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COORDENAÇÃO DE LETRAS

Aula 1- Considerações Gerais acerca da Literatura e sua função

A Condição Colonial

CURSO: Letras - Licenciatura em Línguas Portuguesa e Inglesa


SÉRIE: 5º/6º semestre
TURNO: diurno e noturno
DISCIPLINA: Literatura Brasiliera Prosa
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 3 h/a
CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 60 h/a

1. Considerações sobre a relação Ciência e Arte

Em nosso processo formativo, quando durante o percurso escolar nos defrontamos


com a experiência do conhecimento formal, este é dividido, a grosso modo, em dois
campos – as ciências e as artes. A Educação tem como objetivo precípuo nos preparar
para uma interação social que possa se configurar como sendo civilizada, nesse
sentido, para alguns estudantes em início de formação coexiste uma aparência de que
as coisas mais importantes na dita “vida civilizada” são a ciência e a arte. Você se
pergunta agora: será que isso é verdade? Como metáfora explicativa a essa pergunta
pensemos em um dia comum, em nossa própria vida, nos levantamos, começamos a
preparar nosso dia para o home office, tomamos café, arrumamos a alimentação que
será deglutida durante o dia, alguns leem jornais na internet, outros olham
rapidamente as redes sociais, elaboramos uma lista de atividades a serem realizadas,
assistimos uma série ou filme, dormimos, acordamos e começa tudo novamente no
outro dia.

Destarte, se não somos cientistas profissionais os experimentos realizados em


laboratório não tem grande importância em nossa vida, se não somos escritores,
artistas ou músicos – ou até mesmo professores dessas áreas – as artes vão parecer
preocupação de crianças em idade escolar. Apesar de todas essas questões a
sociedade cita que as grandes glórias humanas foram realizadas por cientistas e
artistas, se tomarmos como exemplo a Grécia antiga, veremos que matemáticos como
Euclides e Pitágoras, poetas como Homero e dramaturgos como Sófocles são
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lembrados até os dias atuais por sua produção, é possível que daqui a dois ou três
mil anos esqueçamos os políticos, celebridades, influencers, youtubers, generais e
demais pessoas que ganharam certa notoriedade momentânea, contudo nomes como
os de: Einstein e Madame Curie, Thomas Mann e Bach manterão nossa memória
coletiva sempre viva.

A pergunta que você estudante de Letras se faz agora deve ser: Por que as Artes e
as Ciências são importantes? A resposta nos parece muito óbvia, mas em um
momento em que tanto as artes quanto a ciência passam por ataques e
questionamento é preciso lembrar que temos o rádio, o avião, a penicilina, a televisão,
o computador, os carros, os telefones celulares, a internet graças a essas realizações
que foram e ainda serão uma espécie de subproduto que emerge da tarefa principal
do cientista. Que tarefa seria essa? A resposta para tal pergunta é ser curioso, pois o
cientista é aquele que continua a perguntar “Por quê?” e não se satisfaz com uma
resposta, está sempre alerta às possibilidades que se apresentam, ele continua a
perguntar: “O quê?”, “Como?” “Quando?”

2. Literatura e função social da arte

Neste sentido, proponho que pensemos em como o ser social é interessante do ponto
de vista do conhecimento, pois estamos sempre em busca da verdade sobre o mundo
em que vivemos, sobre nossa vida, sobre aqueles que nos antecederam. A Literatura
é um modo de pensar a vida, a função social que exerce emerge para além da simples
análise de escolas literárias, autores, obras e contextos. Suas fronteiras são infinitas
e passam os tempos e espaços em um encontro de culturas, histórias, memórias e
vidas. Neste sentido, “Poetas e músicos são especialmente hábeis em expressar
emoções para nós” (BURGESS, 2008, p.13), o que nos preocupa em particular é a
literatura, no entanto, o interesse por outras artes e áreas do conhecimento deve ser
uma premissa para o professor de Letras em formação. Os métodos são variáveis, no
entanto a matéria, que é a Arte se evidencia na fruição estética.

A Literatura Brasileira comporta uma amalgama de obras, autores e contextos


históricos e sociais que lhe moldaram com o passar dos anos, décadas e séculos,
essa diversidade nas linguagens e territórios de escrita criaram uma vasta produção
que se difundiu de maneira, inicialmente, tímida, logo depois ganhou robustez. Em
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nossos estudos iniciais da literatura produzida no Brasil enquanto colônia portuguesa


podemos perceber algumas especificidades que serão abordadas de acordo com o
pensamento crítico de três teóricos e professores de teoria literária que se debruçaram
sobre a questão colonial, sendo eles: Afrânio Coutinho, Alfredo Bosi e Antônio
Candido. Inicialmente faremos a reflexão a partir do pensamento de Coutinho em seu
texto A condição colonial.

