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1. As vibrações ocorrem em um plano. Denotaremos as coordenadas deste plano por (x, u), de modo que
u(x, t) denota a posição do ponto x da corda no instante de tempo t.
2. As vibrações são transversais. Ou seja, as partı́culas constituintes da corda deslocam-se apenas na
direção do eixo u.
3. A corda é flexı́vel. Isso significa que a corda não oferece resistência a ser dobrada (ou seja, resistência
a flexão, daı́ o nome). Como conseqüência, a força atuando em cada ponto da corda é sempre tangente
à corda, chamada a tensão da corda.
Como não há movimento da corda na direção do eixo x, isso significa que a resultante das componentes
horizontais das tensões atuando em cada pedaço da corda é nula. Portanto, se T (x1 , t) e T (x2 , t) são as
tensões atuando nos pontos x1 e x2 e θ(x1 , t) e θ(x2 , t) são os ângulos destas forças com relação à horizontal
(o eixo x), no instante de tempo t, segue que
para todos x1 , x2 . Portanto, a componente horizontal da tensão é constante ao longo da corda, independente
do ponto x, embora ela possa depender do tempo t. Vamos denotar esta constante positiva por τ (t):
Para calcular a resultante vertical da tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 ,
observamos primeiro que a força vertical atuando em um elemento infinitesimal da corda compreendido entre
os pontos x e x + ∆x é dada por:
T (x + ∆x, t) sen θ(x + ∆x, t) − T (x, t) sen θ(x, t) = τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] .
Usando o fato de que tan θ(x, t) é a inclinação de u(x, t) no instante de tempo t, ou seja, a derivada ux (x, t)
da função u com relação a x, obtemos
τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] = τ (t) [ux (x + ∆x, t) − ux (x, t)] = τ (t)uxx (x, t)∆x
97
Rodney Josué Biezuner 98
onde, pelo Teorema do Valor Médio, x é algum ponto entre x e x + ∆x. Portanto, a resultante vertical da
tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 é dada por
Z x2
resultante vertical = τ (t) uxx (x, t) dx. (3.1)
x1
Isso significa que em cada ponto x da corda, a força devida à tensão atuando nele no instante de tempo t
é dada por τ (t)uxx (x, t), o produto da tensão horizontal naquele ponto pela curvatura da corda no ponto.
Intuitivamente isso faz sentido, pois a tensão atuando na corda é principalmente uma força horizontal e
quanto maior é a curvatura em um ponto na corda, maior deve ser a tensão naquele ponto: imagine uma
corda presa nas suas extremidades; ao tentarmos flexioná-la, ela oferece resistência exatamente por estar
presa (as extremidades presas “puxam” a corda em suas direções), e quanto mais puxarmos a corda em um
determinado ponto, o que significa que estamos cada vez aumentando mais a curvatura da corda naquele
ponto, maior é a tensão na corda, isto é, a sua resistência a ser assim flexionada.
Além das forças de tensão (forças internas à corda), a corda pode também estar sujeitas a forças externas,
tais como a força da gravidade e a resistência ao movimento da corda imposta pelo meio onde ela está
situada (forças de atrito ou fricção), mas estamos assumindo que a contribuição destas forças é negligı́vel
(por exemplo, a corda é feita de um material muito leve e o meio não oferece resistência significativa), ou
seja, estamos assumindo que as vibrações são livres.
Por outro lado, se utt (x, t) é a aceleração em um ponto x da corda no instante de tempo t (representada
apenas pelo seu componente vertical, já que o seu componente horizontal é nulo) e se a densidade linear da
corda no ponto x é ρ(x), segue da segunda lei de Newton que em cada elemento infinitesimal da corda a
força atuando nele é dm utt (x, t) = ρ(x)dx utt (x, t), de modo que
Z x2
resultante vertical = ρ(x)utt (x, t) dx. (3.2)
x1
Igualando (3.1) a (3.2), usando o fato de que x1 e x2 são arbitrários, e denotando c2 = c2 (x, t) = τ (t)/ρ(x),
obtemos a equação da onda:
utt = c2 uxx . (3.3)
Fisicamente, ela significa que a aceleração em cada ponto da corda é proporcional à curvatura da corda
naquele ponto. Pontos com concavidade para cima (isto é, uxx > 0) tendem a mover para cima (utt > 0),
enquanto que pontos com concavidade para baixo (uxx < 0) tendem a se mover para baixo (utt < 0); é claro
que deve-se levar em conta também a velocidade e a direção em que a corda está-se movendo no momento.
