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EDUCAÇÃO FÍSICA NAS MODALIDADES DE ENSINO INTEGRADO: A

PRESENÇA NAS NOVAS ORGANIZAÇÕES CURRICULARES PAULISTAS

Pedro Hernandes Neto

Centro Paula Souza – hernandes.pedro@gmail.com

Eixo Temático: Eixo 3 - Políticas e Práticas no Ensino Médio

Categoria: Poster

RESUMO
Este relato apresenta os resultados parciais de uma pesquisa documental em andamento
sobre o lugar da Educação Física nos currículos dos novos cursos técnicos integrados ao
ensino médio em escolas técnicas estaduais [Etecs] de São Paulo. Chamados M-Tec,
eles reúnem a educação básica e profissional em um período letivo de seis aulas diárias,
em período matutino ou vespertino. Nas reformulações curriculares, a Educação Física
perdeu espaço na grade, sendo reduzida de 240 para 160 horas no cômputo geral das
três séries, o que pode impactar na diminuição da jornada de trabalho docente e
comprometer a formação geral dos alunos nas escolas públicas paulistas.

Palavras-chave: Educação física. M-Tec. Currículo. Ensino médio e técnico.

1. INTRODUÇÃO

O texto relata os resultados parciais de uma pesquisa documental em andamento


sobre a presença da Educação Física nos currículos dos novos cursos técnicos
integrados ao ensino médio em escolas técnicas estaduais [Etecs] de São Paulo.
Chamados M-Tec, reúnem a educação básica e profissional em um período letivo de seis
aulas diárias, podendo ser realizado em período matutino ou vespertino. Em 2018, os
cursos M-Tec foram implantados em 34 escolas técnicas do Estado (CETEC, 2019) e
seguem em expansão em 2019.
Para além da política pública em questão, o debate sobre o lugar da Educação
Física na escola relaciona-se ao valor intrínseco que autores como Suraya Darido (2001)
lhe atribui:
Atualmente entende-se a Educação Física escolar como uma disciplina que
introduz e integra o aluno na cultura corporal, formando o cidadão que vai produzi-
la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos,dos
esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico
da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Trata-se de localizar em cada
uma destas práticas corporais produzidas pela cultura os benefícios humanos e
suas possibilidades na organização da disciplina no contexto escolar (DARIDO,
2001, p.20).

Especificamente no Ensino Médio e suas derivações integradas à educação


profissional, como aponta Darido (2012), esta presença escolar:

[...] ultrapassa o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas,


expressivas e conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus
fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus
valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as
atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito
do aluno de saber o porque dele realizar este ou aquele movimento, isto é, quais
conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual). (DARIDO,
2012, p.55)

Historicamente no Brasil, o currículo foi distribuído em um grande número de


disciplinas e a presença da Educação Física modificou-se de uma perspectiva excludente
para inclusiva, propiciando aos alunos o exercício da cidadania por meio do conhecimento,
reflexão e transformação da cultura corporal (DARIDO, 2012). O reconhecido excesso de
disciplinas no Ensino Médio, a carga horária inflada, os recursos humanos e materiais
deficitários no decorrer dos anos, acabaram por descaracterizar esta formação geral,
mesmo após os esforços presentes na LDB de 1996 (BRASIL, 1996), o que se tenta
modificar com as reformulações e novos modelos curriculares, como a proposta do M-Tec.

