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18.03
O desafio específico que traz para que vivemos no Brasil do sec. XXI pode ser filtrado
da seguinte forma:
O que gerou tal sistema? Busca-se encontrar aqui os motivos da sua criação, o que
levou a sua construção, quais a rupturas ocorridas nesse momento.
A filosofia da história nos remete a uma indagação que tem vários desdobramentos:
qual a diferença entre história e estória. São as condições de possibilidade de uma
narrativa histórica, de um conhecimento histórico.
A história é sempre contada por alguém, que enquanto alguém tem algum objetivo
com isso, por mais elevado que ele seja, a pessoa fez a sua análise a partir da sua
perspectiva. Mas a sua leitura pode ser identificada como a verdade dos fatos?
A medida que um certa versão ganha mais repercussão percebe-se que alguns contam
a história enquanto outros sofrem a história. A respeito disso é a história do Brasil, que
não passa de uma certa versão contada possivelmente por uma daquelas matrizes que
foram determinante para a constituição da sociedade brasileira, a saber a matriz
europeia. Possivelmente se a história fosse contada por outra matriz (africana,
indígena) as coisas teriam se desdobrado de outra forma.
Obs: História x estória – será possível considera a história uma narrativa verdadeira
dos fatos? Será que a história tem condições de trazer a narrativa dos fatos?
Para que isso faça sentido é necessário fazer um viagem histórica: quando pensamos
na Grécia do séc. VIII a.C tem-se um complexo de civilizações, todas muito próximas
fisicamente, mas seriam povos muito diversos entre si, alguns com grande afinidades
outros com poucas ou talvez nenhum. A sua constituição deveu-se a entrecruzamento
de culturas a partir de processos migratórios, e esse intercâmbio cultural traz uma
ruptura o que faz com que o os textos de Homero sejam a estrutura desse
pensamento.
Os textos de Homero tratam das aventuras e desventuras de determinados
personagens que se perfilam como heróis (Ulisses, por exemplo). Homero com a sua
poesia traz um gérmen que tem um impacto definitivo em toda cultura ocidental e
inclusive no mundo contemporâneo.
A forma como Homero deixou como registrado nas poesias tem-se uma verdadeira
mística e por isso que esse período é conhecido como o período do pensamento
mitológico. Nesse contexto os homens são sujeitados ao peso do destino, no caso a
mitologia grega, o ateniense parece ter um gosto especial por se reunir para contar e
reunir estórias e isso dinamizou odo o processo de socialização e todo o processo
político do povo grego, e isso, por consequência foi ganhando proporções, que
mostram um padrão de normatividade - é as estórias mostram uma relação com o
elemento estrutural normativo.
A característica básica do pensamento mitológico é aquilo que não está sob o controle
dos homens, trata-se de uma pensamento irracional, pois os homens nesse contexto é
um mero joguete do destino. A própria ideia do cosmos, de um mundo perfeitamente
organizado, da forma que construída no pensamento greco-ateniense mostra isso
muito bem – o sujeito seria um mero grão de areia, incapaz de para determinar a sua
vida.
Quando pensamos na imagem do olimpo temos que Themis teria sido a esposa Zeus,
que é um deus marcado pela passionalidade, e que a partir do momento que viveu
com Themis se tornou mais sereno.
A épica homérica é reforça pela teogonia de Hesíodo, que teria vivido no sec. VI a.C,
denominado de período arcaico.
Este período ainda é muito marcado pela mística, pela irracionalidade, mas que
certamente já traz ruptura extremante significativas se comparada com Homero. E por
isso que chamamos de período arcaico, pois coincide com o surgimento da filosofia, e
é neste período, apesar do impacto da teogonia, já temos os primeiros elemento e
registros escritos de um pensamento filosófico.
Outra ruptura aqui, com os primeiros filósofos passamos a ter fortes elementos que
vão levar a uma transição da teogonia para a cosmologia.
