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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARAGUAÍNA

ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

REVISÃO DE LITERATURA
MORMO

Juliana Rabelo de Souza Dias

ARAGUAÍNA/TO

2016
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARAGUAÍNA

ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

REVISÃO DE LITERATURA
MORMO

Juliana Rabelo de Souza Dias

Revisão de literatura apresentado ao


Supervisor do Estágio Curricular Obrigatório,
MV. Alessandro José Ferreira dos Santos,
como Atividade Avaliativa.

Orientadora: Bruna Alexandrino


Supervisor: Alessandro José Ferreira dos Santos

ARAGUAÍNA/TO

2016
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 3
2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 4
3.LEGISLAÇÃO......................................................................................................... 6
4. CONCLUSÃO......................................................................................................... 8
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 9
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1. INTRODUÇÃO

O mormo é uma enfermidade infectocontagiosa causada pela bactéria gram-


negativa Burkholderia mallei. A doença é importante para equídeos, além de ser uma
zoonose de notificação obrigatória, cujo agente etiológico é considerado uma potencial
arma biológica (LAZAR ADLER et al., 2011).
O mormo pode ocorrer em qualquer época do ano em áreas endêmicas e é
caracterizado por alta morbidade e principalmente letalidade nas áreas de foco (LIMA et
al., 2006). A doença foi descrita pela primeira vez no Brasil em 1811. Acredita-se que foi
importada da Europa pela inserção de animais infectados, provocando epizootias em
extensas áreas nacionais, acometendo muares, equinos e humanos, que apresentaram
sinais de catarro e cancro nasal (MORAES, 2011).
Responsável por alta taxa de mortalidade em equídeos, pode ser considerada uma
doença reemergente devido ao aumento do número de surtos da doença nos últimos anos.
A doença tem sido descrita em diferentes partes do mundo, porém devido a programas de
controle, foi erradica nos Estados Unidos, Europa Ocidental, Canadá e Austrália (KAHN,
2013).
Após décadas sem registros de mormo no país, houveram relatos de novos casos
nos estados de Pernambuco e Alagoas. Atualmente, a enfermidade tem sido descrita em
diversos estados brasileiros do norte e nordeste do Brasil (MOTA et al. 2000).
No Tocantins foram registrados desde julho de 2015 os primeiros casos de
Mormo, em uma propriedade no município de Formoso do Araguaia. A suspeita é de que
os animais foram contaminados após terem participado de um evento em Goiás.
O objetivo deste trabalho é descrever as características do mormo, formas de
diagnóstico e controle desta enfermidade.

2. REVISÃO DE LITERATURA

Agente etiológico: O mormo é uma doença infecciosa causada por uma bactéria
denominada Burkholderia mallei (WHITLOCK et al., 2007).
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CADEIA EPIDEMIOLÓGICA
Hospedeiro: Os equinos são considerados o reservatório natural do agente,
porém, os muares e asininos também são acometidos (WHITLOCK et al., 2007).
Felinos, camelos e caprinos também são susceptíveis à infecção e o homem é
hospedeiro acidental, sendo, geralmente, uma doença ocupacional (SCHELL et al.,
2007)
Fonte de infecção: Animais infectados e portadores assintomáticos são
importantes fontes de infecção. (RADOSTITS et al., 2010)
Vias de eliminação: Lesões pulmonares crônicas, que se rompem nos
brônquios e infectam as vias aéreas superiores e secreções orais e nasais, representam
a mais importante via de excreção da B. mallei (MOTA et al., 2006;).
Meios de transmissão: ocorre principalmente por meio da contaminação de
forragem, cochos e bebedouros por secreção oral e nasal (RADOSTITS et al., 2010).
Porta de entrada: A principal é via digestiva, mas também pode ocorrer pelas
vias respiratórias e cutânea (LEOPOLDINO, 2009). A disseminação por inalação
também pode ocorrer, mas essa forma de infecção é provavelmente rara sob condições
naturais (RADOSTITS, et al., 2010)
Patogenia: As bactérias atravessam a mucosa da faringe e do intestino,
alcançam a via linfática e, em seguida, a corrente sanguínea, alojando-se nos capilares
linfáticos dos pulmões, onde formam focos inflamatórios. Além dos pulmões, a pele, a
mucosa nasal e, menos frequentemente, outros órgãos podem estar comprometidos
(SANTOS et al., 2007).
Sinais clínicos: A doença se manifesta sob três formas e, normalmente, os
muares e asininos são acometidos na sua forma aguda, enquanto os cavalos, na forma
crônica. Na forma nasal, os animais apresentam febre alta, tosse e descarga nasal com
úlceras nas narinas, podendo ocorrer úlceras e nódulos nos membros e abdome. A
forma pulmonar, mais comum nos cavalos, pode causar uma pneumonia crônica
acompanhada de úlceras na pele dos membros e mucosa nasal. A forma cutânea se
apresenta sob a forma de nódulos e úlceras na região interna dos membros com
presença ou não de secreção amarelada escura (CAMPO GRANDE, 2012)
Diagnóstico: O diagnóstico do mormo consiste na associação dos aspectos
clínico-epidemiológicos, anátomo-histopatológicos, isolamento bacteriano, inoculação
em animais de laboratório (prova de Strauss), reação imunoalérgica (maleinização) e
testes sorológicos, tais como fixação de complemento (FC), teste da hemaglutinação
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indireta (IHAT), imunoeletroforese (CIET), teste indireto do anticorpo fluorescente


