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Espiritismo
Começando pelo começo

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Jeferson Betarello

Espiritismo
Começando pelo começo

1ª Edição
2003

edição do autor
jeferson.betarello@bol.com.br
São Paulo - Brasil

4
Dados para Catalogação
elaborado pelo autor

Betarello, Jeferson, 1959-.


ESPIRITISMO - Começando pelo começo / Jeferson
Betarello. – 1. Ed. – São Paulo, SP : 2003.

Bibliografia.
1. Espiritismo

Índice para catálogo sistemático:

1. ESPIRITISMO 133.9

Capa: Mauro Rosgrin e Danilo Betarello

DIREITOS DESTA EDIÇÃO RESERVADOS ao autor


São Paulo – Brasil
jbetarello@yahoo.com.br

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Oração de Francisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.


Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre fazei que eu procure mais
consolar, que ser consolado,
compreender, que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
____________________________________________

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Dedicatória

Aos mentores amigos, que nos intuem e assistem


nesta jornada evolutiva.

À minha esposa Débora, que sempre me apoiou em


meus projetos e tem muita paciência para comigo.

À minha mãe Lindalva, um anjo sobre a terra a quem


devo tudo.

Aos amigos que nos incentivam a realizar nossos


sonhos, nos presenteiam com livros e encontros
criativos.

À memória de José Herculano Pires, que tanto nos


inspirou através de sua obra.

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Sumário

Prefácio............................................................................12
Introdução....................................................................... 14
O Espiritismo...................................................................20
O surgimento do espiritismo ............................................. 20
O panorama da época........................................................ 21
Os pré-requisitos................................................................. 23
Reforma Protestante...........................................................24
Renascença...........................................................................26
Iluminismo........................................................................... 28
Quem foi Kardec?...............................................................31
Da filosofia Grega à Doutrina Espírita.............................35
A síntese de Kardec.............................................................36
Os livros da Codificação.....................................................38
A abordagem ..............................................................................38
A necessidade .............................................................................38
O encadeamento..........................................................................38
O Livro dos Espíritos..................................................................40
O Livro dos Médiuns.................................................................. 42
O Evangelho Segundo o Espiritismo.......................................... 44
O Céu e o Inferno ...................................................................... 46
A Gênese.....................................................................................48
A estruturação do Ocidente e sua influência no
Espiritismo ..........................................................................50
A contribuição dos gregos.......................................................... 50
A contribuição dos romanos....................................................... 54
A contribuição dos Judeus.......................................................... 57
Os comportamentos herdados do catolicismo............................ 59
A relação com o dinheiro............................................................59
A relação com a política............................................................. 59
A maneira de estudar.................................................................. 60

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A Prática Espírita............................................................63
Sessões públicas................................................................... 63
Sessões fechadas.................................................................. 64
O papel do Centro Espírita................................................ 66
O movimento Espírita........................................................ 70
Desafios para o Espiritismo............................................ 74
Metas do Espiritismo.......................................................... 77
A Reforma Espírita.............................................................78
Grandes nomes do Espiritismo....................................... 84
Bezerra de Menezes............................................................ 85
Caírbar Schutel................................................................... 87
Batuíra................................................................................. 89
Anália Franco......................................................................91
O poder da Fé.................................................................. 93
Bibliografia......................................................................96

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Prefácio

Formando uma relação de complementaridade


e interdependência, em três aspectos nos é dada a
doutrina espírita: filosófico, científico e religioso.
Atribuir prevalência de um desses aspectos sobre os
outros conduz a errôneas interpretações, e com
freqüência leva a desastrosos resultados. Dessa
maneira, a extrema valorização do aspecto religioso
asfixia a religiosidade, valoriza a forma e abre
caminhos ao espiritualismo dogmático. Por outro
lado, se é visto apenas como ciência torna-se refém de
experimentações, muitas vezes eivadas em
mistificações. Também não pode ser reduzido apenas
a filosofia, agora o característico questionar do
filósofo ultrapassa os limites de uma curta existência.
É plena a consciência do autor de “Espiritismo
- Começando pelo começo” acerca dos três aspectos
formadores da doutrina espírita. Em nenhum
momento os abandona, muito menos privilegia um
deles. É este um primeiro ponto de reflexão para o
leitor: a estrutura do espiritismo. Espíritas sabem
que o espiritismo, tal como é conhecido, veio ao
mundo na segunda metade do século XIX. No
entanto, não apareceu de forma abrupta, mas é fruto
de todo um processo histórico. Na análise desse
processo, a outras reflexões nos leva o autor: a idéia
espírita tem início na Antigüidade, especificamente na
Grécia clássica com Sócrates e Platão, caminha quase
silenciosa pela Idade Média, e ameaça irromper no
Renascimento, que representa momento histórico em

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que vêm ao planeta espíritos de alto grau de evolução.
Preparado o terreno, surge o espiritismo em 1857, rota
para um homem que se encontra desorientado:
crescentes idéias materialistas o afastam do Criador;
novamente busca a religião, mas não consegue o
reencontro com o Criador, estruturas dogmáticas
impedem o reencontro. Outras reflexões vão surgindo
ao longo da obra, e em determinado momento aparece
o Centro Espírita: atividades, propósitos, organização.
Continuando o caminhar por “Espiritismo -
Começando pelo começo”, são oferecidas ao leitor,
em ligeira descrição, as obras da codificação
Kardequiana. Adiante, surge nova e inquietante
ponderação: há que se ter a Reforma Espírita.
Reforma Espírita? Caro leitor, o convite é feito,
avance por “Espiritismo – Começando pelo começo”,
questione, deixe-se embalar em reflexões, busque
conclusões!

Paz em Jesus,

São Paulo, 13 de agosto de 2003.

Cícero Souza

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Introdução

Este trabalho é o fruto de estudos histórico-


filosóficos realizados do ponto de vista de um espírita.
É destinado a todos que querem conhecer o
Espiritismo, suas origens, fundamentos e sua praxis.

Ao longo dos anos, com a participação no


movimento espírita, percebi que entendemos
superficialmente a obra maravilhosa deixada por Allan
Kardec. Algo me incomodava, pois nós espiritas
devemos ser estudiosos, buscar as informações,
criticá-las e somente após refletirmos poderemos
aceitar algo como válido. A isso chamamos de Fé
raciocinada, aquela que pode resistir ao tempo e às
novas conquistas da ciência e do ser. Porém, na
prática acostumei-me a ver companheiros agindo
como platéia, passivos, ouvindo outros companheiros
que julgavam superiores, algo como os sacerdotes de
outras religiões, pessoas eleitas, detentoras do
conhecimento e incumbidas de traduzi-lo para os
leigos! O que no contexto espírita é um absurdo. E
isso na maioria das vezes ocorre sem que o grupo se
aperceba, não por vontade, mas por comodismo e falta
de senso crítico. Como ocorre nas tarefas mundanas,
nos deixamos levar pela rotina e não nos damos conta
dos desvios ao longo do caminho. Precisamos ter
sempre claros os nossos objetivos de vida, incluindo-
se aí os nossos objetivos em relação à nossa prática
espírita, dentro e fora do Centro Espírita, para que
desta forma possamos perceber quando o rumo não

14
está claro e estamos nos perdendo nos desvios que as
opções do caminho nos possibilitam. Não devemos
agir como inquisidores ou salvadores, mas sim como
criaturas responsáveis que buscam, sabendo o que
buscam e têm a capacidade de se auto-analisar e ao
cenário que as circunda, avaliando sempre se o
caminho está progredindo em direção à meta
determinada. Muitas vezes será necessário decidir por
um caminho mais longo, que nos possibilitará melhor
apreciarmos a jornada, outras por um caminho mais
rico em possibilidades de aprendizado e quando
possível tomaremos o caminho mais curto para
podermos passar para novas etapas. Não só o rumo
certo nos importa mas também a forma com que
transpomos este caminho, pois sofreremos se, para
atingirmos o destino, maculamos a nossa jornada
prejudicando alguém. O processo também conta, e
que ele seja pautado nos ensinamentos de Jesus, para
que cheguemos em segurança ao nosso destino.

Por que?

Após refletir sobre este tema, conclui que assim


como na natureza não há saltos, também o movimento
espírita ainda guarda resquícios do catolicismo,
religião que moldou o ocidente durante quase dois mil
anos. Basta observar o comportamento dos
trabalhadores dentro da casa espírita, para
verificarmos que os dirigentes são tidos como pessoas
com poderes e sabedoria superiores, devendo suprir as
carências daqueles que os procuram. Para confirmar
essa situação basta conversarmos com um leigo sobre

15
o que ele pensa de um espírita e logo veremos que
ainda hoje o espírita é considerado um ser
sobrenatural, alguém fora do comum, um ser
privilegiado que não tem problemas!

Precisamos desmistificar esta visão, colocando-


nos de igual para igual com aqueles que colaboram no
movimento espírita e com aqueles que freqüentam a
casa espírita.

No entanto, será que nós espíritas conhecemos


o espiritismo? Suas origens? Seus objetivos?
Conseguimos contextualizar o espiritismo na
sociedade moderna?

Atualmente as pessoas procuram nas religiões


respostas para suas angústias, que são maiores a cada
geração devido às condições criadas pela sociedade
moderna: superpopulação, desemprego, divórcios,
pais trabalhando fora, drogas, globalização, novas
tecnologias, avanço científico...

Ao longo da história o ser humano sempre teve


dificuldades a superar, angústias com as quais
conviver, porém um agravante da situação atual é que
temos muito mais liberdade e opções para exercitar o
nosso livre arbítrio! Os avanços sociais e tecnológicos
proporcionaram alternativas que se não existiam, eram
raras para uma pessoa até pouco depois da idade
média. Hoje podemos escolher se queremos estudar,
que profissão queremos ter, onde queremos morar,
que religião desejamos. Antes do advento do

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capitalismo o indivíduo não contava com essas
opções, devendo seguir a carreira do pai, a religião do
seu país, sem ter a mobilidade social que temos hoje.
Portanto muitos dos problemas atuais simplesmente
não existiam, pois a própria situação de nascimento do
indivíduo já definia seus rumos futuros.

A casa espírita, através do atendimento


fraterno, presta socorro àqueles que a buscam,
baseando suas respostas nos evangelhos. Os
evangelhos, conforme mostrado na introdução de O
Evangelho segundo o Espiritismo por Allan Kardec,
tratam do ensino moral, um código de conduta para
todas as épocas. Os problemas inerentes à moral e
sentimentos humanos existiram em todos os tempos.
Na Grécia antiga, textos teatrais já tratavam o conflito
entre pais e filhos, estes não queriam se vestir ou
cortar o cabelo como seus pais e não respeitavam os
mais velhos!

Os evangelhos foram escritos em uma época


em que não havia mobilidade social e as
possibilidades de escolha do indivíduo eram restritas
senão inexistentes.

Será que o centro espírita está apto a adaptar a


linguagem do evangelho, atualizando-a para o
contexto atual?

Acreditamos que para respondermos às


questões acima é necessário resgatar a trajetória
histórica e filosófica da construção do espiritismo.

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Kardec em sua obra faz referências aos gregos, mais
especificamente a Sócrates e Platão, como sendo
precursores do cristianismo e do espiritismo!
É nosso objetivo traçar esse caminho
percorrido pela humanidade, partindo da Grécia
antiga passando pelo cristianismo e sua deformação
pelo catolicismo, pela tentativa sem sucesso de
resgatar o cristianismo feita pelo protestantismo, para
finalmente chegarmos à síntese do espiritismo obtida
por Allan Kardec com a assistência dos espíritos
superiores.
Desejamos que esta nossa contribuição,
baseada na experiência cotidiana dentro do
movimento espírita e do estudo da obra de Kardec e
dos grandes pensadores, possa ajudar aos espíritas a
conhecerem mais profundamente a doutrina, ou
melhor dizendo, a religião1 que abraçaram e
proporcionando aos não espiritas, uma visão mais fiel
do Espiritismo e de seus adeptos.
Um grande abraço, com votos de sucesso na
programação para esta sua jornada evolutiva.

Jeferson Betarello

1
Acreditamos que o espiritismo deva ser considerado uma Religião. O
fato de Kardec não tê-lo assim classificado, deve-se às dificuldades que
enfrentaria na época.

