Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARTIGO - Hemocultura Recomendações de Coleta, PDF
ARTIGO - Hemocultura Recomendações de Coleta, PDF
Artigo de revisão
Médica Patologista Clínica, Coordenadora médica dos setores de Microbiologia dos Laboratórios do
Hospital Beneficência Portuguesa, São Paulo (SP) e Hospital do Coração, São Paulo (SP), Brasil.
maitaelmor@uol.com.br
Introdução
B
acteriemia é o termo que designa a indicação auxiliem na orientação da terapia antimicrobiana, cuja
da presença de microrganismos viáveis na aplicação precoce tem demonstrado redução significa-
corrente sanguínea. É um fenômeno de grande tiva na mortalidade (10,11).
relevância diagnóstica, pois frequentemente A bacteriemia primária é assim denominada por ter
está associado a um aumento considerável nas taxas origem no próprio sistema circulatório ou pela entrada
de morbidade e mortalidade, além de representar direta de microrganismos na corrente sanguínea, através
uma das mais significativas complicações no processo de agulhas, infusões contaminadas, cateteres ou outros
infeccioso, o que torna a hemocultura um exame de dispositivos vasculares.
importante valor preditivo de infecção. A bacteriemia secundária ocorre através de dre-
A maioria dos episódios sépticos tem origem nagem de pequenos vasos sanguíneos ou linfáticos,
hospitalar e com certa freqüência envolvem microrga- seguindo para a corrente circulatória como conse-
nismos que apresentam grande resistência aos antimi- quência de um foco de infecção definido em outro
crobianos, estando associados a taxas de mortalidade sítio do organismo.
com tendência a serem superiores às dos episódios As fontes mais comuns de ICS em geral ( incluindo
que ocorrem na comunidade (38). de origem comunitária e hospitalar ) são: dispositivos
Neste contexto, o laboratório clínico tem um papel intravasculares (19%), trato geniturinário (17%), trato
extremamente importante no manejo de pacientes com respiratório (12%), intestino e peritônio (5%), pele (5%),
bacteriemia, uma vez que a hemocultura positiva para trato biliar (4%), abscesso intra-abdominal (3%), outros
microrganismos patogênicos é um indicador altamente sítios (8%) e de sítios desconhecidos (27%) (1).
específico de Infecção da Corrente Sanguínea (ICS), per- Conceitualmente, as bacteriemias se classificam em
mitindo que a identificação do agente e o antibiograma transitória, intermitente, contínua ou de escape.
A do tipo transitória, que em geral é rápida (com A detecção de bacteriemia ou fungemia pode reme-
duração que pode variar de alguns minutos a poucas ter a uma falha nas defesas do hospedeiro em localizar
horas) é a mais comum, e ocorre após a manipulação de e neutralizar determinada infecção em seu foco inicial,
algum tecido infectado como em casos de abscessos, ou eventual insucesso na remoção ou drenagem de
furúnculos e celulites; durante algum procedimento determinado foco infeccioso. No paciente imunocom-
cirúrgico envolvendo tecidos contaminados ou coloni- petente, geralmente as defesas naturais respondem
zados como em procedimentos dentários; manipula- prontamente à presença de microrganismos estranhos.
ções geniturinárias como cistoscopia, cateterização ou Essa eliminação pode ser menos eficiente quando se
dilatação uretral; abortamento ou endoscopias diges- trata de microrganismos encapsulados ou é mais eficaz
tivas; e cirurgias que envolvem áreas contaminadas, quando o paciente já apresenta anticorpos contra o
como ressecção transuretral de próstata, histerecto- organismo infectante. Há situações determinadas em
mia vaginal e debridamento de queimaduras. Este tipo que essa eliminação é menos efetiva, como nos casos de
de bacteriemia também ocorre em algumas infecções infecções a partir de focos intravasculares, na presença
agudas, localizadas ou sistêmicas, como pneumonias, de dispositivos invasivos (pela formação de biofilme) ou
meningites, artrites sépticas e osteomielites (2). em endocardites.
