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GLIOCHE - DIREITO CIVIL - LÚCIA. 07-03-98

LICC.
É posterior ao CC.
Art. 4o LICC enumera as fontes do direito.
A palavra direito tem vários sentidos.

Direito é o conjunto de normas jurídicas que regulamentam a vida em sociedade. Não é conjunto
de leis e sim de normas jurídicas.
A exteriorização do direito é feita através das fontes. As fontes são as normas jurídicas
exteriorizadas.

FONTES DO DIREITO.
1- lei - quando é omissa, há lacuna
2- analogia
3- costumes
4- princípios gerais do direito

A lei é fonte principal. Quando ela é omissa, o juiz procura nas fontes acessórias, SEGUINDO A
ORDEM ACIMA. As fontes acessórias só surgem quando a lei é omissa.

LEI.
Comando que emana do Estado e é dirigido à obediência de todos.
Suas características são:

1- legitimidade - emana do Estado e é elaborada pelos escolhidos pelo povo. Atualmente todas
são dotadas de legitimidade, porque são feitas pelos escolhidos.
2- coercibilidade - o preceito primário é o comando. O preceito secundário é a sanção.

Art. 3o LICC.
É o princípio da obrigatoriedade da lei civil. Esse artigo traz uma presunção, que é um fato que a
lei toma como verdadeiro.
As presuncões podem ser relativas e absolutas. A presunção relativa admite prova em contrário.
A absoluta não admite prova em contrário.

A presunção deste artigo é absoluta. Presume que todos conhecem a lei, não admitindo prova em
contrário.

ANALOGIA.
É o processo lógico pelo qual a lei é aplicada a um caso não diretamente regulamentado nela de
modo direto.
Ex - Art. 1363 CC trata da sociedade de direito, onde 2 ou mais pessoas reúnem esforços para
fins comuns através de contrato levado a registro público. Quando uma sociedade de fato, e não
de direito, vai a juízo para sua dissolução, o juiz julgará de acordo com a analogia.
A união homossexual também é julgada como uma sociedade de fato, aplicando-se-lhe o Art.
1363 CC, que trata das sociedades de direito.

COSTUME.
É a prática reiterada de um comportamento com a convicção de sua necessidade.
Há 2 requisitos:
1- externo - prática, uso ou hábito
2- interno - convicção da necessidade.
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Costume é mais usado no direito comercial. Ele pode ser de 3 tipos:


1- contra legen - contra ele aplica-se a lei, mas há exceções
2- secundum legen - aplica-se a lei
3- praeter legen - é esse o usado na falta de lei ou analogia.

Ex - os alimentos devidos numa separação judicial podem deixar de ser devidos ou pelo credor
não mais necessitar deles, ou pelo devedor não poder mais ou por novo casamento do credor. No
entanto, existe um caso não previsto em lei e sim no costume, que é a conduta desonrosa.

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.


Conjunto de premissas éticas que inspiram o legislador.
Em último caso, servem também para o juiz.

Por tudo isto, conclui-se que é a lei que apresenta lacunas, e não o direito, que não pode ser
omisso.

LEI.
Início da vigência - Art. 1o LICC.
A partir daí passa a gerar efeitos, ou seja, passa a ser EFICAZ.
Passa também a ser OBRIGATÓRIA.

Em regra, o prazo para a vigência é de 45 dias após a sua publicação. Este espaço é chamado de
vacatio legis, durante o qual a lei existe mas não é obrigatória.
A razão disto é para que a lei chegue ao conhecimento de todos e para que a sociedade se adapte
a ela.

EXCEÇÕES.
As exceções tem que ser EXPRESSAS.
1- vigência com a publicação. Ex - L 9278/96, que regula a união estável.
2- prazo maior ou menor que 45 dias. Ex - L 8078/90, que é o Código de defesa do consumidor.

Art. 2o LICC - diz como a lei perde a vigência.


Uma lei perde a vigência por REVOGAÇÃO, que ocorre quando lei posterior passa a viger.
Só uma lei revoga outra. Nem o costume nem o desuso revogam uma lei.

TIPOS.
1- total - AB-ROGAÇÃO.
2- parcial - DERROGAÇÃO.

ATENÇÃO - a revogação pode ser de toda a lei ou só de um artigo, parágrafo ou inciso. Em se


tratando de toda a lei, houve ab-rogação desta. Em se tratando de artigo, parágrafo ou inciso,
houve derrogação da lei, mas ab-rogação do artigo e daí por diante.
Ex- a lei do divórcio derrogou o CC, mas ab-rogou o Art. 315 CC.

A revogação também pode ser, de acordo com o Art. 2o § 1o LICC:

1- EXPRESSA - a lei posterior diz que revoga a lei anterior, mencionando-a. Não é considerado
como revogação expressa o fato da lei nova mencionar que revogam-se as disposições em
contrário, mas há controvérsias.
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2- TÁCITA - a lei posterior não diz que revoga lei anterior. Aí surgem controvérsias. A opinião
majoritária diz que a revogação tácita ocorre quando se unem os 3 requisitos abaixo. Devem
ocorrer CONJUNTAMENTE.

a) lei posterior trata de igual matéria da lei anterior


b) lei posterior trata a matéria de modo diferente da lei anterior
c) lei posterior torna-se incompatível com a lei anterior.

Ex- a adoção no CC não foi revogada pela L8069/90, porque esta não cumpriu o último
requisito.

A opinião minoritária baseia-se na interpretação LITERAL do parágrafo 1o, aplicando


ALTERNATIVAMENTE apenas 2 requisitos:

a) lei posterior trata da mesma matéria da lei anterior


b) lei posterior torna-se incompatível com a lei anterior.

Essa opinião minoritária é importante porque A MAGISTRATURA ESTADUAL TEM


ADERIDO A ELA.

Art. 2o § 3o LICC.
Trata do EFEITO REPRISTINATÓRIO da lei, que, no nosso direito, é exceção.
Ele só ocorre quando previsto EXPRESSAMENTE, ou seja, uma lei diz que revoga outra e
também diz que reinstaura a anterior.

Art. 6O LICC.
Princípio da IRRETROATIVIDADE DA LEI CIVIL. Ela não pode prejudicar o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

A COISA JULGADA referida é a MATERIAL, ou seja, a sentença para a qual não cabe mais
recurso.

ATO JURÍDICO PERFEITO é o que já gerou todos os seus efeitos. Ex - compra e venda à vista.
O AJ não perfeito tem como exemplo a locação, onde será aplicada uma lei nova que surja ao
longo da vigência desse contrato.

DIREITO ADQUIRIDO é o direito que já foi incorporado ao patrimônio de seu titular. Se ainda
não o foi, será apenas expectativa de direito. Ex - Art. 1603 CC. A L 8971 / 94 trouxe para o
companheiro os direitos do cônjuge.

PESSOAS NATURAIS.

PERSONALIDADE - aptidão para praticar atos da vida civil, ou seja, adquirir direitos e contrair
obrigações.
É a lei que escolhe a quem ela dará personalidade, que passará a ser PESSOA, cuja definição é:
todo ente a que a lei confere personalidade. Até hoje a lei apenas conferiu personalidade ao ser
humano nascido com vida. Art. 4o e 10 CC.

Os entes podem ser FÍSICOS ou NATURAIS (PF) e MORAIS (PJ).

PF - ente físico ao qual a lei confere personalidade para praticar os atos da vida civil.
INÍCIO - nascimento com vida. Art. 4o CC.
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FIM - morte. Art. 10 CC.

NASCITURO - já foi concebido mas ainda não nasceu com vida. É pessoa em potencial. Tem
expectativa de direitos, que só serão adquiridos se nascer com vida.
Pode receber doações e heranças (tanto por força de lei quanto por testamento). Pode ter
reconhecida sua paternidade. Pode ser adotado.

São direitos controvertidos : alimentos e ação de investigação de paternidade.

CAPACIDADE.

DE DIREITO - é genérica, de gozo ou de fruição.


DE FATO - de exercício.

A genérica todo homem tem , SEM EXCEÇÃO. Seu conceito é o de personalidade,


pessoalmente ou através de outrem.

A ÚNICA regra com exceção é a capacidade de fato, que é o conceito de personalidade, mas
exercida sozinho.

REGRA - todo homem tem personalidade + capacidade de direito + capacidade de fato.


EXCEÇÃO - alguns não tem capacidade de fato, praticando atos da vida civil através de outrem.
São os incapazes.

Art. 5o e 6o CC - o incapaz não tem capacidade de fato.


Os incapazes dividem-se em:

ABSOLUTAMENTE INCAPAZES (AI)


RELATIVAMENTE INCAPAZES (RI)

AI RI
não pratica nenhum ato da vida civil sozinho pode praticar alguns atos da vida civil sozinho
precisa de representante, que vai sozinho. Art. precisa de assistente, que vai com ele. Art. 384
84 CC V CC.
Ato praticado é nulo. Art. 145 I CC. Ato praticado é anulável. Art. 147 I CC.
Contra ele não corre prescrição. Art. 169 CC. Corre prescrição.

Como exemplo da possibilidade do RI de praticar alguns atos da vida civil sozinho, temos o
pródigo, que só não pode praticar os atos do Art. 459 CC, podendo praticar os demais.
Outro exemplo é o Art. 1627 CC, que se refere a testamento.

Art. 5o CC.
Trata dos AI.

I) o menor de 16 anos é MENOR IMPÚBERE. Seus representantes são, em regra, os pais. Art.
384 V CC e L 8069 / 90 Art. 21 (ECA). Os órfãos terão um TUTOR. Art. 426 CC,
nomeado pelo juiz através de ação de tutela.

II) o representante do louco é o CURADOR. Art. 446 CC, que, em regra, é da família ou
então, da confiança do juiz. Tem que ser proposta ação de interdição.
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III) é apenas o surdo-mudo que não pode expressar sua vontade. Seu representante é o
CURADOR. Art. 446 II CC. Também precisa de ação de interdição.

IV) ausente. Art. 463 CC. É assim declarado pelo juiz, após propositura de ação de ausência.

ATENÇÃO - a sentença do ausente não é meramente declaratória e sim CONSTITUTIVA. A


partir daí passa a ser AI, e não morto. Por isso precisa de representante, que é o CURADOR e
que geralmente é o cônjuge. Após 1 ano de TJ dessa sentença, abre-se a sucessão provisória do
ausente. Após 10 anos, ocorre a sucessão definitiva, pela MORTE PRESUMIDA. Art. 481 e
482 CC. Aí também entra o Art. 10 CC, porque cessa a personalidade devido à morte
presumida.

Atenção ao Art. 481 CC - pelo CPC são 10 anos, e não 20 anos.


É mais prático requerer o divórcio.

OBS - Art. 88 lei de registros públicos. - possibilidade de justificação. A sentença do juiz


substitui o atestado médico e obtém-se certidão de óbito. É para os casos de eventos
catastróficos. É declarado morto, e não ausente.

LEIS FORA DO CC QUE TRATAM DE INCAPAZES.

DL 891 / 38 - o toxicômano precisa de ação de interdição, total ou parcial. Na interdição total


será AI e na parcial será RI. Em ambos os casos, precisará de CURADOR.

DEC 24559 / 31 - o psicopata aí mencionado seria o louco de todo gênero. É lei posterior que
trata da mesma matéria que o CC e que permite interdição TOTAL (AI) ou PARCIAL (RI). Ela
inova porque permite que o louco seja RI, mas NÃO revogou o CC porque o juiz não arrisca a
dar uma interdição parcial ao louco.

Art. 6o CC.
Trata dos RI.

I) menor entre 16 e 21 anos - tem assistente, que é a mesma pessoa, ou pessoas, que era seu
representante, ou seja, os pais. Art. 384 V CC, e, na falta destes, o tutor. É o menor púbere,
apesar da L 8069 / 90 (ECA) Art. 2 o dizer que é adolescente, pois isso não operou nenhuma
mudança nessa nomenclatura.

II) o pródigo é aquele que dilapida desordenadamente o seu patrimônio, o que pode levá-lo à
insolvência. Há atos que pode praticar sozinho. Só não pode realizar atos que envolvam
patrimônio. Art. 459 CC. O Art. 460 CC diz quem pode propor a ação de interdição do
pródigo.

a) cônjuge - porque está ligado a ele pelo REGIME DE BENS.


b) ascendentes
c) descendentes.

Os 2 últimos podem porque são HERDEIROS NECESSÁRIOS. Eles herdam sempre.

Art. 461 CC - cessa a interdição quando se cura, o que é raro, e caso não existam mais as
pessoas acima mencionadas, porque não haverá mais o que proteger.
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Art. 447 CC - diz que MP pode requerer a interdição nas hipóteses do Art. 448 CC. Em relação
ao inciso I, o pródigo não apresenta loucura furiosa. No entanto, devemos observar o Art. 1178
CPC, que diz que o MP pode requerer interdição nos casos de ANOMALIA PSIQUIÁTRICA,
que certamente o pródigo tem.
Logo, o MP pode requerer a interdição, mas apenas quando houver cônjuge, ascendente ou
descendente, porque tem que haver o que proteger.
Aquele que requer a interdição será o ASSISTENTE. Art. 446 III CC.

Em relação ao COMPANHEIRO do pródigo existem 2 correntes. A majoritária diz que não


pode, porque não há previsão na lei, não se podendo aplicar a analogia. Diz que os companheiros
só podem fazer o que está na lei.
A corrente minoritária apoia-se na CF, que diz que o companheiro pode tudo o que o cônjuge
pode.

III) silvícola - é aquele que não está adaptado à civilização. É o índio selvagem, e não os
outros. Seu ASSISTENTE, de acordo com o Art. 6o caput CC é o tutor, que pela L 6001
(estatuto do índio) é um membro da FUNAI

Art. 129 CF é “novidade”, porque diz que o MP tem uma função de representar interesses
indígenas. No entanto, o Art. 82 CPC já dizia isso muito antes, porque diz que o MP pode
representar os incapazes, o que inclui o índio.

HUGO MAZZILI lidera a interpretação majoritária da CF 88.


Ele diz que existem 2 tipos de interesses indígenas. Os coletivos e os individuais.
Os COLETIVOS, de acordo com o Art. 231 CF, tem sua ação proposta junto à Justiça Federal,
que é o MP Federal, na figura dos Procuradores da República, não importando se os proponentes
são incapazes ou não. Se for incapaz, vai com assistente. Se for capaz, vai sozinho.
Os INDIVIDUAIS englobam qualquer interesse fora do Art. 231 CF. Se os proponentes forem
capazes, vão sozinhos. O MP não interfere. Se forem incapazes, o MP Estadual atua, na figura
dos Promotores de Justiça.

Art. 9o caput CC.


Ao se atingir os 21 anos, passa-se a ser MAIOR E CAPAZ. Esta capacidade é a de fato, porque a
de direito todos possuem ao nascer.

As EXCEÇÕES tratam da maioridade antes dos 21 anos.

§ 1o - EMANCIPAÇÃO. É capacidade. É um menor que antes dos 21 anos se torna capaz.


CONTINUA SENDO MENOR, só que capaz.

A emancipação pode ser:


a) EXPRESSA ou VOLUNTÁRIA - é praticado um ato cuja ÚNICA FINALIDADE é
emancipar o menor. Só ocorre quando há concessão dos pais. Art. 9o § 1o I CC. Na ausência
dos pais, ou seja, menor sob tutela, NÃO É O TUTOR quem dá e sim o juiz, OUVIDO o
tutor. Quando é concedida pelos pais, TEM QUE SER PELOS 2. Quando um deles não quer,
recorre-se ao Art. 21 ECA, onde o juiz apenas supre a vontade de um dos pais, mas não
concede. Ele apenas dá a sentença, que o outro pai, o que concordou, a anexa à sua
CONCESSÃO ESCRITA, que não precisa ser por documento público. Isso é por causa da L
6015 / 73 Art. 90, que exige instrumento. O Art. 12 CC diz que esse documento tem que ser
levado a registro.
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b) TÁCITA ou LEGAL - ocorre em todos os outros casos. O ato praticado não tem o fim de
emancipar, mas a emancipação acontece por força de lei.

Os casos de emancipação tácita estão no Art. 9o CC.


I) casamento - Art. 183 CC. Idade mínima para o homem é 18 anos e para a mulher, 16 anos.
Em sendo a emancipação IRREVOGÁVEL, em qualquer dos casos em que ocorra, existe, no
entanto, um caso em que a doutrina discute, que é o casamento nulo por má fé, que não é o
putativo.

II) exercício de emprego público efetivo, o que só ocorre através de concurso. Não basta a
aprovação e a posse. Tem de haver exercício da função pública. A lei não diz qual a idade
mínima. Alguns sustentam que é a partir dos 16 anos, mas a grande maioria dos concursos
públicos exige 18 anos por causa da responsabilidade penal.

III) colação de grau superior, que é o 3o grau. Doutrina diz que idade mínima é 16 anos,
embora a lei não especifique. A colação é difícil de provar porque não é necessário levar a
registro.

IV) estabelecimento comercial ou civil com economia PRÓPRIA. É o mais difícil de provar.
Para o direito civil a idade mínima é de 16 anos, embora o CCom exija outra idade. O difícil
é provar que a economia é própria.

PJ- ou pessoa MORAL, ou pessoa de existência incorpórea. É um ente moral ao qual A LEI
confere personalidade.

OBS - PESSOA FORMAL não é sinônimo de PJ.

A lei é que escolhe a quem vai dar personalidade.

TIPOS.
1- PJ de direito público - Art. 14 CC - União, estados, municípios e DF. Autarquias e fundações
instituídas pelo poder público, que são as fundações públicas.
2- PF de direito privado.

A personalidade da PJ de direito público começa e termina COM LEI.

Art. 16 CC.
Trata da PJ de direito privado.
1- sociedade, qualquer que seja seu fim, civil, comercial ou religiosa.
2- associações.
3- fundações instituídas por particulares - são as fundações particulares.
4- partidos políticos - novidade acrescentada pela L 9096 / 95, lei dos partidos políticos.

OBS - sociedades de economia mista e empresas públicas são PJ de direito privado.


DIFERENÇA ENTRE SOCIEDADE, ASSOCIAÇÃO E FUNDAÇAO.

SOCIEDADE E ASSOCIAÇÃO - ambas formam-se por REUNIÃO de PFs ou PJs. A diferença


é que a sociedade tem fins econômicos e a associação não tem. Ex - associação de bairros.
Fim econômico NÃO É o mesmo que fim lucrativo. A sociedade civil também tem fim
econômico embora não tenha fim lucrativo, relacionado com especulação.

FUNDAÇÃO - forma-se por DOTAÇÃO PATRIMONIAL. Em geral tem fim filantrópico.


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Pode ser instituída em vida, POR CONTRATO, ou após a morte, POR TESTAMENTO.

Art. 18 CC.
Trata do início da existência legal da PJ de direito privado.

1- ato constitutivo (contrato), levado a registro. Se não houver contrato, ou este não foi levado a
registro, será apenas sociedade de fato, ou irregular. Isso faz diferença para o direito
comercial, mas não para o direito civil, pois de acordo com o Art. 20 § 2o CC, a sociedade de
fato responde, podendo ser ré e, de acordo com o Art. 12 CPC, também pode ser autora.
2- por autorização do governo para funcionar. Nesse caso, a autorização iniciaria sua existência
legal. Ex - Art. 20 § 1o CC. No entanto, hoje em dia, pela L 6015 / 77 Art. 119 p.un, todas
precisam de registro. Alguns dizem que essa lei revogou o CC porque ele diz que só precisa
de autorização, mas a complementação da autorização é o registro, que é obrigatório. .

DISSOLUÇÃO DA PJ de direito privado.

1- por vontade
2- por cessação da autorização do governo.
3- por força de lei.
4- por outros modos, elencados no direito comercial.

