Você está na página 1de 11

LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA

1º TRIMESTRE – 1ª SÉRIE
Prof.: Jorge Amaral
Nome: ________________________________________________ Classe: ______ Data: ____/____/______.

GÊNEROS TEXTUAIS – do narrar, do relatar e do expor

Imagem disponível em: https://alunosonline.uol.com.br/portugues/generos-textuais-orais-escritos.html; acesso em 23/06/2020

Conteúdos correspondentes no livro didático:


1. Gêneros textuais do relatar:
a. O domínio discursivo interpessoal, Capítulos 11 (a entrevista), 12 (a notícia), 13 (a carta aberta)
e 14 (o relato de experiência), páginas 156 a 204.
2. Gêneros textuais do narrar:
a. O domínio discursivo ficcional, Capítulos 15 (o conto) e 16 (a crônica), páginas 206 a 229;
3. Gêneros discursivos do expor (não consta do livro didático):
a. O texto explicativo.
_______________________________________________________________________________________________
a. Os gêneros textuais:
a. O que são?
São as diferentes formas de expressão verbal do pensamento humano, que representam as diversas
situações comunicativas orais e escritas, com as quais convivemos cotidianamente e que se concebem
como o principal requisito da produção textual.
b. Por que são importantes?
Dada sua recorrência, precisamos estar aptos acerca das particularidades linguísticas que demarcam esses
gêneros, pois conhecê-las é, sem sombra de dúvidas, essencial, mas ainda mais essencial é nos
conscientizarmos de que tais gêneros partem das chamadas modalidades textuais, arraigadas na condição
a que deve se prestar cada emissor no momento que vai produzir algo, ou seja, ele tem de saber por que
escreve, para quem escreve e como escreve, acima de tudo.
c. Quais são as modalidades textuais?
As modalidades textuais se pautam pelas intenções de narrar, descrever, argumentar, relatar ou expor
acerca de um dado assunto. (ver tabela acima)1
_______________________________________________________________________________________________
A. Gêneros textuais do narrar: o conto e a crônica

a. O que define o componente narrativo de um texto?


( ) o enredo;
( ) as personagens;
( ) o conflito;
( ) o clímax;
( ) o tempo;
( ) o espaço;
( ) o cenário

Enfim, todos esses elementos pertencem à estrutura da narrativa ficcional literária, porém, o elemento definidor
do componente narrativo de um texto, de acordo com Platão & Fiorin (1999), é a mudança de situação, a
transformação. Narrativa, nada mais é, então, do que uma mudança de estado operada pela ação de uma
personagem explícita ou não no texto.

Conforme estes autores, há dois tipos de mudança, e, consequentemente, de narrativa: o de aquisição, quando
se ganha alguma coisa (material ou não) e o de perda (quando se deixa de ter alguma coisa). Quem realiza a
transformação pode ou não ser a mesma personagem que adquiri ou perde algo. Normalmente, o texto narrativo
não apresenta uma mudança apenas. A narrativa típica apresenta, implícita ou explicitamente, quatro mudanças
de situação, sejam elas de aquisição ou de perda (Idem):
a) Aquela em que a personagem passa a ter um querer ou um dever, um desejo ou uma
necessidade de fazer algo;
b) Quando ela/ele adquire um saber e um poder, isto é, a competência necessária para fazer algo;
c) Aquela que é a mudança principal da narrativa: a realização daquilo que se quer ou se deve
fazer;
d) Aquela em que se constata que a transformação principal ocorreu e em que se podem atribuir
prêmios (geralmente para os bons) e/ou castigos (normalmente para os maus) às personagens.
Lembremos, com Platão & Fiorin, que toda narrativa é um simulacro das ações do homem no mundo. Eles nos
remetem, também, ao fato de que uma narrativa longa tem várias sequências das quatro transformações descritas
acima, como narrativas que não se entrelaçam umas às outras, mas que correm paralelas e coordenada e/ou
subordinadamente entre si.

b. Pode ocorrer narratividade em texto não narrativo?