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O Espiritismo

Espiritismo, segundo consta no dicionário


Houaiss da língua portuguesa: é uma doutrina de
cunho filosófico-religioso, de aperfeiçoamento moral
do homem através de ensinamentos transmitidos por
espíritos mais aprimorados2 de pessoas mortas, que se
comunicam com os vivos especialmente através dos
médiuns, ou o conjunto de práticas e fenômenos
associados a essa doutrina.

O surgimento do espiritismo

O espiritismo surgiu em 1857 através de Allan


Kardec, a quem descreveremos mais adiante.

No meio espírita ele é tido como o codificador


da doutrina, dado que ele foi o organizador das
informações obtidas junto aos espíritos, avaliando,
comparando e inserindo-as nas obras da codificação:
O livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, O
Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno,
A Gênese.

Os espíritos que ditaram as mensagens que


compuseram os livros da codificação, tinham a missão
2
Não é condição necessária para os espíritos se
comunicarem. Muitos deles vêm pedir auxílio pois se
encontram na erraticidade.

20
de resgatar os ensinamentos de Jesus, distorcidos ao
longo de dezenove séculos.

O panorama da época

A Reforma Protestante havia iniciado, através


de Lutero, uma cisão na religião católica. Esta quebra
vinha sendo amadurecida há séculos dentro da própria
igreja, por espíritos evoluídos que reencarnavam na
tentativa de resgatar o cristianismo puro, que é a
religião natural exemplificada por Jesus – sem
dogmas, hierarquia ou envolvimento político. O
próprio Jesus foi uma quebra do paradigma religioso
Judaico. Como a natureza não dá saltos, naturalmente
que os discípulos de Jesus trouxeram para dentro do
cristianismo comportamentos da prática religiosa dos
Judeus, basta que avaliemos as posições contrárias
entre Pedro e Paulo, para que vejamos que desde o
início do cristianismo existia o questionamento de
Paulo contra os resquícios judaicos trazidos para
dentro do cristianismo, que naturalmente em seu
início, na prática, nada mais era do que o Judaísmo
com as revisões implementadas por Jesus.
Um grande exemplo de espírito evoluído
encarnando dentro da fé católica para resgatar o
cristianismo em sua real acepção foi Francisco de
Assis. Para dar o exemplo a ser seguido pela igreja,
ele reencarna dentro da família mais rica de sua
cidade, o que na época era muito significativo, pois a
miséria imperava. Ao se tornar adulto deixa sua
família e vai viver de esmolas praticando a caridade

21
para com os leprosos, os quais eram rejeitados pela
sociedade e deixados à própria sorte. Francisco de
Assis não queria a cisão da igreja, mas sim dar o
exemplo para que ela o seguisse deixando de ser a
grande detentora de poder material e político da
época. Ele mostrou que enquanto o povo de Deus
morria na miséria total, que era a condição da maioria,
os homens da igreja viviam em luxo total e ostentando
grandes recursos materiais oriundos da posse de
grandes extensões de terra, que era a principal fonte
de riqueza e poder da época.
A Renascença havia preparado as mentes para
se libertarem do domínio religioso sobre o
conhecimento adquirido pelo homem, mudando a
sociedade de uma visão teocêntrica, que se baseava
na bíblia, para uma visão antropocêntrica, baseada na
capacidade intelectual da iniciativa humana.
Estes eventos ocorreram três séculos antes de
Kardec, tempo necessário para que a sociedade
humana pudesse digerir estas novas propostas de
relação com a ciência e com a religião. Porém os
homens ainda se debatiam, indo aos extremos do
materialismo científico ou do dogmatismo religioso. O
terreno estava preparado para o advento do
Espiritismo, que iria mostrar uma nova possibilidade
para a humanidade: a Fé baseada no conhecimento e
não nos dogmas.

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Os pré-requisitos

Para que o espiritismo surgisse, era necessário


que o terreno estivesse preparado. Sendo o
Espiritismo constituído por aspectos religiosos,
filosóficos e científicos, necessitava que primeiro
ocorressem a Reforma Protestante no campo da
religião, a Renascença e o Iluminismo no campo da
filosofia e da ciência. Estes três eventos promoveram
a quebra com os dogmas e práticas do catolicismo,
preparando as mentes para receberem a mensagem de
Jesus em condições de assimilá-la em maior
profundidade.

É sempre bom nos situarmos na história,


fazendo relacionamento com outros eventos que
conhecemos, a fim de apreciarmos as suas ligações. A
Reforma e a Renascença ocorreram na época do
descobrimento do Brasil, e o Iluminismo ocorre pouco
antes de Kardec!

As datas em história servem para caracterizar


um período, a fim de que possamos estudá-lo de forma
mais objetiva. Porém, a dinâmica real da vida nos
mostra que ao longo de um período estão ocorrendo
resquícios do precedente e a preparação do
subsequente. Podemos também observar que as idéias
básicas, para que ocorra uma grande revolução, são
lançadas muito tempo antes desta ocorrer
efetivamente. Podemos constatar isto observando a

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ligação existente entre o pensamento de Sócrates e
Platão em relação ao Cristianismo e ao Espiritismo.

Reforma Protestante

O Protestantismo foi o resultado do movimento


conhecido historicamente como a Reforma, ocorrido
no século XVI. Tendo sido deflagrado por Lutero, que
objetivava devolver ao cristianismo sua forma
primitiva, ou seja, sem as alterações feitas pelo
catolicismo.

Nesta época a igreja detinha grandes extensões


de terra, que era a fonte de poder político e
econômico. A igreja tinha grandes interesses
econômicos a proteger. Este poder era mantido e
aumentado pelo domínio no campo religioso, através
do medo, que era imposto pelas penas eternas, para
aqueles que fossem condenados no juízo final, por não
terem se comportado segundo os ditames da igreja. A
igreja constituiu formas de se amenizar os castigos ou
de se conseguir perdão, por intermédio de doações, o
que foi a gota d’água para que Lutero iniciasse a cisão
do Catolicismo.

Um fato interessante, é o do por que não deram


um fim em Lutero, já que a igreja tinha poder para
tanto. Como um homem pode causar tamanho estrago
dentro da igreja?

24
Acontece que Lutero vivia na Alemanha, e lá a
igreja possuía a maior parte das terras. Isto significa
que ela mandava mais que os governantes, e portanto
os incomodava. Os governantes não defrontavam a
igreja temendo represálias de outros governos
católicos. Mas defender um cidadão impedindo que a
igreja o punisse era possível. Bastou isto para que
Lutero tivesse a liberdade necessária para divulgar
suas posições a favor do cristianismo puro.

A Reforma provocou grandes mudanças, pois


os governos católicos se posicionavam junto com o
catolicismo, punindo os cidadãos que não se
submetiam aos ditames da igreja. Muito sangue foi
derramado para que tivéssemos o direito de escolher a
forma de professar a nossa Fé.

Como já dissemos várias vezes, as coisas não


mudam de uma hora para outra. O protestantismo
conseguiu provocar uma quebra no paradigma
religioso, mas não conseguiu um consenso.
Produzindo assim várias facções religiosas, e
juntamente com elas o extremismo que gera conflitos
até hoje, em países como a Irlanda.

Mais uma vez, vemos cair aqueles que foram


eleitos para conduzir os destinos da humanidade e que
se deixaram levar pela ambição do poder. A igreja
Católica que moldou o ocidente, que definiu todas os
países da Europa, ficou dividida em várias igrejas. Na
verdade seu poder permanece em menor grau até a

25
data de hoje, a instituição é tão grande que ainda não
assimilou o golpe levado há séculos. Ainda não se
posicionou adequadamente diante do desafio de
conduzir pelo amor e não pelo medo, com a Fé
raciocinada e não com dogmas.

Aqui não estamos atacando a igreja Católica,


estamos fazendo uma leitura de fatos históricos,
decorrentes das posições assumidas pela igreja.
Somos por outro lado admiradores da instituição que é
o Catolicismo. Uma instituição que dura milênios, e
que desde o seu início foi globalizada! Sobrevivendo a
várias formas de governo, crises econômicas e guerras
mundiais! È pena que ela tenha perdido o bonde da
história, pois assim como Roma, ela não cumpriu com
a missão de promover a evolução do nosso planeta e
da humanidade a ele ligada. Obrigando o plano
espiritual a criar novas possibilidades para tanto.
Espíritos evoluídos, como Francisco de Assis,
reencarnaram no seio da igreja para reconduzi-la ao
cristianismo puro, mas os homens que a conduziam
optaram por outros caminhos, fazendo uso de seu
livre-arbítrio. A história está aí para que aprendamos
com os erros passados. Se o Espiritismo não
cumprir com a sua missão, também ele será
ultrapassado por novas ações encaminhadas pelos
mentores de nosso planeta, que visam a melhoria
de nosso mundo e de nossa sociedade.

Renascença

26
A renascença marca o fim da Idade Média,
também conhecida como idade das trevas, tendo em
vista que a igreja católica imperava absoluta com seus
dogmas cerceando a ciência e a filosofia, que eram
suas servas, portanto não podendo contrariar as
posições da igreja ou da bíblia.

É considerado um período glorioso para a


humanidade, onde vemos espíritos muito evoluídos
trazendo seus conhecimentos e sua arte para o mundo.
Se avaliarmos o contexto, veremos o quão avançados
estes homens eram para a sua época.

Galileu pela primeira vez utiliza a matemática


para fins práticos! Consegue assim estabelecer
fórmulas de calculo para determinar a velocidade da
queda de objetos. Utiliza a luneta para observar os
astros. Apoia a antiga idéia de que a Terra não é o
centro do universo, contrariando a igreja e as
escrituras. Só não foi queimado porque era conhecido
do papa, que o fez rever suas posições contrárias às da
igreja e da bíblia.

Artistas como Michelangelo modificam a forma


de representar o homem, resgatando a visão clássica
dos gregos, que enalteciam a beleza física e
destacavam o papel do homem.

O homem está novamente no centro das


atenções que antes era Deus. Ao longo da história
vemos que estes extremos ocorrem. Ora a religião

27
domina, ora a ciência, dependendo dos anseios que
motivam a sociedade e cultura vigentes.

Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento intelectual do


século XVIII. Promoveu o uso da ciência e da razão
crítica nos questionamentos filosóficos, recusando
todas as formas de dogmatismo; batendo de frente
com as doutrinas políticas e religiosas da época.
Neste período foram colhidos todos os frutos do que
se plantou durante a Renascença. Aqui, os homens
dispunham de recursos como a imprensa, e da
disposição do povo para receber as revoluções
políticas que há muito se esboçavam. A aristocracia
era atacada pelos intelectuais da época, que
encontravam eco nos anseios do povo europeu,
principalmente na França.
Voltaire é considerado o grande nome deste
período. Portanto, vamos nos deter nele. Foi um
homem que enriqueceu usando seu talento para
escrever peças teatrais. Usou seus recursos financeiros
para proteger os pobres contra as injustiças da época.
Questionou o poder político e a igreja Católica. Seus
textos nos mostram o quanto ele ridicularizava a
ambos. Também não poupou os sábios da época. Em
textos como Micrômegas, podemos ver o quanto ele
ridiculariza aqueles que crêem deter o conhecimento.
Ele sem dúvida, foi um espírito que provocou grandes
revoluções na sociedade terrena.

28
Neste século, que ficou conhecido como o
século das Luzes, consolidaram-se as constituições
que garantiram os direitos humanos, eliminando os
direitos advindos do nascimento em classes
privilegiadas. Mas, como todo extremismo, trouxe
com ele o perigo do materialismo. Os homens da
época sentiam-se seguros em confiar na ciência,
relegando a religião ao último plano, considerando-a
perniciosa para a humanidade. Isto serve para nos
mostrar o quanto o advento do espiritismo, no século
seguinte, é importante. O Espiritismo vem mostrar que
é possível a união entre Fé e Razão. Que o homem é
espírito e corpo. Que a ciência pode ser usada para
entendermos as leis da natureza, mas que ela tem seus
limites. Limites que se ampliam com a evolução do
homem, que é espírito em evolução.