NATUREZA JURÍDICA DA PJ.


Existem diversas teorias.
A adotada pelo CC foi a teoria da REALIDADE, segundo a qual a PJ é uma realidade. Vide Art.
20 CC.
Se a PJ é realidade por força de lei, então é uma entidade diferente das pessoas que a compõem.

ATENÇÃO - o condomínio, a massa falida e o espólio não tem personalidade jurídica


CONFERIDA POR LEI. Não são realidades.

Se é realidade, então tem nome, domicílio e patrimônio. É o patrimônio da PJ que vai responder
pelo por ela causado. A responsabilidade dos sócios é subsidiaria, dependendo do tipo de
sociedade.

TEORIA DO DISREGARD OU DA DESCONSIDERAÇÃO DA PJ.


Existe para evitar que certas PJ sirvam de fachada para encobrir sócios, como aquele que diz que
a sociedade não tem bens para ressarcir alguém a quem tenha causado dano, alegando que todos
os bens da sociedade são alugados dele, sócio.
Nestes casos utiliza-se a teoria do disregard, e o sócio responderá ilimitadamente.
Essa teoria só é aplicável nesses casos, por enquanto. Deve ser requerida na fase de execução.
Essa teoria está na lei, em 2 casos:
1- lei da liquidação extrajudicial
2- L 8072/90 - CDC Art. 28.

DOMICÍLIO.
É fundamental diferenciar:

MORADA - local onde a pessoa se encontra, sem estabilidade. Ex - quarto de hotel, casa de fim
de semana. (ficar com alguém).
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RESIDÊNCIA - local onde a pessoa se encontra, mas com estabilidade. É a “morada habitual”.
(namorar alguém).

DOMICÍLIO - Art. 31 CC - residência ( requisito externo, objetivo) com ânimo definitivo


(requisito interno, subjetivo). (casar com alguém).

Art. 34 CC - para se alterar o domicílio, é necessário que se altere o ânimo. Ex - mudar o título
de eleitor.

IMPORTÂNCIA DO DOMICÍLIO.
1- serve para fixação de competência no processo.
2- serve para indicar o local de abertura da sucessão, que é no ultimo domicílio do morto.

Então, quando há dúvida, a lei resolve, abrindo uma exceção. Art. 32 CC, que permite a
pluralidade de domicílio. É para quem tem mais de uma residência ou mais de um centro de
ocupação habitual. Será qualquer uma das residências ou qualquer um dos centros.

Outra exceção é o Art. 33 CC - em caso de ausência de domicílio, que é na verdade uma


ausência de residência ou de centro de ocupação habitual, o domicílio será o local onde a pessoa
for encontrada.

Art. 35 CC fala do domicílio da PJ.

Art. 36 a 41 CC - tratam do DOMICÍLIO LEGAL, ou OBRIGATÓRIO, ou NECESSÁRIO.


Será aquele imposto pela lei.
Conclui-se então que os outros são VOLUNTÁRIOS.

Art. 36 caput CC - fala do incapaz, tanto o AI quanto o RI. O representante inclui também o
assistente. É o DOMICÍLIO DE ORIGEM. Todos passaram por ele.

P.un - perdeu vigência pela CF 88.

Art. 37 CC - o domicílio do funcionário público é o local onde exerce sua função. É o


DOMICÍLIO LEGAL. As divergências surgem quando está de licença. A 1 a corrente acha que o
seu domicílio passa a ser o domicílio voluntário. A 2 a corrente acha que continua sendo o
domicílio legal.
A 1a corrente só se aplica nos casos de LICENÇA SEM VENCIMENTOS. Nos demais casos,
prevalece a 2a corrente.

Art. 40 CC - trata do domicílio do preso, que é o local onde cumpre sentença. No entanto,
existem prisões sem pena e prisões com pena.
Nos casos de prisão sem pena, que é a prisão cautelar (em flagrante, temporária e preventiva),
antes da AP. Apesar de ser sem pena, há sentença. Não se altera o domicílio voluntário.
No caso de prisão com pena, que é fruto de sentença condenatória, o domicílio muda.
Nos casos em que não há pena, mas há medida de segurança, que também é aplicada por
sentença. Para a doutrina, o domicílio é o do Art. 40 CC, não cabendo, para a doutrina, o Art.
36 CC. Apenas na prática, onde se aplica o Art. 40 CC se não tiver representante.

Art. 42 CC - trata do DOMICÍLIO DE ELEIÇÃO, que não é sinônimo de domicílio legal. É o


mesmo que DOMICÍLIO CONTRATUAL. É o domicílio eleito pelas partes que celebram um
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contrato ESCRITO e outros requisitos. Esse domicílio entra na cláusula de ELEIÇÃO DE
FORO. Serve tanto para quem tem domicílio voluntário quanto legal.

BENS JURÍDICOS.

Bem é tudo o que satisfaz a necessidade do homem.


BEM JURÍDICO - BJ - é o acima + amparado pela lei.

BJ pode ter ou não expressão econômica. Ex: vida não tem expressão econômica.

PATRIMÔNIO - conjunto de BJ APRECIADOS ECONOMICAMENTE.


Sua importância advém do fato de que é com ele que se responde no direito civil, pois ele é a
GARANTIA DOS CREDORES.

CLASSIFICAÇÕES.
Os BJ podem ser classificados de diversas formas.

1a classificação.
Art. 43 CC - os classifica em MÓVEIS e IMÓVEIS.
Art. 47 CC - inclui os semoventes.

MÓVEIS:
 por natureza
 Art. 48 CC - direitos a que a lei deu tratamento de moveis, que são os direitos obrigacionais
(créditos e débitos).

IMÓVEIS:
Art. 43 CC.
I- por natureza - solo, subsolo
II- por acessão física - unido de modo permanente ao solo. Ex - poste.
III- por acessão intelectual - não é unido fisicamente. É móvel, mas o proprietário ou
possuidor o mantém no imóvel. Ex - ar condicionado. Lembrar do Art. 45 CC, que diz que
podem ser mobilizados a qualquer tempo.

Art. 44 CC - fala de direitos que a lei considera como imóveis:


III- direito à sucessão aberta, que é quando ocorre morte. Permanece em sucessão aberta até
o término do inventario.

2a classificação.
Art. 50 CC - os classifica em FUNGÍVEIS e INFUNGÍVEIS.

Essa classificação é importante para o contrato de empréstimo:


COMODATO - empréstimo de bem infungível
MÚTUO - empréstimo de bem fungível.

Lembrar que a vontade atua para que um bem seja considerado fungível ou infungível. Ex-
quem empresta uma caneta pode querer de volta aquela caneta ou se contentar com a devolução
de outra da mesma marca.

3a classificação.
Art. 52 CC os classifica em DEVISÍVEIS e INDIVISÍVEIS.
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Essa é uma divisão em sentido jurídico, porque, na verdade, todos os bens são divisíveis.

DIVISÍVEL - pode ser fracionado porque cada parte guarda as qualidades essenciais do todo. Ex
- ovo de Páscoa.

INDIVISÍVEL - é o contrário. Ex - uma vaca.

4a classificação.
Art. 58 CC os classifica em PRINCIPAIS e ACESSÓRIOS.

PRINCIPAIS - tem existência autônoma.

ACESSÓRIOS - não tem existência autônoma. De acordo com o Art. 59 CC, ele precisa do
bem principal para existir, seguindo a sorte do principal.
Ex - no contrato de locação, a garantia do locador é o patrimônio do locatário, mas pode existir
outra garantia, que é o patrimônio de um fiador, que celebra um contrato de fiança com o credor,
contrato este que é acessório ao contrato de locação.

BENS CONSIDERADOS COMO ACESSÓRIOS PELO CC.

1- FRUTOS - utilidade que a coisa principal gera periodicamente, sem desfalque de sua
substancia. Ex - laranja, ovo, cria de animal. Existem 2 classificações para os frutos.

1a classificação dos frutos:

a) NATURAIS - não é necessária a atuação do homem. A própria natureza os produz. Ex - os


acima.

b) INDUSTRIAIS - só são gerados se houver participação do homem. Ex - a produção de


uma fábrica de sapatos. ATENÇÃO - NÃO SÃO PRODUTOS, porque a fábrica os gera
sem deixar de ser fábrica, sem perder suas características essenciais.

c) CIVIS - tem que haver determinadas circunstancias para que existam. Deve haver cessão
do uso da coisa principal mediante remuneração, sendo que a remuneração é o fruto civil.
É o mesmo que RENDIMENTO. Ex - cessão de uma casa, que é o objeto principal,
mediante remuneração, que é o aluguel e que será o fruto civil. Logo, a NATUREZA
JURÍDICA do aluguel é fruto civil, pois é uma utilidade que a coisa principal, a casa,
gerou, mediante remuneração, sem deixar de ser casa.
Outro exemplo fundamental é o empréstimo de dinheiro, que é o capital, o bem principal,
mediante remuneração, que são os juros. Primeiro se paga o acessório, que são os juros, e
depois o principal, que é o capital. Isso constitui o MÚTUO FENERATÍCIO.

2a classificação dos frutos.

a) PENDENTES - já foram gerados mas não foram colhidos

b) PERCIPIENTES - ainda serão gerados e, obviamente, ainda não foram colhidos

c) PERCEBIDOS - já foram gerados e colhidos


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Exemplo geral - um aluguel, se não for estipulado de outra forma, vence no 6 o dia útil de
cada mês. Estamos no dia 4 de abril. O aluguel do mês de janeiro, se já foi pago, é fruto
percebido. Se já foi pago e ainda não foi pego pelo locador, é fruto pendente.
Aluguel do mês de março ainda é fruto percipiente, porque só será gerado no 6 o dia útil do
mês de abril.

2- RENDIMENTOS - são os frutos civis, já vistos acima

3- PRODUTOS - são utilidades retiradas da coisa principal, diminuindo-a. Ex - petróleo, cuja


retirada diminui a quantidade no poço.

4- BENFEITORIAS - é toda obra ou despesa feita na coisa principal.

Podem ser:

a) NECESSÁRIAS - feitas para conservação da coisa principal.

b) ÚTEIS - feitas para melhorar a coisa, nem sempre para aumentá-la

c) VOLUPTUÁRIAS - feitas para deleite.

É difícil distinguir uma da outra na prática.


Ex - uma piscina é útil ou voluptuária ?
uma pintura de parede pode ser os 3.

5a classificação.
Art. 59 CC os classifica em DISPONÍVEIS e INDISPONÍVEIS ou FORA DO COMÉRCIO.

DISPONÍVEIS - são a regra. Estes podem ser objeto de alienação, transferência.

INDISPONÍVEIS - um bem torna-se indisponível em 3 casos:

1- em razão de sua natureza - é um bem naturalmente indisponível. Ex - ar atmosférico.

2- por força de lei - é o bem LEGALMENTE indisponível. Ex - Art. 386 CC - bens imóveis de
filhos menores sujeitos ao pátrio poder.

3- por vontade - é o bem VOLUNTARIAMENTE indisponível, por força de uma CLÁUSULA


DE INALIENABILIDADE, o que só ocorre em 2 casos:

a) DOAÇÃO - a cláusula é colocada pelo DOADOR.

b) TESTAMENTO - a cláusula é colocada pelo TESTADOR.

Logo, não é nem o donatário e nem o sucessor que determinam isso.


Uma vez colocada a cláusula, o bem fica GRAVADO por ela. Passa a ter GRAVAME.

6a classificação.
Art. 70 CC define o BEM DE FAMÍLIA. Ele também se encontra na L 8009 / 90 e discute-se
se essa lei revoga ou não o CC. Conclui-se que não, por motivos expostos mais abaixo.

BF é um imóvel que serve de residência para uma família.


13
Existirá uma família em 3 hipóteses:

1- casamento - Art. 229 CC.


2- união estável ENTRE UM HOMEM E UMA MULHER - Art. 226 § 3o CF.
3- união de qualquer dos pais e seus filhos - é a família MONOPARENTAL - Art. 226 § 4o CF.

Pela L 8009, ou seja, POR FORÇA DE LEI, o BF é impenhorável, isto é, não responde por
dívida.

Não é BF aquele imóvel no qual uma viuva more sozinha ou aquele em que um filho more
sozinho. Se qualquer um deles contrair uma dívida, vai perder o imóvel. No caso da viuva, só se
ela houver contraído dívida APÓS a morte do marido, porque se houver contraído antes, o
imóvel era BF à época em que a dívida foi contraída.

Existe um caso controverso, no qual a jurisprudência protege casa onde morem filhos que
perderam os 2 pais.

Além de proteger o imóvel, a lei também protege os moveis que guarnecem o imóvel, exceto em
3 casos previstos na lei.

a) veículo automotor - V
b) obra de arte - O
c) adornos suntuosos -A. Esse ultimo é controverso, porque é muito indefinido, mas um ponto é
pacifico, a 2a linha telefônica

Essa lei também protege quem reside em imóvel ALUGADO. Os moveis do locatário também
são impenhoráveis exceto os que se encaixem nos 3 casos acima.

Em relação ao comodatario e ao promitente comprador, apesar de não terem a proteção da lei, a


doutrina e a jurisprudência ampliam a proteção da lei.

Os únicos casos em que a lei NÃO PROTEGE O BF estão no Art. 3o da lei.

1- o BF responde por dívidas trabalhistas e créditos previdenciários dos trabalhadores do imóvel,


ou seja, empregados domésticos.

2- o BF responde pela pensão alimentícia, que é a dívida de alimentos.

3- o BF responde pelas dívidas provenientes dele próprio, como IPTU, taxa de condomínio.

4- o BF responde pela fiança decorrente de contrato de locação, que é a FIANÇA LOCATÍCIA.


Não responde pela fiança bancária.
Em relação às pessoas que possuem MAIS DE UM IMÓVEL, o Art. 5o da lei diz que será
impenhorável a RESIDÊNCIA de menor valor, ainda que possua outros imóveis de menor valor,
mas que não sejam residências, ou seja, que estejam vazios, alugados, emprestados.

Em relação a pessoas que possuam MAIS DE UMA RESIDÊNCIA, será impenhorável a de


menor valor, mas a lei permite que isso seja afastado por força de VONTADE, ou seja, pode ser
escolhido para ser BF o de maior valor, desde que sirva de residência, não podendo estar
alugado, vazio ou emprestado. Isso está no Art. 5o p.un da lei. Ver também Art. 70 e 73 CC.
Deve ser por escritura pública levada ao registro de imóveis.
14
CONCLUSÃO - a lei faz menção expressa ao CC, e portanto, NÃO O REVOGA.
Além disso, o CC permite algo que não está na lei, ou seja, PARA PROTEGER MENORES,
permite-se a colocação de cláusula de inalienabilidade no BF, o que deve ser feito por escritura
pública levada a registro. É só para o caso de haver menor. DL 3200 / 41.

ATO JURÍDICO - AJ.

FATO - ocorrência, acontecimento.


Pode ser;

1- NATURAL - não gera efeitos no mundo jurídico.


2- JURÍDICO - FJ - acontecimento que repercute no mundo jurídico. Ex - morte.

FJ se divide em:

1- VOLUNTÁRIO - gera efeitos jurídicos por atuação da vontade. Ex - contrato de compra e


venda.
2- NATURAL - repercutem no mundo jurídico, mas acontecem por força da natureza, sem
atuação da vontade. Ex - morte.

A diferença entre o FATO NATURAL e o FJ NATURAL é que o primeiro NÃO TEM efeito no
mundo jurídico.

DOUTRINA.
Fala de modo diverso ao CC.
De acordo com ela, o FJ se divide em:

1- LÍCITO - de acordo com a lei.


2- ILÍCITO - contrário à lei.

Já o CC chama o FJ VOLUNTÁRIO LÍCITO de ATO JURÍDICO (Art. 81 CC) e o FJ


VOLUNTÁRIO ILÍCITO de ATO ILÍCITO (Art. 159 CC ).

Então, para o CC, AJ é SEMPRE comportamento lícito.

Há doutrinadores que dizem que AJ é simplesmente FJ VOLUNTÁRIO, podendo ser AJ lícito


ou ilícito. Não está errado, mas não é o que o CC diz.

Essas controvérsias de terminologia não são importantes.

AJ é todo ato voluntário, sempre lícito, que tem por fim gerar efeito no mundo jurídico.

Sua META é :

Modificar
Extinguir
(R)esguardar
Transferir
Adquirir direitos.

A doutrina majoritária entende que o AJ divide-se em:


15

1- NEGÓCIO JURÍDICO - NEGÓCIO JURÍDICO.


2- AJ EM SENTIDO ESTRITO - AJ stricto sensu.

Então, o AJ do CC é o AJ lato sensu.

Caio Mário diz o contrário: segundo ele, AJ é AJ. O NJ é que é AJ stricto sensu e o outro é AJ
lato sensu. Apesar disso, continua os dividindo em NJ e AJ.

Na maioria das vezes, o AJ será NJ. Ex - todo e qualquer contrato é NJ.

No NJ a vontade é dirigida para o efeito jurídico. Ela busca o efeito previsto na lei.

Há casos que não se encaixam no conceito de NJ. Ex - mudança de domicílio não tem por meta
o desejo de ser citado como réu em determinado domicílio. A vontade, nesse caso, não se dirige
ao efeito que a lei prevê. A vontade atua, mas NÃO ESTÁ em busca do efeito jurídico previsto
na lei.

Outro exemplo, mas um pouco controvertido, porque alguns dizem que é contrato (e, nesse caso,
um NJ), é o casamento. Se for entendido que é contrato, então será NJ. Se não for entendido
como contrato, é AJ stricto sensu. Quem casa é porque quer, tem vontade. Mas não se casa só
porque está querendo os efeitos que a lei prevê, como o dever de fidelidade, de coabitação, do
débito conjugal.

CC chama tudo de AJ, englobando o NJ e o AJ stricto sensu (ou lato sensu de Caio Mário).

Será estudado o AJ do CC.


Deve ser estudado em 3 aspectos:

1- EXISTÊNCIA.
2- VALIDADE.
3- EFICÁCIA.

EXISTÊNCIA.
Uma minoria de autores não concorda que se estude se o AJ existe ou não.
A maioria entende que há requisitos para a existência do AJ.
São os ELEMENTOS ESSENCIAIS.
Se não estiverem presentes será configurado o ATO INEXISTENTE.

Art. 82 CC enumera os elementos essenciais, que são os SUBSTANTIVOS presentes no artigo:

1- AGENTE - PF ou PJ.
2- OBJETO - é o conteúdo da vontade externada.
3- FORMA - é o modo de se externar a vontade.

Ausente qualquer dos elementos essenciais, o AJ é INEXISTENTE.

VALIDADE.
Para ser válido, o AJ tem que respeitar a lei.
16
Art. 82 CC enumera as condições de validade, que são os REQUISITOS, que são os
ADJETIVOS presentes no artigo.

1- agente CAPAZ
2- objeto LÍCITO
3- forma PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI.

Ausente qualquer dos requisitos, o AJ é INVÁLIDO, pois não está respeitando a lei.
Nesse caso, a sanção imposta pelo direito civil é dizer que o AJ é invalido.

A invalidade divide-se em:

1- NULIDADE - AJ é NULO
2- ANULABILIDADE - AJ é ANULÁVEL.

EFICÁCIA.
É a aptidão para gerar efeitos.

AJ é válido quando presentes os requisitos de validade. Geralmente, quando é válido é eficaz.


Se inválido, é ineficaz.
Essa é a regra, mas existem exceções.

Para se compreender as exceções deve-se estudar os graus de invalidade com que a lei gradua as
sanções, ou seja, estudar os AJ NULOS e os ANULÁVEIS.

