Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
-
E
llol.^NDA. Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: José olympio,
1 948.
I loLM ES, Stephen; susrAIN, cass R. The cost of Rights. New york: Norron,1999.
J^('ots, césar Augusto Alknin. A reserva do possível: obrigação de previsão orçamentá-
ria e de aplicação da verba - no prelo.
KRELL' Andreas. Discricionariedade administrativa, conceitos jurídicos indeterminados e
controle judicial. Revista Esmafe: Escola da Magistratura Federal da 5u Região, n. g,
de2.2004.
O CONTROLE JURISDICIONAT DE
LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito subjetivo e direitos sociais: o dilema do Judiciário PÚBLICAS1
no Estado social de direito. In: FARIA, José Eduardo (org.). Direitos humanos, direi,
tos sociais e justiça. São paulo: Malheiros, 1994.
MEDAUAR, Odete. Controle da Administração Pública. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 1993. Ada Pellegrini Grinover
Direito administrativo moderno. 3'. ed. são paulo: Revista dos Tribunais, Professora Titula¡ de Direito Processual da Universidade de São paulo.
2000.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. são paulo: Malheiros,
1989. Sumário: 1. Fundamento constitucional do controle. 2. A posição dos
MELLO' Celso Antonio Bandeira de. Discricionariedade tribunais brasileiros. 3. Pressuposto e limites à intervenção do Judici¿írio
e controle jurisdicional. 2. ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 1998. nas políticas públicas: a garantia do mínimo existencial. 4. Os limites:
MONTESQUIEU. De l'esprit des lois. paris: Garnier Frères, Libraires Éditeurs, 1g69. a razoabllidade. 5. Segue: a reserva do possível. 6. A observância do
pressuposto e dos limites como salvaguarda contra os excessos. 7. Sanções
PEREIRA, André Gonçalves. Erro e ilegalidade no acto administrativo. Lisboa: Ática,
para o descumprimento da ordem ou decisão judiciáLria. 8. A via processual
1962.
adequada para provocar o controle e a eventual intervenção do Judicirlrio
SILVA, VirgílioAfonso da. O Judiciário e as políticas públicas: entre transformação social e
em políticas públicas. 9. Conclusões.
obstáculo àrealização dos direitos sociais. In: NETo, cláudio pereira de Souza; sAR-
MENTO, Daniel. Direitos sociais: frmdamentação, judicialização e direitos sociais em
espécies. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
1. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAT DO CONTROTE
SUNDFELD, carlos Ari; CÂMARA, Jacintho Amrda. controle judicial dos atos admi-
Montesquieu condicionara a liberdade à separação entre as funções
nistrativos: as questões técnicas e os limites da tutela de urgência. 2002, p. 24. judicial, legislativa e executiva, criando a teoria da separação dos poderes2
VEDEL, Georges. Droit Administratif. paris: pUF, 1973.
e afirmando que a reunião de poderes permite o surgimento de leis tirâni-
woRLD HEALTH ORGANIZATION. Treatment works. Disponível em: htç://www.who.
int/3by5len/treatmentworks.pdf. Acesso em 14 de junho ãe 2010. cas, igualmente exequíveis de forma tirânica.3
Vale lembrar, com Dalmo Dallan,a que a teoria foi consagrada em
um momento histórico - o do liberalismo - em que se objetivava o enfra-
quecimento do Estado e a restrição de sua atuação na esfera da liberdade
;
f individual. Era o período da primeira geração de direitos fundamentais, ou
I
seja, das liberdades ditas negativas, em que o Estado só tinha o dever de
fl abster-se, paru que o cidadão fosse livre de fruir de sua liberdade. O mo-
b
it
Ì
ï 'J, Este trabalho constitui uma revisão e ampliação do artigo o controle de políticas
públicas pelo Poder Judiciário, publicado pela autora em O processo estudos e
-
pareceres.2. ed. São Paulo: DPJ Editora,2OO9.p.36/57.
2 MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Livro V, Cap. ll.
iI 3 MONTESQUIEU. Do espír¡to das leis. Livro Xt, Cap. V.