Já quando a bacteriemia se manifesta em inter- As condições que predispõem um paciente ao
valos variáveis de tempo (com o mesmo microrganis- quadro de bacteriemia ou fungemia incluem a idade,
mo) é denominada de intermitente. Geralmente este doenças de base, medicamentos (corticóides, quimio-
tipo ocorre em processos infecciosos relacionados a terápicos, drogas citotóxicas) e alguns procedimentos
abscessos intra-abdominais, pélvicos, perinefréticos, médicos invasivos (cateteres e procedimentos endos-
hepáticos, prostáticos e outros, configurando assim cópicos). O risco é maior nas faixas etárias extremas e
causas frequentes de febre de origem indeterminada. nos pacientes portadores de doenças hematológicas,
A bacteriemia contínua é característica da en- neoplasias, diabetes mellitus, insuficiência renal em
docardite infecciosa aguda e subaguda e de outras diálise, cirrose hepática, imunodepressão e grandes
infecções endovasculares. Este padrão também é queimaduras. Alguns procedimentos cirúrgicos são
encontrado nas primeiras semanas da febre tifóide também predisponentes, particularmente os do trato
e na brucelose (8). geniturinário e gastrointestinal (1).
A bacteriemia de escape (“breakthrough”) ocorre
mesmo enquanto o paciente esteja recebendo anti-
bioticoterapia sistêmica apropriada (germe sensível). Coleta de hemoculturas
Quando se dá no início da terapêutica, geralmente
deve-se a concentrações insuficientes do antimicro- Indicação clínica
biano atingidas na corrente sanguínea (é interessante Idealmente, a coleta deve ser feita antes do início
lembrar que nas estafilococcias é comum haver escape da antibioticoterapia de pacientes que configurem
nos primeiros dias de tratamento, mesmo sob condi- quadro clínico sugestivo de infecção e suficiente para
ções adequadas de antibioticoterapia). Já os episódios serem submetidos à internação e que apresentem febre
de escape que ocorrem tardiamente geralmente se (> 38ºC) ou hipotermia (< 36ºC), leucocitose (> 10.000/
dão por drenagem inadequada do foco infeccioso ou mm3, especialmente com desvio à esquerda) ou granu-
por debilidade das defesas do hospedeiro (9). locitopenia absoluta (< 1000 leucócitos/mm3).
Na maioria das vezes, as bacteriemias são causadas Em crianças pequenas com quadro de queda do
por um único microrganismo. Contudo, em algumas estado geral sem explicação, e em idosos, principal-
situações, caracterizam-se por etiologia polimicrobiana. mente acompanhado de mal estar, mialgia ou sinais
O termo sepse refere-se à condição pela qual a res- de acidente vascular cerebral devem ser investigados.
posta do organismo ao agente infeccioso se manifesta, Nos casos em que houver suspeita de foco de
por meio de sinais e sintomas da doença, como a síndro- infecção provável, é desejável também a coleta de ma-
me da resposta inflamatória sistêmica, independente da teriais representativos dos outros sítios (por exemplo:
presença ou não de hemocultura positiva. liquor, urina, fezes, secreções, abscessos etc.).
Suspeita de bacteriemia ou fungemia primária ou secundária Obter 2-3 amostras, uma após a outra, de diferentes sítios anatômicos, logo após o
(endocardite, meningite, osteomielite, artrite, pneumonia etc.) início dos sintomas
Febre de origem indeterminada (ex. abscessos ocultos, febre tifói- Obter 2-3 amostras, uma após a outra, de diferentes sítios anatômicos, inicialmente. Se
de, brucelose ou outra síndrome infecciosa não diagnosticada) negativas nas primeiras 24-48h de incubação, obter mais duas amostras, uma após a
outra, de diferentes sítios anatômicos
Suspeita de bacteriemia ou fungemia com hemoculturas Considerar métodos alternativos de hemoculturas, específicos para aumentar a
persistentemente negativas recuperação de micobactérias, fungos ou microrganismos fastidiosos
Adaptado de: Baron, E.J, M.P. Weinstein, W.M.Dunne Jr, P. Yagupsky, D.F. Welsh e D.M. Wilson. Cumitech 1C, Blood Cultures IV. Coordinating Ed. E.J. Baron. ASM Press, 2005. Washington D.C.
