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Intervenções
Psicossociais no
Sistema Carcerário
Feminino

Psychosocial interventions in the female prison system

Marcela
Ataide Guedes
Artigo

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006, 26 (4), 558-569


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PSICOLOGIA CIÊNCIA E
PROFISSÃO, 2006, 26 (4), 558-569

Resumo: Um dos meios de percepção do crescimento da violência na


sociedade atual pode ser mensurado pelo aumento da população
carcerária, o que pode favorecer a violação dos direitos humanos.
Considerando os poucos dados disponíveis, o presente trabalho buscou
investigar essa população, visando a contribuir para a produção de
conhecimento sobre esse grupo. Por meio do plantão psicológico, realizado
numa delegacia de Belo Horizonte/MG, acolhemos demandas
espontâneas de sessenta e sete mulheres, de agosto de 2004 a julho de
2005. A faixa etária das mulheres variou de dezoito a quarenta e dois
anos, e o tempo de prisão, de um a trinta e seis meses. A análise temática
dos assuntos abordados pelas mulheres aprisionadas salientou
características como o cotidiano prisional, a maternidade/relações
familiares, as vivências amorosas internas/externas e as relações de gênero.
Foram apontadas estratégias individuais e coletivas que visam a facilitar a
dinâmica interna cotidiana: o apego aos filhos/familiares, as práticas
religiosas, as oficinas de artesanato, o trabalho na limpeza e as relações
amorosas internas.
Palavras- chave: sistema prisional feminino, exclusão social, Psicologia
social.

Abstract: One of the means of perception of the increase of violence in


the current society can be measured by the growth of the incarcerated
population, what possibly contributes to the breaking of human rights.
Singularities have already been observed in relation to female inmates,
what makes the matter still more difficult to be faced due to few available
data. The present study aimed to investigate this population in order to
contribute to the knowledge about this group. Through the psychological
shift in a police station in Belo Horizonte we received spontaneous
statements from 67 women from August 2004 to July 2005. The women’s
age ranged from 18 to 42 and the sentence length from 1 to 36 months.
An analysis of the themes for the issues brought by the inmates showed
characteristics such as everyday life in prison, maternity/family relationships,
internal and external love relationships and gender relationships. Individual
and group strategies were listed to facilitate the everyday internal dynamic:
family / parental attachment, religious practice, handicraft workshops,
cleaning work and inmates’ love relationships.
Keys word: female prison system, social exclusion, Social Psychology.
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Intervenções Psicossociais no Sistema Carcerário Feminino

O presente trabalho baseia-se em um projeto abusos que ocorrem em seu interior, parece
que integrou atividades de ensino, pesquisa ser apenas mais um elo na cadeia de múltiplas
e extensão. violências que conformam a trajetória de uma
parte da população feminina. Na melhor das
Teve início em agosto de 2004, como atividade hipóteses, ela não favorece em nada a
de pesquisa e intervenção, através da interrupção da violência e da criminalidade. Na
aproximação com o sistema prisional de Belo pior, ela reforça e contribui para que a violência
Horizonte/MG, que nos apresentou uma se consolide como a linguagem predominante
realidade que demandava e permitia o na vida das presas e daqueles que as cercam.
1
desenvolvimento de um projeto de extensão O ciclo da violência, que se inicia na família e
que incluiu uma intervenção terapêutica através nas instituições para crianças e adolescentes,
“(...) o que os
dados mostram é do atendimento de plantão psicológico, perpetua-se no casamento, desdobra-se na ação
que a prisão, tanto orientado e supervisionado pela Profª Drª Ingrid tradicional das polícias e se completa na
pela privação de 2
Faria Gianordoli-Nascimento. penitenciária, para recomeçar, provavelmente,
liberdade quanto
pelos abusos que na vida das futuras egressas” (p. 126).
ocorrem em seu Tal demanda surge de uma delegacia situada
interior, parece ser na Capital mineira, que solicitou nossa
apenas mais um A partir do exposto, um aspecto fundamental
participação junto a um projeto que buscava
elo na cadeia de a ser ressaltado diz respeito ao contexto de
múltiplas violências contribuir para o processo de inclusão,
violência que muitas dessas mulheres
que conformam a recuperação e construção de cidadania das
trajetória de uma vivenciaram e continuam a vivenciar, que inclui,
mulheres que se encontram detidas, através
parte da além das agressões físicas, sexuais e
população do trabalho em atividades internas e cursos
psicológicas diretamente sofridas ao longo da
feminina. de trabalhos manuais, o que permitiu uma
existência, perdas violentas de parentes
profissionalização, já que visava à reinserção
próximos e/ou de parceiros conjugais.
social e no mercado de trabalho.
Destacamos ainda outras especificidades do
A articulação entre a vivência do plantão
cárcere feminino. Assis e Constantino (2001)
psicológico e a revisão da literatura nos
descrevem que existe um imaginário social
permitiu descrever algumas das
construído em torno da criminalidade feminina,
particularidades da realidade institucional e da
que é acolhido inclusive por autoridades como
vida dessas mulheres, que se revelaram
juízes, delegados, carcereiros, advogados, etc.
informações fundamentais para a
3 Concebe-se que as mulheres são fortemente
compreensão deste trabalho .
influenciadas por estados fisiológicos e que seus
1 CENEX/UFMG.
É consenso entre especialistas, opinião pública crimes são, em grande escala, cometidos no
2 Professora do e o próprio governo que o sistema espaço privado, já que o espaço público ainda
Departamento de
Ps i c o l o g i a / FA F I C H / penitenciário do País vive uma crise aguda, lhes é muito negado. Muitas vezes se
UFMG.
seja pelas péssimas condições de vida nos envolvem em crimes passionais ou naqueles
3 O presente tra-balho, presídios e carceragens, seja em decorrência cometidos sob violenta emoção. Quando
também orien-tado pela
Profª Drª Ingrid Faria dos casos de corrupção que envolvem cometem crimes de outra natureza, como a
Gianordoli-Nascimento
policiais, funcionários e juízes e que aparecem participação no tráfico de drogas, esses estão
(Dep.de Psicologia/
FAFICH/UFMG), contou freqüentemente nos jornais. vinculados a uma posição subalterna justificada
com a colaboração do
psicólogo Alessandro
como uma extensão natural de suas relações
Vinícius de Paula No que tange à carceragem feminina, Soares afetivas. Acredita-se que participem dos delitos
(mestrando do Programa
de Pós-graduação em e Ilgenfritz (2002) apontam: em número menor que os homens e sejam
Ps i c o l o g i a / FA F I C H /
UFMG), que participou
postas à margem das atividades importantes.
ativamente das “(...) o que os dados mostram é que a prisão, São consideradas perigosas e não confiáveis,
atividades de co-
orientação e intervenção. tanto pela privação de liberdade quanto pelos capazes de traição, com exceção das que