Estes três eventos - Reforma protestante,


Renascença e Iluminismo - enfraqueceram o modelo
de religião dominante que estruturou o ocidente por
muitos séculos. Permitindo a consolidação de novas
formas de ver a Deus e o mundo em que vivemos.
Coube a Kardec, trazendo a doutrina dos espíritos,
retirar o véu que foi jogado sobre a continuação da
vida em uma evolução incessante até a perfeição do
ser: a Reencarnação, que é a chave para entendermos
a condição humana na Terra, bem como as causas dos
sofrimentos que vivenciamos. Possibilitando-nos um
posicionamento mais adequado diante das vicissitudes
da vida, dando-nos uma Fé mais bem fundamentada e

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pronta para nos levar ao nosso destino, que é a
perfeição em outros níveis de consciência.

30
Quem foi Kardec?

Allan Kardec era o pseudônimo de Hippolyte


Léon Denizard Rivail, nascido em Lion, a 3 de
outubro de 1804. Iniciou seus estudos em Lion,
completando-os em Yverdun na Suíça, com o célebre
Pestalozzi, de quem se tornou discípulo eminente e
dedicado colaborador. Foi substituto de Pestalozzi
durante suas jornadas para difundir o seu novo
sistema de educação, que tanto influenciou o ensino
na Europa. Era bacharel em letras e em ciências. Era
lingüista e falava alemão, espanhol, inglês e italiano.
Fundou em Paris um instituto similar ao do mestre na
Suíça. Casou-se com Amélia Boudet, professora.

Ganhava a vida como contador e após o


trabalho diário escrevia livros de gramática e
aritmética. Traduzia obras escritas em inglês e alemão.
Ministrava em sua casa cursos gratuitos de anatomia,
astronomia, física e química, os quais eram bastante
freqüentados.

Dentre as suas numerosas obras convém citar,


por ordem cronológica: Plano apresentado para o
melhoramento da instrução pública, em 1828; em
1829 publicou, para uso das mães de família e dos
professores, o Curso prático e teórico de aritmética;
em 1831 fez aparecer a Gramática francesa clássica;
em 1846 o Manual dos exames para obtenção dos
diplomas de capacidade, soluções racionais das
questões e problemas de aritmética e geometria; em

31
1848 foi publicado o Catecismo gramatical da língua
francesa; finalmente, em 1849, tornou-se professor no
Liceu Polimático, ensinando Astronomia, Física,
Fisiologia, Química e Física. Várias de suas obras
foram adotadas pela Universidade de França e
vendiam bem. Sendo assim o homem Rivail tinha por
seus méritos alcançado o sucesso almejado, daí o fato
de não utilizar seu nome nos escritos da codificação
espírita, para não influenciar seus leitores.

Em 1854 teve seu primeiro contato com os


fenômenos das mesas girantes, dado seu interesse no
estudo do magnetismo.

De 1854 a 1856 participou de reuniões


mediúnicas, onde se valendo do método cientifico
concebeu a obra da codificação oportunizada pelos
espíritos superiores, como podemos ver nas
transcrições abaixo obtidas no livro Obras Póstumas.

“... Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios


em Espiritismo, menos ainda por efeito de revelações
que por observação. Apliquei a essa nova ciência,
como até então o tinha feito, o método da
experimentação; nunca formulei teorias
preconcebidas; observava atentamente, comparava,
deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava
remontar às causas pela dedução, pelo
encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como
válida uma explicação, senão quando ela podia
resolver todas as dificuldades da questão.

32
...Foi assim que mais de dez médiuns prestaram seu
concurso a esse trabalho. E foi da comparação e da
fusão de todas essas respostas, coordenadas,
classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da
meditação, que formei a primeira edição de O Livro
dos Espíritos, a qual apareceu em 18 de abril de
1857.”

Hippolyte Léon Denizard Rivail, nosso querido


Allan Kardec, faleceu em Paris no dia 31 de março de
1869, com apenas 65 anos.

O mundo deve muito a este elevado espírito


que reencarnou entre nós, com a missão de consolidar
o conhecimento e a experiência humana, concebendo
uma obra tão profunda e ao mesmo tempo acessível.
Quanto mais nos aprofundamos nos estudos de sua
obra, constatamos o alcance, a coesão e a coerência
desta.

Kardec é a linha de chegada de grandes


pensadores que deflagraram importantes revoluções,
dentre eles podemos citar: Lutero, Descartes, Kant,
Voltaire e Schopenhauer.

Ele não criou os fenômenos espirituais.


Estudou, catalogou, explicou e nomeou cientifica e
metodicamente as causas, meios e efeitos destes
fenômenos que sempre ocorreram desde os primórdios
da humanidade. Resgatou para o cristianismo a
comunicação com o mundo espiritual que havia sido
erradicada pelo catolicismo. Abriu um mundo novo

33
para ser estudado e mostrou a conseqüência de tudo
isto para a nossa jornada evolutiva.

Ainda não nos demos conta do valor que esta


obra tem para a humanidade terrena. Que possamos
pô-la em prática para poder implantar finalmente o
cristianismo, que Jesus nos legou em nosso planeta.

34
Da filosofia Grega à Doutrina Espírita

Será que há relação entre a Filosofia, criada na


Grécia 600-a.C. e o Espiritismo?

Acreditamos que sim, pois vemos no


espiritismo não uma quebra, mas antes uma síntese do
pensamento Humano, após conquistas histórico-
científicas que permitiram a consolidação das diversas
linhas filosóficas. Um ponto de chegada após longos
percursos. No oráculo de Delphos já se lia, muitos
séculos antes de Cristo a inscrição: “Conhece-te a ti
mesmo”. E é a isto que o espiritismo nos conduz, o
autoconhecimento e muito mais, dado que nesta busca
nós temos que nos situar no contexto social e para
tanto temos que interagir com o mundo. Neste
processo impregnamos o mundo e o mundo nos afeta,
de forma que participamos desta obra da criação: O
mundo material, a vida corpórea, a evolução do
espírito...

Kardec cita, na introdução de O Evangelho


segundo o espiritismo, Sócrates e seu discípulo
Platão, dois dos maiores nomes de todos os tempos.
Homens que influenciaram toda a civilização
Ocidental através das suas obras, inclusive lançando
as bases para o Cristianismo que viria quase quatro
séculos depois. E sendo o Espiritismo o resgate da
religião natural trazida por Jesus, o Cristianismo, estes
também lançaram as bases da doutrina espírita!

35
Para se ler, e entender, a história da
humanidade, devemos ter em mente que a natureza
não dá saltos. A evolução é um processo contínuo,
onde as fases se sucedem em termos didáticos, mas se
intercalam em termos de vivência.

A síntese de Kardec

Kardec é um marco na história da humanidade.


Alguns poderão argumentar que a humanidade não se
restringe ao ocidente. Porém, conforme ensina o
Espiritismo, nós reencarnamos, portanto teremos a
oportunidade de conhecer a doutrina espírita no
momento propício para a nossa evolução individual.
Além disto, com a evolução tecnológica e a
globalização, ocorridas após Kardec, temos os meios
para difundir o Espiritismo em termos globais, seja
pelos livros, pela televisão ou mais recentemente pela
Internet. A evolução dos transportes e das
comunicações encurtou as distâncias entre os povos.
Os interesses econômicos aproximaram as culturas.
Resta-nos utilizar estas facilidades em benefício da
humanidade, difundindo a doutrina espírita com o
intuito de erradicar a miséria física e as diferenças de
credo ou religião, pois a lei da Reencarnação nos
mostra as conseqüências se não o fizermos. Cada um
de nós por omissão de seus compromissos sofrerá por
sua vez as conseqüências das tarefas não cumpridas
em futuras existências.
O advento do espiritismo, decorrente das
conquistas filosófico-científicas, pôs por terra a visão

36
simplista, implantada pelo catolicismo, de uma vida
única, sob condições impostas que castram a liberdade
de escolha e aprendizado, mostrando fórmulas de
obter graça para compensar o pecado original, através
de rituais elaborados, mas de cunho primitivo, que
mantêm o homem escravo das superstições e na
dependência de classes dominantes.

Como diria Jesus: quem tem olhos que veja.


Assim, podemos ver que Kardec fecha um ciclo de
pensadores e eventos, que prepararam o panorama
para o advento do Espiritismo. Sendo o nosso mundo
material uma escola e a nossa estada aqui um
programa de aprendizado, nada mais lógico que o
plano espiritual planeje e implemente, através de nós,
as mudanças necessárias para a evolução do planeta e
das sociedades nele constituídas, com o fim de
praticarmos as lições do evangelho de Jesus.

37
Os livros da Codificação

A abordagem

Fé raciocinada. Pegando carona no


racionalismo, Kardec resgata os valores religiosos à
luz da ciência, tão valorizada naquele momento.

A necessidade

Resgatar o cristianismo puro deixado por Jesus,


promovendo a quebra de paradigmas vigentes à época.
Buscar a convivência pacífica entre Ciência e
Religião, combatendo o materialismo ascendente,
mostrando que ambas são necessárias e
complementares para o homem, pois somos corpo e
espírito.

O encadeamento

A obra de Kardec é extremamente bem


elaborada, estando toda ela interligada. O Livro dos
Espíritos é a pedra fundamental que fornece a visão
geral, tratada em detalhes no restante da obra.

Convidamos aos interessados em conhecer a


doutrina espírita que visitem estas obras, que têm um
baixíssimo custo dado que o objetivo é difundir a
doutrina ao maior número de pessoas. Note que

38
conhecer o espiritismo não implica a necessidade de
você mudar de religião, mas com certeza isto fará com
que você entenda as situações de sua vida de uma
maneira mais rica, percebendo que você é um elo de
uma grande corrente, um ser em evolução, buscando
ser feliz e nesta busca vai aprendendo, como uma
criança, aquilo que lhe convém ao progresso espiritual
e não às coisas efêmeras.

Se você estiver se perguntando: o que é


baixíssimo custo? O custo de uma destas obras,
eqüivale ao preço de sete maços de cigarros ou seis
litros de gasolina!

A seguir, relacionamos o índice e um breve


comentário de cada obra, no intuito de provocar o
interesse na sua leitura e também de mostrar o quão
instigantes são os temas abordados por elas. Caso ache
cansativo, você poderá pular estas páginas, porém
estará perdendo a oportunidade de ter uma visão geral
dos livros da codificação. Muitas pessoas não
costumam ler o índice dos livros, mas em minha
opinião isto é indispensável, pois nos dá um panorama
da obra: sua estruturação, abrangência, forma de
abordar os temas...

Gostaria de lembrar que as introduções


contidas nestes livros são de suma importância
para o entendimento dos mesmos.

39
O Livro dos Espíritos
PRINCÍPIOS DA DOUTRINA ESPÍRITA
sobre a imortalidade da alma, a natureza dos
Espíritos e suas relações com os homens, as leis
morais, a vida presente, a vida futura e o porvir
da Humanidade - segundo os ensinos dados por
Espíritos superiores com o concurso de diversos
médiuns - recebidos e coordenados por Allan
Kardec

A primeira obra editada da codificação,


datando de 18 de abril de 1857. Trata da parte
filosófica do Espiritismo. Todos os outros livros são
um detalhamento deste. Kardec, como pedagogo que
era, concebeu este livro de maneira a facilitar o
entendimento da nova doutrina. Para tanto, o fez no
formato de perguntas e respostas, intercaladas com
explicações para as questões que as requeriam.
Este livro é fundamental para aquele que deseja
conhecer o Espiritismo, indispensável para aquele
que se diz Espírita.

De Deus
Dos elementos gerais do Universo
Da Criação
Do Princípio vital

PARTE SEGUNDA
Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos
Dos Espíritos
Da encarnação dos Espíritos
Da volta do Espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual
Da pluralidade das existências .

40
Considerações sobre a pluralidade das existências
Da vida espírita
Da volta do Espírito à vida corporal
Da emancipação da alma
Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal
Das ocupações e missões dos Espíritos
Dos três reinos

PARTE TERCEIRA
Das leis morais
Da lei divina ou natural
Da lei de adoração
Da lei do trabalho .
Da lei de reprodução
Da lei de conservação
Da lei de destruição
Da lei de sociedade
Da lei do progresso
Da lei de igualdade
Da lei de liberdade
Da lei de justiça, de amor e de caridade
Da perfeição moral

PARTE QUARTA
Das esperanças e consolações
Das penas e gozos terrenos
Das penas e gozos futuros

41
O Livro dos Médiuns
GUIA DOS MÉDIUNS E DOS EVOCADORES
Ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de
todos os gêneros de manifestações, os meios de
comunicação com o mundo invisível, o
desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades
e os tropeços que se podem encontrar na prática
do Espiritismo constituindo o seguimento de O
Livro dos Espíritos”

Trata da prática mediúnica, editado pela


primeira vez em 15 de Janeiro de 1861. Classifica
metodicamente: os tipos de mediunidade, as causas,
meios e efeitos dos fenômenos mediúnicos. É um
manual técnico para os médiuns. Possibilita a prática
científica do Espiritismo.

