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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PAULO HENRIQUE DUARTE DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: HASSAN MOHAMED ELSANGEDY

Associação Entre as Respostas afetivas e Hemodinâmica Cerebral


Durante o Exercício

Natal, RN
Junho/2017
PAULO HENRIQUE DUARTE DO NASCIMENTO

Associação Entre as Respostas afetivas e Hemodinâmica Cerebral


Durante o Exercício

Trabalho apresentado na Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, como parte
das exigências da disciplina de ao trabalho
de conclusão de curso II.

Orientador: Prof. Dr. Hassan Mohamed


Elsangedy

Natal/RN
2017
Sumário

1. Introdução..............................................................................................................8
2. Revisão de Literatura..........................................................................................11
2.1. Respostas psicofisiológicas ao exercício....................................................11
2.1.1. Escala de percepção de esforço................................................................11
2.1.2. Escala de Afeto..........................................................................................13
2.2. Hemodinâmica cerebral durante o exercício................................................15
2.3. Espectroscopia de infravermelho próxima (NIRS).......................................17
2.4. Córtex prefrontal e Afeto durante o exercício..............................................20
3. Materiais e métodos............................................................................................22
3.1. Participantes....................................................................................................22
3.2. Delineamento Experimental............................................................................22
3.3. Procedimentos para o Teste Incremental Máximo.......................................23
3.4. Materiais...........................................................................................................24
3.4.1. Espectroscopia de Infravermelho Próxima (NIRS)....................................24
3.4.2. Consumo de oxigênio e limiares ventilatórios............................................24
3.4.3. Percepção subjetiva de esforço.................................................................26
3.4.4. Valência Afetiva..........................................................................................28
3.5. Análise Estatística...........................................................................................29
4. Resultados...........................................................................................................30
4.1. Amostra............................................................................................................30
IC = Intervalo de confiança; IMC = Índice de massa corporal; VO 2Pico = consumo
pico de oxigênio; FCMax = Frequência cardíaca máxima........................................30
4.2. Correlação das respostas afetivas e hemodinâmica cerebral;..................30
4.2.1. Sessão completa........................................................................................30
4.2.2. Repouso até o VT.......................................................................................32
4.2.3. Entre o VT até RCP....................................................................................32
4.2.4. Após o RCP até exaustão..........................................................................33
4.3. Efeito da intensidade sobre o comportamento das variáveis
hemodinâmicas e afeto..............................................................................................33
4.4. Diferença inter-hemisféricas das variáveis hemodinâmicas......................33
5. Discussão.............................................................................................................35
6. Referências:.........................................................................................................39
Lista de figuras/tabelas

Figura 1. Teorias da percepção de esforço, adaptado de Marcora (2009)....................12


Figura 2. Comportamento das respostas afetivas de acordo com a teoria do modo-
duplo. Retirado de (Panteleimon Ekkekakis, 2013)..................................................14
Figura 3 Posicionamento da NIRS..................................................................................19
Figura 4 Princípios físicos da NIRS.................................................................................19
Figura 5. Optodo da NIRS...............................................................................................20
Figura 6. Desenho do estudo..........................................................................................23
Figura 7. Tabela com os métodos de análise de limiares sobrepostos..........................26
Figura 8. Escala de percepção de Esforço.....................................................................27
Figura 9. Escala de Sentimentos....................................................................................29
Figura 10. Correlações entre oxigenação cerebral e afeto.............................................32
Figura 11. Comportamento das variáveis hemodinâmicas e afeto.................................34

Y
Tabela 1. Característica dos Participantes.............................................................................30
Tabela 2. Correlação parcial entre hemodinâmica cerebral e afeto controlado pela
intensidade...........................................................................................................................32
Resumo

Associação Entre as Respostas afetivas e Hemodinâmica Cerebral


Durante o Exercício

Autor: Paulo Henrique Duarte do Nascimento


Orientador: Hassan Mohamed Elsangedy

Introdução: Recentemente, a percepção de afeto tem ganhado grande importância na


área da psicologia da atividade física como um meio promissor para o combate da
inatividade física. Têm-se sugerido que o córtex prefrontal exerce papel importante para
a percepção e manutenção das respostas afetivas. Adicionalmente, sabe-se que o
exercício altera a atividade cerebral, no entanto investigações sobre a assimetria frontal
e comportamento hemodinâmico do córtex prefrontal durante o exercício ainda não são
compreendidas. Objetivo: Analisar o comportamento hemodinâmico e assimetria do
córtex pré-frontal durante o exercício e verificar a sua relação com as respostas
afetivas. Métodos: 12 homens reportadamente saudáveis foram submetidos a um teste
incremental máximo (carga inicial de 20W, incremento de 25W.min -1), durante o qual
avaliou-se as respostas afetivas, percepção subjetiva de esforço, frequência cardíaca e
consumo de oxigênio em cada estágio. Adicionalmente, dois optodos da espectroscopia
de infravermelho próxima foram posicionados sobre a região de FP1 e FP2 para
avaliação hemodinâmica cerebral durante o teste. A análise estatística foi realizada
utilizando-se um teste de correlação parcial para controle por possíveis variáveis de
confusão. Resultados: A oxigenação cerebral apresentou um aumento de acordo com
a intensidade do exercício (p < 0.05), mas não houve diferenças entre os hemisférios.
Houve uma correlação negativa entre oxigenação e afeto (rs > .644, p < .05), quando
controlada pela variável de confusão (intensidade), não houve correlação entre afeto e
oxigenação (ps > 0.05), quando dividido por faixas de intensidade, as correlações
negativas diminuíram com o aumento da intensidade. Conclusão: Não houve
associação positiva entre a oxigenação do córtex prefrontal e a percepção de prazer
durante o exercício. Além disso, a oxigenação do córtex prefrontal aumenta de acordo
com a intensidade, de forma similar em ambos hemisférios.