/
:. 4 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 26. ed. São paulo:
Saraiva,2OO7.
IEEI o ( orrror{'lurrsriicion¿r de poríticas púbricas Ada peregrini
I Grinovere Kar,¡-ffi re.:ocont,oI".l,risdicionaldePolíticasPúblicas|AdaPeltegriniG,ino,",j|
tlcl. tl. c.rrstitt¡cio'aiismo liberal preocupou-se, com excrusividade,
em No entanto, a Lei da Ação Popular abriu ao Judiciário brasileiro a
l)r'otcrcr o illclivíduo da ingerência do Estado.
apreciação do mérito do ato administrativo, ao menos nos casos dos arts.
Nu tcoria clássica da separação dos poderes,
o juiz era considerado 4o,Il, b, eY, b, da Lei n.4.7I7165, elevando a lesão à condição de causa
"ltt ltrttc'he de lq loi".Isto já representava
um notávei avanço, pois erimi_ de nulidade do ato, sem necessidade do requisito da ilegalidade. E José
rìir'a o arbítrio, sujeitando o jurz ao império da
abstrata proveniente do poder Legislatìvo.
rei, ou seja, ioå;ru geral e Afonso da Silva preconizava que sempre se possibilitasse a anulabilidade
do ato por simples lesividade.6
Mas já em r89l os Estados unidos da América haviam introduzido
ern seu sistema
Mas foi a Constituição de 1988 que trouxe a verdadeira guinada: em
ajudicial review, apartir do controle da constitucionalidade
termos de ação popular, o art. 5o, inc. LXXIII, introduziu a seguinte reda-
inaugurado pelo juiz Marshall no-fu-o.o caso
Madisort versus Marbury ção:
em que se afirmou a supremacia da constituição,
aser aferida em reração à
lei, que poderia assim ser fulminada. E não será Art. 5', inc. LXX|ll: "Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação po-
demasiado lembrar que o
sistema constitucional brasileiro tem suas raízesno pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
norte-americano.
outro dado que mudou o enfoque do juiz como "bouche que o Estado participe, à moralidade adm¡n¡strativa, ao meio ambiente e
^
o fenômeno histórico da Revorução Ind.rrt.iul, ocorrido no
de ra roi,, foi ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-
início do séc. fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência" (destacamos).
XX, em que as massas operárias assumiram reievância
.o.iu¡ àfu."cendo
no cenário institucional o primeiro corpo intermediário,
portí-vozde suas Ora, o controle, por via da ação popular, da moralidade administra-
reivindicações: o sindicato.
tiva não pode ser feito sem o exame do mérito do ato guerreado. Trata-se,
A transição entre o Estado liberar e o Estado social promove aqui, de mera lesividade, sem o requisito da ilegalidade.
alteração
substancial na concepção do Estado e de suas finalidades.
Nessequadro, o Cândido DinamarcoT também entende que foi a ação popular que
E-stado existe para atend.er ao bem comum
e, consequentemente, satisfazer abriu o caminho do Judiciário em relação ao controle do mérito do ato dis-
direitos fundamentais e, em última análise, garantír
a igualdaie material cricionário, devendo-se a ela a "desmistificação do dogma da substancial
entre os componentes do corpo social. Surge
a segunda gãraçao de direitos ìncensurabilidade do ato administrativo", pÍovocando " sugestiva abertura
fundamentais - a dos direitos econômicJsociaii
.J-ptår*ntar à dos para alguma aproximação qo exame do mérito do ato administrativo".
direitos de liberdade. Agora, ao dever de abstenção-,
do Estado substitui_se Mas a Constituição de 1988 fez mais: no art. 3o fixou os objetivos
seu.dever aum dare,facere,.praestare, por iniermédio
de uma atuaçao fundamentais da República Federativa do Brasil, da seguinte maneira:
positiva, que realmente permita a fruição àos
direitos de liberdade da pri_
meira geração, assim como dos novos direitos. Art. 3o: "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
E a função de controre do
Poder Judiciário se amplia. Brasil:
No Brasil, durante muito tempo os tribunais autolimitaram-se, | - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
enten- ll - garantir o desenvolvimento nacional;
lendo não poder adentrar o méritô do ato administrativo.