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passam por provas especiais de valor. Exceção a relevância de se ouvir as explicações do


se faz somente quando se trata de lésbicas ou sujeito, não restringindo a análise à observação
prostitutas, que são identificadas como mais da ação, e a valorização de quaisquer
parecidas com os homens, mais machonas e informações que possam ser extraídas das
mais habituadas à rua e à delinqüência. ações ou de produtos das ações dos indivíduos.
Percebe-se, dessa forma, a importância
No que tange ao estudo desse fenômeno, recentemente dada pelas ciências sociais à
concordamos com Frinhani (2004), que vida cotidiana e a sua aplicabilidade nesta
enfatiza o excesso de tematização por experiência em particular.
programas televisivos que tratam de assuntos
como violência, direitos humanos e
criminalidade, o que possibilita a construção Procedimentos metodológicos
de um imaginário, muitas vezes de forma
preconceituosa e estigmatizante, dessas O atendimento na modalidade plantão
questões. psicológico visa ao atendimento individual e
de emergência às presas alocadas na
Dessa forma, a mídia acaba por contribuir, de instituição, e tem como objetivos acolher suas
forma maciça, para a manutenção de uma demandas emocionais e contribuir para
ideologia opressora e comprometida com os fornecer atenção psicossocial à saúde dessas
interesses da classe dominante. Assim, a mulheres. Por ser mais conveniente à dinâmica
pequena importância dada à criminalidade do estabelecimento, o plantão psicológico
feminina se deve, entre outros fatores, à falta ocorreu regularmente, no turno da manhã,
de dados objetivos, que responde pelo cinco vezes por semana, e foram atendidas,
desinteresse em aprofundar a discussão através em média, três mulheres por turno.
de uma investigação científica rigorosa.
Antes de começar cada atendimento, explicou-
Este trabalho pretende oferecer a possibilidade se detalhadamente às detentas quais eram os
de se empreender um estudo sobre a vida de objetivos do mesmo, com garantia de
mulheres encarceradas, a partir do que elas anonimato e sigilo. Todos os atendimentos
pensam, agem e falam de forma sistematizada, foram individuais, com duração média de
o que permite, além de compreender aspectos cinqüenta minutos, e realizados em espaço
relevantes a esse respeito, compreender privado, sem a presença de outras detentas
também as relações estabelecidas com suas ou membros do DI (agentes penitenciários e/
diferentes redes de relacionamento social, ou policiais).
incluindo o ambiente prisional, com o objetivo
de elaborar políticas públicas. O atendimento foi baseado numa proposta
teórico-metodológica desenvolvida pelo
Através do plantão psicológico, visamos a aconselhamento psicológico, que propõe um
fornecer um espaço de atenção psicossocial à processo de integração transdisciplinar em suas
saúde dessas mulheres, buscando contribuir bases teórico-conceituais, visando a promover
para a produção de conhecimentos específicos uma intervenção psicossocial.
sobre essa realidade tão pouco estudada até
o momento. Os atendimentos foram discutidos em
supervisão semanal e possibilitaram a
Sendo assim, Menandro (1998) menciona dois construção de um banco de dados que
pontos chave no processo de valorização do continha os relatos clínicos dos atendimentos
indivíduo como ator social e que têm e das intervenções específicas necessárias a
implicações metodológicas em nosso trabalho: cada caso.
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Para o desenvolvimento do plantão as pessoas fazem da sua própria experiência