O uso de antitérmicos não inter fere nos re- quando este dado for disponível por metodologia
sultados de hemoculturas. automatizada.
Cada amostra deve ser coletada de punções
separadas e de sítios anatômicos diferentes. Vá- Volume de sangue
rios frascos com sangue de uma mesma punção Esta é uma das variáveis mais críticas para a posi-
são considerados uma mesma amostra ou cultura tividade do exame, pois quanto maior o volume, maior
de sangue (2). será a chance de positividade. Todavia, devemos
Poucos estudos avaliam sistematicamente a respeitar a idade do paciente (adulto ou criança) e o
hora e o inter valo ótimo entre amostras sucessi- volume recomendado pelo fabricante para os tipos de
vas. Estudos experimentais mostraram que, após frascos utilizados, mantendo a proporção de sangue /
um influxo de bactérias na corrente sanguínea, caldo de cultura de 1:5 a 1:10 (2).
ocorre um tempo de latência de aproximadamen- Para adultos, coleta-se 5 a 10ml de sangue
te uma hora até que ocorram sintomaticamente por frasco em cada punção, totalizando 20ml,
calafrios seguidos de febre (13). distribuídos pelo número de frascos indicados, ou
Alguns autores classicamente recomendam seja, um par de frascos por punção / amostra (17),
a coleta de amostras em inter valos arbitrários conforme resumido na tabela 3.
de 30 a 60 minutos. No entanto, Thomson e col. Na suspeita de fungos dimórficos ou fila-
obser varam que não há diferenças signif icativas mentosos (ex.: Histoplasma) ou micobactérias, o
entre os índices de positividade de hemocultu- indicado é coletar 5 a 10ml por frasco (conforme
ras obtidas em diferentes tempos em relação ao instruções do fabricante), de duas a três amos-
pico febril (14) e Li e col. demonstraram que não tras, coletadas com o inter valo de ao menos um
há diferenças na recuperação de hemoculturas dia entre elas (2).
num período de 24 horas quando obtidas simul- Para crianças, o volume ótimo de sangue ainda
taneamente ou em inter valos separados (15). não está bem definido, mas os dados da literatura
O estado clínico do paciente é que vai de- demonstram que há uma relação direta entre o
terminar o momento e o inter valo entre as co- volume de sangue obtido e a detecção de ICS.
letas (Tabela 1). Em geral, nas infecções agudas, Estudos anteriores já demonstraram que amos-
recomenda-se a coleta de duas a três amostras tras de sangue com volume maior ou igual a 1ml
(dois frascos por punção/amostra) em cur to espa- detectaram mais bacteriemias que amostras com
ço de tempo, ou seja, sequenciais ou dentro de volumes inferiores a 1ml. Kellogg e col. documen-
1 hora. A coleta de hemoculturas em inter valos taram que a bacteriemia de baixo grau, com con-
maiores de 1 a 2 horas entre as amostras pode ser tagem inferior a 10 UFC/ml (Unidades Formadoras
recomendada para monitorar ou documentar bac- de Colônias / ml) ocorria em 68% dos lactentes até
teriemia contínua em pacientes com suspeita de dois meses e 60% das crianças do nascimento até
endocardite ou infecção endovascular associada 15 anos e em 23% dos episódios, tinha contagem
a dispositivos invasivos (ex.: cateter vascular) (16). inferior ou igual a 1 UFC/ml (18,19).
