São drogas que produzem uma perda transitória da membrana com maior velocidade). função sensitiva, motora e autonômica em uma o Os anestésicos locais com pKa mais baixo porção do corpo. possuem menor latência, ou seja, há uma grande O mecanismo de ação dos anestésicos locais tem fração da molécula na forma não ionizada (mais como base a inativação dos canais de sódio da lipossolúvel – entra com mais velocidade na membrana neuronal; com isso, a velocidade de membrana). despolarização torna-se mais lenta, fenômeno que o Quando o pH está mais baixo, há um grau de inibe a propagação do potencial de ação e, ionização muito intenso, ou seja, possa ser que o anestésico não consiga chegar no seu potencial portanto, o reconhecimento do estímulo álgico. de ação. Inicialmente os canais estão fechados (em o Um exemplo prático é a tentativa infrutífera de repouso), após isso, há um potencial (estímulo) que se administrar ALs antes da drenagem de ativa o canal e permite que ele abra. Após isso ele abscessos em tecidos moles; o acúmulo de pus entra em repouso impedindo que mais sódio entre está relacionado ao pH ácido, o que torna os ALs na célula. ineficazes em situações como essa. Os anestésicos locais possuem maior afinidade com o canal quando ele está ativado ou desativado. A lipossolubilidade (capacidade do AL penetrar em Tipos de fibra: membranas, um ambiente hidrofóbico) está Aα: motora e propriocepção relacionado diretamente com a potência e Aβ: motora e propriocepção toxicidade do anestésico local. Ax: tônus muscular. A ligação proteica está relacionada diretamente Aδ: dor, temperatura e tato com a duração da ação da droga, ou seja, mais B: sistemanervoso autônomo tempo do anestésico na corrente sanguínea se C: dor, temperatura e tato. desligando da proteína e se tornando ativo. Sequência de bloqueio: fibras simpáticas, térmica e A velocidade de ação do AL (latência) guarda dolorosa, tato e pressão. relação inversa com o grau de ionização, que depende do pKa do fármaco e do pH do meio em que é dissolvido. As duas classes de ALs incluem as aminoamidas Latência é a forma lipossolúvel que se difunde mais (lidocaína, prilocaína, mepivacaína, bupivacaína, rapidamente através da bainha neural e atravessa a ropivacaína) e os aminoestéres (clorprocaína, membrana nervosa. procaína e tetracaína). O grupo das amidas sofre metabolismo hepático e Inicialmente, os ALs dependem de sua forma não possui menor chance de causar alergia, enquanto o ionizada para se difundirem e atravessarem as grupo dos ésteres sofre metabolismo plasmático e membranas neurais e, posteriormente, de sua forma possui maior chance de causar reação alérgica. ionizada para agirem nos sítios de ligação.
O peso molecular está relacionado com a difusão da
droga. Os ALs diferem um dos outros do ponto de vista A duração de ação dos agentes anestésicos é físico-químico, de acordo com seu pKa, que está multifatorial. O grau de ligação a proteínas e a relacionado com seu início de ação. lipossolubilidade dos fármacos, por exemplo, permitem maior permanência dos anestésicos nos o O pKa é o pH em que 50% da substância está na tecidos, prolongando seu efeito. sua forma ionizada (mais hidrossolúvel – maior O acréscimo de adrenalina provoca vasoconstrição local, diminuindo a absorção do Os ALs são substâncias que bloqueiam a condução AL e aumentando a captação neuronal, com nervosa de forma reversível, sendo seu uso seguido melhora da qualidade da analgesia, maior de recuperação completa da função do nervo. durabilidade da ação e limitação de eventos As células nervosas mantêm um potencial de adversos. repouso mediante transporte ativo e difusão Distribuição passiva de íons. A distribuição depende da captação do órgão. Há bombas de sódio/potássio nas membranas Perfusão tecidual: Os órgãos altamente celulares que acoplam a saída de três íons sódio à perfundidos (cérebro, pulmões, fígado, rins e entrada de dois íons potássio, com gasto de ATP, o coração) captam rapidamente no início e que cria um gradiente de concentração favorável à redistribuem mais lentamente para tecidos saída passiva de potássio e à entrada de sódio. moderadamente perfundidos. A membrana celular é muito mais permeável ao Coeficiente de partição tecido/sangue: uma potássio do que ao sódio, permanecendo acúmulo forte ligação a proteínas plasmáticas tende a de íons negativamente carregados no intracelular reter os anestésicos, enquanto uma alta e deixando o potencial de repouso por volta de -70 solubilidade lipídica facilita a captação pelos mV. tecidos. Os neurônios também têm canais de sódio e Massa tecidual: os músculos proporcionam o potássio eletricamente controlados, os quais maior reservatório para os ALs pela sua grande produzem despolarização de membrana após massa. estímulos químicos, mecânicos ou elétricos. Se a Metabolismo e eliminação despolarização excede o limiar (-55 mV), os canais O metabolismo e a eliminação diferem de sódio são ativados, permitindo influxo súbito de dependendo de sua estrutura. íons e gerando um potencial