Palavras Chave: Afeto; Oxigenação cerebral


Abstract

Association Between Affective Responses and Cerebral


Hemodynamics during Exercise.

Author: Paulo Henrique Duarte do Nascimento


Advisor: Hassan Mohamed Elsangedy

Introduction: Recently, affective valence has gained great attention from the field of
psychology of physical activity as a promising approach to cope against the high
indexes of physical inactivity. It has been suggested that the prefrontal cortex play an
important role in the perception and maintenance of pleasure. Additionally, it is reported
that exercise can modulate cerebral activity, however, investigations on prefrontal cortex
asymmetry and the hemodynamic behavior in the prefrontal cortex during exercise is still
inconclusive. Objective: To investigate the relationship between affective responses
and prefrontal cortex oxygenation, to analyze the hemodynamic behavior and prefrontal
cortex asymmetry during exercise. Methods: 12 male and healthy subjects underwent a
maximal graded exercise test. Two near infrared spectroscopy optodes were placed at
FP1 and FP2 to record cerebral hemodynamic responses during the test. Oxygen
uptake, ratings of perceived exertion and affect were measured. Results: When
controlling for the cofounding variable, there were no correlation between affect and
brain oxygenation (ps > 0.05). Cerebral oxygenation presented an increase with the
exercise intensity (p < 0.05) but there was no difference between the hemispheres.
Conclusion: No correlation was found between prefrontal oxygenation and affect during
exercise. Besides, exercise intensity increased prefrontal cortex oxygenation but with no
differences between hemispheres.

Key Words: Affect; Cerebral Oxygenation.


1. Introdução

É inegável que exercício é uma forma eficiente de melhorar a aptidão


cardiorrespiratória, cognição e diversos outros aspectos relativos a qualidade de vida
(Fiuza-Luces, Garatachea, Berger, & Lucia, 2013; Hillman, Erickson, & Kramer, 2008), e
efetivo na prevenção e/ou tratamento de diferentes tipos de doenças tais como,
doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e até para desordens psicológicas,
como a depressão (Schuch et al., 2016).
Apesar de todos os benefícios promovidos pelo exercício físico, a maioria da
população é considerado fisicamente inativa, não atingindo o mínimo recomendado
para promoção da saúde. De acordo com as diretrizes do Colégio Americano de
Medicina do Esporte (ACSM), realizar menos que 150 minutos por semana (Garber et
al., 2011) e despendem uma grande quantidade de tempo em comportamentos
sedentários (baixo gasto energético i.e. >1.5 MET). Recentemente, Sperandei, Vieira, &
Reis, (2016) investigaram a taxa de abandono de pessoas que se matricularam em
academias e verificou que, em dois meses, quase metade das pessoas abandonaram,
e uma altíssima taxa de abandono após 12 meses, chegando a 96% de abandono.
Estes dados têm apontado para a necessidade de investigar os mecanismos e
alternativas para melhorar a aderência aos programas de exercício físico (Thompson,
Gordon, & Pescatello, 2012). O reconhecimento dessa realidade estimulou o
aparecimento de estudos que exploram não somente as respostas fisiológicas, mas
também as respostas psicológicas e o papel da regulação cerebral durante o exercício
(P Ekkekakis, 2009; Tempest, Eston, & Parfitt, 2014).
Uma das teorias que parece explicar de forma plausível o problema do alto
índice de inatividade física encontrado atualmente é a teoria hedônica (Kahneman,
Diener, & Schwarz, 1999). Esta teoria explica que há uma tendência natural das
pessoas em maximizar e repetir comportamentos que promovem prazer e diminuir a
realização de atividades desprazerosas. Portanto, de acordo com a teoria hedônica,
hipotetiza-se que melhores respostas afetivas ao exercício geraria uma maior aderência
a prática de exercício. Essa teoria tem recebido suporte por estudos como o de
Williams et al. (2008), que verificaram que a respostas afetivas durante o exercício tem
associação com o tempo de prática a longo prazo. Ou seja, os participantes que
reportaram respostas afetivas mais positivas durante o exercício realizaram mais tempo
de prática após 6 meses e 12 meses. Adicionalmente, outros estudos têm ressaltado o
papel do afeto na manutenção de indivíduos fisicamente ativo (Lee, Emerson, &
Williams, 2016; Rhodes & Kates, 2015).
A fim de entender como as pessoas percebem o exercício, Ekkekakis, em sua
teoria do modo duplo (P. Ekkekakis, 2003; Panteleimon Ekkekakis, Parfitt, &
Petruzzello, 2011), investiga fatores que são responsáveis pela percepção afetiva em
diversas fases do exercício. A teoria do modo duplo postula que a intensidade do
exercício é uma das variáveis mais importante que regulam a percepção de prazer ou
desprazer durante o exercício. De acordo com essa teoria, a ação combinada entre
fatores cognitivos (cujo processamento é principalmente ligado ao córtex prefrontal) e
estímulos interoceptivos (cujo processamento é principalmente ligado a áreas
subcorticais, como a amígdala e insula) atua de forma continua na modulação da
percepção de prazer no exercício. Devido ao aumento da intensidade do exercício os
estímulos interoceptivos intensificados (atividade dos quimiorreceptores,
barorreceptores e termorreceptores) são levados por vias aferentes ao cérebro, onde
resultam em uma percepção prazer diminuída. Por outro lado, a regulação dos
processos cognitivos, pelo córtex prefrontal, é responsável por manter as respostas de
prazer positiva.
Nesse sentido, a teoria prediz que, na maioria das pessoas, as repostas afetivas
ao exercício são predominantemente positivas até o ponto do limiar ventilatório (VT),
após o VT e até o ponto de compensação respiratório (RCP), há uma heterogeneidade
nas as respostas afetivas, onde alguns indivíduos apresentam respostas positivas, e
outros negativas, por fim, após o RCP, há uma predominância nas respostas negativas.
É esperado que os fatores cognitivos tenham sua maior importância até o RCP, e, após
esse ponto de transição metabólico, os estímulos interoceptivos se intensificam,
sobrepondo os fatores cognitivos, gerando repostas de prazer diminuída. Portanto, de
acordo com esta teoria, é hipotetizado que o aumento da atividade do córtex prefrontal
durante o exercício (analisado através do comportamento hemodinâmico) pode
preservar as respostas afetivas mais positivas.
Além disso, estudos têm reportado que a assimetria na atividade do córtex
prefrontal tem influência sobre sentimentos negativos, como desprazer, ansiedade e
tensão. No estudo de Herrington et al., (2005) foi encontrado que estímulos agradáveis
geraram uma maior atividade no córtex prefrontal, especificamente no hemisfério
esquerdo, bem como diversos estudos que associam o aumento da potência espectral
de alfa (i.e. entendido como menor atividade cortical) do lado direito com estado de
tensão e afeto negativo aumentado (Mennella, Patron, & Palomba, 2017; Stewart,
Coan, Towers, & Allen, 2014). Nesse sentido, espera-se que o exercício seja capaz de
induzir alterações na atividade cortical, principalmente em intensidades próximas a
máxima onde é evidenciado uma diminuição de prazer. No entanto, estudos e teorias
têm apresentado resultados conflitantes sobre o comportamento da oxigenação
cerebral (Dietrich, 2003; P Ekkekakis, 2009; Tempest & Parfitt, 2017). Em estudo de
metanálise Rooks, Thom, McCully, & Dishman, (2010) identificaram que a oxigenação
cerebral apresenta um comportamento de “U” invertido, onde o momento na qual há
uma queda da oxigenação cerebral é equivalente ao RCP (P Ekkekakis, 2009).
Nesse sentido, o objetivo desse estudo é (I) verificar a relação entre as respostas
hemodinâmicas e afetivas ao exercício, (II) analisar as diferenças inter-hemisféricas do
córtex prefrontal durante o exercício e (III) verificar o comportamento da oxigenação do
córtex prefrontal ao exercício.
2. Revisão de Literatura