Diversas mani- lll - erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
èstações do Poder Judiciário, anteriores à constituiçao
'am essa posição.s
¿arqgg, assumi_ -
lV promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação."
tem que se organizar îo facere e praestare, incidindo sobre a realidade oswaldo canela Junior, "cabe ao Poder Judiciário investigar ofundamen-
social. E aí que o Estado Social de Direito transforma-se em Estado Demo- to de todos os atos estatctis a partir dos objetivos fundamentais inseridos
crático de Direito. na Constituição (art. 3' da CF brasileìra)" - destacamos.
Mas como operacionalizar o atingimento dos objetivos fundamentais Tércio Sampaio FerrazJunior lembra que o objetivo do Estado liberal
do Estado brasileiro? Responde Oswaldo Canela Junior:B era o de neutrallzar o Poder Judiciário frente aos demais poderes.lo Mas,
no Estado Democrático de Direito, o Judiciário, como forma de expressão
"Para o Estado social atingir esses objetivos, faz-se necessária a realiza-
ção de metas, ou programas, que implicam o estabelecimento de funções
do poder estatal, deve estar alinhado com os escopos do próprio Estado,
específicas aos Poderes públicos, para a consecução dos objetivos prede- nao se podendo mais falar flJma neutralização de sua atividade. Ao con-
terminados pelas constituições e peras reis.s Desse modo, formurado o trârio, ó Pod.r Judiciário encontra-se constitucionalmente vinculado à po-
comando consütucional ou legal, impõe-se ao Estado promover as ações lítica estatal.
necessárias para a implementação dos objetivos fundamentais. E o poder
do Estado, embora uno, é exercido segundo especiarização de atividades:
Ainda no conceito irrepreensível de Oswaldo Canela Junior:
a estrutura normativa da constituição dispõe sobre suas três formas de ,,Por políticaestatal- ou políticas públicas - entende-se o conjunto de ati-
expressão: a atividade legislativa, executiva e judiciária,,.
vidades do Estado tendentes a seus fins, de acordo com metas a serem
atingidas. Trata-se de um conjunto de normas (Poder Legislativo), atos (Po-
Afirma o Autor, com toda razão, que as formas de expressão do poder der Executivo) e decisões (Poder Judiciário) que visam à realização dos fins
estatal são, por isso mesmo, meros instrumentos para a consecução dos fins Primordiais do Estado".
,,Como toda atividade política (políticas públicas) exercida pelo Legislativo
do Estado, não podendo ser consideradas por si sós. o primeiro dogma do
Estado liberal a ser quebrado foi o da atividade legislativa, como sendo a e pelo Executivo deve compatibilizar-se com a constituição, cabe ao Poder
Judiciário analisar, em qualquer situação, e desde que provocado, o que se
preponderante sobre os demais poderes. E acrescente-se: o segundo dogma
convencionou chamar de 'atos de governo' ou 'questões políticas', sob o
foi o da atividadejurisdicional prestada por umjuiz que represente apenas prisma do atendimento aos fins do Estado (art' 3'da CF)"'
Ia bouche de la loi.
Continua Oswaldo Canela Junior: Ou seja, em última análise, à sua constitucionalidade.
"E assim a teoria da separação dos poderes (art. 2" da CF brasileira) muda
o controle da constitucionalidade das políticas públicas pelo Poder
de feição, passando a ser interpretada da seguinte maneira: o Estado é Judiciário, assim, não se faz apertas sob o prisma da infringência frontal à
uno e uno é seu poder. Exerce ele seu poder por meio de formas de ex_ Constituição pelos atos do Poder Público, mas também por intermédio do
pressão (ou Poderes). Para racionalização da atividade estatal, cada forma cotejo desses atos com os fins do Estado'
de expressão do poder estatal exerce atividade específica, destacada pela E continua o autor:
Constituição. No exercícìo de tois funções é vedado às formos de expressão
do poder estotal interferêncio recíproco; é este o sentido da independên- ..Diantedessanovaordem,denominadadejudicializaçãodapolítícai,
cia dos poderes".