de ação, que Ésteres: sofrem metabolização, especialmente geralmente é conduzido como um impulso ao longo por pseudocolinesterase. A hidrólise dos ésteres do axônio neural. é rápida, e os metabólitos solúveis em água são O sítio de ação dos ALs é o canal de sódio, e a eliminados na urina. maioria dos ALs liga-se ao canal no interior da Amidas: são metabolizados por enzimas célula, impedindo a sua ativação/abertura e microssomais no fígado, e a taxa de metabolismo interferindo no influxo de íons e, por conseguinte, depende do agente específico (prilocaína > na despolarização da membrana, prejudicando a lidocaína > mepivacaína > ropivacaína > geração do potencial de ação e abolindo a bupivacaína), porém é muito mais lenta que a propagação de impulsos. hidrólise dos ésteres. Os ALs também podem bloquear canais de cálcio e de potássio e os receptores N-metil-D-aspartato (NMDA). Todas as vezes em que se utiliza um AL, ocorre uma absorção sistêmica. A concentração desse anestésico precisa A concentração dos ALs no sangue é determinada permanecer baixa ao longo do tempo a fim de se pela quantidade injetada, pela taxa de absorção no evitar a toxicidade. local da administração e sua distribuição tecidual e É necessário lembrar que particularidades de cada pela taxa de biotransformação e excreção do paciente, entre elas a idade e o estado físico, são fármaco. importantes na determinação da dose do fármaco. Absorção Depende da perfusão tecidual, da dose e do A injeção acidental intravascular ou espinal de dose volume administrados, da adição ou não de não recomendada de AL é a principal causa de reação vasoconstrictor e do perfil farmacológico próprio tóxica sistêmica. do anestésico utilizado. A taxa de absorção sistêmica é proporcional à Quanto mais vascularizado o local da injeção, vascularização do local de injeção: intravenoso > maior será a concentração plasmática do traqueal > intercostal > caudal > paracervical > anestésico. peridural > plexo braquial > ciático > subcutâneo. Entre os bloqueios regionais, o bloqueio intercostal Os anestésicos do grupo amida (lidocaína, prilocaína, é o que determina maior concentração plasmática bupivacaína, ropivacaína, EMLA) são metabolizados do AL, seguido, em ordem crescente, por anestesia no fígado, portanto a diminuição da função hepática peridural, bloqueio do plexo braquial, anestesia pode predispor à intoxicação sistêmica. espinal e bloqueio ciático/femoral. Os sinais e sintomas da intoxicação pelo AL dependem não apenas de sua concentração Opióides plasmática, mas também da velocidade com que se Efeito sinérgico (potencializa o efeito do estabelece essa concentração. anestésico local, ao mesmo tempo que o São eles formigamento de língua e lábios, zumbido, anestésico local potencializa seu efeito) distúrbios visuais, agitação, dificuldades de fala, diminuindo a dose de ambos os medicamentos. abalos musculares, convulsões, inconsciência, Efeitos adversos: retenção urinária, prurido, coma, parada respiratória e depressão náuseas e depressão. cardiovascular. Vasoconstrictor (adrenalina) Os sintomas podem não ser evidentes no paciente Em concentração de 2,5 µg/mL (1:400.000), tem anestesiado ou profundamente sedado. a finalidade de aumentar o tempo de duração do anestésico, bem como diminuir a velocidade Na injeção intravascular de grandes massas de de absorção, visando reduzir a toxicidade anestésicos, a convulsão pode ser o primeiro sinal, sistêmica. podendo evoluir rapidamente para toxicidade Também é utilizada com a finalidade de diminuir cardíaca. o sangramento. Tratamento inicial: Contraindicações: HAS grave, doença vascular Manter oxigenação cerebral; cerebral isquêmica, coronariopatias, Correção da acidose pela interrupção da infusão hipertireoidismo descompensado e pré do AL; eclampsia grave. Oxigenoterapia; Suporte ventilatório; Não fazer em locais de circulação terminal, como dedo, pênis, ponta de nariz e orelha. Manobras de reanimação. A bupivacaína tem importante efeito depressor no Bicarbonato inotropismo e na condução elétrica do coração, Aumenta o pH do meio, aumentando a fração podendo causar graves arritmias e assistolia. Nas não ionizada, fazendo com que a droga aja mais arritmias ventriculares, a amiodarona é o fármaco rapidamente. de escolha. Além disso, o bicarbonato pode aliviar a dor da Medidas preventivas: injeção do anestésico local. 1. Nunca ultrapassar as doses recomendadas para a via a ser utilizada; 2. Usar doses e concentrações mínimas para o efeito desejado; 3. Sempre aspirar cuidadosamente antes de injetar o anestésico a fim de prevenir a injeção intravascular, principalmente em regiões muito vascularizadas, como períneo, couro cabeludo e face; 4. Usar soluções anestésicas com adrenalina quando indicadas, salvo se houver contraindicações; 5. Sempre que possível, realizar o bloqueio anestésico com o ultrassom; 6. Nunca é demais lembrar que os ALs só devem ser utilizados em ambientes onde existam recursos necessários para a realização do tratamento imediato de suas reações adversas.