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3º Ano – 1º semestre
Psicologia V
Faro, 2006
8ºCurso de Licenciatura de Enfermagem
3º Ano – 1º semestre
Psicologia V
Orientadora:
Dra. Celeste Duque
Faro, 2006
ESSaF PSICOLOGIA V
“Quando se está infeliz, mesmo que se tenha sofrido o golpe mais severo,
é-se capaz de procurar conforto e de deixar que esse conforto chegue até
nós para aliviar a dor. Pode procurar-se e obter a simpatia e
preocupação afectuosa dos outros, pode ser-se afável e confortarmo-nos
a nós próprios. Mas, na depressão, nem a simpatia e preocupação dos
outros nem o amável amor-próprio está disponível. As outras pessoas
podem estar presentes, oferecendo todo o amor, simpatia e preocupação
que se possa desejar, mas nenhuma compaixão consegue atravessar a
parede que nos separa delas enquanto que, do outro lado da parede, não
só recusamos a nós próprios o menor alívio e conforto, mas também nos
punimos com palavras e actos.” (Feinenmann, 1997, p. 17)
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Agradecemos a oportunidade que nos foi concedida, para a realização deste trabalho,
pela docente da disciplina de Psicologia do presente 3º ano do curso de Licenciatura
de Enfermagem, Prof. Celeste Duque. Agradecemos igualmente a disponibilidade que
sempre demonstrou, ao ceder-nos as directrizes necessárias para a realização do
trabalho, assim como para esclarecer as dúvidas surgidas ao longo da sua realização.
Dedicamos este trabalho a todas as jovens, mulheres, mães que em algum momento da
sua vida experimentaram esta agravante no momento da maternidade, que é a
problemática da Depressão Pós-parto, assim como também a todas pessoas
significativas envolvidas na vida destas mulheres que de algum modo tiveram
repercussões desta fase tão complexa, onde se da lugar a um turbilhão de sentimentos e
emoções “quase” incompreensíveis.
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Índice
1. Introdução.....................................................................................................................1
3. Etiologia........................................................................................................................4
Gritos e choro incontrolável – poderá não afectar todo o dia e/ou todos os dias...........11
Perda de interesse nas actividades habituais – conviver torna-se cada vez mais difícil e
os acontecimentos sociais tornam-se insuportáveis.........................................................11
Distúrbios do sono – poderá tornar-se difícil adormecer, e ainda mais quando acordada
pelo bebé, ou poderá estar num estado de hibernação, querer dormir todo o dia, e nunca
acordar retemperada.........................................................................................................11
Perda de interesse sexual – é provável que a perda normal de interesse sexual, após o
nascimento do bebé, seja mais intensa e duradoura.........................................................11
Fadiga/esgotamento........................................................................................................11
Confusão.........................................................................................................................11
Agitação .........................................................................................................................12
Medo ..............................................................................................................................12
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Ausente...........................................................................................................................12
Facilmente excitável.......................................................................................................12
De qualquer maneira, tudo muda com a chegada do novo bebé, fazendo com que a
depressão seja ainda mais difícil de reconhecer do que o habitual;................................13
A depressão pós-parto pode facilmente tornar-se um modo de vida, pelo que a pessoa
não consegue imaginar uma vida em que não se sinta persistentemente esgotada,
zangada, ressentida e letárgica;........................................................................................13
Pode recear ser julgada como má mãe ou até que lhe tirem os filhos, se confessar estar
“mentalmente doente”;....................................................................................................13
Pode sentir que, apesar de saber que está doente, será uma pessoa melhor, se continuar
a lutar e vencer a depressão sozinha;...............................................................................13
Pode acreditar, como muitas pessoas acreditam, que as terapias e drogas disponíveis
para tratar a depressão não são úteis, pelo menos em si mesma, ainda que não sejam
activamente prejudiciais..................................................................................................14
5.1. O Aconselhamento................................................................................................16
5.3. A Psicoterapia.......................................................................................................16
8. Conclusão...................................................................................................................23
9. Bibliografia.................................................................................................................24
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Anexo I...........................................................................................................................25
Escala de Edimburgo...................................................................................................26
Anexo II..........................................................................................................................27
Anexo III.........................................................................................................................29
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Siglas
1. INTRODUÇÃO
Ser mãe pode não ser um “acontecimento feliz” para todas as mulheres uma vez que
muitas mulheres vivem dias, semanas ou até meses de enorme perturbação a seguir ao
nascimento do bebé. As causas que levam as mulheres a ficarem neste estado podem ser
variadas. Algumas podem achar que é difícil estabelecer laços afectivos com o bebé e
outras acharão que é algo bastante fácil. Em algumas situações, pode ser compreensível
esta perturbação emocional quando, por exemplo, o filho não é desejado ou não é
saudável, o companheiro hostil ou ausente, a sua condição sócio – económica é baixa,
ou quando não existe apoio, isto é, quando o contexto da maternidade é desfavorável.