1.1. Respostas psicofisiológicas ao exercício

2.1.1. Escala de percepção de esforço

Por volta da década de 80, um novo assunto emergiu na área da educação


física, a área da psicofisiologia. A necessidade de entender como o individuo se sente
durante o exercício em relação de suas variáveis fisiológicas, foi o principal motivo para
a criação de um método na qual seja capaz de medir essa variável subjetiva. Nesse
sentido, a escala de percepção subjetiva de esforço foi criada objetivando medir o
esforço percebido pelo individuo durante o exercício (Borg, 1982). De acordo com Borg,
a percepção de esforço é uma resposta que integra uma diversidade de sinais advindos
de músculos, articulações, sistema cardiovascular e sistema respiratório.
Uma das principais características da percepção subjetiva de esforço (PSE) é a
correlação que a ferramenta apresenta com variáveis fisiológicas, como a frequência
cardíaca (r > 0.7) e lactato sanguíneo (r > 0.8) (Scherr et al., 2013). Nesse sentido, o
número selecionado na escala Borg de 15 pontos (6-20) equivaleria a frequência
cardíaca (multiplicado por 10). No entanto, em muitos casos, a PSE pode tanto
superestimar quanto subestimar a frequência cardíaca. Embora esse conceito não se
aplique em todos os casos, a ideia inicial de ser uma ferramenta para medidas
subjetivas se mostrou ser extremamente válido para comparações interindividuais.
Desde 1982, diversos autores explicam mecanismo de origem e formação da
PSE, porém, todas as explicações podem ser agrupadas em duas teorias. A teoria mais
conhecida é a teoria do feedback aferente (Hampson, St Clair Gibson, Lambert, &
Noakes, 2001), que sugere que a PSE é gerada pelo cérebro através da integração dos
estímulos interoceptivos advindos do sistema cardiorrespiratório e metabolismo
periférico em resposta ao exercício (e.g. músculos, pele, nível de lactato, etc.). A outra
teoria é conhecida como a teoria da descarga corolária, nesta teoria, que afirma que os
fatores aferentes (i.e., estímulos interoceptivos) não contribuem para a PSE e que, na
verdade, esta é formada através da comunicação de uma rede neural, onde os disparos
de potenciais de ação são transmitidos do sistema motor tanto para os músculos
quanto para o sistema sensorial (i.e., descargas corolárias). Portanto, esse disparo
corolário é usado para gerar a PSE, excluindo qualquer fonte metabólica e muscular. A
figura 1 mostra a diferença entre as duas teorias.

Figura . Teorias da percepção de esforço, adaptado de Marcora (2009).

Nesse sentido a forma padrão para o entendimento se dá pela ancoragem da


escala, no entanto, dependendo da teoria que o autor se baseie, o foco da explicação
pode alterar, onde, na teoria do feedback aferente o foco é dado na percepção dos
sinais corporais, enquanto que na teoria do descarga corolária, o foco é dado no
esforço realizado.
2.1.2. Escala de Afeto

A relação entre as características psicológicas e a prática de exercício físico, foi


