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Editorial da Semana: Marcelo Feltrin

Certamente há um lado positivo em nosso anseio por estar para sempre na presença de Deus,
seja pelo retorno de Jesus ou por nossa partida deste mundo. Paulo expressa isso em Fp 1.23:
“…desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor;”.

Contudo, principalmente à medida em que envelhecemos, este anseio pode ter um viés de fuga
da presente era e de seus problemas intrínsecos. Corremos o risco de desenvolver alguns
sentimentos pouco adequados, dentre eles:

Inutilidade: de que já estamos indo “ladeira abaixo”, que somos um estorvo para aqueles que
nos cercam

Culpa: quando bate aquela sensação de que poderíamos ter feito escolhas diferentes durante
nossa vida, um sentimento de insatisfação e de que colocamos tudo a perder.

Autopiedade: ninguém se importa comigo, se eu morrer não vão nem notar.

Medo: talvez seja a sensação mais comum, receio de ter condições de se sustentar com
dignidade, medo dos problemas de saúde, temor diante da incerteza da aposentadoria. E o
contexto atual do nosso País certamente ajuda a acentuar as cores deste sentimento
inquietante.

A Palavra de Deus, por sua vez, sempre contém uma orientação sobre a perspectiva correta da
vida. Um exemplo disso está no Salmo 90, em que o autor observa as vicissitudes da vida ante
ao poder e cuidado de Deus, concluindo com um pedido para que Ele nos ensine a “contar os
nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Repare que contam-se “dias” e
não anos ou décadas. É a visão de quem encara cada dia como um presente do Senhor e
decide vivê-lo com todo entusiasmo.

A Bíblia também traz um personagem que ilustra este princípio. Em Josué 14 temos a narrativa
sobre Calebe. Ele está com 85 anos e teve até ali uma vida trabalhosa, experimentou sua cota
de decepções, frustrações e ao atingir o crepúsculo de sua existência não havia nenhuma
cadeira de balanço à sua espera. A despeito disso, Calebe não está a lutar com seus temores
ou sentimentos de inutilidade ou autopiedade. Repare em Js 14.10,11 que a visão que tem de
si mesmo é de alguém forte, qualificado para a batalha, plenamente produtivo. Ele é tudo
menos uma pessoa que está “ladeira abaixo”.
Os olhos de Calebe ainda brilhavam quando contemplava o futuro. Note o texto de Js 14.12,13.
Ele teria motivos de sobra para dizer “já fiz a minha parte, agora é com vocês”. Mas ao invés
disso ele diz do alto de seu quase século de vida: “Está vendo aquele monte ali? Quero
conquistá-lo!”.

Calebe ilustra uma verdade: grandes realizações também são possíveis na velhice. Mas há
também uma segunda verdade que percebemos em sua vida. Nesse curto trecho, em 3 vezes
é dito que Calebe permaneceu fiel ao Senhor: versos 8, 9 e 14. E quase sempre que a Bíblia
faz menção a ele, segue-se uma referência à seu caráter aprovado: Nm 14.24; Nm 32.12, Dt
1.36. Fica claro também que não existe aposentadoria para a vida cristã.

Envelhecer não é uma opção. É um fato. O mesmo não podemos dizer da nossa atitude ante
ao envelhecimento. Em muitos aspectos somos nós mesmos que determinamos o como
envelheceremos. Que todos nós possamos encarar a realidade de que os anos passam não
como uma ameaça, mas como mais um desafio em nossa caminhada cristã, permanecendo
firmes com nossa esperança voltada para o Senhor.
[baseado no cap 8 de Firme Seus Valores, de Charles Swindoll – Ed Betânia]

Idoso, mas feliz!


http://estudosbiblicos.org/

A velhice é um dos períodos mais difíceis da vida. Além de uma maior vulnerabilidade às
doenças e de ter de depender mais de outras pessoas, muitos idosos sofrem com a solidão e
com o senso de inutilidade. Não são poucos os velhos abandonados num asilo por seus
próprios filhos. Hoje em dia existe uma conscientização social maior quanto aos que
alcançaram a terceira idade. Existem programas e projetos de atividades envolvendo idosos,
com o objetivo de vencer a solidão e a ociosidade. Mas por melhor que sejam, nem sempre
conseguem trazer alguma felicidade a quem já viveu muito.

A Bíblia nos traz vários exemplos de pessoas que chegaram a uma idade avançada e que
morreram felizes e realizadas. Uma delas é o patriarca Abraão. Lemos no livro de Gênesis
que Abraão “morreu em ditosa velhice, avançado em anos” (Gênesis 25.8). Uma velhice
“ditosa” quer dizer uma velhice feliz, satisfeita, venturosa, afortunada. Quando lemos o que
a Bíblia diz sobre a vida de Abraão fica fácil descobrir o segredo de sua felicidade. Há pelo
menos 3 coisas que contribuíram para ela:

1) Abraão foi um homem de FÉ toda a sua vida. Desde o dia em que Deus o chamou para
sair de sua terra e ir peregrinar em uma terra distante, Abraão aprendeu a confiar em Deus
e a depender das Suas promessas. Não é em vão que Abraão ficou conhecido como o pai da
fé e “amigo de Deus” (Tiago 2.23; Hebreus 11.8-19). Quando uma pessoa aprende cedo na
vida a confiar em Deus e a depender dele, terá melhores condições de enfrentar as
incertezas e sofrimentos da velhice, como Abraão.

2) Abraão foi um homem OBEDIENTE a Deus toda a sua vida. Fé e obediência andam juntas.
Abraão cria em Deus e portanto, obedeceu-o. A maior demonstração que deu disso foi
quando se dispôs a sacrificar seu próprio filho Isaque por determinação de Deus (Gênesis
22.1-14). Se aprendemos desde cedo na vida a obedecer a Deus incondicionalmente,
quando atingirmos a velhice teremos uma consciência tranqüila de que Deus, a quem
procuramos servir durante nossa vida, jamais nos desamparará.

3) Abraão ANDOU COM DEUS toda a sua vida. Através dos anos, ele desenvolveu um
relacionamento pessoal e significativo com Deus. Deus fazia parte integrante da sua vida.
Diariamente Abraão orava, falava com Deus, procurava ouvir e entender Sua vontade e
segui-la. Abraão compartilhava continuamente com Deus as alegrias e dificuldades. Basta ler
a história de sua vida para ver como isso é verdade. Não pensem que Abraão foi um
privilegiado que diariamente tinha uma visão onde Deus lhe aparecia e falava diretamente
com ele. As visões que Abraão teve foram poucas e muito espaçadas entre si, as vezes por
anos a fio. Abraão aprendeu a andar com Deus pela fé. Quando ficou velho, já havia andado
o suficiente com Deus para saber que o Senhor estava ali, ao seu lado. Que conforto
extraordinário nos momentos de solidão!

O Salmo 71 é a oração de um velho, pedindo a Deus que o socorresse e auxiliasse nos dias
de sua velhice. Não sabemos quem a escreveu, provavelmente foi o rei Davi. Nela, o autor
revela profundo conhecimento de Deus e certeza de que Ele haverá de atender a seu pedido.
Um dia todos seremos velhos. Passaremos pelo mesmo vale de lágrimas que muitos passam
nesse momento. Quem confiou em Deus e andou com Ele durante a sua vida poderá ter uma
ditosa velhice, frutífera e cheia de sentido. Comecemos hoje!

Autor: Augustus Nicodemus Lopes. Doutor em Novo Testamento, é professor de Exegese


do Sem. Presbit. José Manoel da Conceição, em São Paulo e Diretor do Centro Presbit. de
Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo

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