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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL - UFMS

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO - FAALC

AUDIOVISUAL | Crítica de Cinema


Atividade |​ ​Crítica do filme ​Elefante​ (2003)
Docente​: ​Julio Bezerra
Discente​: ​Gabriel Monteiro

Quando eu assisti ​Elefante ​pela primeira vez, deveria ter em torno da mesma
idade escolar que os personagens apresentados. Embora contexto e realidade fossem
certamente muito divergentes, lembro do sentimento de conexão que de alguma
forma crescia ao longo dos fracionados 80 minutos de filme. Ao revisitar a obra
alguns anos depois, é certo que o estado de imersão em que fui lançado nada deve
àquele que estonteou o jovem eu.
Elefante ​se passa majoritariamente em um típico colégio estadunidense e,
intermediado pelos diferentes pontos de vista dos alunos dali, expõe um dia comum
com um final trágico. Gus van Sant até insere algumas alusões ao tiroteio ocorrido
anos antes em Columbine, contudo seus métodos não implicam em contar uma
estória, reconstruir os fatos, condenar os culpados. Sua câmera se movimenta pelos
corredores da escola desprendida, quase como se estivesse à deriva, acompanhando
os personagens despreocupadamente, mas bem de perto. Você já se sabe o que está
prestes a acontecer e isso com certeza instaura uma tensão que não pode ser
ignorada. Cada pista visual é um gatilho, os detalhes do desenho de som ampliam o
estado de alerta. O 4:3 da tela joga com isso, encurralando os alunos em longos e
sofisticados travellings que atravessam o filme.
Em meio a uma construção formal tão bem pensada e executada, um certo
incômodo sobre o que está sendo encenado deve surgir, para além de questões
puramente imagéticas. Explorar um evento trágico a troco de planos impecáveis,
depoimentos comoventes ou promoção de determinados discursos sem dúvidas são
escolhas moralmente condenáveis, porém, em nenhum momento o filme demonstra
caminhar nesta direção. Van Sant não parece interessado em defender algum dos
lados (ou supor que existam lados) e sim estimular reflexões sobre aquele ambiente
em sua totalidade, sobre como aquelas pessoas se relacionam. Desmantelando a
linearidade da narrativa, experimenta com a própria (des)construção do suspense, ao
mesmo tempo em que ilustra como essa experiência coletiva pode ser bastante
singular para cada indivíduo. Abordar um tema como o de massacres em escolas
pode ser terreno bastante cinzento e delicado; talvez a arte seja a melhor forma de
fazê-lo.

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