Observe o texto abaixo:

1
DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. Gêneros textuais orais e escritos. Disponível em: https://alunosonline.uol.com.br/portugues/generos-textuais-orais-
escritos.html. Acesso em: 23/06/2020.
A abertura da economia brasileira é necessária, pois só a concorrência pode tornar as empresas
competitivas.
Apesar de ser tipicamente dissertativo, o texto acima apresenta um componente narrativo, pois sugere mudanças
de situações: passagem do fechamento à abertura da economia brasileira e da não-competitividade estatal à
competitividade das empresas.
c. O que é uma narração?
Para Platão & Fiorin, narração é um tipo de narrativa com quatro características básicas:
1. Um conjunto de transformações referentes a personagens, coletivas ou particulares, determinadas, em tempo
preciso e espaço bem configurado;
2. Opera com personagens, situações, tempos e espaços bem determinados, trabalhando, pois,
predominantemente, com termos concretos, caracterizando-se, assim, como um texto figurativo;
3. No interior da narrativa, há sempre uma progressão temporal entre os acontecimentos relatados, isto é, a
narrativa é contada através de eventos concomitantes, anteriores ou posteriores uns aos outros. O narrador
é quem define a ordem cronológica dos fatos. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, a
narração inicia pelo óbito da personagem principal e, depois, é que vem o seu nascimento, sua infância e
sua vida adulta, etc.;
4. O ato de narrar ocorre, por definição no presente, tempo que indica a concomitância em relação ao momento
da fala do narrador. O ato de narrar é posterior à história contada, a qual, por conseguinte, é anterior a ele;
daí o subsistema do pretérito (perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito e futuro do pretérito) ser o conjunto
de tempos por excelência da narração;
Observação: o narrador, pode, contudo, criar uma narração em que haja concomitância entre o tempo da
narração e o dos acontecimentos narrados, com o objetivo de simular que eles acontecendo ao mesmo tempo
em que estão sendo narrados, como na narração de um jogo de futebol, por exemplo: “Evair vai levando a
bola, passa por um, passa por dois, lança para Edmundo, que ajeita e chuta para gol.” Observe, que isso
não passa de uma simulação, já que, os acontecimentos são narrados, pelo narrador, após terem acontecido,
ainda que recentemente. Por isso o uso do sistema do presente.

Há, também, as narrativas proféticas, em que os acontecimentos narrados são vistos como posteriores à narração,
como nas previsões de horóscopo, meteorológicas e profecias, por exemplo. Mesmo neste caso, é comum o uso
do sistema do presente com valor de futuro, ou, então, imagina-se o acontecimento futuro como algo já ocorrido
e faz-se uso do subsistema do passado. Veja no diálogo entre a vidente e Camilo em ‘A Cartomante” de
Machado de Assis:
[...] Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a
escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e
bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes
latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia
consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima,
havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias,
um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar-se diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a
pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e
enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma
mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa,
e disse-lhe:
- Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
- E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não...
- A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos
dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-
las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
- As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada
aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela; ferviam
invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante
acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
- A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
- Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse a mão da própria sibila, e levantou-
se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a
despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a
mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
- Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
- Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
- Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá, tranquilo. Olhe a escada, é
escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-
se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava acima,
cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Disponível em: http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/acartomante.htm. Acesso em: 23/06/2020.

IMPORTANTE:

“Na narração, as quatro características explicadas acima (transformação de situações concretas; figuratividade;
relações de anterioridade, de concomitância e de posterioridade entre os episódios relatados e utilização
preferencial do subsistema temporal do passado) devem estar conjuntamente presentes. Um texto que tenha
só uma dessas características ou duas delas não é uma narração.”

Imagem disponível em: https://www.google.com/search?q=cartum+de+roger+blachon+&tbm=isch&ved=2ahUKEwjU8Mac3JjqAhVqBLkGHbpCDMIQ2-


cCegQIABAA&oq=cartum+de+roger+blachon+&gs_lcp=CgNpbWcQDFDusAVY7rYFYNjKBWgBcAB4AIAB7AGIAfkIkgEDMi01mAEAoAEBqgELZ3dzLX
dpei1pbWc&sclient=img&ei=kl7yXtTfKeqI5OUPuoWxkAw&bih=640&biw=1350#imgrc=f9THosAk1nmvKM. Acesso em 23/06/2020.

FIORIN, José Luiz et SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. 4ª edição, Ed. Ática, São Paulo, SP, 1999.
A.1 O conto
a. O que é?

Disponível em: https://pt.slideshare.net/maycle40/apresentao-para-o-nono-ano-conto-e-crnica. Acesso em 23/06/2020.