Quando a corda é homogênea (ρ(x) ≡ constante) e as vibrações são pequenas, de modo que θ(x, t) ∼ 0
e conseqüentemente cos θ(x, t) ∼ 1, e a força de tensão não varia com o tempo (por exemplo, uma corda
com as extremidades fixadas), temos que o parâmetro c é uma constante. Observe que o parâmetro c tem
dimensão de velocidade, e o significado fı́sico disso será explicado mais tarde.
onde as condições iniciais f e g são funções contı́nuas. Este é o caso de uma corda de violão, em que a corda
é deslocada e depois solta para começar a sua vibração (f 6= 0 e g ≡ 0) ou da corda de um piano, em que a
corda em repouso é percurtida por um golpe de martelo (f ≡ 0 e g 6= 0).
Podemos também considerar o problema da corda com extremidades livres, em que as extremidades
da corda são presas a trilhos colocados perpendicularmente à corda, no plano de vibração:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L.
Este é um problema de Neumann
Podemos ainda considerar condições de fronteira mistas (uma extremidade fixa, uma extremidade livre)
ou um problema em que as extremidades da corda se movem transversalmente de acordo com uma lei
conhecida:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = a(t) se t > 0,
u(L, t) = b(t) se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L.
onde f (0) = f (L) = f 00 (0) = f 00 (L) = g(0) = g(L) = 0 e c é uma constante. Escrevendo u(x, t) = F (x)G(t),
obtemos as equações diferenciais ordinárias
½ 00
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
(3.5)
F (0) = F (L) = 0,
e
G00 (t) − σc2 G(t) = 0. (3.6)
Como de costume, para resolver (3.5), analizamos o sinal de σ e concluı́mos que a única possibilidade
√ de
se obter soluções que não sejam identicamente nulas é quando σ < 0. Neste caso, denotando λ = −σ, a
solução geral de (3.5) é da forma
F (x) = c1 cos λx + c2 sen λx.
A condição inicial F (0) = F (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
½
c1 = 0
c2 λ sen λL = 0
e portanto devemos ter λL = nπ, onde n ∈ N pode ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada
valor de n, uma solução para o problema de Sturm-Liouville (3.5) é a autofunção
nπx
Fn (x) = sen , (3.7)
L
associada ao autovalor
n2 π 2
−σ = λ2n = .
L2
Agora o problema (3.6) é
c2 n2 π 2
G00 (t) + G(t) = 0,
L2
cuja solução geral é
cnπt cnπt
Gn (t) = an cos + bn sen . (3.8)
L L
Portanto, as soluções fundamentais da equação da onda que satisfazem às condições de fronteira são as
funções µ ¶
nπx cnπt cnπt
un (x, t) = sen an cos + bn sen . (3.9)
L L L
Rodney Josué Biezuner 101
∞
X µ ¶
nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen an cos + bn sen .
n=1
L L L
Os seus coeficientes an , bn são determinados através das condições iniciais. Como u(x, 0) = f (x), temos
∞
X nπx
f (x) = an sen ,
n=1
L
Observe que em cada instante de tempo t a forma da corda é uma senoidal, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Por exemplo,
√
u(x, 0) = √
sen x, u(x, 5π/4) = − 22 sen x,
u(x, π/4) = 22 sen x, u(x, 3π/2) √= 0,
u(x, π/2) =√
0, u(x, 7π/4) = 22 sen x
u(x, 3π/4) = − 22 sen x, u(x, 2π) = sen x.
u(x, π) = − sen x,
¤
Rodney Josué Biezuner 102
O exemplo anterior ilustra de forma clara a diferença da equação do calor para a equação da onda. Na
equação da onda, o termo dependente de t também é uma função periódica, de modo que a corda vibra. Na
equação do calor, diferentemente, o termo dependente de t é um decaimento exponencial em t: o calor se
propaga (e se dissipa) rapidamente.