As hemoculturas, preferencialmente, não De acordo com as recomendações do CLSI
devem ser coletadas a par tir de cateter, exceto (Clinical and Laboratory Standards Institute) (16) o
para diagnóstico de infecção relacionada ao dis- volume de sangue extraído em crianças deveria ser
positivo. Neste caso, a amostra obtida através do de até 1% da volemia. Entretanto, os estudos de
cateter deve ser sempre acompanhada por uma Kellogg e col., baseando-se na premissa de que até
ou duas amostras de veia periférica, de forma 4 a 4,5% da volemia caracteriza um índice seguro
sequencial ou concomitante, identificando corre- e da relação entre volemia e peso do paciente, as
tamente as amostras quanto ao local de punção. recomendações para coleta em crianças está re-
As respectivas coletas devem ser representadas sumida na tabela 2 (18). Porém, de forma prática,
por um mesmo volume de sangue, para que sejam ainda é impossível estabelecer volumes ótimos para
comparáveis quanto ao tempo de positividade (7), crianças muito pequenas ou prematuras.
<=1 50 - 99 2 - 2 4
1,1 – 2 100 – 200 2 2 4 4
2 – 12,9 >200 4 2 6 3
13 – 36 >800 10 10 20 2,5
>36 >2.200 20-30 20-30 40-60 1,8-2,7
Adaptado de: Baron, E.J, M.P. Weinstein, W.M.Dunne Jr, P. Yagupsky, D.F. Welsh e D.M. Wilson. Cumitech 1C, Blood Cultures IV. Coordinating Ed. E.J. Baron. ASM Press, 2005. Washington D.C. (2).
Kellog, J.A. Manzella, J.P. e D.A. Bankert. Frequency of low-level bacteremia in children from birth to fifteen years of age. J. Clin. Microbiol. 2000. 38:2181-2185 (18).
podem ser inoculadas simultaneamente em frascos de Streptococcus pyogenes, Streptococcus agalactiae, Listeria
hemocultura de sistemas automatizados de monitora- monocytogenes, Neisseria meningitidis, Neisseria gonorrho-
ção contínua. O tempo para detecção de positividade eae, Haemophilus influenzae, membros do grupo Bacte-
é diretamente proporcional ao inóculo inicial; portanto, roides fragilis, Candida spp. e Cryptococcus spp., os quais
se a diferença no tempo de positividade for maior que quase sempre representam infecção verdadeira (1, 25).
2 horas, mais precoce do frasco coletado do cateter em
Streptococcus viridans, Enterococcus spp. e Sta-
relação ao da veia periférica, está frequentemente rela-
phylococcus coagulase negativo (SCN) representam
cionada a infecções devido ao cateter. Esta metodologia
em média respectivamente 38%, 78% e 15% de bacte-
apresenta sensibilidade variável a depender do tipo de
riemias verdadeiras (1).
cateter, tempo de permanência e presença de outros
Alguns tipos de microrganismos são mais frequen-
focos infecciosos à distância, mas apresenta um alto va-
temente associados com contaminação (< 5% de chance
lor preditivo negativo, principalmente para cateteres de
de bacteriemia verdadeira) como Corynebacterium spp.,
longa permanência, o que pode evitar em muitos casos
Micrococcus spp., Bacillus spp. e Propionibacterium acnes (1).
a retirada desnecessária dos mesmos (3,4,6,7).
Outros patógenos mais raros costumam estar relacio-
Hemoculturas obtidas a partir de dispositivos intra- nados à imunossupressão causada por câncer ou leucemia,
vasculares como cateteres ou ports, são associadas com como Aeromonas, Bacillus, Campylobacter, Capnocytopha-
maior taxa de contaminação ( cerca de 10% ) do que ga, Clostridium, Corynebacterium, Listeria, Mycobacterium,
amostras coletadas por venopunção ( 2 - 3% ) (36,37). Rhodococcus, Salmonella typhimurium, Streptococcus do
Em casos específicos, onde há a necessidade de coleta grupo G e também membros do grupo Streptococcus
através de dispositivos, esta deve ser sempre acompa- gallolyticus (grupo Streptococcus bovis) (1, 29).
nhada de 1 ou 2 amostras de veia periférica para auxiliar Quando uma hemocultura é inesperadamente
na interpretação do resultado. Em caso de impossibilida- positiva (na ausência de sinais ou sintomas) ou quando
de de coleta por veia periférica, colher duas amostras de somente uma dentre várias amostras é positiva para
duas vias diferentes do cateter (34). um determinado microrganismo, este pode eventual-
mente ser considerado um contaminante.
