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LEVANTAMENTO BATIMÉTRICO EM RESERVATÓRIO DE GRANDE PORTE


DESTINADO À USOS MULTIPLOS, ESTUDO DE CASO: UHE NOVA
AVANHANDAVA (SÃO PAULO, BRASIL)

Conference Paper · January 2009

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4 authors:

Marcus Vinícius Estigoni Renato Billia de Miranda


NHC Brasil Consultores - Especialistas em Recursos Hídricos University of São Paulo
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Artur José Soares Matos Frederico Fabio Mauad


Serviço Geológico do Brasil - CPRM University of São Paulo
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IX SEREA - Seminario Iberoamericano sobre Planificación, Proyecto y Operación de Sistemas
de Abastecimiento de Agua. Valencia (España), 24-27 de noviembre de 2009

LEVANTAMENTO BATIMÉTRICO EM RESERVATÓRIO DE GRANDE


PORTE DESTINADO À USOS MULTIPLOS, ESTUDO DE CASO: UHE
NOVA AVANHANDAVA (SÃO PAULO, BRASIL)

Marcus Vinícius Estigoni1, Renato Billia de Miranda2; Artur José Soares Matos3; Frederico
Fábio Mauad4
Resumo – Apesar da grande ocorrência de água no planeta, a escassez desse bem se evidência
pela sua distribuição irregular e pela alta demanda causada pelo crescimento populacional.
Visando garantir a oferta hídrica em seus diferentes usos são construídos reservatórios, estes
sempre associados a problemas de assoreamento e conseqüente perda de volume de
reservação. Toda a gestão de um reservatório e suas políticas de operação são feitas baseadas
no volume que este possui, geralmente expresso pelas curvas cota-volume e cota-área, esta
dada pelo relevo da região em que se insere. Em conseqüência da perda de volume do
reservatório causada pelo assoreamento as políticas de operação podem partir de dados
incorretos. A quantificação deste assoreamento é feita através de estudos batimétricos. Frente
a esta situação este artigo aponta à grande importância de se realizar estudos desta natureza
utilizando como estudo de caso o reservatório de Nova Avanhandava (São Paulo, Brasil) o
qual foi determinado o volume de água ou a capacidade do reservatório expressos pela cota-
volume.

Abstract – Despite the high water offer on the planet, the scarcity is evidenced for the
irregular distribution and the high demand caused by the population growth. In order to
ensure water supply offer for the different kind of uses reservoirs, that always show
sedimentation processes and consequent reservation capacity loss, are constructed. All of the
reservoir management and operating policies are made based on its volume that has often
express for volume – elevation and area – elevation curves, which is given by the local
topography. In consequence of the reservation capacity loss caused by sedimentation
processes the operating policies may be done based on incorrect data. The sedimentation
quantification is done by bathymetric surveys. Faced with this situation our study highlights
the importance of bathymetric surveys using a case study of Nova Avanhandava’s reservoir
(Sao Paulo, Brazil), which volume expressed by volume – elevation curve was determined.

