r t


(13)Vide BALANDIER, Georges. "La Situation Coloniale:
y Approche Tlidoriquen.In Cahiers internationauxdesociolo~'e,
preciso dizer, finalmente, que esta posição de autenticidade $ -.t, ,
v. XI, Caliier Double, 1951. Neste estudo escreve o autor 1::

étnica não se indina para a legitimaçáo de nenhum romantismo


citado: "...Ia situation coloniale apparait comme possédante,
1

culturológico, d e nenhum retorno As formas primitivas de convi- d'une maniete essentielle, 'un caraccère d'inauthenticitd: elle
vência e d e cultura. A autenticidade étnica d o brasileiro não cherche, constamment, A se juscifier par un ensemble de
implica um processo de desestrut~ração'~,no caso, d e desocidenta- pseudo-raisons."
lizaçáo da sociedade nacional. Ela é possível perfeitamente dentro
4 - 4 -
- -
-7 I (13a)Popularmente se empregam sem precisão as ~alavras"Nor-
= -

no Esplrito Santo, em direção do norte. Quando escritas


Notas sem aspas devem ser interpretadas em seu sentido técnico-
(1) DURKHEIM, Émile. Les Rigies dr 4 mithodc sociologiquc. geográfico.
Paris, 1950. (14)Estudos sobre a coniposiçbo da população segundo a cor,
(2) Idem. p. 56. IBGE. Rio, 1950.
(3) Idem, p. 56-57. (15)Idem, p. 8.
(4) Idem, p. 55. (16)Idem, p. 8.
(5) Idem, p. 57. (17)Idem, pp. 8-9.
(6) Idem, p. 56. (18)Idem, p. 16.
(7) Idem, p. 60-61 (19)Vide BRACHFELD, Oliver. Infcriority Feelings, in the
(8) Idem, p. 61. Individual and t / ~ eGroup, p. 127. London, 1951.
(9) L. Gumplowicz, sociblogo ausulaco, sustenta uma teoria (20)Vide GUERRREIRO RAMOS, A. Sociologia cllnica de um
racista da história que, obviamente, carece de validade cien- baiano 'kfaroD In O Jornal Rio, 27 de dezembro de 1953.
DOCUMEN-1'0s
01; UMA SOCIOLOGIA
MILITANTE I - PATOLOGIA
SOCIALDO U B ~BRASILEIRO
~ ~ ~ "

