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BARROS, Pedro G. dos S.(1); GOMES, Paulo C. C. (2); UCHOA, Silvia B. B. (2)
Resumo
O concreto autoadensável (CAA) é considerado um concreto especial pela sua excelente trabalhabilidade
no estado fresco. Suas misturas são geralmente constituídas de aditivos, adições e modificações em seu
esqueleto granular. CAA tem proporcionado mudanças nas propriedades mecânicas e de durabilidade. Em
relação à durabilidade, no que se refere à proteção das barras de aço, parâmetros como a velocidade de
propagação da frente de carbonatação e o potencial de corrosão das barras de aço imersas, tem sido
investigados. No estudo são utilizados: CAA, com adição de resíduo proveniente do corte de blocos de
mármore e granito (RCMG), e concretos convencionais, sem e com aditivo inibidor de corrosão. Os corpos-
de-prova foram avaliados num período de 180 dias, para determinação da velocidade de propagação da
frente de carbonatação, a evolução do potencial eletroquímico de corrosão e a diferença de potencial
elétrico entre o ânodo e o cátodo de cada concreto. Para o potencial de corrosão foi utilizado o eletrodo de
cobre/sulfato de cobre, sendo as medidas realizadas com o eletrodo mergulhado na solução salina e para
avaliação da propagação da frente de carbonatação foi utilizada câmara de carbonatação acelerada. Após
este período foi aplicada uma corrente impressa nos corpos-de-prova até a fissuração dos mesmos. O CAA
mostrou-se menos propenso à propagação da frente de carbonatação e à corrosão das armaduras, bem
como apresentou maior período de resistência até a fissuração, durante a aplicação da corrente aplicada.
Verificou-se ainda uma relação direta entre a propagação da carbonatação e o potencial de corrosão nos
diferentes concretos estudados.
Palavra-Chave: Concreto autoadensável; Durabilidade; Carbonatação; Corrosão.
Abstract
Self-compacting concrete (SCC) is a kind of special concrete because it has an excellent workability while
fresh. Their mixes generally are composed with chemical and mineral admixtures, presenting modified
granular framing. Those aspects change the concrete structure, providing better mechanical properties, and
possibly, better properties related to the durability, especially when a protection against rebar corrosion is
needed. Thus, the speed of propagation of carbonation front and the potential of rebar corrosion are
considered significant parameters for evaluating the durability of a particular concrete. In this research the
following concretes are used: one SCC, with marble and granite cutting waste (MGCW) being used as
admixture, and two common concretes, one of them with a corrosion inhibitor composite. The specimens
were cast and during six months the evolution of the carbonation front, the electrochemical corrosion
potential and the potential difference between anode and cathode of each specimen were evaluated. A
copper/copper sulphate electrode was used to measure the corrosion potential, being the measures done
with the electrode inside the saline solution. After this time an impressed current was applied to the
specimens until they show cracked. The SCC specimens showed less vulnerable to the propagation of the
carbonation front, less probability of being corroded during the first six months and more time to cracking
with the impressed current applied. A direct relation between the propagation of the carbonation front and
the potential of rebar corrosion was verified in both the studied concretes.
Keywords: Self-compacting concrete; carbonation; rebar corrosion.
As misturas de CAA utilizam aditivo superplastificante e adições tipo fíler e/ou aditivo
modificador de viscosidade, além de menor volume e menor diâmetro característico
máximo dos agregados graúdos, comparados aos usados nos concretos convencionais.
Em termos gerais, o superplastificante é necessário para produzir um concreto fluido,
enquanto o fíler e o modificador de viscosidade são necessários para manter a
estabilidade da mistura, reduzindo assim fenômenos como a exsudação e a segregação,
e as modificações em relação aos agregados graúdos são para reduzir o risco de
bloqueio ao passar por obstáculos (ZHU & BARTOS, 2003).
Segundo VÉNUAT et al. (1969) apud CUNHA & HELENE (2001), a umidade relativa do
ambiente exerce influência sobre a quantidade de água contida nos poros do concreto e
esta, por sua vez, condiciona a velocidade de difusão do CO2. A difusão de CO2 na fase
líquida é aproximadamente 104 vezes mais lenta que na fase gasosa, mas a presença de
água é fundamental para a reação.
