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Diretrizes Curriculares

da Educação BÁSICA PARA A


EDUCAÇÃO INFANTIL:
Um Processo Contínuo de Reflexão e Ação

REDE MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO DE
CAMPINAS

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
ISBN 978-85-86223-15-0
DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO
ASSESSORIA DE CURRÍCULO E PESQUISA
9 7 88586 223150
EDUCACIONAL
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS
Secretaria Municipal de Educação
Departamento Pedagógico
Assessoria de Currículo

Diretrizes Curriculares da Educação


Básica para a Educação Infantil:
um processo contínuo de reflexão e ação

Heliton Leite de Godoy


Coordenação Pedagógica

Miriam Benedita de Castro Camargo


Organizadora

2013
Projeto Gráfico e Capa
LCT Tecnologia e Serviços

Diagramação e Editoração
Hide Butkeraitis
Osmar Ferreira da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação:


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a Educação Infantil :


um processo contínuo de reflexão e ação : Prefeitura Municipal de Campinas,
Secretaria Municipal de Educação, Departamento Pedagógico / Organização :
Miriam Benedita de Castro Camargo / Coordenação pedagógica: Heliton Leite de
Godoy. – Campinas, SP, 2013

ISBN 978-85-86223-15-0

1. Educação Infantil.  2. Criança – Currículo  I. Prefeitura Municipal de


Campinas (SP), Secretaria Municipal de Educação, Departamento Pedagógico 
II. Camargo, Miriam Benedita de Castro.  III. Título

Índice para Catálogo Sistemático:

1. Educação Infantil
2. Criança – Currículos

Todos os direitos reservados.


É permitida a reprodução total e ou parcial desta obra desde que seja citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas na forma da Lei.
Prefeitura Municipal de Campinas

Prefeito
Jonas Donizette

Secretária Municipal de Educação


Solange Villon Kohn Pelicer

Diretora do Departamento Pedagógico


Helena Costa Lopes de Freitas

Assessor Técnico de Currículo e Pesquisa Educacional


Heliton Leite de Godoy

Coordenadora Setorial de Formação


Miriam Benedita de Castro Camargo

Núcleo de Memória, Pesquisa e Publicação em Educação


Sueli Aparecida Gonçalves

2013
FICHA TÉCNICA

• DIRETORA DO DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO •


HELENACOSTA LOPES DE FREITAS

• COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA •
HELITON LEITE DE GODOY

• ORGANIZADORA •
MIRIAM BENEDITA DE CASTRO CAMARGO

• NÚCLEO DE MEMÓRIA, PESQUISA E PUBLICAÇÃO EM EDUCAÇÃO •


SUELI APARECIDAGONÇALVES

• AUTORES •
ADRIANA PADILHA
ANACLÁUDIA DA ROCHA MUCCI
ÂNGELA FERRAZ
CLEONICE APARECIDA GERMANO
DJANIRA FONTELASSO MARQUESIM
ELAINE PENTEADO
ELAINE SOUZA
ELIANA APARECIDA PIRES DACOSTA
ELIANA BRIENSE JORGE CUNHA
GISELLE ALESSANDRA MARCHI
HELITON LEITE DE GODOY
JANE GERODO GARCIA
JOSEFINACARAZZATO
LEILA ORSSOLAM ABOUD
LÍGIA PRANDO
LISANDRA MINTO
LUCIANA BASSETTO
MARGARETE SAVASSA DANIEL MONTANHAUR
MARIA ADÉLIA ALVES
MARIA APARECIDA DA SILVA DAMIN
MARINA GONÇALVES MARTÃO JARDIM
MARIA INÊS BALDINI
MARIA JOSÉ ÁVILA
MARISA SEYR
MARTA DE ALMEIDA OLIVEIRA
MIRIAM BENEDITA DE CASTRO CAMARGO
SUELI APARECIDAGONÇALVES
SUELI HELENAC. PALMEN
VERA REGINA FABRI
ZELMA BOSCO

IV
SUMÁRIO

PREFÁCIO..................................................................................................................................................... 1

APRESENTAÇÃO......................................................................................................................................... 3

Introdução............................................................................................................................................ 5

Das Histórias da Educação Infantil em Campinas............................................................. 7

Criança, Currículo, Infância: Práxis Educacionais Inventivas................................ 13

Manifestações expressivas dos bebês e crianças pequenas....................................... 17

Tecer fios... Projetar caminhos............................................................................................... 19

Educação Básica: um movimento contínuo................................................................... 22

(Trans)formação Continuada: reflexão e criação do fazer pedagógico........ 25

Considerações..................................................................................................................................... 31

Referências bibliográficas............................................................................................................ 33

V
Eduardo – 3 (três) anos e 6 (seis) meses

VI
Prefácio

Apresentamos o caderno inicial das Diretri- ção, meninos e meninas produzem culturas,
zes Curriculares da Educação Infantil da Rede dialogam com a dos adultos, interpretam-nas
Municipal de Ensino, resultado do trabalho e as reinventam. Crianças são compreendidas
coletivo envolvendo os profissionais da Edu- como sujeitos que produzem novos sentidos
cação Infantil da SME que atuam na Educação ao mundo que habitam.
Infantil nas diversas Unidades Educacionais,
sistematizado pela Assessoria de Currículo do Há que se destacar a relevância da produção
Departamento Pedagógico e Coordenadores de tal documento neste contexto, documento
Pedagógicos. Houve no processo de sua ela- este que apresenta em si um caminho a percor-
boração diferentes níveis de participação que, rer com outras publicações em continuidade.
direta ou indiretamente, contribuíram para
Com estas Diretrizes, buscou-se consoli-
sua produção. Trata-se de um documento que
dar parâmetros teóricos e práticos que subsi-
busca a sutileza e a complexidade do lugar
diem o planejamento de uma rotina voltada
das crianças, para então desenhar percursos
intencionalmente à ampliação do universo de
possíveis de um trabalho que se aprimora e se
experiências deste momento da vida. Trata-
ressignifica cotidianamente.
-se também de uma pedagogia da infância
Num país que ainda luta para assegurar compromissada com práticas de letramento e
a brincadeira e a ludicidade como princípios de acesso aos conhecimentos científicos e ar-
fundamentais das atividades de meninos tísticos acumulados pela Humanidade. Nesse
e meninas nesta etapa da vida, cabe-nos a fazer educativo, prima-se pelo planejamento
responsabilidade de garantir às crianças de de tempos e espaços de cuidado e educação,
considerados como ações imbricadas no co-
nossa rede o direito a sua infância. Para isso,
tidiano e constitutivas do trabalho desenvol-
é necessária uma pedagogia que possibilite
vido pelos profissionais da Educação Infantil.
um movimento contínuo de aprender sobre
as crianças, ouvindo-as mais, observando
Que ele promova instâncias de diálogo
suas brincadeiras, suas lógicas, tecendo no-
nas quais possamos refletir sobre nossas pro-
vos modos de atuar.
postas educativas e, para além delas, deman-
dar a continuidade deste trabalho curricular,
A especificidade da atuação do adulto
com foco e aprofundamentos nas discussões
nesta etapa da educação básica demanda um
em torno dos conceitos e temáticas que com-
olhar atento à produção cultural infantil em
põem o presente texto.
seus coletivos, nos quais a intencionalidade
de profissionais no trabalho educativo ga- Solange Villon Kohn Pelicer
nham significados. Nestes espaços de educa- Secretária Municipal de Educação

1
APRESENTAÇÃO

As Diretrizes Curriculares afirmam uma Nossos sinceros agradecimentos à SME,


concepção que questiona e transforma o in- ao Departamento Pedagógico, aos Núcleos de
divíduo, refletindo continuamente sobre o Ação Educativa Descentralizada (NAED) e às
trabalho pedagógico e valorizam a pesquisa Unidades de Educação Infantil, por acredita-
em nome de uma Educação Infantil criativa e rem, oportunizarem e compartilharem o pro-
transformadora das experiências individuais cesso de elaboração da escrita deste documen-
e sociais. to curricular, num movimento significativo de
reflexão da prática para uma implementação
A Assessoria de Currículo da Secretaria igualmente reflexiva das Diretrizes Curricu-
Municipal de Educação (SME) Campinas, lares. Agradecemos igualmente à professora
elabora este documento em que prioriza as Miriam Benedita de Castro Camargo pelo
infâncias das crianças, as infâncias voltadas a excelente trabalho desenvolvido na mediação
uma educação para a autonomia. Aos profis- do processo de elaboração destas diretrizes,
sionais oferece perspectivas para a construção junto às Coordenadoras Pedagógicas de Edu-
de um pensamento educativo que orienta os cação Infantil e a equipe ampliada1. Agradeço,
processos pedagógicos, discute o cotidiano e também, a todas as pessoas que mesmo não
suas especificidades, numa constante avalia- tendo contato direto com o texto, contribuí-
ção e redefinição de percursos. ram significativamente para a sua realização.

Não se trata de concluir estas Diretrizes, O fato de estarmos à frente da Assessoria de


mas sinalizar o que está por vir: o chão da es- Currículo e poder compartilhar e vivenciar mo-
cola, a voz dos profissionais, os questionamen- mentos significativos das relações com o conhe-
tos das crianças, a busca da qualidade social cimento, como este, é um privilégio, que nos
da educação e a relação com o conhecimento. motiva, emociona, e contribui para definir e re-
A elaboração e sistematização das Diretrizes definir nossas próprias convicções e agora, com
Curriculares é o primeiro passo, o começo de esta produção, compartilham com os outros
uma nova etapa que traz a sua implementação, educadores da Rede Municipal de Educação
num processo contínuo de reflexão e ação que de Campinas (RMEC).
contribua para uma educação de qualidade.
Compreendemos que um currículo será efeti- Heliton Leite de Godoy
Coordenação Pedagógica
vamente assumido por toda a rede quando to-
dos e cada um puderem nele reconhecer a sua 1  Equipe Ampliada formada por Coordenadores Pedagógicos,
identidade. Isso só é possível no diálogo em Orientadores Pedagógicos, Professores dos Agrupamentos I, II e
III, Professores da Educação Especial e representante do Memória e
que cada um possa falar e ouvir o outro. Identidade Promoção da Igualdade na Diversidade (MIPID).