Palavras chave: Batimetria, Assoreamento, Reservatório de Nova Avanhandava


Keywords: Bathymetry, sedimentation, Nova Avanhandava’s Reservoir

1
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental do Departamento de
Hidráulica e Saneamento da EESC/USP. Av. Trabalhador São Carlense, 400, 13566-570, Tel: (+55) 16 3373
8255. São Carlos-SP. E-mail: mv.estigoni@gmail.com
2
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental do Departamento de
Hidráulica e Saneamento da EESC/USP. Av. Trabalhador São Carlense, 400, 13566-570, Tel: (+55) 16 3373
8255. São Carlos-SP. E-mail: renato.miranda@usp.br.
3
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental do Departamento de
Hidráulica e Saneamento da EESC/USP. E-mail: arturjmatos@gmail.com.
4
Professor Doutor do Departamento de Hidráulica e Saneamento e Professor do Programa de Pós-graduação em
Ciências da Engenharia Ambiental da EESC/USP. E-mail: mauadffm@sc.usp.br.
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INTRODUÇÃO
A água é indispensável para a manutenção da vida na Terra, tal que todos os
organismos vivos, incluindo o homem, dependem da água para sua sobrevivência. Ela é
utilizada no consumo humano, atividades industriais, geração de energia, irrigação, lazer,
entre outros usos e é fonte de riqueza e desenvolvimento, desempenhando, assim, um papel
fundamental no desenvolvimento de qualquer sociedade.
Sua utilização até poucos anos sempre se deu sob o pensamento de dádivas da
natureza, reservatórios inesgotáveis capazes de fornecer água pura eternamente, o que numa
visão em que 70% do nosso planeta é coberto por água pode parecer perfeitamente normal.
Porém 97,5% correspondem à água salgada, 2,493% estão nas geleiras ou regiões
subterrâneas de difícil acesso, sobrando apenas 0,007% de água doce disponível em rios,
lagos e atmosfera.
Outro ponto importante a ser considerado é a má distribuição deste recurso no globo, o
qual 2/3 das reservas do mundo se localizam em somente 22 países e cerca de 47% se
encontra na América do Sul, desses 53% estão no Brasil, e também a distribuição
populacional. Gerando assim cenários adversos quanto à disponibilidade hídrica
(MACHADO 2004).
Há muito a sociedade brasileira mostra preocupação com os recursos hídricos, sendo a
primeira legislação datada de 1934, o “Código das Águas”, porém o setor hídrico se mostra
em fase de desenvolvimento, sendo que somente a partir de 1997, com a criação da “Política
Nacional de Recursos Hídricos, foi incorporado os conceitos de gestão de demanda, gestão da
qualidade das águas nos modelos de gerenciamento de recursos hídricos e gestão ambiental de
bacias hidrográficas. TUNDISI (2003) afirma que a bacia hidrográfica como unidade de
planejamento e gerenciamento de recursos hídricos representa um avanço conceitual muito
importante e integrado de ação.
Devido à recente legislação e novos padrões para gerenciamento muitas metas
propostas ainda estão em fase de implementação, tal que o levantamento de dados
hidrológicos e hidrométricos e as pesquisas na área de gerenciamento de recursos hídricos são
necessárias, e considerando que o Brasil possui aproximadamente pouco mais de 10% do total
mundial de água doce mostra-se a grande importância destes tipos de estudos.
Existem dois fatores que determinam a disponibilidade hídrica, o fator espacial, o qual
é determinado pelas características da região, como clima, solo, topografia, etc., e o fator
temporal, o qual a disponibilidade de água em uma determinada região não é constante ao
longo de um ano hidrológico, apresentando períodos bem distintos de cheia e de seca.
Considerando certa continuidade na disponibilidade de recurso hídrico o crescimento
populacional vem a gerar aumento da demanda por este bem em suas diversas utilidades
(abastecimento urbano, industrial, produção agrícola e de energia elétrica, garantia da vazão
ecológica, etc.). Tal crescimento na demanda gera conflitos sobre utilização da água e,
conseqüentemente, problemas para seu planejamento.
O fator temporal é comumente contornado com a utilização de reservatórios, os quais
armazenam o excedente de água da época de cheia de modo que este possa ser utilizado na
época de seca, sendo o volume disponível diretamente relacionado com a capacidade de
armazenamento do reservatório que por sua vez é ligado com a topografia do terreno o qual é
construído.