DIFERENÇAS:
1- AJ NULO é INVÁLIDO e INEFICAZ. Não gera efeitos NO MUNDO JURÍDICO. Na
prática, ele tem efeitos.
AJ ANULÁVEL também é INVÁLIDO e deveria ser ineficaz, mas a lei entende que, nos casos
de anulabilidade, a sanção deve ser mais fraca. Portanto, esse AJ gera efeitos no mundo
jurídico. É EFICAZ.
A razão da anulabilidade é de ordem particular, enquanto que a da nulidade é de ordem pública.

2- se for praticado um ato nulo, e se alguém achar que gerou efeitos, vai a juízo para que o juiz
diga que o ato é nulo. O juiz não pode se negar a isso. Essa sentença que diz que o AJ é nulo,
não altera nada no mundo jurídico. É SENTENÇA DECLARATÓRIA.

Se for praticado ato anulável e se estiver gerando efeitos, vai-se a juízo para que o juiz assim o
declare. É preciso que o juiz concorde que o AJ é anulável. Se concordar, a AJ passa a não
gerar mais efeitos a partir da sentença. A sentença alterou a situação jurídica. É SENTENÇA
CONSTITUTIVA.

3- quando o juiz diz que o AJ é nulo, não está prejudicando ninguém, podendo, inclusive, fazer
isso de ofício. Quando diz que AJ é anulável e o anula, estará beneficiando e prejudicando
alguém, só podendo fazer isso provocado.

Então, o AJ nulo é reconhecido de ofício, não precisando o juiz ser provocado. Para o AJ
anulável, o juiz precisa ser provocado.

4- quando o AJ é nulo, o juiz pode, de ofício, conhecer da nulidade. Então, qualquer interessado
e o MP podem provocá-lo, porque mesmo sem provocação poderia declará-lo nulo.
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A anulabilidade não se conhece de ofício. Só o particular interessado, que se conhece ao
examinar o caso concreto, tem legitimidade para requerer a anulação. Ex - Art. 1177 CC, que
fala da anulabilidade da doação do cônjuge adultero ao seu cúmplice.

5- AJ nulo nunca gerará efeitos. Então, sempre se poderá ir ao juiz para que assim o declare.
Essa capacidade é IMPRESCRITÍVEL. O AJ nulo não convalesce com o tempo.

AJ anulável tem prazo de prescrição, após o qual será válido, ou seja, convalesce com o tempo.
Sujeita-se à decadência.

6- AJ nulo não admite confirmação, convalidação, ratificação, porque não estava gerando
efeitos. O ato anulável admite ratificação.

Existem grandes controvérsias nessa parte teórica. Uma delas é se o AJ praticado pelo louco
antes da interdição é nulo ou anulável. Uns acham que é inválido (a maioria) e alguns dizem que
é válido.

Agente INCAPAZ pode ser ABSOLUTAMENTE INCAPAZ ou RELATIVAMENTE


INCAPAZ.

AI pratica AJ inválido e nulo. Art. 145 I CC.


RI pratica AJ inválido e anulável. Art. 147 I CC.

Se o objeto é ilícito, o AJ é inválido e nulo. Art. 145 II CC.

Se a forma não é prescrita ou não defesa em lei, o Art. 129 CC traz regra, que é o PRINCÍPIO
DO CONSENSUALISMO ou LIBERDADE DA FORMA.
A regra não é a forma prescrita em lei, e sim a forma livre.
Por exceção, às vezes a lei prescreve a forma, porque quer dar solenidade ao ato.
É para a ad solemnitatem do AJ. Ex - doação.
Se a forma prescrita em lei não for respeitada, o AJ é nulo. Art. 145 III CC.

Às vezes a forma é prescrita em lei por outra razão. Para facilitar a prova. Então é ad
probatione. Só existe um caso no CC. Art. 1281 CC, que diz que o depósito voluntário provar-
se-á por escrito.

MODALIDADES DE AJ.
Art. 114 CC

AJ pode ter outros elementos além dos essenciais, que são os elementos ACIDENTAIS.

AJ PURO - só tem elementos essenciais.


AJ MODAL - significa que assumiu uma modalidade, por ter outros elementos além dos
essenciais.

ELEMENTOS ACIDENTAIS.

1- CONDIÇÃO
2- TERMO
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3- ENCARGO - será estudado na parte de doação. Doação com encargo é doação MODAL.
Conclui-se que a NATUREZA JURÍDICA do encargo é ELEMENTO ACIDENTAL E NÃO
OBRIGAÇÃO.

As modalidades mexem com os efeitos do AJ.

CONDIÇÃO.
Evento futuro e INCERTO a que se subordinam os efeitos do AJ.
Existem várias classificações de condição, mas a mais importante é a que as divide em:

1- SUSPENSIVA
2- RESOLUTIVA.

SUSPENSIVA - AJ tem seus efeitos suspensos. Essa condição impede o AJ de gerar efeitos
porque apesar de ser AJ válido, é ineficaz porque está ligado a essa condição, só gerando efeitos
quando o evento futuro e incerto ocorrer. Ou seja, só terá efeitos quando houver IMPLEMENTO
DA CONDIÇÃO.
Ex: uma mãe que quer que sua filha case, oferece um apartamento com condição suspensiva, ou
seja, só vai morar no apartamento quando casar.

RESOLUTIVA - não impede o AJ de gerar efeitos. Ele é eficaz, mas, quando o efeito futuro e
incerto ocorrer, o AJ vai parar de gerar efeitos. Essa condição, quando ocorrer, faz com que o AJ
pare de gerar efeitos. Ou seja, até o IMPLEMENTO DA CONDIÇÃO ,o AJ gera efeitos.
Ex: uma mãe que não quer que o filho case, oferece um apartamento com condição resolutiva,
ou seja, só vai morar no apartamento até casar.

As outras classificações das condições estão no CC.

TERMO.
Evento futuro e CERTO a que se subordinam os efeitos dos AJ.
Ex: a morte.

Os termos se classificam em:

1- CERTO - sabe-se que ocorrerá e quando ocorrerá. Ex: dia das crianças.
2- INCERTO - sabe-se que ocorrerá mas não se sabe quando. Ex: a morte.

Outra classificação dos termos é a seguinte, muito útil no direito processual:

1- INICIAL - é o momento em que o AJ começa a gerar efeitos.


2- FINAL - momento em que o AJ cessa seus efeitos.

Há uma certa semelhança com condição suspensiva e resolutiva.

Um AJ pode ter os 2 termos. O intervalo entre os 2 termos é o PRAZO.

PRAZO - lapso temporal entre os termos inicial e final.

CONTAGEM DE PRAZO NO DIREITO CIVIL - Art. 125 CC.


No CPC é igual, ou seja, não inclui o termo inicial e inclui o final.
Prazo penal é diferente. É exceção, pois inclui o termo inicial e exclui o final.
19

DEFEITOS DOS AJ.

Sendo o AJ a união da vontade com a lei, haverá situações em que existirá um VÍCIO, que tanto
pode estar na vontade quanto na consonância com a lei.

Quando o vício está na manifestação da vontade, é chamado de VÍCIO DE


CONSENTIMENTO.

1- ERRO
2- DOLO
3- COAÇÃO.

Quando o vício está na consonância com a lei, é chamado de VÍCIO SOCIAL.

1- SIMULAÇÃO
2- FRAUDE A CREDORES.

Lembrar da fórmula - CDE / FS.

A conseqüência é que tais AJ serão ANULÁVEIS, de acordo com o Art. 147 II CC.
Só o interessado pode pedir a anulação.

VÍCIOS DE CONSENTIMENTO.

ERRO.
Art. 86 CC.

CC lhe deu o mesmo tratamento que a ignorância, embora não seja a mesma coisa.
Erro é a falsa interpretação da realidade, do fato, enquanto ignorância é desconhecimento.

CLASSIFICAÇÃO DOS ERROS.

1- ERRO ESSENCIAL, ou PRINCIPAL, ou SUBSTANCIAL - apenas estes geram anulação do


AJ, nos casos dos Art. 87 e 88 CC.

2- ERRO ACIDENTAL - não anula o AJ. É irrelevante para o direito, não estando previsto nos
artigos acima.
Art. 87 CC.
Nesse artigo, existem 3 hipóteses de erro essencial.

1- erro quanto à NATUREZA DO ATO - ex: alguém empresta algo e o outro pensa que é
doação.

2- erro quanto ao OBJETO - ex: alguém quer comprar vidro e compra acrílico. A natureza do
ato está correta, porque nos 2 casos, ele compra.

3- erro quanto às QUALIDADES DO OBJETO - ex: quer comprar jóia de ouro e compra
folheado.

Art. 88 CC.
Tem mais uma hipótese:
20

4- erro quanto à PESSOA - na verdade, é erro quanto às características da pessoa. Ex: Art. 218
e 219 CC dizem que casamento é anulável por erro quanto à pessoa do cônjuge, mas só os do
Art. 219 CC.

Para o legislador, erro é igual a ignorância. No entanto, os conceitos são diferentes. Ignorar é
não conhecer. Errar é conhecer mal.

IGNORÂNCIA DA LEI.
A LICC tratou do desconhecimento da lei civil em seu Art. 3o LICC, em suprimento ao CC, que
não trata da interpretação da lei.

Desconhecimento de lei não permite a anulação de AJ.


Uma vez que o Art. 3o LICC só trata do desconhecimento da lei, e o CC fala em
desconhecimento e erro de interpretação, então deve-se interpretar o erro como se interpreta o
desconhecimento, ou seja, também não anula o AJ.

Essa interpretação tem controvérsias, uma vez que alguns acham que deve ser dada a
interpretação do CP, onde o erro de direito ESSENCIAL anula o AJ, enquanto que o erro
ACIDENTAL não o anula.

DOLO.
Art. 92 CC.

Esse conceito de dolo é diferente do direito penal.


No CC, dolo é induzir alguém a erro.
Seria um erro provocado, em contrapartida ao espontâneo, que recebe o nome de erro.

Para que se configure não é necessária uma ação, bastando o silêncio, que pode levar ao erro.

Apenas o dolo ESSENCIAL, ou PRINCIPAL ou SUBSTANCIAL anula o AJ. O AJ será,


portanto, anulável.
Ocorre dolo essencial quando o dolo é a causa, a razão, de se praticar o AJ.

Quando o dolo é ACIDENTAL, o AJ não é anulável.


Ocorre quando o dolo não é a causa do AJ, pois mesmo sem o dolo o AJ seria praticado.
No entanto, apesar de não anular o AJ, acarreta conseqüências, de acordo com o Art. 93 CC,
pois permite reparação por perdas e danos.

A doutrina divide o dolo, não importando se é substancial ou acidental, em:

1- BONUS - de boa fé. Não gera perdas e danos. Não basta ser substancial ou acidental.
2- MALUS - de má fé. Anula o AJ. Mas, além disso, tem que haver prejuízo. Não há nulidade
sem prejuízo. Hoje em dia a jurisprudência entende que tem que haver prejuízo.

COAÇÃO.
Art. 98 e ss. CC.

É o uso da força para obtenção da manifestação de vontade.


É como se antes houvesse tentado o dolo e não tivesse conseguido.

Existem 2 tipos de forças, que são DIFERENTES NO D.CIVIL E NO D. PENAL:


21

1- FÍSICA - no DP é a violência. Vis absoluta.


2- MORAL - no DP é a grave ameaça. Vis compulsiva.

A distinção feita no DP não é utilizada no direito civil.


No direito civil, a pessoa se encontra entre 2 males injustos.

Quando se pode optar, há FORÇA MORAL.


Quando não se pode optar, há FORÇA FÍSICA.

Ex: uma arma apontada para a cabeça, no DP configura grave ameaça, ou força moral. Para o
direito civil é força física.

CC só trata de força moral. Quando ocorre, o AJ é anulável.


Ocorrendo força física, não se aplica o Art. 98 CC, porque a lei não previu.
A doutrina tenta solucionar isso através de 2 correntes:

1- o AJ é inexistente, porque falta o elemento AGENTE. Se alguém sofre força física, é como se
não existisse o agente. Essa corrente baseou-se na autoria mediata do DP, onde o agente se
vale de um inimputável para praticar crime.

2- o AJ é nulo. Existem os elementos essenciais mas o agente é considerado AI, porque há força
física atuando. Essa corrente é MAJORITÁRIA. Baseia-se no Art. 154 I CC e, na prática, é
melhor, porque quando o AJ é inexistente, não há necessidade de se ir ao juiz para que
declare sua inexistência, pois não há necessidade de manifestação do juiz. Mas, se o AJ é
nulo, há necessidade de se ir ao juiz porque às vezes ele gera efeito no mundo dos fatos. Na
prática, a vítima quer que o juiz se manifeste. Então, a 2 a corrente é a mais usada. Pleiteia-se
que o AJ seja declarado nulo.

Na coação moral, onde se pode optar, é necessário apreciação concreta do fato. Art. 99 CC.
Deve-se examinar o caso concreto: idade, condições físicas, sexo etc., pois o que é ameaça para
um pode não ser para o outro.

Art. 100 CC.


Diz que não ocorre coação quando há:

1- TEMOR REVERENCIAL - ocorre quando se respeita tanto alguém que se chega a ter medo
dessa pessoa. Dependendo do grau, o temor reverencial pode chegar à coação.

2- EXERCÍCIO NORMAL DE DIREITO - são direitos conferidos pela lei, mas que devem ser
exercidos de modo regular. Ex: quem recebe um cheque sem fundos pode reapresentar,
protestar e executar, sem estar ameaçando o emissor. Dependendo do grau, o exercício
normal pode virar abusivo e constituir ameaça.

ABUSO DE DIREITO se inspira nisso. O abuso de direito não gera anulação do AJ. Enseja
apenas PERDAS E DANOS, pois a doutrina não entende que houve coação e sim exercício
ANORMAL, ou abusivo do direito.

VÍCIOS SOCIAIS.
22
SIMULAÇÃO.
Art. 102 CC.

Esse artigo não é taxativo e sim exemplificativo, pois não são apenas esses fatos descritos.
Na simulação, pratica-se o AJ, mas buscando-se os efeitos de outro AJ, pelas razões descritas no
Art. 103 CC.

1- o AJ buscado era defeso em lei


2- o AJ buscado prejudica 3o.

É a SIMULAÇÃO MALICIOSA. Apenas esta torna o AJ anulável.


Ex: celebrar uma compra e venda com intuito de doação, doação esta que não é permitida em lei
porque é doação a cúmplice de adultério.

Se o AJ estiver descrito no Art. 102 CC mas não prejudicar 3o E NEM está defeso em lei,
estaremos diante da SIMULAÇÃO INOCENTE.
Ex: pré datar um documento, que, de acordo com o Art. 102 CC é simulação, não torna inválido
o AJ.

Só quem pode anular o AJ é o interessado e, na simulação, o Art. 105 CC diz quem é o


interessado. Dentre eles, destaca-se o MP, porque a simulação é instrumento de fraude à lei.

FRAUDE CONTRA CREDORES.


Art. 106 CC.

A garantia do credor é o patrimônio do devedor. Se este começa a diminuir seu patrimônio,


estará diminuindo a garantia dos credores.

EM CERTAS CIRCUNSTÂNCIAS, a lei PRESUME que ele esteja desfalcando


propositadamente seu patrimônio, para diminuir essa garantia.

Então, a fraude contra credores é toda diminuição MALICIOSA do patrimônio feita pelo
devedor.

As situações previstas em lei são as seguintes:

1- AJ GRATUITO - Art. 106 CC - gera vantagem, beneficio, apenas para uma das pessoas que
pratica o AJ. Ex: remição de dívida, onde só o devedor é beneficiado juridicamente.

2- AJ ONEROSO - Art. 107 CC - traz vantagem para todos os que dele participam (partes). Ex:
compra e venda.

Art. 106 CC.


Não se pode praticar AJ gratuito quando:

1- o devedor é insolvente. É insolvente quando seu patrimônio não comporta a quitação de suas
dívidas. Seu passivo é maior que seu ativo. É solvente o devedor CIVIL. O comerciante é
falido. O devedor insolvente não pode perdoar dívidas, porque estará desfalcando mais ainda
seu patrimônio. O AJ é anulável.
2- o devedor não é insolvente, mas se tornará ao praticar o AJ gratuito. A prática deste o reduz à
insolvência.
23
Art. 107 CC.
Não se pode praticar AJ oneroso quando:

1- o devedor é insolvente e esta insolvência é NOTÓRIA. Não se deve, portanto, praticar AJ


com ele, pois este será anulado.

2- o devedor é insolvente, a insolvência não é notória, mas o outro contratante a conhecia e,


mesmo assim, praticou o AJ.

Na fraude contra credores, o objetivo é trazer os bens de volta ao patrimônio do devedor, para
servirem como garantia.
Só pode argüir a anulação do AJ o interessado, através de AÇÃO PAULIANA, ou AÇÃO
REVOCATÓRIA.
Esse credor é QUIROGRAFÁRIO, sem preferencia, sem privilegio. No concurso de credores,
ele está em ultimo lugar na hierarquia.
Só existe um caso em que a fraude contra credores cai em concurso.
Deve ser distinguida da FRAUDE À EXECUÇÃO. Isso se faz pelo estudo de suas
características.

FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO.

AJ é anulável. AJ é válido, mas ineficaz para o credor.


Pode ocorrer antes da propositura da ação, ou no Só pode ocorrer se já houver ação proposta, de
curso da ação de conhecimento. conhecimento ou execução.
Exige malícia. É subjetiva. Não precisa haver malícia. É objetiva.

Quanto ao AJ praticado pelo louco antes da interdição, existem 4 correntes:

1- Caio Mário - é AI pelo fato de ser louco. Não é a interdição que vai tornar o louco AI, pois
mesmo antes já era AI. Aplica-se o Art. 145 I CC. É AJ nulo.

2- Silvio Rodrigues - o AJ só será nulo se a outra parte souber que está diante de um louco, ou
seja, o AJ só será nulo quando houver MÁ FÉ, aplicando-se, então, o Art. 145 I CC. Se a
pessoa está de boa fé, será apenas AJ anulável. O interessado deverá pedir ao juiz que desfaça
o ato, e vai conseguir. Mas, até lá, o AJ gerará efeitos e, se o tempo passar, passará a AJ
válido.

3- Jurisprudência - se o AJ não prejudicar o louco, não será nulo. Só o será se prejudicar o


louco, aplicando-se, então, o Art. 145 I CC. Se não prejudicar o louco, ainda que a outra
parte tenha usado de má fé, o AJ será válido.

4- Humberto Theodoro - é a teoria dos processualistas. Para eles, é a interdição e não a loucura,
que leva à incapacidade absoluta, ao contrário das 3 teorias anteriores. Logo, o AJ gerará
efeitos até a interdição, porque até que esta ocorresse, ele não era AI, era apenas um louco.
Quem tiver interesse em anular o AJ, deverá se dirigir ao juiz. Então, o AJ é anulável até a
interdição, mas não será a interdição que anulará o AJ, e sim o interessado.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA.
A decadência não está regulamentada pelo CC.
Os conceitos variam de autor para autor, bem como seus critérios de distinção.
24
Ambas são efeitos do tempo sobre o direito do autor.
Direito significa poder de agir. É ele que dá a possibilidade de agir.
Existem 2 espécies de direito - SUBJETIVO E POTESTATIVO.

Se no outro polo da RJ estiver um DEVER, estaremos diante de um DIREITO SUBJETIVO.


Existem 2 tipos de direito subjetivo:

1- DIREITO PESSOAL - ou direito de crédito, ou direito das obrigações. Está ligado a um


dever chamado de OBRIGAÇÃO. Num polo está o CREDOR e no outro está o DEVEDOR.

2- DIREITO REAL - ou direito das coisas. Também está ligado a um DEVER, só que não existe
apenas um titular desse dever, e sim TODOS DA SOCIEDADE. É um direito erga omnes.

Se no outro polo da RJ estiver uma SUJEIÇÃO ou SUBMISSÃO, estaremos diante de um


DIREITO POTESTATIVO.