Indispensável para a organização, prática e


entendimento dos trabalhos mediúnicos.

PRIMEIRA PARTE
Noções preliminares
Há Espíritos?
Do maravilhoso e do sobrenatural
Do método.
Dos sistemas

SEGUNDA PARTE
Das manifestações espíritas
Da ação dos Espíritos sobre a matéria
Das manifestações físicas
Das manifestações inteligentes
Da teoria das manifestações físicas

42
Das manifestações físicas espontâneas
Das manifestações visuais.
Da bicorporeidade e da transfiguração.
Do laboratório do mundo invisível.
Dos lugares assombrados.
Da natureza das comunicações.
Da sematologia e da tiptologia.
Da pneumatografia ou escrita direta
Da psicografia.
Dos médiuns
Dos médiuns escreventes ou psicógrafos.
Dos médiuns especiais.
Da formação dos médiuns
Dos inconvenientes e perigos da mediunidade
Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas.
Da influência moral do médium
Da influência do meio.
Da mediunidade nos animais.
Da obsessão
Da identidade dos Espíritos.
Das evocações.
Das perguntas que se podem fazer aos Espíritos.
Das contradições e das mistificações.
Do charlatanismo e do embuste
Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Dissertações espíritas
Vocabulário espírita

43
O Evangelho Segundo o Espiritismo

COM A EXPLICAÇÃO DAS MÁXIMAS MORAIS


DO CRISTO EM CONCORDÂNCIA COM O
ESPIRITISMO E SUAS APLICAÇÕES ÀS
DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA.

Trata da parte moral da doutrina espírita.


Elucidando as passagens do Novo Testamento,
acrescidas de comentários feitos pelos espíritos. Foi
editado, pela primeira vez em 1863, revisto e
ampliado posteriormente na forma que conhecemos
em abril de 1864.

Trechos dos evangelhos, que tratam dos


aspectos morais, são comentados pelos espíritos,
explicando o seu significado sob a ótica espírita.

É um código de conduta para a vida. Um guia


seguro, para que possamos vivenciar a nossa crença
espírita.

NÃO VIM DESTRUIR A LEI


MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI
NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS SE NÃO NASCER DE
NOVO
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
O CRISTO CONSOLADOR
BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO

44
BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS
BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO
DIREITA
HONRAI A VOSSO PAI E A VOSSA MÃE
FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO
NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON
SEDE PERFEITOS
MUITOS OS CHAMADOS, POUCOS OS ESCOLHIDOS
A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS
OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA
HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS
NÃO SEPAREIS O QUE DEUS JUNTOU
ESTRANHA MORAL
NÃO PONHAIS A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE
BUSCAI E ACHAREIS
DAI GRATUITAMENTE O QUE GRATUITAMENTE RECEBESTES
PEDI E OBTEREIS
COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS

45
O Céu e o Inferno

A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO


Exame comparado das doutrinas sobre a passagem da
vida corporal à vida espiritual, sobre as penalidades e
recompensas futuras, sobre os anjos e demônios,
sobre as penas, etc., seguido de numerosos exemplos
acerca da situação real da alma durante e depois da
morte.

Trata das diferentes visões entre o catolicismo


e o espiritismo sobre temas fundamentais da crença.
Editado pela primeira vez em Agosto de 1865.
Objetiva excluir do cristianismo, os conceitos
introduzidos pelo catolicismo para exercer seu
domínio sobre as criaturas simples. É assim que são
explicadas: a não existência de criaturas eternamente
más, como o Diabo, a não existência do Inferno e
Purgatório. Mostrando que há vida além da morte do
corpo físico, e que, segundo nossos méritos, iremos
progredir adquirindo mais poder e liberdade de ação.
Foi vital para que fosse feita a transição da
visão católica, que moldou todo o Ocidente, para a
visão Espírita, que é o resgate do cristianismo puro
deixado por Jesus. O Espiritismo nos mostrou um
Deus de amor infinito por seus filhos e não um Deus
vingativo, como foi mostrado no antigo testamento e
propagado pelo Catolicismo.
Para o espírita é fundamental, pois permite
que nos libertemos das crenças católicas: castigos

46
eternos, inferno, Diabo e tantas outras que foram
assimiladas de cultos pagãos, absorvidos pela
igreja e suas dissidências.

PRIMEIRA PARTE - DOUTRINA


O porvir e o nada
Temor da morte
O céu
O inferno
O purgatório
Doutrina das penas eternas
As penas futuras segundo o Espiritismo
Os anjos
Os demônios
Intervenção dos demônios nas modernas manifestações
Da proibição de evocar os mortos

SEGUNDA PARTE - EXEMPLOS


O passamento
Espíritos felizes
Espíritos em condições medianas
Espíritos sofredores
Suicidas
Criminosos arrependidos
Espíritos endurecidos
Expiações terrestres

47
A Gênese

OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O


ESPIRITISMO
A Doutrina Espírita há resultado do ensino coletivo
e concordante dos Espíritos.
A Ciência é chamada a constituir a Gênese de
acordo com as leis da Natureza.
Deus prova a sua grandeza e seu poder pela
imutabilidade das suas leis e não pela ab-rogação
delas.
Para Deus, o passado e o futuro são o presente.
Trata da revisão das revelações bíblicas à luz
da nova doutrina Espírita e de questões filosófico-
científicas. Editado pela primeira vez em 6 de Janeiro
de 1868.
É de suma importância para acabar com a visão
mística que se tem da criação. Trata de uma maneira
lógica, problemas filosóficos que foram
profundamente debatidos, sem solução, durante
séculos. A doutrina Espírita vem lançar novas luzes
que possibilitam o entendimento de questões como: O
Bem e o Mal, a Matéria, o Espaço... Mostrando que
tudo ocorre em nosso mundo de acordo com Leis
Naturais, que regem nosso plano de existência, onde
estamos para evoluir.
Indispensável, permitindo que possamos
rever conceitos adquiridos do catolicismo, fazendo
assim a quebra necessária para exercitarmos
plenamente a crença espírita.

48
Caráter da revelação espírita
Deus - Existência de Deus
O bem e o mal. Origem do bem e do mal
Papel da Ciência na Gênese
Antigos e modernos sistemas do mundo
Uranografia geral - O espaço e o tempo
Esboço geológico da Terra.
Teorias sobre a formação da Terra
Revoluções do globo.
Gênese orgânica. - Formação primária dos seres
Gênese espiritual. - Princípio espiritual
Gênese mosaica. - Os seis dias
Caracteres dos milagres.
Os fluidos.
Os milagres do Evangelho.
Teoria da presciência
Predições do Evangelho.
São chegados os tempos.

49
A estruturação do Ocidente e sua influência no
Espiritismo

O Ocidente tem três fatores determinantes:


filosofia Grega, direito Romano, religião Judaico-
cristã.

Como sabemos, na natureza e na história, não


há saltos. O que podemos confirmar analisando a
contribuição destes três povos para a estruturação de
todo o Ocidente.

A contribuição dos gregos

Os Gregos começaram a filosofia


aproximadamente seis séculos antes de Cristo.
Fazendo uma leitura racional da Natureza, que até
então era tratada de forma mítica. Os mitos sempre
foram usados pelos humanos, para explicar o
desconhecido. Temos em nossas estruturas psíquicas a
necessidade de termos uma explicação, seja qual for,
para preenchermos a angústia causada pelo
desconhecido. Assim criaram-se os deuses como
explicação das forças naturais como o trovão, os
ventos, e tudo aquilo que tinha um poder que afetasse
o mundo humano. O mito é muito importante, ao
contrário do que os cépticos pensam, pois através dele
nos relacionamos com o sobrenatural. Sem ele não
daríamos conta desta relação. Entenda-se sobrenatural
como aquilo que é regido por leis que ainda

50
desconhecemos. Para o Espiritismo não existe o
sobrenatural, tudo é natural, tudo está ligado e
enquadrado dentro de Leis imutáveis. Atualmente a
ciência reconhece o valor do mito, valendo-se deles
para conhecer as sociedades que o criaram e para
verificar fenômenos que já eram observados no
passado e explicados, da maneira que lhes era
possível, com o conhecimento da época.

Filosofia, termo criado por Pitágoras, significa


“amor pela sabedoria”. Seus objetivos são: explicar a
realidade como um todo, explicar racionalmente este
todo, conhecer e contemplar a verdade. Traduzindo: é
esta necessidade que temos de refletir sobre de onde
viemos e para onde iremos, qual nosso papel no
mundo, por que sofremos e tantas outras questões que
entretecem os grandes pensadores, desde a Grécia até
nossos dias.

Esta nova abordagem diante dos problemas,


tentando entender as causas e como o todo funciona é
que possibilitou a ciência e a tecnologia, como as
temos hoje. A ciência, que está subdividida em ramos
especializados, é filha da filosofia. Cada vez que algo
começa a ser entendido pela filosofia gera-se um ramo
da ciência que irá se aprofundar com foco naquele
tema. A filosofia busca o todo e não a especialização
nas partes, como faz a ciência. Não raro vemos
grandes especialistas em suas áreas, fazerem o
caminho inverso, pois ao chegarem ao domínio de
suas áreas, deparam-se com problemas que extrapolam
os limites da sua ciência, fazendo com que se voltem

51
para o todo. Como Alfred North Whitehead e
Bertrand Russel, que eram grandes matemáticos
ingleses, que se tornaram grandes filósofos do século
XX.

Também recebemos dos gregos a democracia,


que foi de vital importância para que eles pudessem
desenvolver a filosofia.

Temos então como fruto da filosofia Grega a


forma como encaramos o mundo, como refletimos
sobre ele, o que nos possibilitou a criação da ciência
tecnológica em termos materiais, e a Fé racional em
termos de religião.

Por que os Gregos não dominaram o mundo na


sua época e sim foram dominados por outros povos?

Aí está mais uma oportunidade para


entendermos como o plano espiritual atua sobre o
mundo material. Muitas civilizações receberam
espíritos evoluídos para dar impulso à evolução no
plano material. No caso da Grécia antiga, vemos
encarnados juntos, homens dos mais importantes da
história humana na Terra, que influenciaram tudo o
que conhecemos hoje: Sócrates, Platão, Aristóteles
entre outros. Eles trouxeram o conhecimento, que foi
assimilado em pequena parte por seus
contemporâneos, dentro de suas possibilidades.
Deixando para a posteridade o seu legado de
sabedoria, quando outros fatores permitissem a sua
disseminação e entendimento. Novamente vemos

52
entre os gregos, ocorrer o sentimento de orgulho pelas
“suas” produções, crendo-se os melhores, sem
necessidade dos outros povos, os quais julgavam
bárbaros. Guerras entre as cidades-Estado,
principalmente Atenas e Esparta, consumiam as
possibilidades materiais disponíveis. Nada mais justo
que um povo fechado em si, guardando um tesouro
que foi trazido para a humanidade por espíritos
evoluídos, fosse então dominado por outros povos a
fim de que este conhecimento fosse disperso para
outros territórios. A lei do progresso não poderia
permitir que estes conhecimentos fossem sufocados
dentro das paredes das cidades-Estado gregas. Assim
ocorreu que os gregos foram conquistados pelos
Macedônios, que sabiamente aguardaram que Esparta
e Atenas se consumissem em longas guerras, que ao
seu término as deixaram sem condições de se
defenderem de ataques externos.

Através de Alexandre “o grande”, que era


aluno de Aristóteles, foram promovidas grandes
conquistas territoriais, fazendo com que a mentalidade
grega fosse espalhada juntamente com estas
conquistas.