A corrosão das armaduras pode ser considerada uma das principais formas de
deterioração de elementos de concreto armado. Segundo HELENE (1993) apud CUNHA
& HELENE (2001), a corrosão pode ser definida como a interação destrutiva de um
material com o meio ambiente, seja por ação física, química, eletroquímica, ou por
combinação destas. Caracterizando-se como a ação eletroquímica típica à maioria dos
processos corrosivos de metais em meios aquosos, a corrosão eletroquímica é a mais
significativa no processo de corrosão das armaduras. Para o seu desenvolvimento no
interior do concreto é necessário que existam eletrólito, solução intersticial aquosa que
contém íons em solução (podendo ser fraco, ou seja, com poucos íons, ou forte, com
muitos íons); diferença de potencial (DDP) entre dois pontos aleatórios da armadura, seja
pela diferença de umidade, aeração, concentração salina, tensão do concreto e/ou do
aço, impurezas no metal, heterogeneidades inerentes ao concreto, seja pela
carbonatação ou pela presença de íons; e oxigênio, que regulará todas as reações de
corrosão, dissolvido na água presente nos poros do concreto.
A utilização da medida do potencial de corrosão tem a vantagem de ser uma técnica não
destrutiva e de fácil aplicação, não sendo necessário o emprego de aparelhos caros e
sofisticados.
2 Estudo experimental
O estudo experimental foi desenvolvido para avaliar o desempenho do CAA, com resíduo
RCMG (CAA-RCMG), concreto de referência (C-REF) e concreto com aditivo inibidor de
corrosão (C-I-COMP); relacionados às propriedades de durabilidade.
2.1 Materiais
Os materiais utilizados foram: Cimento Portland Composto, CP II-Z-32, atendendo a NBR
11.578; agregado miúdo: areia natural quartzosa, com dimensão máxima característica de
2,4 mm e módulo de finura de 2,49; agregado graúdo: pedra britada de origem granítica,
“brita 0”, com dimensão máxima característica de 12,5 mm e módulo de finura de 6,11,
todos comercializados no mercado local; aditivo superplastificante de última geração a
base de policarboxilatos (cadeia de éter carboxílico modificado), com teor de sólidos
variando entre 28,5 e 31,5 % e densidade variando entre 1,067 e 1,107 g/cm3; aditivo
plastificante a base de lignosulfonatos com teor de sólidos variando entre 34 e 38 % e
densidade variando entre 1,16 e 1,20 g/cm3; aditivo inibidor de corrosão composto em pó,
contendo na sua composição molibdato de sódio (2%) e tiouréia (0,67%), em relação à
massa de cimento, sendo adicionado durante a mistura do concreto (UCHÔA, 2007) e
resíduo proveniente do corte de blocos de mármore e granito (RCMG), triturado e
passado na peneira com abertura da malha de 0,3 mm, com massa específica de 2,685
g/cm³. Foi utilizada água potável proveniente do sistema de abastecimento de água local.
Nas misturas, a água contida nos aditivos foi descontada e a água referente à absorção
dos agregados foi acrescentada.
2.3.3 Carbonatação
Para a realização dos ensaios de carbonatação foi usada uma câmara de carbonatação,
de circuito aberto e alimentação contínua, baseada no modelo proposto por JOHN (1995)
esquematizada na Figura 1. Alguns pesquisadores adotam para ensaios acelerados
concentrações de CO2 de 10%. Neste trabalho foi empregada a concentração de 5%. A
temperatura e a umidade no interior da câmara foram registradas.
O corpo-de-prova utilizado para este ensaio possui formato prismático com dimensões
(11,4 x 15,19 x 27,94) cm, atravessado por três barras de aço CA-50 Ø 12,5 mm, isoladas
nas extremidades conforme Figura 3, tendo a parte central exposta, com comprimento de
15,24 cm. Antes de receber a fita isolante, as barras foram limpas com uma solução de
ácido sulfúrico a 10 % e pesadas para registros das massas iniciais.
Foi colado no topo do prisma um pequeno dique de vidro para conter a solução salina (3%
de cloreto de sódio), visando a aplicação de ciclos de molhagem e secagem do concreto.
Estes ciclos são de 14 dias cada. Entre as barras inferiores foi conectado um condutor e
entre este e a barra superior, instalado um resistor de 100 Ω , através do qual será
medida a DDP (Vj) para o cálculo da corrente, utilizando a Equação 2.
I j = V j / 100 (Eq. 2)
As medidas realizadas foram feitas com o eletrodo de referência mergulhado na solução
salina (potencial de corrosão) e entre as barras superior e inferiores (Vj), como pode ser
visto na Figura 4.
O ensaio foi executado até a abertura de fissuras ao longo de todo o comprimento do topo
do corpo-de-prova, paralelamente à barra corroída (ânodo).
3 Resultados e Análises
3.3 Carbonatação
Foram realizadas medidas da propagação da frente de carbonatação após 8 e 32
semanas de exposição na câmara, com 5% de CO2, a partir das quatro faces do corpo-
de-prova recém fraturado. Além desses, foi mantida fora da câmara de carbonatação, em
ambiente de laboratório, outra série de corpos-de-prova para sofrerem o processo de
carbonatação naturalmente, servindo então como referência.
