Quanto mais se recua na história da humanidade, mais se constata a relação de
dependência humana das condições naturais. O homem primitivo era essencialmente coletor e retirava da natureza o básico para sua sobrevivência, seja através do cultivo rudimentar ou da domesticação de animais. Essas atividades desenvolvidas tinham relação direta com as condições do clima, cuja variação obrigava os homens a buscarem locais adequados à sua sobrevivência. As regiões ribeirinhas ofereciam tudo que era necessário: água abundante, pastos mais ou menos perenes e pesca fácil. Segundo Coulanges, as rotas das tribos nômades não eram determinadas pelos hábitos dos animais de caça, e sim por locais adequados ao pastoreio. Nessa fase do desenvolvimento da humanidade, a família era a única forma de sociedade existente e podia contar em seus quadros com milhares de pessoas. A agregação entre os membros dessa família era a religião. Cada família cultuava seus deuses e o homem só adorava as divindades domesticas
A associação de duas famílias dava origem a um grupo.
Não é claro a existência de consangüinidade entre os membros de uma família,
pois irmãos eram os que partilhavam crenças semelhantes. A união de famílias obrigava à criação de uma divindade comum às duas famílias envolvidas e superior ao credo doméstico. Na Frátria havia uma organização incipiente (deuses, cultos, justiça e governo) calcada no modelo anterior, familiar: sociedades análogas e nascidas umas das outras por um modelo de federação. O autor insiste na tese de que essas associações sociais não impediam a individualidade e a independência de cada família. Assim nota-se que a cidade não era um mero agregado de pessoas, mas uma confederação de diversos grupos. Coulanges lembra que os atenienses faziam parte de várias sociedades simultaneamente: família, Frátria, tribo e cidade. O processo associativo continuou a crescer e o agrupamento de fratrias gerou a tribo e a união de tribos deu origem à cidade, com seu deus comunitário e superior às divindades das tribos, fratrias e famílias. A fixação do homem à terra pressupõe a criação da propriedade e a necessidade de defendê-la dos nômades e dos que não tinham terra. A saída foi a associação de famílias e tribos. Do acampamento de barracos, surgiu a aldeia. Por volta de 5.000 a.C. , na Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates) surgiram povoações as quais se pôde denominar de cidade. Os seus habitantes migraram de duma região hoje conhecida como Turquestão e eram conhecidos como sumerianos. A grande fertilidade da área possibilitou o surgimento de um número expressivo de pequenas aldeias agropecuárias o que, na medida em que a agricultura gerava um excedente, desencadeou a
Deus seja louvado. 2
necessidade de maior controle sobre a utilização dos rios. No século seguinte, essas aldeias se desenvolveram numa complexa sociedade mercante constituída por cidades-estados, com autonomia religiosa, política e econômica.
A importância dos sumerianos é que eles formaram a primeira sociedade
organizada da história. Eles inventaram o vidro e foram os primeiros a utilizar a roda. Inventaram a escrita cuneiforme, tendo domínio sobre a literatura, astronomia, canais de irrigação, sistema de medidas (longitude, massa, área e volume), geometria e aritmética.
Motivados pelas guerras freqüentes entre as cidades-estados, eles inventaram as
cidades fortificadas aprimorando a tecnologia militar. O período de maior prosperidade na região mesopotamica foi o do império acadiano, quando ocorreu a formação de grande exército e a construção de palácios, fixando assim a concepção do modelo de cidades
Os gregos denominavam essa associação de Frátria e os romanos de Cúria.
Discordamos do autor nesse sentido. Cremos que foi preservada só uma parte da identidade do agrupamento anterior às associações. A independência e a individualidade passam a ser valores relativos, pois o sentido comunitário é superior.
Já na idade média, depois das invasões dos bárbaros e a conseqüente queda do
império romano, as cidades e o comércio perdem a importância anterior por falta de segurança. Começou um processo crescente de ruralização em que grande parte da população urbana foi viver nos campos, prevalecendo agora uma agricultura de subsistência. A dispersão para o campo não deixa de ser uma tática de guerra na luta pela sobrevivência. A terra, que antes era de interesse coletivo, passa a pertencer aos mais fortes, aos que tinham condições de guerra e de defesa. Estava criado o Burgo. As pessoas passam a viver e produzir para quem lhes protegesse, se transformando em burgueses. Em torno do ano 1000 d.C. os burgos tornam-se auto-suficientes. A agricultura prospera, com excedentes, permitindo agora a transformação dos burgos em aglomerados urbanos onde o comércio teve destaque. Para se defenderem, criaram um notável sistema de muralhas permanentemente vigiado. As ruas eram estreitas e tortuosas, que além de serem um recurso defensivo, serviam como proteção contra os rigores climáticos.