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AFETIVIDADE E SUAS ALTERAÇÕES

1 Definições Básicas

A afetividade é quem confere o modo de relação do indivíduo á vida e será através


da tonalidade de ânimo que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. A partir de seu
estado de humor, o homem cria a forma de receber o mundo dentro de si.
Estado Afetivo é o estado afetivo momentâneo, um tônus afetivo neste exato
momento atribuindo os devidos valores ás vivências, seja a tristeza na tragédia ou a alegria
na comédia, em condições normais. Este estado afetivo é momentâneo e variável de
momento numa mesma pessoa.
Tonalidade Afetiva é o campo de limite de variação do estado afetivo.

Estado Tonalidade
Afetivo Afetiva

Obs: há uma variação constitucional da tonalidade afetiva, ou seja, pontos muitos


baixos de humor para uns poderão não ser tão para outros, a depender da altura da
tonalidade afetiva de cada um. Em decorrência disso, cada indivíduo terá suas
possibilidades individuais de variação, de tal forma que o entusiasmo maior de uns não
corresponde ao mesmo entusiasmo máximo de outros, ou o abatimento máximo de uns será
diferente do abatimento máximo de outros.
Distinguem-se cinco tipos básicos de vivências afetivas:
a) Humor ou estado de ânimo
b) Emoções
c) Sentimentos
d) Afetos
e) Paixões

Humor ou estado de ânimo: tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e


Difuso no qual se encontra a pessoa em determinado momento. No estado de ânimo (ou
humor) há confluência de uma vertente somática e de uma vertente psíquica, que se unem
de uma maneira indissolúvel para fornecer um colorido especial á vida psíquica
momentânea.
Emoções: reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos
significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração,originada
geralmente como uma reação do indivíduo a certas excitações internas ou
externas,conscientes ou inconscientes.Assim como o humor,acompanha-se de reações
somáticas mais ou menos específicas.
Sentimentos: são estados e configurações afetivas estáveis,em relação ás
emoções,são mais atenuadas em sua intensidade e menos reativas a estímulos
passageiros.Os sentimentos estão geralmente associados a conteúdos
intelectuais,valores,representações e ,no mais das vezes,não implicam em concomitantes
somáticos.
Afetos: qualidade e o tônus que acompanham uma idéia ou representação
mental.seriam assim,o componente emocional de uma idéia.
Paixões: estado afetivo extremamente intenso,que domina a afetividade psíquica
como um todo,captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só
direção,inibindo os outros interesses.

2. Alterações Patológicas do Humor

Distimia: é o termo que designa a alteração básica do humor,tanto no sentido de


inibição quanto no de exaltação.Daí surgem: distimia hipotímica (depressão) e distimia
hipertímica (euforia ou mania).
Disforia: distimia que se acompanha de uma tonalidade afetiva desagradável,mal-
humorada.Pode haver mania e depressão disfórica,quando há um forte componente de
irritação,amargura,desgosto e agressividade.

Obs: no espectro maníaco,o termo euforia ou alegria patológica,define um humor


morbidamente exagerado,no qual predomina um estado de alegria intensa e
desproporcional ás circunstâncias.Já no estado de elação,há além da alegria patológica,uma
expansão do eu,uma sensação subjetiva de grandeza e de poder.

Obs: no estado de êxtase há uma experiência de beatitude,uma sensação de


dissolução do eu no todo,de compartilhamento íntimo do estado afetivo internos com o
mundo exterior,muitas vezes com colorido hipertímico e expansivo.

Puerilidade: é uma alteração do humor que se caracteriza por seu aspecto


infantil,simplório,regredido.O indivíduo chora ou ri por motivos banais,tem uma vida
afetiva superficial.Aparece na esquizofrenia hebefrênica em indivíduos com retardo
mental,quadros histéricos e em personalidades imaturas.
Irritabilidade Patológica: há uma hiperreatividade desagradável,hostil
e,eventualmente,agressiva a estímulos (mesmo leves) do mundo exterior.Qualquer estímulo
´w sentido como perturbador e o indivíduo reage prontamente de forma disfórica..Ocorre
nos quadros ansiosos,na esquizofrenia e nas síndromes depressivas.
Ansiedade: estado de humor desconfortável,uma apreensão negativa em relação ao
futuro,uma inquietação interna desagradável.Inclui manifestações somáticas e
fisiológicas,como dispnéia,taquicardia,vasoconstricção ou dilatação,tensão
muscular,parestesias,sudorese,tonturas,etc.

Obs:o termo angústia relaciona-se diretamente á sensação de aperto no peito e na


garganta,de compressão,de sufocamento.Assemelha-se muito á ansiedade,mas tem um
componente mais corporal e mais relacionada ao passado.

Obs: o medo se caracteriza por referir-se a um objeto mais ou menos


preciso,diferenciado da ansiedade e da angústia,que não tema um objeto específico.

3. Alterações Patológicas da Emoção e do Sentimento


Apatia: é a diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva.Os pacientes queixam-se
de não poderem sentir nem alegria nem tristeza.Os pacientes tornam-se hiporreativos. È um
quadro próprio dos estados depressivos.
Hipomodulação do Afeto:é a incapacidade do paciente de modular a resposta
afetiva de acordo com a situação existencial,indicando rigidez do indivíduo na sua relação
com o mundo.
Inadequação do Afeto:é a reação completamente incoerente a situações
existenciais ou determinados conteúdos ideativos,revelando desarmonia profunda da vida
psíquica.
Pobreza de sentimentos e distanciamento afetivo:é a perda progressiva e
patológica das vivências afetivas.Há um empobrecimento relativo á possibilidade de
vivenciar alterações e variações sutis na esfera afetiva.
Embotamento afetivo:é a perda de todo tipo de vivência afetiva.Ao contrário da
apatia,que é basicamente subjetiva,o embotamento é observável,constatável pela mímica do
paciente.Ocorre tipicamente nas formas negativas,deficitárias da esquizofrenia.
Sentimento de falta de sentimento: é a vivência de incapacidade para sentir
emoções,experimentando de forma muito penosa para o paciente.O problema é percebido
pelo doente,e ao contrário da apatia,essa sensação é bastante desagradável.Ocorre na
depressão grave.
Anedonia: é a incapacidade total ou parcial de obter ou sentir prazer com
determinadas atividades e experiências da vida.Não consegue prazer sexual,com
amigos,com família,etc.È um sintoma central das síndromes depressivas.È muito associada
á apatia.
Labilidade Afetiva e incontinência afetiva: são estados nos quais ocorrem
mudanças súbitas e imotivadas do humor,sentimento ou emoções.O indivíduo oscila de
forma abrupta e inesperada de um estado afetivo para outro.Ocorre nas depressões graves
ou manias ,ansiedade e esquizofrenia.
Ambivalência afetiva:sentimentos opostos em relação a um mesmo estímulo ou
objeto.
Neotimia: sentimentos e experiências afetivas inteiramente novas vivenciadas por
pacientes em estado psicótico.São afetos muito estranhos e bizarros,para própria pessoa que
os experimenta.Faz parte da experiência peculiar e radicalmente diferente da esquizofrenia.