• “Características do conto
O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional. Cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou
imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto
tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em
conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.
• Grande flexibilidade
Por outro lado, o conto é um gênero literário que apresenta uma grande flexibilidade, podendo se aproximar da poesia
e da crônica. Os historiadores afirmam que os ancestrais do conto são o mito, a lenda, a parábola, o conto de fadas e
mesmo a anedota.
O primeiro passo para a compreensão de um conto é fazer uma leitura corrida do texto, do começo ao fim. Através dela
verificamos a extensão do conto, a quantidade de parágrafos, as linhas gerais da história, a linguagem empregada pelo
autor. Enfim, pegamos o "tom" do texto.
• Primeiros passos
Podemos perguntar também: Quem é o autor do texto? Seja na internet, numa enciclopédia ou mesmo nos livros
didáticos, é bom fazer uma pesquisa sobre o autor do conto, conhecer um pouco sua biografia. É um autor
contemporâneo ou mais antigo? É um autor brasileiro ou estrangeiro? O conto quase nunca é publicado isoladamente.
Geralmente ele faz parte de uma obra maior. Por exemplo, o conto "Uma Galinha", de Clarice Lispector, faz parte do
livro "Laços de Família".
• Seguindo adiante
Depois dessas primeiras informações, podemos fazer uma leitura mais atenta do conto: elucidar vocábulos e expressões
desconhecidas, esclarecer alusões e referências contidas no texto. Também podemos pensar no título do conto. Por que
o autor escolheu este título? Este esforço de compreensão qualifica - e muito - a leitura. Torna o leitor mais sensível,
mais esperto. O passo seguinte é fazer a análise do texto. No momento da análise o leitor tem contato com as estruturas
da obra, com a sua composição, com a sua organização interna. Para analisar o texto, é bom observar alguns aspectos
da sua composição. Algumas perguntas são muito importantes: Quem? O que? Quando? Onde? Como?
Formular as perguntas e obter as respostas ajuda a conhecer o conto por dentro: Quais são os personagens principais? O
que acontece na história? Em que tempo e em que lugar se passa a história narrada? E algo bem importante: Quem
narra? De que jeito? O narrador conta de fora ou ele também é um dos personagens? Depois dessa análise, fica mais
fácil interpretar a obra. Já temos uma base para comentar, comparar, atribuir valor, julgar. Nossa leitura está mais
fundamentada. Fica mais fácil responder à pergunta: O que você achou do conto?”
Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/conto-caracteristicas-do-genero-
literario.htm#:~:text=O%20conto%20%C3%A9%20uma%20obra,define%20pela%20sua%20pequena%20extens%C3%A3o. Acesso em 23/06/2020.

b. Procure encontrar no conto abaixo as quatro características da narração (transformação de situações


concretas; figuratividade; relações de anterioridade, de concomitância e de posterioridade, entre os episódios
relatados e utilização preferencial do subsistema temporal do passado).

Felicidade Clandestina
Clarice Lispector

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente,
informou-me que possuía “As reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato.
[...] Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. No dia seguinte fui à sua casa,
literalmente correndo. [...] Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e
que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me
tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando [...].

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da f ilha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia
seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro
a inda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida,
o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. [...] Quanto tempo?
Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de
tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. [...].

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe.
Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós
duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais
estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme
surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era
a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. [...] Foi então que, finalmente
se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica
com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse”
é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. [...] Chegando em casa, não
comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas
maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não
sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela
coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia.
Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me
na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
_________________________
LISPECTOR. Clarice. Felicidade clandestina. Disponível em:
<http://contobrasileiro.com.br/felicidade-clandestina-conto-de-clarice-lispector/>.
Acesso em: 17 abr. 2019.
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
c. Com base no conto lido, analise as afirmações a seguir e marque, com um “X” a alternativa correta. Justifique
sua resposta.
I. Por se tratar de um texto narrativo, a linguagem é dominada pela mimese2, ou seja, pela incorporação de ações
diversas desenhadas em uma trama cronológica que beira à realidade;
II. O clímax do conto tem início no trecho “Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma
tortura chinesa”;
III. A autora compara sua felicidade à uma mulher com seu amante, ou seja, uma felicidade que pode chegar ao fim,
mas na clandestinidade indefinida.
IV. A felicidade da autora é clandestina pois ela possui algo que foi pego indevidamente, isto é, sua felicidade é
ilegítima.
• São verdadeiras as alternativas:
( ) I, II e IV;
( ) I e III;
( ) II e IV;
( ) II, III e IV;
( ) n.d.a.
Justificativa:
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
d. O que você achou do conto Felicidade clandestina de Clarice Lispector?
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
A.2 A Crônica
1 O que é crônica: características, principais tipos e mais!
por Luiz Serpa | fev 7, 2018 | português

Texto contemporâneo apresenta fatos do cotidiano em linguagem simples.