(IFAT) e ELISA. A PCR é uma importante ferramenta no diagnóstico, visto que
apresenta alta especificidade, diferenciando da infecção por B. pseudomallei. Os testes
sorológicos podem apresentar resultados inconclusivos por até seis semanas após a
realização do teste de maleína (MORAES, 2011) e todos esses testes apresentam
reação cruzada com B. pseudomallei. Dessa maneira, locais onde a melioidose é
endêmica, os testes sorológicos podem resultar em falso-positivo (MOTA et al., 2006).
Oficialmente, para fins de diagnóstico e de controle do mormo no Brasil, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento recomenda somente a realização
dos testes de fixação de complemento (FC) e maleína (BRASIL, 2004).
Os animais devem ser submetidos ao teste de FC de acordo com as restrições
de trânsito, sendo a coleta do sangue e a requisição do exame realizados por médico
veterinário cadastrado. Animais reagentes ao teste que apresentem sinais clínicos da
doença devem ser considerados positivos; animais reagentes à FC sem sinais clínicos
devem ser submetidos ao teste da maleína para conclusão do diagnóstico, sendo
necessários dois testes com intervalo de 45-60 dias para considerar o animal negativo.
Equídeos não reagentes à FC e que apresentem sinais clínicos da doença podem ser
submetidos ao teste da maleína (BRASIL, 2004).
Fixação de complemento: apresenta alta sensibilidade e boa especificidade,
baseia-se na detecção de anticorpos específicos contra a B. mallei que podem ser
observados uma semana após a infecção, contudo alguns estudos demonstram que o
melhor período para a realização do exame situa-se entre 4-12 semanas após a
infecção (MOTA, 2006). Esse teste identifica os animas que não tem aparência clínica
e aqueles infectados na fase crônica (FALCÃO, 2013).
Teste da maleína: tem sido o melhor teste para diagnóstico a campo e
programas de controle e erradicação do mormo. É limitado em relação à sensibilidade,
especificamente em casos avançados da doença. Foram descritas reações cruzadas
entre B. mallei e Streptococcus equi, resultando em reações falso-positivas. É
inoculado 0,1 mL de maleína por via intradérmica na pálpebra inferior do animal,
realizando a leitura após 48 horas. O resultado é considerado positivo quando
apresentar edema palpebral com presença ou não de secreção purulenta (MORAES,
2011).
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É necessário realizar o diagnóstico diferencial para doenças como: linfangite