Aqui também a forma da corda é uma senoidal em cada instante de tempo t, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Apenas o intervalo de tempo é deslocado de uma constante, porque a corda começa
do repouso: √
2
u(x, 0) =
√
0, u(x, 5π/4) = − 2 sen x,
2
u(x, π/4) = 2 sen x, u(x, 3π/2) = √
sen x,
u(x, π/2) =√sen x, u(x, 7π/4) = − 22 sen x
2
u(x, 3π/4) = 2 sen x, u(x, 2π) = 0.
u(x, π) = 0,
¤
Mais uma vez, é possı́vel provar rigorosamente que este candidato é de fato a única solução para o
problema (3.4) sob hipóteses razoáveis:
Teorema 3.3. Sejam f, g : [0, L] → R, f de classe C 2 e g de classe C 1 , tais que f (0) = f (L) = f 00 (0) =
f 00 (L) = g(0) = g(L) = 0. Suponha, além disso, que f 000 e g 00 são contı́nuas por partes. Então
∞
X µ ¶
nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen an cos + bn sen
n=1
L L L
com
Z L
2 nπx
an = f (x) sen dx,
L 0 L
Z L
2 nπx
bn = g(x) sen dx,
cnπ 0 L
Prova: Para mostrar que u é contı́nua em R, mostraremos que a série que defina u converge uniformemente
em R. Para provar isso pelo teste-M de Weierstrass, basta mostrar que
∞
X
(|an | + |bn |) (3.10)
n=1
Rodney Josué Biezuner 103
é convergente. Integrando por partes duas vezes (como fizemos para estimatir os coeficientes de Fourier no
Capı́tulo 1) e usando as hipóteses que f é de classe C 2 e que f (0) = f (L) = 0, obtemos
Z " Z L #
2 L nπx 2 L nπx ¯¯L L 0 nπx
an = f (x) sen dx = − f (x) cos ¯ + f (x) cos dx
L 0 L L nπ L 0 nπ 0 L
Z L " Z L #
2 0 nπx 2 L 0 nπx ¯¯L L 00 nπx
= f (x) cos dx = f (x) sen ¯ − f (x) sen dx
nπ 0 L nπ nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L nπx
=− 2 2 f 00 (x) sen dx.
n π 0 L
Como pelo Lema de Riemann Lebesgue
Z L
nπx
f 00 (x) sen dx → 0 quando n → ∞,
0 L
segue que existe uma constante C independente de n tal que
C
|an | 6 . (3.11)
n2
Analogamente, integrando por partes uma vez e usando as hipóteses que g(0) = g(L) = 0 e g é de classe C 1 ,
obtemos
Z L " Z L #
2 nπx 2 L nπx ¯¯L L 0 nπx
bn = g(x) sen dx = bn = − g(x) cos ¯ + g (x) cos dx
cnπ 0 L cnπ nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L nπx
= 2 2 g 0 (x) cos dx,
cn π 0 L
de modo que concluı́mos também que existe uma constante C independente de n tal que
C
|bn | 6 . (3.12)
n2
Segue de (3.11) e (3.12) que a série (3.10) converge, logo u é contı́nua em R.
Se integrarmos por partes (3.11) mais uma vez e usarmos as hipóteses f 00 (0) = f 00 (L) = 0 e que f 000 é
contı́nua por partes, obtemos
" Z L #
2L L 00 nπx ¯¯L L 000 nπx
an = − 2 2 − f (x) cos ¯ + f (x) cos dx
n π nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L2 nπx
=− 3 3 f 000 (x) sen dx
n π 0 L
2L2
= − 3 3 cn , (3.13)
n π
onde cn são os coeficientes de Fourier de f 000 . Da mesma forma, integrando por partes (3.12) mais uma vez
obtemos
" Z L #
2L L 0 nπx ¯¯L L 00 nπx
bn = 2 2 g (x) sen ¯ − g (x) sen dx
cn π nπ L 0 nπ 0 L
Z L
2L2 nπx
= 3 3 g 00 (x) sen dx
cn π 0 L
2L2
= 3 3 dn , (3.14)
cn π
Rodney Josué Biezuner 104
onde dn são os coeficientes de Fourier de g 00 . Porque f 000 e g 00 são contı́nuas por partes, pelo lema de Riemann-
Lebesgue temos que cn , dn → 0 quando n → ∞, logo segue de (3.13) e (3.14) que existe uma constante C > 0
tal que
C
|an | , |bn | 6 3 ,
n
logo a série
∞
X
n (|an | + |bn |)
n=1
1
converge, o que prova que u é de classe C em R e que podemos derivar a série que define u termo a termo
para obter
∞ µ ¶
πX nπx cnπt cnπt
ux (x, t) = n cos an cos + bn sen ,
L n=1 L L L
∞ µ ¶
cπ X nπx cnπt cnπt
ut (x, t) = n sen −an sen + bn cos .