Interpretação dos resultados Os índices de contaminação aceitáveis ficam em
Por muitos anos tem sido consenso entre clínicos torno de 1 a 3%, sendo tolerável até 5%, podendo
e microbiologistas que a hemocultura é um dos testes ser maiores em unidades de emergência e pediatria.
laboratoriais mais importantes para o diagnóstico de Portanto, preferencialmente, as unidades devem ser
infecções graves. monitoradas separadamente (24).
O índice de positividade pode variar bastante de Nos últimos anos, tornou-se evidente que microrga-
acordo com o tipo e o grau de complexidade da institui- nismos antes considerados quase sempre contaminantes,
ção (atendimento primário ou terciário, comunitário ou como por exemplo, Staphylococcus coagulase negativo
acadêmico), sendo em média de 10 a 15% (37). Quando (SCN), passaram a ser cada vez mais comumente isola-
este índice diminui para valores muito baixos (< 5%) ou dos e algumas vezes associados a infecções verdadeiras
aumenta muito (>15%), é conveniente que seja revista (principalmente relacionadas a dispositivos invasivos),
a adequação dos pedidos de hemoculturas pelo corpo frequentemente confundindo a avaliação clínica (1).
clínico. Outro indicador que pode ser usado para mo- Além disso, hemoculturas falsamente positivas levam
nitorar se o pedido de exames está sendo apropriado é a trabalho extra ao laboratório, realização de exames
auditar o número de hemoculturas por 1000 pacientes- adicionais, uso desnecessário de antibióticos e tempo
-dia, que deve ficar entre 103 e 188 (2). prolongado de internação, com aumento dos custos.
Alguns microrganismos têm alto valor preditivo Portanto, toda hemocultura positiva, com germes
positivo para bacteriemia verdadeira (> 90%), mesmo potencialmente contaminantes, deve ser criteriosamente
quando isolado em somente uma amostra como, por avaliada, incluindo pacientes neonatos e lactentes, pela
exemplo: Staphylococcus aureus, Escherichia coli e outras dificuldade de coleta em diferentes sítios anatômicos (25).
Enterobacteriaceae, Neisseria meningitidis, Streptococcus Muitos destes casos não são suficientemente avalia-
pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Brucella spp., dos somente pela identificação do gênero / espécie. O
número de amostras positivas sobre o número de amos- ou meio de cultivo capaz de possibilitar a detecção de
tras coletadas tem mostrado ser útil na interpretação todos potenciais patógenos. Num futuro próximo, é
do significado de hemoculturas positivas. Ao contrário provável que os sistemas baseados em cultivo passem
de pacientes com endocardite ou outra infecção da a ser substituídos ou complementados por métodos
corrente sanguínea, nos quais a maioria dos frascos moleculares ou de espectrometria de massa com a
é positiva, nos casos de contaminação, geralmente possibilidade de se tornarem mais sensíveis e rápidos.
somente uma amostra (dentre duas ou mais coletadas)
Comunicação dos resultados
apresenta positividade. Enfatize-se aqui que a coleta
O exame mais importante a ser realizado em qual-
de uma amostra única perde todo o significado, tor-
quer hemocultura sinalizada como positiva é a coloração
nando impossível esta avaliação. Este é um dos moti-
de Gram. É altamente provável que esta informação
vos pelos quais se recomenda a coleta de no mínimo
descritiva das características morfotintoriais, junta-
duas amostras de hemocultura de sítios diferentes
mente com os dados do paciente, irá ditar a escolha
(além de garantir um volume de sangue adequado) (1).
da antibioticoterapia primária com impacto positivo
Ainda e apesar disso, alguns estudos mostram na escolha terapêutica e na evolução clínica (5).