PRESCRIÇÃO.
É mais fácil estudá-la usando os direitos pessoais.
Seu SA é o credor e o SP é o devedor.
Para que o credor fique satisfeito, é necessário que o devedor venha a ele para pagar. Então,
pode-se dizer que o direito subjetivo se satisfaz pelo cumprimento do dever. Se o devedor não
cumpre seu dever, o direito subjetivo sofre LESÃO.

A maneira de curar uma lesão está no Art. 75 CC, ou seja, propor ação. Mas o direito de ação é
abstrato. Só se tornará concreto quando houver lesão.
Então se diz que a ação nasce com a lesão. Primeiro nasce o direito subjetivo que, lesionado, faz
nascer o direito de ação (actio nata).

Quando a lei dá direito de ação, ela também dá um prazo para que esse direito possa ser
exercido, em função da paz social.
Diante da inércia do titular do direito subjetivo, escoa-se o prazo do direito de ação. O titular
continua tendo direito subjetivo, mas lesionado.
ATENÇÃO - uma minoria, entre eles Caio Mário, diz que, em se perdendo a ação, perde-se o
direito.

Então, pode-se deduzir um CONCEITO de prescrição, que é a perda do direito de ação correlata
a um direito subjetivo lesionado, por inércia de seu titular, pelo decurso do tempo.

Proposta a ação, mesmo decorrido o prazo, existe a possibilidade do devedor RENUNCIAR à


prescrição. A prescrição aproveita o devedor, mas este pode renunciar a ela, pagando a dívida.
Então, a renúncia à prescrição também aproveita o devedor.
Devedor pode renunciar porque ele ainda tem o dever, e o credor ainda tem o direito, só que
lesionado. Por isso é errado dizer que, morrendo a ação, morre o direito.

Juiz é obrigado a respeitar a renúncia do réu. Ele não pode, sem ser provocado, invocar a
prescrição. Ele não conhece de ofício a prescrição. O Art. 166 CC dá a impressão de que o juiz
pode conhecer de ofício a prescrição não relacionada a direito patrimonial. Acontece que um
direito não patrimonial não gera prescrição, e sim decadência. Logo, o juiz não pode conhecer de
ofício qualquer prescrição.

Se o devedor não quiser renunciar à prescrição, pode alegá-la na contestação, na apelação ou nos
embargos, de acordo com o Art. 162 CC.
25
No entanto, deve-se tomar muito cuidado com a expressão “em qualquer instância”, usada no
artigo, porque isso NÃO INCLUI os recursos especial e extraordinário, porque estes exigem um
pré questionamento, como a argüição de admissibilidade e, se a prescrição não tiver sido
questionada antes, não o poderá ser agora.

DECADÊNCIA.
Existe uma submissão ou sujeição no outro polo de RJ.
Ex: direito de anular é um poder de agir e o SP tem que aceitar, querendo ou não. Um casamento
anulado por erro, como no Art. 219 IV CC.

Direito potestativo também é exercido mediante ação. Isso é a regra, havendo exceção.
Esse direito de ação nasce junto com o nascimento do direito potestativo, de acordo com o Art.
178 § 1o CC. Isso tem um prazo, que, no caso do exemplo acima, é de 10 dias.
Não exercido no prazo, a morte da ação acarreta a morte do direito potestativo, porque a ação
era o único meio possível de se exercer esse direito. O direito potestativo foi perdido.

Pode-se, então, deduzir um CONCEITO de decadência, que é a perda do direito de ação e do


direito potestativo a ele ligado, pela inércia do titular, pelo decurso do tempo.

Se, após perdido o prazo, a ação for proposta, o réu NÃO PODE renunciar à decadência, porque
ela trata de matéria de ordem pública.
Logo, o juiz conhece de ofício a decadência, queira ou não a outra parte. Isso não está escrito no
CC porque ele não trata da decadência.

Pela interpretação a contrario sensu do Art. 162 CC, conclui-se que:


 direito patrimonial - ligado à prescrição
 direito não patrimonial - ligado à decadência.

Além disso, existe uma outra diferença entre prescrição e decadência, que ocorre em relação ao
PRAZO da prescrição.
Em relação a ele, podem ocorrer:

1- IMPEDIMENTO
2- SUSPENSÃO
3- INTERRUPÇÃO.

ATENÇÃO - a decadência não está sujeita a esses 3 institutos. Seu prazo não sofre nem
impedimento, nem suspensão e nem interrupção.
Mas, o legislador nem sempre é técnico. Logo, existe, no direito civil, um caso em que o prazo
de decadência sofre suspensão, que é o do Art. 26 § 2o CDC, onde se diz claramente que se
suspende (obsta) a decadência.

Prazo prescricional sofre:


IMPEDIMENTO E SUSPENSÃO - Art. 168, 169 e 170 CC.
INTERRUPÇÃO - Art. 172 CC.

Em relação ao Art. 168 CC, a lei não usa o termo impedimento, que é da doutrina. Ela diz
simplesmente que o prazo não corre.
Em relação aos Art. 168 e 169 CC, embora haja lesão ao direito subjetivo, o prazo não começa
a correr por uma das razões impostas na lei, só começando a correr quando a situação terminar.

Esse prazo não começa a correr porque:


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Art. 168 CC - há pessoas muito ligadas entre si.
Art. 169 CC - a pessoa não pode zelosamente defender seu direito de ação.

Exemplo de IMPEDIMENTO do Art. 168 II CC - um pai não paga dinheiro que tomou
emprestado do filho. O prazo só começa a correr após cessado o pátrio poder. Isso é
impedimento.
Um outro exemplo de impedimento é o do Art. 169 II CC, onde se deve fazer uma interpretação
extensiva em relação ao DF, autarquias e fundações públicas porque são PJ de direito público.
O prazo não corre porque a pessoa está fora do país a serviço do mesmo.

A SUSPENSÃO é diferente. Nela, o direito sofre lesão, o prazo começa a correr mas, por razões
previstas em lei, esse prazo é suspenso, só voltando a correr, de onde parou, após cessado o
motivo. Ou seja, o prazo que fluiu antes é aproveitado.
Ex: Art. 168 I CC - dívida contraída por um dos namorados em relação ao outro e que venceu
antes do casamento. Na ocorrência do casamento, o prazo prescricional fica suspenso, voltando a
correr de onde parou caso haja separação. Observe-se que, se assim for desejado pelo credor, a
dívida pode ser cobrada durante o prazo de suspensão.

CONTROVÉRSIAS:

1- entre companheiros que tem união estável, existem 2 entendimentos:

a) o prazo não corre, porque o Art. 226 § 3o CF reconheceu a união estável como família.
Essa posição é MINORITÁRIA
b) MAJORITÁRIA - o prazo corre, porque tem que haver previsão legal para que o prazo
não corra e nenhuma das leis sobre união estável disse que entre companheiros não corre o
prazo de prescrição.

2- Art. 168 I CC X Art. 2o p.un L 6515/77 (lei do divórcio) - só existem 2 formas de se acabar
um matrimonio: a morte ou o divórcio. Isso significa que a separação judicial, antigo
desquite, não acaba o casamento, apenas anula alguns de seus efeitos. Em relação a isso
também existem 2 correntes

a) não corre prazo de prescrição em relação aos separados judicialmente, porque o


matrimonio não acabou. A própria lei do divórcio os chama de cônjuges. É
MINORITÁRIA.
b) MAJORITÁRIA - o prazo corre, porque em 1917 não existia divórcio, mas já existia
separação judicial, com o nome de desquite. Havia interesse em proteger o casamento.
Hoje, considera-se que não existe mais a razão que inspirou aquele legislador, não estando
mais os cônjuges vinculados como eram.

Outro exemplo de suspensão é o do Art. 169 I CC, que trata do prazo CONTRA o AI. Ex:
quando se trata de devedor de um AI. Como a prescrição tem que favorecer ao credor, o prazo
não corre durante o período de incapacidade absoluta. Quando se trata de credor de um AI, a
prescrição tem que ser boa para o devedor. Então, O PRAZO NÃO CORRE PARA
PREJUDICAR UM AI.

ATENÇÃO - quando o devedor é um AI, o prazo NÃO sofre suspensão, porque esse prazo é a
favor do AI, e a lei diz claramente que o prazo não corre CONTRA.

Esse inciso também se aplica em usucapião. Cuidado com ele em concursos.


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Em relação à INTERRUPÇÃO, o prazo é interrompido durante a ocorrência da razão prevista na


lei. Quando essa razão termina, o prazo recomeça a correr DO INÍCIO. Ou seja, o prazo já
corrido anteriormente é inútil, não sendo aproveitado.

Exemplo do Art. 172 I a IV CC - o credor saiu de sua inércia, por isso o prazo recomeça do
início. Em relação ao Art. 172 V CC, o prazo recomeça do início em razão da malícia do
devedor.

Só o PROTESTO JUDICIÁRIO interrompe a prescrição, e não o cambial, do TC.

A hipótese que mais cai em provas é a do Art. 172 I CC, onde quem propôs a ação foi o credor,
que saiu de sua inércia. Lembrar que a citação retroage à data da propositura da ação. Se o
devedor só for citado 6 meses após o prazo para prescrição, isso não pode ser alegado, pela sua
retroatividade à data da propositura da ação, que, por sua vez, foi proposta dentro do prazo. Sum
106 STJ fundamenta isso.

Outro exemplo é o Art. 178 § 10 CC - trata da prescrição qüinqüenal.


Em relação ao inciso VI, onde o Estado é devedor (PJ de direito público), o DL 4597/42 alterou
algumas coisas:

1- o rol dos beneficiados com essa prescrição aumentou. Entraram as sociedades de economia
mista e as empresas públicas, que são PJ de direito privado.
2- normalmente, não há limitação do número de vezes em que pode ocorrer prescrição, mas
contra a Fazenda Pública, o prazo só pode ser interrompido uma vez, o que beneficia o
devedor, que é a Fazenda Pública.
3- após interrupção, o prazo corre pela metade, ou seja, será de 2 anos e 6 meses. No entanto,
existem alguns entendimentos.

Enunc. 383 STF - o entendimento MAJORITÁRIO é de que, se houver interrupção antes da


metade do prazo de 5 anos, aplica-se como se fosse suspensão, ou seja, continua a contar até
serem completados os 5 anos, para que o credor tenha de fato 5 anos. Se ocorrer após a metade,
ou seja, após 2 anos e meio, aplica-se a lei, ou seja, o prazo de 2 anos e meio.

PRESCRIÇÃO. DECADÊNCIA.

Nasce de direito subjetivo. Nasce de direito potestativo.


Só se perde o direito de ação. Perde-se o direito de ação e o direito potestativo.
Nasce depois do direito. Nasce junto com o direito.
É renunciável. É irrenunciável.
Ligada a direito patrimonial. Ligada a direitos de ordem pública.
O juiz não a conhece de ofício. O juiz a conhece de ofício.
Seu prazo pode sofrer suspensão, interrupção Seu prazo não sofre nem suspensão, nem
e impedimento interrupção e nem impedimento.

Até aqui foi estudada a REGRA.


Existem certos direitos que são mais importantes do que a eventual paz social, que é a principal
motivação para que sejam dados prazos para exercício do direito de ação.
Logo, há casos em que a ação NÃO TEM PRAZO, que constituirão as EXEÇÕES.
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1- direito de pedir alimentos, que é exercido através de ação que não tem prazo. É um direito
potestativo IMPRESCRITÍVEL ou DIREITO PERPÉTUO. A ação é imprescritível ou
perpétua. Art. 398 CC.
2- um filho tem direito de ter em sua certidão de nascimento o nome da mãe e do pai. Cabe
então ação de investigação de paternidade, que também é direito potestativo cuja ação é
imprescritível ou perpétua.

A regra, então, é de que a ação tem prazo, de acordo com o Art. 178 CC, que lista os casos
especiais.
Se um determinado caso não estiver elencado nesse artigo, recorre-se ao Art. 177 CC, que diz
que uma ação pessoal prescreve em 20 anos (PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA), e a real em 10
anos entre presentes (PRESCRIÇÃO DECENAL) e 15 anos entre ausentes (PRESCRIÇÃO
QUINZENAL). Isso é a regra.

Ver o Art. 551 p.un CC para saber quem é presente e quem é ausente.
Art. 178 caput CC refere-se à prescrição, mas, na verdade, há casos de decadência, aliás, a
maioria.
Art. 177 CC fala dos 2 tipos de direito subjetivo, pessoal e real.
A regra, então, refere-se aos direitos subjetivos e não aos potestativos. A lei não trouxe a regra
para a decadência, apenas para a prescrição.

Quando há caso concreto de direito potestativos cujo prazo não está no Art. 178 CC, usa-se a
analogia. Logo, quando houver lacuna em relação a prazo de direito potestativo, ou seja, prazo
decadencial, usa-se, por analogia, o prazo de 20 anos.
Ex; ato de louco antes da interdição é anulável. O direito de anular é potestativo e não está no
Art. 178 CC. Logo, o prazo é de 20 anos.

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES.

É sinônimo de DIREITO PESSOAL, ou DIREITO DE CRÉDITO ou DIREITO


OBRIGACIONAL.
Direito pessoal é DIREITO SUBJETIVO, porque há uma obrigação, um dever, da outra parte.
Há vínculo entre direito subjetivo e dever.

Obrigação é o vínculo pelo qual uma pessoa pode exigir de outra uma prestação
economicamente apreciável, por cujo descumprimento responde com seu patrimônio. (Caio
Mário).

Por isso se diz que o patrimônio é a garantia do credor.


Não confundir direito obrigacional com direito real. As diferenças serão vistas mais adiante.

ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO.
São retirados do conceito.

1- ELEMENTO SUBJETIVO.
São os sujeitos, ou partes:

a) SA ou CREDOR - quem tem direito à prestação.


b) SP ou DEVEDOR - quem tem o dever de cumprir a prestação.
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A característica essencial do elemento subjetivo é a DUPLICIDADE. O elemento subjetivo tem
que se duplo, ou seja, o credor tem que ser uma pessoa e o devedor, outra, senão o processo é
extinto, por confusão.

2- ELEMENTO OBJETIVO.
É o objeto da obrigação, ou seja, a PRESTAÇÃO, que é um comportamento ao qual o devedor
se obriga.
Existem 3 modalidades de obrigações:

a) DAR
b) FAZER
c) NÃO FAZER

A característica essencial do elemento objetivo é ser ECONOMICAMENTE APRECIÁVEL, ou


seja, poder ser transformada em dinheiro.
Qualquer obrigação que não possa ser apreciada economicamente, não é obrigação civil,
podendo ser moral, administrativa, religiosa etc.

3- ELEMENTO JURÍDICO.
É o vínculo que une o devedor, o credor e a prestação. Faz com que o credor possa exigir o
cumprimento da prestação, sob pena do devedor pagar com seu patrimônio.
Quando o devedor não realiza sua prestação, o direito subjetivo do credor sofre lesão, nascendo
o seu direito de ação, que é o poder de ir a juízo EXIGIR que a outra parte cumpra a
prestação, respondendo com seu patrimônio.

Para o devedor existe DÉBITO, RESPONSABILIDADE.

Tudo isso constitui a obrigação CIVIL ou PERFEITA.

Na obrigação IMPERFEITA ou NATURAL:


 credor tem direito subjetivo, mas não tem direito de ação
 devedor tem débito, mas não tem responsabilidade.
Ex: uma dívida prescrita.

ATENÇÃO - nem toda dívida de jogo é obrigação natural. Ver contratos de jogo e aposta no
Art. 1477 CC.
JOGO - há participação das partes para o resultado.
APOSTA - não há participação das partes para o resultado.

Existem 3 modalidades de jogo ou aposta:

1- JOGO PROIBIDO - o resultado depende apenas da sorte. Ex: jogo do bicho, porrinha etc. A
conseqüência para o direito civil é que, sendo seu objeto ilícito, é AJ NULO. Art. 145 II CC.
O credor não tem nem direito subjetivo e nem direito de ação. Devedor nem deve nem tem
responsabilidade.

2- JOGO TOLERADO - é o tratado pelo Art. 1477 CC. O resultado não depende apenas da
sorte, mas da habilidade dos jogadores. Ex: futebol, poquer, xadrez etc. Desse jogo nasce a
OBRIGAÇÃO NATURAL. Credor tem apenas direito subjetivo e devedor tem apenas débito.
Não há direito de ação e nem responsabilidade.
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3- JOGO PERMITIDO - ou JOGO LÍCITO. É aquele regulamentado por lei específica, não
importando se o resultado depende apenas de sorte ou também de habilidade. Ex: Loto,
loterias etc. Gera OBRIGAÇÃO CIVIL e não vem tratado no CC.

Então, só gera obrigação natural o jogo tolerado.

CC não dá conceito de obrigação. Ele apenas as classifica nos 3 tipos já vistos.

OBRIGAÇÃO DE DAR.
Consiste em entrega da coisa.
Pode ser de dar:

1- COISA CERTA - a coisa já está determinada no momento de nascimento da obrigação.


2- COISA INCERTA - é a TRANSITORIAMENTE indeterminada. Só há especificação de
gênero e quantidade. A coisa é determinável, e não determinada. A lei diz que é o devedor
quem seleciona a coisa a ser entregue. O momento da escolha é chamado de
CONCENTRAÇÃO. A partir desse momento, a coisa passa a ser certa. O devedor deve
escolher a coisa média, nem a melhor e nem a pio.

Então, no final das contas, é entrega de coisa certa.


Art. 863 CC - não se pode exigir coisa mais ou menos valiosa, porque a dívida é de coisa certa.
Nem credor nem devedor podem ser compelidos a receber ou dar coisa menos ou mais valiosa,
apesar de poderem fazer isso, se quiserem.

Na ocasião do cumprimento da obrigação, podem ocorrer:

PERDA - a coisa deixa de existir.


DETERIORAÇÃO - a coisa existe mas tem defeito.

Se, ANTES da tradição a coisa sofre perda ou deterioração, existem regras a serem observadas.

OBS - a culpa, no direito civil, inclui o dolo e a culpa do direito penal. Se não houver culpa, do
ponto de vista civil, o devedor não responde com seu patrimônio, porque isso é considerado
sanção.
Então, a REGRA, é que no direito civil, só se responde quando há culpa.
Responder com patrimônio significa responder por prejuízos, por perdas e danos.

Então, se ANTES da tradição ocorrer:

1- PERDA
a) SEM CULPA DO DEVEDOR - a obrigação se resolve. Não há mais obrigação de
entregar. Devolve-se o dinheiro porventura já recebido, ou não recebe o dinheiro que
deveria receber após a tradição.
b) COM CULPA DO DEVEDOR - ele responde por perdas e danos, de acordo com o Art.
1059 CC, além de ter que devolver dinheiro já recebido.

2- DETERIORAÇÃO.
Aqui se abrem opções para o credor:

a) SEM CULPA DO DEVEDOR - ou a obrigação se resolve, ou o credor aceita a coisa


deteriorada com abatimento do preço. Se o devedor já tiver recebido dinheiro, devolve a
diferença.
31
b) COM CULPA DO DEVEDOR - o credor tem direito a perdas e danos, além de continuar
com a opção de recusar ou aceitar a coisa deteriorada. No entanto, se aceitar a coisa
deteriorada, suas perdas e danos terão menor valor do que se não a tivesse aceitado.

OBS - existe uma modalidade especial de obrigação de dar, que é a OBRIGAÇÃO DE


RESTITUIR. A única diferença é que nesta, o proprietário da coisa a ser entregue é o próprio
credor.
Em caso de perda ou deterioração:

a) com culpa do devedor - é igual à obrigação de dar.

b) sem culpa do devedor é diferente.