(21) O "branco" baiano e brasileiro é um tema ainda a explorar. individuals to rlie physical and social milieu, and are sifted
Os sociólogos e os psicólogos brasileiros ainda não se deram arid tested out i11 actual social experience by the three-fold
conta do excelente material de observação que o tema sugere. criteria: (1) how far tlie dominant values that men hold lead
Uma das pesquisas que pretendo empreender proximamente to the full poise and integration of the personality, achieved
é a do preciosismoda linguagem falada e escrita de "brancos" freedoni and coiitrol of the enviroment; (2) how far the
da camada letrada da Bahia, onde C patente um aspecto present system of valua with whose aid men creat and
adleriano muito interessante. maiiicain groups, institutions, laws afid rights-and-duties
(22) Emprego o termo na acepçáo em que o empregava Gustav sucessfully guides society in intra-group struggle and
Ichheiser, em seu estudo "Misunderstandings in Human survivals, and (3) how far the present system of values
Relationsn. Tj~eAniericm Joirr~íal of Sociology, setembro, promotes tlie creation and maintenance of intimate,
1949. enduring and ideal social bonds and relations and an ideal
(23) Vide CONDE, JOSO. "Arquivos Implacáveisn, "flashn de solidarity of Iiumanity (cf. MUKERJEE, R. The Social
Rosário Fusco. Revista O Cruzeiro, 23 de abril de 1955. Struccrrre ofvnlues. hndon, s.d., p. 8-9).
(24) Vide PORTO, Adolfo F. Resposta a um Inqutrito, Dire- (33) Vide GUMPLOWICZ, .-.
op. cit., p. 273.
toria de Docuinentaçáo e Cultura, Prefeitura Municipal do (34) Vide AMARAL, Azevedo. O Brasil na crise atual. São Paulo,
Recife, 1948. pp. 74-5. 1934. p. 181. Nesta mesma página Azevedo Amaral escreve:
(25) Vide Mesa de Pista, coliiiia de Antonio Maria. O Globo, "A nossa alma coniprimida fervilha em reivindicações platô-
edição de 18/1/1955. nicas a que a iiossa consciência empresta as formas fictlcias
(26) Vide "O Príncipe Náo Ficará na Misdria", coluna de Ibrahim de aspirações pueris e mesquinhas, enquanto o sentido da-
Sued. O Globo, ediçáo de 11/12/54. quelas forças subterrâneas é a libertação do nosso espírito na
afirmação orgulhosa de nossa realidade psfquica e dos traços
(27) Vide MENDE, Tibor. LAmerigiie Letine entre em sc2ne.
singulares da iiossa personalidade nacional".
Paris, 1952. p. 25.
-
--(W Vide MICHAUX, Heiiri. Passam NRF. Paris, 1950. Es--
creve Michaux: "Aiiisi les mages (du Pays a%h magie) hrent
-.-
- - --
--
(35) Die Jrrden i~Deutschlnnd. Herausgegeben vom Institut zum
-
- -
commencés le lendernain de mon arrivée à Rio de Janeiro, (36) Vários autores, O Negro no Brasil Rio, 1940.
me sèparant si bien de ces Brésiliens, avec qui je ne trouvais (37) Vide M E N T ~ François.
, Les gintrations sociales. Paris,
pas de coiitact (leur inteligente caféinée, toute em réflexes, 1920. p. 220. "A pertir d'un certain age, I'homme ne change
jamais eti rdflexions) que je pourrais presque dire, maigrC le plus, I'individu devient stable et vit sur le capital intellectuel
temps passé !à-bas, que je n'en ai pas rencontré (pAg.162)". et moral qui commande son activité mais, autour de lui, tout .
(29) Vide BARNES & BECKER. Social Thoughtfiom Lore to change par I'effet du progres général et de I'entrée incessante
Sciencc, 1" vol. 1952, cap. XIV. des jeunes dans Ia vie, si bien que le révolutionnaire de Ia
vielle deviendra le réactionnaire du lendemain: en réaiité,
(30) Consulte BAGOLINI, Luigi. Moral e direito na doutrina d.t
i1 n'a pas rétrogradé, mais il retarde de plus et plus stir Ia
simpatia. São Paulo, 1952.
marche des idees et des évenements et s'enfonce toujours I
(31) Vide GIDDINGS, Priiícfpios de sociologia. Buenos Aires, davanage daiis le passé oh il trouve sa raison d'être".
1943.
(38) Vide HALBWACHS, Maurice., Lu mtmoire colhiue. Paris,
(32) Values are mechanisms of maii's social orientation and 1950. pp. 36-7: Vide também deste mesmo autor, Les Cadrrs
guidance: they are tools of adjustment of human groups and sociaux de Ia mimoire. Paris, 1951. Halbwachs, nestas duas
DOCUMENTOSD E UMA MILITANTE
SOCIOLOGIA

obras, abre perspectivas muito importanres para o esdareci-


mento de problemas como o que constitui o tema deste
estudo. Pretendo, em trabalhos posteriores, utilizar mais
amplamente as hipóteses fecundas de Hdbwachs naqueles
dois livros.
(39) Consulte MANNONI, O. Psycholoj+ - de la colonisation.
Paris, 1950. Também Georges balandier, "Concribuition A
une Sociologie, de Ia DépendanceWii~ Cahicrs Intcrnationawc I1- O Negro desde Dentro
de Sociologie, Volume XII, 1952. Escreve al Balandier: "La
société colonis6e peur ... être considéré comme une sociCti
globahnzt aliéi~ke~ qui est atteinte dans son organisme
socio-culturelle propre (plus ou moins, sélon Ia capacite de
résistance de cette dernière) et d'autant plus soumise A la
préssion de Ia sociéti dominante etdtrang&requ'elle est plus
dégradée".
(40) Sobre este tema, vide CURVITCH, "Hyper-Empirisme
Dialectique". Li Cnlliers,v.XV,1953. Também DCtenninismes
sociaux et libertk hrirrininc. Paris, 1955.

Povos brancos, graças a uma conjunçáo de fatores históricos e


naturais, que não vim ao caso examinar aqui, vieram a imperar no
planeta e, em consequencia, impuseram Aqueles que dominam

klores está o d i brancura como símbolo do excelso, do sublime, !


do belo. Deus 6 concebido em branco e em branco são pensadas
todas as perfeições. Na cor negra, ao contrário, está investida uma
carga milenária de significados pejorativos. Em termos negros
pensam-se todas as imperfeiçóes. Se se reduzisse a axiologia do
mundo ocidental a uma escala cromdtica, a cor negra representaria
. I1
o p61o negativo. São infinitas as sugestões, nas mais sutis moda- 1
lidada, que rrabalham a consciência e a inconsciência do homem, i
I
desde a infância, no sentido de considerar, negativamente, a cor
negra. O dembnio, os espiritos maus, os entes humanos ou super- .
humanos, quando perversos, as criaturas e os bichos inferiores e
mdignos sáo, ordinariamente, representados em preto. Não tem

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