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EXCELENTÍSSIMO SR.

DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA COMARCA DE X – XX
X, brasileiro, solteiro, estudante de doutorado, titular da carteira de identidade X,
inscrito no CPF sob o n.o X, residente e domiciliado na X, bairro X, X – XX, CEP X,
endereço eletrônico X, vem, por meio desta, propor
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
em face de
X, sociedade empresária limitada, inscrita no CNPJ sob o n.o X, com sede na X, bairro
X, na cidade de X – XX, CEP X, endereço eletrônico X e
X, sociedade empresária limitada, inscrita no CNPJ sob o n.o X, com sede na X, bairro
X, na cidade de X – XX, CEP X, sem endereço eletrônico no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica.

Preliminarmente
Da Gratuidade de Justiça
Ex.a, sou estudante de doutorado, não auferindo renda trabalhista. Desta forma não
possuo condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios sem prejuízo do meu sustento, pelo que requeiro os benefícios da Justiça
Gratuita, em todas as esferas de jurisdição, assegurados pelo Art. 5.o do Código de
Proteção ao Consumidor. Para tanto, acosto declaração de hipossuficiência (anexo
hipossuficiência.pdf) e também a declaração de bolsista do programa de doutorado
(anexo bolsista.pdf).

1 Dos Fatos
Em 26 de Abril de 2019, às 11:51 da manhã, pedi meu almoço no aplicativo para celular
fornecido pela primeira Ré. Tendo sofrido um acidente de trânsito no domingo anterior
(anexo brat.pdf), fui hospitalizado e tive meu braço direito imobilizado (anexo
bam.pdf). Dessa forma, minha necessidade de obter a refeição entregue pronta era
grande nesse dia.
Pedi o item CARNE ASSADA AO MOLHO MADEIRA + FRITAS + ARROZ +
FEIJÃO, oferecido pela segunda Ré pelo valor de R$ 15,40 mais taxa de entrega no
valor de R$ 8,90, resultando em um valor total do pedido de R$ 24,30 (anexo
pedido.pdf) (pedido n.o 4774). Pelo aplicativo, a segunda Ré prometeu realizar a
entrega em, no máximo, duas horas, ou seja, até às 13:51. Entretanto, após duas horas, a
entrega ainda não havia sido realizada. Durante essa morosa e arrastada espera, a fome
cresceu, reclamando espaço à paciência.
Assim, qual não foi minha surpresa, quando, exatamente às 13:51, horário do prazo
máximo para a entrega, recebi uma notificação na tela do celular afirmando que o meu
almoço já havia sido entregue (anexo pedido.pdf). De imediato, suspeitei que essa
notificação significaria uma desistência do restaurante de entregar, de fato, meu almoço.
Nisso, à fome, juntou-se o desespero.
De imediato, empreendi a obter o telefone da segunda Ré no aplicativo e às 13:58 liguei
para a segunda Ré. Fui atendido pela senhora X, a quem informei o meu problema: meu
almoço estava marcado como entregue no aplicativo. Fui então questionado sobre meu
nome e localização, os quais informei.
Em seguida, fui informado de que “o rapaz” já havia “saído para entrega”. Aqui, abro
um parênteses para chamar a a atenção de V.Ex.a para o fato de ter sido mencionado “o
rapaz”, no singular. Pois vejamos, considerando que, para conseguir receber o almoço
comprado da segunda Ré, o cliente precisa esperar duas horas, é de se presumir haver aí
uma grande demanda de entregas. Ou seja, prospera a segunda Ré em meio à
abundância de pedidos. Em face de tal fartura, é de, no mínimo, se estranhar a carestia
de entregadores para levar o desejado alimento aos famintos clientes.
Mais ainda, dado o triste cenário de desemprego ora enfrentado por nossa Nação,
vergonhosa seria a explicação de tal tardança se dever a ganância da segunda Ré, que,
ao buscar aumentar seus lucros de forma abominável, através da recusa em contratar
mais alguns entregadores, geraria monstruoso ônus moral, sob o qual arqueiam os
ombros de seus pobres clientes.
Além disso, a minha preocupação principal não havia sido endereçada, qual seja, se o
fato de meu almoço estar marcado como entregue no aplicativo significaria a desistência
da entrega por parte do restaurante. Para minha surpresa, a senhora X então me
perguntou, mais uma vez, meu nome, buscando confirmar se seria X. Nesse momento
senti-me bastante desamparado em termos de eficiência no atendimento. Em um
momento de solução de um problema do cliente, a atendente nem sequer o nome do
mesmo registrara. Somando à ausência da refeição, a esperança decrescente de obtê-la e
a fome crescente, a carência de eficiência e celeridade no atendimento atingiu um ápice.
Solicitando as migalhas de paciência que ainda me restavam, supus que poderia ser
melhor interromper a ligação com a senhora X, para deixá-la mais à vontade para então