extremamente importante para mudar a maneira de abordar as pesquisas na área da
educação física e exercício, saindo de uma abordagem puramente fisiológica para
entender o exercício de uma maneira integrativa entre corpo e mente. A implementação
da PSE (Borg, 1970, 1982) no contexto do exercício foi um marco no avanço da
psicobiologia da atividade física, abrindo espaço para o desenvolvimento desta área.
A proposta inicial da mensuração da PSE envolve a externalização de uma
percepção corporal integrada ao estresse físico induzido pelo exercício. No entanto, a
observação de pessoas que, embora reportem uma mesma PSE para determinado
exercício, sentem o exercício de forma diferente mostra que a mensuração de variáveis
de caráter psicológicas adicionais ainda é necessária (Rejeski, Best, Griffith, & Kenney,
1987). Nesse sentido, a escala de sentimentos (figura 7) foi criada com a proposta de
mensurar como a pessoas sentem o exercício. Embora a palavra “sentir” seja de
caráter extremamente amplo, envolvendo diversos sentimentos, a percepção resultante
desses sentimentos pode ser entendida como “boa” ou “ruim”. A escala de prazer é
uma escala bipolar de 11 pontos, abrangendo das percepções “muito ruins” até “muito
boas”. Dessa forma a escala propõe medir objetivamente percepção de prazer ou
desprazer sentida durante o exercício (Hardy & Rejeski, 1989).
Afim de entender a complexa interação entre afeto e exercício, Ekkekakis (2003)
propõe uma teoria, chamada de “dual-mode model” ou “teoria do modo-duplo”, onde foi
observado o comportamento das respostas afetivas em diferentes intensidades de
exercício. Em sua teoria, há dois fatores que podem modular a percepção de prazer do
individuo durante o exercício, que são os fatores cognitivos e estímulos interoceptivos
(estímulos advindos do corpo), esses dois fatores estão constantemente regulando a
percepção de prazer. De acordo com a teoria, a percepção de prazer se da pela
interação entre os fatores cognição e estímulos interoceptivos, desse modo, quando a
intensidade se eleva, além dos fatores cognitivos, a percepção de prazer cai.
Portanto, com o aumento gradual da intensidade, a teoria do modo duplo prediz
que as respostas afetivas seguem um padrão homogêneo e positivo até o VT, após o
VT e até o RCP, ocorre uma variabilidade da percepção de prazer, e após o RCP, as
respostas são predominantemente negativas, como mostrado na figura 2.

Figura . Comportamento das respostas afetivas de acordo com a teoria do modo-duplo.


Retirado de (Panteleimon Ekkekakis, 2013)

Posteriormente, outros estudos têm proposto a importância de investigar a


percepção de prazer sentida durante o exercício (Lee et al., 2016; Rhodes & Kates,
2015; Williams et al., 2008), baseados na teoria hedônica, que afirma que
comportamentos percebidos como prazerosos tendem a ser repetidos, em
contrapartida, aqueles percebidos como desprazerosos são evitados. Williams et al.,
(2008) realizou um estudo de caráter longitudinal, randomizado e controlado. Nesse
estudo, foi verificado as respostas afetivas a uma intensidade de exercício moderada de
31 homens adultos e inativos fisicamente (de acordo com o ACSM) e foi encontrado
uma correlação positiva entre afeto e nível de atividade física após 6 e 12 meses. De
forma mais completa, o estudo de revisão sistemática de Rhodes & Kates (2015)
corrobora com a teoria hedônica e, adicionalmente mostra que a percepção de prazer
após o exercício não se mostrou ser um bom preditor de prática de atividade física.