6. A OBSERVÂNCIA DO PRESSUPOSTO E DOS TIMITES COMO SATVA- particular do administrador público, pois, do contrário' onerar-se-ià ainda
GUARDA CONTRA OS EXCESSOS
inais o erírio". E continua anotando que, embora o montante da multa
o pressuposto e os limites acima indicados são necessários e suficien- imposta a título de astreintepossa ser coblado posteriolmente do responsá-
tes para coibir os excessos na intervençãojudicial em políticas públicas. vei, seria necessária uma nova demanda judicial para a recuperação.
Tome-se o exemplo da saúde: uma política pública razoável (e, por- Por outro lado, o montante fixado a título de multa, em ambos os ca-
tanto, adequada) deve propiciar o atendimento do maior número de pessoas sos, ficará inscrito como precatório: o aft. 100, cF, permite a requisição do
com o mesmo volume de recursos. Merecem críticas, portanto por não pagamento da multa por esse instrumento.
atender ao requisito da razoabilidade
- Assim, por diversas razões conclui-se que a imposição de multa diár
-, alguns julgados, em demandas in-
dividuais, que concedem ao autor tratamentos caríssimos no exterior, ou a ria não a melhor medida para compelir o agente público a uma
aquisição de remédios experimentais que sequer foram liberados no Brasil.
"onsiitui
obrigação defazer.
Não se trata, nesses casos, de corrigir uma política pública de saúde, que cumpre notar, por último, que a multa prevista no parágrafo único
esteja equivocada. E não se pode onerar o eririo púbìico, sem observância do art. 13;CPC, a título de contempt of court, é absolutamente inadequada
da reserva do possível. quando se trata daFazendaPública: a multa será inscrita como dívida ati-
A estrita observância dos limites à intervenção judicial, assim como o va, o que significa simplesmente tirar de um bolso para passar para outro.
exato conceito de políticas públicas (como programas e ações tendentes ao B - Responsabilização por ato de improbidade administrativa. A
atingimento dos objetivos do Estado brasileiro), será sufióient e paraconter conduta do agente que descumpre decisão judicial subsume-se ao inc. II
os abusos. do art. 11 da Lei n.8.429192 - Lei de Improbidade Administrativa - que
afirma constituir ato de improbidade que atenta contra os princípios da
7. SANçöES PARA O DESCUMPRIMENTO DA ORDEM OU DECISÃO Administração Pública "retatdat ou deixar de praticar, indevidamente, ato
JUDICIÁRIA de oficio,'. É aindaFerraresi que observa que o descumprimento de ordem
judicial ofende a harmonia entre os Poderes, de modo que, havendo des-
Se' assim mesmo, o administrador descumprir a ordem ou decisão ju-
ciciâria, abrem-se diversas vias para a aplicaçao de sanções: a) aaplicaÇão cumprimento, se deixa indevidamente de praticar ato de oficio'35
Je multa diátria(astreintes) oua título dè ato atentatório ao exercício c Intervenção no Estado ou Municípia. o descumprimento da or-
-
daju- {em judicial sujeita o Estado ou o Município a sofrer intervenção político-
iisdição; b) a responsabilização por ato de improbidade administrativai c)
r intervenção no Estado ou no Município; d) iresponsabilizaçãocriminal. -administrativa, a fim de corrigir a irregularidade. o art.35,IV CF, estabe-
Passamos a examinar essas técnicas de coerção. lece que o Estado não intervirá nos Mtinicípios, exceto quando o Tribunal
de Justiça der provimento a representação para prover a execução de leio
A- Multa diária: medidas de coerção patrimonial contra aEazenda
lública são legítimas, conforme já decidiu o STJ em sede de antecipação de ordem ou de decisão judicial. Da mesma forma, a União não intervirá
nos Estados ou no Distrito Federal, exceto para prover a execução de or-
le tutela.33 Todavia, conforme observa Eurico Ferraresi,3a .,não se pode
)squecer o fato de que a multa diária recairá, diretamente, no patrimônio dem ou decisão judicial (art.34, VI, CF).