3
INTRODUÇÃO

As Diretrizes Curriculares de Educação cação Infantil” e, o “II Seminário Curricu-


Infantil vêm sendo desenhadas desde 2007, lar – Educação Infantil 2012”, no qual foi
quando a Secretaria Municipal de Educação, lido o texto preliminar, acrescido das con-
por iniciativa dos NAEDs, realizou o Semi- tribuições recebidas para que os envolvi-
nário de Educação Infantil/ 2007, que envol- dos conhecessem as propostas das demais
veu todos os profissionais da RMEC, os quais Unidades Escolares (U.E) e esclarecessem,
realizaram comunicações orais sobre a suas se necessário fosse, as sugestões das quais
práticas pedagógicas. O relato dessas expe- eram representantes. Em seguida, a equipe
riências foram sistematizados pelas Equipes responsável pela escrita retomou sua conti-
dos NAEDs, em 2009, com a intenção em nuidade, considerando as sugestões vindas
constituir-se em uma proposta pedagógica, dos profissionais da Educação Infantil da
com as experiências vividas no cotidiano Rede Municipal de Campinas.
com bebês e crianças pequenas da Rede Mu-
nicipal de Ensino de Campinas – RMEC. Destarte, este documento “Diretrizes
Curriculares da Educação Infantil Pública –
Tal movimento se concretiza em 2012, um processo contínuo de reflexão e ação”
com a escrita das Diretrizes Curriculares de sintetiza a complexidade do pensamento
Educação Infantil da SME, elaborada pela pedagógico da Educação Infantil da RMEC
equipe constituída pela Assessoria de Currí- e orienta os processos educativos nas Uni-
culo e Pesquisa Educacional do Departamen- dades Educacionais, que atendem bebês
to Pedagógico. O processo de escrita iniciou- e crianças pequenas na primeira etapa da
-se com a elaboração de um texto preliminar Educação Básica. As Diretrizes foram orga-
que foi enviado às Unidades Educacionais nizadas a partir do diálogo entre os profis-
para estudo e análise, que retornaram para sionais que atuam na área educacional e a
a Assessoria de Currículo, em forma de con- equipe que se propôs a elaborá-las, junto à
tribuições, coletivas ou individuais, a serem Assessoria de Currículo da Secretaria Muni-
acrescidas, suprimidas, substituídas e reava- cipal de Educação – SME.
liadas na escrita final do documento.
Este documento é composto da histó-
Neste percurso aconteceram dois semi- ria que contextualiza o movimento, que é
nários, o “I Seminário Curricular – Edu- constitutivo e condicionante de realizações
cação Infantil 2012”, que tratou sobre as na Educação Infantil pública de Campinas.
“Minúcias do cotidiano e da Arte em Edu- O mesmo está organizado em três tópicos:

5
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

No primeiro tópico “Das Histórias da Reconhece-se que outros movimentos de


Educação Infantil em Campinas”, intitula- diálogo com as comunidades educativas po-
do estão os cernes relacionais dos cotidianos deriam qualificar e estender a finalização des-
educativos ao longo do tempo. Relatou-se a te documento, considerando que as sugestões
história do movimento curricular na RMEC vindas das discussões nas Unidades Educacio-
e, muitos esforços foram feitos no sentido de nais, em muito contribuíram para o enrique-
conferir ao documento a legitimidade neces- cimento do mesmo. Entretanto, optou-se por
sária, naquilo que, embora não faça parte do encerrar esta etapa, neste momento, e apro-
cotidiano de todos, faz parte da história de fundar discussões sobre temas específicos da
muitos e continuará gestando outras histó- área e elaborando coletivamente cadernos te-
rias, outros olhares, outros sentidos... máticos na sequência deste documento.

O tópico, denominado “Criança, Cur- O movimento de elaboração das Diretri-


rículo, Infância: Práxis Educacionais In- zes Curriculares da Educação Infantil repre-
ventivas”, tem o foco no cotidiano da Educa- senta um grande marco na Educação Infantil
ção Infantil propriamente dito, optou-se por de Campinas e mantém aberto o diálogo com
um texto que reafirmasse a todo o momento a Rede, em processo contínuo de construção
sua ideia central de que currículo é relação e que permite vislumbrar caminhos para a or-
que, portanto, as diretrizes cumprem o pa- ganização das práticas pedagógicas da SME.
pel de orientar os caminhos, sem deixar de Nesta direção, serão elaborados Cadernos,
apontar as possibilidades que permitem um com as seguintes propostas temáticas: Docu-
fazer cotidiano intenso, criativo, transgressor mentação e Registro; Arte e Ciência; Letra-
e inovador. mento; Relações Étnico Raciais; Educação Es-
pecial; Gênero e Sexualidade; Projetos; Corpo
Em sua terceira parte, chamada “(Trans) e Movimento, como metas a serem cumpri-
formação Continuada: reflexão e criação das nos próximos períodos.
do fazer pedagógico”, traça-se os cami-
nhos que a formação percorrerá com vistas
Miriam Benedita de Castro Camargo
a instigar, provocar, subsidiar, sistematizar,
Organizadora
propor e publicizar os movimentos vivencia- e
dos na Educação Infantil da RMEC. Equipe Ampliada da Assessoria de Currículo

6
DAS HISTÓRIAS DA EDUCAÇÃO
INFANTIL EM CAMPINAS

Espaços
Tempos
Currículos pulsantes
Enredos educacionais no cotidiano
Histórias infinitas
Um coração-criança-pensante
Inquieta a vida!
Educadores-autores
Mapeiam novidades...
O mundo se contorce
Em arrepios...
Educação Infantil:
Composição artística
Desfiando
Realidades e Devires...
Lígia Prando

A escrita da história da Educação Infantil A trama histórica não é linear, vem impreg-
da Rede Municipal de Ensino de Campinas nada pelo caráter político, ideológico, filosófi-
surge da necessidade de retomar elementos co, sociológico, cultural, econômico, psicoló-
da história viva das relações curriculares, vi- gico e antropológico, o que reforça o conceito
sando criar uma proposta a partir dos tem- de historicidade que considera a perspectiva
pos, espaços e discussões atuais sobre Edu- de tempo e de contextos sociais dos aconteci-
cação Infantil. mentos, como propõe Le Goff (1990).

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Ao recuperar a história da Educação In- organizadas para atender as novas deman-


fantil de Campinas legitima-se o pensamen- das sociais.
to de pessoas que deram sentidos às palavras
e vivências presentes neste documento e que Nessa direção, Campinas institui seus pri-
contribuíram para a construção de um currí- meiros Parques Infantis: Parque Infantil Vio-
culo vivo junto à Educação Infantil Munici- leta Dória Lins e Parque Infantil do Parque
pal. Assim: Industrial, mais tarde nomeado Parque In-
fantil Celisa Cardoso do Amaral, ministran-
(...) é preciso afirmar, na especificidade da do várias modalidades de assistência: educa-
educação infantil, um currículo sustentado nas cional, médica, dentária, alimentar e recrea-
relações, nas interações e em práticas educa- tiva, frente às restrições impostas à infância,
tivas intencionalmente voltadas para as ex- devido ao aumento crescente da população e
periências concretas da vida cotidiana, para ao custo de vida cada vez mais elevado. Há,
a aprendizagem da cultura, pelo convívio no neste momento, a finalidade de propiciar “a
espaço da vida coletiva e para a produção de integração da criança em ambiente apropria-
narrativas, individuais e coletivas, através de do, onde possa entregar-se às atividades sau-
diferentes linguagens. (BARBOSA e RICH- dáveis e educativas” (RAMOS, 2010, p.19).
TER, 2009, p.25)
O cotidiano desses parques oferecia au-
Novas histórias, novos tempos, outras las de Educação Física, Educação Recreativa,
gerações de profissionais da educação, be- Educação Infantil e Educação Agrícola. Com
bes e crianças pequenas irão viver e contar relação à Educação Física, havia a iniciação
as histórias possíveis, feitas em momentos desportiva, jogos motores, prática de brin-
de transformações, de coesão de princípios quedos e jogos nacionais, resgatando a tradi-
e ideais e nas brechas do possível, no con- ção de brincadeiras, organização de competi-
texto das diversidades a vislumbrar políti-
ções esportivas interparques, demonstrações
cas públicas, que possibilitem uma Educa-
coletivas de ginásticas e danças. A Educação
ção Infantil numa perspectiva de multiplici-
Recreativa tinha como atividades: os jogos
dade cultural.
tranquilos (damas, dominó...), trabalhos ma-
nuais, a prática de técnicas de desenho, os
Vale a pena lembrar que a Rede Munici-
exercícios de canto e leitura (contar histórias,
pal de Educação Infantil, em seus mais de 70
dramatizações, confecção de fitas educati-
anos de existência, presenciou muitas con-
cepções de currículos voltadas ao atendimen- vas com recortes e desenhos para exibição
to de bebes e crianças pequenas, ainda que às crianças, organização de datas históricas
não oficializados. com poesias e canto) e orientações para a
montagem de pequenos museus. Para a Edu-
Ao longo dos tempos, houve a transfor- cação Infantil, a dimensão da recreação era
mação econômica do município de Campi- orientada de acordo com as diversas fases de
nas, de “cidade cafeicultora” em um grande desenvolvimento da criança, neste caso de
polo industrial do Estado de São Paulo, em três a seis anos. A Educação Agrícola promo-
constante transformação urbanística, geran- via, junto às crianças, a organização de horta,
do diversidade social e cultural, acompanha- pomar, aviários, apiários e hortas domicilia-
da da participação feminina nas frentes de res nas casas dos alunos, despertando o in-
trabalho, que se fundem na necessidade de teresse pelo cultivo da terra, pelas plantas e
atendimento à infância, pelas instituições pelos animais.

8
DAS HISTÓRIAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL EM CAMPINAS

A criação dos Parques Infantis se deu em função educacional, de guarda, de assistên-


decorrência do crescimento industrial, que cia, de alimentação, de saúde e de higiene,
intensificou o processo de urbanização, ele- executado por equipes de formação interdis-
vando o fluxo migratório, o que produziu, ciplinar” (http://2009.campinas.sp.gov.br/bib-
no município de Campinas, a necessidade juri/lom.htm./).
de atender uma estrutura social diferenciada,
decorrente da presença feminina no mercado Assim, os Centros Infantis, vinculados à
de trabalho, a partir dos anos sessenta. Secretaria de Promoção Social, ao serem in-
corporados ao sistema educacional, em 1989,
No contexto educacional merecem des- desafiam-nos a abandonar preconceitos as-
taque as remodelações ocorridas na Secreta- sistencialistas, pois, embora houvesse o vín-
ria de Educação e Cultura e na Secretaria de culo com um órgão de assistência social, o
Bem-Estar Social da Prefeitura Municipal de aspecto pedagógico-educacional acontecia
Campinas, que passam a definir as funções em alguns momentos e ações, como em si-
político-sociais do processo de atendimento tuações em que objetos de enfeite tornavam-
à educação infantil pública municipal. Cria- -se brinquedos nas mãos das crianças. A ro-
-se os Centros Infantis (CIs), vinculado à Se- tina, apesar de higienista, privilegiadora de
cretaria de Promoção Social, uma instituição cuidados com a saúde, garantia momentos
considerada socioeducativa, que oportuniza- no parque, pressupondo o acontecimento do
va às crianças um ambiente brincar e a possibilidade de fuga das normas
educacionais vigentes.
(...) limpo, confortável, durante todo o dia;
contato com adultos os quais lhe auxiliam na A nova gestão dos assuntos voltados à
aprendizagem; ensinar como viver em harmo- Educação Infantil pública municipal formali-
nia com outras crianças e adultos; usar e expe- zou o Regimento Comum das Unidades Só-
rimentar uma variedade de materiais de acordo cio Educacionais Municipais (Lei nº 7.776 de
com seus interesses; expressar seus sentimentos 19 de Janeiro de 1994) e, trouxe em seu currí-
e ideias através de palavras e ações; de comer culo, uma organização didática pautada nos
alimentos que auxiliem no seu crescimento e jogos, nas artes, na educação física e nas se-
desenvolvimento; adquirir hábitos pessoais de guintes áreas consideradas de conhecimento:
higiene os quais promoverão a saúde e pre- Linguagem Oral e Escrita, Ciências Sociais,
venção das doenças; serem beneficiadas pelos Ciências Naturais e Matemática. Mas, ainda
cuidados médicos; aprenderem sobre o mundo observava-se um intenso vínculo dos Cen-
que as cercam (Secretaria da Promoção Social, tros Infantis com a estrutura higienista em
Adm. 1977/1980, s/n). relação à estrutura dos horários e atividades
diárias: entrada, café da manhã, atividades
Com a Constituição Federal de 1988, a pedagógicas, higiene, almoço, repouso, ati-
criança é reconhecida como sujeito de direi- vidades livres, jantar e saída.
tos, especialmente quanto ao atendimento
educacional e cria-se a obrigatoriedade de O documento Estatuto do Magistério Pú-
atendimento às crianças de zero a seis anos, blico Municipal (Lei Municipal nº 6.894, de
pelo sistema educacional público. Dentro 24/12/91) formalizou a ação pedagógica nas
desses princípios, a Lei Orgânica do Muni- Unidades Sócio Educacionais, em relação à
cípio de Campinas, de 1990, promulga que regência de sala de aula, à hora-atividade e
“o atendimento em creche deverá ter uma à hora de trabalho docente, proporcionando