Mais tarde estes territórios seriam conquistados


pelos Romanos, que já encontrariam a língua Grega
disseminada, sendo uma língua comum entre vários
povos. Também os Romanos reconheceram as
conquistas do pensamento grego e a incorporaram
através da adoção de gregos cultos como tutores de
seus filhos. Estes tutores acompanhavam as famílias

53
dos grandes administradores romanos pelos territórios
conquistados. Desta forma vemos novamente o
pensamento grego sendo assimilado pela força
dominante no plano material e se espalhando por
vastas extensões de terra.

A contribuição dos romanos

Os romanos foram, na minha opinião, os


maiores conquistadores de todos os tempos!
Conquistaram vastas extensões de terra a pé. Levaram
as suas leis, sua administração, suas estradas e seus
aquedutos e esgotos, a vários povos. Permitiam as
crenças e a autonomia do governo local, desde que
ambas não fossem contrárias aos interesses de Roma.
Na maioria das vezes os impostos cobrados por Roma,
eram inferiores aos cobrados pelos governos locais
anteriores! As guerras internas eram terminadas por
imposição romana, permitindo que houvesse a paz
entre as facções conflitantes! Era a chamada Pax
Romana, que imperou junto com Roma durante
séculos em todo o território dominado pelos romanos.
Muitos dos conquistados podiam ao longo do tempo,
tornarem-se cidadãos romanos! Havia a possibilidade
de locomoção dentro das áreas sob seu domínio, o que
permitia um grande comércio e consequentemente a
troca de informações e conhecimento, seja científico,
filosófico ou religioso.

Através dos escravos gregos que as famílias


romanas possuíam, muitas vezes como tutores de seus

54
filhos, tivemos a mais ampla influência do pensamento
grego, que os romanos tiveram o mérito de reconhecer
como superiores, em termos de artes e ciências.

Para se Ter uma idéia do poder de gestão dos


romanos, lembramos que havia, no auge do império
romano, setenta milhões de pessoas em seus
territórios! Roma possuía seguradoras, que faziam o
seguro de cargas transportadas ao longo de seus
territórios. Os romanos usavam as letras de câmbio,
para que não precisassem transportar valores durante
suas grandes jornadas. Havia leis para prevenir
congestionamentos dentro de Roma!

Roma estava cerca de seis mil quilômetros


distante da Judéia, esta ficava no extremo oriental do
império Romano! Isto deve explicar o porque de um
povo tão bem gerido, não ter documentos sobre Jesus.
Para eles, os Judeus eram um pequeno povo, bárbaro,
distante e que dava muito trabalho para administrar.

Dentro deste contexto, fica mais fácil


entendermos a postura de Roma diante de Jesus. A
administração local, exercida pelos Judeus, se sentia
ameaçada por Jesus, que apontava as distorções dos
que governavam, em relação às escrituras. Havia
muita preocupação com a forma e não com o
conteúdo. Havia a mediação de favores entre o povo e
Deus pelos sacerdotes, que viviam da venda de
oferendas para sacrifícios nos templos, que por eles
eram administrados. O governo local se mantinha no
poder com o endosso romano, usufruindo privilégios

55
para que controlasse o povo, não permitindo rebeliões.
Com relação aos romanos, havia a insatisfação em ter
de pagar os tributos a estes e de se submeter ao seu
domínio pagão. Por isto vemos nas passagens
evangélicas que os Judeus tentavam colocar Jesus
como um revolucionário, o que desagradaria aos
romanos. Os romanos não se envolviam com
problemas locais a não ser que isto se chocasse com os
interesses de Roma. Como os Judeus não queriam
sujar as mãos, trabalharam no sentido de caracterizar
que Jesus era prejudicial aos interesses romanos, até
porque já estava pondo o governo local em situações
desagradáveis. Estes como um favor aos governantes
locais, trataram de eliminar Jesus.

Por que o império romano faliu?

Novamente o orgulho e a prepotência humana,


fizeram uma grande conquista ruir. O povo romano,
no início era mobilizado por vínculos de cidadania,
honra, família. Tinham a vontade de conquistar outros
povos para poder levar a sua Paz, leis e governos para
todos, permanecendo como os dirigentes dos povos!
Ao longo de sua história, homens ambiciosos
começaram a lutar pelo poder. É assim que vemos
grandes generais mobilizando seus exércitos, uns
contra os outros, guerreando internamente, como
ocorrera como os gregos anteriormente. O senado
perdia sua força, pois aqueles que como os irmãos
Graco, se posicionavam contra os interesses dos
políticos poderosos, eram assassinados. Sendo assim

56
Roma perdeu grandes homens de valor, ficando a
mercê de homens ambiciosos, que não puderam
manter a união. No final Roma era invadida por
bárbaros e o povo nada fazia, pois preferia ser
dominado por estranhos a lutar por seus governantes
que os oprimiam. Poucos homens provocaram o fim
de um grande império, com a sua ambição desmedida,
sempre querendo mais. Um povo que do ponto de
vista espiritual poderia Ter unificado todos os povos
conquistados. Mais uma vez os eleitos se
corromperam ao longo de sua missão e por isto
pagariam em seus retornos à vida corpórea. A Lei
divina é justa.

A contribuição dos Judeus

Os Judeus como vimos estavam sob o jugo dos


romanos. O seu mérito era o de serem um povo com o
monoteísmo consolidado. Jesus encarna em um povo
que já possui a crença em um único Deus, sob o
domínio romano. Sendo assim ele pode revisar a
religião Judaica, agregando conceitos mais abstratos
de religiosidade. Valorizando as leis morais contidas
no velho testamento, que além delas possuía leis de
ordem civil. Mais uma vez na história, os Judeus
julgavam-se o povo eleito de Deus. Deus era o Deus
dos Judeus. Jesus faz uma verdadeira revolução,
mostrando que Deus é Deus de todos, inclusive
daqueles que os dominavam.

57
“Amai os vosso inimigos. Fazei ao próximo tudo o
que queres que te seja feito. Somos todos irmãos”...

Dizer isto em uma época onde imperava a


força, onde ter escravos era algo muito natural, onde o
direito de nascimento imperava, que coragem! Só um
espírito de grande evolução como Jesus poderia trazer
esta mensagem. Mas, antes o terreno tinha que estar
preparado. E assim foi, tanto no plano das idéias como
no plano material, como vimos acima.

58
Os comportamentos herdados do catolicismo

Durante 1500 anos o Ocidente foi dominado


pelo Catolicismo, que era a religião oficial.
Naturalmente um período tão grande de tempo fez
com que a visão Católica se enraizasse nas sociedades
ocidentais. Mesmo com o declínio de sua influência, é
natural que ainda haja resíduos, por vezes
imperceptíveis desta influencia, em todas as
sociedades atuais. Ainda gostamos de rituais, temos
uma visão negativa do dinheiro nas sociedades latinas,
queremos que os dirigentes religiosos interpretem os
enigmas e nos traduzam as respostas, bem como nos
dêem fórmulas simples para orientar a nossa conduta.

A relação com o dinheiro

Heis mais uma herança do comportamento


católico, que vê no dinheiro algo sujo, indigno por ser
mundano. O dinheiro é uma ferramenta e como tal não
é boa ou má em si. Cabe ao homem o uso devido dos
recursos colocados à sua disposição, promovendo o
maior bem possível, conforme os ensinamentos
evangélicos.

A relação com a política

O Catolicismo levou o homem a ter uma visão


negativa do corpo e em geral das coisas do mundo.

59
Por isto temos o hábito de ver a política como algo
totalmente desvinculado da religião, pois trata
diretamente de assuntos deste mundo, de ordem
prática. Por vezes estas atividades têm de ceder a
acordos que atendam a interesses escusos, e isto
atribui à política um ar de atividade suja, fazendo com
que os crentes dela se afastem. Mas devemos lembrar
que o homem é, segundo Aristóteles, um animal
político. Vivemos em sociedade e a política é uma
atividade básica da vida em sociedade. Como o
dinheiro, a política é um meio e não é boa ou má em
si, como tudo é o seu uso que produzirá o bem ou o
mal.

A maneira de estudar

Continuamos engolindo sem reflexão as


“verdades” mastigadas pelos nossos mestres. Em vez
de buscarmos o conhecimento pela leitura e reflexão,
além das aulas expositivas, ficamos decorando
resumos e fórmulas. Deixando de desenvolver as
capacidades de pesquisa, leitura e síntese, as quais nos
tornariam cada vez mais autônomos.

Privilegia-se a formação tecnológica em


detrimento da formação humanista. Portanto
perdemos o senso crítico, que não é estimulado nas
escolas.

E, por tabela, levamos esta postura para dentro


do Centro Espírita. Elegemos os instrutores,

60
palestrantes e dirigentes, como sendo nossos
professores, colocando-nos como alunos diante deles,
e não nos atrevendo a questioná-los.

As obras de Kardec são as bases de uma


filosofia ampla que une religião e ciência, as
sociedades e seus problemas mudaram desde a época
de Kardec, as ciências progrediram, portanto, cabe a
nós estudiosos da doutrina, a constante leitura destas
obras para irmos crescendo em seu entendimento,
através das conquistas que o tempo nos franqueou.
Devemos sempre nos perguntar: como aplicar os
conhecimentos morais adquiridos da Doutrina Espírita
na sociedade em que vivemos? Ou ainda: como
ampliar as conquistas da ciência através dos
conhecimentos adquiridos na Doutrina Espírita?

Nós temos muito com que contribuir para a


nossa sociedade, desde que não sejamos indivíduos
passivos, sempre ouvindo e nunca contribuindo. Para
tanto, temos que acabar com os vícios adquiridos em
uma educação formal precária, que foi implementada
ao longo de décadas de ditadura militar, que levaram a
nos acomodar como meros espectadores e não como
agentes de mudança.

Temos muito que ler e refletir, para


recuperarmos aquilo que nos foi tirado da nossa
formação escolar. Hoje é comum vermos as pessoas
rejeitarem oportunidades de ler e aprender, como se
isto fosse um castigo e não uma forma de libertação
do espírito! O sistema capitalista, no qual vivemos,

61
necessita de uma massa de consumidores
extremamente dócil e não de mentes que pensam.
Cabe a nós nos libertarmos da massificação através da
busca de conhecimento.

Saber ler é uma conquista, ter a liberdade de ler


é uma maravilha que desperdiçamos, pois fomos
educados para sermos preguiçosos sentados diante da
televisão, recebendo estímulos ao consumo e a
comportamentos questionáveis do ponto de vista
cristão.

A história se repete, vejam como os Romanos


dominavam o povo na fase decadente do seu império,
promovendo o chamado “pão e circo”. Podemos
compara-los, na atualidade, ao lazer proporcionado
pela TV e por várias modalidades de esportes
violentos, e às ações sociais que nunca promovem a
independência das classes menos favorecidas
financeiramente.

Liberdade não se dá, ela é conquistada! E o


estudo, o verdadeiro estudo, aquele que busca o
conhecer e não apenas o diploma, é um dos caminhos
que possibilitam a conquista da liberdade.

62
A Prática Espírita

O Centro Espírita Kardecista é um local de


reunião para estudos e prática da Doutrina Espírita.

Os estudos focam principalmente a obra escrita


por Kardec, também chamada codificação ou obras
básicas: O livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, O
Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno,
A Gênese.
Outros livros espíritas são também estudados
por grupos avançados que já dominam o
conhecimento das obras básicas.

A prática da Doutrina ocorre em dois tipos


distintos de reunião: sessões públicas e sessões
fechadas.

Sessões públicas
 Leitura e discussão do Evangelho
 passes
 palestras
Reuniões públicas onde são tratados temas da
problemática humana sob a ótica do espiritismo
e do Evangelho de Jesus.
 Atendimento fraterno
São entrevistas que buscam o entendimento dos
problemas, encaminhamento e
acompanhamento do assistido dentro da casa
espírita.

63
 Evangelização infantil
Destinado à iniciação evangélica de crianças.
 Mocidade Espírita
É o grupo de jovens da casa espírita. Destina-se
à convivência de jovens, para o estudo e
entendimento da doutrina espírita, sem a
prática mediúnica; e também para a realização
de eventos que tratem da problemática do
jovem à luz da doutrina Espírita.