1- na perda - o credor sofre a perda.
2- na deterioração - o credor sofre o prejuízo. Tem de aceitar a coisa no estado em que se
encontra, não podendo responsabilizar o devedor, pois este não teve culpa.

OBRIGAÇÃO DE FAZER.
Devedor se obriga a realizar determinado serviço.
CC a divide. Na realidade, essa divisão serve também para as outras modalidades de obrigações.

1- OBRIGAÇÃO PERSONALÍSSIMA - só o devedor pode cumpri-la. O devedor é mais


importante que o serviço.

2- OBRIGAÇÃO FUNGÍVEL - o devedor é substituível. O serviço é mais importante do que o


devedor.

Em caso de DESCUMPRIMENTO.

1- OBRIGAÇÃO PERSONALÍSSIMA:

a) sem culpa do devedor - a obrigação se resolve. Se já foi recebido algum pagamento, é


devolvido.

b) com culpa do devedor - gera perdas e danos.

2- OBRIGAÇÃO FUNGÍVEL.
a) sem culpa do devedor - a obrigação se resolve.

b) com culpa do devedor - existem 3 opções:

1- o credor vai a juízo exigir a realização da obrigação - o juiz aceita, mas acaba
respondendo que não pode pegar o devedor pela mão e obrigá-lo a realizar a prestação.

2- o credor vai a juízo exigir que 3 o cumpra a obrigação à custa do devedor - é complicado
porque exige licitação para se escolher o menor preço.

3- o credor vai a juízo exigir perdas e danos - é a mais fácil


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Nas opções 1 e 2 também há perdas e danos, mas referem-se à MORA, e não ao não
cumprimento.

OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.


Devedor se abstém de praticar certo ato.

Se o devedor pratica o ato, ou seja, em caso de DESCUMPRIMENTO da obrigação de não


fazer:

1- sem culpa do devedor - a obrigação se resolve.

2- com culpa do devedor - existem 3 opções:

a) credor vai a juízo exigir que se desfaça o que foi feito, se possível.

b) credor vai a juízo exigir que 3o desfaça, à custa do devedor, o que exige licitação.

c) credor vai a juízo exigir perdas e danos, que será a única opção caso o ato não possa ser
desfeito.

Nas opções 1 e 2 também existem perdas e danos.

Além de se dividirem em obrigações de dar, fazer ou não fazer, as obrigações, qualquer uma
dessas, podem ainda ser de diversas modalidades, como as que se seguem.

OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA.
Devedor se obriga a mais de uma prestação, mas só cumpre uma delas.
Ex: seguradoras, em caso de furto, podem dar o equivalente em dinheiro ou outro veículo nas
mesmas condições.

Há mais de um vínculo unindo o devedor ao credor.

Pelo CC, na falta de consenso ou de prévio ajuste entre as partes, a escolha cabe ao devedor,
havendo um prazo para que faça essa escolha.
Se não escolhe até o prazo, o credor escolhe, porque o devedor não exerceu sua opção.

Se o devedor escolheu dentro do prazo, a obrigação deixou de ser alternativa, passando a ser
simples, pois agora só há um vínculo ligando os 2, que é o da opção que foi feita.
Se, após a escolha do devedor, este não cumpre a obrigação, já não cabe mais a escolha pelo
credor. Ele só pode exigir que a obrigação escolhida seja cumprida.

Art. 18 CDC é aplicação disso. No entanto, no CDC, quem escolhe primeiro é o credor, mas, a
partir do momento em que optou, a obrigação passa a ser simples e não alternativa. Ou seja, após
a escolha, caso a obrigação não seja cumprida, ele só pode ir a juízo para exigir o que escolheu,
não podendo mais escolher outra coisa.

A obrigação alternativa não deve ser confundida com a

OBRIGAÇÃO FACULTATIVA.
Essa obrigação não está conceituada na lei e sim na doutrina. É obrigação simples.
Devedor se obrigou a apenas uma prestação, com a faculdade de cumpri-la.
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Ex: seguradora que em caso de sinistro se obrigou a pagar dinheiro. Na hora da entrega, resolve
entregar um veículo. Só há 1 obrigação. Só há 1 vínculo.

ATENÇÃO - não confundir:


DIREITO SUBJETIVO - poder de agir ligado a dever.
FACULDADE JURÍDICA - poder de agir não ligado a qualquer coisa.

No exemplo acima, se o devedor fez uso da faculdade e não cumpriu a obrigação, o credor só
pode exigir o dinheiro, apesar do devedor ter dito que entregaria um veículo.

Art. 603 e ss. CC é um exemplo. O dono da coisa localizada tem o dever de recompensar, mas a
lei não diz no que consiste a recompensa. Há casos em que a lei faculta ao devedor uma opção, a
qual não pode ser exigida pelo credor. No caso, o dono da coisa tem a faculdade de abandonar a
coisa, mas o credor não pode exigir isso, ou seja, não pode exigir recompensa ou abandono.

OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL e INDIVISÍVEL.


A divisível admite cumprimento fracionado.
Isso nada tem a ver com o número de credores ou devedores, pois é a obrigação que é divisível
ou não.

REGRA - mesmo que a obrigação seja divisível, no caso de haver apenas 1 devedor e 1 credor,
ela só será cumprida fracionadamente se houver acordo entre eles. Na falta de acordo, a
obrigação é cumprida por inteiro, mesmo sendo divisível.

Quando há mais de um credor ou devedor, cabe ressaltar o caso da obrigação ser indivisível.
Nesse caso, qualquer devedor tem que cumpri-la por inteiro, NÃO PORQUE DEVE POR
INTEIRO, o que seria o caso da obrigação solidaria, mas porque não é possível cumprir a
obrigação em partes. O mesmo se aplica aos credores.
Esse são os únicos casos em que há confusão com a

OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA.
Há pluralidade de partes e unidade de obrigação.
Há mais de um credor ou devedor. Essa é uma de suas diferenças com a obrigação indivisível,
porque esta última admite unidade de devedor e credor.

SOLIDARIEDADE:

1- ATIVA - mais de um credor e um só devedor.


2- PASSIVA - mais de um devedor e um só credor.
3- MISTA - mais de um credor mais de um devedor.

Essa pluralidade nasce pela lei ou pela vontade das partes, E NÃO PELA NATUREZA DA
OBRIGAÇÃO.

LEI.
Ex: Art. 1518 p.un CC. Todos devem uma só obrigação, que é dinheiro. Essa obrigação é
divisível por natureza e solidária por força de lei, pois cada credor pode exigir toda a quantia de
um só devedor, que pagará a obrigação por inteiro, NÃO PORQUE SEJA INDIVISÍVEL, o que
não é, mas porque ele, sendo solidário, deve por inteiro, havendo direito de regresso.
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ATENÇÃO - a solidariedade é de uma parte em relação à parte contrária, ou seja, é externa.
Internamente, não há solidariedade, pois este que pagou tudo passa a ser credor dos outros
devedores, sub-rogando-se no direito do credor original.

VONTADE.
Ex: um devedor deve dinheiro a 3 credores, que decidem cobrar a dívida solidariamente. Um dos
credores pode pedir tudo, apesar da obrigação ser divisível. Ele tem direito a receber tudo, mas,
internamente, não há solidariedade, passando ele a ser devedor dos outros credores.

EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES.


São as conseqüências da obrigação.

1- cumprimento da obrigação - o vínculo é desfeito.


2- descumprimento da obrigação.

EFEITOS DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO.


CC não chamou de cumprimento da obrigação e sim de PAGAMENTO.
Seus sinônimos são: execução, solução, implemento e adimplemento.

Pagamento, para o CC, não tem o mesmo sentido que o emprego usual do termo. Ver Art. 928
CC.

A doutrina divide o pagamento em 2 modalidades, que não estão no CC.

a) PAGAMENTO DIRETO - a obrigação é cumprida exatamente da mesma forma que foi


criada. É o pagamento espontâneo, voluntário.
b) PAGAMENTO INDIRETO - a obrigação também é extinta, mas não da maneira como foi
criada. Ex: perdão de uma dívida, consignação em pagamento etc.

PAGAMENTO DIRETO.
Art. 930 CC.
Será estudado em diversos aspectos.

1O ASPECTO.
Quem paga é o devedor, mas o próprio CC já mistura as definições acima, quando menciona que
pode ser pago por outra pessoa, o que constitui o pagamento indireto. O CC quer apenas dizer
que um 3o pode pagar uma obrigação. Lembrar que o CC não divide o pagamento em direto e
indireto. Art. 928 CC. Todas as obrigações (dar, fazer e não fazer) podem ser personalíssimas
ou fungíveis. Um 3o só pode pagar em lugar do devedor quando se tratar de obrigação fungível.
Na personalíssima, morrendo o devedor, o seu herdeiro não é obrigado. Deve-se sempre olhar o
credor e ver se a ele interessa ou não um pagamento feito por 3 o. O devedor deve pagar, o 3o
pode pagar. Aquele que paga é chamado de SOLVENTE ou solvens.

Há 2 tipos de 3o:

1- JURIDICAMENTE INTERESSADO - não é devedor mas está indiretamente vinculado à


obrigação. Ex: fiador. Seu vínculo é com o credor, e não com o devedor. Ele não é devedor.
Quando o 3o interessado paga, ele passa a ser o novo credor do devedor, o que é a SUB-
ROGAÇÃO. Ele se sub-roga nos direitos do credor. Isso será visto no pagamento indireto.
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2- JURIDICAMENTE NÃO INTERESSADO - não é devedor e nem está indiretamente ligado
ao débito. Suas razões são morais, religiosas, sociais etc. Ex: um pai que paga as dívidas do
filho.

Um 3o tem 2 modos de pagar:


a) em nome próprio - é o previsto na lei. Nesse caso, a lei permite que o 3 o proponha ação de
regresso contra o devedor. Deve-se tomar cuidado, pois o 3o tem que fazer constar seu nome
no recibo.
b) em nome do devedor - não está na lei. É porque a lei não vê necessidade de prever o que
ocorre nesse caso, pois isso é considerado como DOAÇÃO, como uma liberalidade. Não há
como mudar de idéia.

2O ASPECTO.
Quem recebe o pagamento é o credor. Mas a lei diz que um representante do credor pode receber
por ele, pois se o credor é um AI, o pagamento feito diretamente a ele será nulo. Quem recebe é
o ACIPIENTE ou accipiens.

Há 3 tipos de representante:

1- LEGAL - dado pela lei. Ex: curador de loucos.


2- JUDICIAL - escolhido pelo juiz. Ex: síndico da MF.
3- VOLUNTÁRIO - escolhido pelas partes. Ex: administradora de um condomínio.

Às vezes, o acipiente não é nem credor e nem representante. O devedor paga mal. Quem paga
mal paga 2 vezes. O credor continua com direito de cobrar.
No entanto, existem soluções para aquele que paga mal, que será visto depois.

Em certos casos em que tal pagamento é considerado válido pela lei.

a) quando efetuado a 3o mas o credor o ratifica.

b) quando o credor não ratifica, mas o devedor prova que o pagamento reverteu em proveito do
credor. Ex: quando o credor deposita o cheque que recebeu.

c) quando se trata de credor aparente ou putativo.


Nesse caso, para que o pagamento seja válido, há 2 requisitos:
1- o 3o deve ter aparência de credor.
2- o devedor precisa estar de boa fé.

Ex: um credor morre e seu filho toma seu lugar por ser seu herdeiro. Se o filho recebe, e mais
tarde se prova que foi deserdado, o pagamento será considerado válido. O verdadeiro credor
não pode mais exigir essa dívida do devedor e sim do credor aparente.

3O ASPECTO.
Refere-se ao que se paga, que é o que se deve. Trata-se do objeto, da prestação, de dar, fazer ou
não fazer.
Prestação é o objeto da obrigação e do pagamento, quando na forma direta.
36
Quando o solvente paga, ele tem direito a prova, que é o RECIBO ou QUITAÇÃO, que só é
válida quando preenche os requisitos do Art. 940 CC. Tem que ser por escrito.
É um ato diverso e autônomo da obrigação, não sendo seu acessório.
Art. 1093 CC - ATENÇÃO - é qualquer forma, DESDE QUE ESCRITA. Ex: contrato público
e quitação por instrumento particular.

Os recibos deveriam ser guardados até a prescrição da obrigação, mas, como isso muitas vezes
não ocorre, a lei cria algumas presuncões de que houve pagamento, apesar de não haver recibo.
Essas presuncões são RELATIVAS, admitindo prova em contrário.
São 3:

1- nas obrigações em cotas periódicas, o pagamento da última cota presume o pagamento das
anteriores, mesmo não havendo recibo. O melhor meio do credor provar posteriormente que
não houve pagamento anterior, é mencionando no boleto da cota seguinte que não houve
pagamento da cota anterior. O que não se pode fazer é colocar em todos a seguinte frase:
“este recibo não presume pagamento das anteriores”. Isso é nulo perante o direito, porque não
se está especificando quais anteriores e quantas. Não gera efeitos jurídicos.

2- a obrigação está representada por um título. Ex: NP. Ao ser pago, o devedor deve exigi-lo de
volta, para destrui-lo e solicitar um recibo. Quando se perde um título, o devedor deve ser
notificado, para que não pague a quem o exibir.

3- um comprovante de que se pagou o principal, presume que o acessório foi pago, porque
primeiro se paga o acessório para depois pagar o principal. Ex: um capital gerando juros.
Primeiro são pagos os juros.

4O ASPECTO.
Refere-se ao lugar do pagamento. As partes são livres para convencioná-lo.
Na falta de ajuste, vale o disposto no Art. 950 CC, que menciona o domicílio do devedor, o que
configura uma DÍVIDA QUESÍVEL ou querable. A doutrina diz que o credor busca o
pagamento no domicílio atual do devedor.

No entanto, um ajuste pode tornar a DÍVIDA PORTÁVEL ou portable, quando o pagamento


será feito no domicílio do credor. Isso é o que mais ocorre nos ajustes. O devedor leva o
pagamento.

OBS - existem determinados pagamentos que não podem ser classificados dessa forma devido à
sua natureza.

5O ASPECTO.
Refere-se ao momento do pagamento. De acordo com o Art. 952 CC, a regra é o PACTO.
Na falta de ajuste, o pagamento é feito imediatamente.

Há casos em que essa regra não prevalece, pois mesmo sem ajuste prévio, o pagamento não pode
ser feito imediatamente. Ex: num empréstimo, cujo pagamento consiste na devolução da coisa,
isso não pode ocorrer imediatamente, pois não haveria tempo para o uso da coisa pelo devedor.

PAGAMENTO INDEVIDO.
Art. 964 CC.
Aplica-se o princípio geral de direito que veda enriquecimento ilícito, ou sem causa.
É um pagamento que cria uma obrigação, a de devolver.
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ATENÇÃO - isso é uma exceção, porque normalmente o pagamento extingue uma obrigação, e,
nesse caso, cria.

É raro aquele que recebeu mal querer devolver.


Geralmente é necessário promover ação, que recebe vários nomes:
AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO
AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO (repetir um indébito é devolve-lo)
AÇÃO REGRESSIVA
AÇÃO IN REM VERSO.

Esses 2 últimos nomes não dão certeza de que houve pagamento indevido, porque também são
usados para outros tipos de ação. Esses 4 nomes são doutrinários.

Existem 2 modalidades de pagamento indevido:

1- PAGAMENTO OBJETIVAMENTE INDEVIDO - a prestação é indevida. O solvente não


deve nada a ninguém, ou seja, ele cumpre uma obrigação que não existe, que não deve. A
razão disso está no Art. 965 CC: ou ele errou, ou está fazendo uma liberalidade. Se ele não
provar que houve erro, haverá presunção de liberalidade.

2- PAGAMENTO SUBJETIVAMENTE INDEVIDO - o solvente deve a alguém e paga a


outrem. Ele cumpre a obrigação que deve, mas a cumpre para quem a não devia receber.

OBSERVAÇÕES:
1- na obrigação sujeita a termo, as partes convencionam o dia do pagamento. Caso a obrigação
seja cumprida antes do termo, isso não caracteriza pagamento indevido. Em certas ocasiões,
um determinado pagamento está sujeito a uma condição, o que caracteriza a OBRIGAÇÃO
CONDICIONADA. Nesse caso, o termo é o do implemento da obrigação. Se o pagamento
for feito antes, será indevido, havendo direito a restituição.

2- Art. 970 CC - a expressão “não se pode repetir” significa “não se pode restituir” (restituição
= repetição). A dívida prescrita é um EXEMPLO de obrigação natural. Quem cumpre dívida
prescrita, ou obrigação natural, não estará pagando indevidamente. Por isso não pode pedir de
volta.

PAGAMENTO INDIRETO.
É nome dado pela doutrina.
Alguns autores o chamam de CAUSAS DE EXTINÇÃO DE OBRIGAÇÃO.

Existem casos em que, extinguindo-se a obrigação, o credor fica satisfeito e outros em que o
credor não fica satisfeito.

Os pagamentos indiretos, ou causas de extinção de obrigação são:

1- CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - Art. 972 CC. Só ocorre nos CASOS PREVISTOS


EM LEI, e que estão no Art. 973 CC e também em outras partes do CC, além de estarem
também nas leis fora do CC. Na consignação em pagamento o credor é SATISFEITO.
O conceito do CC está ultrapassado pelo conceito do CPC.
Consignação em pagamento é o DEPÓSITO JUDICIAL OU EXTRA JUDICIAL da coisa
devida. No extra judicial, o pagamento é feito em banco.
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Essa modalidade de pagamento indireto é para as obrigações de DAR. Há autores que a
consideram cabível nas obrigações de fazer que se materializarem em determinada coisa,
podendo se consignar essa coisa em pagamento.

2- SUB-ROGAÇÃO - Art. 985 CC. É uma substituição. Há 2 tipos

a) SUB-ROGAÇÃO PESSOAL - de pessoa.


b) SUB-ROGAÇÃO REAL - de coisa. Ex: recebimento de casa por legado, com cláusula de
inalienabilidade. Se for desapropriada pela prefeitura, o proprietário não poderá dispor do
dinheiro, que estará gravado.

No presente estudo, será tratada a sub-rogação pessoal, que é a substituição do credor por
outro, mantendo-se o restante da obrigação.
Está relacionada com as garantias, que podem ser pessoais (ex: fiador) ou reais (ex:
hipoteca ). Se um fiador paga uma dívida do devedor, ele cai no Art. 985 III CC. O credor
saiu SATISFEITO. O 3o interessado assume o lugar do credor, e o devedor continua sendo
devedor, pois o restante da obrigação é mantido. Art. 988 CC.

Há 2 modalidades de sub-rogação pessoal:

a) LEGAL - Art. 985 CC.


b) CONVENCIONAL - Art. 986 CC. Não se opera por força de lei mas por vontade das
partes, ou do credor (inc. I) ou do devedor (inc. II).

3- IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. - Art. 991 CC. Imputar é escolher. É a escolha, dentre


vários débitos, daquele que vai ser pago. Há mais de uma obrigação entre credor e devedor.
Quando o devedor for pagar, deverá escolher qual débito pagar e mencionar que está pagando
esse débito. Se o devedor não fizer a imputação, o credor o fará, no momento de dar a
quitação, o recibo. Se o credor não imputar nesse momento, a lei diz como será feita a
imputação:

a) na dívida que primeiro venceu.


b) em vencimentos iguais, na de maior valor.

Observe-se que o credor é SATISFEITO.


Aliás, apenas nessas 3 primeiras modalidades o credor é satisfeito. Nas seguintes, o credor
NÃO SERÁ SATISFEITO.

