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Direitos Fundamentais

1. Noções básicas da teoria da norma

1.1 Enunciados normativos e normas

A norma é uma representação mental, que não tem existência ontológica.


É necessário um elemento externo para exibir ideias normativas: a linguagem. A
norma é o resultado da descodificação do enunciado normativo. Nós
interpretamos textos normativos e o que se aplica é o significado das palavras que
estão no enunciado normativo.

Enunciado da norma = texto normativo com discurso prescritivo/modo de


expressão das normas, que pode ser linguístico, gestual, gráfico. Os enunciados
normativos escritos são atos de fala redigidos pelas entidades normativas que,
regra geral, correspondem a textos organizados de acordo com padrões
estabelecidos nos ordenamentos jurídicos, emitidos nos atos normativos que
estes preveem); VS

Norma = descobre-se dentro do texto, isto é, trata-se do conteúdo do


enunciado. A norma é um sentido de dever ser de âmbito genérico, portanto, é
um conteúdo que não reflete o respetivo objeto, na medida em que determina o
estatuto deôntico do mesmo, espelhando a distinção entre ser e dever ser. A
norma tem sempre a propriedade da generalidade; VS

Proposição normativa= trata-se apenas de uma afirmação sobre o Direito.

1.2 Propriedade das Normas

A norma é a unidade do direito, na medida em que é o referencial dum


ordenamento jurídico. Emite um sentido de “dever ser”. São gerais, o que significa
que estão em causa os conteúdos jurídicos incidentes sobre uma pluralidade
indeterminável de destinatários (≠abstração – caraterística de um conteúdo
jurídico ser indeterminado quanto à sua repetição aplicativa). Os conteúdos
jurídicos concretos, se simultaneamente gerais, são também qualificados como
normas.

Outra propriedade é a condicionalidade, na medida de que os efeitos


previstos estão sempre dependentes da verificação de condições.

A terceira propriedade é a derrotabilidade, significa isto que o


preenchimento dos seus pressupostos não significa necessariamente a sua
aplicação, isto é, o seu preenchimento não significa necessariamente que seja a
norma reguladora do caso. Implica que todas as normas sejam aplicáveis apenas
prima facie. A aplicabilidade de uma norma fica condicionada ao apuramento de
outras normas eventualmente aplicáveis, que entram em conflito, o que leva a
que uma seja aplicável e a outra não. A aplicabilidade definitiva só ocorre após a
resolução do conflito. A derrotabilidade é refutativa ou amputativa, consoante a
norma prevaleça sempre num conflito, nomeadamente por efeito de norma
terceira, ou apenas prevaleça caso seja considerada mais forte, por efeito de
ponderação. Existem diferentes graus de derrotabilidade: quanto à intensidade
(elevado, se são sempre derrotadas, médio, se há um equilíbrio e mínimo, se
raramente são derrotadas) e quanto à certeza (é certeza na refutativa e na
amputativa é genericamente incerteza, mas certa quanto a específicos segmentos
do seu conteúdo).

1.3 Estrutura da norma: elementos materiais

As normas de direitos fundamentais têm uma estrutura tripartida:


previsão, operador deôntico e estatuição.

- Previsão: todas as normas têm previsão, apesar de nem sempre ser


explícita. A previsão é o elemento da estrutura normativa que compreende as
condições das quais depende o acionamento da condicionalidade da norma,
sendo composta por uma hipótese sujeita a verificação. Os seus pressupostos
podem ser conjuntivos, disjuntivos ou mistos. Assim, contém pressupostos que
condicionam cumulativamente a verificação do efeito, podendo ser positivos ou
negativos. Dizem respeito a ações de sujeitos jurídicos ou a estados de coisas;

-O operador deôntico: indica o sentido ordinatório específico da norma,


compreendendo uma permissão, imposição ou proibição;

-Estatuição: trata do elemento da norma que estabelece os efeitos


praticados pela condicionalidade normativa, sendo composta pela definição da
ação que a aplicação da norma provoca. Os seus efeitos também se podem
ordenar de forma conjuntiva, disjuntiva ou mista;

- Tarefa do intérprete: descobrir analiticamente o conteúdo da estatuição,


operador deôntico e previsão. A interpretação é a operação pela qual se
descodificam os significados dos símbolos utilizados na expressão das normas.

