Você está na página 1de 20

Módulo 1

Parte I

Este curso tem como objetivo contribuir com a difusão dos conhecimentos,
técnicas e modos de aplicação da Perícia Ambiental no contexto brasileiro. Nos
diversos módulos procura-se mostrar os procedimentos de como fazer uma Perícia
Ambiental e a sua importância quando bem feita, não só como ferramenta para
avaliação de danos ambientais, mas também pelos impactos positivos para a
proteção do meio ambiente propiciado à sociedade.

O público-alvo do curso é composto por estudantes, empresários,


profissionais autônomos, associações e organizações que trabalham com a área
ambiental, ou não, e desejam conhecer mais sobre este tema.

1. NOÇÕES BÁSICAS ESSENCIAIS À PERÍCIA AMBIENTAL

1.1. PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL

O homem possui necessidades básicas para sua sobrevivência e diariamente


busca a satisfação dessas necessidades, sejam elas fisiológicas, de segurança,
sociais, de estima ou de autorrealização. No entanto, com o passar do tempo
começaram a surgir conflitos entre os homens, que eram resolvidos entre as
próprias partes envolvidas, usando dos meios possíveis para fazer valer sua
vontade sobre a do oponente, já que o que valia naquela época era a máxima: “olho
por olho, dente por dente”.

Com o avanço da sociedade foi-se percebendo que podia ser criado


outro meio para resolver os conflitos. Os estados começaram a chamar para si essa
responsabilidade e criaram leis baseadas nos princípios morais da época.

Por meio do aperfeiçoamento, baseado em experiências do cotidiano,


esses princípios passaram a ser mais fortes e amplos, versando sobre os mais
variados temas que eram de interesse comum da sociedade e do Estado. A
essa Ordem Jurídica que estava sendo criada para dirimir os conflitos deu-se o nome
de Direito.
Com a evolução tecnológica o ser humano foi capaz de entender o meio
ambiente à sua volta e assim perceber seus efeitos e as consequências que seus
atos tinham sobre a natureza. Como atualmente a natureza não consegue se
recompor com a mesma velocidade com que os seres humanos a exploram, o
Direito – que constitui-se no estabelecimento de regras pelo próprio grupo e em
seu interesse, criando assim um complexo de regulamentos que conforme o tempo
podem receber inovações para se adequar ao surgimento de novas necessidades
– acabou por atender às necessidades da natureza, resultando assim no Direito
Ambiental, que prima pela utilização racional dos recursos naturais e do meio
ambiente.

O Direito Ambiental busca regular a interação do ser humano com o


meio ambiente e, se necessário, intervir com sanções para os que
desobedecem as leis. Essas punições podem ser de várias formas, desde a
perda da liberdade até o pagamento de multa. A base do Direito são os
princípios, são os pilares que sustentam e servem como guia na criação de leis. Eles
são tão importantes no direcionamento do Direito que se uma lei for feita em
desacordo com algum princípio ela será inválida.
O ramo do Direito Ambiental também possui seus princípios, que além de
serem moldados pelas leis brasileiras também possuem influências internacionais,
provenientes dos acordos e tratados internacionais dos quais o Brasil faz parte. Os
princípios mais conhecidos do Direito Ambiental são:

• Princípio da Precaução: Previsto no artigo 225 da Constituição Federal,


ele cuida do controle de precaução que o Poder Público pode exercer para
controlar os meios e técnicas de uso de substâncias ou objetos que trazem
risco à saúde do ser humano e do meio ambiente. O objetivo é evitar que novas
substâncias químicas ou até mesmo inovações tecnológicas sejam usadas sem a
devida precaução, causando danos ambientais.

• Princípio da Prevenção: É uma continuação do Princípio da Precaução e


firma os cuidados que devem ser tomados para evitar danos ambientais
decorrentes de tecnologias ou substâncias já existentes, que se utilizadas de modo
errôneo podem acarretar danos. Esse princípio resultou na criação das licenças
ambientais que são obrigatórias para a instalação e operação de atividades
potencialmente poluidoras.