Pensa-se também que a grande diferença hormonal que a mulher experimenta durante e
após a gravidez possa ser uma mudança acentuada na qual algumas mulheres sentem
alguma dificuldade em ultrapassar. Tal como mulher, o homem que vai ser pai também
pode não iniciar a sua experiência como pai de forma tranquila. Todas estas situações
podem resultar em depressão pós-parto.
Nós optámos por este tema porque, por um lado, a depressão pós-parto é cada vez mais
frequente (ou actualmente é dada mais atenção e importância a esta perturbação) e está
presente, principalmente, na nossa sociedade ocidental. Por outro lado, nós, como
futuros profissionais de enfermagem, ir-nos-emos certamente deparar com pessoas com
depressão pós-parto, sendo pertinente e útil adquirirmos conhecimentos sobre esta
problemática. Deste modo, os objectivos para este trabalho são: definir depressão pós-
parto; definir “baby blues”; definir psicose pós-parto; identificar sinais e sintoma da
depressão pós-parto; identificar as causas da depressão pós-parto; identificar as
intervenções de enfermagem na prevenção e recuperação da depressão pós-parto;
compreender a importância do papel do enfermeiro na prevenção da depressão pós-
parto; e identificar algumas escalas de avaliação da depressão pós-parto.
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Desde já, importa referir que a maternidade é um acontecimento que exige um enorme
esforço de adaptação por parte da mulher e que pode transformar o puerpério num
grande período de grande vulnerabilidade emocional. Para além de todas as
transformações físicas, psicológicas e sociais inerentes à gravidez, o parto é também
para a mulher um momento de grande exigência não só a nível fisiológico mas também
psicológico, porque passa a existir a responsabilidade por outro ser que exige atenção
permanente.
Para além disto, nesta altura, a mulher sente-se ansiosa e questiona-se principalmente no
que diz respeito à sua capacidade de lidar com as situações, no futuro. Isto porque, por
um lado, é o fim de um intenso projecto de noves meses e, por outro, o início de um
longo “contrato” com alguém cuja personalidade a mãe desconhece em absoluto.
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cada 10 mães e seus companheiros. Afecta mais as mães pela primeira vez, uma vez que
têm que reestruturar a sua identidade de modo a dar lugar na sua vida ao bebé, ou seja,
repensar o que delas próprias, antes de serem mães, poderão manter; que tipo de mãe
vão ser, tendo em conta a mãe ideal que planearam; e que importância e influência tem
o modelo dado pelas suas próprias mães. Trata-se de um período transitório de
instabilidade emocional, sem complicações, mas sendo necessário suporte e vigilância
da mulher e do bebé. Esta “loucura normal” é, de acordo com Joan Raphael-Leff, citada
por Jane Feinenmann (1997: 29), “uma depressão necessária de maternidade”, isto é,
um feedback saudável às grandes mudanças provenientes do nascimento de um bebé. O
homem que vive a paternidade pela primeira vez confronta-se com desafios semelhantes
ao da mulher. Geralmente, pode sentir responsabilidade acrescida de ganhar dinheiro
associada, consequentemente, a uma maior carga laboral que, posteriormente, irá
interferir com o tempo de que antes dispunha para si próprio e para a família. Muitas
vezes, o homem sente que a sua mulher, que agora também é mãe, deixou de agir como
a mulher por quem se apaixonou. Um pai afirmou, relativamente a este respeito: “Ter
um bebé é como aceitar um hóspede e descobrir que a nossa mulher anda a dormir com
ele”. O modo como irão enfrentar estas mudanças decorrentes da parentalidade é algo
que se for planeado antecipadamente pelo casal não poderá ter forte garantia de
funcionamento uma vez que a personalidade do bebé e o estado da mãe após o parto são
uma incógnita.
