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RESUMO — Este artigo tem por objetivo analisar como a modalidade epistêmica constitui uma estratégia
textual-discursiva em artigos científicos, levando em consideração seus modos de expressão e os possíveis
efeitos de sentido comunicativos. Sendo assim, optamos por uma abordagem teórica que integra os níveis
sintáticos, semânticos e pragmáticos, o Funcionalismo. Para a análise desta categoria, constituímos um
corpus de amostras textuais pertencentes a artigos científicos da área de Humanidades, totalizando,
aproximadamente, 22500 palavras.
INTRODUÇÃO
∗
O corpus foi constituído durante o período de vigência da bolsa de iniciação científica, concedida pelo
CNPq ao projeto “Processos de Constituição dos Enunciados”. Os resultados relativos à pesquisa foram
apresentados, sob forma de apresentação oral, no XXIII Encontro de Iniciação Científica, promovido pela
UFC, em 2004.
∗ ∗
Mestre em Lingüística pela Universidade Federal do Ceará. Graduada em Letras - Português/ Espanhol
pela Universidade Federal do Ceará. Este trabalho teve o apoio financeiro do CNPq. Atualmente, sou
professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Ceará. E-mail:
nadjapp@yahoo.com.br.
1
Para Désirée Motta-Roth (org.), a expressão “artigos científicos” pode ser substituída por “artigos
acadêmicos” ou vice-versa.
363
A. Dos objetivos
Este artigo tem como objetivos primordiais:
- Analisar, sob o enfoque funcionalista, a modalidade epistêmica como estratégia
textual-discursiva no gênero artigos científicos.
- Observar e descrever os possíveis efeitos de sentido produzidos pelo uso dos
modalizadores epistêmicos, que contribuem para dar credibilidade ao escritor e
persuadir o leitor.
- Divulgar o Grupo de Estudos em Funcionalismo (GEF), coordenado pela
professora Dra. Márcia Teixeira Nogueira, na Universidade Federal do Ceará
(UFC).
vistas como unidades comunicativas que veiculam informações, ao mesmo tempo, que
estabelecem ligação com a situação de fala e com o próprio texto lingüístico”, ou seja, o
enunciado é, a um só tempo, mensagem e evento de interação.
A partir desse ponto de vista, Hengeveld (1988;1989) e Dik (1989) propuseram
uma representação da estrutura frasal em camadas, que correspondem aos níveis
representacional e interpessoal, como podemos observa no quadro 1:
2
Este quadro adaptado do texto Uma análise funcional da modalidade epistêmica, de Marize Mattos
DALL’AGLIO-HATTNHER.
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informação, que, por isso, não pode ser questionada; e evidencial (inferencial, citativa
ou experiencial), na qual o falante, dependendo da sua intenção comunicativa, pode ou
não indicar a fonte de informação, como forma de (des)comprometer-se com relação a
mensagem que ele veicula.
Quanto aos meios de expressão, a modalidade, em língua portuguesa, pode por
expressa por verbos, sejam os auxiliares modais (poder, dever), sejam os de
significação plena, como indicadores de opinião, crença e etc (achar, parecer, saber...),
que formam os predicados encaixadores; por advérbios (“provavelmente”,
“possivelmente”, “certamente”, “obrigatoriamente”...); por adjetivos que atuem como
predicativo, tais como “é possível”, “é preciso”, “é necessário”, etc; e por substantivos
(certeza, convicção, possibilidade, obrigação, dever...). Podendo, ainda, ser expressa por
meios prosódicos e algumas categorias gramaticais do verbo, tais como aspecto, tempo,
modo e etc (NEVES, 1996).
3. METODOLOGIA
Obj.
Epistê mica
Citativa 20%
33%
Subj. Epist.
Infere ncia l 27%
Boulomaic
19% a
1%
3
Terminologia usada por Hengeveld (1988;1989).
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como um dos meios através dos quais relações e funções da estrutura subjacente
podem ser formalmente expressas. (DELTA-ga/GEF)
Uma outra modalidade também bastante recorrente, e que tem como escopo a
proposição, é a modalidade epistemológica subjetiva epistêmica (S), na qual o falante é
tido como fonte da informação veiculada na proposição, ao mesmo tempo, que faz um
julgamento sobre essa informação, como em (2):
60
40 O (operador)
A (pred. enc.adjetival)
20
N (pred. enc. nominal)
0 V (pred. enc. verbal)
D E S B I C X Total T (satélite)
Tipos de modalidade
são utilizados no nível da predicação, também foram bastante freqüentes, como o verbo
“poder”, indicando possibilidade epistêmica.
(3) A pergunta que fiz, menos do que apontar para qualquer intenção "oculta",
poderia ser recolocada nos seguintes termos: na perspectiva de polemizar,
seguindo minha leitura e interpretação dos objetivos desse seminário, a discussão
deve centrar-se não nos aspectos que nos unem, mas naquilo que, talvez, possa
nos separar. (cedes1843-ga/GEF)
b)A avaliação epistêmica da realidade de um EC pode ser expressa por meios lexicais,
chamados de predicados encaixadores, como em (5):
(8) Para Adorno, "as pessoas aceitam com maior ou menor resistência aquilo que
a existência dominante apresenta à sua vista e ainda por cima lhes inculca à força,
como se aquilo que existe precisasse existir dessa forma" (idem, p. 178). (PCT:
cedes2154-ga/GEF)
(9) Efetivamente, não há como ou por que negar as mudanças na realidade que se
apresenta como "nova". Trata-se de uma realidade tão complexa que deve ser
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(11) Forçados que somos a admitir que quadros teóricos alternativos produzem
análises alternativas, muitas vezes incompatíveis, temos consciência de que, por
qualquer critério de avaliação, a validade de qualquer interpretação é fato
indiscutível, se for coerente com os pressupostos que a norteiam. (PSN: DELTA-
ga/GEF)
Descomprometimento comprometimento
(3ª. Pessoa) (1ª. Pessoa/plural) (1ª. Pessoa/singular)
100
80
Predicação
60
Proposição
40
Total
20
0
Certeza Não-certeza Possível Impossível Total
(12) Fala-se muito em crise mas, afinal, não se diz de que crise se fala, o que ela
implica, quais os possíveis desdobramentos. Sem dúvida, uma crise está posta, sobre a
qual não tenho qualquer dúvida: uma crise sem precedentes da sociedade capitalista, da
realidade social. (cedes1843-ga/GEF)
5. CONCLUSÕES
Tendo como base enunciados efetivos da língua em uso, tentamos mostrar como
a categoria modalidade epistêmica serve como uma estratégia textual-discursiva em
artigos científicos.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_____. Modality. In: Semantics. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1977,
p.787- 849.
NEVES, Maria Helena de Moura. A modalidade. In: KOCH, I.G.V. (org.). Gramática do
português falado. Vol. VI: desenvolvimentos. Campinas: Editora da UNICAMP - FAPESP,
1996, p. 163-199.
Abstract — The present paper aims to analyze how the epistemic modality constitute a discursive strategy
in scientific papers, looking upon your way of expression and the possible communicative purpose effects
that contribute for to give credibility the writer and to persuade the reader. Thus we choose a theoretical
approach that integrates the syntactic, semantic and pragmatic levels, the Functionalism. To analyzer this
category, we make use to the corpus of scientific papers in area of Humanity, approximately adding up
22500 words.