Dentre os inúmeros gêneros textuais existentes, um dos mais populares e utilizados para descrever situações do cotidiano
é a crônica. Mas você sabe identificar esse tipo de texto? Conhece suas principais características?

Muito usado em textos jornalísticos publicados em jornais e revistas, é escrita com uma linguagem simples e coloquial,
que torna a leitura mais fácil e agradável. E também permite que o leitor se sinta amigo do cronista, já que o texto é
desenvolvido em tom de conversa informal.

2Mimese: substantivo feminino - 1. RETÓRICA (ORATÓRIA): figura em que o orador imita outrem, na voz, estilo ou gestos em discurso direto; 2. LITERATURA:
recriação verossímil da realidade na obra literária.
A crônica é um tipo de texto que tem prazo de validade por se tratar de um assunto contemporâneo, geralmente uma
crítica ou comentário sobre algo que está sendo debatido no momento.

• Características da crônica
Entre as principais características da crônica, é possível destacar a linguagem simples, objetiva e o texto curto. Além de
se tratar de uma abordagem que geralmente retrata temas contemporâneos.
Em seu eixo temático, retrata acontecimentos do cotidiano, sempre com um caráter crítico (sobre comportamentos
sociais, leis, instituições etc). É um gênero textual que passeia entre o jornalístico e o literário, trazendo temas reais
trabalhados de forma mais subjetiva.
A crônica é um tipo de texto que chama atenção pelo seu tom mais leve, muitas vezes irônico e humorístico, prendendo
a atenção do leitor por contar a história de forma rápida e sem grandes detalhamentos.

• A essência da crônica é:
- Trata de assuntos contemporâneos;
- Utiliza linguagem simples e coloquial;
- Faz uso de poucos ou nenhum personagem;
- Tom irônico e humorístico;
- Bastante usado no jornalismo;
- Textos rápidos e objetivos.

• Principais cronistas
O Brasil tem muitos cronistas populares. Entre os principais nomes, vale destacar os seguintes autores:
- Antônio Prata;
- Machado de Assis;
- Luís Fernando Veríssimo;
- Carlos Heitor Cony;
- Rubem Braga.
• Tipos de crônica
Apesar de se tratar de um texto narrativo-descritivo, a crônica pode ser escrita de formas diferentes e tratar os assuntos
de formas distintas. Entre os principais tipos de crônica, é possível destacar:
Crônica narrativa
A crônica narrativa sempre conta com fatos do cotidiano, acontecimentos das últimas semanas e ações em geral. O texto
conta uma história, seja em 1ª ou 3ª pessoa do singular, relacionada a diferentes fatos.
Crônica descritiva
Como o próprio nome diz, se trata de um texto descritivo sobre uma determinada situação do cotidiano, em algum local,
contendo ou não personagens. Explora ao máximo os detalhes do objeto, local, pessoa ou animal que o cronista deseja
descrever.
Crônica humorística
Essa crônica possui característica voltada ao humor, mas que usa a seu favor a ironia para entreter seu público. Na
maioria das vezes, a crônica humorística é utilizada para contar um acontecimento político, econômico ou cultural de
uma forma mais descontraída.
Crônica jornalística
Texto muito utilizado pela imprensa brasileira para retratar e refletir sobre temas da atualidade em uma linguagem um
pouco mais leve. Esse tipo de crônica possui um caráter mais narrativo e argumentativo, mas sempre trazendo a leveza
textual.
Crônica na prática
Para entender melhor como é construída uma crônica, segue abaixo um texto escrito por Antônio Prata, referência
brasileira nesse tipo de escrita. Perceba como a história transcorre de forma rápida e objetiva, com uma linguagem
bastante simples e coloquial.