• O operador deôntico indica o sentido ordinatório específico da norma,


imposição ou proibição.
• Estatuição trata do elemento da norma que estabelece os efeitos
praticados pel
1.4 Estrutura da norma: elementos subjetivos

Por outro lado, também


existem campos
subjetivos (subjective
fields): áreas em que
Também existem campos subjetivos: áreas em que a norma identifica os
destinatários a que se aplica, uma vez que emitem comandos de dever ser, a
previsão e a estatuição convocam sujeitos a quem esta se aplica, direta ou
indiretamente.
Assim, os sujeitos diretos, os destinatários diretos da norma (campo
subjetivo que está diretamente associado com os efeitos que estão na estatuição
e, por isso, delimita o universo a que a consequência se aplica diretamente), e os
destinatários indiretos da estatuição (todos os sujeitos que ficam na posição legal
inversa, isto é, todos aqueles que estão no outro lado da relação tripartida
configurada pela própria consequência).
Universos de campos subjetivos: todos (delimitados todos os sujeitos, sem
distinção). Alguns (este universo é determinado com base numa categoria, o que
não implica que a norma não seja geral. A única diferença face ao primeiro
universo é que inclui uma afirmação que limita a universalidade dos sujeitos) e um
sujeito (apenas existe um sujeito que, no caso dos direitos fundamentais, é quase
sempre o Estado).
A existência de universos com sujeitos indeterminados, como universos
de todos ou alguns, levanta o problema de saber se os sujeitos se referem
conjuntivamente ou disjuntivamente. Em geral, são sujeitos disjuntivos. Se esta
última afirmação é verdade, então é fácil de compreender que por vezes as
normas entrem em conflitos consigo próprias. Como neste caso não existem
normas terceiras, os conflitos serão resolvidos através da ponderação.
De acordo com a posição adotada por David Duarte, os campos subjetivos
de certas normas de direitos fundamentais só podem ser definidos em termos
normativos e, por isso, devem ser definidos com base na interpretação de
enunciados normativos e através de normas terceiras.
• De acordo com a posição adotada por David Duarte, os campos subjetivos de
certas normas de direitos fundamentais só podem ser definidos em termos
normativos e, por isso, devem ser definidos com base na interpretação de
enunciados normativos e através de normas terceiras.

1.5 Análise da linguagem e conteúdo das normas

Os enunciados normativos conduzem, por vezes, a incertezas linguísticas,


isto é, geram alternativas de significado, que podem dizer respeito a significados
de palavras- incertezas linguísticas ou da frase, no caso de serem incertezas
semânticas. A determinação da norma passa ela escolha vinculada dessas
alternativas, com base na satisfação das normas de princípio que lhe subjazem.
Feita a operação chega-se à configuração da norma, quanto ao seu conteúdo e
elementos.

Uma questão que se coloca no âmbito das incertezas linguísticas prende-


se com a individuação da norma, isto é, a determinação da completude de uma
norma, e assim alcançar um grau de unidade. É feita por via da organização
normativa dos significados, que visa a recondução dos significados normativos aos
respetivos elementos, quer no que diz respeito ao conteúdo, quer no que diz
respeito aos sujeitos.

Após a análise linguística do enunciado e da configuração da norma, há


novamente uma representação para efeitos comunicativos (representação
linguística).
1.6 Classificações de normas

As normas são primárias ou secundárias no sentido Hartiano, se tiverem


por objeto uma realidade empírica, e por isso regulam condutas, ou, no caso das
secundárias, se incidem sobre outras normas, e que por isso se reportam ao
próprio ordenamento jurídico.
As normas podem ser proibitivas, impositivas e permissivas de acordo
com o operador deôntico.
Dependendo do nível formal em que a norma se encontra na pirâmide
hierárquica as normas são superiores e inferiores, em relação com a outra. Assim,
depende do ato normativo em que insere, bem como o valor formal que o
ordenamento jurídico atribui a esse ato normativo.
As normas são ainda gerais ou especiais, também numa perspetiva
relacional entre normas, consoante uma delas preencha ou não os requisitos de
especialidade (pressupostos comuns + pressupostos acrescidos, o que delimita o
âmbito; incompatibilidade dos efeitos). Sem o segundo requisito estaríamos
perante uma mera especialidade declarativa. É diferente ainda da relação de
excecionalidade - casos em que o operador deôntico muda e a estatuição se
mantém ou é alterada, desde que também seja incompatível neste caso.
As normas exequíveis são aquelas cujas qualificações da ação prevista na
estatuição pode ser realizada pelos sujeitos diretos, sem depender de uma outra
norma e normas inexequíveis, são aquelas que pelo contrário, são aquelas em que
a ação só pode ser realizada através de uma norma terceira que, por exemplo,
crie as condições das quais depende a ação.
Existem, ainda as normas regulativas e normas constitutivas. As primeiras
regulam as condutas (que já existem, independentemente da norma). As
segundas, permitem a prática de atos que a norma entende enquanto tal (atos
institucionais), têm uma estrutura hipotética (se A então B) e se for revogada, o
ato deixa de existir/ ser possível de prática.
Normas naturais ou institucionais: as naturais existem no mundo empírico
independentemente da norma; as institucionais existem apenas pela existência da
norma constitutiva (se ela for revogada deixa de existir).

