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A ÚLTIMA VIAGEM DE ULISSES – Jorge Luís Borges

Dante comprometido com o saber da sua época (a Idade Média), tinha uma visão
cosmológica da natureza e possuía uma religiosidade medieval, o que fez Lacan atribuir-lhe
papel fundamental por trazer através da Divina Comédia, as três formas de sublimação, a saber,
religião, filosofia/ciência e arte.
De que forma Dante opera em Lacan? Parece que sobretudo, pelo viés da arte, por
considerá-lo um poeta do amor cortês. Tanto o poeta quanto o psicanalista, trabalham com a
estrutura da linguagem e têm a ver com a verdade como causa material, diferentemente da
ciência que toma como ponto de abordagem, a causa formal.
Dante comprometido com o saber da sua época (a Idade Média), tinha uma visão
cosmológica da natureza e possuía uma religiosidade medieval, o que fez Lacan atribuir-lhe
papel fundamental por trazer através da Divina Comédia, as três formas de sublimação, a saber,
religião, filosofia/ciência e arte.
De que forma Dante opera em Lacan? Parece que sobretudo, pelo viés da arte, por
considerá-lo um poeta do amor cortês. Tanto o poeta quanto o psicanalista, trabalham com a
estrutura da linguagem e têm a ver com a verdade como causa material, diferentemente da
ciência que toma como ponto de abordagem, a causa formal.
O Inferno Dantesco encontra-se dentro da terra, espécie de abismo sobre a cidade de
Jerusalém e possui hierarquias. O pecado será maior de acordo com a violação ao que o homem
tem de divino. É formado de nove círculos, conforme podemos ver no esquema a seguir:
A importância dessa obra segundo Lacan, parte da construção poética (a arte) com um
saber de seu tempo (a ciência) e uma transposição cosmológica do pós-morte (a religião), para
tocar o campo da verdade com as construções advindas do campo do saber, mas um saber
habitado pela fé ou saber conectado à verdade. Isso possibilitou Dante falar do divino e
escaloná-lo passo a passo em direção a um ponto limite no qual Lacan situou o olhar enquanto
objeto a.
Assim, o texto da Divina Comédia permite a experiência da estrutura da linguagem com
a poesia no seu viés de amor cortês com uma relação privilegiada ao Outro e estrutura o lugar
limite ao campo do gozo, lugar eleito do brilho e da beleza. Espaço entre duas mortes do
Seminário A Ética da Psicanálise, lugar do “desejo tornado visível”.
O amor cortês conjuga o Outro como lugar da palavra e da verdade, à emergência do
objeto a. Beatriz ao conduzir Dante nas vias de retificação da razão que posteriormente o
levarão à revelação maior, figura para Lacan como a visada do sujeito de um ponto
inapreensível pela via da reflexão, uma vez que vem do campo do Outro. Ponto esse, que na
Divina Comédia, podemos localizar o objeto olhar. Enfim, Lacan nos lembra que desde Platão
e depois retomado por Heidegger, a filosofia apresenta a verdade no campo escópico, na
oposição entre aparência e essência.

“[...] a psicanálise faz alguma coisa. Faz, mas, não basta, o essencial, o ponto central é a visão poética
propriamente dita, a poesia também faz alguma coisa. Observei em outro lugar, assim de passagem, por
ter me interessado um pouco pelo campo da poesia, quão pouco temos nos ocupado com o que isto faz,
e a quem, e sobretudo, - por que não? – aos poetas”. (LACAN, 1967-68, Sem. 15, lição de 15/11)

“[...] a psicanálise não é mais engodo do que a poesia [...] A poesia se funda precisamente sobre esta
ambigüidade de que falo e que qualifico de duplo sentido. Se com efeito a língua – é aí que Saussure
tem seu ponto de partida – é fruto de uma maturação, de uma madurez que se cristaliza com o uso, a
poesia resulta de uma violência feita a este uso [...]”. (LACAN, 1976-77, Sem. 24, lição de 15/02)

“A astúcia do homem é enfrentar tudo isto, eu lhes disse, com a poesia, que é efeito de sentido, mas,
também de furo. Não há mais que a poesia, eu lhes disse, para a interpretação. É por isto que eu não faço
mais em minha técnica, ao que ela sustenta, não sou bastante poâte.”(LACAN, idem, lição de 17/5)

“Ser eventualmente inspirado por algo da ordem da poesia para intervir como psicanalistas? É bem nessa
direção que é preciso que vocês se voltem, porque a lingüística é uma ciência muito mal orientada. Ela
só se eleva a medida em que Roman Jakobson aborda, sem peias as questões de poética. A metáfora, a
metonímia só contribuem para a interpretação quando são capazes de fazer função de outra coisa, através
da qual som e sentido se unem estreitamente. É na medida em que uma interpretação justa extingue um
sintoma que podemos dizer que a verdade se especifica por ser poética.” ( LACAN, idem, lição de 19/04)

DANTE ALIGUIERI:

“O privilégio desta construção poética [a de Dante] em relação à teoria – a teoria psicanalítica, se vocês
quiserem, a teoria psicanalítica a seco – refere-se a uma certa forma de ascese privilegiada ao Outro [...]
é a do amor cortês na qual podemos localizar de uma maneira iminente os termos I( Ideal do eu), a (o
objeto a) i(a) (imagem do a, o fundamento do eu)”. ( LACAN, 1965-66, Sem. 13, lição 19/01)

“Falei a pouco de Dante e de sua topologia finalmente ilustrada em seu grande poema. [...] Ele escreveu
Vita Nova em torno do problema do desejo, e na verdade, a Divina Comédia não poderia ser
compreendida sem este preâmbulo. Mas certamente, no De Vulgaris, ele manifestou o mais vivo sentido
do caráter primeiro e primitivo da linguagem, da linguagem materna, diz ele, opondo-a a tudo que era,
em sua época, afeição, recurso obstinado a uma linguagem erudita e, para dizer tudo, primazia da lógica
sobre a linguagem.”(LACAN, idem, p.32)

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