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Todas as políticas de operação de um reservatório e toda a sua gestão são feitas


baseadas em dados do volume do mesmo, geralmente os dados utilizados são os de projeto,
estes sendo fornecidos por levantamento topográfico anterior ao enchimento do reservatório.
RUCHIGA, C. R. et al (2005) faz a ressalva deque a curva cota-volume utilizada para o
projeto de uma barragem serve apenas como ponto de partida para o plano de gestão dos seus
recursos hídricos, além do que nem sempre são baseadas em levantamentos topográficos de
escala adequada, disponíveis na época de sua construção. Adicionalmente, a fixação da
chamada vazão regularizada de um reservatório depende de sua política de operação, que tem
como dado inicial o volume útil disponível do mesmo . Os mesmos autores ainda afirmam
que no Brasil praticamente todos os reservatórios têm feito suas políticas de operação
utilizando o volume útil do projeto do reservatório
Com o passar do tempo há a alteração do relevo do fundo do reservatório, geralmente
tendo como conseqüência a perda capacidade de armazenamento devido ao assoreamento,
sendo assim o levantamento topográfico prévio ao enchimento do reservatório não mais
condiz com a atualidade e quanto maior a idade do reservatório menor será a fidelidade do
dado pré-enchimento com a condição real, podendo vir a gerar problemas de gestão
(ESTIGONI, M. V. et al, 2009).
A revisão e atualização destes dados é feita através de estudos batimétricos, os quais
consistem no levantamento do relevo do fundo do reservatório. Estes dados além de fornecer
o volume atual (da época do levantamento de dados) que um reservatório pode armazenar ao
serem trabalhados em conjunto com os dados anteriores ao enchimento, ou com batimetrias
anteriores, fornecem dados quantitativos do assoreamento e também a previsão do tempo de
vida útil do reservatório. Tal que a realização de estudos desta natureza são de grande
importância para a gestão de recursos hídricos.

OBJETIVO
O presente trabalho vem a destacar a importância dos estudos batimétricos para a
gestão de recursos hídricos e para a determinação da política de operação de um reservatório,
seu estudo de caso contribui para o monitoramento do aproveitamento hidrelétrico e dos
múltiplos usos do reservatório de Nova Avanhandava, mais especificamente para a
consideração da influência do assoreamento na manutenção e na sua vida útil sendo fornecida
a atualização do seu volume de reservação e suas curvas cota - área e cota - volume.

HISTÓRICO DA SEDIMENTOLOGIA
SIMONS & SENTÜRK (1992) relatam que os primeiros avanços na área do transporte
de sedimentos aparentemente se desenvolveram na China, seguidos de uma fase no
renascimento da Itália, onde o início desse período marcou o fim da transferência do
conhecimento tecnológico do Oriente para o Ocidente, devido as incessantes guerras. Por
volta do ano de 1452, teve início um novo período, nesta época Leonardo da Vinci foi o
primeiro homem a ensinar o conceito de modelagem hidráulica estudando e observando a
movimentação dos sedimentos. No século XVII os princípios básicos de hidráulica estudados
até hoje foram formados por engenheiros como Castelli, Toricelli, Hooke, Pascal, entre
outros. Já no século XVIII os nomes que mais se destacam são Frizi, Bernouilli, Lagrange,
Laplace, Pitot e Chézy, indo contra a teoria de que as partículas de sedimento se frecionavam
ao longo de seu carreamento por atrito entre as mesmas. Apesar de grandes nomes como Jean-
Claude Barre de Saint-Venant, R. Manning, Reynolds e W. Froude, quem mais se destacou na

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área de sedimentologia foram J Dupuit e DuBoys, sendo Dupuit o primeiro a evidenciar em


seus estudos o efeito da variação da velocidade do escoamento no depósito das partículas.
Não são encontrados no Brasil relatos de estudos de sedimentos anteriores a 1950,
sendo o primeiro trabalho efetuado no rio Camaquã – RS, com a finalidade de fazer previsão
do assoreamento e cálculo do tempo de vida útil do reservatório da barragem de Paredão
(CARVALHO et al, 2000). No entanto publicações na área eram raras, podendo se destacar o
“Manual de Hidrometria” da CEMIG (Companhia de Eletricidade de Minas Gerais S.A.), em
três volumes, sendo o segundo referente à sedimentometria (CARVALHO, 1994).