9
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

aos professores a opção de mais 3 horas/ Educação Infantil no município até aquele
aula semanais remuneradas, para ativida- momento, além de concepções de currículo,
des pedagógicas de atendimento aos pais de de infância, de criança, do brincar e sobre
alunos, estudos, integração com seus pares, o conhecimento e a cultura. Aponta para a
entre outras. Este documento previa a oferta possibilidade da criança construtora de seu
de oficinas pedagógicas interdisciplinares aos conhecimento e para o professor como me-
monitores, diretores e vice-diretores. diador do processo educacional.

Neste processo, Coordenadores Peda- O “Currículo em Construção” referencia


gógicos organizavam programas de capaci- reflexões, ações e outras questões ineren-
tação continuada, programas de avaliação tes aos Projetos Pedagógicos (Portaria SME,
escolar e de reorientação curricular de En- nº 1.166/90) das Unidades Educacionais da
sino Fundamental e de Educação Infantil e, Rede Municipal de Campinas e constitui um
também, grupos de formação docente e de marco na história da Educação Infantil: é a
especialistas são implementados pela Secre- primeira proposta curricular oficial da SME.
taria Municipal de Educação. Surgem, neste Na construção do Projeto Pedagógico busca-
momento, novas denominações aos Cen- -se a identidade de cada instituição, com a
tros Infantis, passando a chamarem-se CE- participação da comunidade e de toda a
MEIs2 e mantendo o atendimento integral equipe educacional e propõem-se a conti-
às crianças até 6 anos. nuidade de um diálogo com a comunidade
educativa, podendo ser revisitado, debatido
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- e ressignificado continuamente.
cação Nacional, Lei nº 9394/96, os profis-
sionais da educação ganham força e se mo- A transformação, rumo ao reconhecimen-
bilizam, envolvendo todos os segmentos to da autoria e capacidade criadora de crian-
da Educação Infantil para a escrita de uma ças e adultos, no movimento pedagógico de-
orientação curricular. Com este objetivo sencadeado pela construção e a existência de
constituiu-se uma comissão3 que, por meio um documento como este na Rede Municipal
de estudos de textos acadêmicos nessa área de Campinas, indica, hoje, a necessidade de
e pesquisas do cotidiano e em diálogo com um novo currículo, no qual se trabalha neste
as Unidades Educacionais, elaboraram o momento, em que a vivência recriadora do
documento intitulado “Currículo em Cons- mundo seja de vez reconhecida e privilegia-
trução” (1998). da no processo educacional. Um currículo é
um espaço educativo em que as crianças “(...)
O “Currículo em Construção” apresenta possam aprender sobre o mundo em que vi-
aspectos teóricos de autores como Piaget, vem, um mundo múltiplo e cheio de surpre-
Vygotsky e Wallon, explicita o histórico da sas” (GALLO, 2001, p. 39).

2  Com o decreto nº 11.051 de 23/12/92, artigo 1º as Unidades de


O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei
Educação Infantil tem as modalidades de atendimento sócio educa- nº 10.172/2001, estabeleceu metas decenais
cional denominadas:
CEMEIs – Centro Municipal de Educação Infantil para que, até 2011, a oferta da Educação In-
EMEIs – Escola Municipal de Educação Infantil
CIMEI – Centro Integrado Municipal de Educação Infantil fantil atingisse 50% das crianças de zero a
3 Uma comissão composta por todos os segmentos profissionais três anos e 80% das crianças de quatro e cinco
da Educação Infantil pública do município de Campinas (Supervisor
Educacional, Coordenador Pedagógico, Diretor Educacional, Vice anos. Essas metas são, ainda hoje, um grande
Diretor, Orientador Pedagógico, Professor, Monitor Infanto - Juvenil,
Administrador de Creche). desafio a ser enfrentado pelo país, inclusive

10
DAS HISTÓRIAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL EM CAMPINAS

pelo município de Campinas, no que se refere Agrupamento I – crianças de 03 meses a 01


às crianças de zero a três anos. As duas gran- ano e 11 meses; Agrupamento II – crianças
des demandas que caracterizam a Educação de 2 a 3 anos e 11 meses; Agrupamento III
Infantil nestes 70 anos são a quantidade de – crianças de 4 a 6 anos. Esta organização
vagas e a qualidade do atendimento. multietária foi implementada na Educação
Infantil municipal. Houve um acréscimo de
Em relação à idade da criança na Educa- aproximadamente 35%5 na oferta de vagas,
ção Infantil, a Lei 11.274 /20064 ampliou a após 04 anos de sua implementação.
duração do Ensino Fundamental de oito para
nove anos e houve nova regulamentação A partir da implementação dos Agrupa-
quanto à matrícula obrigatória para crianças mentos multietários, os educadores precisa-
a partir de seis anos, que passam a frequentar ram repensar suas práticas. Sobre a temática
o primeiro ano do Ensino Fundamental. da organização multietária faz-se necessário
coletivizar pesquisas e estudos que possibili-
A Emenda Constitucional 53/2006 re- tem pensamentos e proposições6.
definiu a faixa etária da Educação Infantil
de zero a cinco anos de idade e a Emenda Nesse enredo conjugador de tantas trans-
Constitucional 59/2009 modificou obrigato- formações, novas ações junto ao movimento
riedade escolar, adotando a faixa etária entre curricular vão se delineando na Rede Muni-
quatro a dezessete anos, a ser cumprida até cipal de Educação Infantil de Campinas em
2016 pelos entes federados. forma de estudos, congressos, documentos,
seminários, palestras, oficinas, mostras.
Com relação ao financiamento da Educa-
ção, a partir dos anos 2000, outras mudan- Em 2007, a discussão temática “Estudos
ças na legislação e na política educacional avançados em Educação Infantil: o Currículo
envolveram a Educação Infantil. Dentre elas, em Construção em movimento”, ministrada
a substituição do Fundo de Manutenção e para todos os profissionais da Educação In-
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e fantil, proporcionou debates/sínteses no in-
de Valorização do Magistério (FUNDEF) pelo terior das Unidades Educacionais e culminou
Fundo de Manutenção e Desenvolvimen- em novos encaminhamentos para a discus-
to da Educação Básica e de Valorização do são curricular como as “Diretrizes Curricu-
Magistério (FUNDEB), que inclui a creche, a lares para o Trabalho Pedagógico com Lei-
pré-escola e as instituições conveniadas no tura e Escrita na Educação Infantil” (2008), o
direito ao financiamento previsto em lei, ad- Seminário de Educação Infantil “Arte-Crian-
vindo do governo federal. ça” (2009) e a “Proposta Curricular da Educa-
ção Básica–Educação Infantil” (2009).
A implementação dos Agrupamentos
Multietários foi formalizada através da re- No documento “Diretrizes Curriculares
solução SME nº. 23/2002, publicada em para o Trabalho Pedagógico com Leitura e
Diário Oficial do dia 13/11/2002, pela qual Escrita na Educação Infantil” explicita-se a
as crianças deveriam ser matriculadas e di-
vididas em turmas por idade aproximada: 5  De acordo com ROCHA, Ana Cláudia. As ações da Prefeitura
Municipal de Campinas frente à demanda por vagas na Educação Infantil
(2001-2008). Dissertação de Mestrado: UFSCAR, 2009.
4  que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional dispon- 6  Contrariando a idade: condição infantil e relações etárias entre
do sobre a duração de 09 (nove) anos para o ensino fundamental com crianças pequenas na Educação Infantil. Patrícia Dias Prado, 2006.
matrícula obrigatória a partir dos 06 (seis) anos de idade. FE. UNICAMP

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

aquisição da linguagem, aborda o letramento ção Infantil”, que avança nos pensamentos e
e subsidia estudos e reflexões aos profissio- ações do “Currículo em Construção”, tendo
nais da Educação Infantil, principalmente aos como referencia o cotidiano teórico-prático,
que trabalham com crianças na faixa etária construído pelos profissionais da Rede Muni-
de três a cinco anos. cipal de Ensino de Campinas.

Como continuidade às reflexões sobre Assim...


Educação Infantil, em fevereiro de 2009,
acontece o Seminário de Educação Infantil Novas histórias, novos tempos, outras
“Arte-Criança”, na forma de oficinas que vi- gerações de educadores irão viver e contar
sam sensibilização estética e lúdica dos edu- as histórias possíveis, feitas em momentos
cadores, possibilitando uma diversidade de de transformações, de coesão de princípios
olhares sobre produções artísticas. e ideais, mas também nas brechas da diver-
sidade, do possível, do contexto que ainda
Em 2009, também é elaborada uma “Pro- irá se vislumbrar na relação com as políticas
posta Curricular da Educação Básica–Educa- públicas voltadas à Educação Infantil.