1.7 Regras e princípios

Uma distinção relevante em sede do estudo de Direitos Fundamentais visa


distinguir entre as normas de regra e de princípio. A questão é controvertida,
sendo que existem diversos critérios diferenciadores.

Havendo a teoria da distinção fraca se baseada num fator quantitativo e


de grau, ou forte, se disser respeito ao caráter substantivo, e assim assentar num
critério qualitativo.

O critério tradicional defendido por Alexy diz respeito ao grau de


indeterminação da norma, e, por conseguinte, a aplicação dos princípios levaria a
um sentido regulatório condicionado pela aplicação de outras normas, sendo por
isso concretizáveis na medida do possível, sendo imperativos de otimização,
aplicando-se apenas prima facie. Existindo em oposição aos princípios as regras,
numa lógica de tudo ou nada, isto é, uma vez verificada a sua previsão devia-se
aplicar.
O professor DD entende que o critério é o da regulação variável, na
sequência da escola de Kiel. Assim, os princípios geram uma regulação variável,
enquanto que as regras têm uma regulação fixa. Significa isto que os princípios se
aplicam de forma gradual, podendo abarcar mais ou menos realidades, consoante
a limitação perante outras normas. O fator da derrotabilidade é assim irrelevante,
pois todas as normas são possíveis de ser derrotadas em ponderação.

A diferenciação tem de estar patente na estrutura da norma. E está! Na


previsão. Enquanto que nas regras o recorte de realidade está nitidamente
recortado, quer se trate de uma ação humana ou de um estado de coisas, o
mesmo não sucede nos princípios. Há um conjunto ilimitado de pressupostos, só
definidos no caso concreto. Nos princípios está contido um pressuposto implícito
do tipo all-situations-of-any-kind. Ora a ideia de derrotabilidade como critério de
distinção parte desta característica: as previsões são tão amplas que facilmente
entram em conflito.

2. Normas de Direitos Fundamentais

2.1 Noção, propriedades constitutivas do conjunto

As normas de Direitos
Fundamenais, atribuem
Direitos Fundamentos. A
norma
As normas de Dtos Fundamentais caraterizam-se da mesma forma que
todas as demais. Assim, para haver um critério que as distinga recorre-se a uma
metodologia de estratégia analítica: verificar assim as propriedades que
constituem o conjunto.
A primeira propriedade é ser uma norma primária, no sentido a que se
aludiu anteriormente. Resumidamente, têm um sentido que ordena condutas. A
segunda propriedade é conferirem situações jurídicas ativas de vantagem para o
particular. O que se questiona no âmbito da correlatividade, isto é, ao conferirem
Direitos a determinados sujeitos, estão a atribuir deveres a outros, seria inegável
dizer que conferem simultaneamente posições jurídicas passivas. Não obstante,
não sendo a correlatividade um “dado adquirido” a propriedade mantem-se.
Certo é que atribuem aproveitamento de qualquer coisa.
A terceira propriedade é serem normas constitucionais: exige-se a
constitucionalidade do preceito que confere direitos, estando assim num nível
hierárquico superior em relação às demais. É necessário conciliar com as clausulas
de abertura, que estendem a constitucionalidade a outros direitos. Por último, são
normas formalmente consagradas enquanto normas de DF: significa isto que não
é qualquer norma, mesmo constitucional, que confere uma posição jurídica ativa.
Têm de estar enquadradas numa categoria formal de Dtos Fundamentais.

Todas estas caraterísticas deixam bem patente a posição do prof. DD:


espelham um critério estritamente formal de Dtos Fundamentais, contrapondo-se
com o critério material (fazem apelo a um aspeto identitário). A definição formal
tem algumas vantagens, designadamente ser válida para qualquer ordenamento
jurídico, sendo mais questionável na procura pelo elemento unitário, que é para
todos os efeitos variável. Por outro lado, é filosoficamente neutra e de natureza
mais técnica.