ASSOREAMENTO DE RESERVATÓRIOS
As represas servem à humanidade por mais de 4500 anos. Com o tempo, as funções e
usos sofreram notáveis alterações havendo um avanço significativo na construção de represas
para controlar o fluxo dos rios e para garantir o armazenamento da água. As mudanças
tecnológicas foram paralelas à construção de represas cada vez maiores na intenção de se
ganhar o controle de Fontes de água cada vez maiores (STERNBERG, 2006).
O termo “assoreamento” é muitas vezes confundido com “erosão” ou “sedimentação”
que na verdade são processos que fazem parte do “assoreamento”, sendo este um termo mais
amplo. Todos os processos correspondentes à geração, transporte e deposição de sedimento é
que correspondem a definição do termo “assoreamento”.
Erosão hídrica é o resultado do desgaste abrasivo ou da desagregação por embate, feito
pela água sobre um substrato mineral com o qual tem contato. A ação mecânica ou impactante
produz partículas sólidas de diversos tamanhos e formas. O processo erosivo é precedido de
intemperismos, ação de agentes desagregadores físicos, químicos e biológicos ativos,
potencializados pelas condições em que se encontra o corpo em erosão, por exemplo, a
posição topográfica e o tipo de cobertura vegetal que o reveste. A erosão torna-se acelerada
principalmente nas vertentes mais íngremes, onde a vegetação é rala ou inexistente, com solos
arenosos e quando são aplicadas técnicas agrícolas inadequadas às condições dos terrenos
(EMMERICH e MARCONDES, 1975).
Todos os cursos d’água naturais apresentam a propriedade de carrear sedimentos e o
volume deste material depende da região drenada pelo curso d’água. O material transportado,
partículas de rochas, solos e de matéria orgânica, caracterizam o tipo dos sedimentos do curso
d’ água (BRANCO et. al, 1977).
A construção de uma barragem e a formação de seu reservatório implica em
modificações nas condições naturais do curso d’água a partir da redução na velocidade da
corrente e, conseqüentemente, na capacidade de transporte de sedimentos pelo rio,
favorecendo sua deposição nos reservatórios que, aos poucos, vão perdendo sua capacidade
de armazenar água. Portanto, seja o reservatório para fins de geração de energia, de irrigação,
de abastecimento ou de outros usos, o conhecimento da vida útil desse empreendimento
dependerá diretamente do fluxo de sedimentos no curso d’água (LIMA et. al, 2003).
Segundo CARVALHO (1994), o assoreamento gradual do reservatório, pode vir a
impedir a operação do aproveitamento. No caso de usinas hidrelétricas, isso ocorre quando o
sedimento depositado alcança a cota da tomada d’água. Essa retenção de sedimentos no
reservatório é de certa forma benéfica, pois promove a limpeza da água para seus diversos
usos, embora a sedimentação contínua possa resultar em assoreamento indesejável.

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CARVALHO (1994) cita ainda que o assoreamento dos reservatórios possa causar os
seguintes efeitos:
→ Redução do volume d’água acumulado até inviabilizar o empreendimento;
→ Efeitos sobre as estruturas; aumento de pressão na barragem, corrosão dos canais de
adução e fuga, pás das turbinas e obstrução do sistema de refrigeração;
→ Afogamento de locais de desova, alimentação e abrigo dos peixes;
→ Formação de barras (bancos de areia) alterando e dificultando as rotas de
navegação;
→ Dificuldade ou impedimento da entrada da água nas tomadas d’água de sistemas de
captação para fins agrícolas, pecuários, de saneamento urbano, industriais, etc.;
→ Alteração ou destruição da vida aquática;
→ Degradação do uso consuntivo da água.
O conjunto de técnicas utilizadas para quantificar a água de um corpo d’água é
denominado hidrometria. Dentre estas técnicas temos a batimetria, consiste em levantar dados
referenciados ou georreferenciados da profundidade ou cota da superfície do fundo de um
reservatório ou seção de um rio. No caso de reservatórios são levantados quantas seções
forem necessárias para através de técnicas de modelagem 3D possa ser calculado o volume
que este possui (ESTIGONI, M. V. et al, 2009).