1.2. Hemodinâmica cerebral durante o exercício.

O cérebro é um órgão que consome muita energia, principalmente quando


relativizado à sua massa, mesmo durante períodos de descanso, e, portanto, requer um
grande e constante suporte de sangue. No entanto, o fluxo de sangue é dependente do
sistema cardiovascular e, que por usa vez, é fortemente influenciado por diversos
fatores, desde posição corporal, até uso de medicações (ex: beta bloqueadores). Dessa
forma, o cérebro possui diversos métodos de controle do fluxo sanguíneo cerebral, tais
como, fatores miogênicos, neurogênicos, metabólicos e sistêmicos (Phillips, Chan,
Zheng, Krassioukov, & Ainslie, 2015). Nesse sentido, diversos estudos têm investigado
os efeitos do exercício físico na capacidade de modular o fluxo sanguíneo
cerebral(Ogoh et al., 2014; Ogoh & Ainslie, 2009; Secher, Seifert, & Van Lieshout,
2008).
Uma das teorias iniciais mais abordadas sobre o efeito do exercício sobre o fluxo
sanguíneo cerebral é a “teoria da hipofrontalidade transiente”, proposta por Dietrich
(Dietrich, 2003, 2006). De acordo com esta teoria, os efeitos antidepressivos e
ansiolíticos do exercício físico são explicados através da diminuição da atividade de
áreas cognitivas hierarquicamente superiores (i.e., córtex prefrontal dorsolateral)
durante a realização de exercício. Dietrich propôs que essa desativação neural ocorre
em função de uma redistribuição do fluxo sanguíneo cerebral promovido pelo exercício.
Essa redistribuição ocorre devido ao aumento da atividade neuronal em áreas relativas
ao exercício (i.e., córtex motor primário, secundário, área pré-motora, córtex sensorial,
núcleos da base, cerebelo, etc.) em detrimento de áreas não relativas ao exercício e,
consequentemente, diminuição do fluxo sanguíneo para essas regiões não envolvidas
com exercício. De acordo com a teoria, a diminuição do fluxo sanguíneo ocorre de
forma “top-down”, onde o “top”, que são áreas cognitivas hierarquicamente superiores,
são as primeiras áreas a diminuírem o fluxo, e “DOWN”, que são áreas mais primitivas
e importantes para a manutenção da homeostase, por último, portanto não afetadas.
No entanto a teoria da hipofrontalidade, tem como premissa o princípio de que o
fluxo sanguíneo cerebral não se altera frente ao exercício (i.e. o cérebro tem uma
perfusão de 750mL.min-1 de sangue independente de estar em repouso ou em
exercício) (Dietrich, 2009). No entanto, diversos estudos mostram o contrario, onde
diversos fatores são capazes de alterar o fluxo sanguíneo, como, por exemplo, a
administração de ar rico em CO 2 para promover um aumento no fluxo sanguíneo
cerebral (Willie, Tzeng, Fisher, & Ainslie, 2014). Por outro lado, devido a utilização de
diferentes técnicas, tipo de exercício, intensidade e amostra utilizada, os resultados
ainda são contraditórios ou inconsistentes para responder precisamente como,
modificações na intensidade, volume e tipo de exercício são capazes de alterar o fluxo
sanguíneo para o córtex prefrontal. Um estudo de revisão sistemática (Rooks et al.,
2010) apontou que as mudanças hemodinâmicas, no córtex prefrontal, ocorrem de
acordo com a intensidade do exercício e contraria a teoria da hipofrontalidade
transiente. Onde, a oxigenação cerebral aumenta de acordo com a intensidade, no
entanto, apresentando uma queda (mas ainda apresentando valores acima do repouso)
em intensidades consideradas como “muito difícil”, apresentando um comportamento de
“U” invertido.
No estudo de Querido (Querido & Sheel, 2007), foi proposto que o aumento
regional inicial do fluxo de sangue no início do esforço é devido ao aumento da
atividade neuronal promovida pelo exercício. De acordo com Phillips (2015), esse
mecanismo é explicado através do aumento da sinalização neuronal, especificamente
pela abertura dos canais NMDA, gera um aumento do nível de cálcio intracelular, que
através de proteína quinases, ativa uma cascata metabólica resultando na produção de
oxido nítrico, que juntamente com adenosina e H+, promovem uma vasodilatação. Essa
interdependência entre atividade neuronal e fluxo sanguíneo é conhecida como
acoplamento neurovascular.
No entanto, o acoplamento neurovascular não explica completamente o
comportamento da oxigenação cerebral durante o exercício. Embora diversos fatores
como, pressão arterial, oxigenação sanguínea, débito cardíaco, temperatura e níveis de
catecolaminas influenciem no fluxo sanguíneo cerebral, evidências apontam que a
pressão de CO2 arterial tem grande influência no fluxo sanguíneo cerebral (Querido &
Sheel, 2007), onde aumento dos níveis arteriais de CO 2 gera um aumento concomitante
no fluxo sanguíneo. Nesse sentido, o aumento da concentração de CO 2 durante o
exercício eleva a oxigenação cerebral, porém, quando o individuo alcança RCP (ou
segundo limiar), caracterizado pela hiperventilação, é induzido uma a queda dos níveis
de CO2 arterial, resultando em uma diminuição no fluxo sanguíneo cerebral (Rooks et
al., 2010).
Embora diversos estudos mostrem que o a pressão sanguínea de CO2 é
fortemente correlacionada com o fluxo sanguíneo cerebral, o mecanismo não está claro
(Bain, Morrison, & Ainslie, 2014; Phillips et al., 2015; Willie et al., 2014). De acordo com
Siegel et. al. (1976), o mecanismo responsável por aumentar/diminuir o fluxo sanguíneo
é o pH sanguíneo, gerado pela pressão de CO 2. A queda do pH sanguíneo em 0.5 é
capaz de gerar uma hiperpolarização nas células endoteliais (gerando vasodilatação)
enquanto um aumento do pH promove uma despolarização (gerando vasoconstrição).
Além disso, como discutido por Rooks (2010), a diminuição do fluxo sanguíneo
cerebral pode ser um mecanismo utilizado pelo governador central para suprimir a
atividade motora, evitando níveis extremos de fadiga que ameacem a homeostase.
Dessa forma, o mecanismo de diminuição da oxigenação cerebral durante exercício em
alta intensidade parece ser consistente com a “teoria do governador central” (Noakes,
St Clair Gibson, & Lambert, 2005).

1.3. Espectroscopia de infravermelho próxima (NIRS)

A espectroscopia por infravermelho próximo, ou NIRS, é uma técnica que foi


desenvolvido inicialmente para verificar saturação tecidual, como oxímetros. No
entanto, a NIRS tem sido usado diversos propósitos, desde aplicações clinicas durante
processos cirúrgicos até para medidas funcionais. O primeiro trabalho a reportar o uso
da NIRS para medidas de oxigenação cerebral foi em 1977 (Jobsis, 1977), desde então
diversos estudos têm utilizado o NIRS para medidas indiretas de atividade neural.
Basicamente, a NIRS mede a oxigenação tecidual através da atenuação da luz,
através da diferença da luz emitida pelos emissores, e absorvidas pelos detectores, que
se encontram em distancias fixas no optodo (figura 5) (Perrey, 2008). A NIRS apresenta
dois pares de emissores de luz, que emitem luzes com dois tipos de comprimentos de
onda diferentes. Cada comprimento de onda utilizado deve ter uma maior afinidade
especifica para ser absorvida por cada molécula (oxihemoglobina e deoxihemoblobina),
e menor afinidade por artefatos, portanto quanto maior o nível de cada molécula (i.e.,
oxihemoglobina), mais luz é absorvida e menos refletida. Dessa forma, o mecanismo
que permite a aferição é realizado através da diferença entre a luz que é emitida a luz
que retorna (figura 4). Os optodos da NIRS contêm vários pares emissores de luz (cada
par com um comprimento de onda diferente) posicionados em distancias diferentes em
relação ao detector.
Um dos grandes pontos positivos da NIRS, em relação a outras medidas de
neuroimagem (e.g. eletroencefalografia, ressonância magnética), é sua baixa relação
de sinal-ruído e a liberdade de movimento, essas características são principalmente
importantes para a realização de estudos que envolvem movimento e exercícios. Por
este motivo, houve aumento do número de estudos utilizando NIRS como ferramenta
indireta de medida de atividade cerebral e neuroimagem em detrimento de outras
ferramentas mais complexas e robustas, como eletroencefalografia e ressonância
magnética funcional.
Embora a NIRS tenha se mostrado ser uma boa ferramenta para análises de
oxigenação cerebral, a NIRS apresenta limitação ao medir regiões cerebrais mais
profundas (Perrey, 2008), pois a luz tem capacidade limitada de profundidade, que é
aproximadamente a metade da distancia entre o emissor e o receptor, sendo somente
possível analisar as regiões cerebrais mais corticais.
Figura Posicionamento da NIRS

Figura Princípios físicos da NIRS.