psicológico, tomaram-se como base as como explicação para o comportamento. Para
propostas de Mahfoud (1987) e Barbanti & entender porque alguém tem o
Chalom (1999), buscando proporcionar um comportamento que tem, é preciso
espaço de acolhimento de demandas diversas compreender como lhe parecia tal
que se manteve à disposição de quaisquer comportamento” (p. 103).
detentas que dele necessitassem, sendo que
a mesma detenta podia ser atendida por Perceber os sujeitos como construtores da sua
diferentes estagiários, caso necessário. história é permitir que eles compreendam os
fenômenos que os cercam à sua maneira, é
Segundo Mahfoud (1987), “esse sistema pede abrir espaço para que também se percebam
uma disponibilidade para se defrontar com o como sujeitos sociohistóricos ativos desse
não planejado e com a possibilidade de que processo. Minayo (1999) sublinha a relevância
o encontro seja único” (p. 75). Em nosso caso da carga histórica que possui a pesquisa
específico, podemos dizer, a partir dos dados psicossocial, uma vez que evidencia a
coletados, que, em 50% dos casos, houve realidade e a dinâmica social, os interesses de
“(...) aceitar
manter-se retornos, mas em nenhum deles se configurou classe e de determinados grupos intra e extra-
centrado na um processo de psicoterapia, já que nosso institucionalmente.
vivência da objetivo primordial foi estar disponível para o
problemática que
emerge com sua maior número de demandas possível. Deve-se ressaltar que, em alguns momentos,
ansiedade e força foi necessário cautela devido ao risco de os
particulares no Mahfoud (1987), ao descrever o trabalho do interlocutores (entrevistados) contarem sua
próprio momento
de pedido de
conselheiro-psicólogo, indica a importância de história acreditando que o entrevistador poderia
ajuda, uma posição de abertura que facilite ao sujeito ser levado a influenciar as autoridades das quais
acompanhando a uma visão mais clara de si mesmo e daquilo seu destino depende. Alguns profissionais são
variação da
que vivencia para gerar um pedido de ajuda. esperados pelas detentas por serem pessoas
percepção de si e
das circunstâncias Nesse sentido, as perguntas devem estar estranhas à instituição (o que significa uma
pela direção que sintonizadas com a fala do sujeito, o que implica isenção e possibilidade de confiança) e por
a clarificação a
uma escuta atenta e uma disponibilidade e indicarem uma possibilidade de revisão do
levar”
entrega por parte do conselheiro e facilita o processo.
Mahfoud processo de apropriação, pelo sujeito, de suas
demandas e questões: Resultados e discussão
“(...) aceitar manter-se centrado na vivência Durante o desenvolvimento do plantão
da problemática que emerge com sua psicológico (agosto de 2004 a julho de 2005),
ansiedade e força particulares no próprio foram atendidas sessenta e sete mulheres, com
momento de pedido de ajuda, índice de retorno regular ao atendimento de
acompanhando a variação da percepção de si 50 %. A mulheres possuíam idades que
e das circunstâncias pela direção que a variavam de dezoito a quarenta e dois anos,
clarificação a levar” (Mahfoud, 1987, p. 83). com tempo de permanência na delegacia que
variava de um mês a três anos. O nível de
Na análise do material obtido nas entrevistas, escolaridade, representado na Tabela 1,
optamos por uma abordagem qualitativa. Em concentrou-se no segmento ensino
função disso, ouvir as mulheres encarceradas fundamental incompleto (45,7 %), seguido
e observar o seu cotidiano prisional mostrou- pelo ensino médio (completo e incompleto)
se fundamental, já que, segundo Becker e analfabetismo (14,3 % cada), e, por fim,
(1994), há um valor nas “interpretações que ensino fundamental completo (11,4 %).

