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Tribunal de Justiça do Piauí

PJe - Processo Judicial Eletrônico

25/09/2020

Número: 0756429-70.2020.8.18.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: 3ª Câmara de Direito Público
Órgão julgador: Desembargador OLÍMPIO JOSÉ PASSOS GALVÃO
Última distribuição : 25/09/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0819574-68.2020.8.18.0140
Assuntos: Violação aos Princípios Administrativos, Revisão/Desconstituição de Ato Administrativo
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
FRANCISCO UBALDO NOGUEIRA (AGRAVANTE) ITALO FRANKLIN GALENO DE MELO (ADVOGADO)
CÂMARA MUNICIPAL DE NAZÁRIA - PI (AGRAVADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
23715 25/09/2020 13:32 Decisão Decisão
30
poder judiciário
tribunal de justiça do estado do piauí
GABINETE DO Desembargador OLÍMPIO JOSÉ PASSOS GALVÃO

PROCESSO Nº: 0756429-70.2020.8.18.0000


CLASSE: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202)
ASSUNTO(S): [Violação aos Princípios Administrativos, Revisão/Desconstituição de Ato Administrativo]
AGRAVANTE: FRANCISCO UBALDO NOGUEIRA

AGRAVADO: CÂMARA MUNICIPAL DE NAZÁRIA - PI

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO.


REPROVAÇÃO DE CONTAS. AUSÊNCIA DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL. EFEITO SUSPENSIVO DEFERIDO.

DECISÃO MONOCRÁTICA

I. RELATÓRIO
Trata-se de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto por FRANCISCO UBALDO NOGUEIRA,
contra decisão interlocutória proferida pelo d. juízo da 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública da
Comarca de Teresina – PI, nos autos da Ação Desconstitutiva de Ato Administrativo (Processo
n.° 0819574-68.2020.8.18.0140) que move em desfavor da CÂMARA MUNICIPAL DE NÁZARIA
– PI, ora agravado.
O juízo a quo indeferiu o pedido de tutela de urgência pleiteado consistente na suspensão dos
efeitos dos Decretos Legislativos nº 004, de 13 de junho de 2017 (referente ao ano de 2014) e nº
002, de 15 de maio de 2019 (referente ao ano de 2010 do Município de Nazária-PI e
afastar/suspender os efeitos das reprovações de contas dos anos de 2010 e 2014.
Sustenta a parte agravante que exerceu o cargo de prefeito do município de Nazária entre os
anos de 2009 a 2016 e, no julgamento das contas dos exercícios de 2010 e 2014, estas foram
rejeitadas pela casa legislativa. Alega que os procedimentos de reprovação das contas não
obedeceram o devido processo legal, uma vez que não oportunizaram o contraditório e os prazos
regimentais previstos.
Requer a concessão de efeito suspensivo ao recurso para suspender os efeitos dos Decretos
Legislativos nº 004, de 13 de junho de 2017 (referente ao ano de 2014) e nº 002, de 15 de maio
de 2019 (referente ao ano de 2010 do Município de Nazária-PI e afastar/suspender os efeitos das
reprovações de contas dos anos de 2010 e 2014.
Distribuído o presente recurso à relatoria do Des. Ricardo Gentil Eulálio Dantas, este declarou-se
suspeito para atuar no feito por motivo de foro íntimo, consoante decisão de ID 2367632.
Vieram-me os autos conclusos.
II. FUNDAMENTAÇÃO
1. Exame superficial de seguimento (art. 932, III e IV, CPC/2015).
Requisitos de admissibilidade recursal preenchidos e, não se encontrando o caso em apreço
inserido nas hipóteses do artigo 932, III e IV, do CPC, CONHEÇO do presente agravo de
instrumento.
2. Efeito suspensivo ao recurso (art. 1.019, I, CPC/2015).
O artigo 1.019, I, do Código de Processo Civil, autoriza o relator a atribuir efeito suspensivo ao
recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal.
Sobre a possibilidade de antecipação de tutela em sede de agravo de instrumento, leciona Daniel
Amorim Assumpção Neves (Manual de Direito Processual Civil, 2017, p. 1.677):

