Você está na página 1de 3

Massacre em Tucson

A cidade onde moro, Tucson, no estado do Arizona, é uma cidade pacata

onde os moradores desfrutam uma vida tranquila e um clima ameno. Essa

calma, entretando, foi bruscamente interropida quando, no dia 8 de janeiro,

alguns moradores viveram momentos de terror.

Uma congressista federal, Gabrielle Giffords, estava começando um

discurso para um pequeno grupo quando uma pessoa começou a atirar. Tudo

aconteceu muito rápido, mas o suficiente para matar seis pessoas e ferir

gravemente várias outras, inclusive a congressista. Algumas pessoas corajosas

que estavam no local conseguiram segurar o autor dos disparos até a chegada

da polícia.

De um momento para o outro a cidade de Tucson se transformou. As

pessoas queriam respostas. Afinal, quem era o autor do massacre? Qual foi o

motivo? A polícia e o FBI deram início imediatamente a uma investigação. E as

especulações começaram.

Muitos acusaram o clima político de incentivar atos violentos, onde nem

mesmo o presidente escapa. Em setembro de 2009, Obama discursava na

Câmara dos Representantes quando um membro republicano gritou: “Você

mente”. O ato foi condenado pelos outros membros da câmara e o republicano

acabou pedindo desculpas no fim da tarde.

No dia 6 de janeiro Obama foi novamente alvo de ofensas em outro

evento na Câmara dos Representates. No momento da leitura da constituição


americana, exatamente na parte em que menciona que qualquer pessoa nascida

no país pode ser presidente, uma mulher gritou “Exceto Obama, exceto Obama”.

A mulher, uma birther, acabou sendo levada pela polícia. Birthers é o nome dado

a alguns americanos que acreditam que Obama não nasceu nos Estados

Unidos, e que por isso não poderia ser presidente.

Mas coisas ainda piores tem acontecido. Sarah Palin, ex-candidata a

vice-presidente, tem dito frases inflamatórias em seus discursos, como “don’t

retrieve! Reload!”, que pode ser traduzido como ‘Não fuja da reta! Regarre [sua

arma]!’ Ela também manteve em seu website uma lista de nomes de políticos

inimigos e um mapa com miras de armas marcando o distrito político de cada.

Giffords era um desses políticos. Embora não haja nenhuma ligação entre o

website e o massacre em Tucson, a situação não ficou nada confortável para

Palin.

Esse massacre também retomou a discussão sobre a venda de arma. No

Arizona é muito fácil comprar armas: basta entrar em uma loja. Se você não tiver

passagem pela polícia ou por clínica psiquiátrica, você vai sair da loja com uma

arma. E não é só isso. Aqui, as pessoas têm permissão de carregar as armas

com elas para lugares públicos como restaurantes e bares, desde que as armas

não estejam expostas.

A facilidade para comprar armas contribuiu para que o autor do massacre

adquirisse uma arma sem grandes dificuldades.

Uma grande cerimônia foi organizada dia 12 de janeiro em Tucson. Vários

políticos, inclusive o presidente Obama e sua esposa, fizeram parte do evento.


Milhares de pessoas compareceram, inclusive eu. Obama relembrou cada uma

das vítimas do ataque e pediu que ao invés de culpar uns aos outros,

deveríamos usar esse momento para um diálogo e para garantir uma conversa

que cure e não uma conversa que destrua. Foi uma cerimônia inspiradora e que,

acredito, ajudou as pessoas de Tucson no seu processo de cura. Pelo menos foi

assim que senti.

Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona


(USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela
mesma universidade. dmdcame@yahoo.com

Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2011, Jan 21). Massacre em Tucson. Clarim, Ano 15, n. 752, p. A2.

Você também pode gostar