Sessões fechadas
 Reunião de diretoria
Onde são tratados da condução do Centro
espírita enquanto sociedade civil bem como da
organização dos trabalhos.
 Trabalhos de Desobssessão
Voltados para o esclarecimento dos espíritos
desencarnados que ainda permanecem ligados
às situações de encarnações passadas,
prejudicando a sua evolução e a dos
encarnados envolvidos.
 Desenvolvimento mediúnico
Reunião destinada a identificação de aptidões
mediúnicas e seu desenvolvimento prático.
 Acompanhamento mediúnico
Consiste na avaliação dos mentores para
indicar ações dos grupos de trabalho que
permitam que os assistidos pelo Atendimento
Fraterno possam, por seus méritos e esforço,
libertar-se de problemas e comportamentos que
prejudiquem a sua evolução.

64
Vale a pena ressaltar, que um dos mais
importantes trabalhos realizados no Centro Espírita, é
o esclarecimento e encaminhamento de Espíritos já
desencarnados e que continuam acreditando que estão
vivos. Quando encarnados tinham crenças que não
admitiam a continuidade imediata da vida consciente
após a morte. Os católicos e evangélicos que se
apresentam nas comunicações alegam que deveriam
estar dormindo, aguardando o dia do juízo final!
Recomendamos, para elucidar a situação de
continuidade da vida, sem a percepção do desencarne,
que se assista ao filme “Os outros”, estrelado por
Nicole Kidman. A situação é muito parecida com a
que verificamos em nossa prática mediúnica.

65
O papel do Centro Espírita

Dar oportunidade ao indivíduo de ter contato


com a doutrina espírita e de aprofundar o
conhecimento desta, através da freqüência ao Centro
Espirita, seja assistindo palestras ou participando em
grupos de estudo ou de trabalho.

Estimular a leitura e discussão do evangelho no


lar de seus freqüentadores e colaboradores. Para que
se impregne o ambiente doméstico com as mensagens
de Jesus, criando um clima saudável para a
convivência familiar. Este hábito, que deve ocorrer no
mínimo uma vez por semana, possibilita a melhoria
dos elementos da família, esclarece aqueles espíritos
que por ventura se façam presentes, possibilita a
reflexão do grupo em relação ao temas selecionados,
que não por acaso sempre se relacionam com os
problemas encontrados no cotidiano. Esta prática
permite a manutenção das melhorias promovidas pela
freqüência à casa espírita e sedimenta a Fé dentro da
célula básica da sociedade, que é a família.

Estimular a leitura e estudo das obras básicas,


com prioridade sobre os romances. Desmistificar a
pseudocomplexidade da obra de Kardec, mostrando
que ela é uma obra prima da didática, que foi escrita
por um dos maiores pedagogos que o mundo
conheceu. Esclarecendo que o problema está na nossa
falta de costume em ler, estamos habituados à

66
televisão que nos dá tudo mastigado, porém sem
conteúdo.

Desestimular a leitura de romances ditos


espíritas, que nada acrescentam ao conhecimento
doutrinário, objetivando apenas interesses comerciais.
Não censurando ou combatendo, pois isto seria uma
forma de propaganda para estes livros. Mas antes
educando. Mostrando que podemos ler de tudo, até
porque é muito bom compararmos, e colocarmos
assim nosso senso crítico em ação. Mas para tanto,
precisamos Ter antes o conhecimento da doutrina. O
romance é bom para o chamamento para a doutrina
espírita, dizem alguns. Concordamos, e acrescentamos
que consideramos já chamados àqueles que nos
ouvem na casa espírita. E se os eles não lêem,
devemos estimula-los a começar pelo romance?
Acredito que isto é uma forma de torna-los arredios
aos textos mais consistentes no futuro. Que o romance
seja lido para consolidar conhecimentos já adquiridos,
que poderemos ver em ação no relato de histórias que
nos contam das aquisições evolutivas do ser. Podemos
então recomendar que após as leituras das obras
básicas se leia romances como Há dois mil anos,
Cinqüenta anos depois, Paulo e Estevão e Ave Cristo.
Obras de fundo histórico, onde vemos a evolução do
cristianismo, o que nos afeta diretamente. Onde
podemos ver também as conseqüências dos atos se
refletindo em posteriores encarnações, ou seja, são
romances que acrescentam muito aos nossos estudos
doutrinários.

67
Garantir que não haja dependência do
indivíduo, seja material, moral ou espiritual, em
relação ao Centro Espírita. Buscando fazer com que
tenha consciência de que é um espírito em evolução e
tem a liberdade de escolhas, que seu caminho
evolutivo é rico em possibilidades, e que cada
indivíduo é responsável por seu destino, sendo que as
escolhas feitas de maneira consciente irão trazer
resultados positivos à sua evolução, mesmo que elas
pareçam erradas ou indevidas na visão dos outros.
Não devemos ter medo de errar, pois isto nos limita,
porém, devemos estar conscientes das escolhas feitas.
Quando erramos temos uma grande oportunidade de
aprender, é aí que validamos nossos critérios de
decisão.

A doutrina espírita, devidamente estudada e


compreendida, fornece o conhecimento necessário
para que nos posicionemos diante das coisas.
Possibilita que tenhamos critérios seguros para
direcionarmos a nossa existência terrena, a qual
passamos a ver como um curto espaço de tempo,
destinado a colocarmos em prática aquilo que já
adquirimos de bom e onde poderemos, através dos
relacionamentos e oportunidades de trabalho e estudo,
adquirir novos conhecimentos. Resgatando
compromissos de existências passadas e nos
preparando para um futuro em planos mais elevados
de consciência. Melhorando o mundo em que
vivemos, pelo nosso esforço pessoal, servindo de
exemplo para aqueles com quem convivemos.

68
A casa espírita deve promover este
entendimento aos seus freqüentadores e
principalmente aos seus colaboradores.

Conhece-se a árvore pelos seus frutos. Que se


analise a mudança de comportamento e postura dos
freqüentadores do Centro Espírita para que se avalie a
qualidade dos trabalhos nele realizados. Muito pode
ser dito, mas, o que vale é se aquilo que se disse foi
ouvido e incorporado ao cotidiano dos indivíduos.
Lembrando que a liberdade do indivíduo é soberana.
O Centro Espírita não deve dizer o que fazer, mas sim,
dar a oportunidade da reflexão com base no
conhecimento do Espiritismo, que nos posiciona
dentro de um contexto evolutivo.

69
O movimento Espírita

A união de todos os centros espíritas e o


posicionamento dos espíritas diante dos problemas da
vida nos dá o movimento espírita. Este não para no
tempo, evolui acompanhando as conquistas humanas,
em todos os segmentos.

Seria perigoso para a Doutrina Espírita, se seus


integrantes se isolassem e a praticassem segundo o seu
entendimento e por vezes incorporando práticas
estranhas. Por isto as casas espíritas procuram se filiar
a entidades unificadoras que apoiam e norteiam a
pratica espirita dentro dos Centros afiliados.
Entidades como a Federação Espírita Brasileira
(FEB), ou como a União das Sociedades Espíritas
(USE), promovem e mantêm a fidelidade doutrinária,
ou seja, buscam garantir que os ensinamentos, obtidos
nas obras da codificação, sejam colocados em prática
sem distorções.

A título de esclarecimento devemos dizer que


Espiritismo é diferente de espiritualismo.
Espiritualismo é tudo aquilo que não é materialismo,
portanto quem crê em algo além da matéria é
considerado espiritualista. Espírita é um indivíduo que
acredita nos ensinamentos deixados pelos espíritos
através da obra de Kardec e em todas as suas
conseqüências. É todo aquele que acredita no
Espiritismo, que é um termo criado por Kardec para
designar a doutrina contida nas obras da codificação.

70
Portanto é errado dizer Centro Espírita de Umbanda,
pois a Umbanda não é Espiritismo. Kardec criou
alguns termos para que não houvesse confusão com
outras práticas. Não queremos dizer com isto, que
temos algo contra a Umbanda ou qualquer outra seita
ou religião, que tenha em sua prática a comunicação
com os espíritos. Cada um é livre para buscar a sua
religiosidade onde se sinta atendido em seus anseios.
Existem várias crenças, cabe a cada um, usando o seu
livre arbítrio, buscar aquela que lhe promova o
autoconhecimento e a paz interior. Ao longo do
tempo, como o uso da palavra Espírita ficou
generalizado, passamos a identificar a casa espírita
com o adjetivo Kardecista, tornando-se comum a
denominação Centro Espírita Kardecista.

Kardec, sabiamente recomendou que seria


preferível que tivéssemos muitos centros espíritas
pequenos, em vez de poucos grandes. Assim seria
mais difícil acabar com o movimento espírita. E é
assim que temos o Espiritismo consolidado em nosso
país.

As casas verdadeiramente espíritas desejam ser


e permanecer fiéis aos ensinamentos contidos nas
obras da codificação. Para tanto buscam afiliar-se às
entidades de Unificação, garantindo que seus
dirigentes tenham uma linha de conduta a ser seguida,
bem como parâmetros para validar as ações da casa
espírita que dirigem. A participação de membros de
sua diretoria nas entidades unificadoras possibilita a
atualização em relação a todo o movimento espírita,

71
em nosso país e no mundo, bem como o
posicionamento diante das conquistas da ciência
humana.

Procure saber se sua casa espírita é filiada a um


órgão de unificação e se participa ativamente. Isto lhe
dará maior segurança de que ela busca ser fiel aos
ensinamentos doutrinários. Porém a maior garantia de
que uma casa espírita continuara a sê-lo é o seu
conhecimento doutrinário e a sua participação ativa
nos trabalhos nela desenvolvidos. Buscando corrigir
desvios, respeitando a liberdade do próximo, com
amor e sabedoria. Também os órgãos de unificação
buscam não interferir nas decisões da diretoria da casa
espírita, realizando a sua missão através de cursos,
seminários, apostilas, livros e reuniões periódicas.

Muitos centros espíritas justificam que tem


problemas demais para deslocar um de seus diretores
para participar das reuniões dos órgãos de unificação.
É dever do presidente, ou do vice-presidente,
representar a casa espírita no movimento espírita. Se
estes elementos não dispõem de tempo, por longos
períodos, é sinal de que eles estão envolvidos em
excesso com os trabalhos do centro e além de tudo se
isolando, o que trará conseqüências negativas no
futuro.

Existem, a meu ver, dois sérios problemas no


Centro Espírita. Um deles é o isolamento em relação
aos órgãos de unificação, que promove sérias
distorções, ou no mínimo, erros que já foram

72
vivenciados e corrigidos por companheiros do
movimento. O outro é o pouco valor que se dá ao
Grupo de Jovens, que na maioria das vezes existe, mas
não é integrado aos trabalhos da casa. Isto faz com
que ao invés de promover o interesse do jovem pelo
Centro espírita, façamos com que ele se afaste,
buscando grupos que o integrem, muitas vezes em
atividades destrutivas. A diretoria do Centro
Espírita deve se fazer presente tanto nos órgãos de
unificação, como nas atividades do Grupo de
Jovens.

73
Desafios para o Espiritismo

Gostaria de citar o nosso saudoso Herculano


Pires, com o intuito de mostrar o valor de uma revisão
urgente dos métodos de ensino, sob a ótica do
Espiritismo.

“Educar, entretanto, não é apenas lecionar,


ensinar nas escolas. A educação abrange todos os
setores das atividades humanas e todas as idades e
condições do homem. (...) A educação espírita deve
ser feita em todos os sentidos, através da palavra e
do exemplo, numa luta incessante contra o egoísmo e
em favor da caridade.
Nos capítulos sobre a lei de igualdade e a lei
de justiça, amor e caridade, Kardec e os Espíritos
apontam os rumos dessa batalha pela transformação
do mundo. O próprio Espiritismo é um gigantesco
esforço de educação do mundo, para que a
humanidade regenerada de amanhã possa substituir
o quanto antes a humanidade expiatória de hoje.
Mas é necessário que os espíritas se eduquem no
conhecimento e na prática da doutrina, para que
possam educar o mundo nos princípios de
renovação, que receberam d o Consolador.”3
(J. Herculano Pires, in O ESPÍRITO E O TEMPO)

Um outro grande desafio é atingir um ponto de


equilíbrio entre o que seria a necessidade material
para vivermos encarnados em um mundo material. Em
3
Grifo nosso.