esclarecer o problema na entrega do meu almoço. Perguntei-lhe então se ela preferia me
retornar a ligação em seguida. Entretanto, ela pediu um minuto e não me respondeu.
Houve uma pausa de vinte segundos, disfarçados de horas, que só foi interrompida
quando a senhora X retornou afirmando que meu almoço estava marcado como “saiu
para entrega” e que “no site deve ter sido alguma modificação”.
Vi-me, então, perante explícita inconsistência em seu discurso, pois ali, na palma da
minha mão, na tela do meu celular, bradava a notificação de entregue. Brado este ao
qual juntava-se o clamor de inconsistência pela tentativa da segunda Ré em transferir a
culpa de tal disparidade a alterações no site. Ora, um restaurante que se propõe a
realizar entregas, é de se esperar que esse seja, minimamente, capaz de informar a
situação atual de cada entrega.
Intrigado, perguntei seu cargo, ao que ela me informou que trabalhava “na parte da
doceria” e não “na parte do restaurante” e que “o restaurante está enrolado aqui, [então]
eu estou atendendo pra eles” (sic). Ora, considerando o tempo para entrega é estimado
em duas horas, cristalina é a situação do departamento de entregas de refeições:
“enrolado”. Esse novo fato, então trazido à luz, de estar “enrolado” também para os
clientes presenciais, expõe o desgastante embate enfrentado pelos clientes da segunda
Ré em obter o alimento.
Visto não se tratar de funcionária responsável departamento de entregas, pedi para me
transferir para um. Note-se aqui que a segunda Ré, além de não oferecer um serviço de
qualidade, também não possui qualquer consideração por seus clientes, pois nem sequer
atendimento telefônico adequado disponibiliza aos mesmos para solução dos problemas
tão costumeiros concernentes às entregas.
Dessa transferência, esperava falar com alguém responsável pelo departamento de
entregas, já acostumado com eventuais problemas, o qual informaria a situação do meu
almoço e uma estimativa de entrega. Para minha surpresa, fui atendido pelo senhor X,
que se identificou como proprietário. Por ser o dono, esperava um atendimento ainda
melhor, dado que esse teria mais presente ainda a importância da relação fornecedor–
consumidor. Qual não foi minha surpresa, quando o proprietário apresentou um tom,
que a meu ver, parecia tranquilo e despreocupado, dando-me a impressão de completa
ausência de empatia e consideração em relação ao problema que eu enfrentava.
Ademais, nem sequer perguntou qual seria o problema que originara a ligação.
Dada tamanha passividade, iniciei sem convite a relatar meu problema. Ele então,
prontamente, me interrompeu. Atônito, perplexo e indignado, requisitei que escutasse,
por favor, ao que ele atendeu. Ao informá-lo de que meu almoço estava marcado como
entregue, sua resposta foi “não, não tá como entregue” (sic). Acrescentou ainda que
estava marcado como “saiu para entrega”, “estou dentro do meu horário”, “dá uma
olhadinha” (sic), afirmações que eram, novamente, inegavelmente falsas, bastando olhar
para a tela de meu celular. Após fazer a única coisa que parecia lógica no momento,
apesar de inócua, qual seja, afirmar “não, senhor X, está marcado como entregue”, ao
que ele novamente discordou, solicitei que esclarecesse e me retornasse a ligação, ao
que ele acedeu, sendo a ligação terminada às 14:01.
Durante a espera pelo retorno da ligação, entre a fome e o desgaste do embate que
estava tendo que ser travado para obter o meu almoço do dia, meu raciocínio enveredou
pelo seguinte caminho: em se tratando de problema de entrega, e considerando que a
senhora X falara que o entregador já saíra, o senhor X provavelmente entraria em
contato com o entregador, possivelmente pelo celular, esclareceria o motivo da demora
e finalmente me retornaria com a situação atual do meu almoço e, eu tinha esperanças,
com uma estimativa de entrega.
Nesse ínterim, às 14:03 enviei pelo whatsapp do restaurante o print da tela mostrando
que, de fato, estava marcado como entregue (anexo pedido.pdf), supondo que, face a
evidência inquestionável, a segunda Ré parasse de afirmar que estava marcado como
saiu para entrega.
Foi quando, às 14:08, recebi o retorno da ligação. Entretanto, qual não foi a minha
surpresa quando a primeira pergunta que recebi foi se eu já havia recebido o almoço,
deixando cristalina a ausência de conhecimento da segunda Ré da situação atual do meu
almoço. Nesse momento, senti-me desconsiderado e desrespeitado. Senti-me ainda alvo
de deboche, ficando colossalmente indignado. Perguntei se aquilo era algum tipo de