Caracteriza-se, por exemplo, pelo facto de a mulher apresentar tristeza e dor o que lhe
provoca angústia profunda, por desenvolver sentimentos de raiva para com o bebé, o
companheiro e até para com outros filhos, ou por não conseguirem executar as tarefas
do dia-a-dia (como a limpeza da casa). Muitas vezes, os profissionais de saúde e a
família da mulher não valorizam estas características como sendo sintomas da depressão
pós-parto, associando-as apenas a uma dificuldade passageira em desempenhar a função
de mãe. Estes sinais e sintomas que a mulher apresenta, pode causar danos
(desemprego, divórcio, entre outros), muitas vezes irremediáveis, na sua vida durante
esses meses. Depois desse período é provável que consigam refazer a sua vida. No
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entanto, existem certos casos (10 a 20% das doentes) que permanecem durante um
longo período (até 20 anos mais tarde), em que há uma habituação à depressão. Após
tanto tempo, já se torna improvável recuperar a vida destas mulheres.
Pensa-se que o estado depressivo esteja relacionado, por um lado, com as alterações
hormonais, com a súbita diminuição dos níveis de estrogénio e progesterona e, por
outro, com a preocupação com o bebé inerente à função de mãe.
3. ETIOLOGIA
Estudos efectuados por Beck, Rerynold e Rutowski (1992) e por May, Sy e Alice (2000)
(in Sousa, 2006), confirmam a teoria de que as mulheres que experimentam tristeza pós-
parto (maternity blues) de uma forma mais severa estão em maior risco de desenvolver
depressão pós-parto.
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que na gravidez aumenta entre 50 a 100 vezes o nível de uma mulher menstruada
normal, baixa subitamente para níveis insignificantes no espaço de horas após o
nascimento do bebé. Pode então dizer-se, segundo esta autora que, a depressão pós-
parto é uma forma dramática de síndroma pré-menstrual (SPM) e é simplesmente uma
questão de hormonas. Contudo, esta teoria não foi bem aceite pela comunidade médica,
na medida em que afirmam não existir qualquer prova de que as mulheres que ficam
deprimidas passem por uma redução hormonal mais dramática do que as que não ficam
deprimidas. Hoje em dia sabe-se que não são só as mães que deram à luz recentemente é
que sofrem de depressão pós-parto. Esta afecta também os homens e as mulheres que
fizeram adopções.
Assim sendo, são várias as razões que levam uma mulher a desenvolver depressão pós-
parto, podendo identificar-se quatro factores de risco principais: sociais, biológicos,
psicológicos e relacionais.
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Pode acontecer que, após um parto normal, a mulher sofra de stress pós-traumático,
devido à dor e ao desconforto existente enquanto está a parir, não havendo, futuramente
a hipótese de engravidar novamente ou de fazer um simples Papanicolau. Assim sendo,
“não são os acontecimentos em si que causam a angústia, mas o modo como o parto é
orientado…” (Feinenmann, 1997: 61).
Em relação à adopção, o que se verifica é que os pais adoptivos também podem passar
por conflitos emocionais idênticos, pois muitos deles enfrentaram períodos longos de
infertilidade. Também acontece os pais adoptivos não terem tempo para se prepararem
psicologicamente para a chegada do novo membro.
Os factores biológicos são caracterizados por todas as alterações que ocorrem na mulher
durante a gravidez. Assim sendo, aumenta a quantidade de produção de estrogéneo e de
progesterona em cerca de 50 vezes, que contribuem para as mudanças físicas que
sustentam a mãe e o filho ou para a sensação de bem-estar. Após o parto, os níveis das
hormonas descem, enquanto aumentam os níveis de prolactina, para uma possível
amamentação, a qual interfere com a produção de estrogéneo e progesterona. Estas
interferências levam a alterações de humor, as quais têm um papel importante nos altos
e baixos da depressão pós-parto. Também no desmame poderá ocorrer alterações de
humor, atendendo ao facto de que os níveis de prolactina diminuem, tal como os das
endorfinas, hormona que proporciona a sensação de bem-estar. Em relação ao sindroma
pré-menstrual (SPM), o que se pode concluir é que as mulheres que desenvolveram
depressão pós-parto, têm uma maior probabilidade de desenvolverem SPM.
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A idade para ser mãe pela primeira vez tem vindo a aumentar, o que não se torna
negativo de todo, pois uma mulher mais velha já terá melhores condições económicas
para receber o seu filho e, segundo investigações, são mais susceptíveis a terem
descendentes mais inteligentes. Em contrapartida, a probabilidade de viverem longe de
familiares é maior, a perda de identidade profissional poderá ter um impacto acrescido,
as expectativas em relação à maternidade podem tornar-se irrealistas ou existirem
hábitos de consumo e de vida que são difíceis de alterar após o nascimento do bebé.