• Princípio da Publicidade: Também conhecido como Princípio da


Informação, tem a finalidade de promover a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente, no que diz respeito a expandir o conhecimento por
meio da educação ambiental. Também exige que sejam abertos os processos
que tenham relação ao meio ambiente, nisso incluídos processos de
licenciamentos ambientais. Este princípio está descrito no artigo 225, parágrafo 1º
da Constituição.

• Princípio da Responsabilização do Dano Ambiental: É a


responsabilidade que o poluidor enfrenta de reparar e indenizar por meio de multas
as áreas afetadas quando, mesmo usando de meios lícitos, por motivo de
negligência ou imperícia, acaba por provocar danos ao meio ambiente.

• Princípio da Função Socioambiental da Propriedade: As propriedades não


dão aos seus donos o direito de a usarem como quiserem. Seu uso deve estar
sempre de acordo com as leis ambientais. A finalidade do princípio é fazer com
que as propriedades não se tornem um peso para a sociedade ao serem instaladas
em local impróprio, como, por exemplo, dentro de uma reserva florestal, ou que
soltem poluentes acima do permitido. Este princípio foi estabelecido pelo Código
Civil, artigo 1228.

• Princípio do Poluidor Pagador: Possui dois aspectos, o primeiro que obriga a


indenizar todo e qualquer dano que o poluidor tenha causado e, o segundo, que o
poluidor pague por todas as medidas e licenças necessárias para não causar
danos ou deixar os níveis de sua poluição dentro do aceitável. Internacionalmente,
esse princípio também está englobando o mercado dos créditos de carbono,
no qual empresas poluidoras precisam comprar os créditos equivalentes a
reduções certificadas de emissões para poder continuar em funcionamento. Sua
previsão está no artigo 225, parágrafo 3º da Constituição Federal.

• Princípio do Desenvolvimento Sustentável: Tem por ideal o crescimento


das cidades de modo ordenado e com a utilização racional dos recursos naturais,
sem que se corra o risco de esgotá-los ou de comprometê-los com poluentes,
permitindo assim a sua continuidade
para as próximas gerações. É referido no artigo 4º da Lei do Sistema Nacional
de Unidades de Conservação da Natureza, também conhecida como Lei do SNUC.

• Princípio da Cooperação Internacional: Pretende a união de diversos países


por meio de convenções e tratados internacionais para firmarem metas conjuntas
de proteção do meio ambiente. A participação dos países é voluntária e só se
torna obrigatória quando o país decidir por fazer parte e assinar, se comprometendo
com as metas conjuntas.
Muitos dos princípios acima estão estabelecidos no artigo 225 da Constituição
Federal, que discorre sobre o meio ambiente, assim torna-se fundamental uma
leitura detalhada do mesmo, que consta no extrato abaixo:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e


prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio


genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços


territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente por meio de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou


atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de


técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de


ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a


recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao


meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra


do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas


pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à
proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão


ter sua localização definida em lei federal, sem o que não
poderão ser instaladas. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, artigo 225,
1988).

1.2. CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

O campo de atuação da Perícia Ambiental é o meio ambiente, assim é


fundamental conceituar este termo. A Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente, Lei nº 6.938 de 1981, define em seu artigo 3º: “Meio ambiente é o
conjunto de condições, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Analisando
o conceito acima, percebemos que o meio ambiente é tomado como uma
entidade natural e dinâmica, com características próprias e particulares. Já outros
autores possuem conceitos mais abrangentes para meio ambiente que englobam a
divisão do mesmo em quatro meios, como veremos futuramente. José Afonso da
Silva conceitua o meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos
naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da
vida em todas as suas formas”.

O conceito de meio ambiente é muito abrangente, pois engloba tudo


que há na superfície terrestre. Assim sendo, surge a divisão deste conceito em
quatro meios diferentes:

• Meio Ambiente Artificial: O espaço urbano construído, tanto fechado,


como aberto. Exemplo: praças, edifícios, ruas, etc.