brincadeira e pedi que falasse sério comigo. Ao tentar comunicar isso à segunda Ré, a
ligação foi simplesmente interrompida, demonstrando total descaso comigo e o meu
problema, além de completa incapacidade de lidar e resolver o mesmo. Senti-me
deveras injustiçado nesse momento, pois me considerava no direito de, ao menos, ser
escutado.
Já descrente de uma possibilidade de solução do problema com a segunda Ré, tentei
entrar em contato com a primeira Ré, através do chat do aplicativo. Fui atendido por X e
lhe relatei o ocorrido. Ao solicitar um número de protocolo, ela informou que seria
gerado um número de infração, o qual me passaria. Rapidamente, ela pediu desculpas
pelo ocorrido e se prontificou a resolver a situação, o que me tranquilizou bastante.
Após algum tempo ela então disse ter entrado em contato com o restaurante e que
estaria com eles ao telefone (anexo chat.pdf).
Nesse ínterim, às 14:26, a senhora X, que se identificou como proprietária na segunda
Ré, entrou em contato comigo pelo Whatsapp, afirmando que registrara a reclamação e
que o motoboy seria desligado (anexo whatsapp.pdf). Com isso, a segunda Ré lidava
com o problema através de completa transferência de culpa para o entregador. Ora, um
pobre entregador, sozinho, não pode ser unicamente responsabilizado pela demora nas
entregas, considerando a desproporcionalidade de abastada demanda frente à raquítica
estrutura disponível para atendê-la. Por outro lado, cabe aos seus gestores elaborar
estratégias, prover estrutura e realizar treinamentos de forma a oferecer um atendimento
adequado, com prazo de entrega razoável e cumprido.
Ciente da importância da identificação da segunda Ré para exercer minha cidadania e
meus direitos de consumidor, solicitei à segunda Ré, pelo Whatsapp, que informasse o
CNPJ, ao que ela me respondeu ter sido proibida pela primeira Ré de fazê-lo (anexo
whatsapp.pdf). Entretanto, quando perguntei à primeira Ré, ela negou tal ter realizado
tal proibição (anexo chat.pdf). Dada a relação entre as Rés na cadeia de consumo da
qual eu ora ocupava uma das extremidades, tentei pedir à primeira Ré que me
fornecesse o CNPJ da segunda, ao que a primeira Ré mo negou (anexo chat.pdf).
Nesse ínterim, ligaram-me duas vezes a cobrar de um número que não constava em
meus contatos. Perguntei à senhora X no Whatsapp se as ligações partiram do
restaurante e ela negou, tanto para mim (anexo whatsapp.p df), quanto para a X, que me
relatou posteriormente no chat (anexo chat.pdf).
Buscando esclarecer a origem, liguei para o número de telefone em questão, ao que um
rapaz atendeu e se identificou por X. Quando perguntei de onde seria, ele se identificou
como entregador da segunda Ré. Ora, além de a segunda Ré ter novamente faltado com
a verdade, ela estava buscando que eu arcasse com o ônus da ligação. Nesse momento,
sentindo-me imensamente injustiçado, pois, além de ser obrigado pela segunda Ré a
arcar com o colossal ônus moral do desgastante embate que se travava para obter meu
almoço, ela ainda queria que eu arcasse com o ônus material da ligação. Dessa forma,
para minimizar o custo da ligação que eu realizara e como tal ônus era de
responsabilidade da segunda Ré, interrompi a ligação tão logo identifiquei a segunda Ré
como interlocutora.
Ao final da conversa no Whatsapp com a segunda Ré, fui ainda obrigado a assistir a um
espetáculo de dramaticidade. Nele, a primeira Ré busca tecer um disfarce para o
problema da entrega através de uma complexa trama de vitimização. Nela, a segunda
Ré, aqui sem qualquer originalidade, busca novamente transferir a culpa, nesse caso,
nada menos do que para mim, seu cliente, implicando eu possuir completa intolerância a
quaisquer erros. Esqueceu-se a segunda Ré de perceber que a ruína na minha paciência
foi gerada tão somente pelas incontáveis demonstrações de mau atendimento e falta de
capacidade de lidar com o atraso na entrega do meu almoço, após mais de, no momento,
três horas de espera com fome crescente.
O discurso confuso da segunda Ré é permeado por sentença menos inocente, “Vc quer
arrumar confusão e conseguiu”, difícil de interpretar senão como ameaça à minha
pessoa, humilhando-me na posição de vítima ante algoz abnegado, em trama
psicológica abusiva e torta. Ora, ao buscar tão somente o cumprimento da promessa
feita pela segunta Ré sobre quando receberia meu almoço, sou acusado de agitador e
não de homem honrado, apesar de faminto, cumprindo meu papel cidadão ao exercer
meus direitos de consumidor.
Minhas tentativas frustradas de contato com as Rés para obter meu almoço, buscando de
todas as formas saber onde estaria o mesmo e se conseguiria recebê-lo, é caracterizado