Por vezes as mulheres têm expectativas elevadas quanto a elas próprias para quando
forem mães, acabando por sentir uma enorme sensação de fracasso quando tal não é
concretizado. Acontece que as mulheres, nalgumas vezes, não são capazes de
reconhecer esse perfeccionismo, tornando-se deprimidas, ansiosas ou apavoradas com
os objectivos não atingidos. Em todos os livros sobre bebés ou nas aulas de preparação
para o parto se fala da mãe ter que manter o controlo tanto no parto como na
maternidade inicial. Contudo, é bom que se incentive as mulheres que não conseguem
atingir esse controlo, a falar sobre o que sentem, com vista a não ficarem deprimidas, o
que acontece se por uma questão de aparência, a mulher não quiser admitir tal facto.
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Por vezes ocorrem certas perdas nas nossas vidas, as quais não são choradas nem
exprimidas como sentimento de dor. Na verdade, tal não deve acontecer, com vista a
que todos os acontecimentos fiquem resolvidos na mente de cada um, para que,
futuramente, não dêem origem a uma depressão, nomeadamente uma depressão pós-
parto. “Quanto mais significativa a perda, mais tempo leva a sentir-se emocionalmente
estabilizada, a não ser que a perda seja enfrentada e chorada” (Feinenmann, 1997: 76).
Outro factor psicológico que pode levar a uma depressão pós-parto é o facto da gravidez
não ser desejada ou planeada. Assim sendo, uma mulher que seja mais aberta a novas
experiências terá menos dificuldade em aceitar uma gravidez deste estilo do que uma
mulher menos flexível e com mais receio para a mudança. Tal atitude pode dever-se a
um depressão “herdada”, pelo que será aconselhável que assuma esses sentimentos e
procure ajuda perto de um profissional de saúde.
Deste modo, em relação ao bebé, o facto deste chorar durante a noite leva a que os pais
tenham insónias, sendo esta uma das causas da depressão pós-parto. Segundo as
estatísticas, uma em cada duas mulheres que estabelecem uma ligação emocional com o
seu bebé sentem pouco ou nenhum entusiasmo por ele durante cerca de seis semanas e,
ocasionalmente, até um ano. Tal facto poderá causar preocupações e contribuir para um
sentimento de depressão. No caso dos bebés serem prematuros ou se estes necessitarem
de cirurgia ou hospitalização, a mãe poderá achar difícil estabelecer uma ligação
emocional se não forem encorajadas a ficar com o seu bebé, durante esse período difícil.
Se o bebé sofrer de alguma deficiência, poderá também haver uma dificuldade na
relação mãe-filho, principalmente se não existir nenhum apoio psicológico.
Também a relação com o seu companheiro vai ficar afectada, pois a irritabilidade e o
ressentimento podem levar a uma depressão de um ou ambos os elementos de um casal.
Por vezes, as tentativas de reconciliação, após brigas, são tão mínimas, que tal
desespero leva mesmo à separação.
A partir do momento em que uma mulher passa a ser mãe, deixa de ser exclusivamente
filha, não podendo, contudo, deixar de ser tratada como filha com carinho e apoio da
sua própria mãe. O facto de ter uma mãe por perto, que auxilie e com a qual existe uma
relação saudável, fará com que a transição de maternidade se torne mais fácil. Por outro
lado, se a mãe se encontra emocionalmente ou geograficamente distante, se já não está
viva ou se é demasiado crítica ou intrusiva, a transição de maternidade não será tão sã e
segura.
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Normalmente, quando alguém tem um filho, os amigos que não têm filhos não ficam
forçosamente por perto depois do nascimento. Estes podem achar que a nova mãe já não
tem interesse, pelo que o melhor será esta escolher outros amigos. Podem também
acontecer que com a desistência do trabalho ou mesmo com a licença de parto, a mãe
perca alguns contactos e dê com ela própria, isolada. Assim sendo, será uma boa altura
para fomentar amizades com mulheres que partilham a maternidade e o mesmo tipo de
futuro, no entanto, nem sempre é assim tão fácil.
Embora o estereótipo para uma mãe solteira seja os fracos recursos económicos, a
verdade é que nem sempre isto acontece. Atendendo que ser mãe solteira é bem aceite
socialmente, uma mulher pode escolher ter um filho sozinha, sabendo que tem meios
financeiros adequados, independência e o apoio de amigos e família para aceitar a tarefa
com confiança. Contudo, visto que a mulher terá que enfrentar a gravidez e a
maternidade, sem o apoio de um companheiro, fará com que ela ache que tem que ser
corajosa em tudo perante o mundo, e que consegue fazer tudo, pelo que estará mais
vulnerável a desenvolver uma depressão pós-parto. No entanto, não é necessário ser
mãe solteira para se sentir só. Ela pode sentir-se sozinha pela ausência de apoio, afecto e
atenção para si como indivíduo, e não apenas como mãe. O facto de estar rodeada de
gente, por vezes não é o essencial para que a mãe não se sinta em plena solidão.