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Tabela 1: Nível de escolaridade das mulheres Tabela 2: Estado civil autodeclarado pelas
atendidas mulheres

Nível de escolaridade % Estado civil %


Analfabetismo 14,3 % Viúva 3,0 %
Ensino fundamental – incompleto 45,7 % Separada, desquitada, divorciada 7,5 %
Ensino fundamental - completo 11,4 % Solteira (não envolvida em relação
25,3 %
Ensino médio – incompleto 14,3 % conjugal ao ser presa)
Ensino Médio – completo 14,3 % Casada/amigada 30,0 %
Não respondeu 34,2 %
Soares & Ilgenfritz (2002), em um estudo
em presídio do Rio de Janeiro, também Percebemos que há uma aparente relação
verificaram, entre as mulheres entre relacionamento conjugal e tipo de crime
encarceradas, o baixo grau de escolaridade, cometido. As mulheres casadas/amigadas e as
o que normalmente é associado a baixas separadas/desquitadas/divorciadas declaram, na
condições socioeconômicas. Tais dados maioria das vezes, que foram presas em função
do relacionamento com seus companheiros –
requerem cuidado em sua análise, uma vez
seja por meio do tráfico ou da violência
que não se pode afirmar haver uma relação
doméstica. As solteiras estão, em geral, detidas
direta entre baixa escolaridade e condição
por uso/tráfico de drogas e crimes contra o
socioeconômica com índices de
patrimônio.
criminalidade. Segundo Velho (2000), essa
freqüente e equivocada relação tende a Constatou-se que 87,8% das mulheres eram
reforçar o estigma imposto às populações mães, e 12,2% não tinham filhos. Das
pobres, tidas como perigosas e violentas. mulheres-mães, 37,2% tinham dois filhos;
34,9%, apenas um; 16,3%, quatro ou mais
Os sujeitos pertencentes às classes de filhos, e 11,6 %, três filhos, conforme
baixa renda tendem a sofrer maior ação apresentado na Tabela 3.
da Justiça através do aparato judiciário
policial. Assim, as prisões ficam cheias de Tabela 3: Número de filhos das mulheres
pobres e se reproduz um estereótipo de atendidas
criminoso como aquele proveniente de
Número de filhos %
bolsões de pobreza, não sendo a
Um filho 34,9 %
população carcerária uma amostra
Dois filhos 37,2 %
fidedigna do conjunto total de infratores
Três filhos 11,6 %
(Zaluar, 2000).
Quatro ou mais filhos 16,3 %

No que se refere ao estado civil, os dados A relação entre a entrada no crime e a


estão sistematizados conforme a maternidade foi constatada nos relatos das
autodeclaração das mulheres, não havendo mulheres atendidas. Na sua maioria, alegavam
relação direta com o estado civil oficial. uma relação entre os delitos cometidos e a
30% declararam-se casadas/amigadas; tentativa de assegurar aos filhos acesso ao
25,3% das mulheres declararam-se conforto e aos bens de consumo divulgados
solteiras; 7,5%, separadas/desquitadas/ na mídia. A Tabela 4 indica os responsáveis
divorciadas, e 3,0%, viúvas, conforme pelo cuidado e guarda dos filhos dessas
Tabela 2. mulheres após seu aprisionamento. 61% das
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crianças estão sob a responsabilidade dos avós; mesmas. Em se tratando das mulheres
24% estão sob os cuidados de outros familiares, aprisionadas, o que se observa é que, se, por
vizinhos e conhecidos, e 15% permanecem um lado, se sentem culpadas pelo não
com o pai. Ressalta-se que muitos pais cumprimento dessas exigências, por outro,
também se encontram presos, ou as mulheres acreditam se tornarem passíveis de um
não sabem de seu paradeiro, por estarem tratamento diferenciado pelo aparato judicial,
foragidos, o que, de certa maneira, explica a merecendo inclusive “serem absolvidas”
baixa incidência de permanência das crianças quando presas por serem “mães de família”,
com seus progenitores. principalmente quando seus delitos estão
relacionados com o sustento da casa e das
Tabela 4: Cuidadores dos filhos das mulheres “necessidades” dos filhos.
aprisionadas
A análise temática das questões abordadas
Cuidadores % espontaneamente pelas mulheres referiu-se
Os avós 61,0 % principalmente a três categorias: cotidiano
Outros familiares, vizinhos, prisional, maternidade e relações familiares,
24,0 % vivências amorosas e relações de gênero.
conhecidos
O pai 15,0 %
Cotidiano prisional
Uma das maiores preocupações apresentadas
Uma das maiores pelas mulheres é a ausência de contato com O desrespeito aos direitos humanos,
preocupações encontrado em muitas instituições penais,
apresentadas os filhos, principalmente aquelas cujos filhos
pelas mulheres é a estão com parentes ou vizinhos, o que faz evidencia a múltipla penalização imposta aos
ausência de com que tenham poucas informações e visitas criminosos. Além da privação da liberdade, são
contato com os ainda penalizados com castigos corporais,
filhos, das crianças. Isso acarreta um sentimento de
principalmente medo e culpa por terem “abandonado” os exposição ao uso de drogas e ao contágio a
aquelas cujos filhos filhos em condições que fogem ao seu várias enfermidades. Soma-se a isso o
estão com descumprimento dos dispositivos legais que
parentes ou controle ou por eles poderem vir a sofrer maus
vizinhos, o que faz tratos. Descrevem também o receio da perda regulamentam a privação de liberdade, no que
com que tenham do vínculo materno, perda da guarda legal, diz respeito ao andamento do processo e
poucas também no que toca à questão da superlotação,
informações e privação material e alimentar,
visitas das crianças. acompanhamento escolar e cuidados com a da possibilidade de trabalho e da educação
saúde. Destacamos ainda que essas mulheres formal do detento. Essas privações
se declaram “mães de família” que cumprem desconstroem o valor da dignidade humana,
o seu papel social, motivo pelo qual não assim como a possibilidade de reinserção social
poderiam estar presas. (Frinhani, 2004).