pela segunda Ré como geração de confusão. Ou seja, em sua torpe leitura dos fatos, sou
arremessado de cliente a réu, culpável pelo embate travado tão somente para obter a
informação sobre o alimento que comprara das Rés. Todo o sofrimento e angústia
causados não estavam fundamentados tão somente nos erros da segunda Ré que
causaram o atraso na entrega, mas também no péssimo atendimento que me foi
dispensado, contestando minha dignidade e ferindo minha honra.
Foi então que, ao analisar a notificação no aplicativo, vi que o horário da suposta
entrega correspondia exatamente ao prazo máximo de entrega informado no aplicativo.
Mais ainda, exatamente no tempo limite estimado para a entrega, qual seja, 13:51, o
aplicativo acusou que a entrega havia sido realizada (anexo Screenshot_20190426-
140212_iFood.pdf). Ou seja, a segunda Ré introduzira horário irreal de entrega para não
ser punida pelo sistema organizado pela primeira Ré, que privilegia a pontualidade dos
restaurantes que, de fato, a obtêm com honesto esforço através do trabalho competente.
Sobre isso, a segunda Ré afirma, por mensagem de voz no Whatsapp, que o restaurante
não possui autonomia para informar a ocorrência da entrega.
Acontece que, não contente com a simples informação do fato ao cliente, a segunda Ré,
gratuitamente, prossegue com uma nova vitimização por mensagem de voz. Dessa vez a
vítima era o entregador, que poderia ter sofrido grave acidente de trânsito. Aqui, nota-se
que essa afirmação de completo desconhecimento sobre a situação atual do entregador é
contrária ao que a segunda Ré afirmara, de ter feito contato com o entregador
anteriormente. Pois, em sendo tal contato possível, esperava-se naturalmente que
alegada tamanha preocupação tivesse ensejado novo contato, mesmo em se tratando de
um entregador que, como afirmado repetidas vezes pela segunda Ré, seria “desligado”.
Consciente da importância do registro documental do atendimento para exercer meus
direitos de consumidor, tentei acessar o chat da primeira Ré para solicitar o número da
infração. Entretanto, após a compra ter sido cancelada, às 14:38 (anexo
Screenshot_20190426-152259_iFood.pdf), não foi possível mais acesso ao chat, pois o
botão utilizado anteriormente fora inativado. Dessa forma, enviei uma mensagem pelo
aplicativo da primeira Ré relatando o ocorrido e solicitando o n.o de infração (anexo
Screenshot_20190426-151251_iFood.pdf). Entretanto, a primeira Ré respondeu após
alguns dias (solicitação n.o 06743148) finalizando o atendimento, porém sem fornecer o
n.o de infração solicitado (anexo ifood.infração.resposta.pdf).
Foi então que, após atendimento pelo qual passei sofrível humilhação, fui arremessado
em uma trama psicológica torpe e confusa, na qual tive minha honra atacada ao ser
acusado de agitador, sofri ameaça à minha integridade, além de ter sido submetido a um
atendimento abusivo, permeado de comportamento passivo-agressivo, além da crescente
angústia da fome crescente acompanhada da persistente ausência do alimento, sem
qualquer esperança de obtê-lo e não tendo sido oferecida nenhuma solução ou apoio por
parte das Rés, registrei reclamações no PROCON–RJ (protocolo 201904020041),
(protocolo 201904020042) e no site Reclameaqui (ID 90999541).
Ademais, fui, em um primeiro momento, impossibilitado de cadastrar este processo pelo
meio eletrônico por ser obrigatória a informação do endereço da sede da primeira Ré
para o cadastro do processo. Procurando no site da Receita Federal, vi que a primeira Ré
não o informou quando de seu registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, (anexo
ifood.pdf)2 . Ainda, a primeira Ré não o informa em seu site, tampouco em seu
aplicativo. Tentei então entrar em contato por telefone com a primeira Ré para obter a
informação, essencial para exercer meus direitos. Em 29 de Abril de 2019, às 18:35,
liguei para a primeira Ré no telefone X, quando fui atendido por X, à qual solicitei o
endereço da sede da primeira Ré. X disse não saber informar, ao que pedi para ser
transferido para alguém que pudesse informar, porém ela não me transferiu. Solicitei
falar com seu supervisor e ela resistiu, alegando possuir “completa autonomia”. Insisti e
ela, após interromper a ligação e algum tempo de pausa, afirmou que seu supervisor
estava indisponível para me atender. Tentei ainda mais uma vez, em outro número de
telefone, X, no mesmo dia, às 19:07, onde X me atendeu, e a conversa foi similar à tida
no atendimento anterior, prestado por X. Nas duas ligações pedi o número do protocolo,
porém em nenhuma delas mo foi fornecido.