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Estes são também sinais e sintomas de alerta para um possível desenvolvimento, à
posteriori, de uma Depressão Pós-parto.
Embora casos de Psicose Puerperal tenham sido relatados por médicos, desde o surgir
da Medicina, ainda hoje não se consegue compreender totalmente. “Lucy lembra-se dos
olhos de seu bebé mudarem de cor quando olhava para ele, convencendo-se de que ele
era filho do diabo. Passava a vida a tocar-lhe a testa para se certificar de que não lhe
estaria a nascer cornos” (cit. por Feinenmann, 1997).
Por forma a ajudar a decidir se a ajuda profissional é a melhor opção a tomar, as
psicólogas americanas Ann Dunnewold e Diane Sanford (cit. por Feinenmann,1997)
redigiram as seguintes directrizes:
Sabe que algo está errado, mas não Sente-se acelerada ou desligada da
consegue dominar as coisas. realidade;
Simplesmente sente que precisa de uma
Alguém que lhe é próximo diz-lhe que é
perspectiva diferente para dar a volta às
essencial procurar ajuda;
coisas;
Tem ataques de pânico ou sintomas de
Receia poder fazer mal a si própria, ao
ansiedade que interferem com as suas
bebé ou a qualquer outra pessoa;
actividades quotidianas;
Não é capaz de dormir mais de três ou
Tem sintomas persistentes, tais como
quatro horas durante várias noites a fio ou
choro, raiva, fadiga ou desconsolo, que a
tem outros problemas de sono;
impedem de gerir a sua vida como
Não tem qualquer interesse pela comida gostaria de fazer;
ou a comida fá-la sentir-se enjoada;
O seu bebé tem agora pelo menos seis
É incapaz de cuidar do bebé ou de si semanas de idade e os sintomas não
própria, em termos de se vestir, de se desaparecem: permanecem na mesma ou
manter asseada ou de se alimentar; pioram.
Se houver oportunidade de se ter apoio profissional sensível e eficaz, este deve ser
procurado sem excitação. No entanto, nem sempre são encontrados profissionais
especializados em problemas com esta delicadeza, e assim, nem sempre a ajuda
profissional tem garantias de ser eficaz, bem como nem sempre os serviços adequados
estarão disponíveis. A mulher, pode adoptar certos comportamentos, de forma a ajudar-
se a si mesma a ultrapassar esta fase depressiva. Em termos alimentares, deve ter uma
alimentação nutritiva, incluindo frutas, verduras e cereais integrais, evitar a cafeína, o
álcool e açúcar, fazer exercício físico moderado (um bom condicionamento físico é
sempre importante, pois a ginástica liberta endorfinas, que são os nossos antidepressivos
naturais e aumentam o nosso bem-estar. O intestino funciona melhor, a pressão arterial
fica mais estável, entre outros.); repousar quando o bebé está a dormir; falar com
alguém dos seus sentimentos, em especial com outras mulheres que são mães; pedir
ajuda para cuidar do bebé, das tarefas domésticas e das demais tarefas necessárias; deve
igualmente reservar um tempo só para si durante o dia, mesmo que por pouco que seja,
deve “guardá-lo” só para si, de modo a poder dar uma caminhada, ler um livro, tomar
um banho relaxante, fazer yoga, meditação ou massagens relaxantes, entre outras
actividades variadas, que sejam do seu agrado; e passar algum tempo só com o seu
companheiro e pedir-lhe que a ajude quando o bebé acorda à noite, bem como nas
restantes actividades domésticas. A mulher não se deve isolar, uma vez que o isolamento
costuma prolongar a depressão. Deve sair, nem que seja por pouco tempo, de casa, pois
o ar fresco e a mudança de cenário vão ajudá-la e também ao seu bebé. (Adaptado de
The American of Family Physicians, The American College of Obstetricians ans
Gynecologists, and The Office on Women´s Health).
Consciente de que necessita de ajuda, a pessoa tem de saber onde procurá-la. Assim
sendo, o médico de família, se conhecer bem a mãe em causa e se estiver consciente da
opções de tratamento disponíveis localmente, é um bom “caminho” para tentar alcançar
a ajuda necessária, tendo em conta que o aconselhamento psicológico se torna
importante no caso de depressão pós-parto, desde que o técnico possua formação e
experiência em lidar com este tipo de situações.