Trindade (1998; 1999) indica que as mulheres Deve-se ressaltar que, em comparação com a
são defensoras de um modelo de maternidade realidade dos presídios, as detentas citadas
inventada pelos homens, no qual são tanto neste estudo possuem uma importante
opressoras quanto oprimidas. Nesse modelo particularidade, devido ao “caráter provisório”
de maternidade, construído a partir do que a instituição possui. Por ser uma delegacia,
conceito de “instinto materno”, as mulheres e não um presídio, é esperado que as detentas
se sentem responsáveis pela total assistência permaneçam pouco tempo até que sejam
aos filhos, o que inclui cuidados com a saúde sentenciadas e transferidas para outras
física, emocional e moral das crianças, além unidades. O que se observou, entretanto, é
de atenção ao processo educacional das que algumas detentas já haviam sido
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sentenciadas e permaneceram na instituição outras detentas comportamentos e valores que


por mais de três anos. Isso se deve, muitas não reconhecem como seus. Ora se diferenciam
vezes, ao fato de que a maioria das mulheres pelos grupos das celas (ex. “a cela 8 é a pior”,
conta com defensor público e afirmam não se onde as pessoas são mais intolerantes e
sentirem bem orientadas ou defendidas quanto violentas), ora pela diferença de delitos
aos seus processos ou seus trâmites. Acreditam cometidos. Souza (2004) discute a dinâmica
que, se tivessem um advogado particular, social de exclusão/inclusão e violência presente
poderiam ter mais chances de serem em diversas sociedades. Afirma que “(...)
sentenciadas a uma pena mais leve ou de podemos identificar tais mecanismos de
serem absolvidas pelos crimes. diferenciação e categorização que, em última
análise, permitem identificar o outro, o diferente,
Frinhani (2004) explica que o que acontece é aquele que não pertence ao grupo” (p. 64).
que a maioria da população carcerária não tem
condições de contratar um advogado, o que Esses dados também vão ao encontro da
deixa as detentas sem conhecimento de sua discussão sobre processos de categorização
situação jurídica e sem acesso aos benefícios social apontados por Joffe (1995) ao investigar
previstos por lei. as representações sociais sobre o surgimento
da AIDS. Ainda que haja uma categorização
No que diz respeito ao conhecimento sobre social na qual bandido é considerado “tudo
encarceramento, grande parte das informações igual”, no universo prisional, é construída uma
que as mulheres deste estudo apresentaram categorização grupal própria em que os grupos
estava restrito a algumas fontes provenientes se diferenciam entre si. O distanciamento do
da mídia televisiva, alguma experiência anterior outro grupo protege o próprio grupo e a si
com familiares ou amigos presos e, em alguns mesmo, promovendo laços de solidariedade
casos, através de passagens por alguma entre os membros do grupo e criando
delegacia, quando foram presas em flagrante penalização para os diferentes. São freqüentes
e levadas para prestar depoimento. O temor as queixas relacionadas com a bagunça, com
inicial, no entanto, foi reduzido quando as a fofoca e com a deslealdade, em um processo
detentas efetivamente se inseriram no cárcere. de aproximação e diferenciação.
Algumas mulheres relataram episódios de
Embora a maioria das entrevistadas afirme ter
tentativa de extorsão, agressões físicas e
bons relacionamentos entre si, reclamam por
verbais. As imagens inicialmente construídas
terem poucas ou nenhuma amizade. Relatam
são desfeitas quando ingressam no espaço
que as outras detentas são “falsas” e não
prisional real. A diferença entre o que
merecem confiança. Em contrapartida, existem
efetivamente encontram e o que esperavam
relatos que indicam comportamentos solidários
encontrar possibilita uma primeira assimilação
entre as que pertencem ao mesmo grupo, tais
desse espaço. Assim, a construção da imagem como: partilha da comida recebida, produtos
que as detentas passam a fazer de si envolve de higiene e roupas, acolhimento emocional
os motivos que as levaram ao encarceramento, para as que chegam, troca de favores e
à percepção do espaço onde estão inseridas e contratação de serviços que possam auxiliar a
das outras mulheres ali presentes. renda familiar.