74
uma sociedade de consumo, como a que vivemos, é
necessário trabalhar esta questão, dando subsídios
para que as pessoas possam reavaliar suas vidas, com
parâmetros menos artificiais do que aqueles com os
quais elas são bombardeadas pela mídia. Este é um
ponto crítico, pois todo o contexto está apoiado nos
paradigmas do consumo, portanto é fácil ficar
marginalizado ao não segui-los. O não alinhamento ao
esperado pela sociedade provocará problemas dentro
do próprio lar, pois não conseguiremos atingir todos
os seus componentes ao mesmo tempo.

É papel do Centro Espírita preparar os


indivíduos para novas formas de convivência social,
não pautadas nos atuais “valores”, mas sim em valores
perenes. O difícil é promover a transição entre estes
conceitos de valor. Mas muito já foi dito e escrito ao
longo de nossa história, onde sempre fomos
confrontados com mudanças de paradigmas. Estas
mudanças, no passado, foram provocadas pela força, é
nossa missão provoca-las pela educação.

Muitas casas espíritas passam por dificuldades


financeiras, porque têm vergonha de envolver seus
freqüentadores nas questões de ordem material. Não
podemos esquecer que precisamos pagar as contas, de
água, luz, impostos e outras, todos os meses. É lógico
que deve ficar claro que não é necessário pagar para
ser atendido, mas também não podemos negar, aos
nossos freqüentadores, a oportunidade de contribuir
financeiramente na manutenção da casa. Estes devem
ter livre acesso aos dados da contabilidade do Centro

75
Espírita, possibilitando que possam auxiliar na
manutenção do mesmo. Lembrando que tudo tem sua
hora e local adequados, não devemos tratar de
assuntos financeiros em trabalhos mediúnicos ou nos
momentos em que o público não tenha o mínimo de
conhecimento sobre a casa e seus colaboradores.

76
Metas do Espiritismo

No livro Obras Póstumas, são citados os


seguintes objetivos da Doutrina Espírita, seguidas por
nossos comentários.

 Reformar a legislação contrária à Lei Divina


Combatendo a pena de morte, a discriminação
e a injustiça
 Retificar os erros da história
Devemos aprender com os erros cometidos na
história humana, corrigindo-os à luz da
Doutrina Espírita
 Restaurar a religião do Cristo
O cristianismo foi distorcido ao longo do
tempo, por interesses temporais. Foi necessário,
na visão dos que o dirigiram, se aliar com o
poder político vigente. Cabe a nós espíritas,
resgatar os valores básicos ensinados por Jesus.
 Instituir a religião natural
Eliminar os dogmas da Fé, substituindo-os pela
razão. Mostrando que não há intermediários
entre o homem e Deus. Retirando assim todo o
artificialismo introduzido na religião cristã pela
prática Católica.
 Extinguir o Ateísmo e o Materialismo

Através da Fé raciocinada, trazer para a crença


aqueles que dela se afastaram pela não
aceitação dos dogmas impostos pelas religiões.

77
A Reforma Espírita

A história nos mostra a dinâmica da evolução


humana no tempo. Este processo se parece com o
movimento de um pêndulo, as coisas vão e voltam ao
longo do tempo. Inúmeras vezes a humanidade passou
por períodos que ora denotam desenvolvimento ora
caracterizam-se por estagnação. Note que como no
movimento do pêndulo o ponto máximo de uma
posição é imediatamente seguido de um caminhar
para o lado oposto, ganhando força para mover-se no
sentido contrário. Após o ponto neutro, eqüidistante
entre as duas posições extremas, caminha-se para o
extremo oposto ao anterior, porém já iniciando uma
perda de impulso que ocasionará a parada ao atingir o
próximo extremo, e após a parada tudo ocorre
novamente em sentido ao extremo oposto.

Em outros termos estamos falando da nossa


percepção fragmentada do mundo. Sempre
comparamos as coisas sem atentar para o processo
principal, aquele que está ocorrendo ao longo de todo
o tempo, composto por variações que contribuem para
a sua concretização.

O ser humano experimenta o mundo através


dos contrastes, assim, quente é o oposto de frio,
positivo é oposto de negativo... Transportamos esta
experiência de conhecimento das coisas exteriores
para as coisas interiores, ou seja: sentimentos, moral,
ética, dever, etc...

78
O que queremos dizer com isto é que o
processo principal, mostrado pela doutrina espírita é o
desenvolvimento espiritual do ser, que para atingir a
perfeição necessita adquirir o domínio sobre si,
possibilitando que o exterior não o afete. Mas isto só é
adquirido através da experimentação física e psíquica
que ocorre ao longo da vida desde o seu principio
elementar até as manifestações intelectuais que ora
vivenciamos e que terão continuidade em níveis e
formas que ainda nem podemos conceber, dado que
nossas estruturas de conhecimento ainda funcionam
por contrastes do tipo: começo e fim. Com estruturas
deste tipo não podemos compreender coisas como:
Deus, infinito, eterno, etc.

O espiritismo nos mostra que somos seres


atualmente encarnados numa forma humana, que já
passamos por fases anteriores a esta na escala da
evolução, bem como existem formas superiores a
serem alcançadas após termos esgotado nossas
possibilidades de aprendizado atual. Tudo ocorrendo
de forma natural, sem milagres, sem privilégios
especiais. Todos somos iguais perante a Lei maior,
que é imutável por ser a expressão da máxima
sabedoria divina.

Assim nos deparamos com as causas e efeitos,


que tão bem entendemos em termos científicos, pois
se há um movimento ele é conseqüência de uma força,
como por exemplo, a gravidade que faz com que
caiamos em direção à terra. Da mesma forma as leis
de causa e efeito são mostradas pela doutrina espírita

79
em referência às coisas abstratas do ser. Se não
amamos sofremos as conseqüências de não amar. Se
causarmos dor, sofreremos também por causa de algo
ou alguém, aprendendo que todos sentimos
igualmente, sem distinção. Só que estas coisas são de
difícil leitura no cotidiano, pois é muito fácil saber
que dói quando pomos a mão no fogo, mas não
percebemos que os nossos insucessos e sofrimentos
são decorrência de nossas ações no relacionamento
como o todo!

A reforma espírita constitui-se na nova


tentativa de resgatar o Cristianismo deixado por Jesus,
o que o Protestantismo não conseguiu, pois não pôde
eliminar rituais como o batismo e elegeu, em lugar da
adoração aos santos da igreja, a adoração da bíblia,
isso se deve à impossibilidade de promover uma
quebra definitiva com as práticas de séculos, portanto,
essas foram substituídas. Manteve-se a estrutura
hierárquica, onde o pastor substitui o padre na
condução do rebanho! Onde os sábios detêm o
conhecimento da palavra e ajudam os crentes a
entende-la. Mais grave foi que na tentativa de acabar
com o luxo do clero, apenas deslocaram a busca por
conforto material de alguns para todos, pois para os
protestantes é um grande mérito se conquistar bens
terrenos através do trabalho. As classes de
comerciantes, que se viam oprimidas pela igreja que
condenava o ganho lucrativo no comércio, adotaram
de bom grado esta nova posição do protestantismo que
a eles agradava. Surgiram grandes potências como os
Estados Unidos da América, movidos por grandes

80
empreendedores protestantes. O pior é que antes se
lutava contra as posições e práticas da igreja Católica,
porém a cisão ocasionada pelo Protestantismo teve
conseqüências indesejáveis e não previstas, pois o
Protestantismo já nasceu dividido em várias correntes
contrárias ao catolicismo e com diferentes graus
tendendo ao extremo oposto. Com isto foram criadas
várias religiões no Ocidente que até então era
unificado pela religião católica.

O Espiritismo é uma nova tentativa de unificar


a humanidade sob uma única religião, aquela deixada
pelo Cristo: a Religião Natural, onde o homem se liga
com Deus e vê todos como seus irmãos de jornada em
direção ao Pai.

Outra reforma trazida pelo Espiritismo foi a


ampliação dos ensinos de Jesus, que na sua época não
podia revelar, como disse em passagens narradas nos
evangelhos, conhecimentos sobre a vida espiritual,
dado que não havia bases científicas que ao tempo do
surgimento do Espiritismo já haviam sido concebidas.
Percebemos aí o processo contínuo em ação, dando
condições para que as pessoas ao longo do tempo
acumulem conhecimento e adquiram condições para
avançar para outros níveis de aprendizado.
Lembrando que as pessoas que viviam ao tempo de
Jesus, continuaram reencarnado sobre a terra,
podendo vivenciar estas novas existências em
melhores condições, que foram alcançadas pelos seus
próprios esforços em existências anteriores e pelo
envio de espíritos avançados, que chamamos de

81
gênios, para promover a evolução em todos os ramos
do conhecimento humano. Basta lembrarmos da
Renascença, período que assinalou o fim da Idade
Média, tivemos encarnados entre nós os maiores
gênios da humanidade, como: Michelangelo,
Leonardo Davinci, Botticelli, Rafael, Ticiano, Erasmo,
Montaigne, More, Cervantes, Shakespeare,
Maquiavel, Lutero, Kepler, Galileu, Newton, Bacon,
Descartes, Hobes, Locke e tantos outros espíritos
anônimos que plantaram com seu trabalho e
perseverança as bases para uma sociedade mais justa.
Aplicando-se a doutrina espírita na leitura da história,
poderemos perceber como há um objetivo maior que
vai sendo buscado ao longo do tempo, onde grupos de
espíritos mais evoluídos vêm se encarnar junto aos
povos para impulsionar o progresso da sociedade
terrena. Leia sobre estes homens citados acima e
analise por você mesmo o quanto eles estavam à frente
de seu tempo, você vai perceber que eles fazem parte
daquela dinâmica do pêndulo descrita anteriormente.
Eles por vezes não foram entendidos em sua época,
mas vieram dar impulso para que o extremo oposto
fosse atingido! Além disto, invariavelmente lutaram
contra adversidades de ordem material e moral, porém
dado o seu preparo para a tarefa não sucumbiram e
deixaram seu legado para que outros tivessem sucesso
em implementar as mudanças requeridas para que
alcançássemos o atual estágio de evolução.

Sempre lembrando que não importa se estamos


falando das conquistas do ocidente, pois todos
podemos reencarnar, conforme nossas necessidades,

82
tanto no ocidente como no oriente, a fim de
vivenciarmos a evolução sociocultural alcançada por
essas culturas.

83
Grandes nomes do Espiritismo

Para cumprirmos com nosso objetivo, de tornar


mais e melhor conhecido o Espiritismo, não
poderíamos deixar de incluir neste trabalho, a
biografia de personagens que consolidaram o
Espiritismo no Brasil.

Fica aqui registrada a nossa eterna gratidão a


estes que se deram em sacrifício para que pudéssemos
exercitar a nossa Fé livremente. A eles devemos o
respeito, admiração, e a nossa contribuição no
movimento espírita, para torná-lo cada vez mais
atuante em nossa sociedade terrena, impregnando-a
com os ensinamentos de Jesus.

Deixamos de citar muitos nomes, o que


lamentamos, mas procuramos focar naqueles que
consideramos que superaram grandes barreiras
propostas pela sociedade de suas épocas, que
conseguiram transpo-las e se superaram como
homens, como familiares, como cidadãos e como
cristãos espíritas que foram. Deixando para nós, além
do exemplo, uma grande obra que deve ser apreciada,
respeitada e continuada, por nós espíritas.

Não citamos o nosso saudoso irmão Chico


Xavier, dado que o mesmo possui vasto material a seu
respeito. Focando-nos naqueles personagens que
consideramos pouco conhecidos pelos espíritas
iniciantes e pelos simpatizantes da Doutrina Espírita.

84
Bezerra de Menezes

Adolpho Bezerra de Menezes, é considerado o


Apóstolo brasileiro do Espiritismo e o Médico dos
pobres. Nasceu em 29 de agosto de 1831, em Riacho
do Sangue - hoje Jaguaretama - no Ceará. Aluno
inteligente, desde cedo ensinava latim na escola em
que estudava. Em 1851 muda-se para o Rio de
Janeiro, que na época sediava a corte do império, para
estudar medicina. Ali, passando por privações,
também deu aulas particulares para prover suas
despesas. Aos 25 anos, formou-se médico.

Atendia em um consultório que não teve


sucesso, porém tinha vários pacientes em sua casa,
pois ali atendia gratuitamente. Entrou para a carreira
militar, ocupando o cargo de cirurgião-tenente. Teve
destaque na Academia Nacional de Medicina.