A VONTADE, A PSICOMOTRICIDADE E SUAS ALTERAÇÕES

VONTADE – Segundo Dalgalarrondo (2008), a vontade é uma dimensão complexa da vida


mental, relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva que envolve
aaliar, julgar, analisar, decidir, bem como o conjunto de valores, princípios, hábitos e
normas socioculturais do invidiuo. Não é ponto pacífico se a vontade depende mais da
esfera instintiva, de forças inconscientes, da esfera afetiva, de valores culturais ou de
componentes intelectuais conscientes. Alguns autores identificam a vontade ao desejo
consciente ou inconsciente.
O INSTINTO – Para Dalgalarrondo (2008), é definido como um modo relatyivamente
organizado, fixo e complexo de resposta comportamental de determinada espécie, que, por
meio dela, pode sobreviver melhor em seus ambiente natural.
A pulsão, para a psicanálise, é o conjunto de elementos inatos, inconscientes, de origem
parcialmente biológica e parcialmente psicológica, que movem o sujeito em direção à vida
ou à morte.

DESEJO - Dalgalarrondo (2008) define que é um querer, um anseio, um apetite, de


natureza consciente ou inconsciente, que visa sempre algo, que busca sempre a sua
safisfação.
Os desejos diferenciam-se das necessidades, pois estas são fixas e inatas, independentes da
cultura e da historia individual, enquanto aqueles são móveis, moldados e transformados
social e historicamente.
A inclinação, por sua vez, é a tendência a desejar, buscar, gostar, entre outros, intimamente
relacionada à personalidade do individuo, duradoura e estável, que inclui tantos aspectos
afetivos como volitivos. Trata-se de algo constitutivo do individuo e é, em certa proporção,
de natureza genética.

ATO VOLITIVO OU DE VONTADE – O ato volitivo ou de vontade, segundo


Dalgalarrondo (2008). É traduzido pelas expressões típicas do eu quero ou eu não quero,
que caracterizam a vontade humana sensu strictu.
Os motivos, ou razões intelectuais que influem no ato volitivo, dos móveis, ou influencias
afetivas atrativas ou repulsivas que pressionam a decisão volitiva para um lado ou para
outro.
O ato volitivo se dá, de forma geral, como um processo, o chamado processo volitivo, no
qual se distinguem quatro etapas ou momentos fundamentais e em geral cronologicamente
seguidos.

FASES DO PROCESSO VOLITIVO – A fase de intenção ou proposito, no qual, segundo


Dalgalarrondo (2008), se esboçam as tendências básicas do individuo, suas inclinações e
interesses.
A fase da deliberação diz respeito à ponderação consciente, levando-se em conta tanto os
motivos como os moveis implicados no ato volitivo. É um momento de apreciação,
consideração dos vários aspectos e das implicações de determinada decisão.
A fase de decisão propriamente dita é o momento culminante do processo volitivo, instante
que demarca o começo da ação, no qual os moveis e os motivos vencidos dão lugar aos
vencedores.
A fase de execução constitui a etapa final do processo volitivo, na qual os atos
psicomotores simples e complexos decorrentes da decisão são postos em funcionamento, a
fim de realizar e consumar aquilo que mentalmente foi decidido e aprovado pelo individuo.
O ato de vontade pautado por essas quatro fases, em que ponderação, analise e reflexão
precedem a execução motora, é denominado ação voluntária.

ALTERAÇÕES DA VONTADE – A hiperbulia ou abulia, para Dalgalarrondo (2008), o


individuo refere que não tem vontade para nada, sente-se muito desanimado, sem forças,
sem pique. A abulia não se confunde com a ataraxia, que é um estado de indiferença
volitiva e afetiva desejada e buscada ativamente pelo individuo. Trata-se aqui do estado de
imperturbabilidade almejada por místicos, ascetas e filósofos da chamada escola estoica.

ATOS IMPULSIVOS E COMPULSIVOS - O ato impulsivo, segundo Dalgalarrondo


(2008), abole abruptamente as fases de intenção, deliberação e decisão, em função tanto da
intensidade dos desejos ou temores inconscientes como da fragilidade das instancias
psíquicas implicadas na reflexão, na analise, na ponderação e na contenção dos impulsos e
dos desejos. O ato impulsivo apresenta as seguintes características: é realizado sem fase
previa de intenção, deliberação e decisão; é realizado, de modo geral, de forma
egossintomica, quando o individuo não percebe tal ato como inadequado, não tenta evita-lo
e considerando ser o ato impulsivo frequentemente não é contrário aos valores morais e
desejos de quem o pratica; é geralmente associado a impulsos patológicos ou à
incapacidade de tolerância à frustração e necessária adapatação à realidade objetiva sendo
que, dessa forma, o individuo dominado pelo ato impulsivo tende a desconsiderar os
desejos e as necessidades das outras pessoas.
O ato compulsivo ou compulsão, para Dalgalarrondo (2008), difere do ato impulsivo por se
reconhecido pelo individuo como indesejável e inadequado, assim como pela tentativa de
refreá-lo ou adiá-lo. A compulsão é geralmente uma ação motora complexa que pode
envolver desde atos compulsivos relativamente simples, como coçar-se, picar-se, arranhar-
se, até rituais compulsivos complexos, como tomar banho de forma repetida e muito
ritualizada, lavar as mãos e secar-se de modo estereotipado, por inúmeras vezes seguidas,
entre outros.
Os atos e os rituais compulsivos, segundo Dalgalarrondo (2008), apresentam característica
como vivência frequente de desconforto subjetivo por parte do individuo que realiza o ato
compulsivo; são egodistônicos e experienciados como indesejáveis, contrários aos valores
morais e anseios de quem os sofre; tentativa de resistir ou adiar à realização do ato
compulsivo; sensação de alívio ao realizar o ato, alívio de que logo é substituído pelo
retorno do desconforto subjetivo e pela urgência em realizar novamente o ato compulsivo;
ocorrem frequentemente associados a ideias obsessivas, muito desagradáveis,
representando tentativas de neutralizar tais pensamentos.