Indo Embora
Antônio Prata
Como em tantas outras madrugadas, acordo com um chorinho na babá eletrônica. É a Olivia, minha filha mais velha, de
um ano e oito meses. Na maioria das vezes, ela vira pro lado e volta a dormir, sozinha. Em algumas noites, contudo -e
é o caso desta aqui-, ela senta no berço e começa a gritar “Papai! Papai! Papai!” ou “Mamãe! Mamãe! Mamãe!” até que
um de nós apareça para ouvir suas reivindicações.
São dois filhos, duas babás eletrônicas, cujos sinais se embaralham, de modo que não ouço bem se é “Papai!” -e serei
eu a sair tropeçando pela noite fria- ou “Mamãe!” -e caberá à Julia explicar que não é hora de mamar, nem de ir pra
escola, nem de brincar com o Senhor Batata, nem de ouvir Galinha Pintadinha, mas hora de dormir.
“É papai ou mamãe?”, balbucio, de olhos fechados, ao que minha mulher, sem nenhuma compaixão, sem nem sequer
segurar a minha mão ou fazer um cafuné preparatório, dispara: “É ‘Arthur'”. Uma espada samurai atravessa o meu peito.
É claro que eu sabia que esse dia iria chegar: o dia em que aquele bebezinho lindo que embalei em meus braços, na
maternidade, aquele serzinho indefeso que eu trouxe pra casa, a 30 km/h, com pisca alerta ligado, pela Raposo Tavares,
aquele bumbunzinho rechonchudo que tantas vezes limpei, aqueles olhões deslumbrantes diante dos quais expliquei
“esse é o leão”, “essa é a lua”, “esse é o manjericão”, “essa é a chuva”, iriam me trocar por outro homem. Achava,
porém, que esse dia só viria lá por 2030 -2027, na previsão mais pessimista.
Pensando bem, nem havia pessimismo na previsão. Imaginava, não sei se do alto do meu narcisismo ou do fundo da
minha ingenuidade, que iria encarar tal dia com satisfação. Afinal, eu haveria criado minha filha para o mundo. Que ela
saísse por aí se apaixonando e namorando seria um sinal da sua saúde e do nosso acerto.
Um pai enciumado? Coisa mais anos 1950 -e, no entanto, meus amigos, quando descubro que não é a mim que ela
implora para salvá-la do escuro e da solidão, mas ao Arthur, colega da escola – um rapaz mais velho, diga-se de
passagem, já beirando os três anos- um nó de marinheiro se forma na minha garganta.
Estirado na cama, trêmulo, me dou conta de que, nas últimas semanas, ela já vinha dando sinais daquela paixão, e, pior,
eu os vinha recebendo com patente irritação. Eu pegava o “Marcelo, Marmelo, Martelo”, a Olivia punha o dedo na capa
e dizia: “Arthur!”. “Não, Olivia, não é o Arthur, é o Marcelo!”. Aparecia o irmão da Peppa, na TV, ela corria até a tela,
sorrindo: “Arthur!”. “Não, Olivia, não é o Arthur, é o irmão da Peppa!”. Huguinho, Zezinho, Luizinho? “Arthur! Arthur!
Arthur!”. “Não, Olivia, eles são patos, não são o Arthur!”.
“Se você não vai, eu vou!”, resmunga a Julia, saindo da cama, surpreendentemente insensível ao meu cataclismo
emocional. Só, vendo a Olivia na telinha da babá eletrônica, compreendo que não é ciúmes o que eu sinto, é solidão,
uma solidão inédita e brutal: aquela menininha sentada no berço já começou a sair de casa, está indo embora, minuto a
minuto, desde o dia em que a embalei no colo, na maternidade; logo, logo, ela parte, de braços dados com algum Arthur,
depois eu fico velho, aí eu morro, então acabou-se o que era doce, ou agridoce, tão rápido, tão rápido, que coisa mais
doida é isso tudo.
e. Como você classificaria a crônica de Antônio Prata?
___________________________________________________________________________________________
• Agora que você já sabe o que é uma crônica e quais suas características, que tal escrever a sua própria crônica?
Siga as regras abaixo e desenvolva seu próprio texto:
1. Escolha o tipo de crônica que deseja escrever;
2. Decida sobre o assunto de sua crônica;
3. Faça um plano de abordagem do assunto de acordo com as características da crônica;
4. Escreva a primeira versão de sua crônica;
5. Faça a revisão gramatical de seu texto;
6. Peça para alguém ler o seu texto;
7. Faça as correções e adaptações finais e escreva a versão final de sua crônica.
8. Publique sua crônica no Google Sala de Aula.
BOA SORTE!

Utilize aqui para fazer o plano/rascunho de sua crônica:

Disponível em: https://www.stoodi.com.br/blog/2018/02/07/generos-textuais-cronica-e-suas-principais-


caracteristicas/#:~:text=Entre%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20da,que%20geralmente%20retrata
%20temas%20contempor%C3%A2neos.&text=%C3%89%20um%20g%C3%AAnero%20textual%20que,trabalhados
%20de%20forma%20mais%20subjetiva. Acesso em 23/06/2020.
_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________

Você também pode gostar