Segundo Dilys Daws (cit. por Feinenmann, 1997), o tipo de apoio poderá funcionar
melhor quando facultado regularmente numa altura específica, para que a “nova” mãe
possa seleccionar os reais problemas para si, para os quais pretende ajuda e, depois de
falar sobre os mesmos, aplicar soluções à sua vida, sabendo que não se trata do fim da
questão, mas que este é um processo contínuo. Assim, a mãe com depressão pós-parto,
deve encontrar uma pessoa para ajudá-la, pessoa esta que a “agrade”, em quem sinta
confiança e segurança para falar abertamente de todos os problemas que reconhece
como perturbadores e que, simultaneamente, tenha os “pré-requisitos” (devidamente
treinado e experiente) para lidar com este tipo de depressão. Posteriormente à primeira
sessão, deve sentir que o conselheiro a orienta numa direcção positiva e que fora
estabelecido um “contrato” para a continuação da terapia. Entre os cuidados para as
pacientes com depressão pós-parto, tem-se destacado muito o sucesso da abordagem
cognitivo-comportamental, preferentemente em grupos de terapia. Meager (1996) refere
a melhora do quadro depressivo detectado pelas escalas de Edinburgh para Depressão
pós-parto. A mulher deve estar ciente que, quem teve Depressão Puerperal uma vez,
provavelmente também terá na próxima gravidez e/ou no próximo parto, mas é
perfeitamente possível fazer um tratamento preventivo, portanto nada impede a mulher
de engravidar novamente. Existem diferentes terapias disponíveis e, desta forma, como
cada caso é um caso, a terapia deve ser enquadrada para cada pessoa em específico.
5.1. O ACONSELHAMENTO
O aconselhamento pode ser encontrado na instituição de saúde que a mulher costuma
frequentar ou no Centro de Saúde local. Aqui, o médico de família pode indicar um
conselheiro, bem como prescrever antidepressivos. Evidências sugerem que o decorrer
de seis a dez sessões semanais pode ajudar a vencer a depressão. Apesar do conselheiro
nunca julgar ou dar conselhos, na depressão pós-parto torna-se ainda mais importante a
escuta atenta e sensível do mesmo, reflectindo uma imagem do que aconteceu àquela
mulher durante a vida e igualmente do que lhe está a acontecer actualmente no “aqui” e
no “agora”. Existem assim diferentes abordagens do aconselhamento. Alguns
conselheiros optam pela chamada “terapia centrada no problema”, focando-se em
primeira instância nos problemas actuais e só após ser atingido um nível confortável de
funcionamento, haverá lugar para avançar para as demais questões, como sejam as da
primeira infância, relação com os seus pais ou os seus sonhos. Outros defendem que se
torna mais útil confrontar todo o tipo de problemas ao mesmo tempo. Como tal, mais
uma vez se denota que cada caso é um caso e a “escolha” vai variar de pessoa para
pessoa. Independentemente da opção, tem de haver ajuda do conselheiro, para que
aquela mãe/mulher ganhe confiança para tomar a seu cargo a sua própria recuperação.
5.3. A PSICOTERAPIA
A psicoterapia pode ter um enorme valor quando usada no tratamento da depressão pós-
parto, principalmente se essas mulheres com depressão pós-parto pertencerem a culturas
ocidentais dado que, tal como diz a psicanalista Joan Raphael-Leff, “há pouco
reconhecimento das perturbações emocionais e medos ou fantasias relativas ao
nascimento, que são ritualmente favorecidas e dissipadas com todo o cerimonial
noutros locais”. Na altura do nascimento há como que um “renascer” de histórias
interiores, “à mercê de uma mãe ou de um pai, aparentemente omnipotentes.” Assim
sendo, se existem memórias infelizes de uma infância abusiva, por exemplo, então o
ciclo de “abuso emocional e sexual, negligência e violência, pode ser perpetuado, visto
que cada sucessiva geração é infalível e inconscientemente arrastada a projectar,
repetir e realizar fisicamente ambientes emocionais cruciais e relacionamentos,
actualizando-os e inflingindo-os ao que lhe são mais próximos” (Feinenmann, 1997:
163). A psicoterapia ganha então ênfase dado ser a melhor maneira de travar a falta de
amor-próprio e confiança, a cascata de abuso e de deficiente maternidade ou
paternidade, transmitida de pais para filhos. Com uma ou duas sessões semanais, podem
ser interiorizados novos conhecimentos que posteriormente facilitarão a resolução das
questões práticas quotidianas da família. Vão então sendo debatidos problemas, que
farão com que outros submirjam do nível subconsciente, podendo assim, haver uma
resolução dos mesmos e os conhecimentos a adquirir da resolução posterior da
perturbação emocional também podem ser gradualmente integrados na vida da mulher.
