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Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN

Curso de Letras
Estudos Literários e Práticas de Ensino de Literatura

CURSO: Letras: Licenciatura em Língua Portuguesa e Língua Inglesa


DISCIPLINA: Literatura Comparada DATA: 24/02/2022
TURNO: Diurno TURMA: LL6A41 e LL7A41
SÉRIE: 6º e 7º semestres ANO/SEMESTRE: 2022/1
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 3 horas/aulas CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 60 horas/aula
PROFESSORA: Graciane Cristina M. Celestino (graciane.celestino@docente.suafaculdade.com.br)
Elaboração: Prof.ª Dra. Graciane Cristina M. Celestino

Introdução à Literatura Comparada: a “escola francesa”


Objeto e Método da L.C – Literatura Comparada

• Introdução a um manual de Literatura Comparada (publicado em 1951 na


França e traduzido para o português em 1956).
• Propõe uma abordagem eminentemente prática da disciplina, expondo
seus objetos característicos e seus diferentes métodos.
• Retoma inúmeras teses de outros comparatistas franceses como:
Baldensperger (1921) e Van Tieghem (1931).

Prefácio de Jean-Marie Carré

• “A noção de Literatura Comparada deve ser mais uma vez esclarecida.


Não se deve comparar qualquer coisa, em qualquer época e em qualquer
lugar.” (CARRÉ, 1956, p. 7)
• “A Literatura Comparada é um ramo da História Literária [...]” (CARRÉ,
1956, p. 7)
• “A Literatura Comparada não é Literatura Geral.” (CARRÉ, 1956, p. 8)

Definição de Literatura Comparada

• “A Literatura Comparada é a história das relações literárias internacionais.


O comparatista se encontra nas fronteiras, linguísticas ou nacionais, e
acompanha as mudanças de temas, de ideias, de livros ou de sentimentos
entre duas ou mais literaturas. Seu método de trabalho deve-se adaptar
à diversidade de suas pesquisas.” (GUYARD, 1994, p. 97)

“Historicismo”
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• “A Literatura Comparada é a História [...]”
• Explicações para a tendência historicista da literatura francesa no século
XIX.
• Revolução Francesa (1789); República (1792); Napoleão (1804-1815);
Restauração (1815 ...).
• Reações ao contexto:
I. Mal du Siècle (tal como expresso por Musset)
II. Várias formas de socialismo.
III. Cientificismo (donde também a ideia de um historicismo científico)

1º Mal du Siècle

• Constatação comum às primeiras gerações do séc. XIX francês:


“Toda doença do século presente vem de duas causas; o povo que
passou por 1793 e por 1814 traz no coração duas feridas. Tudo o que era
não é mais, tudo o que será não é ainda.” (MUSSET, 1888, p. 24)
• Forte tendência historicista dos estudos literários na França
• Na linha de Brunetière (1849-1906), Lanson (1857-1934), Baldensperger
(1871-1958) e Van Tieghem (1871-1948), Guyard considera que seu
objeto de estudo é histórico:
“O comparatista deve ter, portanto, uma cultura histórica suficiente para
recolocar no seu contexto geral os fatos literários que ele examina.”
(GUYARD, 1994, p. 98)

“Literatismo”

• “A Literatura Comparada é a História das relações literárias [...]”


• Ausência de problematização do conceito de “literário” (ou “literariedade”)
“Mas, o comparatista é o historiador das relações literárias. Logo, deve
estar a par, tanto quanto possível, das literaturas de diversos países:
necessidade evidente.” (GUYARD, 1994, p. 97)
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“Nacionalismo”

• “A Literatura Comparada é a história das relações literárias


internacionais.”
• Preocupação com demarcações precisas dos autores nacionais – em sua
relação com outros autores ou com outras literaturas – a fim de
estabelecer o “balanço” do “comércio exterior” entre eles, seus livros e
suas ideias.

“Equipamento” do Comparatista

• Formação histórica, literária e linguística:


“O comparatista deve, portanto, ler diversas línguas. Ele ganhará com isso
pelo fato de poder consultar os trabalhos estrangeiros úteis às suas
próprias pesquisas.” (GUYARD, 1994, p. 98)]
• Inovação com relação às propostas anteriores:
“Mas, no que tange aos contatos de nossos escritores modernos de
línguas estrangeiras, a questão é mais delicada. Quando – e é o que
acontece muitas vezes – o autor francês só tomou conhecimento do texto
estrangeiro numa tradução, basta consultar esta mesma tradução para
fazer todas as pesquisas necessárias.” (VAN TIEGHEM, 1994, p. 94)

Tendência “pragmática” do manual de Guyard

• Exposição dos métodos comparatistas:


1. Agentes do cosmopolitismo (livros e autores)
2. O destino dos gêneros
3. O destino dos temas (stoffgeschichte)
4. O destino dos autores
5. Estudo das fontes
6. Movimento de ideias (imagologia)
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Método prévio: agentes do cosmopolitismo (p. 99-101)

• Estudo das publicações (revistas, jornais, livros, dicionários,


enciclopédias etc.) de uma dada época para se compreender a difusão de
certos textos, ideias e línguas.
• Estudo de cartas, diários e outros escritos “biográficos” de determinado
autor a fim de se certificar sobre seus conhecimentos literários e
linguísticos.
• Busca por contatos comprovados entre autores, livros e ideias, como em
Baldensperger (1994, p. 85) e Van Tieghem (1994, p. 92).