que mesmo uma única amostra com SCN pode ser Portanto, o resultado parcial de hemoculturas
indicativa de infecção em determinadas situações deve ser considerado de alta prioridade para notifica-
(principalmente associadas a cateter intravascular) e ção ao médico assistente, inclusive por escrito. É sem-
em pacientes de alto risco, encontrar mais de uma pre útil rever outras culturas do mesmo paciente, para
hemocultura positiva para bactérias normalmente identificar possíveis pistas da identificação do agente.
consideradas contaminantes como Corynebacterium O número de hemoculturas positivas sobre o total de
spp. e Bacillus spp., pode ter significado clínico (1, 12). amostras enviadas e o tempo de positividade também
devem ser analisados ao reportar os resultados. Estu-
Limitações dos mostram que um período curto para a notificação
Ainda não existe um padrão-ouro para o diagnós- do resultado ao médico consiste de importante fator
tico de ICS. Os métodos em uso requerem de horas a para diminuir o tempo de internação e propiciar me-
dias de incubação para detectar o crescimento de mi- lhor evolução do paciente. Este deve ser considerado
crorganismos. Não há um sistema comercial disponível um “resultado crítico”.
Bibliografia
1. Weinstein, M.P., M.L. Towns, S.M. Quartey, S. Mirrett, , L.G. Device- Related Infections. MMWR August 9, 2002/51 (RR10);1-26
Reimer, G. Parmigiani, and L.B. Reller. The clinical significance of 5. Beekmann, S.E., D.J.Diekema, K.C. Chapin, and G.V. Doern. Effects of
positive blood cultures in the 1990’s; a prospective comprehensive Rapid Detection of Bloodstream Infections on Length of Hospitalization
evaluation of the microbiology, epidemiology and fungemia in and Hospital Charges. J. Clin. Microbiol. 2003. 41(7):3119-3125.
adults. Clin. Infect. Dis. 1997. 24:584-602. 6. Siegman-Ingra, Y., A.M., Anglim, D.E. Shapiro, K.A. Adal, B.A.
2. Baron, E.J., M.P. Weinstein, W.M.Dunne Jr, P.Yagupsky, D.F. Welch, Strain and B.M. Farr. Diagnosis of Vascular-Related Bloodstream
and D.M. Wilson. Cumitech 1 C, Blood Cultures IV. Coordinating Infection: a Meta-Analysis. J. Clin. Microbiol. 1997. 35(4):928-936.
ed. E.J. Baron. 2005. ASM Press, Washington D.C. 7. Blot, F., E. Schmidt, G. Nitenberg, C. Tancrede, B. Lecrercq, A.
3. Araujo, M.R.E. Como pode ser feito o diagnóstico microbiológico Laplanche, and A. Andremont. Earlier Positivity of Central Venous
das infecções relacionadas a cateter? em Microbiologia Clínica: 156 versus Peripheral-Blood Cultures Is Highly Predictive of Catheter-
perguntas e respostas / Caio Marcio Figueiredo Mendes ..[et al] - São Realted Sepsis. J. Clin. Microbiol. 1998.36(1):105-109.
Paulo: Sarvier, 2005, p. 98. 8. Reller, L.B. Laboratory procedures in the management of infective
4. O’Grady, N.P., M. Alexander, E.P. Dellinger, J.L . Gerberding, S.O Heard, endocarditis. Em A.L.Bisno (ed.) Treatment of Infective Endocarditis.
D.G Maki, …[et al] Guidelines for the Prevention of Intravascular Grune & Stratton, New York, N.Y.1981, p. 235-267.
9. Anderson, E.T., L.S. Young and W.L. Hewitt. Simultaneous antibiotic levels in (ed.), Laboratory Diagnosis of Bacterial Infections. Marcel Dekker,
“breakthrough” gram negative bacteremia. Am. J. Med. 1976. 4: 493-497 Inc., New York, N.Y. 2001.