Eduardo – 3 (três) anos e 6 (seis) meses

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CRIANÇA, CURRÍCULO, INFÂNCIA:
PRÁXIS EDUCACIONAIS INVENTIVAS

A área da Educação Infantil possui espe- Eleger o aspecto cultural como princípio, meio
cificidades que, na elaboração curricular, exi- e fim desta proposta de Currículo que esta-
ge estudos e reflexões aprofundados no que mos construindo, nos remete diretamente à
concerne à educação dos bebês e das crian- ampliação e extensão deste conceito, enten-
ças pequenas. dendo-o agora como o processo responsável
pela Humanização.
Trata-se neste documento da elaboração
das Diretrizes Curriculares para o trabalho Compreende-se por Humanização os in-
com crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos e vestimentos desencadeados pela vida em
11 (onze) meses, conforme estabelece o Re- sociedade, os quais possibilitam a produção
gimento Escolar Comum das Unidades Edu- cultural em todas as esferas das vivências e
cacionais da Rede Municipal de Ensino de experiências humanas. Currículo é tudo que
Campinas, Portaria SME nº 114/2010, com se dá, se estabelece, se planeja, se discute, se
ênfase necessária à educação dos bebês, mui- projeta, se vive, se experiencia, constituin-
tas vezes subsumida dos estudos teóricos e do-se história de vida. Conforme Goodson,
práticas cotidianas. Assim, neste documen- espera-se que “o currículo se comprometa
to, optou-se por referir-se a “bebês e crianças com as missões, paixões e propósitos que as
pequenas”, sem mencionar a todo o momen- pessoas articulam em suas vidas. Isto seria
to as faixas etárias. verdadeiramente um currículo para empode-
ramento” (2007, p. 251). Enfim, o currículo é
Currículo na Educação Infantil da Rede vivo, é libertador, é comprometido, é inova-
Municipal de Ensino de Campinas é consti- dor, é transgressor...
tuído na relação que se dá no âmbito educa-
tivo com as crianças, suas famílias e as equi- Nessa dinâmica interativa os adultos, ao
pes educacionais, no mundo da cultura, con- se relacionarem nos espaços educativos,
siderando todos os sujeitos socioculturais também vivenciam a dimensão de sua pró-
que produzem culturas. Nesta perspectiva, pria educação de educador de crianças, cons-
enfatiza-se que as relações constituem os su- tituindo o currículo que na ação possibilita a
jeitos históricos presentes no cotidiano. Para educação dos bebês, das crianças pequenas
explicitar esta concepção, reporta-se ao do- e dos adultos nesse processo de construção
cumento “Currículo em Construção” (1998, coletiva, de forma singular. Assim, currículo
p. 39), no qual: é construção e se dá nas relações.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

(...) a Educação Infantil é constituída de rela- Pode-se dizer que a concepção de currícu-
ções educativas entre crianças-crianças-adultos lo, ora empregada, não coaduna com uma im-
pela expressão, o afeto, a sexualidade, os jogos, posição centralizada de diretrizes que visem
as brincadeiras, as linguagens, o movimento homogeneizar a educação dos bebês e das
corporal, a fantasia, a nutrição, os cuidados, os crianças pequenas, nem tampouco é baliza-
projetos de estudos, em um espaço de convívio mento ou demarcação genérica na qual quais-
onde há respeito pelas relações culturais, sociais quer práticas se juntam inadvertidamente.
e familiares (BARBOSA, 2006, p. 25).
As Diretrizes Curriculares, aqui apresen-
Ressalta-se que Currículo aqui não é trata- tadas, integram-se às perspectivas de singula-
do como rol de conteúdos a serem trabalha- ridade, compondo movimentos educacionais
dos por todos os profissionais de Educação que a engendram e se expressam na diver-
Infantil e aprendidos por todos os bebês e as sidade individual e sociocultural. Essa rela-
crianças pequenas. Claro também fica que ção com as multiplicidades, visa privilegiar a
não se trata de um conjunto de orientações potencialidade criadora de cada ser humano,
e propostas etapistas, elencadas por adultos junto a processos educativos que pulsam nos
que esperam determinadas manifestações entremeios, no âmago das experiências, e
nos bebês e nas crianças pequenas, em uma não em resultados predeterminados.
idade específica ou em tempo definido. Tam-
bém não se trata de atividades que se pre- Ressalta-se tratar de um movimento co-
tende desenvolver, tendo em vista determi- letivo que sintetiza princípios, concepções
nadas prontidões que esperam que eles pos- de criança, infâncias, Educação Infantil,
sam ter em outro nível de ensino; bem como educador, espaço físico e metodologias, fir-
não se trata também de pautar o trabalho na mados nos Projetos Pedagógicos das Unida-
sequência de datas comemorativas, sempre des Educacionais.
desprovidas de sentidos para as crianças. Se-
gundo Barbosa e Horn, (2008, p. 38), As Diretrizes Curriculares não são pres-
crições. Norteiam as práticas pedagógicas,
(...) alguns meses do ano, as crianças ficam levando-se em conta que conhecimentos se
continuamente expostas àquilo que podería- dão nas relações múltiplas que se estabele-
mos chamar da indústria das festas. Elas se cem no cotidiano. Apontam caminhos para
tornam objetos de práticas pedagógicas sem todos seguirem, de acordo com sua capacida-
o menor significado, que se repetem todos os de criadora e inovadora, considerando a es-
anos da sua vida na Educação Infantil, como pecificidade de cada comunidade educativa.
episódios soltos no ar. Os conhecimentos sobre Portanto, Diretriz Curricular se constitui em
os conteúdos das festividades são fragmenta- princípios que orientam o trabalho educativo
dos e, muitas vezes, simplórios. e currículo é o que se configura no cotidiano.

Há em curso um movimento de supera- Barbosa (2009, p. 50) concebe currículo


ção das datas comemorativas como nortea- como:
doras do currículo, que envolve o combate
ao consumismo, sem perder de vista a laici- “construção, articulação e produção de apren-
dade da educação pública, visando ampliar dizagens que acontecem no encontro entre os
repertórios culturais, com a aproximação das sujeitos e a cultura”, tendo como foco as crian-
comunidades do entorno. ças em suas relações. Assim: Um currículo

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CRIANÇA, CURRÍCULO, INFÂNCIA:PRÁXIS EDUCACIONAIS INVENTIVAS

emerge da vida dos encontros entre as crian- -adultos, às quais são atribuídos sentidos e
ças, seus colegas e os adultos e nos percursos os constituem enquanto sujeitos históricos,
no mundo (...) criadores de culturas.

O currículo, portanto, não será compreendido Barbosa afirma que o conhecimento:


como prescrição, mas como ação produzida en-
tre professoras e crianças, na escola, tendo por (...) para além da fragmentação da racionali-
base os princípios educativos. dade ocidental contribui para a compreensão e
a valorização do pensamento das crianças como
No Parecer CNE/CEB 20/2009, sobre as um outro modo de pensar. Nem inferior, nem
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educa- inverossímel, mas um outro jeito. As crianças
ção Infantil (DCNEI) está explicitado que o pensam – na corporeidade de suas mentes e de
currículo se refere “a práticas educacionais suas emoções – a partir da ação, da fantasia,
organizadas em torno do conhecimento e em da intuição, da razão, da imitação, da emoção,
meio às relações sociais que se travam nos das linguagens, das lógicas e da cultura. São
espaços institucionais e que afetam a cons- muitos os modos de aprender e de produzir co-
trução das identidades das crianças” (MEC, nhecimento (BARBOSA, 2009, p. 48).
p. 06). As Diretrizes Curriculares elaboradas
neste movimento envolvem as crianças nas Também estas Diretrizes Curriculares indi-
suas experiências familiares, além da institui- cam a certeza de que há um “o que fazer” para
ção de educação infantil, e experiências coti- o adulto. Um fazer que respeite a infância
dianas com a cultura produzida e reinterpre- plena a qual as crianças têm direito. O fazer
tada. Estas Diretrizes englobam arte, ciência mencionado refere-se a contar muitas histó-
e tecnologia em projetos que possibilitam rias, oportunizar muitas formas de expressão
as vivências práticas planejadas e avaliadas artística e sensorial, o cuidar, o alimentar, pro-
constantemente pela comunidade educativa porcionar jogos dramáticos, danças, músicas,
– crianças e adultos. organizar ambientes desafiadores, disponibili-
zar variados materiais, brinquedos, objetos, li-
O movimento curricular municipal está vros, construir projetos coletivamente. Enfim,
subordinado às Diretrizes Curriculares Na- assumir o papel de pesquisador, mediador,
cionais da Educação Infantil (DCNEIs) apro- estudioso que escuta atentamente e considera
vadas pelo Conselho Nacional de Educação as crianças nas suas múltiplas manifestações,
em 2009 (Parecer CNE/CEB nº 20/2009 e que busca a ampliação do repertório cultural
Resolução CNE/CEB nº 05/2009) as quais e que oferece às crianças possibilidades de sair
têm caráter mandatório. Tais Diretrizes fo- do comum e entrar no surpreendente, no ma-
ram elaboradas em um movimento partici- ravilhamento das diversas formas de expres-
pativo no país e possibilitam aos municípios são e sentimento.
a construção de suas propostas curriculares.
Campinas assume, neste documento, a cons- Assim,
trução de suas Diretrizes Curriculares Muni-
cipais em consonância com as DCNEIs. (...) respeitar a especificidade do seu momento
de vida infantil significa preservar seu modo
Nestas Diretrizes concebem-se conheci- poético de abarcar o vivido, sua maneira ime-
mentos como experiências vivenciadas por diata e lúdica de enfrentar o mundo e a si
crianças-crianças, crianças-adultos e adultos- mesma. Implica considerar pedagogicamente

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

o modo singular de cada criança no seu en- lar, ou seja, desenhar não se sobrepõe a lavar
contro com o mundo, maravilhando-se ou hor- as mãos para se alimentar e trocar fraldas é
rorizando-se criando e inventando significados tão importante quanto contar uma história.
que ultrapassam o sentido único, no desafio
de conhecer a si própria, no ato de imaginar, Historicamente têm-se referências mar-
interpretar e constituir realidades. O modo cantes no campo do currículo. A psicologia
poético é como a criança expressa seu jeito si- de forma enfática, na década de 70. A socio-
multaneamente particular e universal de ser e logia marxista com a teoria crítica, na década
estar no mundo, seu jeito de falar do mundo de 80. Atualmente, há um movimento rela-
como uma maneira de falar de si. (RICHTER, cionado às transformações que vêm ocor-
2004, p. 32) rendo na sociedade globalizada econômica,
cultural e geograficamente, diminuindo dis-
Para uma concepção de infância, que pre- tâncias espaço-temporais, provocadas pelos
serve “o modo poético de abarcar o vivido”, avanços tecnológicos e econômicos que rom-
como propõe Richter, se faz necessário Dire- pem com os interesses locais.
trizes Curriculares, que apontem princípios a
impulsionar a criação no processo educativo Na dimensão curricular há indubitavel-
e “muito mais do que metodologias e méto- mente um hibridismo de ideias e concepções.
dos (...) exige de docentes e educadores a co- Na elaboração destas Diretrizes Curriculares
ragem de reinventar a si mesmos, reinvenção da Educação Infantil revisita-se o “Currículo
que passa pela experiência de imaginar-se e em Construção” (1998), que baliza este mo-
fazer-se” (FRONCKOWIAK & RICHTER, vimento no que se refere à dinâmica parti-
2005, p. 4). cipativa de sua elaboração, englobando os
avanços das Pedagogias das Infâncias e a
Esta concepção difere da de um currículo multiplicidade das experiências locais. Ino-
prescritivo, no qual os profissionais são me- va no que anseia incorporar a Sociologia da
ros executores de um roteiro predetermina- Infância7, numa constante busca de entender
do para trabalhar cor, nomeação e sequência os dados fornecidos pelas crianças, como su-
de letras, figuras geométricas, pintura de de- jeitos sociais e históricos.
senhos prontos, cidade e campo, quantidade,
tamanho, datas comemorativas, exercícios Pedagogia das Infâncias refere-se à es-
motores. tudos das práticas educativas voltada para a
infâncias, as quais se constituem em diferen-
Todas as experiências cotidianas de cui- tes tempos, lugares diversos, que se configu-
dados educacionais compõem o currículo, ram e reconfiguram nas múltiplas relações
como: carinho, beijo, toque, banho, trocar cotidianas. Para compreender essa pluralida-
fraldas, descansar, dormir quando tiver von- de de infâncias e as relações que se estabele-
tade, calçar os sapatos, vestir a roupa, arrumar cem, faz-se fundamental o apoio da sociolo-
a sala, locomover-se, alimentar-se, passear, gia da infância, que estuda as relações so-
cantar, escalar, pular, escorregar, brincar, con- ciais das culturas de pares, das crianças entre
versar, pintar, modelar, desenhar, dramatizar, elas e delas no mundo, compondo amizades,
escrever, pesquisar, dentre tantas outras práti- conflitos, curiosidades, gostos, sentidos, pra-
cas, intencionais, que na instituição de Educa- zeres, brincadeiras, imaginação.
ção Infantil são planejadas e avaliadas, com a
mesma importância na configuração curricu- 7  Para aprofundamento ver CORSARO (2011).