2. SOBRE A PESQUISA

Quanto ao delineamento, se trata de uma pesquisa documental (GIL, 2002), que


consistiu essencialmente na exploração dos documentos oficiais da instituição escolar
Centro Paula Souza, com o objetivo de identificar a presença do componente curricular
Educação Física nos diferentes cursos técnicos integrados ao ensino médio.
Para localizar a pesquisa, vale ressaltar que o Centro Estadual de Educação
Tecnológica Paula Souza possui 223 Escolas Técnicas que oferecem ensino médio,
técnico e integrado em todo o Estado de São Paulo. Sua Coordenadoria da Unidade de
Ensino Técnico e Médio – CETEC, possui um Departamento de Análise e Formulação de
Currículos, que tem o objetivo de analisar e atender os dinâmicos processos educacionais,
atualizando os antigos cursos e elaborando novos, procurando atender as demandas do
mercado de trabalho e as modificações legais ou tecnológicas.
Este recorte de pesquisa foi desenvolvido sobre os planos de curso das
habilitações técnicas integradas na modalidade M-tec, durante os meses de dezembro de
2018 a março de 2019. As 21 matrizes curriculares de diferentes habilitações como do
Técnico em Química, Marketing, Alimentos, Desenvolvimento de Sistemas, Administração
ou Logística (CETEC, 2019); foram extraídas de um banco de dados institucional e
possuem circulação restrita às unidades escolares. Segue-se um exemplo da grade
curricular de um curso M-Tec, que ilustrará as considerações subsequentes:

Quadro 1: Organização curricular do curso Ensino Médio com habilitação profissional


integrada de Técnico em Nutrição e Dietética [M-Tec]. (GFAC, 2019)

É possível observar nesta matriz curricular do curso Técnico em Nutrição e


Dietética Integrado ao Ensino Médio, que a carga horária da Base Nacional Comum
Curricular é configurada para se reunir à parte profissional. Este foi o padrão em todos os
outros 20 planos de curso M-Tec consultados. Nesta [re]configuração, o componente
Educação Física - que nos planos de curso anteriores relacionados ao ensino médio
[propedêutico] e integrado ao ensino técnico [em tempo integral] da instituição - sempre
possuía 240 horas distribuídas nas três séries; foi reduzido para 160 horas, e somente
nas duas séries iniciais.
Por certo, desde que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - 9.394/96 (BRASIL,
1996) e as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2008) instituíram e
regularam o cenário educacional nacional tal como o reconhecemos, organizavam-se os
objetivos educacionais da educação física sem a fixação de carga horária específica,
exceto pelas exigências das próprias instituições escolares e a obediência aos mínimos
previstos para as três séries do Ensino Médio. O Novo Ensino Médio aprovado
recentemente, conforme texto da Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, também não
especificava nenhum tipo de carga horária, mantendo a Educação Física como
componente obrigatório.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A interseção entre os campos do Currículo e o da Educação Física é, por certo,


lugar de disputa: o que deve permanecer? Por quanto tempo? Em que medida e com qual
atribuição de importância? Mesmo no discurso oficial, existe o reconhecimento do embate:

A identidade da Educação Física, assim como a identidade de qualquer disciplina,


é construída a partir de processos de negociação e disputa de valores,
concepções e perspectivas. Como toda disciplina do currículo, a definição do
papel da Educação Física dá-se a partir das negociações e das disputas que
ocorrem entre seus profissionais, mas também por aquelas travadas por outros
atores da escola (BRASIL, 2006, p.217).

No caso dos cursos M-Tec, especialmente quando o governo estadual se propõe


a ampliar os programas de ensino integrado em período letivo único, o que está sendo
chamado de Novotec (SÃO PAULO, 2019), baseando-se no aproveitamento do Centro
Paula Souza e das escolas estaduais ligadas à Secretaria da Educação, o debate é
urgente, dada a expansão anunciada pelos agentes públicos.
Nas reformulações curriculares do M-TEC, quando comparada ao Ensino Médio
propedêutico ou habilitações integradas ofertadas em tempo integral nas Etecs, a
Educação Física perdeu espaço na grade, sendo reduzida de 240 para 160 horas no
cômputo geral das três séries, o que poderia impactar diretamente na diminuição da
jornada de trabalho docente e comprometer a formação geral dos alunos nas escolas
públicas paulistas.
Não existem restrições legais para estas modificações. De fato, a Resolução CNE
02/2012, que definia as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL,
2012), apresentava a Educação Física como um componente obrigatório a ser tratado em
uma ou mais áreas do conhecimento, o que a desobrigaria de ser uma disciplina
específica na grade curricular:

Art. 9º A legislação nacional determina componentes obrigatórios que devem ser


tratados em uma ou mais das áreas de conhecimento para compor o currículo:
I - são definidos pela LDB: [...]
b) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da instituição de ensino,
sendo sua prática facultativa ao estudante nos casos previstos em Lei. (BRASIL,
2012, sn.)