Há relatos das dificuldades enfrentadas pelas Tais observações assemelham-se aos dados de
detentas para se incluírem em determinados Lemgruber (1999), ao tratar da solidariedade
grupos, o que faz com que passem a nas prisões. Segundo a mesma, a solidariedade
diferenciar entre “elas” e “eu”, ou entre nunca é total entre populações de presos, mas
“aquele grupo” e o “meu grupo”. Atribuem às também não chega a deixar de existir.
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Outro dado significativo diz respeito às duas 3) o cuidado com própria aparência ou com o
divisões básicas que foram apontadas pelas espaço da cela; 4) apego aos filhos e demais
detentas: 1) divisão entre “presas flagradas” familiares e 5) participação no grupo de
(detentas que ainda não foram condenadas) alfabetização ou grupos de oração organizados
e as “presas sentenciadas” (detentas já por entidades religiosas diversas. Os grupos
condenadas), e 2) entre presas condenadas de oração são bem recebidos pelas detentas;
que trabalham e as que não trabalham. algumas participavam de vários grupos,
independentemente da religião que os
As “presas flagradas” são apontadas como mais promovia, afirmando que o principal é “ouvir
barulhentas, “folgadas, agitadas e nervosas”. o que Deus diz”. Tais atividades também são
O espaço a elas destinado é sempre o pior vistas como uma oportunidade de sair mais
dentro da cela, conforme já observado no vezes de dentro das celas, e, em alguns casos,
trabalho de Bastos (1997). Já o espaço das uma alternativa para ficar livre de
“presas sentenciadas” é apontado como medicamentos.
melhor, com mais conforto e mais calmo. A
diferença entre os dois grupos está na Também foi possível trabalhar com as
perspectiva que elas controem sobre aquele expectativas das mulheres em relação ao
espaço. Por um lado, até a sentença, as futuro. Os projetos futuros apresentam um
“presas flagradas” acreditam que poderão ser composto de medo, ansiedade e expectativas
absolvidas, o que faz com que elas não se que coincidem com os projetos das detentas
sintam parte do espaço. Por outro, a dúvida pesquisadas por Soares & Ilgenfritz (2002).
sobre qual será a condenação, o “tamanho” Geralmente, as detentas desejam recomeçar
da mesma e a falta de informação sobre sua a vida e (re)iniciar atividades como cuidar dos
situação processual geram grande ansiedade. filhos, estudar, afastar-se do mundo das drogas
Observou-se que as “presas sentenciadas”, por e trabalhar - mesmo sabendo que terão
terem melhor previsão do tempo de dificuldades em encontrar um trabalho por
permanência no espaço prisional, procuram estarem com a “ficha suja” ou “marcadas”
transformar tal espaço em um ambiente devido ao estigma de ex-presidiárias. As
personalizado. mulheres sabem que não é fácil o retorno à
sociedade, e algumas detentas percebem que
A ociosidade é outro aspecto que provoca a vida na delegacia, apesar de apresentar
desgaste entre as detentas, por não possuírem muitas restrições e arbitrariedades, representa
atividade recreativa ou de trabalho. Em alguns também uma proteção contra as incertezas da
casos, relataram que só saíam para o vida futura ou uma forma de proteção contra
atendimento médico ou psicológico. Para a vida que tinham antes de serem presas -
muitas mulheres, a falta de liberdade para sobretudo para aquelas envolvidas com o crime
fazer o que desejam, na hora que desejam e organizado. Observa-se, em algumas mulheres,
a dificuldade de ficarem sozinhas, “sem que o medo de serem soltas é tão grande
ninguém por perto para perturbá-las”, são quanto era o medo de serem presas.
algumas das principais limitações da
coletividade forçada. Nesse sentido, o atendimento psicológico
passa a ser um espaço valorizado pelas
Em relação às estratégias utilizadas pelas mulheres na medida em que oferece um
detentas para “suportar” o encarceramento, espaço de reflexão e visibilidade social que,
observou-se: 1) realização de trabalho na até o momento, não havia sido vivenciado por
limpeza (com a possibilidade de obterem a elas. Além disso, o atendimento, nesse
remição da pena); 2) atividades de artesanato; contexto, contribui para proporcionar um
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momento de privacidade tão necessário ao de deslocamento dos parentes, pelo