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CRIANÇA, CURRÍCULO, INFÂNCIA:PRÁXIS EDUCACIONAIS INVENTIVAS

O processo educativo pautado na so- definir, de modo consensual, valores, objetivos,


ciologia da infância referencia-se em dados prioridades, e ideias sobre como é a rede para
oriundos das próprias crianças em seu tem- a infância e sobre como deveria ou poderia ser.
po, com suas linguagens. Demanda do adul-
to sensibilidade especial para a escuta aten- E ainda, qualidade negociada “significa
ta, para o sentir acurado, implica em análise (...) reconhecer a natureza ideológica, valo-
constante da rativa da qualidade e considerar o embate
entre pontos de vista, ideias e interesses um
(...) complexidade das infâncias, instigando- recurso e não uma ameaça” (ibidem, p. 15).
-nos a investir nos saberes das próprias crian-
ças, não para reafirmar as incapacidades que A concepção de currículo aqui presente
a elas foram atribuídas, mas para destacar um pressupõe intencionalidade ao planejar os
conjunto de peculiaridades positivas que dife- tempos cotidianos e os espaços internos e
rem as crianças dos adultos (MARTINS FI- externos para além das próprias Unidades
LHO & PRADO, 2011, p. 02). Educacionais, as disponibilizações múltiplas
e inesgotáveis de materiais, a qualidade da
Hoje o currículo não se pode abster de relação cuidadosa de escuta e olhar atentos
considerar objetivamente questões: locais, aos bebês e às crianças pequenas, que inven-
regionais, étnico raciais, diferenças sociais, tam, criam, transgridem, transformam, brin-
de gênero, laicidade da educação pública, cam e produzem culturas.
sustentabilidade, idades, consumismo e de-
ficiências de crianças e adultos, que envol-
vem outras políticas sociais e públicas que Manifestações expressivas dos
permeiam as políticas educacionais; junto a bebês e crianças pequenas
essas busca-se, neste processo, firmar cole-
Ao nascerem, as crianças são mergulhadas
tivamente as Diretrizes Curriculares da Edu-
no mundo da cultura, estabelecem múltiplas
cação Infantil.
relações e a reinventam em sua confluência
Neste âmbito, a elaboração deste docu- das experiências que realizam cotidiana-
mento busca uma educação de qualidade mente. Produzem sentidos, significados e
negociada, socialmente construída, que se reconfiguram o mundo na multiplicidade de
pauta em direitos, necessidades, demandas, relações. Para tanto, exige-se uma postura in-
conhecimentos e potencialidades de bebês, vestigativa do profissional, que considere as
crianças pequenas e adultos. crianças protagonistas, criadoras, inventoras,
transgressoras, que tem no brincar o consti-
Segundo Bondioli (2004, p. 14): tutivo do humano, ao contrário de uma con-
cepção pré-determinista que prevê o que as
(...) qualidade (...) não é um valor absoluto, crianças realizarão.
não é adequação a um padrão ou a normas
estabelecidas a priori e do alto. Qualidade A educação de crianças produtoras de cul-
é transação, isto é, debate entre indivíduos turas pressupõe um profissional que transcen-
e grupos que têm um interesse em relação à da questões como: “se alfabetiza ou não na
rede educativa, que têm responsabilidade para Educação Infantil”, “se prepara ou não para
com ela, com a qual estão envolvidos de al- o Ensino Fundamental”, “se é esse ou aquele
gum modo e que trabalham para explicitar e que limpa o bumbum das crianças” e que bus-

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

quem produzir conhecimentos sobre as Peda- Distanciam-se desta concepção, exercícios


gogias das Infâncias, a partir de indagações do motores de escrita, lições de casa, cópias
cotidiano que se vivencia, ao invés de apenas de modelos, desenhos e enfeites estereoti-
consumir o saber alheio. Para isso se faz ne- pados, alfabeto e numerais destituídos de
cessário o acesso a bens culturais, o exercício contexto.
do olhar atento aos bebês e crianças pequenas
e à documentação dessas práticas, visando a Constitui este currículo as relações entre
produção de conhecimentos por aqueles que bebês, crianças pequenas entre si e com os
realmente conhecem as infâncias. adultos: danças, piruetas, músicas, brincadei-
ras, rodas cantadas, descanso, dramas, choros,
Ao retomar as questões “se alfabetiza ou risos, descobertas, limpar bumbum, misturas,
não na Educação Infantil”, “se prepara ou não histórias, contos, parlendas, emoções, bal-
para o Ensino Fundamental” a temática letra- bucios, alimentação, melecas, soneca.... Es-
mento provoca muitas discussões na área da tes elementos trazem sentidos e significados
Educação Infantil. Aqui ele é entendido como múltiplos à experiência única da infância às
constitutivo de uma educação intencional ao crianças da Educação Infantil de Campinas,
experienciar a função social da escrita. As re- em rede de relações permeadas de sentidos
lações cotidianas com bebês, crianças peque- múltiplos, pois “o conhecimento só é conhe-
nas, adultos, familiares, compõem uma dinâ- cimento quando está organizado, relacionado
mica interativa com a cultura letrada, viven- com as informações e inserido no contexto
ciada intensamente e presente nas situações destas” (BARBOSA e HORN, 2008, p. 38).
do cotidiano. Não é a codificação e a decodifi-
cação da letra que compõe o currículo de Edu- Esta concepção de currículo está longe de
cação Infantil, mas a experiência e as relações ser subjetiva, pois garante que os bebês e
da criança com a escrita, assim como com to- as crianças pequenas sejam respeitados em
das as linguagens em igual importância. seu movimento criativo e sensível, que te-
nham acesso ao mundo da cultura, que não
A contação de histórias, a literatura, re- sofram preconceitos e discriminações e,
ceitas, notícias, poesias, textos produzidos mais ainda, que sejam preservados na expe-
individual ou coletivamente com as crianças, riência das infâncias. As crianças estarão em
comunicação entre a unidade educacional e contato com um mundo amplo das artes e
a família, a identificação dos objetos pessoais das culturas para desenvolverem entre elas
dos bebês e das crianças pequenas, a docu- e com os adultos, projetos de conhecimen-
mentação, as formas de expressão artística, tos desafiantes, nos quais leitura e escrita fa-
as práticas simbólicas assumem seu lugar. rão parte desse movimento como mais um
elemento criativo.
Na Educação Infantil valoriza-se a expe-
riência corporal na relação com o letramen- Essa concepção de currículo já acontece
to, sendo os textos narrativos, poéticos ou em muitos lugares do mundo e em muitas
científicos, tão importantes quanto a fala, a Unidades Educacionais da RMEC e rompe
pintura, o som, o desenho, o movimento, com os pensamentos e as práticas da escola
enfim, tudo o que incorpora a imaginação8. tradicional. Trata-se de uma concepção de
currículo voltada para as relações inovado-
8  Para aprofundamento sobre este assunto recomenda-se a leitu- ras, tendo em vista ressignificar a cultura pe-
ra da revista PRO-POSIÇÔES, FE-UNICAMP, Campinas, V. 22, n. 2
(65), maio-ago, 2011. las culturas infantis.

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CRIANÇA, CURRÍCULO, INFÂNCIA:PRÁXIS EDUCACIONAIS INVENTIVAS

Tecer fios ... Projetar caminhos... A ação dos profissionais que desenvolvem
projetos exige atenção e sensibilidade aos
As Diretrizes Curriculares de Educação sinais de interesses que as crianças apresen-
Infantil opõem-se a concepções espontaneís- tam. Necessitam prioritariamente de olhar
tas e etapistas desconsiderando o desenvol- aguçado, que se materializa por meio de
vimento das crianças em fases lineares pre- observações e registros constantes dos acon-
determinadas e consideram as relações coti- tecimentos. Os bebês, que estão no proces-
dianas como seu constitutivo, incorporando so de aquisição da linguagem oral mostram
ações como alimentar, higienizar, acalentar, através de outras linguagens, especialmente
tocar, com igual importância às atividades a corporal, as pistas por onde o projeto tra-
organizadas em projetos outros, que envol- ça seu caminho, pois “(...) os pequenos fa-
vam artes e conhecimentos científicos, desde lam com os olhos e com os seus silêncios”
que não dicotomizados. (FRABBETTI, 2011, p. 40).

