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Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará e Bolsista
Capes.
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Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Professor Assistente da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA).
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Professora Doutora na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Introdução
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Denominação utilizada no âmbito da teoria de organização do ensino por complexos de estudo para
referir-se às categorias da prática representativas dos fenômenos da realidade atual.
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EEM Francisco de Araújo Barros, no Assentamento Lagoa do Mineiro, em Itarema; EEM João dos
Santos Oliveira (João Sem Terra), no Assentamento 25 de Maio, em Madalena; EEM Florestan
Fernandes, no Assentamento Santana, em Monsenhor Tabosa; EEM Maria Nazaré de Sousa (Nazaré
Flor), no Assentamento Maceió, em Itapipoca; EEM Padre José Augusto Régis Alves, no Assentamento
Pedra e Cal, em Jaguaretama; EEM Filha da Luta Patativa do Assaré, no Assentamento Santana da Cal,
em Canindé; EEM José Fideles, no Assentamento Bonfim Conceição, em Santana do Acaraú; e EEM
Paulo Freire, no Assentamento Salão, em Mombaça.
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Para implantação dessa proposta, a base legal da Escola do Campo é a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996 e as resoluções Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002 e Resolução CNE/CEB nº 02, de
28 de abril de 2008 e o Decreto nº 7.352, de 04 de novembro de 2010. Na Lei nº 9.394, de 20 de
luta por essa política pública diz respeito à defesa do acesso universal à educação, mas
não somente. Para além do direito, trata-se da contextualização à realidade do campo,
sendo concebida pelos e não para os/as camponeses/as, na inter-relação com a ciência, o
trabalho, a cultura e as lutas sociais. Uma educação que só é possível numa perspectiva
de classe, onde a escola pública camponesa seja dirigida político e pedagogicamente
pelos seus sujeitos; formadora do homem e da mulher do campo e promotora do
desenvolvimento do território camponês, em construção e luta permanente (ESCOLA
DE ENSINO MÉDIO FLORESTAN FERNANDES, 2012).
Para o MST, a compreensão da realidade em sua complexidade constitui
uma dimensão importante da formação humana. Por isso, na sua pedagogia, faz uma
crítica à escola hegemônica na sociedade capitalista em que o conhecimento é
descontextualizado e assim, analisa que a ausência de vínculos com a realidade e a
fragmentação artificializam o conhecimento, reforçando a dicotomia entre teoria e
prática. Conhecer para transformar faz parte da pedagogia da luta social e parte-se disso
para a construção de uma escola como o lugar desse exercício da práxis social, tendo a
pesquisa como um princípio educativo. (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES
RURAIS SEM TERRA, 2004).
Essa preocupação com a relação entre conhecimento e realidade está
presente desde as primeiras elaborações do Movimento sobre educação, bem como nas
principais referências teóricas que orientam suas práticas educativas, na Pedagogia do
Oprimido, na Pedagogia do Movimento e na Pedagogia Socialista. Dessa última, tem se
inspirado na organização do ensino por complexos de estudos, donde se buscou o
recurso do Inventário da Realidade, presente nas experiências mais recentes do MST
com a educação escolar, do que se destacam as Escolas Itinerantes do Paraná e as
Escolas de Ensino Médio dos Assentamentos de Reforma Agrária do Ceará, no esforço
de reorganização do trabalho pedagógico nas escolas do campo, dentre as quais a Escola
de Ensino Médio Florestan Fernandes7.
dezembro de 1996, no art. 28. Diz que na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada
região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e
interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona
rural.
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Ver SAPELLI, FREITAS e CALDART, 2015; BAHNIUK, 2015; SILVA, 2016.
A identidade dessa escola com o conjunto de concepções, que constituem a
Pedagogia do Movimento, afirma-se em seu Projeto Político Pedagógico, segundo o
qual
A Escola de Ensino Médio Florestan Fernandes do Assentamento
Santana é um centro cultural, vinculada à luta popular que constrói e
reforça a identidade de trabalhador e de trabalhadora do campo,
incorporando o Projeto Político Pedagógico da Educação do Campo e
da Pedagogia do Movimento: Pedagogia da Luta Social, Pedagogia da
Organização Coletiva, Pedagogia da Terra, Pedagogia do Trabalho
Pedagogia da Cultura, Pedagogia da História e Pedagogia da
Alternância. (ESCOLA DE ENSINO MÉDIO FLORESTAN
FERNANDES, 2012)
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Ver conceito de Trabalho Socialmente Necessário em: SHULGIN, Viktor. N. Rumo ao politecnismo
(artigos e conferências). São Paulo: Expressão Popular, 2013.
trabalho, a organização coletiva, a mística, a cultura e a participação nas lutas sociais.
(ESCOLA DE ENSINO MÉDIO FLORESTAN FERNANDES, 2012)
Em síntese, o Inventário da Realidade, ferramenta pedagógica sobre a qual
discorremos nesse texto, tem raízes profundas que remetem à Pedagogia Socialista,
particularmente, a experiência das Escolas Comunas das primeiras décadas da
Revolução Soviética, com a teoria do Ensino por Complexos de Estudo. Esse recurso
tem comparecido, principalmente na última década, em diversas experiências de
reorganização do trabalho pedagógico em escolas do campo organizadas pelo MST,
inspirados na elaboração russa. E, na experiência cearense, onde se insere a Escola
Florestan Fernandes, é apenas um dos diversos elementos que compõem a organização
curricular dessas escolas.
Apesar disso, considerando o potencial pedagógico dessa ferramenta, o
presente artigo propõe-se tão somente a sistematização do Inventário da Realidade
como instrumento de pesquisa diagnóstica coletiva, a partir da experiência da Escola de
Ensino Médio Florestan Fernandes.
Conclusão
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12. Ed. São Paulo: Cortez,
2006.