10. Kreger, B. E., D. E. Craven, and W. R. McCabe. Gram-negative 27. Campbell, J. and J.A. Washington II. Evaluation of the necessity for
bacteremia. IV. Re-evaluation of clinical features and treatment in routine terminal subcultures of previous negative blood cultures. J.
612 patients. Am. J. Med. 1980. 68:344-355 Clin. Microbiol. 1980. 12:576-587.
11. Schimpff, S., W. Satterlee, V. M. Young, and A. Serpick. Empiric therapy 28. Gill, V.J. Lack of clinical relevance in routine terminal subculturing
with carbenicillin and gentamicin for febrile patients with cancer and of blood cultures. J. Clin. Microbiol. 1981. 14:116-118.
granulocytopenia. N. Engl. J. Med. 1971. 284:1061-1065. 29. Beebe, J. and E.W. Koneman. Recovery of uncommon bacteria
12. Weinstein, M.P. Blood Culture Contamination: Persisting Problems from blood: association with neoplastic disease. J. Clin. Microbiol.
and Partial Progress. J. Clin. Microbiol. 2003, 41(6): 2275–2278. 1995. 8 (3): 336-356.
13. Bennett Jr, I.L. and P.B. Beeson. Bacteremia: a consideration of some 30. Warren, J.R. and F Graham. The effect of heparin on the growth of
experimental and clinical aspects. 1954. Yale J Biol Med 26:241-262. bacteria and yeast. J. Bacteriol. 1950; 60:171-174.
14. Thomson Jr, R.B, B.L. Evans, and J.L. Southerland, Collecting of 31. Christman, J.F. and D.G. Doherty. The antimicrobial action of
Blood Culture. Generalist Microbiology Tech Sample Nº G-1. heparin. J. Bacteriol. 1956; 72:433-435.
American Society of Clinical Pathologists, Northfield, Ill. 1991. 32. Crump, J.A., Tanner, D.C., Mirrett, S., McKnight, C.M. and L.B.
15. Li, J., J.J. Plorde, and L.C. Carlson. Effects of volume and periodicity Reller. Controlled Comparison of BACTEC 13A, MYCO/F LYTIC,
on blood cultures. J. Clin. Microbiol. 1994. 32:2829-2831. BacT/ALERT MB, and ISOLATOR 10 Systems for Detection of
16. Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). Principles and Mycobacteremia. 2003. J. Clin. Microbiol. 2003; 41(5): 1987–1990.
Procedures for Blood Cultures; Approved Guideline. CLSI document 33. Bille, J., L. Stockman, G.D. Roberts, C.D. Horstmeier, D.M. Ilstrup.
M47-A. Clinical and Laboratory Standards Institute, Wayne, Evaluation of lysis-centrifugations system for recovery of yeast and
Pennsylvania, USA, 2007. filamentous fungi from blood. J. Clin. Microbiol. 1983; 18: 469-471.
17. Cockerill, F.R., J.W. Wilson, E.A. Vetter, A.M. Goodman, C.A. 34. Mermel, L.A, M. Allon, E. Bouza, D. E., P. Craven Flynn, N.P.
Torgerson, W.S. Harmsen, C.D. Schleck, D.M. Ilstrupt, J.A. O’Grady, I. Raad, B.J.A. Rijnders, R. J. Sherertz, and D. K. Warren,
Washington II and W.R. Wilson. Optimal test parameters for blood Clinical Practice Guidelines for the Diagnosis and Management
cultures. Clin. Infect. Dis. 2004. 38:1724-1730. of Intravascular Catheter-Related Infection: 2009 Update by the
18. Kellog, J.A. , J.P. Manzella and D.A. Bankert. Frequency of low-level Infectious Diseases Society of America (IDSA).
bacteremia in children from birth to fifteen years of age. J. Clin. 35. Lee, A., L. Mirret, B. Reller and M.P. Weinstein. Detection of
Microbiol. 2000. 38:2181-2185. Bloodstream Infection in Adults: How Many Blood Cultures are
19. Szymzcak, E.G, J.T. Barr, W.A. Durbin and D.A. Goldman. Needed. J. Clin. Microbiol. 2007. 45(11): 3546-3548.
Evaluation of blood culture procedures in a pediatric hospital. J. 36. Dwivedi.S, R.Bhalla, D. R. Hoover and M. P. Weinstein. Intravenous-
Clin. Microbiol. 1979. 9:88-92. Catheter-Drawn Blood Cultures Does Not Reduce Contamination
20. Gomes, J., V. Barros, J. Ruiz, and col. Clinical significance of Rates in Discarding the Initial Aliquot of Blood. J. Clin. Microbiol.