Ingressou na carreira política, também se


destacando entre seus pares, como líder do partido
Liberal e presidente da Câmara Municipal. Foi
deputado e também teve seu nome cogitado para o
Senado.

Ao ganhar um exemplar de O Livro dos


Espíritos, sentiu que já conhecia o assunto nele
tratado. Daí em diante, ficaria demonstrada a sua
competência em tratar dos assuntos de interesse da
Doutrina, sendo seu grande defensor.

85
Participou da Federação Espírita Brasileira,
desde sua fundação, sendo também seu presidente.
Trabalhou arduamente pela unificação dos espíritas no
Brasil.

Foi um homem possuidor de grandes


qualidades morais, tendo como exemplo de vida o seu
pai, homem honesto e bondoso que comprometeu sua
fortuna ajudando parentes e amigos.

Também Bezerra, teve uma vida onde se doou


amplamente ao próximo, morrendo a mingua de
recursos. A sociedade da época mobilizou-se para
amparar sua família, quando da sua morte, numa
tentativa de retribuir o muito que havia recebido deste
grande espírito.

Desencarnou no Rio de Janeiro, em 11 de abril


de 1900, deixando a todos e principalmente aos
espíritas, exemplos de uma vida pautada nos mais
altos valores morais.

Bezerra é um marco na história do Espiritismo,


tendo contribuído para mante-lo vivo e fiel às suas
origens, seja atuando na imprensa, na direção do
movimento Espírita ou na sua unificação.

86
Caírbar Schutel

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, a 22 de


setembro de 1868. Aos nove anos de idade, ficou
órfão do pai, e logo a seguir da sua mãe. Ficando
assim sob a tutela de seu avô, com quem ficou por
pouco tempo, tendo em vista que desejava trabalhar o
mais cedo possível.

Aos 17 anos já era considerado um profissional


respeitável como prático farmacêutico. Nesta época
deixa o Rio de Janeiro, mudando-se para o interior de
São Paulo. Inicialmente mora em Piracicaba, depois
em Araraquara e em seguida em Matão.

Enveredou-se na política, lutando para que o


lugarejo onde morava, Matão, chegasse a Município.
Quando isso ocorreu, Caírbar foi eleito como o seu
primeiro prefeito.

Quando Caírbar tornou-se espírita, deixou a


política de lado para dedicar-se ao Espiritismo.

Em 15 de Julho de 1904, fundou o primeiro


núcleo espírita da região, chamado “Centro Espírita
Amantes da Pobreza”.

Nessa época havia muita intolerância religiosa


da parte do Catolicismo para com os adeptos do
Espiritismo. Um padre local e o delegado da cidade,
promoveram campanhas, contra Caírbar, para dete-lo

87
em seus projetos, o que não conseguiram, dada a
grande capacidade de luta que encontraram em
Caírbar. Em sua atuação como farmacêutico, ele
auxiliou seus concidadãos, sempre pronto a socorrer
tanto as dores físicas como as espirituais.

Em 15 de Fevereiro de 1925, lançou a “Revista


Internacional de Espiritismo”, publicação de grande
importância para o movimento Espírita, que circula
até hoje!

Também fundou a editora “O Clarim” que


também existe até a presente data.

Foi pioneiro em programas espíritas pelo rádio,


inaugurando em 1936, uma série de palestras neste
meio de comunicação, que deram origem a um livro
contendo 206 páginas!

Desencarnou em São Paulo, em 30 de Janeiro


de 1938.

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Batuíra

Antônio Gonçalves da Silva nasceu em 19 de


março de 1839, em Portugal.

Assim que completou sua educação primaria,


aos onze anos de idade, mudou-se para o Brasil,
chegando ao Rio de Janeiro no ano de 1850.

Por ser um jovem muito ativo, seus vizinhos o


apelidaram de “BATUÍRA”, uma ave pernalta, ligeira,
que vivia nos charcos formados pelas enchentes do
Rio Tamanduateí, no Parque Dom Pedro II, na cidade
de São Paulo.

Participou ativamente do movimento contra a


escravidão, juntamente com nomes do calibre de José
do Patrocínio e Rui Barbosa.

Foi um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil,


entre outras atividades, fundou o “Grupo Espírita
Verdade e Luz”, dando inicio a explanações
evangélicas em abril de 1890.

Nessa mesma época, deixava de circular a


única publicação Espírita, o que o motivou a comprar
uma pequena gráfica para editar um quinzenário de
quatro páginas, denominado “Verdade e Luz”, que
logo se transformou em uma revista, a qual ele dirigiu
até seu desencarne. Esta revista atingiu a
impressionante marca de quinze mil exemplares,

89
ultrapassando em muito a tiragem dos jornais diários,
que era da ordem de três mil exemplares!

Batuíra casou-se duas vezes, tendo um filho no


primeiro casamento, que faleceu já adulto, e um filho
no segundo matrimônio, o qual faleceu aos doze anos
de idade. Em 1888, resolveu adotar uma criança
excepcional e paraplégica.

Foi uma figura muito popular e querida em São


Paulo, dedicando-se amplamente à causa Espírita e
aos necessitados, consumindo todos os seus bens
materiais para aliviar a dor física e espiritual dos que
lhe buscavam o auxílio.

Desencarnou em 22 de Janeiro de 1909.

90
Anália Franco

Nasceu em Rezende, no Rio de Janeiro, em 1


de Fevereiro de 1856.

Aos 16 anos tornou-se professora primária.


Diplomou-se como Normalista em São Paulo.

Após ser decretada a Lei do Ventre Livre,


muitos filhos de escravos foram deixados à própria
sorte pelos fazendeiros, que haviam perdido o direito
de propriedade sobre eles. Sendo assim, Anália se
transfere para o interior de São Paulo, a fim de
socorrer estes enjeitados pela sociedade.

Lutando contra os preconceitos da época e


usando metade do seu salário para pagar o aluguel de
uma casa, ela conseguiu montar um abrigo ao lado da
escola pública, onde acolhia todas as crianças que
para ali eram levadas. Não hesitou em pedir esmolas
para poder suprir as necessidades materiais, que
superavam os seus ganhos como professora, o que lhe
acarretou má fama na cidade.

Foi apoiada por grupos abolicionistas e deles


participou.

Ela era uma mulher arrojada que fundou várias


escolas destinadas à infância e à juventude de sua
época. Escreveu e publicou vários materiais de apoio

91
para professoras que dariam continuidade às suas
obras.

Foi romancista, teatróloga, poetisa e escritora.

Sua obra consiste em 71 escolas, 2 albergues, 1


colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para
órfãos, 1 banda musical feminina, 1 orquestra, 1 grupo
dramático, além de oficinas de manufatura espalhadas
por 24 cidades do estado de São Paulo.

Desencarnou em 13 de Janeiro de 1919, no


estado de São Paulo.

Anália Franco teve uma atuação exemplar em


uma época de grandes dificuldades para os recém
libertos da escravidão. É, sem dúvida, um exemplo de
educadora e espírita, que deve ser seguido em nossos
dias, pois enfrentamos problemas sociais que com
certeza seriam bastante minimizados com a mesma
abordagem usada por Anália Franco em sua época.

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O poder da Fé

Caros leitores, vivemos em um mundo em


constante mudança, isto é necessário, pois Deus criou
a lei do progresso que vigora em toda parte. Hoje com
certeza temos muito mais opções que aqueles que
viveram em épocas anteriores. Basta que meditemos
sobre a situação de um escravo ou serviçal na época
de Roma ou mesmo no período feudal. As pessoas não
tinham mobilidade social, ou seja, iriam viver toda a
sua vida e morrer na mesma posição em que
nasceram. Isto para eles deveria ser tão claro e fora de
discussão que não gerava a angustia que
experimentamos hoje quando temos que fazer
escolhas que irão permitir, ou impedir, que tenhamos
acesso a uma melhor posição social ou ganhos
financeiros, bens e luxo. Basta lembrar que um
cidadão destes tempos remotos não tinha culpa pela
situação precária em que vivia, ao contrário do que
pensamos atualmente, pois tanto a sociedade como
nós próprios, julgamos que o indivíduo tem a
possibilidade de melhorar de vida materialmente e
cabe a ele se esforçar para conseguir. Portanto há uma
angústia na hora das escolhas do que fazer ou não,
bem como um sentimento de culpa por aquilo que não
realizamos.

Mas em todos os tempos e hoje mais que


nunca, temos acesso a uma enorme gama de
conhecimentos acumulados, histórias vividas,
experiências realizadas... Cabe a nós acessar este

93
tesouro da humanidade e relê-lo com a nossa vivência
e bagagem espiritual de muitas outras encarnações. E
com nossos recursos pessoais avaliar e aprender sobre
esta jornada maravilhosa que é a jornada do espírito
em busca da evolução. Evolução que se constrói ao
longo de varias existências na prática daquilo que
assimilamos de conhecimento, sempre visando a
elevação em termos de domínio sobre nós mesmos e
das nossas capacidades divinas, herdadas de nosso
criador, latentes em nosso intimo.

Quero deixar aqui uma última mensagem,


estimulando-os à Fé, esta força imensa que sempre
acompanhou o ser humano na sua jornada evolutiva,
esta dadiva divina que opera maravilhas quando tudo
parece perdido. Mais que nunca podemos olhar para
trás e ver quanto esta força atuou em toda a nossa
história. Nos enganamos às vezes ao avaliar a sua
necessidade, pois quando conhecemos as coisas nos
parece que a Fé não se faz mais necessária. Mas não
podemos esquecer que há muito que desconhecemos e
quando nos sentimos sós diante das adversidades ou
dúvidas somente esta força maravilhosa pode nos
ajudar. Tenham Fé porque ela permeia todas as
grandes lições deixadas pelo nosso mestre maior e se
fez presente em todos os grandes impasses da história
humana.

Lembremos uma das mais belas passagens do


evangelho:

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Jesus estava entrando em Cafarnaum, quando um
oficial romano se aproximou dele, suplicando:
- Senhor, meu empregado está em casa, de cama,
sofrendo muito com uma paralisia.
Jesus respondeu:
- Eu vou curá-lo.
O oficial disse:
- Senhor, eu não sou digno de que entres em minha
casa. Dizei uma só palavra e meu empregado ficará
curado. Pois eu também obedeço a ordens e tenho
soldados sob minhas ordens. E digo a um: vá, e ele
vai; e digo a outro: venha, e ele vem; e digo ao meu
empregado: faça isso, e ele faz.
Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado, e disse aos
que o seguiam:
- Eu garanto a vocês: nunca encontrei uma fé igual a
essa em ninguém de Israel! Eu digo a vocês: muitos
virão do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa
no Reino do Céu junto com Abraão, Isaac e Jacó.
Enquanto os herdeiros do Reino serão jogados nas
trevas exteriores onde haverá choro e ranger de
dentes.
Então Jesus disse ao oficial
- Vá, e seja feito conforme você acreditou.
E nessa mesma hora o empregado do oficial ficou
curado. (Mateus, cap. VIII, vv. 5 a 13)

Paz em Jesus

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Bibliografia

KARDEC, ALLAN. O livro dos espíritos. 119. Ed. São Paulo:


IDE, 1998.

___. O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo: IDE.

___. A Gênese. 1. Ed. São Paulo: LAKE, 1979.

___. O Céu e o Inferno. 1. Ed. São Paulo: LAKE, 1999.

___. O Livro dos Médiuns. 23. Ed. São Paulo: IDE, 1992.

___. Obras Póstumas. 11. Ed. São Paulo: LAKE, 1995.

REALE, GIOVANNI; ANTISERI, DARIO. História da


filosofia: Antigüidade e Idade Média. 5. Ed. São Paulo:
PAULUS, 1990.

PERRY, MARVIN. Civilização Ocidental: Uma história


concisa. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. 5. Ed.


Rio de Janeiro: EDIOURO, 2001.

DURAN, Will. A História da Filosofia. Coleção Os Pensadores.


São Paulo: Nova Cultural.

PIRES, J. HERCULANO. O espírito e o tempo: introdução


antropológica ao espiritismo. 6. Ed. Sobradinho, DF: EDICEL,
1991.

__. Revisão do cristianismo. 4. Ed. São Paulo: PAIDÉIA, 1996.

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