TIPOS DE IMPULSOS E COMPULSÕES PATOLÓGICAS – Os impulsos e compulsões


agressivas auto ou heterodestrutivas, segundo Dalgalarrondo (2008), são automutilação e
frangofilia.
A automutilação é o impulso ou compulsão seguido de comportamento de autolesão
voluntária. São pacientes que produzir escoriações na pele e nas mucosas, furam braços
com pregos e pedaços de vidro, arrancam os cabelos (tricotilomania), entre outras, e são
leves e moderadas quando observadas em individuos com transtorno da personalidade
bordeline, naqueles com transtorno obsessivo-compulsivo e em alguns deficientes mentais.
A frangofilia é o impulso patológico de destruir os objetos que circundam o individuo. Está
associado geralmente a estados de excitação impulsiva intensa e agressiva.
A piromania é o impulso de atear fogo a objetos, prédios, lugares, e ocorre principalmente
em indivíduos com transtornos da personalidade.
Os impulsos e compulsões relacionados à ingestão de substancia ou alimentos possui o uso
do agente psicotiavo que se caracteriza por grande impulsividade.
A dispsomania ocorre como impulso ou compulsão periódica para ingestão de grandes
quantidades de álcool. O individuo bebe seguidamente até ficar inconsciente; a crise é
superada, voltando o paciente à situação anterior, havendo geralmente amnesia retrograda
para o ocorrido.
A bulimia é o impulso irresistível de ingerir rapidamente grande quantidade de alimentos,
muitas vezes doces e chocolates, em geral como ataque à geladeira. Após a ingestão rápida
o paciente bulímico sente-se culpado, com medo de engordar e induz vômitos ou toma
laxativos.
A potomania é a compulsão de beber água ou outros líquidos sem que haja sede exagerada.
Difere da polodipsia em que o individuo sente sede exagerada geralmente devido a
alterações metabólicas em seu organismo.
Os atos e compulsões relacionados ao desejo e comportamento sexual foram classificados e
descritos como perversões sexuais, preferindo-=se atualmente os termos atos impulsivos e
compulsões sexuais.
O fetichismo é o impulso e o desejo sexual concentrado em partes da vestimenta ou do
corpo da pessoa desejada.
O exibicionismo é o impulso de mostrar os órgãos genitais, geralmente contra a vontade da
pessoa que observa. O ato de mostrar já é suficiente para o individuo obter prazer; ele não
busca o contato sexual direto com a pessoa para a qual se exibe.
O voyeurismo é o impulso de obter prazer pela observação visual de uma pessoa que está
tendo relação sexual, ou simplesmente está nua ou se despindo.
A pedofilia é o desejo sexual por crianças ou púberes do sexo oposto; a pederastia é o
desejo sexual por crianças ou adolescentes do mesmo sexo.
A gerontofilia é o desejo sexual por pessoas consideravelmente mais velhas.
A zoofilia ou bestialismo é o desejo sexual dirigido a animais.
A necrofilia ou vampirismo é o caso de desejo sexual por cadáveres.
A coprofilia é a busca do prazer com uso de excrementos no ato sexual.
A ninfomania é o desejo sexual quantitativamente muito aumentado na mulher e a satiríase,
em nível muito aumentado no homem.
Esses aumentos patológicos do desejo sexual ocorrem principalmente em indivíduos em
fase maniacal de transtorno bipolar. Não é rara a compulsão à masturbação, vivenciada
como intensa necessidade de realizar atividade masturbatória repetitiva, até mesmo
praticada com desprazer.
Outros impulsos e compulsões são identificados como Poriomania que é o impulso e o
comportamento de andar a esmo, viajar, desaparecer de casa, ganhar o mundo.
A cleptomania ou roubo patológico é o ato impulsivo ou compulsivo de roubar, precedido
geralmente de intensa ansiedade e apreensão, que apenas se alivia quando indivíduo realiza
o roubo.
A compulsão por comprar é um tipo de compulsão em que o individuo sente necessidade
premente de compra objetos de forma compulsiva, sem observar a utilidade e sem ter
necessidade ou poder utilizar adequadamente. No momento em que realiza a compra, sente
um certo alivio, que geralmente é de curta duração, seguindo-se de sentimentos de culpa e
arrependimento.
O negativismo é a oposição do individuo às solicitações do meio ambiente.
A sitiofobia é a recusa sistemática de alimentos, geralmente revelando negativismo
profundo. O termo também é utilizado para designar a recusa de alimentos associada a
quadros delirantes persecutórios (delírio de envenenamento) ou depressivos graves.
A obediência automática é o oposto do negativismo, quando o individuo obedece
automaticamente como um robô teleguiado, às solicitações de pessoas que entrem em
contato.
Os fenômenos em eco, ecopraxia, ecolalia, ecomimia e ecografia, o indivíduo repete de
forma automática, durante a entrevista, os últimos atos do entrevistador, suas palavras ou
silabas, reações mímicas ou escrita. Esses fenômenos revelam acentuada perda do controle
da atividade voluntária e sua substituição por atos automáticos, sugeridos pelo ambiente
circundante.
O automatismo refer-se aos sintomas psicomotores, como movimentos de lábios, língua e
deglutição, abotoar/desabotoar a roupa, deambular a esmo, associados à crise epiléptica do
tipo parcial complexa, na qual já alteração do nível de consciência, geralmente
acompanhada de automatismos psicomotores. O automatismo psíquico representa o
surgimento de pensamentos, representações, lembranças e comportamentos apenas muito
precariamente controlados pela atenção voluntária e pelos desejos conscientes. O
automatismo mental refere-se a fenômenos psíquicos sentidos pelo paciente, mas não
reconhecidos por ele como provindo de sua personalidade por atribui-los a uma ação
externa.