enfrentamento da coletividade forçada, como constrangimento de passarem pela “revista” e
mencionado acima. pela tristeza de terem um familiar preso.
A“revista” aos familiares é apontada por Soares
Maternidade e relações & Ilgenfritz (2002) como um procedimento
“constrangedor”, “humilhante” e “ineficiente”,
familiares já que nem sempre consegue impedir a
entrada de drogas, celulares e outros objetos
Alterações nos lares são freqüentemente ilícitos dentro do cárcere.
mencionadas pelas mulheres aprisionadas,
dentre elas: 1) o aumento da responsabilidade Nesse sentido, outro ponto importante é a
dos filhos mais velhos, que passam a cuidar percepção de que o universo prisional não se
da casa e dos irmãos mais novos; 2) a restringe ao confinamento ao qual estão
preocupação com a entrada ou permanência submetidas. Inclui relações externas que as
no crime de filhos ou irmãos; 3) a quebra do influenciam e afetam, fazendo com que
vínculo com os familiares em função do mantenham preocupações com os
sofrimento e constrangimento causados aos acontecimentos externos e suas repercussões
familiares. Cabe destacar a ênfase dada pelas na vida de seus familiares. Essas preocupações
Muitas mulheres
detentas à relação com as mães e com os mobilizam as mesmas a buscar estratégias de
relatam valorizar
filhos, sempre citados com carinho, enfrentamento dessas questões, mesmo mais o convívio
manifestando elas a preocupação de que eles estando presas, visando a manter um lugar no com a família
mundo familiar e social. depois de presas,
possam perdoá-las. apesar de a
maioria mencionar
Muitas mulheres relatam valorizar mais o Vivências amorosas que sempre teve
convívio com a família depois de presas, um bom
e relações de gênero relacionamento
apesar de a maioria mencionar que sempre familiar. Foram
teve um bom relacionamento familiar. Foram mencionadas,
A ausência masculina foi indicada pelas como dificuldades
mencionadas, como dificuldades do cárcere,
detentas como fator agravante para a do cárcere, a
a preocupação e a saudade da família. Bastos
permanência no cárcere. Apontam a falta de preocupação e a
(1997) afirma que os familiares se tornam uma relacionamentos afetivos e sexuais com o sexo saudade da
ponte com o mundo externo, uma ligação família. Bastos
oposto, principalmente por não terem visitas (1997) afirma que
delicada em função da distância, e frágil em íntimas, o que favorece envolvimentos os familiares se
função do não envolvimento direto com as afetivos/sexuais entre as detentas. A maioria tornam uma ponte
questões cotidianas. com o mundo
das mulheres iniciou tais experiências durante externo, uma
o aprisionamento, o que gerava dúvida sobre ligação delicada
O contato com a família ocorre nos momentos
a continuidade ou não dessa “escolha”, em função da
de visita, que geralmente é esperado com embora percebam a importância dessas distância, e frágil
ansiedade e com cuidados referentes à em função do não
relações para o enfrentamento da condição envolvimento
aparência pessoal e à arrumação do pátio. O carcerária, na medida em que oferecem e direto com as
cuidado com o ambiente também pode ser recebem proteção e cuidados. Existiam casos questões
visto como um indicativo de que as mulheres cotidianas.
em que algumas detentas já possuíam tal
cuidam de si e esperam que seus visitantes se orientação sexual antes de serem presas. Assis
sintam bem. Quando os familiares, & Constantino (2001) destacam que “o
principalmente mães e filhos, não homossexualismo de internato” é uma
comparecem às visitas, as presas buscam o construção institucional, comum em espaços
atendimento ora ressentidas, ora preocupadas de reclusão, servindo como estratégia de
com as ausências. Algumas mulheres enfrentamento do cárcere no sentido da
justificavam a ausência familiar pela dificuldade preservação dos afetos.
568
Intervenções Psicossociais no Sistema Carcerário Feminino

Alguns relatos sinalizaram características de às regras sociais, além de reafirmar um ideal