anaerobic bacteremias in a general hospital. A prospective study 2009. 47(9):2950-2951.
from 1988 a 1992. Clin. Invest. 1993; 71:595-599. 37. Weinstein,M.P. and G. V. Doern. A Critical Appraisal of the Role
21. Dorsher, C.W., J.E. Rosenblatt, W.R. Wilson and D.M Ilstrup. of the Diagnosis of Bloodstream Infections. J. Clin. Microbiol.
Anaerobic bacteremia: decreasing rate over a 15 year period. Rev. 2011. 49(9 Supplement):S26-S29
Infect. Dis. 1991; 13:633-636. 38. Rose, R., Hunting, K.H.,Townsend T.R., e Wenzel, R.P. Mobidity
22. Riley, J.A., B.J. Heiter and P.P. Bourbeau. Comparison of recovery / mortality and economics of hospital-acquired infections: a
of blood culture isolates from two BacT/ALERT FAN aerobic blood controlled study. South Med J.1977. 70:1268-1272.
culture bottle with recovery from one FAN aerobic bottle and one 39. Weinstein, M.P., Reller, L.B., Murphy, J.R., e Lichtenstein, K.A. The
FAN anaerobic bottle. J. Clin. Microbiol. 2003; 41:213-217. clinical significance of positive blood cultures: a comprehensive
23. Mimoz, O., A. Karim, A. Mercat, B. Casseron, B. Falissard, F. Parker, analysis of 500 episodes of bacteremia and fungemia in adults. I.
C. Richard, K. Samil and P. Nordmann. Chlorexidine compared Laboratory and epidemiologic observations. 1983. Rev. Infect. Dis.
with povidone-iodine as skin preparation before blood culture: a 5:35-53.
randomized controlled trial. Ann. Intern. Med. 1999. 131: 834-837. 40. Washington, J.A, II. Blood cultures: principles and techniques.
24. Souvenir, D., D.E. Anderson, S. Palpant, H. Mroch, S. Askin, J. Mayo Clin. Proc. 1975; 50:91-98.
Anderson, J. Claridge, J. Eiland, C. Malone, M.W. Garrison, P. 41. Munier, G., Black,D. e Snyder J.Evalution of BacT/ALERT blood
Watson and D.M. Campbell. Blood cultures positive for coagulase- culture media for the detection and recovery of Histoplasma
negative staphylococci: antisepsis, pseudobacteremia and therapy capsulatum from blood, abstr. C-101, p.140. Abstr. 104th Gen.
of patients. J. Clin. Microbiol. 1998. 36:1923-1926. Meet. Am. Soc. Microbiol. 2004. American Society for Microbiology,
25. Richter, S.S., J.L. Beekmann, J.L. Croco, J. Diekema, F.P. Koonts, M.A. Washington, DC.
Pfaller, and G.V. Doern. Minimizing the workup of blood culture 42. Capdevil, J.A., Planes, A.M., Palomar, M. Gasser, I., Almirante,
contaminants: implementation and evaluation of laboratory- B., Pahissa, A., Crespo, E. e Martinez-Vazquez, J.M. Value of
based algorithm. J. Clin. Microbiol. 2002. 40:2437-2444. differential quantitative blood cultures in the diagnosis of catheter-
26. Dunne, W.M., and LaRocco. Blood culture systems. In: Cimolai, N. related sepsis. 1992. J. Clin. Microbiol. Infect. Dis. 11: 403-407.