• Meio Ambiente Natural: A natureza. Exemplo: o solo, a água, o ar, a flora, a


fauna, etc.

• Meio Ambiente Cultural: Obra do homem e do seu intelecto, exemplo: o


patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico.

• Meio Ambiente do Trabalho: Relacionado com os aspectos sanitários


ou de saúde pública do meio em que as pessoas trabalham. Exemplo: escritórios,
construções civis, órgãos públicos, etc.

A figura 1 exemplifica os diferentes meios e a relação entre eles.


Analisando esta figura percebemos que o meio ambiente é uma parte essencial de
nossas vidas e do qual também fazemos parte. Vivemos nosso cotidiano no meio
ambiente, assim os problemas que o afetam, consequentemente, também nos
afetam, por exemplo: a falta de rede de coleta e tratamento de esgoto
sanitário, o ar poluído, os lixões, a falta de arborização urbana, etc.

O artigo 225 da Constituição Federal expressa que o meio ambiente é passível


de proteção, pois é essencial à qualidade de vida, e que cabe à coletividade e
ao poder público o dever de defendê-lo e preservá-lo. Essa afirmação é muito
importante, pois demonstra que existe o compromisso brasileiro com o meio
ambiente, principalmente em termos legislativos.

1.3. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

É fundamental para um perito ambiental conhecer a legislação da área,


principalmente a pertinente ao caso periciado, pois a legislação fornece o
embasamento necessário para a identificação das não conformidades que
podem ser registradas durante a perícia. No Brasil, a legislação ambiental é
ampla, com inúmeras leis, resoluções e portarias, no entanto, antes de falar
especificamente sobre os seus aspectos mais relevantes precisamos introduzir
alguns conceitos:

FIGURA 1 - ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DE AMBIENTE

FONTE: Sánchez, 2006.

1.4. COMPETÊNCIA AMBIENTAL

• Competência Legislativa: é a competência atribuída aos entes da


Federação (estados, municípios) para fazer leis. Ou seja, são os limites
impostos para cada ente federativo na capacidade de legislar sobre
determinadas matérias. As competências legislativas para assuntos ambientais estão
descritas na Constituição e podem ser brevemente resumidas como:

• Competência Privativa: A União (ou seja, o Governo Federal) é a única


responsável por redigir as leis que dizem respeito à água, energia, jazidas, energia
nuclear e minas (art. 21 da Constituição). Já os estados podem legislar sobre
temas não vedados pelo art. 25 da Constituição. Os municípios podem legislar no
que não foi citado anteriormente e pelo art. 30 da Constituição no que for do
interesse local.

• Competência Concorrente: Os estados podem legislar, se a União não tiver


feito. No caso de a União produzir uma lei no mesmo conteúdo, sua lei
prevalece. A competência se dá nas áreas de pesca, florestas, fauna, caça, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição, proteção do patrimônio paisagístico e responsabilidade por danos ao
meio ambiente.

• Competência Suplementar: Os municípios podem legislar no que lhes


couber ou for de interesse local, conforme o art. 30 da Constituição.

Assim, podemos observar que a competência ambiental legislativa se divide


por categoria de importância, sendo as mais importantes e arriscadas, como a
energia nuclear (que possui um grande risco ambiental), matéria privativa da
União.

1.5. POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA

A Lei nº 6.938, de 1981, também conhecida como Lei da Política


Nacional do Meio Ambiente (PNMA), possui um duplo objetivo: apresentar a
Política Nacional do Meio Ambiente, e os seus instrumentos, e constituir o
Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). O objetivo da PNMA é estabelecido
no artigo 2º da referida lei:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (LEI 6.938,
1981).