rúblico, bem de todos. E que, por isso, os efeitos de uma muli a aplicada O Supremo Tribunal Federal deixou assentado:
ro setor particular e ao setor público podem ser completamente diversos,' ,,o dever de cumprir as ordens emanadas pelo Poder Judiciário, notada-
...) 'A imposição de multa diária só tem efeito quandò recai no patrimônio mente nos casos em que a condenação judicial tem por destinatário o
próprio poder público, muito mais do que simples incumbência de ordem
processual, representa uma incontornável obrigação institucional a que
3 REsp. n. 79o.175/sP, Relator José Delgado, rel. p/acórdão Luiz Fux, L"
Turma, i.
nãosepodesubtrairoaparelhodoEstado,sobpenadegravecomprome-
05.12.2006, Dt, I2.OZ.2OO7, p. 249. timento dos princípios consagrados no texto da constituição da Repúbli-
4 FERRARESI, Eurico. Modelos de processos coletivos: ação popular, ca. A desobediência à ordem ou à decisão judicial pode geral em nosso
ação civil pública
e mandado de segurança coletivo, tese de doutorado defendida na usB
orientadora
¡la Þallacrini (iri¡anta¡ 1z
EEl o Controte Jurisdicional de políticas públicas Ada pellegrini Gr,noo
I Ado peltegrini Griror",
l:role Jurisdicional de Políticas Públicas I |]/ll
s¡stema jurídico, gravíssimas consequências, guer no plano penal,
quer 2 - Constrangimento indevido, representado pela cláusula 'sob pena de
no â m bito p-olítico-administrativo (possibilidade
de i m pe a ch m e nt), quer, incidir em crime de desobediência à ordem judicial' 1...¡".40
ainda, na esfera institucional (decretabilidade de intervenção
federat nos
Estados-membros ou em Municípios situados em Território
Federar, ou de
intervenção estadual nos Municípios.,,36 (Destacamos.) De se lembrar, ainda, o crime de desobediência pelo descumpri
mento da ordem emitida em mandado de segurança (art. 26 da Lei n.
D - crimes de responsabitidade e de desobediêncio. 12.0t6t2009).
Ateordo art. 1o,
inc. XIV, do Decreto-Lei n. 20r/67, constitui crime Concluindo esse tópico, percebe-se que as sanções mais adequadas,
ou ,urponr"bilidade
do prefeito municipal'odeixar de cumprir ordem judicú;;;;em para fazer face ao descumprimento da ordem ou decisão judicial pelo po-
dar o
motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoriáade der Público, são a responsabilização por improbidade administrativa e
compe-
tente". a intervenção federal ou estadual no Estado ou Município; o crime de
O STJ já decidiu que caracteriza o tipo descrito no art. lo, desobediência pelo descumprimento da ordem emitida em mandado de se-
XIV, do gurança; e, em âmbito mais limitado, a imputação ao Prefeito Municipal
Decreto-Lei n.201167,-o não cumprimento de ordem judicial,
sem que o
agente responsável tenha justificado o motivo da de crime de responsabilidade.
recuia o' u i-porribili_
dade de seu cumprimento, por escrito, à autoridade
competentã.ìz
Mas deve ser notado que' para a configuração do crime 8. A VIA PROCESSUAT ADEQUADA PARA PROVOCAR O CONTROLE E A
de responsa- EVENTUAT TNTERVENçÃO OO JUDtCtÁRtO EM pOríTtCAS púBL|CAS
bilidade por descumprimento dè ordem ou ãeciøo judici¡âria,
ãnecessária
a conduta dolosa do agente político. Nesse sentido, O Código Civil revogado asseverava, no art. 75: "A todo o direi-
ä stl, na concessão de
habeas cofpus, visando ao trancamento da ação penal.3s to coresponde uma ação, que o assegura". Como bem aponta Kazuo
M?r' com relação ao crime de desobediência, o sTJ afastou Watanabe:ar
.