AS ALTERAÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE – Para Dalgalarrondo (2008), assim como


o ato motor é componente final do ato volitivo, as alterações psicomotoras frequentemente
são expressão final de alterações da volição.
A agitação psicomotora é uma das mais comuns, implicando a aceleração e exaltação de
toda a atividade motora do individuo, em geral secundária a taquipsiquismo acentuado.
Comumente se associa à hostilidade e à heteroagressividade. A agitação psicomotora é um
sinal psicopatológico muito frequente e relativamente inespecífico, sendo vista todos os
dias nos serviços de emergencia e internação.
A lentificação psicomotora reflete a lentificação de toda a atividade psíquica,
bradipsiquismo. Toda a movimentação voluntária torna-se lenta, difícil, pesada, podendo
haver período de latência entre uma solicitação ambiental e a resposta motora do paciente.
O estupor é a perda de toda a atividade espontânea que atinge o individuo globalmente, na
vigência de um nível de consciência aparentemente preservado e de capacidade sensório-
motora para reagir ao ambiente.
A catalepsia é um acentuado exagero do tônus postural, com grande redução da mobilidade
passiva dos vários segmentos corporais e com hipertonia muscular global de tipo plástico.
A cataplexia é a perda abrupta do tônus muscular, geralmente acompanha de queda ao
chão.
Estereotipias motoras são repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor
complexo, indicando geralmente marcante perda do controle voluntário sobre a esfera
motora. O paciente repete o mesmo gesto com as mãos dezenas ou centenas de vezes em
um mesmo dia. Observam-se estereotipias motoras na esquizofrenia, sobretudo nas formas
crônicas e catatônicas, assim como na deficiência mental.
Os tiques são atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas, breves e
intermitentes, envolvendo geralmente um grupo de músculos que atua em suas relações
sinérgicas normais. Acentuam-se muito com a ansiedade. Os tiques geralmente são reflexos
condicionados, os quais surgiram associados a determinados estímulos emocionais ou
físicos, mantendo-se forma estereotipada, como um movimento involuntário.
Na conversão há o surgimento abruto de sintomas físicos, como paralisias, anestesias,
parestesias, cegueiras, de origem psicogênica. A conversão motora ocorre geralmente em
situação estressante, de ameaça ou conflito intrapsíquico ou interpessoal significativos para
o individuo. Segundo a teoria psicanalítica, a conversão expressa a representação simbólica
de um conflito psíquico em termos de manifestações motoras ou sensoriais. A conversão
ocorre sobretudo na histeria e no transtorno da personalidade histriônica.

O PENSAMENTO E SUAS ALTERAÇÕES

Pensamento e suas alterações

Elemento constitutivos do pensamento:


1-conceito
2-juízo
3-raciocínio

1-OS CONCEITOS:
-Formam-se a partir das representações
-é puramente cognitivo, intelectivo
-exprimem-se apenas os caracteres mais gerais dos objetos e fenômenos
Ex. Cadeira preta, de madeira,, bonita ou feia, etc. Conceitualizo cadeira como objeto de
quatro pés, móvel utilizado para sentar, estou suprimindo a dimensão sensorial.
O conceito é o elemento estrutural básico do pensamento, exprime os caracteres essenciais
dos objetos e fenômenos da natureza.
2-OS JUÍZOS:
-É o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre conceitos
básicos
-O juízo consiste na afirmação de relação entre dois conceitos.
Ex1- cadeira
Ex2-utilidade
A cadeira é útil
3-O RACIOCÍNIO
-É a função que relaciona os juízos, um modo especial de ligação entre os conceitos, de
seqüências de juízos, de encadeamento de conhecimentos, derivando um do outro.

O PROCESSO DO PENSAR:
1-O CURSO
2-A FORMA
3-O CONTEÚDO

1-O CURSO:é o modo como o pensamento flui, a sua velocidade e ritmo ao longo do
tempo;
2-A FORMA:é a sua estrutura básica, a sua arquitetura,preenchida pelos conteúdos e
interesse do individuo
3-O CONTEÚDO:-pode ser definido como aquilo que da substância ao pensamento, os
seus temas predominantes, o assunto em si
ALTERAÇÕS DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO

Alterações dos conceitos:


1-Desintegração dos conceitos: a perda do seu significado, os conceitos se desfazem e
uma mesma palavra passa a ter significados cada vez mais diversos;a idéia de determinado
objeto e a palavra que normalmente a designa passam a não mais coincidir
Ex .ateu --- a teu comando—a comando de Deus
2-Condensação dos conceitos: dois ou mais conceitos são fundidos, neologismos.
Alterações dos juízos:
1-Juízo deficiente ou prejudicado: juízo falso, os conceitos são inconsistentes e o
raciocínio é pobre e defeituoso, são simplistas, concretos e sujeitos á influência do meio
social.
Alterações do Raciocínio:
1-Pensamento mágico: fere o princípio da lógica formal, não respeita a realidade, segue os
desejos, fantasias e temores do sujeito, conscientes ou inconscientes, adequando a realidade
ao pensamento, e não ao contrário
2-Pensamento derreísta: opõe-se radicalmente ao pensamento realista,obedece à lógica e à
realidade só naquilo que interesse ao desejo do indivíduo, distorcendo a realidade para que
ele se adapte aos anseios.volta-se muito mais ao mundo interno do sujeito, suas fantasias e
sonhos, tudo é possível.
3-Pensamento concreto ou concretismo; não ocorre a distinção entre uma dimensão
abstrata e simbólica e uma dimensão concreta e imediata dos fatos, não entende metáforas,
ironias, nas entrelinhas e duplo sentido.Ex.demência, esquizofrenia graves
3-Pensamento inibido: inibição de raciocínio, diminuição da velocidade e dos números de
conceitos, pensamento lento, pouco produtivo.Ex depressão
4-Pensamento vago: imprecisão nas relações conceituais e na formação dos juízos, falta de
clareza e precisão.Ex esq., demência.
5-Pensamento prolixo: não chega a conclusão sobre o tema, a não ser depois de muito
tempo, falta de capacidade de síntese.
6-Pensamento deficitário: estrutura pobre e rudimentar, raciocínio concreto, conceitos
escassos, há pouca flexibilidade na aplicação dos conceitos e regras aprendidas, não
diferencia essencial de supérfluo, imaginário de concreto, decora números.
7-Pensamento demencial: pobre e desigual, as vezes elaborações mais sofisticadas, mas
imperfeito, irregular, sem unidade e congruência, evita adjetivos e os substantivos
específicos. Ex aquela coisa
8-Pensamento confusional: turvação da consciência, incoerente, não aprende de forma
clara.*Ex síndromes confusuinais
9-Pensamento desagregado: radicalmente incoerente, mistura aleatória de palavras, salada
de palavras. Ex esq.
10Pensamento obsessivo: conteúdo absurdo ou repulsivo que impõe à consciência de
modo persistente e incontrolável. É uma luta constante entre idéias obsessivas, que voltam
de forma recorrente à consciência e o indivíduo que se esforça para bani-las. Ex.
Pacientes obsessivos

ALTERAÇÕES DO PROCESSO DE PENSAR


Curso do Pensamento
1-Aceleração do pensamento: flui de forma acelerada, uma idéia se sucedendo a outra. Ex
quadros de mania, esq, estados de ansiedade intensa, depressão.
2-Lentificação do Pensamento: progride lentamente, de forma dificultosa. Ex depressão
grave, intoxicações, rebaixamento da consciência
3-Bloqueio ou intercepção do pensamento: no meio de uma conversa brusca e
repentinamente interrompe seu pensamento, sem motivo.
4-Roubo do pensamento: sensação que seu pensamento foi roubado de sua mente por uma
força ou ente estranho.

FORMA DO PENSAMENTO
1-Fuga de idéias: a associações entre as palavras deixam de seguir uma lógica ou
finalidade do pensamento e passa a ocorrer por assonância (amor, flor, cor, objetos da
sala)Ex Síndromes maníacas.
2-Dissociação do pensamento: desorganização, pensamento não segue uma seqüência
lógica e bem organizada, os juízos não se articulam.
3-Descarrilhamento do pensamento: extravia do seu curso, tomam atalhos colaterais,
desvios, distraibilidade. Ex. Esq.
4-Desagregação do pensamento: profunda e radical perda dos enlaces associativos, total
perda de coerência do pensamento.

CONTEÚDO DO PENSAMENTO:
1-DE PERSEGUIÇÃO;
2-DEPRECIATIVOS;
3-RELIGIOSOS;
4-SEXUAIS;
5-DE PODER, RIQUEZA OU GRANDEZA;
6-DE RUÍNA OU CULPA;
7-CONTEÚDOS HIPOCONDRÍACOS.

Delírio:

O delírio pode ser caracterizado como um juízo falso, ou seja, um falso julgamento da
realidade, porém nem todo juízo falso é patológico, pode acontecer um erro por
ignorância, por um julgamento apressado ou baseado em falsas premissas.Os tipos de
erros mais comuns não determinados por transtorno mental são os preconceitos, as
crenças culturalmente sancionadas, as supertições e as chamadas idéias prevalentes
(idéias errôneas por superestimação afetiva, como por exemplo, uma mãe que se
preocupa excessivamente com o filho, julgando que este sempre corre perigo).
O delírio tem base mórbida e é motivado por fatores patológicos, Jaspers, definiu três
características principais do delírio: convicção total do paciente em sua crença,
impossibilidade de mudança de juízo, mesmo dando ao paciente, provas explicitas da
realidade, por argumentos lógicos, e como última característica considera o delírio um
juízo falso de conteúdo impossível, esta é criticada pelo o autor, que defende a
possibilidade de o delírio ser verídico, como no caso do acoolista crônico que tem
delírios de ciúmes e sua mulher realmente o trai. Além disto o autor propõe uma quarta
característica, que se refere à individualidade do delírio, não sendo produzido,
compartilhado ou sancionado pelo grupo, desvinculando-se da trama social.
São indicadores da gravidade do delírio: convicção, extensão (referente a diferentes
áreas da vida do paciente), bizarrice (o quanto se distanciam das convicções
culturalmente compartilhadas) desorganização, pressão (o quanto o paciente está
envolvido com suas crenças delirantes), o quanto o abalam afetivamente (resposta
afetiva) e o quanto o paciente age em função do delírio (comportamento desviante).
O delírio primário (idéias delirantes) não deriva de nenhum outro evento e é
psicologicamente incompreensível. O delírio secundário (idéias deliróides) se
diferencia do primário por ser decorrente de outras áreas da atividade mental, sendo
produto de condições rastreáveis e compreensíveis como, por exemplo, delírio de ruína
ou culpa derivado de um estado de depressão grave.
Os delírios podem ser classificados quanto à estrutura, sendo simples quanto giram em
torno de um único conteúdo, complexos quando englobam vários temas ao mesmo
tempo, não-sistematizados por terem conteúdos e detalhes mais desarticulados e
sistematizados, sendo bem organizados, com histórias ricas e consistentes, mantendo
conteúdo e detalhes ao longo do tempo.
Os delírios surgem após um período pré-delirante, denominado humor delirante ou
trema. Esse período se caracteriza por grande aflição e ansiedade como se algo ruim
fosse acontecer a qualquer momento. Este estado pode durar horas ou dias e quando
ocorre o delírio de fato, o paciente muitas vezes se acalma, uma vez que essa revelação é
a explicação para aquele estado de perplexidade anteriormente inexplicável.
O delírio pode ser pensado como uma construção, uma tentativa de reorganização do
funcionamento mental para lidar com a desorganização produzida pela doença.
Deve-se levar em consideração que o delírio nasce de uma multiplicidade de fatores
complexos, porém, para fins práticos, foram descritos os seguintes mecanismos formadores
do delírio: Interpretação (o delírio interpretativo respeita determinada lógica, histórias
verossímeis), Intuição (captação de uma nova realidade repentinamente, aqui o paciente
simplesmente sabe, intui a revelação delirante), Imaginação (o indivíduo imagina
determinado episódio e pela interpretação constrói seu delírio), Afetividade (também
chamado de delírio catatímico, o indivíduo passa a viver em um mundo fortemente
marcado por tal estado afetivo, assim em um estado de depressão, por exemplo, o sujeito
reorganiza o mundo e o seu eu com um delírio de conteúdo depressivo), Memória (o
indivíduo utiliza determinadas recordações para construir seu delírio, sendo que esses
elementos da memória podem ser falsos), Alteração da consciência ou delírio onírico
(associados a quadros de turvação da consciência, podendo ocorrer durante este estágio ou
após), Alterações sensoperceptivas ou delírio alucinatório(construído após experiências
alucinatórias ou pseudo-alucinatórias intensas, o delírio é construído com a temática da
experiência que foi gerada pela atividade alucinatória).
A percepção delirante é um tipo especialmente importante de delírio, surge a partir
de uma percepção normal que recebe imediatamente ao ato perceptivo uma significação
delirante.Esta percepção delirante é vivenciada como uma revelação.
A inércia para mudar as próprias idéias, a pobreza de comunicação interpessoal ou o
isolamento social, o comportamento agressivo desencadeando rejeição pelo meio social e a
diminuição do respeito e da consideração das pessoas que convivem com o paciente podem
ser mecanismos de manutenção ou estabilização do delírio.