Figura . Optodo da NIRS

1.4. Córtex prefrontal e Afeto durante o exercício.

O córtex prefrontal, particularmente a área do ventromedial do córtex prefrontal,


é uma das áreas que regulam o sistema de recompensa (Tzschentke, 2000). O sistema
de recompensa é um mecanismo cerebral extremamente importante para promover
sentimentos prazerosos e fortalecer o desejo de repetir determinada atividade que
gerou prazer. Além disso, o córtex prefrontal tem conexões neurais inibitórias com a
amígdala (Davidson, Putnam, & Larson, 2000), onde a amígdala é uma estrutura
subcortical associada a sensações negativas, experiências desagradáveis, medo e
desprazer (Davidson, 2002). Adicionalmente, a teoria do marcador somático (Bechara &
Damasio, 2005), evidência que pacientes com disfunção do córtex prefrontal
ventromedial tem prejuízo no processo de tomada de decisões. Portanto, de acordo
com a teoria do marcador somático, bem como a teoria do modo duplo, o córtex
prefrontal exerce um papel importante na regulação do comportamento.
Evidências advindas de estudos da hemodinâmica do córtex prefrontal (P
Ekkekakis, 2009; Rooks et al., 2010; Tempest et al., 2014) mostram que o exercício tem
capacidade de alterar o fluxo sanguíneo desta região, sendo que a realização de
exercício aumenta de forma considerável a oxigenação do córtex prefrontal. Nesse
sentido, os achados cooperam com a hipótese de que a oxigenação do córtex prefrontal
durante o exercício pode ser um fator chave que influencia a percepção afetiva do
sujeito ao exercício. No entanto, pouco se sabe sobre a relação entre o comportamento
hemodinâmico do córtex prefrontal e a percepção de afeto durante o exercício.
3. Materiais e métodos

1.5. Participantes

Nesse estudo, 18 adultos jovens do sexo masculino foram randomicamente


recrutados através de convites pessoais e convites por redes sociais participaram do
estudo, no entanto, devido a perda e impossibilidade de análise de dados, somente 12
participaram efetivamente desse estudo. Os participantes foram submetidos a uma
triagem pré participação através do questionário PAR-Q. Os critérios de inclusão foram
(I) ter idade entre 18 e 35 anos; (II) não ter contraindicação medica para executar
atividade física de máxima intensidade; (III) não ter nenhum tipo de doença mental ou
medicamento que influencie atividade neural ou cardíaca. Os critérios de exclusão
foram (I) marcar “sim” para qualquer uma das perguntas do PAR-Q; (II) não alcançar os
critérios para exercício máximo; (III) impossibilidade de análise de dados; (IV)
desistência voluntaria do estudo.

1.6. Delineamento Experimental

O estudo foi conduzido na sala de coletas do grupo de estudos e pesquisa em


biologia integrativa do exercício (GEPEBIEX) em uma única visita, onde os sujeitos
foram informados sobre as propostas e procedimentos do estudo. Os indivíduos que
aceitaram participar, foram submetidos a triagem pré participação através do PAR-Q, ,
em seguida foi aferido a estatura e peso, das quais calculou-se o o índice de massa
corporal dos participantes e em seguida foi realizado a ancoragem das escalas. Em
seguida houve o processo de montagem dos equipamentos para a realização do teste
incremental, como mostrado na figura 3.
Figura . Desenho do estudo

Anteriormente a participação do estudo, os sujeitos foram orientados a ler e


assinar o termo de consentimento livre esclarecido. O projeto foi avaliado e aprovado
pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (parecer
266/2012) para garantir que não será executado nenhum procedimento que venha a
levar riscos a saúde dos participantes, de acordo com a declaração de Helsinki.

3.1. Procedimentos para o Teste Incremental Máximo

Os participantes utilizaram um cardiofrequencimetro (polar RS800cx) e sentados


em uma cadeira, foi realizada a higienização da testa e montagem dos optodos da
NIRS e em seguida a montagem do equipamento da ergoespirometria. Posteriormente,
foram posicionados para fazer exercício em um cicloergômetro (INBRASPORT). O teste
teve carga inicial de 25 watts e houve um incremento de carga de 20 watts ao final de
cada minuto. Foi pedido para que o participante mantivesse a cadência de rotação de
60 a 70 ciclos por minuto, com feedback visual e verbal da cadência. O teste foi
terminado por exaustão voluntária ou quando o participante não conseguiu mais manter
as rotações dentro do limite estabelecido por mais de cinco segundos. Foi fornecido
forte encorajamento verbal quando o participante estava próximo ao máximo (PSE ≥
17). O teste foi considerado máximo se; (I) PSE ≥ 19; (II) fadiga voluntária; (III) alcançar
95% da frequência cardíaca máxima predita (220 – idade). As respostas
psicofisiológicas foram coletadas nos últimos 15 segundos de cada estágio, antes do
aumento da intensidade.
1.7. Materiais