de penal por existir sanção de nafureza civil, processual
a ilicitu-
ou administrativa "Não fosse a intransigência doutrinária, surgida na fase em que o Direito
aplicada em razão da-omissão. segundo a corte, fixada
multa
diária pelo Processual aspirava à autonomia como um ramo da ciência jurídica, o art.
descumprimento da decisão judicial, não caberia o
oferecimento de de- 75 do Código Civil de 1916 poderia ter sido lido com explicitação, em nível
núncia pelo crime de desobediência, sendo o caso de infraconstitucional, do princípio da efetividade e da adequação da tutela
trancamento da ação
penal por atipicidade de conduta.3e jurídica processual" (destacamos).
Mais longe ainda foi outro julgado do STJ: "Para que dele se retirasse toda a conotação imanentista, bastava que se
lesse o texto como se nele estivesse escrito que a toda afirmação de direito
(e não um direito efetivamente existente) 'corresponde uma ação, que o
"cRrME Oe o¡soe¡orÊNcrA. pREFErro MUNTCT'AL. tr¡Ão corv'cuRn_
assegura'. O direito 'afirmado', como é cediço, não é a mesma coisa que
çÃo.
direito existente".
1- Em princípio, diante da expressiva maioria da jurisprudência, o crime
'Aliás, mesmo o texto constitucional (art. Ss, n. XXXV) deve ser lido com o
de desobediência definido no art. 330 do cp só oáorr" qrrnoo
praticado mesmo cuidado, pois seu texto afirma que'a lei não excluirá da apreciação
por particular contra a Administração Pública,
nele não incidindo a con- do PoderJudiciário lesão ou ameaça do direito', e sua leitura apressada po-
duta do prefeito Municipar, no exercício de suas funções. qr" prefeito
É o derá conduzir a uma conclusão imanentista, quando na verdade o que nele
Municipar, nestas circunstâncias, está revestido da condição
de funcioná_ se afirma é que nenhuma afirmativa de lesão ou ameaça a direito poderá
rio público.
ser excluída da apreciação do Poder Judiciário".
agir (inadequação). o problema pode ser situado da seguinte forma: n. jurisdição ordiná-
trl¡¡ ¡¡c¿lo cleinconstitucionalidade por omissão' E' na
momento em que o interessado valendo-se da garantia constitucional Çoletivos ou meramente
-
('ampla') da ação - ingressa em juízo, precisa eleger a,ação adequadu,
ñl p,,, ,,,"" ação coletiva, individual com efeitos mais cuidados deverão ser
-controre
ini,u¡¿uut, sendo certo que, neste último caso,
para a situação material que aûrma, isto é, não deve se equivocar aobsewância dos limites postos à intervenção. Isso porque o
na cs- iirunl.,..,
colha da 'via processual'. Advefüu yarshell ser preciso ter cuidado partt disponibilidade
'arada pretensão estritamente individual diminui
a
xolhinrcnto
entende4 sob a ótica do interesse processual, o qu" se quer dizer cr¡nt (aspecto negativo)' embota a
dc vcrbas destinidas à política pública geral já
escolha da 'ação cabível', cuidando-se para que trã 'pussàg"m, da ,ação possa acabar influindo, como
rcrtcruçao de pedidos ,ro -"r-ì sentidã
constitucional' (incondicionada) para a' ação processual, (-condicionada.
eis que exercida de forma conexa a uma dada relação maàrial afirmada
i*,,r.u, na ampliaçao da própria política pública (aspecto positivo).