A mãe pode ser encaminhada para um psicoterapeuta do Serviço Nacional de Saúde,
quer nos serviços de saúde mental de adultos, quer no seu serviço local de consulta
infantil e familiar. O médico de clínica geral ou técnico de saúde da mãe, pode
aconselhá-la quanto a isso, mas caso não seja possível, o facto de ter de pagar para
frequentar sessões semanais ou bi-semanais durante os meses cruciais pode vir a ser
muito proveitoso para a mãe com depressão pós-parto.
A partir de 1989 foram realizadas uma série de experiências que tornaram possível a
criação de um método cientificamente fiável de identificar mulheres vulneráveis à
depressão pós-parto – a Escala de Edimburgo da Depressão Pós-Parto (ver Anexo I).
Num estudo realizado, mil mulheres identificadas como vulneráveis à depressão foram
divididas em dois grupos, sendo que a um deles foram prestados ensinos sobre a
depressão pós-parto e ao outro não. Os resultados revelaram que 69% das mulheres
vulneráveis às quais foi dado apoio contra apenas 38% das que não receberam
aconselhamento, não desenvolveram depressão pós-parto. “Falar” revelou-se a terapia
particularmente mais eficaz, quer na prevenção quer no tratamento. Um outro estudo
realizado por Heh e Fu (2003), citado por Sousa (2006), demonstrou que as mulheres
que haviam recebido informação de apoio sobre a depressão pós-parto seis semanas
após o parto apresentavam níveis mais baixos de depressão aos três meses do que as
mulheres que não a receberam. A mulher deveria falar com o mesmo profissional ao
longo da gravidez e no pós-parto, pelo que as consultas de vigilância ao longo da
gravidez e as visitas domiciliárias assumem uma grande importância. Existem
directrizes formais que permitem ao profissional uma aproximação mais fácil à mulher
e o “acesso” aos seus sentimentos e emoções, dado que as mulheres têm tendência para
os esconder, por sentirem vergonha dos mesmos. Um esquema de visitas que abarque
uma visita na primeira semana após a alta hospitalar, outra na terceira semana e
mensalmente nos seis meses seguintes é importante. Este esquema pode sofrer
adaptações individualizadas às necessidades da mulher. Os temas a leccionar estão
sintetizados no quadro e pretende-se com eles a redução do stress materno bem como o
aumento da auto-confiança, já que o desconhecimento é apontado como causa da
depressão pós-parto, como prova um estudo de Nahas et al (1999), citado por Heh e Fu
(2003) e por Sousa (2006). A grávida é encorajada a falar de si e dos seus sentimentos
relativamente à gravidez, ao parceiro, a um outro profissional de saúde, tornando claro
que o apoio é também para a mulher e não só para saber como vai o bebé.
As clínicas pré-natais com um ambiente mais acolhedor permitem, entre outras coisas,
que as grávidas possam partilhar experiências entre si, bem como entre os pais, e
permitem o acesso a bibliografia relacionada com o puerpério (o que lhes confere mais
confiança ao cuidarem dos filhos, o que reduz o stress materno). Os casais são ainda
aconselhados especificamente para mais facilmente superarem a pressão da chegada do
bebé. Ao invés de tentar prevenir ou curar a depressão, o objectivo dos enfermeiros
deve consistir em ajudar “as pessoas a encontrar as suas próprias soluções e a
aproveitar e reforçar os sistemas de apoio existentes” (Feinenmann, 1997: 102). É
importante que a mulher crie os seus próprios mecanismos de defesa e que a família de
suporte da mesma saiba como a ajudar.
O enfermeiro “precisa de ouvir o que a mãe realmente sente por si própria, pelo parceiro
e pelo bebé, e o que é revelado pode ser bastante chocante – ansiedade, raiva, ódio a si
mesma, ódio ao bebé e ao parceiro, sonhos perturbadores, receio de perda”
(Feinenmann, 1997: 102/103). Esta sobrecarga emocional transmitida pode acarretar a
necessidade do enfermeiro recorrer a uma rede de apoio, dado o desgaste que representa
o confronto com estas realidades. (Nursing – Eunice Jesus vieira Sousa, 2006, pp. 11-
12)
A mulher é confrontada com uma oscilação do seu humor, havendo períodos de grande
felicidade, contrabalançados com períodos de grande sensibilidade, nos quais,
aparentemente pequenas coisas a fazem chorar, coisas essas de extrema importância e
relevância para si.