L n=1 L L L
Como as três séries do lado direito são convergentes (as duas últimas pela desigualdade de Bessel), segue
que u é de classe C 2 em R e que podemos derivar as séries que definem as derivadas primeiras de u termo a
termo para obter as derivadas segundas de u:
∞ µ ¶
π2 X 2 nπx cnπt cnπt
uxx (x, t) = − 2 n sen an cos + bn sen ,
L n=1 L L L
∞ µ ¶
c2 π 2 X 2 nπx cnπt cnπt
utt (x, t) = − 2 n sen an cos + bn sen ;
L n=1 L L L
em particular, vemos que utt = c2 uxx . É fácil ver que as condições inicial e de fronteira são verificadas. ¥
Como veremos no Teorema 3.5, as hipóteses sobre a derivada terceira de f e a derivada segunda de g podem
ser removidas; de fato, não é nem mesmo necessário que existam f 000 e g 00 para que a equação da onda possua
solução de classe C 2 .
3.2.1 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. Use o método de separação de variáveis para resolver os seguintes problemas de valor ini-
cial e de fronteira (em alguns problemas, pode ser necessário encontrar antes a solução de “estado
estacionário”).
Rodney Josué Biezuner 105
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(a) ux (0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(c) u(0, t) = A, u(L, t) = B se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(d) u(0, t) = A + Bt, u(L, t) = C + Dt se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
(e) (Corda sujeita à ação da gravidade)
utt = c2 uxx − g se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = 0, u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
(i) (Corda percurtida por um martelo plano) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0, ½
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, v se |x − a| 6 δ,
com g(x) =
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L,
(j) (Corda percurtida por um martelo convexo) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0, (
π (x − a)
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, v cos se |x − a| 6 δ,
com g(x) = 2δ
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L,
Rodney Josué Biezuner 106
Exercı́cio 3.2. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do exercı́cio
anterior e veja como a solução evolui com o tempo.
Exercı́cio 3.3. Prove que as soluções que você encontrou no Exercı́cio 3.2 (a), (c), (d) e (e) são contı́nuas
em R e de classe C 2 em R. O que você pode dizer sobre as soluções que você encontrou nos ı́tens (f),
(g) e (h)?
Exercı́cio 3.4. (Princı́pio de Duhâmel) Mostre que a solução do problema de Dirichlet para a equação da
onda não-homogênea com condições iniciais homogêneas
2
utt = c uxx + q(x, t)
se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
é dada por Z t
u(x, t) = u(x, t; s) ds,
0
Teorema 3.4. (Solução de D’Alembert, 1747) Suponha que u é uma função de classe C 2 que satisfaz a
equação da onda
utt = c2 uxx
onde c é uma constante. Então existem funções F, G : R → R de classe C 2 tais que
onde
Z L
2 nπx
an = f (x) sen dx,
L 0 L
Z L
2 nπx
bn = g(x) sen dx.
cnπ 0 L
De fato, usando as identidades trigonométricas, temos
· ¸
nπx cnπt 1 nπ(x + ct) nπ(x − ct)
sen cos = sen + sen ,
L L 2 L L
· ¸
nπx cnπt 1 nπ(x − ct) nπ(x + ct)
sen sen = cos − cos ,
L L 2 L L
de modo que
∞ · ¸ ∞ · ¸
1X nπ(x + ct) nπ(x + ct) 1X nπ(x − ct) nπ(x − ct)
u(x, t) = an sen − bn cos + an sen + bn cos ,
2 n=1 L L 2 n=1 L L
ou seja,
1 Xh nπr i
∞
nπr
F (r) = an sen − bn cos ,
2 n=1 L L
1 Xh nπs i
∞
nπs
G(s) = an sen + bn cos .
2 n=1 L L
Como an são os coeficientes de Fourier da extensão periódica ı́mpar de perı́odo 2L da função f , que deno-
taremos por fe, segue que
∞
1X nπx 1
an sen = fe(x) .
2 n=1 L 2
cnπbn
Por outro lado, são os coeficientes de Fourier da extensão periódica ı́mpar de perı́odo 2L da função
L
g; bn não são os coeficientes de Fourier da extensão periódica par de perı́odo 2L da função g. Para resolver
este problema, observe que ao integramos termo a termo
X∞
cnπbn nπx
g (x) = sen ,
n=1
L L
obtemos Z x ∞
X nπx
g (ξ) dξ = −c bn cos
0 n=1
L
Rodney Josué Biezuner 109
Assim, se denotarmos por ge a extensão periódica ı́mpar de perı́odo 2L da função g, temos que
∞ Z x
1X nπr 1
bn cos =− ge(ξ) dξ.