2 Do Direito
De início, impende ressaltar que o caso é típico de relação de consumo, por se tratar de
serviço oferecido e fornecido, mediante remuneração, no mercado de consumo,
destinado a pessoas físicas e jurídicas, senão, vejamos o disposto nos artigos 2.o e 3.o
do Código de Proteção ao Consumidor – CPC, in verbis:
Art. 2.o Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
Art. 3.o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades deprodução, montagem, criação, […],
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
[…]
§ 2.o Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

Assim sendo, deve-se incidir à espécie as disposições do CPC. Outrossim, aplicam-se


também à espécie as disposições presentes na Lei do Servico de Atendimento ao
Consumidor – SAC, constituída no Decreto n.o 6.523, de 31 de Julho de 2008, que
regulamenta a Lei n.o 8.078, de 11 de setembro de 1990, onde se define o SAC em seu
Art. 2.o, in verbis:
Art. 2.o Para os fins deste Decreto, compreende-se por SAC o serviço de atendimento telefônico das
prestadoras de serviços regulados que tenham como finalidade resolver asdemandas dos consumidores
sobre informação, dúvida, reclamação, suspensão oucancelamento de contratos e de serviços.

Mais ainda, por se tratar de serviço fundamental, o CPC prevê circunstância agravante
em seu Art. 76.o, inciso V, in verbis:
Art. 76.o São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:
[…]
V – serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos
ou ser-viços essenciais.
O Art. 6.o do CPC versa sobre os direitos básicos do consumidor, dentre os quais o
direito à adequada informação prestada pelo fornecedor, presente no inciso III, in
verbis:
Art. 6.o São direitos básicos do consumidor:
[…]
III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem;

em consonância com o Art. 9.o da SAC, in verbis:


Art. 9.o O atendente, para exercer suas funções no SAC, deve ser capacitado com as habilidades técnicas
e procedimentais necessárias para realizar o adequado atendimento ao consumidor, em linguagem clara.