Tabela 7 - Resultados do ensaio de propagação da frente de carbonatação com oito semanas de exposição.
Tempo de
Temperatura
U.R. média (%) CO2 (%) exposição
média (ºC)
(semanas)
86,40% 5% 24,4 ºC 8 semanas
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
8 semanas 32 semanas
Figura 7 – Face fraturada de um corpo-de-prova
após aplicação de fenolftaleína
CAA-RCMG C-REF C-I-COMP
0
0 30 60 90 120 150 180
T e m po (dia s)
C A A -R C MG C -R E F C -I-C O MP
Figura 8 – Corrosão Total das barras, valores em Figura 9 – Variação do potencial de corrosão, versus
Coulombs. eletrodo de Cu-CuSO4, valores em Volts.
45
Variaç ão da c orrente E voluç ão da abertura de
Ab ertu ra d e fis s u ras (m m )
40
0,9
0,8
fis s uras
C orrente (mA)
0,7
35
0,6
30 0,5
0,4
25 0,3
0,2
20 0,1
15 0
9/1 11 13 15 17 19 21 23
/1 8
/1 8
/1 8
/1 8
/1 8
17 0 08
/1 8
/1 8
/1 8
/1 8
/1 8
/1 8
8
00
0
14 0 0
15 0 0
16 0 0
18 0 0
19 0 0
20 0 0
21 0 0
22 0 0
23 0 0
00
2 20 20 20 20 20 20
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
08 00 08 08 08 08 08 08
/1
/1
8
11
12
13
C A A -R C MG C -R E F C -I-C O MP C A A -R C MG C -R E F C -I-C O MP
Figura 10 – Variação das correntes elétricas, valores Figura 11 – Propagação de fissuras nos concretos
em miliampéres. devido à corrosão do anodo.
Após a fissuração total de todos os corpos-de-prova, estes foram rompidos para retirada
do anodo. Realizou-se então uma limpeza para remoção dos produtos de corrosão,
utilizando a mesma solução empregada no preparo dos corpos de prova, 10% de ácido
sulfúrico. Em seguida, estas barras foram pesadas para que se verificasse a perda de
massa provocada pela corrosão. A seguir são mostradas algumas imagens dos corpos-
de-prova e das barras de aço após o encerramento do ensaio (Figuras 12 e 13). Observe-
se na Figura 12 a propagação da fissura até o encontro com a barra.
Além da determinação da perda de massa real (massa inicial da barra menos a massa ao
final do ensaio), foi calculada a perda de massa teórica, a partir da Equação 4, sendo
estes resultados apresentados na Tabela 10.
I ∗ t ∗ ma
M= (Eq. 4)
z∗F
Onde:
M = massa dissolvida do material (ferro do aço),
I = densidade de corrente aplicada (em Ampéres/cm2),
t = tempo em segundos,
ma = massa atômica do ferro,
z = numero de elétrons transferidos (2),
F = Constante de Faraday =96 485,34 C/mol.
De posse das variações de massa, foram calculadas as taxas de corrosão dos concretos,
conforme proposto por GUIMARÃES et al. (2005), cujos resultados são apresentados na
11.
Tabela 11 – Taxas de corrosão dos concretos, medidas em milímetros por ano.
Concreto Taxa de corrosão teórica Concreto Taxa de corrosão real
CAA-RCMG 3,21 CAA-RCMG 1,21
C-REF 4,53 C-REF 1,95
C-I-COMP 4,23 C-I-COMP 2,35
Com relação aos valores referentes às análises dos potenciais de corrosão, observou-se
um melhor comportamento do CAA-RCMG frente aos demais concretos, principalmente
quando da aceleração do processo de corrosão pela aplicação de corrente elétrica,
mostrando sua viabilidade quanto à proteção das armaduras à corrosão. A comparação
mostrou que o CAA-RCMG proporcionou uma proteção superior, retardando a formação
dos produtos da corrosão, que como são expansivos, provocam a fissuração do concreto.
_______. Standard Test Method for Determining the effects of Chemical Admixtures on the
Corrosion of Embedded Reinforcement in Concrete exposed to Chloride Environments: ASTM G
109-91. Philadelphia, 1992. 5p.
CUNHA, Ana C. Quintas da; HELENE, P. R. L. Despassivação das armaduras de concreto por
ação da carbonatação. São Paulo: EPUSP, 2001.
TUTIKIAN, B. F.; KUHN, R. O.; BRESCOVIT, S. J.; DAL MOLIN, D. C. C.; CREMONINI, R. A.
Comparação da evolução da resistência à compressão aos 3, 7, 28 e 63 dias, do consumo de
cimento e penetração íons de cloretos dos concretos auto-adensáveis com finos pozolânicos e
não pozolânicos. In. Reunião Anual do IBRACON, 47. Recife, 2005.