4- DAÇÃO EM PAGAMENTO - Art. 995 CC. Só é possível na obrigação de DAR coisa certa.
Art. 863 CC. No entanto, se o devedor não tiver a coisa certa por culpa sua, haverá perdas e
danos, pagos em dinheiro. Dação em pagamento é entrega de coisa diversa da devida, desde
que não seja dinheiro, com a concordância do credor. O pagamento será considerado indireto
porque a coisa entregue é diversa da devida. Não pode ser dinheiro, porque se o credor aceita
dinheiro, estará aceitando o que a lei previu, que são as perdas e danos. Na dação tem que
haver ato de ENTREGA, que extingue a obrigação.

5- NOVAÇÃO - Art. 1000 CC. É a criação de obrigação nova para acabar com a obrigação
anterior. As partes querem extinguir a obrigação anterior, ou seja, eles tem ANIMO DE
NOVAR. Se não houver animo de novar, a nova obrigação não extingue a anterior, apenas a
confirma. Na novação, a nova obrigação fica no lugar da anterior.
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Quando não há animo de novar, se o devedor não cumpre a nova obrigação, o credor vai a juízo
para exigir a 1a obrigação, E NÃO A NOVAÇÃO.
Ex: se um devedor deve 600 e o banco sugere 900 em 10 vezes, caso o devedor não pague a 1 a
prestação, o banco vai a juízo exigir os 600 à vista, pois consta do contrato que não havia
animo de novar.

Animo de novar = animus novandi.


Prestar atenção a isso, em problemas.

Há 3 modalidades de novação:
a) NOVAÇÃO SUBJETIVA ATIVA - novo SA.
b) NOVAÇÃO SUBJETIVA PASSIVA - novo SP.
c) NOVAÇÃO OBJETIVA - novo objeto. É o do exemplo acima.
DAÇÃO NOVAÇÃO.
Entrega imediata. Entrega posterior.
A coisa NÃO PODE ser dinheiro. A coisa PODE ser dinheiro.
Não pode ser obrigação de fazer. Pode ser obrigação de fazer.

A novação subjetiva ativa pode se confundir com a sub-rogação, onde se substitui um credor
por outro. No entanto, na sub-rogação, o resto do NJ é mantido. Na novação, a obrigação
anterior termina, sendo criada outra, com o novo credor. Os acessórios do NJ anterior
também acabam. Esse tipo de novação está em desuso, porque o 3 o vai sempre preferir a sub-
rogação, porque permanece todo o NJ, com seus acessórios e privilégios. Se não há
privilégios ou acessórios, fica idêntico à novação.

6- COMPENSAÇÃO - Art. 1009 CC. É o encontro de dívidas reciprocas. As 2 obrigações


serão extintas, porque são entre as mesmas partes. No entanto, a compensação pode não
ocorrer CASO AMBAS AS PARTES CONCORDEM. Se apenas uma delas não quer, a
compensação ocorre, porque é lei.
Pode ser TOTAL ou PARCIAL.

Requisitos:

a) as dívidas devem estar vencidas.


b) as dívidas devem ser fungíveis, ou seja, devem ser da mesma natureza, idênticas.
c) as dívidas devem ser líquidas. Art. 1533 CC. Devem ser de existência certa e
determinadas quanto ao valor. “Sei que devo e sei quanto devo”. Se uma das dívidas for
ilíquida, não há compensação.

Casos em que não pode ocorrer transação: Art. 1015, 1017 e 1024 CC.

7- TRANSAÇÃO - Art. 1025 CC. Será vista com mais detalhes no direito processual civil,
porque é um dos modos de por fim ao processo sem julgamento de mérito. É o acordo feito
mediante concessões reciprocas para prevenir litígios ou extingui-los. É AJ bilateral. Ambos
cedem um pouco, evitando assim o litígio ou pondo fim a uma ação em curso.

Para prevenir - transação extra judicial.


Para extinguir - transação judicial.

Natureza jurídica - pagamento indireto, ou causa de extinção de obrigação. Uma minoria diz que
é contrato, mas não se está criando obrigação, e sim extinguindo.
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Para o direito civil, só é possível a transação em direito de cunho patrimonial. O direito


alimentar não a admite. Quando porventura, nesse caso, o juiz pergunta se há transação, é
porque o direito a alimentos é diferente do direito a receber alimentos. Só é possível a
transação porque já havia o direito a alimentos, já fixado. Este não admite transação.

Para o direito civil, só há transação quando há DÚVIDA. Se uma parte sabe quanto a outra deve
e, mesmo assim, aceita receber menos, o que ocorre é PERDÃO. Se aceita receber mais, é
DOAÇÃO.

8- COMPROMISSO - Art. 1037 CC. Esses artigos foram REVOGADOS pela L 9307/97, que
trata do juízo arbitral. Isso será visto no direito processual civil.

9- CONFUSÃO - Art. 1049 CC. Ocorre quando credor e devedor se encontram, por razão
externa, na mesma pessoa. Ex: Art. 1052 CC. Pai deve ao filho e morrendo, o filho,
herdando, torna-se devedor dele mesmo. Se o pai deserda esse filho, cessa a confusão. Mas,
voltando a obrigação, deve-se consultar novamente o fiador, pois a lei não o obriga a voltar a
ser fiador.

Natureza jurídica - é controversa:

1- se for considerada causa de extinção de obrigação, então o Art. 1052 CC não tem
cabimento.
2- se for considerada modo de neutralizar obrigação, então, pelo Art. 1052 CC cabe a volta
dos acessórios. Então, é melhor interpretar assim, para não contrariar o CC.

10- REMISSÃO DE DÍVIDA- Art. 1053 CC. É o perdão da dívida. O credor libera o
devedor do pagamento.

CC, em várias passagens, confunde PERDÃO com RENÚNCIA. No entanto, o perdão é


bilateral, pois o devedor tem que concordar. Se não concordar, o máximo que o credor pode
fazer é renunciar, porque é ato unilateral.

EFEITOS DO DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO.


Ocorre descumprimento quando o devedor não realiza a prestação no tempo, no lugar ou na
forma devida.

A classificação do descumprimento é classificada do ponto de vista do credor, ou seja, da


utilidade que a obrigação ainda tem para ele.

1a SITUAÇAO:
A obrigação não foi realizada, mas seu cumprimento ainda é útil para o credor. Nesse caso,
estamos diante do DESCUMPRIMENTO RELATIVO ou MORA.
Ex: a TELERJ aceita pagamento de conta com atraso. Art. 955 CC.

MORA - devedor não realiza a prestação mas ela ainda é útil para o credor.

2a SITUAÇÃO;
A obrigação não foi realizada e o seu cumprimento não é mais útil ao credor. Nesse caso,
estamos diante do DESCUMPRIMENTO ABSOLUTO ou INEXECUÇÃO.
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Ex: um fotografo que não comparece para tirar as fotos de um casamento.

INEXECUÇÃO.
Essa é a denominação do CC, no Art. 1056 CC. Em muitos livros esse termo é usado como
sinônimo de inadimplemento em geral. Depende do livro.

MORA.
Art. 955 CC.
Existem 2 tipos de mora:
1- do devedor - já definida, mais acima.
2- do credor - ocorre quando este recusa a prestação no tempo, lugar ou forma estipulada.
Cuidado com a palavra recusa. Ex: se o credor tem que ir buscar um pagamento e não vai, há
recusa. Há mora do credor. Não indo, ele está recusando.

A mora do devedor também está prevista no Art. 963 CC, que complementa o conceito.
Ou seja, para que se configure a mora do devedor, além da não realização da prestação por parte
deste, tem que haver um fato ou omissão imputável a ele, ou seja, tem que haver CULPA.

Logo:

1- MORA DO DEVEDOR = ATRASO + CULPA - sem culpa (que é igual ao dolo ou culpa do
penal), não há mora. Sua mora é SUBJETIVA. Ex: deixar de pagar uma conta porque estava
hospitalizado não é mora.

2- MORA DO CREDOR = ATRASO - não existe artigo exigindo culpa. Logo, sua mora é
OBJETIVA. Ex: credor que não foi buscar um cavalo porque estava hospitalizado, constitui
mora.

CONSEQÜÊNCIAS DA MORA DO CREDOR.


Art. 958 CC.

1- exime o devedor de “conservar” a coisa. Antes da mora, ele tem essa obrigação. Isso significa
apenas que, em caso de necessidade, a coisa do devedor tem preferencia sobre a coisa do
credor em mora. Antes do credor estar em mora, a coisa dele tinha preferencia sobre a coisa
do devedor. Em caso de necessidade, ele deveria salvar primeiro a coisa do credor. Com a
mora, ele salva primeiro a sua coisa, e, depois, a do credor.

2- credor vai ressarcir o devedor das despesas que este teve com a conservação da coisa.

3- credor tem que pagar o preço mais favorável ao devedor. Isso serve para o caso em que os
preços oscilam entre a data em que a coisa deveria ter sido entregue e a data da efetiva
entrega. O preço convencionado não prevalece, nesses casos.

CONSEQÜÊNCIAS DA MORA DO DEVEDOR.


Art. 956 CC.
O caput desse artigo é para os casos em que a prestação ainda é útil para o credor.
Esse artigo só trata da mora do Art. 955 CC, que só trata do atraso, e não da inexecução.
Então, quando o devedor está em mora, ou seja, a prestação ainda é útil:

1- devedor cumpre a prestação.


2- devedor ressarce os prejuízos, que são as PERDAS E DANOS.
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p. un - trata dos casos em que a prestação já é inútil ao credor, o que caracteriza a inexecução.
Sua conseqüência é que o devedor só paga perdas e danos. Obviamente, nesse caso, o valor das
perdas e danos é maior que no caso anterior.

CONFIGURAÇÃO DA MORA.

1- na obrigação positiva - é a obrigação de dar ou de fazer. Art. 960 CC

Podem ocorrer 2 situações:

a) obrigação a termo - este é estipulado pelas partes. Configura-se a mora com o termo. É a
MORA EX RE. Esse tipo de mora é o do direito comercial. Ver Art. 952 CC.

b) na obrigação sem termo - isso significa que é sem termo estipulado pelas partes, ou seja, é
o da lei, que diz que a obrigação tem que ser cumprida imediatamente. Configura-se a
mora com o protesto, a notificação ou a interpelação. É a MORA EX PERSONAE, ou seja,
vem da pessoa, do ato da pessoa. Para a lei, a regra é a ocorrência dessa mora, ou seja, a
regra são as obrigações sem termo.

2- na obrigação negativa - é a obrigação de não fazer. Art. 961 CC.


Configura-se a “mora” com a prática do ato. O que ocorre, na verdade, é uma inexecução, pois
não é mais possível a utilidade da prestação. Ninguém, uma vez fazendo algo, pode deixar de
não fazer. Art. 1056 CC.

3- na obrigação proveniente de delito - é a obrigação de pagar perdas e danos Art. 159 CC.
Nasce a obrigação de reparar o dano. A mora se configura desde o dia em que o delito se
perpetrou.
A própria inexecução é ato ILÍCITO CIVIL, tanto que sua conseqüência é a mesma, ou seja,
pagamento de perdas e danos. Art. 1056 c/c 956 CC.
A inexecução será estudada no ponto de responsabilidade civil.

CLÁUSULA PENAL.
Art. 916 CC.
Se é cláusula, é porque houve acordo.
É a multa por acordo, ou multa convencional.

É o acordo pelo qual o devedor (ou o credor) se obriga a entregar dinheiro ou outro bem
economicamente apreciável em caso de descumprimento.

A cláusula penal é OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA, porque depende de outra obrigação, que venha
a ser descumprida. Então, sua NATUREZA JURÍDICA é a de obrigação acessória.

FINALIDADES:

1- inibir o descumprimento.
2- antecipar as perdas e danos, ou seja, antecipar o prejuízo do descumprimento. Tanto na mora
quanto na inexecução, há perdas e danos.

TIPOS DE CLÁUSULA PENAL:


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1- MORATÓRIA - para a MORA. O devedor cumpre a obrigação e paga a cláusula, ao invés de
se ir a juízo para se calcular o prejuízo. Outra vantagem é que o credor não precisa provar que
houve efetivo prejuízo, ou que houve culpa do devedor. O simples atraso já enseja seu
pagamento. Ex: pagamento de multa por atraso de pagamento da conta telefônica.

2- COMPENSATÓRIA - para a INEXECUÇÃO. Cobra-se a cláusula penal, que já é o valor das


perdas e danos. O juiz pode diminuir o valor da cláusula penal.

VALOR DA CLÁUSULA PENAL.


Art. 920 CC.
Denota perfeitamente que a cláusula penal é obrigação acessória. Esse artigo NÃO SE APLICA
MAIS. Foi revogado tacitamente pela Lei de Usura, que dispõe que o valor da cláusula penal
não pode ultrapassar 10% do valor principal, havendo EXCEÇÕES:

1- as cotas condominiais, que podem ser de até 20%, se não houver ajuste entre os condôminos
em assembléia. Deve-se observar o que diz a convenção do condomínio. L 4591/64.

2- Art. 52 § 1o CDC, L 8078/90. A multa de 2% só cabe na relação de consumo COM contrato


do Art. 52 caput CC. Se o contrato não for nenhum desses 2, não cabe cláusula penal de 2%.
A expressão “revogam-se as disposições em contrário” não significa que todas as multas são
de 2%.

CONTRATOS.
É uma das várias fontes das obrigações.

CONCEITO.
É o acordo de vontades que gera obrigação ou obrigações.

Conclusões:

1- o contrato faz nascer direito obrigacional, e não direito real. Ex: a propriedade não nasce do
contrato. Ele apenas traz a obrigação de transferir a propriedade, como no contrato de compra
e venda.

2- não é apenas uma vontade, e sim duas.

Logo, contrato é AJ que precisa de 2 vontades.


Um AJ, quanto à sua formação pode ser unilateral ou bilateral, também chamado de
SINALAGMÁTICO.

Contrato é AJ bilateral, ou sinalagmático.


A 1a vontade se manifesta através da PROPOSTA, que é o ato de oferecimento. Ex: mercadoria
exposta na vitrine.
A 2a vontade se manifesta através da ACEITAÇÃO, que é a concordância com os termos da
oferta.

FORMAÇÃO DO CONTRATO.
Forma-se pela união da proposta com a aceitação.
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A proposta é feita pelo PROPONENTE em face do OBLATO, que é a pessoa a quem se dirige a
oferta, que pode ou não concordar. Se concordar, passa a ser ACEITANTE, havendo formação
do contrato através dessa aceitação. Aceitante é o oblato que anuiu.

De acordo com o Art. 1165 CC, a doação é contrato, pois precisa de 2 vontades, havendo
proposta e aceitação.

Pelo PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE, todos são livres para contratar.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS.

1- quanto às obrigações:

 UNILATERAL - gera obrigação apenas para uma das partes. Ex: doação, contrato de
mandato, que só gera obrigações para o mandatário.

 BILATERAL - gera obrigações para ambas as partes. Ex: compra e venda.

ATENÇÃO - IMPORTANTE - em ambos os casos, é AJ jurídico BILATERAL. Ou seja, o


CONTRATO unilateral é AJ bilateral.
Melhor explicando: na doação pura, a aceitação foi para FORMAR o contrato. Uma vez
formado, o donatário não tem mais obrigação.

2- quanto às vantagens:

 GRATUITO - gera vantagens apenas para uma das partes. Ex: mandato, onde a vantagem
é para o mandante. Só será oneroso se o mandatário estiver recebendo para isso, como o
advogado. O contrato de doação também é gratuito, porque só há vantagem para o
donatário

 ONEROSO - gera vantagens para ambas as partes. Ex: compra e venda.

Geralmente há coincidência, ou seja, o unilateral é gratuito e o bilateral é oneroso. No entanto,


existe contrato unilateral oneroso, embora não exista bilateral gratuito.

3- quanto à forma:

 FORMAL ou SOLENE - a lei exige uma forma. Ex: Art. 1168 caput CC.

 NÃO SOLENE - são a regra. A lei não exige forma. Ex: Art. 129 CC.

Lembrar que a regra é a LIBERDADE DE FORMA.

4- quanto à previsibilidade na lei:

 TÍPICO ou NOMINADO - é aquele previsto pela lei. Ex: compra e venda, doação etc.

 ATÍPICO ou INOMINADO - a lei não o prevê, sendo conseqüência da liberdade que a lei
dá para se contratar.
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5- quanto à formação (aspecto adicional):

 CONSENSUAL - basta a união de proposta e aceitação para que seja formado. É a regra.
Basta o consenso.

 REAL - a lei exige algo mais, que é a entrega da coisa. É exceção. O contrato só será
assim se a lei o determinar. ATENÇÃO - na compra e venda, A LEI NADA DISSE.
Portanto, não é contrato real. A entrega da coisa, no contrato de compra e venda é
OBRIGAÇÃO que nasce do contrato, não sendo essencial para sua formação.
Há casos em que só há CELEBRAÇÃO do contrato quando há entrega da coisa. Esse é o
contrato real. Ex: empréstimo, onde a entrega traduz que houve vontade de celebrar o
contrato. O Art. 1248 CC diz que “perfaz-se” ou seja, SE FORMA.

Então, o empréstimo se forma com: proposta + aceitação + entrega da coisa. Só há obrigação


para o recipiente, que é a de devolver. Aquele que empresta NÃO TEM OBRIGAÇÃO de
entregar, porque isso já foi objeto da formação do contrato.

6- quanto à equivalência de obrigações e vantagens. Só para os bilaterais onerosos:

 COMUTATIVO - é a regra para os contratos bilaterais onerosos. Há, DESDE O INÍCIO,


equivalência entre obrigações e vantagens. Ex: compra e venda.

 ALEATÓRIO - é a exceção. Há risco de equivalência, pois, DE INÍCIO, não há certeza de


correspondência entre obrigações e vantagens. As partes assumem o risco de poder haver
ou não a equivalência. Ex: contrato de seguro.

7- quanto à negociação das clausulas:

 PARITÁRIO ou NEGOCIADO - as partes negociam livremente todas as cláusulas. É a


regra.

 DE ADESÃO - já se discutiu se era ou não um contrato, mas hoje em dia se conclui que é
contrato, porque há liberdade em aceitá-lo ou não. Uma das partes, sozinha, elabora as
cláusulas do contrato. A outra parte aceita em bloco. Ex: conta telefônica. Hoje em dia, o
CDC traz essa previsão, e mostra como se faz sua fiscalização.

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS.

1- PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE - é a liberdade para contratar.

2- PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DO CONTRATO - já que se foi livre para contratar,


uma vez contratado, tem que se cumprir a obrigação. É o pacta sunt servanda. O contrato é
lei entre as partes.

Hoje em dia, isso é atenuado por teorias.


Nos contratos de execução prolongada (diferentes dos instantâneos), pode vir a ser observado
que o equilíbrio existente no início não se verifica mais.
Por isso, surgiram 2 formas de mitigar esse princípio:
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 CLÁUSULA REBUS SIC STANDIBUS - essa cláusula existe IMPLICITAMENTE nos
contratos de execução prolongada. Essa cláusula permite o descumprimento do contrato,
podendo gerar insegurança.

 TEORIA DA IMPREVISÃO - há autores que dizem que é o mesmo que a cláusula acima,
e outros que dizem que nasceu dela. No entanto, existe diferença. A teoria da imprevisão
não permite o descumprimento, e sim a REVISÃO do contrato. Mas para isso é necessário
que o desequilíbrio seja decorrente de evento externo e imprevisível, que vem a ser o
FATO DO PRÍNCIPE. Esse fato não precisa ser inevitável.

A aplicação prática disso é a AÇÃO REVISIONAL DE ALUGUEL


3- PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS - significa que o contrato só gera
efeitos entre as partes. Essa é a regra. No entanto, pode haver estipulação em favor de
terceiro, de acordo com o Art. 1198 CC, que é o caso do seguro de vida.

INSTITUIÇÕES CONTRATUAIS.