Argumentos contra o conceito material:

i) A dependência da autoridade normativa, que condiciona o


conteúdo dos dtos, podendo levar à existência de direitos
absurdos, que formalmente se encontre no capítulo de
Dtos Fundamentais.
ii) Verifica-se ainda a falência dos critérios materiais. Por ex.:
o prof. Vieira de Andrade baseia o seu conceito material
na DPH e com a sua proteção. O mesmo serve para Jorge
Miranda. Procurando estabelecer critérios, havia sempre
demonstrações de que estão incorretas.
iii) A norma geral de liberdade consagrada na nossa CRP; esta
norma permissiva leva a situações ridículas de permissão,
permitindo a habilitação constitucional a fazer tudo. Esta
situação elimina um critério material na medida em que o
torna demasiado poroso, e não faz sentido.

2.1 Normas de DF e posições jurídicas

Partindo da tradição anglo-saxónica com pouca expressão em Portugal,


procura-se alcançar posições jurídicas irredutíveis, isto é, de conceber posições
jurídicas atomísticas (indivisíveis).
A expressão direito é um conglomerado, inclui nele várias realidades
distintas. Compartimentando-a chegamos a unidades com características
próprias. Neste raciocínio é necessário ter em conta o axioma da correlatividade
de Hohfeld: a assunção de que qualquer posição legal tem de correlacionar,
enquanto um lado da relação legal, com uma posição legal de outra pessoa., isto
é, a ideia de que atribuir algo a alguém, implica necessariamente atribuir algo a
outra (direito de A, dever de B, p. ex.). É a designada composição triática da
norma: 2 sujeitos e 1 ação.
Chegamos assim à distinção entre Direitos a algo e Liberdades. No
primeiro caso: Direito que Y tem quando X está proibido ou obrigado a fazer, ou Y
aproveita o estado de coisas dada a imposição ou proibição de o poder fazer
(claim right), é uma situação oposta à permissão de uma situação jurídica da qual
X pode beneficiar (liberty).
Assim, a liberdade é uma posição jurídica que se reconduz
essencialmente à proibição da interferência no exercício do Direito. No entanto,
em qualquer sistema legal, muitas das liberdades legais são indiretamente
protegidas contra interferências, por um parâmetro de deveres legais. Por isso,
muitas vezes há pouco espaço para que as outras interfiram, dentro da lei, no
exercício das liberdades de outro.
As liberdades jurídicas não-protegidas, que são totalmente redutíveis a
permissões, podem ser definidas como uma conjugação de uma permissão
jurídica de se fazer algo e uma permissão jurídica de não o fazer. Essa conjugação
é designada de faculdade. As liberdades não-protegidas não implicam o direito de
não ser embaraçado no gozo dessas liberdades. Um tal direito é um direito a algo
e distingue-se fundamentalmente de uma combinação de permissões. Se esse
direito estiver presente, a liberdade não-protegida transforma-se em liberdade
protegida. As liberdades protegidas: a proteção constitucional da liberdade. É
constituída por direitos a algo e também por normas objetivas que garantem ao
titular do direito fundamental a possibilidade de realizar a ação permitida. Se uma
liberdade está associada a um tal direito e a uma norma, então é protegida.
Podem ser protegidas diretamente (protegidas exclusivamente por um direito
protetor) e protegidas indiretamente (protegidas por uma proteção
substancialmente equivalente).
No direito a algo, o direito não resulta de o sujeito direto realizar uma
ação, resulta antes da ação do sujeito indireto, beneficiando o primeiro desse
estado de coisas.
Há ainda outras variáveis na formulação do “dever ser” quer seja na
formulação to be que impõem a realização de um estado de coisas, e essa
realização é um direito a algo ainda que difuso. Obriga assim o Estado a fazer algo
(criar condições de vida, etc), diferente do To do: que se reporta ao dever de
realizar uma determinada ação (pagar pensões), aí já será um claim right.
Para DD a situação da correlatividade é especialmente problemática nas
liberdades, e determinar se o sujeito indireto tem ou não o dever de não
interferência, sendo esse o referencial que distingue.
3. Conflitos de Normas de DF
3.1. Pressupostos
Verifica-se um conflito normativo quando há: sobreposição das previsões
de duas normas e incompatibilidade de efeitos entre estas.
Quanto ao primeiro requisito, diz respeito à situação em que a mesma
situação da vida é regulada por duas normas. Poderá existir uma relação de
consunção (conflito total-parcial), existe uma relação de especialidade, a primeira