Os conteúdos e tipos mais freqüentes de delírio:

1) De perseguição ou persecutório: É o tema mais freqüente, crença que está sendo


perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas, por complôs, máfia, para
matá-lo ou expô-lo ao ridículo.
2) De referência: Acredita ser alvo freqüente de comentários depreciativos e
caluniosos, se passa e vê pessoas rindo, acha que falam mal dele, comum na
esquizofrenia paranóide e nos trans delirantes.
3) De relação: fatos normalmente percebidos são associados a significações delirantes.
4) De influência: Acredita estar sendo controlado, comandado ou influenciado por
alguma força, pessoa ou entidade externa, influência sobre partes ou órgãos do
corpo.
5) De grandeza: Acredita ser especial, dotado de poderes, típicos dos quadros de
maníacos e PGP.
6) De reivindicação ou querelância: Afirma ser vítima de inúmeras injustiças e
envolve-se em intermináveis disputas legais.
7) De invenção ou descoberta: Afirma ter descoberto a cura para uma doença grave,
ou ter inventado algo que mudará o mundo.
8) De reforma: Sente-se destinado a salvar, reformar ou redimir o mundo.
9) Místico ou religioso: Afirma ser o novo messias, um Deus, ou que entrou em
contato com o Espírito Santo.
10) De ciúmes e Infidaledade: Percebe-se traído por seu cônjuge, pode ser um
verdadeiro delírio ou apenas uma idéia prevalente.
11) Erótico ou erotomania: Afirma que uma pessoa de destaque social, como um
artista, está totalmente apaixonado por ele.
12) De ruína ou niilista: vive em um mundo repleto de desgraças, condenado a miséria,
acredita que o futuro reserva só sofrimento e fracasso.
13) De culpa e auto acusação: Sente-se culpado por tudo que há de ruim no mundo e
na vida das pessoas, pode acreditar ter cometido um crime grave e deve ser punido.
14) De negação dos órgãos: Relata que seu corpo está destruído ou morto, que não tem
mais determinado órgão. Denomina-se síndrome de Cottard quando este tipo de
delírio vem acompanhado de delírio de imortalidade (“não vou morrer, mas vou
sofrer por toda eternidade”).
15) Hipocondríaco: Tem convicção de ter uma doença grave, o que não é
desacreditado após a negação por meio de exames.
16) Cenestopático: Afirma existir animais ou objetos dentro de seu corpo.
17) De infestação: Acredita que seu corpo, principalmente pele e cabelos, estão
infestados por pequenos organismos, que há bichinhos de baixo da pele, pode
ocorrer alucinações táteis.
18) Fantástico ou mitomaníaco: Descreve histórias fantásticas com plena convicção
sem qualquer crítica. Diferente do delírio fantástico ou mitomaníaco a mitomania é
uma tendência patológica a mentir, nesta o paciente sabe que o que está relatando é
falso.
A diferença entre as idéias ou pensamentos obsessivos para o delírio é que no
primeiro caso, o indivíduo, reconhece o pensamento recorrente como falso, já no
segundo falta à crítica a falsidade e ao caráter absurdo do juízo em questão.

A LINGUAGEM E SUAS ALTERAÇÕES

Em processos psicológicos básicos, a linguagem consiste, em sua forma verbal, na


atividade mais comum da mente humana, sendo também o principal instrumento de
comunicação e da elaboração do pensamento da raça humana. “A linguagem é, portanto,
uma criação social de cada um e de todos os grupos humanos”. É importante nós
diferenciarmos os três aspectos – Fonético, Semântico e Sintático.

Quando falamos do aspecto fonético da língua, estamos nos referindo aos sons das
palavras. A semântica envolve o significado das palavras, e por fim – a sintaxe é a
articulação lógica entre as diversas palavras.

Além dos três aspectos citados, devemos dar atenção também às funções da linguagem.

Primeiro devemos notar esta como possuidora de uma função comunicativa, isto é,
responsável pela interação e socialização do indivíduo. A linguagem é também o suporte do
pensamento lógico e abstrato, bem como instrumento de expressão de nossos estados
emocionais, vivências internas e subjetivas. Além de a linguagem ser utilizada para a
“afirmação do eu” (oposições do eu/tu eu/mundo eu/outro), apresenta também uma
dimensão lúdica (elaboração e expressão do belo/terrível, sublime, enfim...Linguagem
como poesia).