Ora, a segunda Ré colocou para atendimento funcionário de outro departamento, qual


seja, doceira, resultando em, compreensível, porém onerosa ao consumidor, completa
incapacidade da mesma em fornecer informações sobre os pedidos, constituindo clara
infração aos Art. 6.o do CPC e Art. 9.o da SAC.
Mais ainda, as Rés prestaram informação incorreta sobre a situação do serviço,
afirmando-o estar falsamente entregue. Ora, o sistema organizado pela primeira Ré
premia os restaurantes pontuais dando-lhes maior publicidade no aplicativo através de
destaque na busca. Isto posto, tal marcação inverossímel realizado pelas Rés, marcando
a entrega como realizada dentro do prazo prometido, quando esta não o foi, consiste de
flagrante tentativa de obter a publicidade através da burla, infringindo o Art. 6.o, inciso
IV do CPC, in verbis:
Art. 6.o São direitos básicos do consumidor:
[…]
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais […]

Temos então que, pelas regras da primeira Ré na organização de seu serviço, onde
premia excelência com publicidade, a presença de destaque de um restaurante tem
caráter informativo para o cliente, indicando excelência em sua prestação de serviço.
Isto posto, o incorreto destaque de um restaurante, o qual presta um serviço de baixa
qualidade, induz o consumidor a erro sobre a qualidade do serviço prestado por esse,
constituindo publicação de engodo, infringindo o Art. 37.o do CPC, in verbis:
Art. 37.o É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1.o É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou
parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omis-são, capaz de induzir em erro o
consumidor a respeito da natureza, características,qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e
quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

Ademais, a solidariedade das Rés no tocante à responsabilidade sobre a publicidade


praticada, está prevista nos Art. 14.o, Art. 23.o, Art. 25.o, § 1.o, Art. 38.o e Art. 75.o do
CPC, in verbis:
Art. 14.o O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à presta-ção dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
[…]
Art. 23.o A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e
serviços não o exime de responsabilidade.
[…]
Art. 25.o […]
§ 1.o Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela
reparação prevista nesta e nas seções anteriores.
[…]
Art. 38.o O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a
quem as patrocina.
[…]
Art. 75.o Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a
esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa
jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda
ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele
proibidas.

Cumula-se a todo sofrimento que me foi perpetrado pelas Rés a ameaça à minha
integridade física, prevista no Código Penal, no Art. 147.o, in verbis:
Art. 147.o Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-
lhe mal injusto e grave:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Ademais, a acusação de eu ser agitador, quando na verdade tão somente buscava saber
da situação do meu pedido, consiste de infração ao Art. 39.o do CPC, in verbis:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
VII – repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus
direitos;

Pois vejamos o que diz o CPC em seu Art. 43.o, concernente à resistência apresentada
pela primeira Ré em me passar o número da infração correspondente ao atendimento, in
verbis:
Art. 43.o O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em
cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas
respectivas fontes.

Sobre a resistência das Rés em fornecer o CNPJ e endereço, o Art. 4.o do CPC, in
verbis,
Art. 4.o A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como atransparência e harmonia das relações de
consumo […]
I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

discorre sobre a necessidade de transparência na relação de consumo. Ora, para utilizar


adequadamente o aplicativo, em que é realizada uma transação comercial, o consumidor
é obrigado a informar seu número no Cadastro de Pessoa Física – CPF, além de uma
miríade de outras informações, de tal forma que os fornecedores se protejam de eventual
inadimplência. Entretanto, ao reconhecer a vulnerabilidade do consumidor nessa
relação, fica excluída a possibilidade de exigência unilateral de adequada identificação
em relação de consumo, pois o consumidor quedaria desprotegido. Mais ainda, o
consumidor busca proteção na Justiça, exercendo direito garantido pelo Art. 6.o, inciso
VII, in verbis:
[…]
Art. 6.o São direitos básicos do consumidor:
[…]
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;

Entretanto, para exercer adequadamente o direito de acesso à Justiça, o consumidor


necessita, obrigatoriamente, da identificação do fornecedor, o que é feito através de seu
número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ. No CPC, o inciso VIII do
Art. 6.o garante ao consumidor a facilitação ao seu direito de defesa, in verbis:
Art. 6.o São direitos básicos do consumidor:
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos […]