Estudos históricos de recepção: gêneros, temas e autores

• O destino dos gêneros (p.101): definição do gênero e do meio receptor


(delimitado no tempo e no espaço).
• O destino dos temas (p. 103): história dos temas.
• O destino dos autores (p. 104): difusão, imitação; sucesso; influência
(técnica, pessoal, intelectual, temática)

Estudo das fontes (p. 105)

• Compreensão de um autor como receptor de influências externas:


“Se ele tem espírito crítico suficiente, o comparatista se limitará ao
estabelecimento de um balanço: do ponto de vista passivo, ele colocará,
por exemplo, as leituras inglesas de Chateaubriand durante seu exílio em
Londres, do ponto de vista ativo, le génie du christianisme.” (GUYARD,
1994, p. 105)
• “Balanço” literário de um autor: passivo e ativo.

Movimento de ideias (Imagologia)


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• Estudo da imagem de um autor ou de um país num outro autor ou outro
país:
“Neste ponto, a literatura comparada pode ajudar dois países a realizar
uma espécie de psicanálise nacional: conhecendo melhor a fonte de seus
preconceitos mútuos, cada um se reconhecerá melhor e será mais
indulgente para com o outro que alimentou pretensões análogas às suas.”
(GUYARD, 1994, p. 106)
“Limitado a um escritor, um estudo deste gênero procurará também
compreender sua interpretação de um país estrangeiro, ao invés de
distinguir na sua obra as influências sofridas.” (GUYARD, 1994, p. 106-
107)

Críticas a Guyard

• Conforme René Wellek, num texto publicado originalmente em 1959, é


preciso criticar os seguintes pontos defendidos por Guyard (e pelos
“mestres franceses” de maneira geral):
“Uma demarcação artificial de seu objeto de estudo e de sua metodologia,
um conceito mecanicista de fontes e influências, uma motivação ligada ao
nacionalismo cultural, por mais generosa que seja – estes me parecem os
sintomas da longa crise da literatura comparada.” (WELLEK, 1994, p. 114-
115)

Crítica de Tânia Franco Carvalhal (2006, p. 27-29)

“Os bons propósitos de Guyard não atingem os objetivos a que se propunham:


ao definir, restringe. Exigindo a comprovação de contatos ou relações, deixa de
considerar relações mais gerais, decorrentes de afinidades naturais ou movidas
por condicionantes de época ou de gênero, que também podem existir e
interessam ao comparativista. Além disso, qualquer proposição metodológica
que intenta fazer em seu livro se dissolve em conselhos práticos a quem se
dedica aos estudos literários comparados. Indica ‘caminhos’ e esses se reduzem
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à investigação de fontes e de influências comprovadas, ao acompanhamento do
destino das obras fora do país de origem ou do movimento das ideias, à
interpretação de um país pela imagem que dele se faz no estrangeiro ou, ainda,
à análise dos “intermediários”, elementos que favorecem a difusão de um texto
ou de um autor.
... Limita o alcance da literatura comparada a um ‘pano de fundo’ da literatura,
ao estudo de dados que estão ‘ao redor’ do literário, ao abstrair toda a análise
crítica dos textos. Por isso, hoje, o interesse do livro de Guyard é muito menor
do que seu sucesso inicial anunciava. Ao definir a literatura comparada como
‘história das relações literárias internacionais’, compreende-as como simples
comércio internacional da cultura e propõe a investigação dessas relações
apenas em seus aspectos mais superficiais.” (CARVALHAL, 2006, p. 28-29)

Referências

BALDENSPERGER, Fernand. Literatura Comparada: a palavra e a coisa. In:


Coutinho; Carvalhal, 1994, p. 65 – 88.
VAN TIEGHEM, Paul. Crítica Literária, História Literária, Literatura
Comparada. In: Coutinho; Carvalhal, 1994, p. 65 – 88.
CARRÉ, Jean-Marie. Prefácio. In: Guyard, M.-F. A Literatura Comparada, 1956,
p. 7-8.
GUYARD, Marius-François. Objeto e Método da Literatura Comparada. In:
Coutinho; Carvalhal, 1994, p. 65 – 88.

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