ARRAS.
Art. 1094 CC.
É o sinal. É a ENTREGA de dinheiro ou outro bem economicamente apreciável para firmar a
presunção de contrato celebrado.
A lei não estipula seu valor.
Quando em dinheiro, a lei o considera como início de pagamento. Art. 1096 CC.
Se forem em outro bem, não são considerados como início do pagamento, sendo devolvidos
após o pagamento.

Em caso de ARREPENDIMENTO de quem os deu, a pessoa que os recebeu as devolverá ou


não, conforme o tipo de arras:

1- ARRAS CONFIRMATÓRIAS - Art. 1094 CC - são a regra. Elas confirmam o contrato, não
sendo reservado às partes o direito de arrependimento (inexecução). Há perdas e danos em tal
caso. Havendo arrependimento, ocorrem 2 situações:

 se quem recebeu muda de idéia - paga perdas e danos, de acordo com o Art. 1056 CC, e
devolve as arras. Se vai devolver apenas as arras, ou se vai devolve-las em dobro, é visto
caso a caso.

 se quem deu muda de idéia - perde as arras, de acordo com o Art. 1097 CC e paga perdas
e danos, do Art. 1056 CC.

2- ARRAS PENITENCIAIS - Art. 1095 CC - há reserva do direito de arrependimento.


Havendo inexecução, não há pagamento de perdas e danos, pois as arras assumem o lugar das
perdas e danos. Quem deu arras e se arrependeu, perde-as, pois ficam no lugar das perdas e
danos. Se quem recebeu as arras se arrependeu, devolve seu valor em dobro. Se for sob forma
de bem, devolve-o e mais o seu valor. Essas arras tem que vir EXPRESSAS no contrato,
senão a lei presume que as arras são confirmatórias.

RAZÕES PARA SE OFERECER ARRAS.


Se forem confirmatórias, só servem para confirmar a celebração do contrato.
47
Se forem penitenciais, existe outra razão. As arras são as perdas e danos. Antecipam as perdas e
danos.
A diferença com a CLÁUSULA PENAL é que esta antecipa a mora e a inexecução e as arras só
prevêem a inexecução. Além disso, a cláusula penal só determina a entrega do dinheiro após a
mora ou inexecução, ao passo que as arras tem de ser entregues antes.

Logo, existem 2 institutos que antecipam perdas e danos - cláusula penal e arras.

VÍCIO REDIBITÓRIO.
Art. 1101 CC.
CDC deu tratamento diferente para esses vícios, o que será estudado oportunamente.
Esse vício redibitório do CC só serve agora para quando NÃO HOUVER RJ CONSUMO.

É o defeito oculto na coisa, que a torna imprópria para o uso a que se destina ou diminui seu
valor. Logo, não basta a simples existência de vício oculto.

Vício oculto é aquele que passa despercebido ao homem médio.

Alienante responde pelo VR, mesmo não o conhecendo.

Caso o alienante NÃO O CONHEÇA, o adquirente tem 2 opções:

1- propor AÇÃO REDIBITÓRIA - o adquirente rejeita a coisa e pega seu dinheiro de volta. Art.
1101 CC. Diz-se que o adquirente está REDIBINDO a coisa.

2- propor AÇÃO ESTIMATÓRIA, ou AÇÃO QUANTI MINORIS - o adquirente aceita a coisa


com abatimento do preço. Art. 1105 CC.

Essas 2 ações são ESPÉCIES do gênero AÇÃO EDILÍCIA.

Ação edilícia:
a) ação redibitória.
b) ação estimatória.

Caso o alienante CONHEÇA o vício, cabem perdas e danos.

Observe-se que em nenhum caso há anulação de contrato.

PRAZOS para a propositura de ação edilícia:


a) bem móvel - 15 dias. Art. 178 § 2o CC.
b) bem imóvel - 6 meses. Art. 178 § 5o CC.

TERMO INICIAL DO PRAZO - é a tradição da coisa. Isso é questionado pela doutrina. Esse
prazo só vale para quando não for relação de consumo.

EVICÇÃO.
Art. 1107 CC.
Conceito é doutrinário. É a perda da coisa por força de sentença judicial, que a reconhece como
direito de outrem.
48

A ação proposta foi a AÇÃO REIVINDICATÓRIA.

Alienante responde pela evicção, na forma do Art. 1109 CC, inclusive as custas judiciais. É daí
que se infere que a perda é por sentença judicial.

Nesses casos, a DENUNCIAÇÃO À LIDE é obrigatória. Art. 1116 CC. O EVICTO está
obrigado a denunciar à lide o alienante. Se não fizer isso, perderá o bem.

REGRA - alienante responde pela evicção.


EXCEÇÃO - alienante não responde pela evicção quando isso constar no contrato -
CLÁUSULA DE IRRESPONSABILIDADE - Art. 1107 CC. Além disso, tem que ficar
provado que o adquirente sabia do risco de evicção e, mesmo assim, assumiu o risco.

De acordo com o Art. 1117 CC, não cabe evicção em casos de perda da coisa por roubo, furto
ou força maior. Seu inciso I comprova que a perda é por SENTENÇA JUDICIAL, MAS existe
um caso em que a jurisprudência aceita evicção sem sentença judicial. É o caso de quem
comprou de boa fé algo roubado, que cai na EVICÇÃO POR SEMELHANÇA, que não ocorre
por sentença judicial.
Ou seja, a vítima pode alegar evicção em caso de APREENSÃO DE VEÍCULO por AP que o
tenha reconhecido como produto de crime contra o patrimônio. O bem é considerado produto de
crime e direito de outra pessoa. Quem o perdeu, tem que acionar o alienante, no caso, a
concessionária, alegando evicção. O alienante responde na forma do Art. 1107 e ss. CC, tendo
direito de regresso. É melhor propor ação reivindicatória por evicção do que propor ação de
perdas e danos.

Então, por exceção, aplica-se a evicção por analogia.


Hoje em dia, o CDC protege bem o consumidor nesses casos, não havendo mais necessidade de
se alegar evicção por semelhança. No entanto, ainda é possível fazer isso, caso se deseje.

Evicto adquirente usa as leis do CPC, de acordo com o Art. 1116 CC, ou seja, pela
DENUNCIAÇÃO À LIDE.
É o ÚNICO caso em que ela é obrigatória, pois, caso não peça, não pode pedir depois.

COMPRA E VENDA - C e V.
Art. 1122 CC trata do conceito.
As partes são o COMPRADOR, que tem a obrigação de pagar o preço certo do bem, e o
VENDEDOR, que é obrigado a transferir a propriedade do bem.

Logo, não se cria direito real, e sim obrigação.

Em relação à transferência da propriedade:

 MÓVEL - por TRADIÇÃO, de acordo com o Art. 620 CC, que é obrigação do tipo DAR.

 IMÓVEL - por REGISTRO do contrato, de acordo com o Art. 530 I e 531 CC, que é
obrigação do tipo FAZER.

COMPRADOR - tem que pagar em dinheiro, senão não é C e V, é escambo, troca. Não precisa
ser em moeda, podendo ser cheque ou documento que tenha valor em dinheiro.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS DE C e V.


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1- BILATERAL ou SINALAGMÁTICO - gera obrigações para ambas as partes.

2- ONEROSO - gera vantagens para ambas as partes.

3- CONSENSUAL - não é contrato real porque não é necessária a entrega para FORMÁ-LO. A
entrega é apenas a obrigação do vendedor.

4- NÃO SOLENE - essa é a regra, mas há EXCEÇÃO, onde o contrato tem que ser solene no
caso do Art. 134 II CC quando for C e V de imóveis com valor acima de Cr $ 50.000,00.
Tem de ser por ESCRITO PÚBLICO. Se isso não for obedecido, o contrato é nulo por força
do Art. 145 III CC. Se o imóvel for de valor inferior, ainda assim é escrito, mas particular.
Continua a ser escrito porque o mesmo, ainda que particular, tem que ser levado a registro.

ATENÇÃO - contrato translativo de direito real gera obrigação de transferir o direito real e o
contrato constitutivo de direito real gera obrigação de criar o direito real. Ou seja, o contrato
NÃO gera nem transfere o direito real e SIM A OBRIGAÇÃO de criar ou transferir o direito
real.

DISPOSIÇÕES GERAIS.

1- Art. 1136 CC - só vale para imóveis, admitindo a classificação:

 ad corpus - a metragem é enunciativa, não sendo relevante. O importante é a coisa. O


preço não se vincula à metragem.

 ad mensuram - a metragem é importante. O preço não é vinculado a ela.

A conclusão é que, quando a área enunciada é diferente da constatada, isso só será relevante
quando a C e V for ad mensuram.
Nesses casos, de venda ad mensuram, se a área constatada é maior, o vendedor não pode pedir
complementação, porque o dono tem que conhecer o que é seu. Isso é um princípio que
sobrepuja o princípio do enriquecimento ilícito. Se a área constatada for menor, o comprador
tem direito à complementação de área. Se resistir, cabe AÇÃO EX EMPTO.
Quando não é possível a complementação da área, nasce um direito que só pode ser exercido
caso o acima mencionado não for possível, que é o direito de propor AÇÃO, que pode tem 2
modalidades:

 AÇÃO REDIBITÓRIA - rejeitar a coisa, com devolução do dinheiro.


 AÇÃO ESTIMATÓRIA - aceitar a coisa com abatimento no preço.

Quando não se sabe se a C e V é ad corpus ou ad mensuram, aplica-se a presunção do Art. 1136


p.un CC, que é presunção iuris tantum:

 ad corpus - se a diferença é menor que 1/20.

 ad mensuram - se a diferença é maior que 1/20.

2- Art. 1139 CC - trata da C e V entre condôminos. Só se aplica quando o bem for indivisível.
Nesse caso, existe direito de preferencia entre os condôminos, ou seja, quando um condômino
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quer vender, tem de dar preferencia aos outros. A finalidade é evitar que estranhos entrem na
comunhão.

Direito de preferencia = DIREITO DE PREEMPÇÃO ou DIREITO DE PRELAÇÃO.

Se houver venda sem que se dê preferencia a outro condômino, este, que foi PRETERIDO em
seu direito de preferencia, terá direito a, no prazo de 6 meses, depositar o preço pago pelo 3 o e
ter a coisa para si. Esse prazo é decadencial, começando a correr na celebração do contrato,
segundo a doutrina. No entanto, há quem ache que é a partir do registro do contrato, porque é
neste momento que se torna público.

3- Art. 1129 CC - trata das despesas decorrentes da transferência de propriedade.

 despesas da tradição - são do vendedor.


 despesas da escritura - são do comprador.

ATENÇÃO - Art. 1137 CC - o comprador tem de exigir certidões negativas do imóvel.

OBSERVAÇÕES:
Para Arnoldo Wald, as fontes de obrigações são:

 contrato - ATO bilateral.


 ato unilateral.
 ato ilícito.

Outros (doutrina, Caio Mario) dizem que são:

 vontade - que inclui os 3 acima.


 lei.

Mas existe uma obrigação que é diferente das outras. Esta obrigação nasce do direito real, vem
da coisa, ou seja, tem obrigação quem tiver a coisa. E a OBRIGAÇÃO MISTA ou
OBRIGAÇÃO PROPTER REM. Ela mistura o direito real com direito pessoal. Isso ocorre
com o imposto dos imóveis. Por isso o comprador tem que exigir certidão negativa. Se, mais
tarde, esse imposto for cobrado, com a certidão negativa ele nada pagará.

4- Art. 1133 CC - trata de casos de impedimento, e não de incapacidade. Desrespeitado, a C e V


é nula, de acordo com o Art. 145 II CC.

5- Art. 1132 CC - será melhor explicado quando se falar em doação. Ascendentes podem
vender aos descendentes com o consentimento dos demais.

CLÁUSULAS ESPECIAIS DA C e V.

1- CLÁUSULA DE RETROVENDA - Art. 1140 CC - nesse caso, o vendedor tem direito a


reaver a coisa no prazo máximo de 3 anos, de acordo com o Art. 1141 CC, devolvendo o
preço pago mais as despesas. É o DIREITO DE RESGATE. Se o prazo no contrato for maior,
considera-se não escrito, valendo o prazo de 3 anos. Só vale para bens imóveis.

A natureza jurídica da retrovenda é CONDIÇÃO RESOLUTIVA, porque extingue os efeitos do


AJ.
51

C e V, com essa cláusula, levada a registro, transfere a propriedade. Essa propriedade se chama
PROPRIEDADE RESOLÚVEL. Art. 647 CC.

2- CLÁUSULA DE PREFERENCIA, PREEMPÇÃO ou PRELAÇÃO - Art. 1149 CC - nesse


caso, o comprador se obriga para com o vendedor a dar-lhe preferência caso venha a vender o
bem, MÓVEL OU IMÓVEL
Logo, o vendedor passa a ter direito de preferência. No entanto, o comprador pode lhe oferecer o
bem pelo preço que quiser, diferente do que ocorre na retrovenda, onde o vendedor devolve o
que recebeu, com atualização.

Na preferência não há condição resolutiva, como na retrovenda.


A iniciativa é do comprador, e não do vendedor, como na retrovenda.

Se o vendedor for preterido em seu direito de preferência, o comprador vai pagar perdas e danos.
Esse direito de preferência é diferente da preferência entre condôminos do Art. 1139 CC.

Preferência é direito personalíssimo do vendedor, ou seja, só ele pode exigir perdas e danos, e
mais ninguém. Se o vendedor morrer, o comprador não tem essa obrigação para com os
herdeiros.

Há quem entenda que o direito de resgate da retrovenda também é personalíssimo.

PROMESSA DE C e V.
É um contrato que não é previsto em lei.
Logo, é contrato ATÍPICO, ou INOMINADO.
É mais freqüente para imóveis, apesar de poder ser para moveis e imóveis.

PARTES:

 PROMITENTE VENDEDOR
 PROMITENTE COMPRADOR.

CONCEITO.
É doutrinário. É o contrato pelo qual as partes se obrigam a, no futuro, celebrar C e V.

Observe-se que as partes se obrigam a celebrar OUTRO CONTRATO, por isso, o contrato de
promessa de C e V é chamado de CONTRATO PRELIMINAR, e a C e V é o CONTRATO
DEFINITIVO.

A obrigação é do tipo FAZER.

FINALIDADE.
Esse contrato é útil porque às vezes o comprador não pode pagar logo, pedindo um prazo. Se o
vendedor celebrar logo o contrato de C e V, ficará inseguro, porque se o comprador não pagar, o
vendedor só poderá propor ação de cobrança, com perdas e danos, não podendo reaver o bem.

No contrato de promessa de C e V, a propriedade não é transferida, havendo apenas a


transferência de POSSE ao promitente comprador, que inicia o pagamento. Quando terminar o
pagamento, haverá celebração do contrato de C e V.
52
No entanto, já que não há insegurança para o promitente vendedor, há insegurança para o
promitente comprador, porque ninguém pode ser obrigado a celebrar contrato contra sua
vontade. Ninguém pode ser forçado a vender. Todo contrato de promessa de C e V, tem, até
mesmo implicitamente, a CLÁUSULA DE ARREPENDIMENTO.
No entanto, se o promitente vendedor se arrepender haverá conseqüências, pois houve
descumprimento de obrigação de celebrar contrato de C e V, o que constitui INEXECUÇÃO
ABSOLUTA, gerando perdas e danos. Mas mesmo isso, não é bom para o promitente
comprador, que deseja a propriedade do imóvel.

Por este motivo, a lei interveio na promessa de C e V DE IMÓVEIS, criando o


COMPROMISSO DE C e V, que é a promessa de C e V IRRETRATÁVEL, de onde foi retirada
a cláusula implícita de arrependimento.

A legislação pertinente é:

DL 58/37 - C e V de loteamento rural.


L 6766/79 - C e V de loteamento urbano.

No compromisso de C e V, se o promitente vendedor (PV) não celebrar o contrato, o promitente


comprador (PC) vai a juízo para pedir que o PV seja condenado a celebrar o contrato de C e V.

Se o PV não celebrar o contrato, cabe execução, citando-se o PV para que venha celebrar o C e
V. Se, ainda assim, não celebrar, a sentença condenatória substitui o contrato de C e V. A
SENTENÇA é levada a registro, e o registro dessa sentença transfere a propriedade do imóvel.
Essa é a AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA. Sua razão é que a promessa de C e V é
irretratável, porque existe compromisso.

Há casos em que o PV promete vender o imóvel a várias pessoas. Se uma delas LEVOU A
REGISTRO A PROMESSA DE C e V, esta pessoa passa a ter DIREITO REAL, que não é a
propriedade, porque senão a celebração do contrato de C e V não seria mais necessária.
Esse direito real é bom, porque o direito real tem eficácia erga omnes.

Os outros PC, tenham ou não a posse, não tem direito à transferência de propriedade, tendo
apenas direito a perdas e danos.

Se nenhum PC levou o contrato a registro e todos foram a juízo propor ação de adjudicação
compulsória, o juiz tem que verificar se alguém já registrou, e, para isso, pede a CERTIDÃO DE
REGISTRO IMOBILIÁRIO. Sendo negativa, o juiz manda que façam o registro. Conseguirá
aquele que chegar primeiro. Os outros terão direito a perdas e danos.

No caso do PC parar de pagar o preço, em princípio há DESCUMPRIMENTO RELATIVO,


pois é caso de MORA. Se, em juízo, o PV cobrando as prestações, ele diz que não vai mais
comprar, é DESCUMPRIMENTO ABSOLUTO, pois é INEXECUÇÃO.

No 1o caso, o PC cumpre as prestações e paga perdas e danos.


No 2o caso, só perdas e danos, mas de maior valor.

Mesmo que haja termo para o pagamento da obrigação e este seja descumprido, a lei exige que o
PV configure o PC em mora, não se aplicando o Art. 960 CC, que trata da mora ex re. No
presente caso, o PV tem que configurar o PC em mora através de interpelação, notificação ou
protesto, pois a mora é ex personae, de acordo com o DL 745/69, em relação a loteamento rural.
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No caso de loteamento urbano, o Art. 32 L 6766/79 já diz que o devedor tem que ser
CONSTITUÍDO em mora.

DETALHES DAS LEIS.

1- na C e V irretratável, ou compromisso de C e V, as partes se chamam de


COMPROMITENTE VENDEDOR e COMPROMISSÁRIO COMPRADOR. Em ambas as
leis o contrato é solene. Art. 26 L 6766/79 e Art. 11 DL 58/37.

2- no compromisso de C e V, para a propositura de ação de adjudicação compulsória, o registro


não é requisito. No entanto, durante o processo, este será necessário, porque em se tratando de
direito real, fica mais fácil. Ver Art. 16 DL 58/37 e procurar o artigo na L 6766/79.

DOAÇÃO.

CONCEITO está na lei, no Art. 1165 CC. Mas deve-se tomar cuidado com a redação da lei,
pois dá a falsa impressão que o donatário está obrigado a aceitar. Lembrar que contrato é AJ
bilateral, e que a aceitação é apenas para se formar o contrato, e não obrigação que nasce dele.

Doação é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a transferir a propriedade de um ou mais
bens para outra pessoa, PF ou PJ.

As partes são o DOADOR e o DONATÁRIO.

CARACTERÍSTICAS.

1- UNILATERAL - só gera obrigação para o doador, que é a de transferir a propriedade do


bem. Não é o contrato que gera a propriedade, porque contrato não gera direito real. Se a
coisa for imóvel, será transferida por registro, de acordo com o Art. 530 I CC. Se for móvel,
pela tradição, de acordo com o Art. 620 CC.

2- GRATUITO - só gera vantagem para o donatário, que aumenta seu patrimônio ao receber a
propriedade do bem. Não se está falando ainda de DOAÇÃO COM ENCARGO, e sim de
DOAÇÃO PURA. O encargo é ELEMENTO ACIDENTAL do AJ, e não elemento essencial.