norma aplica-se a uma situação mais abrangente que a segunda. Uma relação de
intersecção: uma parte de cada uma das previsões cruza-se com a outra. Por
último uma relação de sobreposição (total-total), sendo o designado conflito da
norma consigo mesma, ambas as previsões estão sobrepostas na sua totalidade.
Quanto ao segundo requisito há que atender aos efeitos contraditórios,
atendendo aos operadores deônticos, e verificar a estatuição.
3.2. Conflitos resolúveis por normas de conflito
Por vezes a resolução de conflitos faz-se mediante a utilização de normas
de conflitos, isto é, normas que têm por objeto solucionar conflitos normativos.
Há diversos critérios: superioridade na posição hierárquica, a relação de
especialidade e de posterioridade.
Nos conflitos remanescentes, não existindo normas de conflitos de
segundo grau (resolvem conflitos entre as normas de conflitos de 1º grau) é
necessário recorrer à ponderação.
4. Ponderação de normas de DF
4.1. Operação de ponderação
A ponderação é a operação intelectual utilizada pelo juiz para resolver
conflitos normativos. Podem ter por base conflitos uninormativos, binormativos
ou plurinormativos. A ponderação é assim, a última chance de resolver um
conflito normativo.
Conceito de derrotabilidade tem importância aqui: as duas normas são
potencialmente aplicáveis, mas apenas uma será (defeater), em detrimento de
outra (a defeated). Se, como David Duarte, aceitarmos que todas as normas são
potencialmente derrotáveis, todas as normas conferem posições jurídicas prima
facie. Perdemos a ideiade segurança, porque nenhuma norma dá uma resposta
definitiva.
Quando se pondera, equaciona-se uma norma preterida e uma
prevalecente. Portanto, está subjacente uma relação de meio-fim. O princípio da
proporcionalidade é uma norma cuja previsão é em relação a qualquer meio-fim e
é sempre aplicável nestes casos.
Tem uma espécie de regime de ponderação, apesar de não ser uma
norma de conflitos tecnicamente, mas compreende o regime de resolução e
funciona como uma norma de conflitos materialmente.
Subprincípio da adequação: obriga a que o meio seja apropriado à
obtenção do fim.
Subprincípio da necessidade: impõe que a utilização do meio seja o
equivalente ao menos oneroso que, mesmo assim, possa obter o fim que se
pretende.
Subprincípio da proporcionalidade strictu sensu: efetivamente vai ser
sempre necessário afastar uma das normas, o que só é possível mediante
raciocínios que pesem os prós e contras de cada uma das decisões possíveis.
Relevam aqui as two laws of balancing de Alexy. A Lei substantiva da ponderação
exige que quanto maior for o grau de insatisfação de uma norma, maior terá de
ser o benefício da aplicação da outra – uma análise custo-benefício. Por outro
lado, a lei epistémica da ponderação relaciona-se com o conhecimento da
realidade: exige que os operadores jurídicos detenham determinada perceção dos
factos e do direito. Tendo em conta que o conhecimento da realidade muitas
vezes determina o resultado final, exige-se que quanto maior for o grau de
interferência de uma norma, maior se exige que seja o conhecimento acerca da
realidade que lhe subjaz, sob pena de ilegitimidade jurídica.
Em caso de a ponderação não levar a lado nenhum, estamos numa
espécie de grau 0 em que há excesso de normas e que não há regulação definitiva
da conduta em causa. São os hard cases, que não obstam à tomada racional e
fundamentada dos operadores, não obstante a enorme vulnerabilidade da
segurança jurídica. Para positivistas, está em causa uma situação de
discricionariedade judicial, em que o juiz está na posição que estaria o legislador
ordinário e utiliza considerações de moral, económicas, etc, como faria a
autoridade legislativa. Assim se vai criar um estatuto deôntico da ação dentro dos
disponíveis, com obrigação de justificação, de forma racional. São situações de
limite. A fundamentação de juízes será diferente, gerando insegurança.
Para haver maior certeza, só há um caminho para a ponderação: criação
de mecanismos racionais para a ponderação, transformando este juízo inevitável
com condições de racionalidade que permitam combater a incerteza.
4.2. Fórmula do Peso
A fórmula do peso surge precisamente como uma forma de racionalização
da ponderação, medindo diferentes variáveis em grandezas.
A primeira variável é o grau de interferência (1,2,4): isto é, saber qual é a
afetação do Direito, em caso de a norma ser preterida. A segunda variável é o