BATIMETRIA EM RESERVATÓRIOS
Os dois métodos mais comuns utilizados no levantamento de reservatórios são
(ICOLD apud CARVALHO, 1994):
→ Método de levantamento de linhas topobatimétricas.
→ Método de levantamento de contornos do reservatório;
O primeiro foi brevemente explicado no último parágrafo do item 3.1 deste trabalho e
será retomado adiante com maior detalhamento. O segundo consiste em levantamento do
espelho d’água do reservatório em diferentes níveis. Este método só é aplicado em
reservatórios que são esvaziados ou deplecionados, a escolha do método dependerá da
disponibilidade do mapeamento prévio, dos objetivos de estudo, do tamanho do reservatório e
do grau de precisão desejado (CARVALHO, 1994).
O estudo batimétrico inclui o planejamento de seções batimétricas, o levantamento de
campo, o processamento das informações obtidas, a utilização de softwares para a geração de
mapas digitais, geração de isolinhas altimétricas (curvas de nível), bem como a geração de
curvas cota-área e cota-volume.
A freqüência de levantamentos nos reservatórios depende de vários fatores, sendo os
principais a sua capacidade total e a quantidade possível de depósito de sedimento devido à
carga sólida dos rios. Os pequenos reservatórios e aqueles cuja carga sólida afluente é grande
devem ser levantados com maior freqüência. Por outro lado, reservatórios cuja carga sólida
afluente fica reduzida terão a freqüência de levantamento diminuída. É o caso, por exemplo,
em que a área de drenagem foi reduzida pela construção de uma barragem a montante
(VANONI apud CARVALHO et al, 2000), ou ainda, quando a bacia contribuinte reduziu o
valor do deflúvio sólido devido a sua proteção.

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Para se otimizar a freqüência dos levantamentos deve-se utilizar de dados de taxa de


sedimentação obtidos de levantamentos anteriores e de dados de aporte de sedimentos
(YANG, C. T. et al, 2006), como exemplo o mesmo autor cita o caso do lago Fort Peck o que
inicialmente eram realizados levantamentos com 5 anos de intervalo, passando para 10 anos
até constatar-se que seu assoreamento estava substancialmente abaixo do esperado. Então os
levantamentos passaram a ser realizados com 20 anos de intervalo.

Tabela 1 - Freqüência desejável para levantamentos topo-batimétricos de reservatórios. (adaptado de


CARVALHO et al, 2000)

PORTE DO CLASSIFICAÇÃOEM FREQUENCIA DE


RESERVATÓRIO VOLUME (106 m³) LEVANTAMENTO

PEQUENO <10 2 ANOS

MÉDIO ENTRE 10 e 100 5 ANOS

GRANDE >100 10 ANOS

Nota: A classificação aí apresentada não é rígida, podendo ter diferentes conceitos em outros países

Os procedimentos para a o levantamento de dados batimétricos através de linhas


topobatimétricas mudaram muito com o avanço da tecnologia. Os métodos mais tradicionais
são bem simples, sendo feitas as medidas de profundidade com hastes graduadas ou guinchos
hidrométricos, e a localização de cada ponto de amostra é feita com a fixação de um marco de
referência e auxilio de cabos graduados que determinam um transecto ou então com
equipamentos óticos, como o teodolito, que com uma trigonometria simples fornece os dados
de localização. Os dados são coletados de forma analógica, podendo ser digitalizados para
tratamento computacional. Geralmente os métodos convencionais são bem mais demorados
que os métodos mais modernos.
Nos métodos modernos o uso de um DGPS vem a eliminar a necessidade de
amarração topográfica através de marcos em cada seção e sua utilização em conjunto com
sondas acústicas, facilita o trabalho de coleta de dados, sendo feito de forma mais rápida,
precisa e os dados são coletados em formato digital facilitando o pós-tratamento

Figura 1. a) Esquema de trabalho do ADP acoplado a computador, DGPS e alimentação


energética. b) Esquema de funcionamento do ADP (Disponível em
http://www.maine.gov/doc/nrimc/mgs/explore/marine/facts/apr04-7.htm Acesso em
12/10/2009).