Em seu artigo 3º a Lei da PNMA traz as seguintes definições:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis,


influências e interações de ordem física, química e biológica,
que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração
adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental


resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar


da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do
meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os
padrões ambientais estabelecidos;

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público


ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental;

V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,


superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o
solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Em seu artigo 9º a referida Lei apresenta os instrumentos de proteção


ambiental da Política Nacional de Meio Ambiente brasileira:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;


II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou


potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de


equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,
voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - § 1 - a criação de reservas e estações ecológicas,


áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse
ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal;

VI - § 2 - a criação de espaços territoriais especialmente


protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal,
tais como áreas de proteção ambiental, de relevante
interesse ecológico e reservas extrativistas;

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio


ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e


Instrumentos de Defesa Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao


não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou
correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio


Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
- IBAMA;

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao


Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzilas,
quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades
potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos
ambientais;

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal,


servidão ambiental, seguro ambiental e outros.
Além de instituir os instrumentos de proteção ambiental brasileiros, a Lei
nº 6.938 também constituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA)
e o Conselho Nacional de Meio Ambiente, também conhecido como CONAMA.
Os extratos abaixo estabelecem a constituição do SISNAMA e as atribuições do
CONAMA.

Art. 6º - Os órgãos e entidades da União, dos


Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,
bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental,
constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, assim estruturado:

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a


função de assessorar o Presidente da República na
formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais
para o meio ambiente e os recursos ambientais;

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho


Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de
assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo,
diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente
e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o
meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia
qualidade de vida;

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da


Presidência da República, com a finalidade de planejar,
coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a
política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o
meio ambiente;

IV - órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade
de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades


estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e
pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar
a degradação ambiental;

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais,


responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas
suas respectivas
jurisdições;

§ 1º Os Estados, na esfera de suas competências e


nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e
complementares e padrões relacionados com o meio
ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo
CONAMA.
§ 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões
federais e estaduais, também poderão elaborar as normas
mencionadas no parágrafo anterior.

Art. 8º Compete ao CONAMA:

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e


critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e
supervisionado pelo IBAMA;

II - determinar, quando julgar necessário, a realização


de estudos das alternativas e das possíveis consequências
ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando
aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a
entidades privadas, as informações indispensáveis para
apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos
relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa
degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.

III - decidir, como última instância administrativa em grau


de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e
outras penalidades impostas pelo IBAMA;

IV - homologar acordos visando à transformação de


penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas
de interesse para a proteção ambiental;

V - determinar, mediante representação do IBAMA, a


perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo
Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou
suspensão de participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito;

VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões


nacionais de controle da poluição por veículos automotores,
aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios
competentes; VII - estabelecer normas, critérios e padrões
relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio
ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos.

Por meio da leitura do extrato acima podemos observar que uma das
atribuições do CONAMA é estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao
controle ambiental. Essa atribuição é colocada em prática por intermédio das
Resoluções do CONAMA, regulamentações de caráter técnico que visam
cumprir o determinado pelo primeiro instrumento de proteção ambiental: “I -
estabelecimento de padrões de qualidade ambiental”.

1.6. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Na legislação ambiental brasileira as atividades potencialmente


poluidoras, como as indústrias, são sujeitas ao licenciamento ambiental,
conforme determina a resolução CONAMA nº 237/1997 e outras legislações
federais, estaduais e municipais. Essas leis estipulam que é obrigação do
empreendedor buscar o licenciamento ambiental junto ao órgão competente,
desde as etapas iniciais do planejamento de seu empreendimento e instalação até a
sua efetiva operação.

O licenciamento ambiental de atividades potencialmente poluidoras


também é um dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, e sua
principal função é conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação do
meio ambiente. Na resolução normativa CONAMA nº 237/97, o licenciamento
ambiental é definido como:

O procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente


licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos
e atividades que utilizam recursos ambientais consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares
e as normas técnicas aplicáveis ao caso. (CONAMA nº 237, 1997).

A licença ambiental é um documento com prazo de validade definido, no qual


o órgão ambiental estabelece regras, condições, restrições e medidas de controle
ambiental a serem seguidas pela atividade que está sendo licenciada. Ao
receber a licença ambiental, o empreendedor assume os compromissos para a
manutenção da qualidade ambiental do local em que a sua atividade se instala.