peso(1,2,4), que tem sido o motivo das criticas à formula, uma vez que parte do
pressuposto de que é possível atribuir a Direitos Fundamentais uma relevância ou
peso distinto, o que é altamente criticável do ponto de vista jurídico, pese embora
não sociológico. É ainda contraditória com aquilo que subjaz à ponderação. O
Prof. DD defende assim que se aplique o peso relacional, por oposição ao peso
abstrato. Ignora-se a questão do valor do respetivo direito em relação a todos os
outros e atende-se ao peso de cada um no confronto direto (critica: é igual à
afetação). A última variável é a fiabilidade das assunções empíricas, tal como a lei
epistémica baseia-se no conhecimento da realidade. É medido assim: Certo (1),
plausível (1/2), não evidentemente falso (1/4). Pelo facto de se usarem grandezas
distintas acaba por ter menor peso.
Para o Professor Miguel Raimundo só serve para nos lembrarmos dos
critérios, e no fim do dia não resolve nada.
E em caso de empate? Duas soluções se apresentam, ora a prevalência
dos direitos de Liberdade e de Igualdade, quer a prevalência do Princípio
Democrático. Surgiu ainda a fórmula do peso refiada, que subdivide a fiabilidade
das assunções em fiabilidade normativa e fiabilidade empírica.
4.3. Norma de ponderação
A norma de ponderação é a regra jurídica que resulta da ponderação.
Pode ser utilizada em casos posteriores, por exemplo, para não violar o Princípio
da Igualdade. Só se poderá dizer que é inconstitucional se for o resultado de uma
ponderação ilegítima.
5. Restrições a normas de DF
5.1. Restrição como categoria geral
Os direitos fundamentais não são absolutos nem ilimitados, em virtude da
sistemática conflitualidade a que estão sujeitos, mesmo numa conceção Liberal
não o eram, se bem que aí o limite era a necessidade de permitir o gozo dos
direitos dos outros. É um problema compatibilizar o caráter constitucional com
restrições infraconstitucionais, e aí releva a questão, por exemplo de saber se o
Direito foi restringido porque a CRP autorizou, ou porque ele não existia na
verdade. Este esforço de compatibilização entre normas tem vindo a ser
fundamentado de diferentes formas.
Em primeiro lugar, para a Teoria Externa: centrado na função de defesa
dos DF e direcionada para o controlo da legitimidade constitucional das
intervenções estatais restritivas. Nestes moldes, na teoria externa a restrição seria
dada por algo externo ao Direito, não havendo identidade entre o âmbito de
proteção (aquilo que está coberto pelo Direito) e o âmbito de garantia efetivo (o
que sobra depois de feita a restrição). Os limites das normas são assim dados por
outras normas. Pode haver diferentes variantes destas teorias, desde logo a
Teoria Ampla da Previsão, segundo a qual tudo o que eventualmente couber na
previsão não poderá ser descartado. Por outro lado, a Teoria Restrita da Previsão
demonstra que apesar de certos resultados poderem ser enquadráveis na
previsão, por serem absurdos não devem ser tidos em conta.
O Professor Reis Novais distingue ainda da Tese de Alexy, dos Princípios
como Direitos Fundamentais, e que seria a sua natureza de imperativos
otimização que justificaria a sua restrição.
Na Teoria Interna subjaz a ideia de que o Direito protege uma
determinada zona e que é necessário estabelecer as suas fronteiras. São
intrínsecos aos Direitos, isto é, é o próprio Direito que se auto-define. Esta Teoria
está ligada à Teoria dos Limites Imanentes, ainda que em termos moderados
defendida pelo Professor Vieira de Andrade, permite excluir conteúdos
constitucionalmente inadmissíveis, impedindo assim conflitos normativos
meramente aparentes, e ainda de acordo com a sua lição, salvaguarda do seu
núcleo essencial.
O Professor DD critica-a por falta de apoio na Teoria das normas, por
permitir a manipulação daquilo que é uma restrição ou não, e ainda pela
impossibilidade de fugir aos significados das palavras. Para o professor é
irrelevante, o que interessa é o que a norma diz, e a partir de aí trabalhar com os
instrumentos de resolução de conflitos, sendo uma discussão histórica vazia.
Restrição é um conceito com uma denotação – realidade abrangida pelas
palavras e uma intenção – propriedades que definem o objeto, trata-se de uma
limitação a uma situação jurídica pré-existente.

A primeira propriedade é
ser uma norma primária,
no sentido a que se
aludiu anteriormente. Resumidamente: têm um sentido que ordena conduta

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