Coutinho (2014) diz que o conhecimento produzido no Brasil desde o princípio da


colonização foi uma produção sempre marcada pela busca da definição de algo
próprio. O que se configurou em uma marca da diferença entre a literatura da colônia
e da metrópole. Ele citará também que o elemento diferenciador designado como:
“nacionalismo literário brasileiro” se transformou em uma evolução no pensamento
brasileiro desde a colonização. E dessa progressiva busca de identidade nacional
surgirá uma literatura que irá desempenhar papel fundamental. Em sua reflexão a
literatura brasileira buscou combater a historiografia literária lusa.

Os literatos lusos consideravam a literatura (produção literária) brasileira como ramo


da portuguesa, portanto a prosa doutrinária de Anchieta e Antônio Vieira era tomada
como uma produção com traços distintos da literatura da metrópole, e era possível
percebera a singularidade que lhe conferia status de uma presença significativa de
elementos barrocos. O barroco não encontrou tanta relevância em Portugal, no Brasil
chega possivelmente por influência espanhola, quando entra em contato com nossos
escritores, que eram portugueses que vieram colonizar o país, transculturou-se.
Importa aqui diferir que para Coutinho (2014) a periodização na literatura não deve
obedecer a critérios de ordem política, calcados por exemplo, na dicotomia Colonial vs
Nacional, os critérios devem ser estéticos e estilísticos, visando assim, uma filosofia da
história literária brasileira, um instinto de Nacionalidade. O autor cita Machado de Assis
onde se observa uma consciência ampla e profunda entre: a) Labor literário e b)
Evolução política e social do Brasil

3. Bosi e Candido: a relação literatura e crítica sociológica

O problema das origens de nossa literatura como tendo partido de um “complexo


colonial” de vida e pensamento, pois a “colônia” seria o objeto de uma cultura. Esse
“outro” em relação à metrópole, o que se corporifica na ocupação da terra, exploração
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de nossas riquezas naturais para o mercado externo. O que deflagrou em um lento


processo de aculturação no Brasil do português e do negro à terra e aos povos
originárioas, desencadeando crises e desequilíbrios. Esse fenômeno nativista se
embrenhou como complemento do complexo colonial, logo em seus primeiros
séculos. Os ciclos de ocupação e exploração formaram ilhas sociais nos estados de:
Bahia; Pernambuco; Minas Gerais; Rio de Janeiro e São Paulo, esses estados deram
à colônia seu “arquipélago” cultural, não somente em aspectos geográficos, mas em
sua dimensão temporal.
O país então constituiria um território disperso em subsistemas regionais, uma
sequência de influxos europeus que se tornariam responsáveis por manifestações
literárias e manifestações artísticas do Brasil-Colônia, esse paralelismo seria
disseminado po códigos literários que culminariam em uma vida espiritual e cultural com
caráter híbrido.O decair do prestígio de Portugal e sua autonomia política em 1580
categorizam a metrópole como nação periférica na Europa, a literatura portuguesa
passa a girar em torno de culturas como: espanhola, italiana e francesa, portanto as
letras coloniais são afetadas por tal situação, o Brasil se torna uma subcolônia com
limite de consciência nativista que se configura com a ideologia dos Inconfidentes.
Bosi (2006) alerta para a relação dialética entre metrópole e colônia, sedndo que a
colônia pede de empréstimo as formas de pensar burguesas e liberais francesas, o que
incorre em uma ruptura consciente, esse caminho para modos de assimilação
dinâmicos e propriamente brasileiros são direcionados pelos artistas brasileiros para
um processo de pensar a natureza do colonial.
O condicionamento da totalidade e o fenômeno da mestiçagem indicam reflexões
sociais que se apresentam na produção literária brasileira como produto de uma
colonização. Neste diapasão os textos de informação - textos que documentam
informações não pertencem à categoria do literário (são, portanto, pura crônica
histórica) – o que diferencia questões históricas e estéticas na produção literária.
Candido ( 2007) destaca o momento que vai do século XVI a meados do século XVIII,
em que ocorre uma transposição de modelos literários já consolidados nos sistemas da
literatura europeia. A relação com as múltiplas funções como política, religiosa e
profundamente social, se apresentam no nascimento de uma literatura brasileira,
incorrendo em uma transformação dessa literatura à medida que uma nova sociedade
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também tomava corpo. Nesse período que temos os escritos do “patriarca da nossa
literatura: José de Anchieta (1534-1597)”. Anchieta é responsável pelo primeiro livro
produzido no país, além de produzir peças exclusivamente literárias em quatro línguas
a saber, português, espanhol, latim e tupi, muitas vezes mesclando-as.
O religioso também foi o provocador da valorização do tupi, o que gerou nas
autoridades da época medidas de proibição do uso da língua indígena. Esse é o período
em que as crônicas de viagem, escritos religiosos e a “literatura de senhores”
predominaram quase que absolutamente. A partir das reflexões dos três teóricos
percebemos que o descontentamento do intelectual da colônia com a metropóle só
crescia em sua gênese.

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