3.1.1. Espectroscopia de Infravermelho Próxima (NIRS)

Espectroscopia de infravermelho próxima (Imagent – ISS, USA) é um método


não invasivo de neuroimagem (anexo 8.3), esse equipamento é sensível a mudanças
hemodinâmicas, medindo oxigenação tecidual. O equipamento é composto por dois
optodos (A = direito e B = esquerdo) de borracha em forma retangular, cada optodo tem
quatro pares de emissores de luz e um detector óptico, as luzes dos emissores são
distribuídas em distâncias fixas diferentes em relação ao detector. Cada par de emissor
de luz emite duas luzes com diferentes comprimentos de onda, uma luz com
comprimento de luz de 690 nanômetros e a outra a 830 nanômetros. Cada
comprimento de luz tem alta afinidade de absorção com a oxihemoglobina (HbO) ou
deoxihemoglobina (Hb). O cálculo das mudanças das concentrações de HbO e Hb são
feitas através da lei de Beer-Lambert modificada para a medida de atenuação da luz. (P
Ekkekakis, 2009; Perrey, 2008). Uma outra variável será criada derivada da soma das
anteriores, a hemoglobina total (Hbtot).
Posteriormente, os dados brutos foram lidos por uma rotina no MATLAB, que por
sua vez, os traduziu em dados em forma de porcentagem de mudança para cada
estágio relativo aos 15 segundos iniciais do teste.
Os optodos foram colocados na região da testa, mais especificamente, no FP1 e
FP2 de acordo com o sistema internacional 10/20 de posicionamento de elétrodos. Os
optodos foram cobertos por uma bandagem preta para evitar que a luz externa interfira
na coleta de dados. Para evitar que os optodos fiquem folgados ou se movam, as
bandagens pretas foram colocadas firmemente o suficiente para que os optodos não se
movessem, mas não interferir a circulação de sangue ou induzir dor.

3.1.2. Consumo de oxigênio e limiares ventilatórios

O consumo de oxigênio foi analisado através de um analisador de gases


respiratórios (Quark CPET, COSMED™, Itália). O dado foi coletado respiração por
respiração e posteriormente transformado em médias de 20 segundos. Anteriormente a
cada coleta, o equipamento foi calibrado com um cilindro contendo concentrações
conhecidas de CO2 e O2 e uma seringa de calibração (3 Litros, COSMED).
Os limiares ventilatórios foram analisados após o teste incremental máximo
através de três métodos diferentes, como descrito em Gaskill et al. (2001). Para o
método do equivalente ventilatório, o limiar ventilatório foi marcado no ponto onde há
um aumento exponencial da razão VE/VO 2 sem um aumento concomitante da razão
VE/VCO2, como descrito por Caiozzo (Caiozzo et al., 1982). O método V-Slope foi
utilizado e marcado o ponto onde há uma quebra de linearidade da razão VO 2/VCO2.
Por ultimo o método do excesso de produção de CO 2, onde o limiar foi determinado no
ponto onde há um aumento exponencial na produção de CO 2, descrito na formula
((VCO2* VCO2/ VO2) - VCO2). Similarmente, a análise do ponto de compensação
respiratório foi analisada através da quebra da linearidade da razão (VE/VCO 2).
Os limiares ventilatórios foram analisados por dois avaliadores, em momentos
distintos. Cada avaliador utilizou um ou mais dos três métodos disponíveis,
disponibilizados de forma sobrepostas em uma tabela no Excel, para determinar os
limiares e posteriormente comparados. Foram considerados a medias dos limiares
identificados que ficaram dentro de uma variação de 2 pontos de dados (40 segundos
de diferença). Nos dados que os limiares ficaram fora do limite estabelecido, um
terceiro avaliador analisou os dados.
Figura . Tabela com os métodos de análise de limiares sobrepostos.

3.1.3. Percepção subjetiva de esforço

A escala de percepção subjetiva de esforço (Borg, 1982) é uma escala que mede
a percepção de fadiga e esforço que o sujeito está sentindo (Figura 6). A escala tem 15
pontos de que vão de 6 a 20 com descritores de intensidade na frente dos números, na
versão utilizada os descritores vão de “nenhum esforço” até “máximo esforço”, e foi
pedido para que o sujeito leia o descritor e responda com o número que melhor
represente seu estado. Anteriormente ao uso da escala, foi feito um processo de
ancoragem para garantir que o participante entenda como responder a tabela
corretamente. Para o processo de ancoragem, foi pedido para o sujeito se lembrar da
atividade física mais leve que ele já tenha feito e associa-la ao número 7. Similarmente,
foi pedido para o sujeito se lembrar da atividade física mais difícil e extenuante que ele
já tenha feito na vida, onde não poderia mais se manter exercitando, e associa-la ao
número 20.
Figura . Escala de percepção de Esforço
3.1.4. Valência Afetiva

A escala de valência afetiva (Hardy & Rejeski, 1989) é uma escala que mede a
percepção de prazer/desprazer experienciado pelo indivíduo durante a atividade física
(figura 7). A escala possui onze pontos, variando de -5 a +5 com descritores variando
de “muito ruim” até “muito bom”, respectivamente. Anteriormente ao uso da escala, foi
feito um processo de ancoragem para garantir que o participante entenda como
responder a tabela corretamente. O processo de ancoragem foi realizado como descrito
em Agricola et al., (2016). Foi pedido para que o sujeito leia o descritor presente ao lado
do número e responda com número que melhor represente o seu estado de prazer no
momento.

Figura 7. Escala de Sentimentos

_____________________
+5 Muito Bom
+4
+3 Bom
+2
+1 Razoavelmente bom
0 Neutro
-1 Razoavelmente ruim
-2
-3 Ruim
-4
-5 Muito Ruim
(Hardy & Rejeski, 1989)

_____________________
Figura . Escala de Sentimentos

3.2. Análise Estatística

Para a análise das correlações, foi utilizado o coeficiente de correlação de


Pearson entre as variáveis de oxigenação cerebral e afeto. A correlação foi realizada
com a sessão completa e também dividido pelas 3 janelas de intensidade (repouso até
o limiar, entre o limiar ventilatório e o ponto de compensação respiratório, e após o
ponto de compensação respiratório até o fim do exercício). A análise de normalidade
dos dados foi efetuada e, nas variáveis não normais, foi utilizado o teste de correlação
de Spearman. Adicionalmente, foi realizada uma correlação parcial, controlada pela
variável intensidade (carga em W).
Para as análises de do comportamento das variáveis afetivas e hemodinâmicas
sobre o tempo, foi usada uma ANOVA one-way e, para as variáveis com diferença
significativa atestada. Para as variáveis não paramétricas, foi utilizado o teste de
Friedman e post hoc de Dunnett’s T3. O optodo A corresponde ao hemisfério esquerdo
e o optodo B ao hemisfério direito.
Para a análise de diferença inter-hemisférica das variáveis hemodinâmicas, foi
conduzido um teste T para amostras independentes, para as amostras não normais foi
conduzido um teste de Mann-Whitney.
Os dados estão apresentados como média e intervalo de confiança de 95% e p <
0.05 foi adotado como significância estatística. Toda a análise estatística foi realizada
utilizando o SPSS v.23.0 (SPSS, inc., Chicago, USA).