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“tratando-se de decisão de conteúdo negativo - ou seja, que indefere, rejeita,
não concede a tutela pretendida -, o pedido de efeito suspensivo será inútil,
simplesmente porque não existem efeitos a serem suspensos, considerando
que essa espécie de decisão simplesmente mantém o status quo ante. Com
a concessão da tutela de urgência nesse caso, o agravante pretende obter
liminarmente do relator exatamente aquilo que lhe foi negado no primeiro
grau de jurisdição”.
Tratando-se de tutela antecipada, para a sua concessão, deve o agravante demonstrar a
presença dos requisitos previstos no art. 300 do Código de Processo Civil, quais sejam,
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
Desse modo, passo à análise da possibilidade de concessão de tutela provisória na origem.
Cinge-se o presente caso acerca da legalidade dos processos legislativos que reprovaram as
contas do recorrente referente aos exercícios de 2010 e 2014.
Importa esclarecer que a competência para apreciar as contas prestadas pelo prefeito incumbe
ao poder legislativo municipal, ficando o poder judiciário restrito aos aspectos formais e
procedimentais do julgamento.
Nossa Carta Magna estabelece que ninguém pode ser privado de sua liberdade, seus direitos ou
seus bens sem a observância do devido processo legal.
Mesmo nos procedimentos administrativos, ou político-administrativos, como no caso dos autos,
deve ser observada a garantia constitucional do due process of law, devendo, para tanto, ser
observado o princípio do contraditório e da ampla defesa, bem como a devida instrução
probatória e o julgamento motivado.
No que diz respeito ao julgamento das contas do exercício do ano de 2010, observa-se que a
intimação do ex-gestor se deu de forma não pessoal, na medida em que o AR de intimação foi
assinado por pessoa diversa (ID 2342480 – pág. 77).
De igual modo, no procedimento de julgamento das contas do exercício de 2014, não houve
oportunização para que o agravante exercesse seu direito de defesa, ou comprovação de
notificação para comparecimento à sessão de julgamento das contas.
Desta forma, ausente a ciência inequívoca do recorrente para apresentar defesa, bem como para
a sessão de julgamento das contas (referente ao exercício de 2014), ao menos em análise
perfunctória, tenho que lhe foi tolhido seu direito de defesa, o que acarreta nulidade do processo.
Nesse sentido:
DIREITO ADMINISTRATIVO. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO QUE DESAPROVOU AS CONTAS DO MUNICÍPIO DE TAPIRA.
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA.
NULIDADE DA DECISÃO ADMINISTRATIVA POR CERCEAMENTO DE
DEFESA. a) Os Tribunais Superiores têm proclamado a ampliação do direito
de defesa, depois da Constituição Federal de 1988, abrangendo os
processos administrativos, não se resumindo a um simples direito de
manifestação no processo, mas o direito à tutela jurídica, assim entendido o
que não só contempla o direito de informação e de manifestação, mas o de
ter o administrado seus argumentos apreciados pelo Órgão julgador.b) Tanto
é assim que atualmente o TCE inseriu em seu Regimento Interno (Lei
Complementar nº 113/2005) a obrigatoriedade de se estabelecer o
contraditório e oportunizar-se a ampla defesa após a emissão de parecer
contrário, por suas unidades administrativas competentes, à aprovação das
contas prestadas. c) No caso, o Recorrido foi cientificado do processo
administrativo, por meio de ofício que o informou acerca da desaprovação
das contas do Poder Legislativo Municipal, sem, contudo, estipular qualquer
prazo para apresentação sua defesa, ou haver qualquer prova nos autos de
que o ofício tenha sido efetivamente recebido. d) Assim, não tendo sido
devidamente cientificado (citação pessoal) e comunicado do processo

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administrativo para apresentar defesa ou documentos, a decisão
administrativa incorreu em cerceamento de defesa, por violação aos
princípios da ampla defesa e contraditório, é de rigor a manutenção da
sentença, que reconheceu a nulidade do acórdão nº 3190/2001, do Tribunal
de Contas do Estado.2) APELAÇÃO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.SENTENÇA MANTIDA EM REEXAME NECESSÁRIO.
(TJPR - 5ª C.Cível - ACR - 1409029-0 - Curitiba - Rel.: Leonel Cunha -
Unânime - - J. 25.08.2015)
(TJ-PR - REEX: 14090290 PR 1409029-0 (Acórdão), Relator: Leonel Cunha,
Data de Julgamento: 25/08/2015, 5ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ:
1648 15/09/2015)
CONSTITUCIONAL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. AGENTE
POLÍTICO. DESAPROVAÇÃO DAS CONTAS DE GOVERNO PELA
CÂMARA MUNICIPAL. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DA
SESSÃO DE JULGAMENTO. OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL,
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. APELO CONHECIDO E PROVIDO.
SENTENÇA REFORMADA. 1.Comprovado/reconhecido que o autor sequer
foi notificado previamente das sessões da Câmara Municipal em que houve
o julgamento desfavorável de suas contas de governo, imperativo o
reconhecimento da ilegalidade do ato praticado pelo Legislativo Municipal,
por flagrante ofensa ao direito constitucional consagrado ao devido processo
legal, contraditório e ampla defesa. 2."O contraditório e a ampla defesa
devem ser compreendidos como a garantia conferida constitucionalmente
aos indivíduos em geral de ter ciência da instauração do feito, participar do
processo, produzir provas e influenciar o órgão julgador na formação do
juízo de mérito acerca do caso analisado." (STJ RMS 27440/AL Relator o
Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 08/09/2009, DJe
22/09/2009). 3.Apelo conhecido e provido. Sentença reformada. ACÓRDÃO
ACORDA a 3ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ, por uma de suas turmas julgadoras, à
unanimidade, em conhecer do recurso de apelação, para dar-lhe
provimento, nos termos do voto do relator, parte integrante deste. Fortaleza,
1º de julho de 2019.
(TJ-CE - APL: 00060177420048060000 CE 0006017-74.2004.8.06.0000,
Relator: ANTÔNIO ABELARDO BENEVIDES MORAES, Data de
Julgamento: 01/07/2019, 3ª Câmara Direito Público, Data de Publicação:
01/07/2019)
Destarte, tenho que há probabilidade de provimento do recurso, na medida em que foram
demonstrados vícios nos processos que ocasionaram a desaprovação das contas do agravante.
Outrossim, presente o perigo da demora e risco ao resultado útil do processo, diante da iminência
do término do prazo para registro das candidaturas junto a Justiça Eleitoral.
III. DECIDO
Com estes fundamentos, DEFIRO o pedido de tutela antecipada recursal para suspender os
efeitos dos Decretos Legislativos nº 004, de 13 de junho de 2017 e nº 002, de 15 de maio de
2019 do Município de Nazária-PI e, em consequência, suspender os efeitos das reprovações de
contas dos anos de 2010 e 2014.
Oficie-se o juízo a quo para ciência da decisão.
Intime-se o agravado para apresentar contrarrazões ao recurso no prazo de 15 (quinze) dias.
Decorrido o prazo, com ou sem apresentação de contrarrazões, encaminhem-se os autos ao
Ministério Público Superior para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.
Publique-se e cumpra-se.
Teresina-PI, data registrada no sistema.

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DESEMBARGADOR OLÍMPIO JOSÉ PASSOS GALVÃO
Relator

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