Portanto, demandam planejamento inten- O desafio do trabalho com projetos é cons-


cional e avaliação constante dos profissionais tante, pois é preciso buscar informações sobre
para com todos os tempos dos bebês e crian- as temáticas que eles suscitam e variadas for-
ças pequenas, que são diferentes dos tempos mas de linguagens que motivem os bebês e as
dos adultos. Há que se ressaltar que “banho crianças pequenas, na proposta em que se tra-
planejado” não significa nomear as partes do balha, estuda, investiga, experiencia. Um pro-
corpo mecanicamente, mas estabelecer re- cesso pedagógico, que implica em relações de
lação plena naquele momento educativo de parceria frente ao conhecimento, curiosidade,
cuidado e atenção. desejo, demanda um profissional que respeita
e acolhe as culturas infantis.
O trabalho com projetos é uma das pos-
sibilidades da efetivação destas Diretrizes Os projetos possibilitam a integração
Curriculares nas Unidades Educacionais entre as turmas da Unidade Educacional e
municipais de Educação Infantil. Entende- a comunidade, uma vez que as vivências
-se como projeto aquele trabalho em que a envolvem o cotidiano da Educação Infantil
escolha do objeto de estudo irá partir da rea- e transbordam os espaços das instituições
lidade em que o grupo de bebês e crianças educativas9.
pequenas está inserido, aquilo que irá des-
pertar a curiosidade, a vontade de investigar, Trabalho educativo com projetos dife-
de conhecer mais profundamente, de olhar, rencia-se das práticas com “temas gerado-
de sentir, de experimentar o entorno. Impli- res” ou “centros de interesses”, e compatibi-
ca também, na flexibilidade dos profissionais liza-se com outras propostas cotidianas, tais
que estão à frente de cada turma, pois não como atividades de artes plásticas, histórias
será possível mais pautar-se nos modelos variadas, músicas, passeios, cuidados, brin-
de planejamentos prescritivos, mas sim, em cadeiras, etc., que façam parte do dia a dia,
adotar práticas narrativas de situações coleti- sem no entanto, estarem ligadas diretamen-
vas do cotidiano nas quais sente-se, pressen- te ao projeto.
te-se, lê-se, intuí-se, constata-se que há um
interesse cognoscente, fios e pistas são levan-
tados como horizontes de possibilidades das 9  Para aprofundamento sobre a proposta com projetos na Educação
Infantil, sugere-se a leitura dos seguintes livros: PARK et al., 2005; e
tessituras do cotidiano. BARBOSA e HORN, 2008.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Significa pois, considerar o princípio da trabalho pedagógico e para avaliação do desen-


atenção as necessidades e desejos dos be- volvimento das crianças, sem objetivo de sele-
bês e das crianças pequenas, sem definir ção, promoção ou classificação... (MEC, 2009).
aprioristicamente o que será tratado e estar
aberto ao imprevisto, ter postura investiga- O planejamento engloba a intencionalida-
tiva e manter constância na documentação de das ações e formas de registro e avaliação,
do processo experienciado, a qual pode ser que apontam para o seu redimensionamento
apresentada à comunidade educativa como constante. É importante relacionar e docu-
momento de culminância do projeto. Estar mentar o movimento das práticas educati-
aberto ao imprevisto não significa ausência vas em que o profissional atento, percebe e
de planejamento, mas sim considerar, que: acolhe o que mobiliza o interesse dos bebês
e das crianças pequenas e, no processo de
A prática educativa deve ser previamente or- avaliação, movimenta continuamente suas
ganizada para evitar o improviso, mas permitir ações educativas.
o imprevisto, possibilitando que os pequenos se
tornem crianças e vivam a infância... Destacam-se três aspectos importantes de
avaliação na Educação Infantil:
O planejamento na educação e aqui, em es-
pecífico, na Educação Infantil de crianças de • Protagonismo dos bebês e das crianças
zero a seis anos, é um dos pilares do trabalho pequenas ao manifestarem seus movi-
pedagógico, para que pense previamente o que mentos cognoscentes, seus processos
e como será o trabalho da educadora/professo- sensíveis, seus prazeres e suas emoções;
ra junto à criança (BUFALO, 1999, p. 120).
• Documentação pedagógica que favo-
rece a continuidade do que as crian-
Quanto à avaliação na Educação Infantil
ças elaboram, sistematizam, criam e
considera-se que é intrínseca ao processo
inventam;
educativo. A instituição define, de maneira
participativa e democrática, princípios de • Ação compartilhada com as famílias,
trabalho, critérios, formas e instrumentos de que contribui para a compreensão dos
realização da avaliação das práticas educati- rumos e a importância da Educação
vas. Na RMEC todo trabalho de planejar e Infantil.
documentar a vivência educativa é organi-
zado e sistematizado no Projeto Pedagógico Nestas Diretrizes Curriculares considera-
de cada Unidade Educacional, que é revisto e -se que a documentação pedagógica cons-
avaliado constantemente em acordo com as titui-se em ferramenta de escuta e olhar
especificidades da unidade, contando com a atento através de diversos meios: relatórios,
participação da comunidade. planejamentos, entrevistas com as famílias,
diário de campo e de classe, ficha de ava-
Processa-se um alinhamento com o Artigo liação descritiva das crianças, registros de
10 da Resolução CNE/CEB nº 05/2009, que tempos pedagógicos, vídeos, gravações, fo-
fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para tografias, painéis, portfólios, livros da vida,
a Educação Infantil, a qual afirma que, entre outros.

(...) as instituições de Educação Infantil devem Enfatiza-se que os profissionais, na inten-


criar procedimentos para acompanhamento do cionalidade de sua ação educativa junto às

20
CRIANÇA, CURRÍCULO, INFÂNCIA:PRÁXIS EDUCACIONAIS INVENTIVAS

crianças, planejam, documentam, avaliam, ção Infantil. Os bebês e as crianças pequenas


refletem, coletivizam os processos pedagógi- demonstram cotidianamente, nos espaços
cos, organizam tempos e espaços criativos e coletivos o quanto a arte e a ciência são in-
instigantes, estabelecem diálogos diversifica- dissociáveis, pois partindo de sua curiosida-
dos entre e com as crianças. de exploram o entorno criando suas teorias e
atribuindo significados às coisas que buscam
Estas ações são constitutivas da Educa- compreender. Os bebês e as crianças peque-
ção Infantil de qualidade, igualitária e rica nas, assim, são cientistas, artistas e filósofos
em sentidos e significados para bebês e na busca de compreensão e apreensão cientí-
crianças pequenas. É possibilidade de vi- fica, poética e estética do mundo, como pro-
venciar diferentes manifestações culturais põem Gandini e Goldhaber (2002).
e artísticas na instituição, que extrapolem
limitados modelos supravalorizados pela Apropriar-se sobre quem de fato são as
mídia e práticas consumistas conhecendo e, crianças com as quais se relacionam os edu-
ampliando repertórios culturais. cadores e os seus conhecimentos, é parte
fundamental do papel que cabe aos profis-
As concepções que orientam este docu- sionais da Educação Infantil para criar um
mento afirmam que a criança desde que nasce ambiente educativo que promova a intera-
se constitui em sujeito sócio histórico e de di- ção, por meio da diversidade de manifesta-
reitos. Nesta perspectiva, vivencia diferentes ções expressivas na vivência da infância, nos
experiências, estabelece relações entre crian- espaços coletivos.
ças-crianças-adultos, aprende, brinca, explora,
cria, imagina, fantasia, transgride, por meio de A Educação Infantil possibilita inúmeras
diversas linguagens: gestual, LIBRAS10, verbal, experiências e aprendizagens em processos
plástica, dramática, musical. Pela fala e ações lúdicos, ou seja, em expressões criadas e re-
do adulto, os bebês e as crianças pequenas criadas no mundo de relações. Portanto, é
têm suas múltiplas linguagens interpretadas importante oferecer condições de escolha aos
e significadas. bebês e às crianças pequenas na vivência co-
letiva, de maneira a surpreenderem-se com as
As múltiplas linguagens são as diferentes descobertas em situações cotidianas como: no
manifestações expressivas presentes nas di- bater de um chocalho, no som de uma buzi-
mensões artísticas e culturais, vivenciadas, na, no aperto de um boneco de borracha, no
produzidas, criadas e recriadas por bebês, movimentar-se num tapete sonoro, na aten-
crianças pequenas e adultos, que se manifes- ção a uma figura na parede, no chão ou no
tam no desenho, pintura, literatura, música, teto, ao fazer um castelo na areia, no diálogo
LIBRAS, escrita, escultura, dança, fotografia, com suas imagens no espelho, ao inventar e
cinema, teatro, poesia, museu, sons, choros, ao fazer múltiplas leituras e escrituras/escri-
movimentos, entre tantas outras possibilida- tas/representações do mundo na leitura de
des, constituindo sentidos e significados para um livro, na escrita espontânea. São situações
todos os envolvidos. em que vivenciam intensamente sua relação
com o conhecimento e produzem cultura.
Não há uma linguagem que se sobrepo-
nha a outra, todas são importantes na Educa- Ressalta-se que na educação dos bebês e
das crianças pequenas, o foco do trabalho
10  Língua Brasileira de Sinais educativo são as situações contextualizadas

21
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

de manifestações artísticas e culturais, ao para a criança, sujeito de direito e protago-


contrário da transmissão de técnicas para a nista, junto às professoras nos processos edu-
promoção de habilidades e competências, cativos. Houve muitas lutas e muitos movi-
tais como: técnicas de pintura, teatro ou a mentos sociais para que se chegasse a estes
codificação e decodificação das letras. termos. Esses movimentos originaram alte-
rações na legislação vigente no país, como
De acordo com esta linha de respeito e va- na Constituição Federal de 1988, no Estatuto
lorização do outro, reiteradamente defendi- da Criança e do Adolescente, na LDB, entre
da neste documento, se faz necessário que os outras leis.
profissionais da educação infantil da RMEC
compreendam a diversidade como um termo Ao constituir-se na primeira etapa da Edu-
que remete a como multiplicidade, varieda- cação a Educação Infantil exige uma grande
de, heterogeneidade ou multiculturalismo, reflexão de todos os profissionais da Educa-
que suscitam pensar em diferentes posicio- ção, e em especial os da Educação Infantil,
namentos, opiniões, comportamentos, cren- quanto ao que isso realmente significa para o
ças, valores, aparências e gostos. trabalho educativo.

Estas Diretrizes Curriculares trazem a A Pedagogia que vai viabilizar a im-


perspectiva da diversidade, propondo que plementação do Currículo a ser vivido na
ações inclusivas sejam privilegiadas e efeti- Educação Infantil transcende o conceito de
vadas nas praticas de escuta dos bebês, das currículo como “caminho a ser seguido”, pas-
crianças pequenas, e também entre os adul- sando pelo conceito de currículo como “nor-
tos nas diferenças étnicas, de gênero, reli- mas reguladoras” e chegando ao de diretri-
gião, crença, deficiência, língua, opinião po- zes, as quais orientam princípios, de acordo
lítica, origem nacional, filiação, entre outros. com a capacidade criadora e inovadora, em
contextos específicos, de cada comunidade
A premissa a ser seguida é o respeito e educativa. Diretrizes não padronizam e nem
o reconhecimento pelo diferente, sem im- definem conteúdos, mas suscitam caminhos
pedir, restringir, diminuir ou desqualificar o com as múltiplas linguagens, em que a arte e
exercício dos direitos, em que ações e pos- a ciência são vivenciadas de forma indisso-
turas inclusivas viabilizam práticas educa- ciável nas relações.
tivas de convivência com a diversidade e
com as diferenças culturais, como propõe Consideram a infância como tempo hu-
Jannuzzi (2001). mano, histórico, social e propõem o diálogo
entre as duas primeiras etapas da Educação
Básica, posto que as crianças que frequen-
Educação Básica: um tam a Educação Infantil são as mesmas que
movimento contínuo entram no Ensino Fundamental. Portanto, se
faz necessário amenizar a ruptura entre estas
Desde a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- etapas, pois não se trata de nomenclaturas,
cação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96 a edu- mas de concepções de infância, de ensino, de
cação das crianças pequenas de zero a seis aprendizagem e de educação. Nesse aspecto,
anos passou a configurar-se no âmbito da é preciso considerar que as crianças que vão
Educação Básica. A Pedagogia da Educação para o Ensino Fundamental não deixam de
Infantil se constitui nesse campo, voltada ser crianças e se faz necessário buscar a intei-