2 n=1 L 2c 0
Em outras palavras,
Z r
1e 1
F (r) = f (r) + ge(ξ) dξ,
2 2c 0
Z s
1 1
G(s) = fe(s) − ge(ξ) dξ,
2 2c 0
e
Z x+ct Z x−ct
1e 1 1 1
u(x, t) = f (x + ct) + g(ξ) dξ + fe(x − ct) − ge(ξ) dξ
2 2c 0 2 2c 0
Z x+ct
1 1
= [fe(x + ct) + fe(x − ct)] + ge(ξ) dξ.
2 2c x−ct
Agora observe que, diferentemente do enunciado do Teorema 3.3, as funções F e G, e portanto a solução
u, serão de classe C 2 simplesmente se exigirmos que f seja de classe C 2 (desde que, além disso, f 00 (0) =
f 00 (L) = 0) e g seja de classe C 1 . Estas considerações nos levam a enunciar o seguinte resultado:
Teorema 3.5. (Solução de D’Alembert para o Problema de Dirichlet) Sejam f, g : [0, L] → R, f de classe
C 2 e g de classe C 1 , tais que f (0) = f (L) = f 00 (0) = f 00 (L) = g(0) = g(L) = 0. Então
Z x+ct
1 e e 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + ge(s) ds, (3.16)
2 2c x−ct
onde fe, ge são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, é a única
solução para (3.4), contı́nua em R e de classe C 2 em R. Além disso, (3.4) é bem posto no sentido de
Hadamard.
As funções F e G não podem ser determinadas de maneira única, porque se c é uma constante arbitrária,
então F + c e G − c levam à mesma solução para o problema. Mas, por este mesmo motivo, não há perda
de generalidade se impusermos a condição
F (0) = 0.
Além disso, o problema envolve apenas os valores de x e t tais que 0 6 x 6 L e t > 0, logo apenas os
valores de F em [0, +∞) e de G em (−∞, L] são relevantes para a solução. Estes valores serão unicamente
determinados pelas condições iniciais e de fronteira.
Das condições iniciais do problema, obtemos
se 0 6 x 6 L. Como f (0) = F (0) = 0, segue que G(0) = 0. Integrando a última expressão, obtemos
Z
1 x
F (x) − G(x) = g(s) ds
c 0
Rodney Josué Biezuner 110
se 0 6 x 6 L. Concluı́mos que
Z x
1 1
F (x) = f (x) + g(s) ds,
2 2c 0
Z x
1 1
G(x) = f (x) − g(s) ds
2 2c 0
para x ∈ [0, L]. Para encontrar os valores de F e G além deste intervalo, usamos as condições de fronteira.
De u(0, t) = 0 para todo t > 0, obtemos F (ct) + G(−ct) = 0 para todo t > 0, isto é,
e de u(L, t) = 0 para todo t > 0, obtemos F (L + ct) + G(L − ct) = 0 para todo t > 0, isto é,
(Em outras palavras, G em [−L, 0] é a extensão ı́mpar da restrição de F ao intervalo [0, L].) Agora, se fe, ge
são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, então para x 6 0 temos
fe(x) = −f (−x),
Z −x Z −x Z x
g(s) ds = − ge(−s) ds = ge(s) ds,
0 0 0
de modo que Z x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo − L 6 x 6 L.
2 2c 0
ou, tomando x = −y + L,
G(y) = G(y − 2L) para todo y 6 L,
o que significa que G é a restrição a (−∞, L] de uma função periódica de perı́odo 2L. Segue então de (3.17)
que o gráfico de F em [0, +∞) é obtido do gráfico de G em (−∞, 0] por simetria com respeito à origem, de
modo que F é a restrição a [0, +∞) de uma função periódica de perı́odo 2L. Portanto,
Z
1 1 x
F (x) = fe(x) + ge(s) ds para todo x > 0,
2 2c Z 0 (3.19)
x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo x 6 L.
2 2c 0
Para que F e G sejam de classe C 2 , precisamos que f seja de classe C 2 e que g seja de classe C 1 . Além
disso, como fe é ı́mpar, derivando fe(x) = −fe(−x) duas vezes produz fe00 (x) = −fe00 (−x) para todo x; em
Rodney Josué Biezuner 111
particular, fe00 (0) = −fe00 (0), o que implica fe00 (0) = 0, e fe00 (L) = −fe00 (−L) = −fe00 (L) (porque fe tem perı́odo
2L), logo fe00 (L) = 0 também.