pelo demandante) não se perca o sentido e o alcance dessa primeira garan-
t. coNcLUsÕEs
tia". E mais:
Diantedetodooexposto,podemserassentadasasseguintesconclu-
"euando se busca o 'tipo de ação' cabíver para uma dada situação de di- rôcs
reito material (afirmada), deve-se levar em conta relativamente ao ele_
- a-oPoderJudiciáriopodeexercerocontroledaspolíticaspúblicas
mento hdequação' - tão-somente os seguintes dados: a) compatibiridade da Repú-
entre pedido (provimento invocado) e situação ramentada pero deman- Frr¡¡ nfe.i, srru compatibilizuçao .ottt os objetivos fundamentais
dante, de tal sorte que, em tese, a providência arvitrada peio autor se¡a hlic¿¡ Federativa do Brasil (art. 3", CF)'
dos Poderes' en-
idônea a sorucionar o mar de que se ramenta; b) compatibiridade entre
o b - Esse controle não fere o princípio da separação
procedimento adotado pero autor e a situação afirmada pero das funções
demandante, lc¡tdi ,lo .o*o vedação de interferêìcia recíproca no exercício
de modo que os atos processuais, por seu encadeamento, sejam aptos a
conduzir o demandante ao ato finar que, como visto, é (deve ser) idôneo rftr l:stado.
à
superação do estado de coisas exposto pelo autor. c_Dentrodelimites,oJudiciáriopodeintervirnaspolíticaspúblicas
sob um ânguro negativo, por assim dizer, a busca do'tipo de ação cabível crrtcndidas como progru-u, . ações do Poder
Público pretendendo atin-
deve considerar: a) o irrelevôncia do nome ou rótulo que se tenha consig_ do Éstado - quer para implementá-las, quer
nodo no veículo da demanda, que é a petíçõo iniciat;b) que o equívoco tt,, .r, où¡.tiuo. n rrãutã"ntais
quanto ao procedimento ereito não impede necessariamente que purt conigi-las quando equivocadas'
atinja
o prov¡mento (resurtado) desejado, quer porque seja possíver adequá-lo d-HáumpressupostoelimitespostosàintervençãodoJudiciárioem
atto¡'za a imediata judicialização
¡xrliticas púbücäs. O pressuposlo, pe
ao procedimento correto, quer porque não ex¡stam diferenças expressivas
é a res-
entre o procedimento ereito e o procedimento corretamente ditado pera
rl, direito, mesmo na åusêncìa de lei ou de atuação administrativa,
lei; c) que a invocação do fundamento regal não afeta o interesse de agir intervenção:
iricio ¿ garanïiado mínimo existencial. Constituem limites
e à
não vincura o órgãojulgado4 que deve considerar os fatos e fundamentos do Poder
n razoabilidade da pretensão individuavsocial
deduzida em face
j u rídicos expostos pelo dema nda
nte.,,as (Grifa mos.)
i,úbli.o e ainazoabrlidade da escolha da lei ou do agente público; a reser-
verifica-se, assim, que, mesmo uma ação individual, pode servir para r,irdopossível,entendidatantoemsentidoorçamentário-financeirocomo
política pública.
a implementação ou a correção de uma política pública: cin tcÅpo necéssário para o planejamento da nova
tência de se evitarem os excessos, conforme foiãxposto no n."o*
-u,
a adver-
e - O juiz deverá utllizamm novo processo'
com cognição mais pro-
6 supra.
Disso tudo s'rge uma inarredável conclusão: qualquer tipo de ação, li¡ndaeu,,,pmauecontraditórioestimulado,colhendoinformaçõesda
mais justa' equilibrada e
na jurisdição constitucional e na ordinária, pode sei utilizado para provo- ndministração para poder chegar a uma decisão
car o Poder Judiciário a exercer o controle ò a possível intert ençãoà* po_ cxcquível.
lític,as públicas. Na jurisdição constitucional, pelo mandado aó in¡unçao, f-Aestritaobservânciadopressupostoedoslimitesacimaindica-
públicas,
inclusive coletivo, pela ação de descumprimenio de preceito fundamental, tlrs, assim como o correto entendimentó do qrre sejampolíticas
e suficientes para coibir os excessos do Poder Judiciário'
silo necessários
g-Parafazerfaceaodescumprimentodaordemoudecisãojudicial
oo- cmheroo da anlicacão de
@oControleJurisdicionaldePolÍticasPúblicas|AdaPellegriniG,,nooil
I. |NTRODUçÃO