Ou seja, podemos concluir que qualquer projeto que possa desencadear


efeitos negativos (impactos ambientais) no meio ambiente precisa ser submetido a
um processo de licenciamento ambiental, pois este é a principal ferramenta
que a sociedade tem para controlar a manutenção da qualidade do meio
ambiente, o que está diretamente ligado com a saúde pública e com boa
qualidade de vida para a população.

Assim sendo, conclui-se que o licenciamento ambiental é o instrumento que o


poder público possui de controlar a instalação e operação das atividades, visando
preservar o meio ambiente para as sociedades atuais e futuras. Uma série de
processos faz parte do licenciamento ambiental, que envolve tanto aspectos
jurídicos, como técnicos, administrativos, sociais e econômicos dos
empreendimentos que serão licenciados.

Nos extratos abaixo da resolução normativa CONAMA Nº o 237/97


observa-se a seguinte hierarquia de licenças e o seguinte procedimento para o
licenciamento ambiental:

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua


competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar


do planejamento do empreendimento ou atividade
aprovando sua localização e concepção, atestando a
viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua
implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação
do empreendimento ou atividade de acordo com as
especificações constantes dos planos, programas e projetos
aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e
demais condicionantes, da qual constituem motivo
determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da


atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo
cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as
medidas de controle ambiental e condicionantes determinados
para a operação.

Art. 10º - O procedimento de licenciamento ambiental


obedecerá às seguintes etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a


participação do empreendedor, dos documentos, projetos e
estudos ambientais, necessários ao início do processo de
licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo


empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e
estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente,


integrante do SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos
ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas,
quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações


pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA,
uma única vez, em decorrência da análise dos documentos,
projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber,
podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os
esclarecimentos e complementações não tenham sido
satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com


a regulamentação pertinente;
VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações
pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências
públicas, quando couber, podendo haver reiteração da
solicitação quando os esclarecimentos e complementações não
tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando


couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença,


dando-se a devida publicidade.

1.7. ESTUDOS AMBIENTAIS

No âmbito do processo de licenciamento ambiental, muitos documentos


técnicos e estudos ambientais são solicitados visando dar embasamento teórico
e prático ao licenciamento da atividade em questão. Os principais documentos
técnicos solicitados em um processo de licenciamento ambiental são:
Requerimento - Caracterização do Empreendimento, Termo de Referência, Estudos
Ambientais (EIA/RIMA, PCA, RCA, etc.), Projeto Básico Ambiental (PAE, PGRS,
PRAD, Programas de monitoramento, educação ambiental, etc.).

Assim, em uma Perícia Ambiental é fundamental levantar os documentos


técnicos e estudos ambientais que existem sobre o caso periciado, pois os mesmos
podem fornecer o embasamento necessário para uma melhor escolha dos métodos
de amostragem e execução da perícia, conforme veremos nos próximos módulos.

Dentre os estudos ambientais, é muito importante conhecer o de


Avaliação de Impacto Ambiental, chamado de Estudo de Impacto
Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente, ou EIA/RIMA. Estes dois
documentos, que constituem um conjunto, objetivam avaliar os impactos
ambientais decorrentes da instalação de um empreendimento e estabelecer
programas para monitoramento e mitigação desses impactos.

A obrigação da elaboração de um estudo de Avaliação de Impacto


Ambiental (AIA), na forma de um EIA/RIMA, é imposta apenas para algumas
atividades com potencial altamente poluidor, pelos órgãos licenciadores
competentes (estadual, municipal e o IBAMA) e pela legislação pertinente,
como a Resolução CONAMA nº 001 de 1986 (vide figura 2), no âmbito do
processo de licenciamento ambiental.

FIGURA 2 - ATIVIDADES, LICENCIAMENTO E IMPACTOS AMBIENTAIS

Você também pode gostar