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RESERVATÓRIO DE NOVA AVANHANDAVA


A usina hidrelétrica Nova Avanhandava, com 347,40 MW de potência instalada é a
segunda maior usina em operação no rio Tietê, sendo a primeira a usina de Três Irmãos,
pertencente a CESP Geração. As obras civis para sua construção foram iniciadas em
novembro de 1979 e o primeiro grupo gerador entrou em operação em dezembro de 1982.
Nas proximidades do município de Barbosa havia uma pequena usina chamada
Avanhandava, construída em 1921, cujo nome foi dado devido à cachoeira Salto de
Avanhandava, situada à jusante desta usina.

Figura 2. Vista aérea da UHE de Nova Avanhandava e localização do reservatório no estado


de São Paulo (Fonte: http://www.aestiete.com.br Acessado em 11/10/2009).
Para possibilitar a construção de uma usina da maior porte foi necessária a desativação
da pequena usina Avanhandava e o local escolhido para a usina Nova Avanhandava estava 25
km rio abaixo denominado Porto Rui Barbosa.
A formação do reservatório teve como conseqüência uma grande transformação
naquele trecho do rio Tietê, provocando o desaparecimento de Salto de Avanhandava, que
ficou submerso pelas águas de reservatório. A Eclusa de Nova Avanhandava foi inaugurada
em 1991, e foi a primeira construída com duas câmaras, interligadas através de canal
intermediário.
A Eclusa é o meio utilizado para que embarcações que navegam pela hidrovia Tietê –
Paraná possam vencer o desnível de montante / jusante ou vice-versa, passando de um lado
para o outro, permitindo o trafego normal de alimentos entre as regiões centro-oeste e sudeste
através da utilização do transporte hidroviário.
A UHE de Nova Avanhandava atualmente pertence a concessionária AES Tietê, sendo
toda a descrição apresentada neste capítulo até este parágrafo fornecida integralmente pela
concessionária, disponível no site http://www.aestiete.com.br.
Apesar de inicialmente possuir a finalidade de geração hidrelétrica, atualmente o
reservatório atende os usos múltiplos da água, sendo utilizada para abastecimento público,
irrigação, lazer, esportes aquáticos, navegação, pesca, etc.

ACOUSTIC DOPPLER PROFILER – ADP


O ADP (Acoustic Doppler Profiler) é um aparelho utilizado para medir a vazão dos
cursos d’água através do Efeito Doppler. Ele também pode ser utilizado para medir o seu
movimento com relação ao fundo do rio e a distribuição dos sedimentos em suspensão na
seção de medição. É um instrumento que transmite ondas sonoras através da água. As
partículas transportadas pela corrente de água refletem o som de volta para o instrumento que

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percebe o eco através de sensores, fazendo com que ele reconheça as diferentes profundidades
e as velocidades das respectivas linhas de corrente através do efeito Doppler.

Sua aquisição de dados é feita através do software River Surveyor (Figura 3), nele são
fornecidos dados de intensidade de sinal refletido na coluna d’água, temperatura, velocidade
de fluxo, perfil batimétrico e vazão. Para o presente estudo só é utilizado os dados
batimétricos.

Figura 3. Apresentação de uma seção transversal de Nova Avanhandava pelo River Surveyor

DIFFERENTIAL GLOBAL POSITIONING SYSTEM (DGPS) – GS20


Para o posicionamento planimétrico (bidimensional) da embarcação será utilizado
receptor GPS Leica Geosystems GS20, PDM (Professional Data Maper), recebendo correções
diferenciais (DGPS). O sistema GS20 constitui uma solução GPS/GIS completa, integrando o
receptor e a antena GPS em um único módulo portátil de aquisição de dados, Figura 4.

a) b)

Figura 4. –a) GS20 da Leica (Fonte: http://www.leica-geosystems.com acessado em


11/10/2009); b) funcionamento de um GPS.