Como o consumidor necessita do CNPJ do fornecedor para exercer seus direitos, temos
que o CPC obriga os fornecedores a se informá-lo em toda transação comercial
realizada, em todas as suas formas, incluindo-se aqui transações comerciais feitas
através de aplicativos de celular. Dessa forma, o sistema da primeira Ré deve apresentar
o CNPJ dos restaurantes aí presentes. O mesmo se aplica à informação do endereço da
primeira Ré, informação essencial para que o consumidor exerça seus direitos
garantidos pelo CPC.
Mais ainda, a primeira Ré, ao não informar os números dos protocolos das ligações,
infringiu a SAC, que garante o direito do consumidor ao número do protocolo para
acompanhamento de suas demandas, informado logo no início do atendimento, através
de seu Art. 15.o, in verbis:
Art. 15.o Será permitido o acompanhamento pelo consumidor de todas as suas demandas por meio de
registro numérico, que lhe será informado no início do atendimento.

Na lição de Sergio Cavalieri Filho, “deve ser reputado como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e
desequilíbrio em seu bem-estar.” (in “Programa de responsabilidade civil”, Atlas, 8.a
ed., 2008, p. 83). Ora, não tendo cumprido o prazo máximo de duas horas para entregar
meu almoço, quando as contatei para me informar, as Rés me sujeitaram a um árduo
calvário que, iniciado às 13:51, culminou no cancelamento do meu pedido, quase uma
hora depois, às 14:38. Nessa espera de um total de quase três horas, fui atendido por
funcionário estranho ao departamento de entregas, fui objeto de jocosidade, contrariado
com a ilusão de ter já recebido o almoço, ameaçado, ignorado com terminação sumária
e unilateral da ligação telefônica, denegado em relação a dados dos fornecedores,
arremessado ao banco dos réus, além de ter sido abandonado pelas Rés, sem direito a
alimento, ou qualquer informação. A angústia do faminto é conhecida por todos, desde
os primeiros instantes de vida. Entretanto, o abalo sofrido por abusos psicológicos só
ocorre após o passar do tempo, precedido pela malícia dos que buscam prosperar
artificialmente. Dessa forma, sendo as Rés algozes de minha angústia, é cristalino o
nexo de causalidade entre as ações das Rés e o dano moral da angústia, sofrimento e
humilhação que me foram causados. Ainda, não sendo unicamente compensatória, a
indenização a título de danos extrapatrimoniais tem o caráter punitivo-pedagógico, o
qual visa coibir as Rés de praticar novamente conduta negligente dispensada a
consumidor.
3 Dos Pedidos
1. Seja deferida a gratuidade de justiça, nos moldes do Art. 5.o do CPC;
2. A citação das Rés para apresentar resposta aos termos da presente demanda;
3. A informação, pela primeira Ré, de seu endereço de sede no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica – Receita Federal;
4. A disponibilização, pela primeira Ré, de seu número de inscrição no CNPJ em seu
site na Internet e em seu aplicativo para celular;
5. A disponibilização, pela primeira Ré, em seu site na Internet e em seu aplicativo
para celular, dos números de inscrição no CNPJ de todos os restaurantes
participantes do sistema organizado pela primeira Ré;
6. A disponibilização, pela primeira Ré, de seu endereço para correspondên-cia em
seu site na Internet e em seu aplicativo para celular;
7. A disponibilização, pela primeira Ré, em seu site na Internet e em seu aplicativo
para celular, de endereço para correspondência dos restaurantes participantes do
sistema organizado pela primeira Ré;
8. A informação, pela primeira Ré, do n.o de infração e demais números de
identificação e registros referentes ao pedido em questão (pedido n.o 4774) e
demais protocolos referentes às ligações efetuadas na tentativa de obter os dados da
primeira Ré para este processo;
9. Seja o pedido julgado procedente para condenar as Rés, de forma solidária, a me
indenizar no valor de R$ 3.000,00 por danos morais, pautado na tríplice
fundamentação das indenizações por danos morais, Punitivo – Pedagógico –
Compensatório.
10. Inversão do ônus da prova, nos moldes do Art. 6.o do CPC.
DÁ À CAUSA O VALOR DE R$ 3.000,00
DATA
NOME

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