gênero, na vivência prisional feminina, no que de consumo e acesso a bem materiais tão
diz respeito à relações afetivas maternais entre difundido pelo modelo neoliberal.
as presas, que envolveram cuidados, proteção,
acolhimento e aconselhamento das mulheres Apesar dessa tentativa de inclusão via
mais velhas para as mais jovens. criminalidade, o que ocorre, muitas vezes, é
o aprisionamento desses sujeitos, e, nesse
aspecto, foi interessante notar que, apesar dos
Reflexões finais
preceitos legais que destacam o caráter
ressocializador como prioritário, o que a prisão
Um trabalho que se propõe a lidar, ao mesmo
consegue reproduzir é o modelo de exclusão
tempo, com múltiplos aspectos de um
e violência que já assinalava a vida dessas
fenômeno social não pode se encerrar sem
mulheres anteriormente, fomentando, assim,
que fique uma sensação de que mais poderia
a assimilação de valores imersos na cultura
ter sido feito. Entretanto, entendemos e
prisional que não correspondem aos valores
aceitamos que o próprio social e a rede de
desejáveis para uma existência extramuros.
significados formada por ele comportam
A ausência do Estado na proposição de
sempre outras possibilidades de abordagem
estratégias eficazes que previnam a
e análise; assim, a completude só seria possível
se todas essas fossem consideradas, tarefa manifestação da violência e que também
obviamente do campo da impossibilidade. favoreçam a recuperação/ressocialização dos
Dessa forma, trabalhar com um recorte do cidadãos em conflito com a lei mantém a
fenômeno só pode ser considerado válido se desigualdade e a miséria, que, em
esse recorte e seu tratamento permitem que conseqüência, reiniciam o ciclo de violência/
se veja um traço a partir do qual se pode intuir criminalidade/exclusão.
o restante.
Tavares & Menandro (2004) afirmam que as
prisões brasileiras funcionam como mecanismo
Abordar o universo institucional de mulheres
de oficialização da exclusão que já perpassa a
encarceradas possibilitou-nos, no nosso
vida dos detentos, não só tomando como
entender, observar como se constituem, no
referência a precariedade das condições
grupo de sujeitos por nós atendidos, os
proporcionadas pelo aprisionamento, mas
mecanismos que possibilitam a busca de
também a precariedade das condições de vida
alternativas frente a uma experiência de
desses sujeitos antes do encarceramento, em
exclusão.
sua maioria, provenientes de grupos marcados
pela exclusão. Questionam também as
O que pudemos perceber, em muitos casos,
perspectivas de vida que essas pessoas podem
é que a busca por reconhecimento, inclusão
vislumbrar ao saírem do sistema carcerário
e visibilidade social desses sujeitos se faz,
como ex-presidiários.
muitas vezes, pela afirmação de poder via
criminalidade. Quando tratamos
Não podemos deixar de mencionar que ocorre,
especificamente da questão do tráfico de
também, uma articulação, no senso comum,
drogas, delito muito incidente entre as
mulheres entrevistadas por nós, concordamos entre a noção de direitos humanos e o
com Tavares & Menandro (2004) com a privilégio de bandidos. Essa vinculação acaba
indicação que o tráfico de drogas produz a por tornar a população contrária à defesa dos
sensação do ganhar dinheiro fácil, da direitos humanos, uma vez vinculada aos
“autoridade de bandido” com poder absoluto presos. Esse tipo de postura acaba por dificultar
sobre o outro, e, por fim, da não-subjugação qualquer possibilidade de implementação de

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006, 26 (4), 558-569


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Marcela Ataide Guedes PSICOLOGIA CIÊNCIA E
PROFISSÃO, 2006, 26 (4), 558-569

projetos que atendam essa população, ou avanço da Psicologia, à medida que tais
ainda, a implementação de políticas públicas atividades permitem a construção de reflexões
que favoreçam a reinserção social dos egressos. e ações acerca da percepção sobre as diversas
práticas institucionais, sociais e políticas que
Assim, seria de fundamental importância negligenciam as formas de construção de
agregar esforços, recursos e idéias para cidadania, visando a contribuir com subsídios
desenvolver atividades de extensão, ensino e que possam favorecer os programas de redução
pesquisa em frentes vinculadas ao campo da de violência e reinserção social das egressas
Psicologia social. Através de projetos desse tipo, do sistema prisional.
pretende-se oferecer aos psicólogos em
formação excelentes espaços de atuação, que Por fim, admitimos, mais uma vez, os limites
favoreçam o aprendizado com seriedade ética de nosso trabalho, muitas vezes decorrentes
e possibilitem a aquisição das competências da própria situação estudada. Entretanto,
exigidas para o desenvolvimento de atividades consideramos também a importância do que
desse porte. foi aqui discutido, sua relevância para a
investigação e o entendimento de questões
Sob esse ponto de vista, trabalhar com sujeitos que só podem ser validadas no cotidiano de
encarcerados se torna um dos desafios para o cada sujeito e através da sua fala.

Marcela Ataide Guedes


Psicóloga, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Pós-graduanda em Psicologia
clínica – ênfase em Gestalt-terapia pela Faculdade de Estudos Administrativos - FEAD.
Rua Timbiras, 1364 apto 703B – Funcionários - Belo Horizonte – MG. Cep: 30140-060
Tel: (031) 3234 4162. E-mail:marcela_guedes@yahoo.com.br

Recebido 16/01/06 Reformulado 17/10/06 Aprovado 09/11/06

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