Chomsky (apud DALGALARRONDO, 2008) nos chama a atenção para um aspecto da


linguagem, que é a criatividade. Esta consiste na capacidade que cada indivíduo possui de
produzir e entender uma sentença nova (jamais ouvida antes). Esse domínio da criatividade
da linguagem (ou abertura, como sugeriu Chomsky), acaba deixando os estudos dos
“distúrbios” da linguagem mais complexos, na área da Psicopatologia. Isso se dá pois há
muita flexibilidade na linguagem, o que dificulta a distinção sutil do normal e do
patológico.

A Linguagem está intimamente ligada ao pensamento?


A priori temos a visão de que a linguagem consiste em parte ou forma de expressão do
pensamento! Entretanto temos algumas críticas com provas contra tal afirmação, que
consistem na teoria cognitiva de Jean Piaget e os dados fornecidos pela Síndrome de
Williams. Na teoria do Piaget há a afirmação da existência de um pensamento e da
inteligência antes de realmente surgir a linguagem verbal, que se dá no final do período
sensório motor (Ver aqui a postagem sobre desenvolvimento infantil - Piaget). Já na
Síndrome de Williams (SW), a criança possui um QI de aproximadamente 50 a 65, próximo
de uma criança com Síndrome de Down, entretanto a diferença reside no fato de possuírem
uma fluência verbal muito boa. Essa fluência verbal está bem próxima de uma criança
cognitivamente normal, o que nos mostra que embora o indivíduo com SW tenha o retardo
mental, as suas habilidades de linguagem permanecem até mesmo elevadas.

Nos Transtornos Específicos da Linguagem, a criança apresenta um desempenho cognitivo


normal diante a realização de atividades, porém apresenta bastante e grave dificuldade na
linguagem expressiva e receptiva.

Algumas alterações da linguagem por lesões identificáveis


Afasia – A afasia consiste na perda da capacidade de linguagem falada e escrita que antes o
indivíduo possuía. Ocorre, por via de regras, através da lesão do Sistema Nervoso Central.
É um distúrbio orgânico da linguagem. Temos diversos tipos de Afasia, mas enfatizaremos
apenas três: Afasia de expressão (ou de Broca), Afasia de compreensão (ou Wernicke) e
Afasia Global.

A Afasia de Broca é a dificuldade de se expressar fluentemente. São pronúncias com


grande intervalo, monótonas e lerdas. A compreensão da linguagem está preservada. O
indivíduo fala sem observar a colocação verbal e tempo (agramatismo), gerando: “Querer
água”, “eu estar feliz”.

Na Afasia de Wernicke temos o comprometimento da compreensão de linguagem falada e


escrita. Fala normalmente, mas com muitos erros na seleção da palavra certa para expressar
sua ideia. A Afasia Global é a mais severa, e é seguida de Hemiparesia direita (paralisia em
metade do corpo, mas acentuada no braço).

Parafasias – Essas ocorrem no início das síndromes demenciais (Alzheimer, por exemplo).
São mais discretas. Aqui o indivíduo deforma algumas palavras, como o exemplo dado por
Dalgalarrondo: “Cameila” (Cadeira) ou “ibro” (Livro).

A Agrafia consiste na perda da linguagem escrita decorrente de lesão orgânica. Já a Alexia,


também de origem neurológica, é a perda da capacidade anteriormente adquirida da leitura.
A Dislexia é uma perda mais leve, dividida em dois tipos, genética e adquirida (ver
postagem sobre).

Temos também a Disartria, que consiste na dificuldade em articular as palavras em


decorrência de alterações neurológicas. Algumas características são: fala pastosa, com tom
de embriaguez, articulação de consoantes labiais e dentais bem falhas, de difícil
compreensão. Pode acontecer também em casos de AIDS e Neurossífilis.

A Disfonia e Disfemia
A disfonia consiste em uma mudança da fala causada pela alteração na sonoridade de
palavras (determinada não por lesões, mas por fatores psicogênicos* e conflitos). A afonia
é mais grave, onde o indivíduo não consegue emitir som ou palavra. A alteração da
sonoridade pode ser causada por problemas na respiração durante a fala ou problema no
órgão fonador.

A Disfemia consiste na alteração da linguagem falada sem a disfunção orgânica. Também


determinada por conflitos ou fatores psicogênicos. Está associada aos conflitos emocionais
intensos, quadros histéricos e também aos conflitos inconscientes intensos.

* Psicogênico: fenômeno somático cuja origem é psíquica

A Gagueira é um tipo de disfemia, que pode ter origem nos conflitos psíquicos, problemas
no aparelho fonador, fatores genético-familiares e neurobiológicos. É a dificuldade ou
impossibilidade de pronunciar as sílabas de palavras no decorrer de uma frase.

Dislalia
É a alteração da linguagem falada originada da deformação, omissão ou substituição dos
fonemas, sem alterações notáveis dos músculos do aparelho fonador. Quando a dislalia é
orgânica, podemos notar defeito na língua, lábios ou abóboda da palatina (ou qualquer
estrutura do ap. fonador).

Na dislalia funcional podemos perceber uma origem psicogênica, decorrente de conflitos


interpessoais ou também da imitação!

Algumas alterações da linguagem decorrentes de Transtornos Psiquiátricos


Logorréia, Taquifasia e Loquacidade
A Logorréia consiste no aumento e aceleração (Taquifasia) da linguagem verbal,
caracterizado por um intenso fluxo de palavras ou frases, que podem perder o sentido (estão
associadas ao taquipsiquismo). A Loquacidade é o aumento da fluência verbal, em que não
há prejuízo da lógica de uma sentença.

Bradifasia
É o oposto da Taquifasia. A fala é extremamente vagarosa, em que as palavras se seguem
de forma lenta e difícil. Associa-se aos quadros depressivos graves, demências e
esquizofrenia crônica.

Mutismo
O mutismo, falando de uma forma genérica, é a ausência de resposta verbal por parte do
indivíduo, embora este aparente conseguir emitir algo. A natureza do mutismo pode ser
neurológica, psicogênica ou psicótica. Pode ser observado em vários tipos de estupor
(estado de inconsciência, de origem orgânica), quadros esquizofrênicos (ênfase catatônica)
e também em depressões graves.