Como F e G foram determinadas de maneira única nos intervalos [0, +∞) e (−∞, L], respectivamente,
segue que a única solução para o problema é
Z x+ct
1 e e 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + ge(s) ds.
2 2c x−ct
É fácil verificar a partir daı́ que a solução depende continuamente dos valores iniciais, pois se u1 e u2 são
soluções de (3.4) correspondentes aos valores iniciais f1 , g1 e f2 , g2 , respectivamente, então
¯Z ¯
1 ¯¯ ¯
¯ 1 ¯¯ x+ct ¯
|u1 (x, t) − u2 (x, t)| 6 ¯fe1 (x + ct) + fe1 (x − ct) − fe2 (x + ct) − fe2 (x − ct)¯ + ¯ [ g
e1 (s) − g
e2 (s)] ds ¯
¯
2 2c x−ct
Z
1 ¯¯ ¯ 1¯
¯ ¯
¯
¯ 1 x+ct
6 ¯fe1 (x + ct) − fe2 (x + ct)¯ + ¯fe1 (x − ct) − fe2 (x − ct)¯ + max |ge1 − ge2 | ds,
2 2 2c [x−ct,x+ct] x−ct
Como
¯ ¯
¯e ¯
¯f1 (x + ct) − fe2 (x + ct)¯ 6 max |f1 − f2 | ,
[0,L]
¯ ¯
¯e ¯
¯f1 (x − ct) − fe2 (x − ct)¯ 6 max |f1 − f2 | ,
[0,L]
¥
Compare a expressão obtida em (3.19) com a expressão para F e G obtida através de séries de Fourier.
onde f, g : R → R são funções de classe C 2 . Este é um problema de valor inicial apenas, também chamado
de problema de Cauchy. Ele pode ser pensado como o modelo matemático para uma corda muito longa,
de modo que as condições sobre as suas extremidades podem ser desprezadas. Este problema não pode ser
resolvido por séries de Fourier se as funções f e g não forem periódicas, mas usando o mesmo argumento do
Rodney Josué Biezuner 112
Teorema 3.5 (este caso é ainda mais simples e muitos dos detalhes daquela demonstração são desnecessários),
obtemos a solução como sendo
Z x+ct
1 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + g(s) ds. (3.20)
2 2c x−ct
3.4.4 Exercı́cios
Exercı́cio 3.6. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), crie uma animação para ver como as funções F e G se
sobrepõe para criar a solução u para o problema de Dirichlet da equação da onda em um intervalo
[0, L]. Escolha vários pares de funções F e G que satisfaçam as condições do Teorema 3.5.
Exercı́cio 3.7. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
utt = c2 uxx − g
é
g
u (x, t) = x (x − 1) + F (x + ct) + G(x − ct),
2c2
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 .
Exercı́cio 3.8. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Neumann homogêneo para a equação da
onda.
Exercı́cio 3.9. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Robin homogêneo para a equação da
onda com condições de fronteira u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0.
Exercı́cio 3.10. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
é Z
1
u (x, t) = F (x + ct) + G(x − ct) + q (r, s) drds,
2c T
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 e T é o triângulo de vértices (x − ct, 0), (x + ct, 0) e
(x, t).
cnπt cnπt
= an cos + bn sen .
L L
Portanto,
∞
X µ ¶
nπx cnπt
u(x, t) = αn sen sen + θn . (3.21)
n=1
L L
Esta é a chamada solução de Bernoulli (1753) e é imediatamente passı́vel de interpretações fı́sicas. Para
cada n, as vibrações individuais
µ ¶
nπx cnπt
un (x, t) = αn sen sen + θn
L L
são chamadas harmônicos. A vibração da corda é a superposição destes infinitos harmônicos. Se consider-
armos apenas o harmônico un cada ponto da corda se move com as seguintes caracterı́sticas:
nπx
amplitude αn sen ,
L
fase θn ,
2L
perı́odo ,
cn
cn
freqüência .
2L
Em particular, a freqüência em todos pontos da corda para cada harmônico é um múltiplo inteiro de c/2L
aumentando linearmente com n. A freqüência do primeiro harmônico, chamado o harmônico fundamental,
é a chamada a freqüência fundamental da corda:
r
c 1 τ
ω1 = = .
2L 2L ρ
nπx
Note ainda que para cada harmônico existem pontos da corda que não se movem (os zeros da função sen );
L
estes são chamados pontos nodais.