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Para obter coordenadas de pontos no terreno de forma remota, usa-se atualmente a


técnica do GPS. Esta técnica, inicialmente de uso militar e atualmente liberada para uso civil
(com restrições), consiste no rastreamento, recebimento e registro de sinais de satélites
específicos. Estes sinais são processados em combinação com determinados parâmetros para
calcular as coordenadas de um ponto no terreno.

PLANEJAMENTO, LEVANTAMENTO E PROCESSAMENTO DOS DADOS


BATIMÉTRICOS
O levantamento de campo foi feito seguindo a metodologia proposta por CARVALHO
(1994) e CARVALHO et al (2000), que consiste em traçar seções transversais ao eixo
principal do reservatório distantes 1cm entre si delimitadas em folhas topográficas, sendo o
espaçamento dependente da escala das cartas, o presente estudo utilizou as cartas topográficas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE na escala 1:50.000, seções espaçadas
em 500m, totalizando 238 secções (Figura 5).

Figura 5. Planejamento das seções batimétricas.


O pós-processamento das informações coletadas tem o objetivo de se analisar os dados
obtidos eliminar dados anômalos e filtrar as informações necessárias à elaboração dos mapas
e à futura geração dos polinômios.

Todos os dados desnecessários para este estudo (velocidade de fluxo, temperatura,


etc.) são descartados permanecendo somente dados de latitude, longitude e profundidade,
sendo os dados de profundidade transformados em dados altimétricos através da subtração do
valor de cota do nível d’água do reservatório no dia em que o dado foi aquisitado e a

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profundidade respectiva. As informações são então analisadas detalhadamente para verificar a


existência de pontos discrepantes, e estes são corrigidos através do software ViewADP.

Os mapas com curvas de nível e os MDTs (Modelo Digital do Terreno) foram gerados
em um software destinado a trabalhos de topografia, projeto ou construção denominado
TopoGRAPH 98SE, desenvolvido pela empresa brasileira char*Pointer Informática. Os dados
de entrada são os pontos de cada transecto e do contorno da represa, todos com informações
de cota, latitude e longitude.

A partir do modelo numérico de terreno obtido através do TopoGRAPH, foram


geradas as curvas cota-volume. Calculou-se o volume de aterro para cada cota num intervalo
de 10 em 10 cm a partir da cota mínima. Os dados da cota e volume foram inseridos em uma
planilha eletrônica na qual foi feito o ajuste da curva polinomial de forma a se encontrar a
melhor correlação. As curvas cota-área também foram geradas de maneira análoga sendo o
espaçamento das curvas de nível 1m (um metro) a partir da cota mínima.

RESULTADOS
Para a geração do MDT da represa de Nova Avanhandava, foram utilizados 825
pontos coletados no levantamento batimétrico e 3.064 pontos de contorno, fornecidos pela
AES Tietê. Foi feita a geração de um TIN (do inglês Triangular Irregular Network)
utilizando a triangulação de Delaunay

O volume total calculado, para a cota máxima de 358 m, é 1.884.625.882.933,50 m³ e


a área máxima é 1938847348148 m².

As tabelas 2 e 3 mostram os dados de volume e área respectivamente para cada cota,


eqüidistantes 1m (um metro) entre si, e as figuras 6 e 7 mostram as curvas cota – volume e
cota – área associada.