É frequente todas as mães passarem por um período de declínio após o nascimento dos
seus bebés – as preocupações, a vida que muda, a imagem corporal alterada, o psíquico
“abalado”, uma realidade nova a ser experimentada, entres outras – por vezes pela
primeira vez, tudo faz com que se sintam culpadas ao percepcionarem a tristeza que
sentem, quando tanto desejaram era aquela criança!
Assim sendo, é comum todas as mães “experimentarem” depressão pós-parto, dado toda
a sensibilidade que as envolve. É um período no qual é necessário uma grande
compreensão por parte do marido, que também é “alvo” de uma grande tensão
emocional, e da família, fazendo com que as mesmas se sintam seguras, auxiliando-as
assim a erguerem a sua “força”, “coragem” e “determinação”, para conseguirem “olhar
em frente” e ultrapassarem esta depressão, de modo a prevenir que a mesma evolua
significativamente para uma depressão mais “alargada”, que se propaga à medida que os
anos passam.
Nestes casos, é necessário um todo e grande investimento familiar, uma vez que, já com
depressão anterior, esta mulher está numa fase de grande vulnerabilidade e, com as
demais preocupações com o seu bebé, que vão fazer com que cresça e multiplique o seu
eu existencial, o seu ego reduzido, a sua visão enublada da vida, podendo mesmo
evoluir para um quadro preocupante, enveredando para uma psicose, se não
acompanhadas.
8. CONCLUSÃO
Após a elaboração deste trabalho, podemos concluir que atingimos os objectivos
definidos, permitindo-nos, deste modo, adquirir conhecimentos acerca do que é a
depressão pós-parto, quem está mais susceptível, quais as suas causas, como se
manifesta e de que modo o enfermeiro pode ajudar na prevenção e tratamento. Para
além disso, a pesquisa que realizamos permitiu encontrarmos vários exemplos de
mulheres com depressão pós-parto que consideramos ter sido fundamentais para uma
melhor compreensão dos conceitos e, posteriormente, facilitar-nos uma melhor actuação
nesta situação como futuras enfermeiras.
Importa salientar que sentimos alguma dificuldade em colocar apenas o essencial acerca
do tema porque, por um lado, encontramos imensa informação e, por outro, foi-nos
exigido limite de páginas.
9. BIBLIOGRAFIA
FEINENMANN, Jane – Sobreviver à Depressão Pós-parto – identificar, compreender e
superar a depressão pós-parto. Colecção Terra Mãe, Âmbar, Porto, 1997.
ISBN:972-43-0389-6.
WIDLOCHER, Daniel – As lógicas da Depressão. Climpsi Editoras, Lisboa, 2001.
SOIFER, Raquel – Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. 4ª edi., Porto Alegre,
1986.
MACY, Christopher; FALKNER, Frank – Gravidez e Parto – A psicologia e Você. Casa
do Livro Editora lda., Lisboa, 1979.
KITZINGUER, Sheila – Enfermagem Materna e Neonatal – Série de estudos sobre as
etapas da gestação e a preparação da maternidade. Ciclo dos Leitores, Londres,
1980.
ROPER, LOGAN, TIERNEY – Modelo de Enfermaria. 4ªedi. Interameicana-MacGraw-
Hill, 1993. ISBN:968-25-1971-3.
BOBAK, et all – Enfermagem na Maternidade.4ªedi, Lusociência, 1999. ISBN: 972-
8383-09-6.
SOUSA, Eunice J. V. – Nursing – 2006.
http://www.gballone.sites.uol.com.br/colab/carmen.html
www.psiqweb.med.br/sexo/posparto.html
www.linkdobebe.com.br/temas/depressao.htm
www.mentalhelp.com/depressao_puerperal.htm
www.abcdasaude.com.br/artigo.php
http://www.copacabanarunners.net/pos-parto.html
www.manualmerk.net
ANEXO I
ESCALA DE EDIMBURGO
F
onte
: Norman C. Smith, Compreender a Gravidez, 2005
ANEXO II
E não há mais nada?
Anónimo
População alvo: alunos do 3ºano – 1º semestre do Curso de Licenciatura em Enfermagem Hora: 12h
Duração: 25 min
Grupo: Ana Fernandes, Nº 28798; Cláudia Portero, Nº 28805; Lúcia Martins, Nº 28814; Paula Martins, Nº 28817; Salomé Pedro, Nº 28820 Objectivo
geral: Sensibilizar para a depressão pós-parto
/CDuque 2008-11-14 30
Objectivos Conteúdo Estratégias / Recursos Avaliação
- Definir depressão pós-parto; - Definição de depressão pós-parto; - Utilização de data-show - Método interrogativo
/CDuque 2008-11-14 31