O ouvido humano é capaz de distinguir poucos harmônicos. Isso se deve não só pelo fato da freqüência dos
harmônicos aumentar linearmente com o ı́ndice n, como também porque a amplitude e, conseqüentemente,
a energia destes harmônicos decrescer com n. Para ver isso, vamos calcular a energia de cada harmônico.
A segunda é clara. Para ver como foi obtida a primeira, observe que o trabalho da força de tensão vertical
na direção transversal em um ponto x da corda é dado por
de modo que o trabalho total realizado pela força de tensão na corda desde o instante 0 até o instante t0 é
Z t0 Z L
T = τ uxx (x, t)ut dxdt.
0 0
se as extremidades da corda estão fixadas de modo que ut (0, t) = ut (L, t) = 0, ou se as condições de fronteira
são tais que ux (0, t) = ux (L, t) = 0. Logo,
Z t0 ÃZ !
L
1 d 2
T=− τ ux (x, t) dx dt
0 2 dt 0
Z Z
1 L 2 1 L 2
= τ ux (x, 0) dx − τ ux (x, t0 ) dx,
2 0 2 0
o que mostra que o trabalho da tensão para levar a corda da configuração inicial para a configuração final
depende apenas destas duas e portanto independe das configurações intermediárias, o que nos permite definir
esta expressão como uma energia potencial.
Assim, para cada n, a energia total do harmônico un é (supondo τ e ρ constantes)
Z Z
1 L 1 L
En = Un + Kn = τ [(un )x ]2 dx + ρ(x)[(un )t ]2 dx
2 0 2 0
Z µ ¶ Z µ ¶
τ αn2 n2 π 2 L 2 nπx 2 cnπt ρ αn2 c2 n2 π 2 L 2 nπx 2 cnπt
= cos sen + θn dx + sen cos + θn dx
2 L2 0 L L 2 L2 0 L L
µ ¶Z L µ ¶Z L
τ αn2 n2 π 2 2 cnπt 2 nπx ρ αn2 c2 n2 π 2 2 cnπt nπx
= 2
sen + θn cos dx + 2
cos + θ n sen2 dx
2 L L 0 L 2 L L 0 L
µ ¶ µ ¶
τ αn2 n2 π 2 2 cnπt L ρ αn2 c2 n2 π 2 2 cnπt L
= 2
sen + θn + 2
cos + θn
2 L L 2 2 L L 2
· µ ¶ µ ¶¸
αn2 n2 π 2 cnπt cnπt
= τ sen2 + θn + ρc2 cos2 + θn .
4L L L
cn
onde M = Lρ é a massa total da corda, αn é a amplitude máxima do harmônico e ωn = 2L a freqüência do
harmônico. Desta expressão, não parece óbvio que a energia de cada harmônico decresce, mas a observação
seguinte prova que isso tem que acontecer.
A energia total da corda é soma das energias dos harmônicos. De fato, como a corda vibrante nesta
situação é um sistema conservativo (não há forças dissipadoras de energia e o sistema é isolado de influências
externas ou estas são desprezı́veis), a energia total da corda é a sua energia no instante 0, ou seja,
Z L Z L
1 1
E= τ u2x (x, 0) dx + ρ(x)u2t (x, 0) dx
2 0 2 0
Z L Z L
1 1
= τ [f 0 (x)]2 dx + ρ(x)[g(x)]2 dx.
2 0 2 0
Exemplo 3.6. No caso da corda dedilhada (por exemplo, a corda de um violão), o movimento da corda é
descrito pelo problema
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
onde
hx
se 0 6 x 6 a,
f (x) = a
L−x
h se a 6 x 6 L.
L−a
(Supõe-se que o músico dedilha a corda em um ponto distante a da extremidade 0 a uma altura h.) Os
harmônicos deste problema são encontrados diretamente encontrando a série de Fourier de f (já que
dn = 0, pois não há velocidade inicial, o músico simplesmente solta a corda):
µ ¶
2h L2 nπa nπx cnπt
un (x, t) = 2 2
sen sen cos .
a(L − a) n π L L L
A vibração total da corda é a superposição destes harmônicos. Observe que, dependendo do ponto
a, alguns harmônicos podem estar ausentes (correspondentes a sen nπa L = 0); estes são os chamados
harmônicos mudos. Por exemplo, se a = L/2, todos os harmônicos pares são mudos. Em geral, se o
ponto a for um ponto nodal do n-ésimo harmônico, este será mudo. O primeiro harmônico (que não
possui pontos nodais) nunca é mudo.