Tabela 2. Volume de aterro para cada cota do reservatório distantes 1m (um metro)
COTA (m) VOLUME (m³) COTA (m) VOLUME (m³) COTA (m) VOLUME (m³)

358 1884625882933.50 345 936694466661.00 332 208970075932.00


357 1787796186744.00 344 891573690091.50 331 128510751078.00
356 1673349256669.00 343 847743452351.00 330 109965939886.00
355 1547005063147.50 342 803663560291.50 329 87856760238.00
354 1448843993430.50 341 761329165998.00 328 62839774169.50
353 1369562115232.00 340 720691968893.00 327 38161590205.50
352 1296990200146.50 339 679989698624.00 326 20320474949.00
351 1233695635379.50 338 641042932243.00 325 12785963564.50
350 1178525041710.50 337 604483502328.00 324 8562532245.00
349 1123021581624.00 336 572832550872.00 323 3411895778.00
348 1073524361099.00 335 538058724755.00 322 229322694.00
347 1025544123897.00 334 472996537701.50
346 979655423751.50 333 354129168029.50

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Figura 6 – Equação e curva cota – volume.


Tabela 3. Área para cada cota do reservatório distantes 1m (um metro)
COTA (m) ÁREA (m³) COTA (m) ÁREA (m³) COTA (m) ÁREA (m³)

358 1938847348148 345 958931559285 332 280322318023


357 1830404417719 344 914457374037 331 137617833841
356 1745187955769 343 868690006146 330 119403668315
355 1601510557569 342 826796898556 329 100528211457
354 1492499568726 341 780530222027 328 75185309019
353 1405188418135 340 742128109969 327 50494239320
352 1333935812329 339 699255827817 326 25828941091
351 1260044587964 338 660723569431 325 14812008807
350 1207346682795 337 621362295055 324 10759918322
349 1149703400626 336 587604709601 323 6365146168
348 1096339762622 335 558060392143 322 458645388
347 1050708959576 334 518057057367
346 1000379288218 333 427936018036

Figura 7 – Equação e curva cota – área.

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CONCLUSÃO
O estudo e monitoramento sedimentológico em reservatórios são de extrema
importância, pois estes estão diretamente ligados à perda de volume de reservação e
conseqüentemente comprometimento da capacidade de atendimento do mesmo aos diversos
usos que dele são exigidos, como abastecimento urbano: domiciliar e industrial; usos no
campo: irrigação e dessedentação de animais; geração hidrelétrica; usos consultivos: esportes
aquáticos, lazer, navegação, paisagismo, etc.
Em países como o Brasil que apresentem uma matriz energética predominantemente
baseada em fontes hidráulicas além do planejamento de uso dos recursos hídricos o
planejamento energético e de desenvolvimento também estão atrelados a estudos desta
natureza.
O estudo através do uso de sonda acústica e tecnologia GPS foi capaz de determinar
com grande agilidade o volume do reservatório, este mesmo estudo através de métodos
tradicionais utilizando equipamentos topográficos e guinchos hidrométricos neste nível de
detalhamento que se mostra inviável devido ao tempo que seria gasto e conseqüentemente
custo de trabalho de campo. Evidenciando assim a grande evolução que estes equipamentos
proporcionaram no campo da hidrometria.
Quando é feita uma batimetria em um reservatório que possui dados da topografia do
terreno do reservatório anterior à seu enchimento ou dados de batimetrias anteriores pode ser
feito a quantificação do assoreamento pela diferença volumétrica entre elas, porém este não é
o caso. O reservatório de Nova Avanhandava localiza-se em uma região onde havia uma
antiga usina hidrelétrica, UHE Avanhandava, e os dados de topografia desta antiga usina
foram perdidos, tal que não se pôde determinar o volume assoreado.
Fica desta forma a recomendação de que sejam feitos novos levantamentos
batimétricos em curto intervalo e tempo, máximo de 5 (cinco) anos, visando além de atualizar
os dados de volume do reservatório, determinar a taxa de assoreamento, para que então seja
definido um intervalo de tempo ótimo entre batimetrias.

AGRADECIMENTOS
A empresa AES – Tietê pelo apoio do programa P&D, ciclo 2003/2004.
A pró-reitoria de pós-graduação da Universidade de São Paulo, USP, por apoiar a
apresentação deste trabalho junto ao IX SEREA - Seminario Iberoamericano sobre
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