4. Resultados

4.1. Amostra

Inicialmente, um total de 12 sujeitos efetivamente compõem os dados do estudo. A


caracterização da amostra está presente na tabela 1.
Tabela . Característica dos Participantes

Variáveis Média (IC 95%)


Idade 24.8 (20.4 – 29.2)
Peso (kg) 76.32 (69.74 – 82.90)
Altura (m) 1.70 (1.65 – 1.75)
IMC (kg.m-2) 26.27 (24.40 – 28.15)
VO2Pico (ml.kg-1.min-1) 37.9 (34.5 – 41.3)
Carga máxima do teste incremental (W) 231 (206 – 256)
FCMax (BPM) 182 (172 – 192)
IC = Intervalo de confiança; IMC = Índice de massa corporal; VO 2Pico = consumo pico de
oxigênio; FCMax = Frequência cardíaca máxima

4.2. Correlação das respostas afetivas e hemodinâmica cerebral;

4.2.1. Sessão completa

Como mostrado na figura 10, foi encontrado uma correlação inversa entre
a resposta afetiva e a HbO e Hbtot nos hemisférios direito e esquerdo. Também
foi encontrada uma correlação positiva entre Hb optodo A, mas não com o
optodo B.
Figura . Correlações entre oxigenação cerebral e afeto.
Nota: HbO A = Oxihemglobina do hemisfério esquerdo; HbO B = Oxihemglobina do
hemisfério direito; Hb A = Deoxihemoglobina do hemisfério esquerdo; Hb B =
Deoxihemoglobina do hemisfério direito; Hbtot A = hemoglobina total do hemisfério
esquerdo; Hbtot B = hemoglobina total do hemisfério direito.

Adicionalmente, uma correlação parcial controlada pela carga em W,


correspondente a intensidade do exercício, mostrou que não houve nenhuma
correlação entre as variáveis hemodinâmicas e afeto, tanto para o hemisfério esquerdo
quanto para o hemisfério direito, como apresentado na tabela 2.

Tabela 2. Correlação parcial entre hemodinâmica cerebral e afeto controlado pela


intensidade.
Controlado por HbO Hb Hbtot
Hemisfério r = .003 r = .059 r = .004
Esquerdo p = .971 p = .508 p = .965
Intensidade Afeto
Hemisfério r = -.107 r = -.088 r = -.089
Direito p = .229 p = .323 p = .317
Nota: HbO = Oxihemoglobina, Hb = Deoxihemoglobina e Hbtot = Hemoglobina total.

4.2.2. Repouso até o VT

Para a variável HbO, foi encontrado uma correlação inversa entre afeto e o
optodo A (r = -.308; p = .035) e o optodo B (r = -.318; p =.029). Para a variável Hb, não
foi encontrada correlação significativa entre afeto e o optodo A (r = -.162; p = .27) e nem
com o B (r = -148; p = .32). Para a variável Hbtot, foi encontrada uma correlação
inversa entre afeto e o optodo A (r = -.335; p = .022) e não foi encontrada uma
correlação significativa com optodo B (r = -.284; p = .53).

4.2.3. Entre o VT até RCP

Para a variável HbO, não foi encontrado correlação entre afeto e o optodo A (r = .
186; p = .22) e foi encontrado uma correlação inversa com o optodo B (r = -.309; p = .
039). Para a variável Hb, foi encontrada uma correlação direta entre afeto e o optodo A
(r = .349; p = .019) e não houve correlação significativa com o optodo B (r = .254; p = .
092). Para a variável Hbtot, não foi encontrada correlação significativa com o optodo A
(r = -.134; p = .382) e nem com o optodo B (r = -.222; p = .142).

4.2.4. Após o RCP até exaustão.

Para a variável HbO, não foi encontrado correlação significativa entre afeto e o
optodo A (r = -.090; p = .585) e nem com o optodo B (r = .014; p = .932). Para a variável
Hb, não foi encontrada uma correlação significativa entre afeto e o optodo A (r = .069; p
= .678) e nem com o optodo B (r = -.240; p = .142). Para a variável Hbtot, não foi
encontrada correlação significativa com o optodo A (r = -.063; p = .703) e nem com o
optodo B (r = -.111; p = .502).

4.3. Efeito da intensidade sobre o comportamento das variáveis


hemodinâmicas e afeto.

Houve diferenças estatisticamente significantes do tempo em todas as variáveis


analisadas: HbO optodo A [X2 (2) = 48.67; p <.001] e optodo B [X 2 (2) = 62.97; p <.001],
Hb optodo A [X2 (2) = 8.82; p <.012] e optodo B [X 2 (2) = 11.74; p <.003], Hbtot optodo A
[X2 (2) = 67.08; p <.001] e optodo B [X 2 (2) = 11.74; p <.003] e afeto [X 2 (2) = 68.66; p
<.001].
As diferenças descritas no post hoc estão apresentadas nas figuras 4.

4.4. Diferença inter-hemisféricas das variáveis hemodinâmicas

Não houve diferença estatisticamente significantes entre os hemisférios para


HbO (U = 8193; p = .527) optodo A(3.62% [2.69 – 4.55]) e optodo B(2.79% [2.05 –
3.53]), Hb (U = 7558; p = .095) optodo A(-.53% [-.81 – -.26]) e optodo B(-.84% [-1.98 – .
29]), e Hbtot (U = 8426; p = .801) optodo A(3.08% [2.06 – 4.09]) e optodo B(2.54%)
[1.77 – 3.30]).

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