A altura do som é medida pela freqüência, e em geral ela é dada pelo harmônico fundamental
r
1 τ
ω1 = .
2L ρ
Assim, quanto menor o comprimento da corda, maior é a freqüência, recurso utilizado nos instrumentos
musicais e pelos músicos. Além disso, a freqüência depende da tensão, daı́ a necessidade de se afinar
os instrumentos musicais, pois com o passar do tempo a tensão em suas cordas varia.A intensidade
depende da energia, já o timbre é uma qualidade que depende da forma global de u(x, t) e portanto
permite distinguir entre instrumentos diferentes. ¤
Rodney Josué Biezuner 117
Teorema 3.7. (Princı́pio de Conservação da Energia) Suponha que u(x, t) seja uma solução para a equação
da onda
utt = c2 (x, t)uxx
onde c(x, t) = τ /ρ(x) e τ é uma constante positiva satisfazendo
ux (0, t) = ux (L, t) = 0
ou
ut (0, t) = ut (L, t) = 0.
Se a energia da solução u no instante t é definida por
Z L Z L
1 1
E(t) = τ u2x (x, t) dx + ρ(x)u2t (x, t) dx,
2 0 2 0
ρ(x)utt = τ uxx .
Temos
" Z Z #
0 d 1 L 2 1 L 2
E (t) = τ ux (x, t) dx + ρ(x)ut (x, t) dx
dt 2 0 2 0
Z L Z L
=τ ux (x, t)uxt (x, t) dx + ρ(x)ut (x, t)utt (x, t) dx
"0Z 0
Z #
L L
=τ ux (x, t)uxt (x, t) dx + uxx (x, t)ut (x, t) dx .
0 0
Prova: Suponha que u1 e u2 sejam duas soluções do problema acima. Então u = u1 − u2 é solução do
problema
utt = c2 (x, t)uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L.
É claro que a energia inicial é E(0) = 0. Logo, pelo princı́pio de conservação da energia,
Z L Z L
1 1
E(t) = τ (t)u2x (x, t) dx + ρ(x)u2t (x, t) dx = 0
2 0 2 0
para todo t. Como τ (t) e ρ(x) são funções positivas, segue que ux (x, t) = ut (x, t) = 0, portanto u é constante.
Mas u(0, t) = 0, logo esta constante é a constante nula, isto é, u ≡ 0 e portanto u1 = u2 . ¥
Se as oscilações são pequenas, temos que c é uma constante e a solução independente do tempo é
g 2
v(x) = (x − Lx).
2
Isso não corresponde à situação observada na realidade, em que a forma de uma corda suspensa é uma
catenária (isto é, o gráfico de uma função do tipo cosseno hiperbólico). Isso mostra os limites do nosso
modelo fı́sico. O seu maior limite é neste caso é que o cabo suspenso está sujeito a grandes oscilações. Para
obter a equação diferencial correta que modela uma corda ou cabo suspenso, é necessário ter um modelo
fı́sico mais acurado que permita grandes oscilações.
Observe a situação mostrada na figura abaixo:
Nela consideramos a porção do cabo suspenso entre os dois pontos marcados na figura, onde um dos pontos
é o ponto mais baixo do cabo e o outro ponto está situado à sua direita. Denote por H a força da tensão
horizontal atuando no ponto mais baixo da curva e por T a tensão atuando no ponto à direita. Se entre
estes dois pontos o comprimento do cabo for s e a sua densidade linear for ρ, de modo que o seu peso é
Rodney Josué Biezuner 119
P = mg = (ρs)g, e a tensão T faz um ângulo θ com a horizontal, do equilı́brio das forças resultantes segue
que:
T cos θ = H,
T sen θ = gρs.
Daı́,
gρ
v 0 (x) = tan θ =
s.
H
Denotando a constante a = gρ/H, e derivando esta expressão uma segunda vez, obtemos
Por outro lado, como s = s(x) nada mais é que a função comprimento de arco, temos
p
s0 (x) = 1 + [v 0 (x)]2 .
bem diferente da equação anterior v 00 (x) = a. Note que esta é uma equação diferencial não-linear. A solução
geral desta equação diferencial ordinária de segunda ordem é
³x ´
v(x) = a cosh + c1 + c2 . (3.23)
a
Substituindo as condições v(0) = 0 e v(L) = 0, obtemos os valores das constantes c1 e c2 .