Destaca-se, aqui, que na dinâmica politica e social em Atenas surge a figura de Drácon,
que teria sido um rei severo e conservador, preocupado com seus pares e tradicional a
elite agraria ateniense. Drácon teria produzido um legislação extremamente rigorosa,
dai a relação que se faz com a expressão draconiana – que significa uma medida
extrema, radical.
As hierarquias nessa época era externamente rígidas: ou o sujeito era de elite e tinha
destaque ou o sujeito era muito pobre, e isso era imutável.
Solon teria sido um soberano singular da Atenas arcaica, pois ele ganhou uma aura de
mística em torno dele pelo fato de ter sido um grande reformador e suas reformas
foram inspiradas pelo motivos dos primeiros filósofos (Thales de Mileto, Parmênides,
Pitágoras, Demócrito). Ele promove a inclusão, a justiça e com a nova legislação há
uma ampla flexibilização e Atenas se abre para aos estrangeiros, e com o intercâmbio
cultual Atenas se desenvolve se tornando um local multicultural, plural por excelência.
Toda essa mudança culmina na prosperidade crescente que leva a um outro nível de
pensamento que já está sendo ponto em prática com o Sólon. É ai que quando falamos
de Parmênides, Pitágoras, Demócrito, todos filósofos greco-atenienses pré-socráticos,
tratam da justiça não mais como Themis, mas sim pela representação hegemônica da
justiça é outra deusa chamada Diké - enquanto Themis nos leva a uma ordem divina e
importa, quando falamos de Diké a justiça ganha um contorno que tem fortes
elementos humanos, mas embrionários. Com as reformas de Sólon os cidadãos
subalternos e que vivam a margem passam a ter esse alento, passam a ter esse
horizonte e de se perceberem como cidadãos e que podem viver uma outra vida e que
podem alcançar a felicidade – a situação está se alterando bastante na civilização
ateniense.
O pensamento filosófico passa por outra ruptura: se num primeiro momento a filosofia
era um mística, no segundo momento ganha um outro foco que é o cosmos, sendo
que no cosmos o sujeito é pequeno, quase impotente. Mas na sequencia disso a
filosofia ateniense ganha como foco o sujeito, a subjetividade, e esse é o momento da
grande virada que acontece com os sofistas. É o que se chama de virada sofística, que
ocorre em meados do séc. V a.C.
2.3. A virada sofística (séc. V a.C.)
Cabe destacar uma frase de Protágoras que é muito marcante do pensamento sofista:
o homem como medida de todas as coisas. Isso significa que o homem, o sujeito, é,
por si só, um filtro que, ao doar significado às coisas, forja a sua própria realidade. O
homem, ou a sua coletividade, vai criar o seu padrão de normatividade.
OBS: há quem diga que os sofistas eram tão arrojados que isso somente foi visto
novamente com os pensadores iluministas já no séc. XVIII.
Os sofistas estariam muito mais como aqueles que não contam a história, mas como
aqueles que sofrem a história, como já foi mencionado anteriormente. Isso ocorre de
uma leitura engajada por Platão.
Os sofistas se dão conta, naquele momento, de serem filósofos dos mais consistentes,
no sentido de resistir e buscar e uma afirmação. Uma característica que seja comum
todos eles é exatamente esse empenho em desestabilizar o que está estabelecido e
buscar romper as tradições.
Por serem extremamente pragmáticos e por levarem à sério o seu ofício, os sofistas
cobravam pelos seus ensinamento, o que levou a forte crítica por parte de Sócrates e
Platão.
Esse impulso trazido ao direito pelos sofistas fica materializado pela figura do
logógrafo, que era um expert, não em direito, mas sim um expert da oratória, da
retórica e da persuasão, que é a grande arte dominada pelos sofistas.
É nesse contexto que os sofistas, e nem sempre os sofistas, mas um sujeito letrado na
arte sofista, cobravam pelo serviço de falar para um auditório. Isso é muito
interessante pois o elemento da oratória é importante para a prática jurídica.