Vale destacar também que, em conformidade com a LDB 9394/96, os sistemas


educacionais têm autonomia para organizar seus critérios curriculares e de avaliação. O
que se questiona é: a formação geral dos alunos seria prejudicada com esta redução de
carga horária? Se sim, existiriam formas de compensação destas lacunas? A Educação
Física estaria deixando de ocupar um lugar importante nos currículos de escolas públicas,
tornando-se acessória ou mesmo dispensável?
Em 2018, 80.624 alunos estavam matriculados em curso de ensino médio e
integrado no Centro Paula Souza, em 223 Etecs (CETEC, 2019). Caso os M-tec sejam
disseminados massivamente, as aulas dos professores de Educação Física serão
inevitavelmente reduzidas, em longo prazo.
É difícil mensurar o impacto no momento, porque cada unidade possui diferentes
números de professores, com cargas horárias distintas. Uma possível saída para
minimizar o problema da dispensa de professores seria a divisão de classes em turmas,
dispositivo já previsto na instituição nos cursos modulares e integrados, em que uma
classe de 40 alunos é dividida em duas turmas de 20, podendo ser atribuídas ao mesmo
professor em horários distintos ou à dois professores no mesmo horário, em ambientes
didáticos diferentes. Esta possibilidade ainda facilitaria o atendimento aos alunos em
grupos menores, para o desenvolvimento das habilidades, conhecimentos e atitudes
relacionadas ao componente Educação Física.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A luta pela presença da Educação Física no Ensino Médio é histórica e envolveu


gerações de professores e pesquisadores, que se debruçaram sobre a necessidade de
garantir aos alunos da escola brasileira algo que superaria o exclusivo campo da
Educação Física, pois se trataria da formação geral dos sujeitos, tal como prevista na Lei
maior da Educação Brasileira (BRASIL, 1996).
O ensino médio e técnico do Centro Paula Souza é reconhecido pelos resultados
e pela qualidade dispensada aos cursistas. A tendência é que tenhamos um debate mais
aprofundado sobre a presença da Educação Física nas novas propostas de ensino
integrado. É o que se deseja com esta pesquisa, a saber, uma ampliação da presença da
comunidade escolar e mais análises pelos especialistas no campo da Educação Física.
A pesquisa segue em andamento no ano de 2019, com a finalidade de avaliar o
impacto desta presença reduzida da Educação Física nos cursos integrados, verificando a
perspectiva dos professores e dos alunos envolvidos na área.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 11 abr. 2019.

____. Orientações curriculares para o ensino médio. Volume 1: Linguagens, códigos e


suas tecnologias. Secretaria de Educação Básica. – Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2006.

____. MEC. CNE/CEB. Resolução CNE/CEB 02/2012. Define Diretrizes Curriculares


Nacionais para o Ensino Médio. Diário Oficial da União, 30 de janeiro de 2012. Brasília,
2012.

____. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis nos 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494,
de 20 de junho 2007; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de
Ensino Médio em Tempo Integral. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev. 2017.

CETEC. Banco de dados do ensino técnico no Centro Paula Souza. Disponível em:
<http://www.cpscetec.com.br/bdcetec>. Acesso em: 08 abr. 2019.

DARIDO, S. C. Os conteúdos da educação física escolar: influências, tendências,


dificuldades e possibilidades. Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n.
1, p. 05-25, 2001.
____. Educação Física na escola: conteúdos, duas dimensões e significados. In:
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de formação: formação de
professores – didática dos conteúdos. v. 6. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p.51-75.

GFAC. Centro Paula Souza. Plano de curso - Técnico em Nutrição e Dietética – M-Tec,
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GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002

SÃO PAULO. São Paulo lança programa de ensino técnico profissionalizante


Novotec.. 01 mar. 2019. Disponível em:
<http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/ultimas-noticias/governo-de-sp-lanca-programa-
de-ensino-tecnico-profissionalizante-novotec/>. Acesso em: 11 abr. 2019.

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