De acordo com Dalgalarrondo (2008), nas crianças observa-se com frequência o mutismo
eletivo ou seletivo, que é uma forma psicogênica gerada por conflitos interpessoais,
relacionados ao contexto escolar, familiar, frustrações, ansiedade, timidez, medos e
“hostilidade não-elaborada por meio de uma comunicação mais clara”.

O mutismo acinético ou então coma vigil nos mostram a variedade de estados em que há
totalmente a não-responsividade do indivíduo, mas com os olhos abertos (Coma com o
movimento ocular preservado, por exemplo. É o estado vegetativo).

A Perseveração e Estereotipia Verbal


Aqui nós temos a repetição de palavras ou sentenças de forma robótica, mecanizada, sem
sentido e estereotipada. Pode indicar lesão orgânica. Vamos a algumas situações.

A Ecolalia
Consiste na repetição da última ou últimas palavras ditas em uma frase. É involuntário, ou
seja – não há o planejamento. Utilizando um exemplo do autor: “Qual é seu nome?” – A
resposta do paciente seria – “nome...nome...nome...”. Temos a ecolalia em esquizofrenia
catatônica e quadros psico orgânicos.

Palilalia e Logoclonia
A Palilalia é um tanto diferente da Ecolalia. Enquanto nesta última o indivíduo repetia o
que o outro dizia, na Palilalia o sujeito repete a última ou últimas palavras daquilo que ele
mesmo diz. Um exemplo: “Eu moro em São Paulo, Paulo...Paulo...Paulo..”. É também sem
controle e sem planejamento.
A Logoclonia assemelha-se bastante com a Palilalia, entretanto a repetição é
das sílabas! Tomando o exemplo acima, “Moro em São Paulo, lo...lo...lo...”.

Ambos os casos são formas de alteração de linguagem que nos mostram desestrutura do
controle voluntário. Podemos notar ambas nos quadros demenciais (Pick e Alzheimer).

Os Tiques Verbais e a Coprolalia


Dalgalarrondo define os tiques verbais como produção de fonemas ou palavras de maneira
recorrente, inapropriada e irresistível. O paciente produz sons guturais, instantâneo e
espasmódicos. Embora seja desagradável, é impossível de ser contido! Apenas adiado um
pouco! A Coprolalia é o dizer involuntário de palavras obscenas ou então relacionadas ao
excremento. Ambos (tiques e coprolalia) estão bastante relacionados com o Transtorno de
Tourette.

A Verbigeração é a repetição monótona e sem sentido comunicativo (aparente) de palavras,


sílabas ou então pedaços de frases. Já a Mussitação é próxima à verbigeração. É a produção
repetitiva em voz muito baixa, murmurada e monótono, sem significado comunicativo. O
paciente fala para si, movendo bem discretamente seus lábios e emitindo frases pouco
compreensíveis e repetitivas. Ambos dos casos (Verbigeração e Mussitação) são
automatismo verbal, presentes na esquizofrenia.

Já a Glossolalia consiste na produção de uma fala gutural, não tanto compreensível, sendo
um aglomerado ininteligível de sons ou letra (no caso do plano escrito). De acordo com
Galdalarrondo, embora os sons não tenham sentidos, imitam direitinho o aspecto prosódico,
mantendo diferenciação das palavras, sentenças e parágrafos.

A Glossolalia está presente, por exemplo, em cultos pentecostais, onde o crente, quando
recebe a graça, fala em línguas estrangeiras (sem ao menos ter estudado). A sua fala pouco
inteligível é interpretada no contexto como uma graça divina. Além disso, podemos
observar no sonambulismo, mas menos frequentemente na Esquizofrenia. Ah! Deixemos
claro que quando a glossolalia é expressa em um contexto cultural específico (no caso do
culto), não consideramos como psicopatologia.

FUNÇÕES PSÍQUICAS COMPOSTAS E SUAS ALTERAÇÕES: CONSCIÊNCIA E


VALORAÇÃO DO EU, PERSONALIDADE E INTELIGÊNCIA
A maioria dos autores acredita que, no início do desenvolvimento psíquico da criança, não
há, entre o Eu e o mundo exterior, discriminação e delimitação claras; o Eu do bebê estaria
como que “fundido” com o de sua mãe. Os dois planos da realidade, interno e externo,
confundem-se na mesma vivência. Não há, portanto, diferenciação entre o Eu e o não-Eu.
Essa diferenciação vai sendo construída ao longo do primeiro ano de vida. Ao final desse
período, a imagem do Eu torna-se mais nítida, a criança se torna apta a perceber e a
representar objetos autônomos e estáveis em sua mente. O autoconceito vai gradativamente
ficando mais claro e consistente. Aos 4 anos, o autoconceito já é mais abrangente, pois a
criança identifica-se com um conjunto de características mais numeroso e diversificado.
Do ponto de vista psicanalítico, o Eu (ou ego) surge como a diferenciação adap- tativa do
aparelho psíquico a partir do con- tato da criança com a realidade (Freud, 1911). A criança
forma gradativamente o seu Eu por meio de:
1. Contato contínuo com a realidade e consequente submissão às suas
vicissitudes (princípio de realidade). Para Jaspers (1979), a rea- lidade é
aquilo que oferece resistência ao indivíduo, opondo-se aos seus desejos,
possibilitando que um mundo externo e objetivo seja reconhecido com
o tempo.
2. Investimento amoroso e narcísico dos pais sobre a criança.
3. Projeção dos desejos inconscientes dos pais sobre a criança e
conseqüente assimilação desses desejos pela própria criança.
Identificações da própria criança, por meio de mecanismos cons- cientes e inconscientes de
intro- jeção, no relacionamento com as figuras parentais primárias. En- tão, os “pais
psicológicos” são to- mados como modelos de iden- tificação e, assim, introjetados,
assimilados à personalidade da criança. A criança busca ser como o pai e a mãe, copiá-los,
agir e sentir como eles.

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