epizoótica, linfangite ulcerativa, esporotricose, melioidose e outras causas de
pneumonia (RADOSTITS, 2010).
Tratamento: Como consequência da medida de defesa sanitária que é de
sacrifício dos animais acometidos, o tratamento não é recomendado (SANTOS, 2006)
Prevenção e controle: Como não há tratamento e vacina contra o mormo, o
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) recomenda, como
medidas de profilaxia e controle, a interdição de propriedades com foco confirmado da
doença para saneamento e a eutanásia dos animais positivos por profissional do
serviço de Defesa Sanitária. O controle de trânsito interestadual e participação em
eventos hípicos, de equídeos provenientes de estados onde há comprovação da
existência da doença, deve ser feito acompanhado de exame negativo para mormo,
obedecendo-se o prazo de validade e que estes não apresentem sinais clínicos de
mormo (BRASIL, 2004).
Os processos de erradicação da doença compreendem, que os animais positivos
devem ser submetidos à eutanásia e as áreas de foco, ou seja, o local de criação e as
instalações devem ser submetidos à quarentena, com limpeza e aplicação de
desinfetantes eficazes contra o agente. (SANTOS, 2006; MOTA, 2006).
Os materiais contaminados, como cama, alimentos, feno e silagem, entre
outros, devem ser enterrados ou queimados e todos os equipamentos e utensílios,
eliminados ou desinfetados com cloreto de benzalcônico, hipoclorito de sódio, iodo,
cloreto de mercúrio em álcool ou permanganato de potássio (SANTOS, 2006).
As carcaças devem ser enterradas ou queimadas. Quando possível, os animais
suscetíveis devem ser mantidos distantes desses locais contaminados por vários meses
e de acordo com o Código Zoosanitário Internacional no caso de trânsito de animais é
necessário prova negativa para o teste, sendo realizado 15 dias antes da viagem
(SANTOS, 2006).

3. LEGISLAÇÃO

A Instrução Normativa nº 24, de 5 de abril de 2004, discorre sobre as normas para o


controle e a erradicação do mormo. Dentre essas normas, estabelece a Prova de Fixação
do Complemento (FC) como método de diagnóstico para a enfermidade. O FC somente
poderá ser realizado em laboratório oficial ou credenciado, terá validade de 180 dias para
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animais de propriedades consideradas monitoradas e 60 dias para os demais casos


(BRASIL, 2009).
Os animais reagentes a prova de FC, poderão ser submetidos a teste complementar de
diagnóstico (teste da maleína), nas seguintes condições: animais reagentes ao teste de FC
e que não apresentem sintomas clínicos da doença; animais não reagentes no teste de FC e
que apresentem sintomas clínicos da doença, e em outros casos em que o Departamento de
Defesa Animal julgar necessário (BRASIL, 2009).
Após a aplicação da maleína, os animais que apresentarem reação inflamatória
edematosa palpebral, com secreção purulenta ou não, serão considerados positivos;
animais que não apresentarem reação deverão ser retestados num prazo de 45 a 60 dias
após a primeira maleinização; e os que permanecerem sem reação após a segunda
maleinização terão diagnóstico negativo e receberão atestado emitido pelo serviço de
defesa oficial, valido por 120 dias (BRASIL, 2009).
Propriedades consideradas foco, ou seja, que apresentem um ou mais animais com
diagnóstico positivo, será imediatamente interditada, os animais serão sacrificados,
enterrados ou incinerados no próprio local, a propriedade será submetida a regime de
saneamento e todos os equídeos restantes serão submetidos a testes de diagnóstico para
mormo (BRASIL, 2009)

Trânsito e eventos pecuários


Para os animais participarem de eventos pecuários é obrigatório apresentar a Guia de
Trânsito Animal (GTA), exames negativos de Mormo. Mesmo nos casos em que os
equídeos são provenientes de estados considerados livre da doença, mas com destino a
eventos com aglomerações de animais faz-se necessária a apresentação do exame negativo
para a doença. O exame tem validade de 60 dias e deve ser realizado por um médico
veterinário cadastrado na Superintendência Federal da Agricultura (BRASIL, 2009).
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4. CONCLUSÃO

O mormo é uma doença infectocontagiosa grave, que acomete equídeos e pode


acometer o homem.
As medidas de prevenção são de suma importância e torna-se indispensável para
que sejam evitadas perdas econômicas com tratamento. Deve ser realizado o
monitoramento dos rebanhos, como a identificação e sacrifício dos animais infectados
e a interdição de propriedades com focos comprovados da doença.
Outras medidas de prevenção devem ser adotadas para evitar a disseminação do
agente nas criações como: isolamento dos animais com sinais clínicos sugestivos da
doença até a confirmação do diagnóstico. Aquisição de animais de propriedades
comprovadamente livre da doença, quarentena dos animais adquiridos de outras
criações e desinfecção das instalações são essenciais para evitar a disseminação da
doença.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual de Legislação:


programas nacionais de saúde animal do Brasil / Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Departamento de Saúde Animal. –
Brasília: MAPA/SDA/DSA, 2004.

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programas nacionais de saúde animal do Brasil / Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Departamento de Saúde Animal. –
Brasília: MAPA/SDA/DSA, 2009.

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