22
CRIANÇA, CURRÍCULO, INFÂNCIA:PRÁXIS EDUCACIONAIS INVENTIVAS

reza desse processo. Aproximar os caminhos nos dois níveis de ensino, pois os interesses e
é uma forma de explicitar o compromisso necessidades são comuns no que diz respeito
com a educação em geral. à leitura, escrita, pensamento lógico, histó-
rias, música, arte, em uma visão de educa-
A educação dos bebês, das crianças pe- ção que exige dos profissionais um olhar que
quenas, das crianças que frequentam o En- considere as singularidades das infâncias e
sino Fundamental tem possibilidades de in- das crianças.
serção, produção e manifestação no mundo
da cultura. Crianças e profissionais como A continuidade entre os níveis de ensino
protagonistas do processo educativo expe- pode ser viabilizada em propostas que visem
riencia múltiplas linguagens e adquire amplo à formação integral das crianças, tendo como
repertório de conhecimento durante todo o parâmetro as Pedagogias das Infâncias.
processo educacional que vivencia.
As Unidades Educacionais de Educação
A sistematização dos conhecimentos Infantil que cuidam e educam com ações
científicos é distante das crianças pequenas, compartilhadas com a família, proporcio-
que aos poucos e em seu tempo, brincam e nam aos bebês e às crianças pequenas, ex-
manifestam de diversas formas a organiza- periências sem divisão disciplinar e âmbitos
ção dos conhecimentos, produzindo um re- hierarquizados, ampliação de seus universos
pertório coerente aos princípios educacionais culturais, dos conhecimentos e suas identi-
vivenciados, mas há que se considerar que dades, considerando os bebês e as crianças
esta indissociabilidade ainda persiste: pequenas como ponto de partida, balizado-
ras do currículo.
(...) o debate em torno das linguagens infan-
tis, das manifestações artísticas e das ciências Este documento tem como premissa opor-
como inseparáveis na formação de todos, como tunizar a discussão junto aos profissionais de
diria Mário de Andrade, ‘espalhados cotidia- educação infantil sobre a inserção dos bebês
namente como ar que se respira’(1998, p. 79), e crianças pequenas no mundo do conheci-
independentemente da faixa etária. Trata-se mento, nas relações de afeto, de prazer, de
de tarefa ainda desafiadora, sobretudo, quan- alegria, de tristeza, da imaginação, do sonho,
do se procura focar a primeira infância (GOB- da brincadeira, da escrita, da ciência, da arte,
BI & RICHTER, 2011, p. 19). de “pintar o caneco”, enfim, tudo junto ao
mesmo tempo... Afinal brincadeira é uma
Nestas Diretrizes Curriculares, os concei- forma de linguagem e linguagem também
tos de infância e de criança são primordiais pode ser uma forma de brincadeira!

23
(TRANS)FORMAÇÃO CONTINUADA:
REFLEXÃO E CRIAÇÃO DO FAZER PEDAGÓGICO

Ao apresentar este documento curricular, Entendendo-se que Diretriz Curricular


a SME propõe caminhos para subsidiar a or- é mais que um documento e que a prática
ganização do trabalho pedagógico realizado pedagógica se constrói a partir do envolvi-
nas Unidades Educacionais. Os pressupostos mento dos profissionais nos processos edu-
e fundamentos dessa proposta já permeiam, cativos e formativos, não apenas baseada
com maior ou menor intensidade, o cotidia- em documentos governamentais, os pro-
no educacional, a partir de relações que não cessos curriculares se constituem pela cons-
são lineares, mas sim constitutivas de um tante reflexão sobre os saberes da prática,
movimento que mantêm vivas as possibili- elaborados na relação entre seus atores no
dades de reflexão, de criação e de transfor- cotidiano, ou seja, entre criança – criança,
mação do fazer pedagógico, tanto no âmbito criança – adulto, adulto – adulto, à luz de
do trabalho de cada profissional quanto no teorias que contribuam para se pensar esse
que se refere às construções coletivas. processo. Esse movimento de ação e refle-
xão possibilita a análise e a construção de
Portanto, considera-se que as indicações conhecimento a partir dos saberes que ema-
apontadas nas Diretrizes Curriculares pre- nam da prática e a criação de novas manei-
cisam ser partilhadas e pautarem-se na rea- ras de fazer no cotidiano da escola.
lização conjunta da Secretaria Municipal de
Educação de Campinas, compreendida pelo A reflexão, análise e síntese do cotidiano,
Departamento Pedagógico (DEPE), Coorde- produz conhecimento sobre os fazeres: os
nadoria de Educação Básica (CEB), Assesso- profissionais de Educação discutem e refle-
rias e Coordenadorias, bem como, às equipes tem sobre suas experiências, lembrando que
educativas dos NAEDs e ao coletivo das Uni- estas constituem o objeto de formação des-
dade Educacionais, assentadas numa gestão tes profissionais, pois, como aponta Alarcão
democrática que tenha como princípios a éti- (2010), são os “casos”, as “narrativas” de cada
ca e a partilha de decisões, visando cada vez profissional que compõem as “perguntas pe-
mais a implementação de ações para a me- dagógicas” e os instigam no processo for-
lhoria no atendimento prestado à comunida- mativo, tornando-os mais competentes para
de, às famílias e às crianças, refletindo direta analisarem as questões de seu cotidiano para
ou indiretamente no currículo vivenciado nas sobre ele agirem.
Unidades de Educação Infantil da Rede.

25
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

A efetivação das práticas dos profissio- da a princípios específicos e que contribua


nais de Educação Infantil permeadas pelos para uma práxis pedagógica.
princípios que compõem um texto curricu-
lar leva a propor a interrelação entre duas Quanto à formação inicial, é importante
políticas: a de currículo e a de formação que todos os profissionais de Educação In-
continuada dos especialistas, professores, fantil tenham formação específica nesta área,
monitores/agentes de Educação Infantil e isto é, a graduação em Pedagogia. Essa não
demais funcionários. é uma realidade plena, já que na Educação
Infantil ainda atuam profissionais que não
Fala-se aqui de uma formação que con- possuem esta formação inicial, estando em
temple as especificidades da ação educativa atuação direta com as crianças, em condições
voltada para bebês e crianças pequenas, pois, de formação e de trabalho diversas.
conforme indica Freitas (2007, p.10) a Educa-
ção Infantil: A implementação de formação inicial e
continuada que considerem a Educação In-
(...) trata-se de um universo com forma própria, fantil como área específica de estudo, como
dentro do qual está a forma-creche. Temos uma direito e dever dos profissionais, bem como
formatação que não se confunde com a for- dever do Estado é uma demanda atual, por-
matação escolar, justamente porque tem uma que “docentes e educadores têm direito a co-
maneira peculiar de construir os seus modos nhecer esses estudos seja na formação inicial
operandi, mas principalmente porque espaço, seja na continuada, para serem defensores do
tempo, organização e práticas são construídos direito à infância” (ARROYO, 2011, p. 187).
no seio das intensas relações que transbordam
da ‘cultura da infância’ quando as crianças Tendo em vista essas implicações, a orga-
ainda não se tornaram expressões inequívocas nização de uma política de formação conti-
da forma- aluno. nuada precisa ser voltada para os profissio-
nais da Educação Infantil, analisar o currículo
Este olhar para a Educação Infantil, com vivido e potencializar a sua implementação a
foco na singularidade de suas crianças, consi- partir das especificidades da ação educativa
dera-as cidadãs que produzem e reproduzem com bebês e crianças pequenas, ao escutar a
a cultura em que estão inseridas. comunidade educativa – crianças, profissio-
nais e famílias – considerando-os protagonis-
Os fundamentos dessas Diretrizes Cur- tas dos processos educacionais.
riculares tratam a Educação Básica como
um contínuo entre a Educação Infantil e o A formação, enquanto qualificação11 dos
Ensino Fundamental, considera a Educação profissionais que trabalham com crianças é
Infantil um espaço e um tempo no qual não considerada como um dos fatores que mais
se escolariza e, sim, prioriza-se as expe- influenciam na qualidade do trabalho das
riências com as manifestações expressivas Unidades Educacionais de Educação Infantil.
e remete a pensar um profissional de Edu- Para tanto, a SME, por meio de sua política
cação Infantil, que se constitui nas relações de formação, considerará a necessidade de
inerentes às especificidades dos bebês e das ações formativas que contemplem a Educa-
crianças pequenas. Para isso se faz neces-
sária uma política de formação continuada 11  “Indicadores de Qualidade na Educação Infantil” (MEC/SEB,
2009), Critérios para um atendimento em creches que respeite os
que responda a esses pressupostos, volta- direitos fundamentais das crianças (MEC/SEB, 2009).

26
(TRANS)FORMAÇÃO CONTINUADA:REFLEXÃO E CRIAÇÃO DO FAZER PEDAGÓGICO

ção Básica tendo, contudo, ações específicas sobre as pesquisas e estudos das infâncias,
que foquem a área. Nesse contexto o plane- pois todos os profissionais são corresponsá-
jamento das ações formativas acontecerá em veis pela qualidade da Educação, cada um
cada Unidade Educacional de acordo com no seu âmbito de atuação.
seu Projeto Pedagógico, articulado com a po-
lítica da SME, tendo como base as Diretrizes A SME objetiva a construção de uma rede
Curriculares de Educação Infantil. de experiências formativas a partir do diálo-
go entre Diretrizes Curriculares e os Projetos
O Projeto Pedagógico, como organizador Pedagógicos das Unidades Educacionais, por
do cotidiano, considera as Diretrizes Curri- meio de ações da Coordenadoria Setorial de
culares de Educação Infantil balizadoras para Formação12, dos Núcleos de Ação Educativa
as ações formativas, tais como: Descentralizada13 - NAEDs - e das Unidades
de Educação Infantil.
• articulação entre Educação Infantil e
Ensino Fundamental; O avanço da qualificação dos profissionais
• consideração das práticas inclusivas e está estritamente relacionado à articulação e
da Educação Especial no Projeto Peda- coesão das ações propostas nos três âmbitos
gógico em colaboração entre o ensino que, ao seguirem os princípios da política de
regular e especial; formação, permitirão a construção de ações
• ações formativas específicas voltadas formativas que tenham fundamentos co-
para as pedagogias das infâncias e lin- muns e coerência com a proposta curricular,
guagens; constituindo a formação em rede.
• articulação entre os programas de
A articulação entre os três âmbitos é im-
formação e as demandas dos Projetos
prescindível na formulação e implementação
Pedagógicos.
da política de formação continuada realiza-
Especificamente no caso dos Monitores/ da pela Coordenadoria Setorial de Formação,
Agentes de Educação Infantil, é necessário cujas ações, ao articular as demandas dos
que haja um tempo remunerado para for- Projetos Pedagógicos das Unidades Educa-
mação, que será realizado exclusivamen- cionais e as políticas oriundas da SME, obje-
te na Unidade Educacional, com o objetivo tivam que elas, enquanto coletivos de apren-
de organização e planejamento do trabalho dizagem, possam se entreolhar e construir o
pedagógico entre seus pares, professores e sentimento de pertença a uma rede munici-
equipes gestoras, considerado espaço forma- pal. Esse mesmo objetivo orienta a formação
tivo. Reforça-se que há necessidade também descentralizada organizada no âmbito dos
de instituir um outro tempo remunerado a NAEDs, com foco mais específico nas de-
estes profissionais de formação continuada mandas regionais.
específica da Educação Infantil, tal qual a to-
O processo de implementação dessas Di-
dos os profissionais da educação.
retrizes Curriculares será subsidiado por es-
O planejamento e organização da for- tudos, grupo de formação, cursos, palestras,
mação continuada contemplam as deman-
12  A Coordenadoria Setorial de Formação propõe e organiza a for-
das e as avaliações vindas da RMEC e con- mação continuada na SME Campinas.

tribuem para a atualização e construção 13  A SME Campinas se organiza em cinco Núcleos de Ação Educa-
tiva Descentralizada – NAEDs, que são responsáveis pela formação
de conhecimentos, ampliando repertórios descentralizada.

27
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

seminários, congressos centralizados e des- O processo de formação continuada tem


centralizados, com o objetivo de fomentar as como referência a articulação entre teoria e
discussões e reflexões acerca dos princípios prática, tendo por objetivo a busca de qua-
explicitados neste documento. lidade da educação dos bebês e das crianças
pequenas, por meio das constantes ressigni-
As Unidades Educacionais, por sua vez, ficações da prática pedagógica. Assim, uma
organizam ações formativas que, realizadas política de formação continuada articulada
em seus tempos e espaços pedagógicos, vi- ao desenvolvimento de um currículo só faz
sam refletir sobre as especificidades, possibi- sentido se subsidiar os avanços dessa práti-
lidades e desafios singulares e regionais. ca sem, no entanto, considerá-la como úni-
co objeto de estudo. É neste sentido que a
Neste processo se faz necessária a existên- teoria, em especial a das pedagogias das in-
cia de um Orientador Pedagógico por equipe fâncias, deve ser considerada também como
gestora, por ser ele essencial para o trabalho fundamento das ações formativas.
com a formação nas Unidades Educacionais,
atuando como referência pedagógica para os A Unidade Educacional como espaço
profissionais, uma vez que fomenta e articula reflexivo se configura como principal lugar
os processos internos àqueles emanados das de constituição dos profissionais da educa-
outras instâncias da SME e à comunidade a ção. Reconhece-se que ela é espaço no qual
qual cada instituição pertence. existe um coletivo que aprende e constrói
conhecimentos que favorecem o refletir, o
O processo de planejamento e encami- planejar, o atuar, o avaliar, o replanejar e a
nhamento das ações formativas centraliza- proposição de ações formativas pelas quais
das e descentralizadas exige o fortalecimento se consolidam os processos dialógicos no
da interlocução entre equipe gestora e toda exercício da práxis.
equipe educacional, a respeito dos processos
educativos que acontecem na Unidade Edu- As formações continuadas são organi-
cacional. Ao Orientador Pedagógico cabe, zadas para proporcionar aos profissionais
conforme o Regimento Escolar Comum das espaço-tempo para estudo, escrita, reflexão,
Unidades Educacionais da Rede Municipal de discussão e publicização dos conhecimen-
Ensino de Campinas, organizar e articular o tos produzidos, individual e coletivamente,
pensamento pedagógico e as ações educacio- constituindo sentidos subjetivos e coletivos
nais, incluindo as de formação e de desenvol- que se traduzam num movimento contínuo
vimento profissional. Esse movimento dá-se vivenciado no cotidiano pedagógico.
em interlocução com o Coordenador Pedagó-
gico, com as equipes educativas dos NAEDs A configuração do trabalho pedagógico
e a Coordenadoria Setorial de Formação. da RMEC, na especificidade da Educação
Infantil, demanda estudos aprofundados em
Ao atuar junto às políticas educacionais, diversas temáticas e áreas de conhecimento,
com as quais se relacionam os processos de for- das quais elencam-se algumas:
mação continuada, o Coordenador Pedagógico
busca favorecer a necessária articulação entre • O trabalho educativo com bebês de 0
os três âmbitos formativos – Coordenadoria Se- a 3 anos
torial de Formação, Núcleos de Ação Educativa • O trabalho educativo com crianças
Descentralizada e Unidades Educacionais. pequenas

28
(TRANS)FORMAÇÃO CONTINUADA:REFLEXÃO E CRIAÇÃO DO FAZER PEDAGÓGICO

• Sociologia da Infância Além das temáticas de estudos aprofun-


• Filosofia da Infância dados é importante assegurar em Calendá-
• Antropologia da criança rio Escolar, no mínimo, 04 formações con-
• Diretrizes Curriculares da Educação tinuadas ao ano. E Para que essa formação
Infantil se viabilize faz-se necessário que, além dos
• Letramento cursos oferecidos pelos âmbitos formativos
• Educação Inclusiva da RMEC, firmem-se parcerias com Univer-
• Pedagogia de Projetos sidades que ofereçam Especialização, Mes-
• Artes/linguagens expressivas – dança trado e Doutorado.
teatro, música, artes plásticas e visuais,
Há que se programar também, palestras,
expressões pictóricas, literatura
encontros, mostras, seminários, fóruns, con-
• Estudo do poético
gressos, cursos centralizados, considerando
• Corporeidade
temáticas gerais da Rede e as especificidades
• Estudos Étnico-raciais
das regiões e das Unidades Educacionais, em
• Tempos e espaços
coerência com as Diretrizes Curriculares de
• Relações interpessoais
Educação Infantil.
• Culturas das Infâncias
• Gênero Sintetizando, é necessário viabilizar a
• Sexualidade todos os profissionais da Educação Infantil,
• Tecnologias constante formação específica da área, a par-
• Brincadeiras tir de um planejamento específico no âmbito
• Registro e Documentação Pedagógica da Unidade Educacional com a remuneração
• Múltiplas Culturas e certificação necessária para a devida valori-
• Processos Avaliativos zação na carreira do profissional.

Eduardo – 3 (três) anos e 6 (seis) meses

29
CONSIDERAÇÕES

Na mesma perspectiva do documento reconhecer, mais e mais a cada dia a gama de


“Currículo em Construção” (1998), o qual diversidade das inventividades possíveis nes-
trazia em si, inclusive em seu título, a di- se espaço e tempo de convívio educativo das
mensão de não ser uma definição, essas Di- produções das culturas infantis. Espera-se
retrizes Curriculares trazem o mesmo cará- que essas Diretrizes contribuam para que, na
ter de abertura, na medida em que apontam ação mediadora dos profissionais, intervindo
caminhos para um cotidiano em devir, não direta ou indiretamente em várias situações,
linear, investigativo, repleto de possibilida- constituam-se em experiências que se conso-
des múltiplas e ainda apresentam referên- lidam no e o Projeto Pedagógico, conforme
cias consistentes a orientarem as práticas orientação das DCNEIs.
educativas, sempre permeadas pelas rela-
ções vivenciadas por todos os profissionais Os bebês e as crianças pequenas ao vi-
que atuam na primeira etapa da Educação venciarem a realidade cotidiana da Unidade
Básica na Rede Municipal de Ensino de Educacional, na esfera pública, junto com os
Campinas – RMEC. profissionais e com suas famílias que tem in-
terlocução nas instituições, remetem a uma
Comprometem-se com a elaboração de trama de relações sobre a qual há muito ain-
Cadernos Temáticos semestrais, a aprofun- da para se compreender e muitas experiên-
dar o movimento reflexivo e transformador cias a serem compartilhadas.
nas especificidades da área da Educação
Infantil, para que todos os profissionais da Sabe-se que a formação para a atuação
RMEC – Monitores/Agentes de Educação In- dos profissionais nesses espaços institucio-
fantil, Professores, Gestores e demais profis- nais de Educação Infantil, ainda não está
sionais, estejam convidados a contribuírem atendida enquanto formação inicial e, nem
com suas experiências a serem compartilha- tampouco, em formação continuada. De-
das e vislumbrarem inovadoras possibilida- manda esforços comuns, políticas públicas
des, aprimorando sempre mais o desenvolvi- mais gerais e específicas da SME, além das
mento do trabalho educativo. condições e princípios básicos apontados no
tópico referente à formação continuada des-
A condição dos bebês e das crianças pe- te documento.
quenas de conviverem em espaços coletivos
com vários adultos, em organização dife- Na RMEC temos concretamente dois pro-
rente da família, em processos de relações fissionais atuando junto aos bebês e crianças
inesgotáveis instiga ao desafio de conhecer e pequenas – professores e monitores/agentes

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO básica para a educação INFANTIL – UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

de Educação Infantil, imbricados num fazer As Diretrizes apresentadas visam orien-


cotidiano de complementariedade, com for- tar as práticas educativas com os bebês e as
mação inicial, número de horas diárias de crianças pequenas que compõem a RMEC,
trabalho, remuneração e carreiras bem dife- mas, por si sós, são insuficientes para garan-
renciadas. Essa é uma questão para a qual há tir o acesso, por direito, de todas as crianças
que se buscar solução, posto que as contra- à educação pública. Igualmente, não rever-
dições deste dado de realidade interferem na tem os processos, em curso, de privatização
fluidez das práticas educativas e se distan- e terceirização da Educação Infantil crescen-
ciam das proposições legais. tes no mundo globalizado.

Há que se destacar, nessas considera- Almeja-se que a Educação Infantil, orien-


ções, que a relação do número de crianças tada por essas Diretrizes Curriculares de
por profissionais é uma das dificuldades da Educação Infantil, resista aos processos ho-
Educação Infantil municipal e que, ao se mogeneizantes das avaliações sistêmicas já
elaborar essas Diretrizes, várias vezes veio impostas em alguns lugares do país e revele
à tona essa temática. Faz-se necessário nas avaliações próprias do Sistema Munici-
atender as orientações nacionais em rela- pal de Educação de Campinas, o alcance das
ção à questão e considerarem-se os estudos propostas pedagógicas, pautadas nas rela-
realizados a partir de 2010, que já apon- ções criadoras da vida e do mundo, para a
tavam a necessidade de revisar os padrões Educação dos bebês e das crianças pequenas.
ora praticados. Torna-se imprescindível
implementar ações que viabilizem adequar Para que seja construída e reconstruída
os módulos, pois a prática cotidiana evi- essa história pedagógica da Educação Infan-
dencia, reiteradamente, a falta de profissio- til pública municipal, é também fundamental
nais nos cargos existentes e a defasagem na que sejam preservados os movimentos cole-
relação quantitativa entre adultos/bebês e tivos com os quais outras histórias serão vi-
crianças pequenas. vidas e serão contadas...

Rafaela – 3 (três) anos e 8 (oito) meses

32
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