3- CONSENSUAL - basta a união da proposta com a aceitação. Não há necessidade de entrega


para se formar o contrato. A transferência de propriedade é obrigação resultante, pois não é
contrato real.

4- FORMAL ou SOLENE - Art. 1168 CC. Tem que ser por escrito, público ou particular, pois,
caso contrário, o contrato será nulo, de acordo com o Art. 145 III CC. Essa é a REGRA.

EXCEÇÕES:

a) Art. 1168 p.un CC - a doação pode ser verbal quando a coisa é móvel, de pequeno valor e
a entrega é imediata. É considerada coisa de pequeno valor aquela igual ou inferior a 10%
do patrimônio do doador.
b) Art. 134 II CC - o escrito tem que ser obrigatoriamente público quando o contrato for
translativo ou constitutivo de direito real sobre imóvel. É igual ao que ocorre na C e V.
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CUIDADO com a redação, pois não é o contrato que transfere ou cria o direito real, e sim o
registro.

PECULIARIDADES DA ACEITAÇÃO.

1- Art. 1166 CC - ACEITAÇÃO TÁCITA - se o donatário não quer a doação, tem que dizer
expressamente, pois seu silencio importará em aceitação.

2- Art. 1173 CC - DOAÇÃO EM CONTEMPLAÇÃO DE CASAMENTO FUTURO - a


celebração do casamento importará em aceitação. Se não houver casamento, o bem tem que
ser devolvido.

3- Art. 1169 CC - DOAÇÃO A NASCITURO - o contrato é formado quando os pais aceitam.


Essa doação é sujeita a condição suspensiva, que é o nascimento com vida. Até lá não há
eficácia do AJ, pois até então a doação é expectativa de direito. Se o feto nascer sem vida, o
bem deverá ser devolvido.

4- Art. 1170 CC - DOAÇÃO A RECÉM NASCIDO - AI e RI podem aceitar doações puras.


Em se tratando de recém nascido, quem aceita é o próprio, ou seja, o bem tem que ser aceito
porque o AI está sob o pátrio poder. É o próprio incapaz quem aceita, ao contrário do
anterior, onde são os pais que aceitam.

MODALIDADES DE DOAÇÃO.

1- DOAÇÃO PURA - é a que tem as 4 características já descritas.

2- DOAÇÃO REMUNERATÓRIA - Art. 1167 CC - não é feita por mera liberalidade, pois o
doador já recebeu um serviço que não lhe foi cobrado. Deixou de ser gratuita, embora ainda
unilateral, pois o donatário está aumentando seu patrimônio e o doador já teve sua vantagem,
pois já recebeu um serviço. Quando o valor da doação é superior ao valor do serviço
recebido, a doação não é apenas remuneratória, e sim DOAÇÃO MISTA, sendo
remuneratória até o valor do serviço e pura no que ultrapassar este valor. Essa diferenciação é
importante, porque as revogações são diferentes.

3- DOAÇÃO COM CLÁUSULA DE REVERSÃO - Art. 1174 CC - é uma doação


personalíssima, para aquele donatário e mais ninguém. Sua natureza jurídica é a de condição
resolutiva, porque se o donatário falecer antes do doador, o bem volta a este ultimo. Então,
ocorrerão 2 situações por ocasião da morte do donatário:

 se o doador estiver morto - o bem vai para os herdeiros do donatário.


 se o doador estiver vivo - o bem volta para ele.

4- DOAÇÃO COM ENCARGO ou DOAÇÀO MODAL ou DOAÇÃO ONEROSA - Art. 1180


CC - a natureza jurídica do encargo é a de ELEMENTO ACIDENTAL do AJ, que faz com
que o AJ assuma uma MODALIDADE. O contrato passa de gratuito a oneroso.

ENCARGO - restrição feita pelo autor de uma liberalidade. Não é condição. Não é obrigação e
sim elemento acidental. No entanto, é visto como vantagem para o doador, porque foi
colocado por ele. No testamento também pode haver encargos.
ATO DE LIBERALIDADE - transferência de bens de um patrimônio por vontade.
55
Então, essa doação continua a ser contrato unilateral, porque o encargo não é obrigação para o
donatário. Se o donatário não cumpri-lo, não pagará perdas e danos, uma vez que não é
obrigação. A única coisa que ocorre é a revogação da doação.
No entanto, mesmo o contrato continuando a ser unilateral, ele passa a ser ONEROSO, porque
haverá vantagens para ambos.

Logo, a doação modal é contrato UNILATERAL e ONEROSO.

5- DOAÇÃO DE PAIS PARA FILHOS - Art. 1171 CC - nesse ponto, será também vista a C e
V entre ascendentes e descendentes. Serão necessárias noções de direito sucessório.

PATRIMÔNIO - conjunto de bens. Quando alguém falece, esse patrimônio se chama


HERANÇA que, quando vai a juízo, passa a se chamar de ESPÓLIO.

A regra é que a herança seja livre, mas, para isso, é necessário o TESTAMENTO.

Quando casados, o patrimônio do cônjuge sobrevivente é a MEAÇÃO. No próprio


INVENTÁRIO faz-se a meação E a herança. Meação é direito próprio do viuvo, e não sua
herança. Logo, no testamento, se casado, ele diz para quem ficará sua parte, porque a meação
já é do outro cônjuge.

Então, em regra, a herança é livre. No entanto, quem tem HERDEIRO NECESSÁRIO ou


FORÇADO, só pode dispor da metade de seu patrimônio, que se chama de METADE
DISPONÍVEL. É apenas esta que é livre. Ver o Art. 1721 CC, que diz que herdeiros
necessários são descendentes e ascendentes, nessa ordem. Cônjuge não é herdeiro necessário.
A metade que vai para o herdeiro necessário é a METADE LEGÍTIMA ou METADE
NECESSÁRIA. A outra metade é livre, através de testamento. Se não houver testamento, vai
tudo para o herdeiro necessário.

Em relação à metade legítima, um herdeiro necessário não pode receber mais do que outro. Só se
pode estabelecer diferença em relação à metade disponível.

A lei quis que tudo o que ocorre na morte deve ocorrer em vida, ou seja, aplicam-se as mesmas
regras para a doação ou C e V de ascendentes para descendentes. Ver Art. 1171 e 1722 CC.

As doações feitas em vida, saem da metade legítima, sendo consideradas ADIANTAMENTO


desta. Quando é aberto o inventário, iguala-se a legítima dos herdeiros necessários através da
COLAÇÃO. Art. 1785 CC. O herdeiro que recebeu adiantamento, prestará conta disso, ou
seja, tem que trazer estes bens ao inventário. Se esconder, será BEM SONEGADO,
aplicando-se a pena do Art. 1780 CC, ou seja, perde o bem.

Trazendo-se o adiantamento, este será avaliado. Se aquele herdeiro que recebeu o adiantamento
houver recebido mais do que teria direito, ele terá que devolver ao monte o excedente, seja o
bem, seja o seu valor.
Se, ao fazer a doação, o ascendente nada disser a respeito de qual metade está saindo esta
doação, presume-se que saiu da metade legítima. Mas, ele pode dizer que saiu da metade
disponível, fazendo uma exceção, prevista no Art. 1788 CC. Estes bens serão dispensados da
colação. O limite é a metade do total do patrimônio.

Na C e V de pais a filhos não há liberalidade, como na doação e na herança, pois o Art. 1132
CC diz que é necessário o consentimento dos outros filhos. É para fins de fiscalização, de
56
evitar a simulação da doação como C e V, pois se esta C e V for por um valor inferior ao
valor do bem, será considerada como NEGÓCIO MISTO (doação e venda).
Não havendo consentimento, esta recusa tem que ser por motivo justo, senão cabe
CONSENTIMENTO JUDICIAL. Isso é controverso, havendo 2 posicionamentos:

 MINORIA - acham que não é possível, pois o consentimento judicial só cabe nos casos
previstos em lei.

 MAIORIA - acham que é possível, porque a lei não é a única fonte do direito, podendo ser
usada a analogia.

Se o ascendente vende ao descendente sem consentimento dos demais e sem suprimento judicial,
SERIA aplicável a regra do Art. 145 IV CC, o que geraria ato nulo, porque o consentimento
é requisito de validade. No entanto, o juiz não pode fazer isso de ofício, logo, o ato é
ANULÁVEL, havendo 3 correntes para justificar:

 é anulável porque oculta simulação. O Art. 147 II CC diz que o AJ é anulável, no prazo
do Art. 178 § 9o CC, ou seja, 4 anos.

 outra corrente diz que esses 4 anos começam a ser contados do momento da morte.

 En 494 STF revogou o En 157 STF, que dizia o que dizia a 2a corrente acima. O atual diz
que o AJ é anulável porque é razão de ordem particular, mas o prazo para anular não está
na lei, sendo o prazo, então, de 20 anos. Usa-se o Art. CC por analogia, mas a partir da
data da C e V.

Todos esses critérios de anulação só valem se tiver havido simulação. Por isso há um 4 o
entendimento, que diz que, se não houver prejuízo, não há porque anular.

OBS - com o novo CC, a simulação tornará o AJ nulo, e não anulável, porque a nulidade não
convalesce, podendo ser provada a qualquer tempo. Isso é porque a simulação é muito difícil
de ser provada.

6- DOAÇÃO UNIVERSAL - Art. 1175 CC - é a doação de todos os bens. No entanto, essa


doação será NULA se não for reservado um mínimo para sobrevivência, porque, nesse caso,
passaria a ser um peso para os parentes e para o Estado.

Se reservar, a doação é válida, gerando efeitos. O direito de usufruto é uma reserva, pois a
reserva para sobrevivência não é necessariamente o direito real de propriedade, e sim um
direito real, que pode ser outro.

7- DOAÇÃO INOFICIOSA - Art. 1176 CC - é a que ultrapassa a metade disponível e entra na


legitima. Essa doação será nula apenas NO EXCESSO, de acordo com a LEI.

Mas, a DOUTRINA diz que é anulável, porque é o prejudicado quem tem que agir, no prazo de
20 anos, de acordo com o Art. 177 CC, contados do dia da doação.

ATENÇÃO - c/c Art. 1171 CC - adiantamento da legítima no caso de doação inoficiosa a filho.
57

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO.
Doador tem que propor ação. Não é através de contrato, que seria um distrato.

É direito potestativo do doador, exercido em juízo através de ação personalíssima, ou seja, só o


doador pode propo-la, em face do donatário.
As hipóteses em que é possível a revogação são:

1- Art. 1181 caput CC - INGRATIDÃO DO DONATÁRIO - os atos de ingratidão estão no


Art. 1183 CC e são numerus clausus, ou seja, só aquelas hipóteses são atos de ingratidão. O
prazo é o do Art. 1184 CC, 1 ano, com termo inicial no momento em que o doador toma
conhecimento do fato e de seu autor.

ATENÇÃO - a doutrina aceita interpretação extensiva no inciso I, ou seja, se o donatário matar


o autor, a legitimidade é dos herdeiros.

2- Art. 1181 p.un CC - DESCUMPRIMENTO DO ENCARGO - o prazo é de 1 ano, com


termo inicial diferente do Art. 1184 CC, ou seja, é a partir do momento em que o donatário
estiver em MORA, apesar do encargo não ser obrigatório. Art. 960 CC.

Doador pode ou não fixar o termo. Se fixou, a mora é a partir do termo, sendo mora ex re. Se
não fixou, a mora vem da notificação, interpelação ou protesto, sendo mora ex persona.

EMPRÉSTIMO.
É contrato típico, nominado, porque está na lei.
Há 2 tipos:

1- COMODATO - Art. 1248 CC - empréstimo de coisa NÃO FUNGÍVEL. Não é


necessariamente coisa imóvel. As partes se chamam COMODANTE e COMODATÁRIO.

2- MÚTUO - Art. 1256 CC - empréstimo de coisa FUNGÍVEL. As partes são MUTUANTE e


MUTUÁRIO.

CARACTERÍSTICAS DOS EMPRÉSTIMOS.


São características de ambos os tipos.

a) CONTRATO REAL - só se aperfeiçoa com a entrega da coisa. Art. 1248 2a parte CC.

b) CONTRATO UNILATERAL - só gera obrigação para o comodatario ou mutuário, que é a de


devolver. Comodante e mutuante não tem obrigação de entregar, porque isso já foi elemento
de formação do contrato. Obrigação de devolver é obrigação do tipo dar.

c) CONTRATO GRATUITO - só gera vantagem para o comodatario, que está USANDO coisa
alheia. Por isso, o contrato de comodato é CONTRATO DE USO. Já o mutuário está
CONSUMINDO coisa alheia, e por isso, o contrato de mutuo é CONTRATO DE
CONSUMO.

ATENÇÃO - no comodato não há transferência de propriedade, havendo apenas transferência de


posse. Ele devolve a própria coisa. Já no mútuo, a ENTREGA transfere a propriedade da
coisa, que será consumida, devolvendo-se outra coisa.
58
Essa é a regra, mas há um caso em que o contrato de mútuo é ONEROSO - é quando se
empresta capital, que é empréstimo a juros. No entanto, continua sendo unilateral. A
obrigação do mutuário é dupla - devolver o dinheiro e pagar os juros. É o MÚTUO
FENERATÍCIO.

Único caso de EMPRÉSTIMO SOLENE é aquele para aquisição da casa própria. O mutuário
compra a casa própria com o dinheiro e a casa fica hipotecada à CEF. Para cobrar juros, o
contrato tem que ser escrito.

d) CONTRATO NÃO SOLENE - com a exceção do MÚTUO FENERATÍCIO.

PRAZO PARA DEVOLUÇÃO DA COISA.

NO COMODATO - pode ser por acordo. Se o dia está estipulado, é TERMO CERTO. Se não há
acordo, é TERMO INCERTO, recorrendo-se à a lei. O Art. 1250 CC traz presunção de tempo
necessário para o uso, que depende de notificação, interpelação ou protesto. Ver Art. 960 CC. O
comodatario deve ser constituído em mora.

NO MÚTUO - segue-se a regra do Art. 1264 CC. Havendo acordo, é o dia do termo. Se não há
acordo, vale o prazo que disser o mutuante.

Art. 1254 CC é o mais controvertido. Se há despesas do comodatario com o uso e gozo da


coisa, ele não pode cobrá-las nunca.
No entanto, o comodatario é possuidor de boa fé e, de acordo com o Art. 516 CC, ele tem
direito a indenização, inclusive com direito de retenção (nas benfeitorias necessárias e úteis) ou
de levantamento (nas voluptuárias).

Há 3 correntes a respeito.

1a CORRENTE - o comodatario não tem direito a indenização das benfeitorias necessárias,


porque decorrem do uso e gozo da coisa, sendo despesas ordinárias. Aplica-se o Art. 1254 CC.
As outras benfeitorias são despesas extraordinárias, havendo direito a indenização, aplicando-se
o Art. 516 CC.

2a CORRENTE - qualquer despesa que o comodatario faça, não tem direito a indenização,
porque o Art. 1254 CC só fala em despesas, qualquer uma, e não em benfeitorias.

3a CORRENTE - de certa forma concorda com a 1 a corrente, mas diz que só pode pedir
indenização se houver pedido antes autorização para a realização da benfeitoria.

LOCAÇÃO.
É o contrato pelo qual uma pessoa, por certo tempo e mediante remuneração de outra pessoa, se
obriga a :

a) ceder o uso de certa coisa - LOCAÇÃO DE COISA.


b) realizar determinado serviço - LOCAÇÃO DE SERVIÇO.
c) realizar certa obra - LOCAÇÃO DE OBRA ou EMPREITADA.

As partes são:
a) LOCADOR - cede uso ou realiza serviço ou obra.
b) LOCATÁRIO - remunera o locador.
As remunerações se chamam:
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a) ALUGUEL - na locação de coisa.


b) SALÁRIO ou HONORÁRIO - na locação de serviço. O salário criou um ramo distinto, que é
o direito do trabalho. O honorário está no Art. 1216 CC.
c) PREÇO - para locação de obra.

Os 3 são FRUTOS CIVIS, são rendimentos.

LOCAÇÃO DE COISA.
Para imóveis, há lei específica, que é a L 8245/91, que é a Lei do Inquilinato - LI.

Art. 1o LI - traz o objeto da lei, que é a locação de IMÓVEL URBANO. A diferença com o
rural é a sua FINALIDADE, e não a sua localização. Se a destinação for de moradia, é imóvel
urbano, ainda que localizado na zona rural.

p.un - traz as exceções, que são imóveis urbanos não regidos por essa lei. Ex: vagas autônomas
de garagem no Menezes Cortes. Idem para apartamentos de apart-hotel.

CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE LOCAÇÃO.

1- BILATERAL - traz obrigações para as 2 partes. A do locador é, entre outras, ceder o uso da
coisa. Art. 22 LI. A do locatário é, dentre outras, remunerar o locador. Art. 23 LI.

2- ONEROSO - traz vantagens para ambos. A do locador é receber o aluguel. A do locatário é


usar coisa alheia.

3- CONSENSUAL - e não real, porque a entrega das chaves é cumprimento de obrigação do


locador. No entanto, a devolução das chaves marca o FIM do contrato. As chaves podem ser
devolvidas em juízo.

4- NÃO SOLENE - a lei não exige forma. Pode ser verbal ou escrito, público ou particular, e até
mesmo por gestos.

TIPOS DE CONTRATO DE LOCAÇÃO.

1- POR PRAZO DETERMINADO - Art. 4o LI - ainda assim, o locatário pode devolver o


imóvel antes do termo. No entanto, se fizer isso, é descumprimento absoluto, ou inexecução,
pagando, portanto, perdas e danos. Isso geralmente está previsto no contrato de locação pela
CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA.
Art. 4o LI faz remissão ao CC, porque é permitido que o juiz abaixe o valor da multa, porque às
vezes o contrato já foi quase todo cumprido, restando ainda 1 ou 2 meses, e a multa é o
equivalente a 3 meses de aluguel.

2- POR PRAZO INDETERMINADO - Art. 6o LI - pode ser indeterminado originalmente


(desde o início) ou por prorrogação. A única exigência, nesse tipo de locação, é que o locador
seja avisado com 30 dias de antecedência, ou então que seja pago com 30 dias de
antecedência.

FIXAÇÃO DO VALOR DO ALUGUEL.


Art. 17 LI.
60
É livre, por acordo entre as partes, valendo a lei da oferta e procura.

REAJUSTE não é previsto na LI. Se a locação é residencial, ou seja, destina-se a MORADIA,


há uma lei especial (procurar essa lei), que permite reajuste após 1 ano.

REVISÃO - baseia-se na TEORIA DA IMPREVISÃO. Ocorre por acordo ou por AÇÃO


REVISIONAL DE ALUGUEL. Tem que ter ocorrido algo de especial, que motive isso, senão é
simples revisão. Serve para aumentar ou diminuir o aluguel. A ação tem prazo para ser proposta.
Ver a lei.

VENCIMENTO DO ALUGUEL.
REGRA - as partes podem fixar a data, desde que não ocorra pagamento antecipado, o que é
vedado pela lei. Pagamento antecipado é aquele que ocorre no mês anterior. Pode ser até no 1 o
dia do mês vincendo, mas não pode ser no último dia do mês anterior.

Só há exceção a essa regra em 2 casos:

1- quando o aluguel for por TEMPORADA, ou seja, para moradia por prazo máximo de 90 dias.

2- quando não houver GARANTIA LOCATÍCIA.

Quando não houver acordo quanto a data do pagamento do aluguel, a lei diz que é no 6 o dia útil
subsequente ao mês vencido.
Ex: não se pode pagar o aluguel do mês de setembro no dia 31 de agosto, mas pode ser pago a
partir de 1o de setembro e até o 6o dia útil do mês de outubro.

GARANTIAS LOCATÍCIAS.
Art. 37 LI .
São taxativas, ou seja, apenas as da lei e, ainda assim, o locador só pode usar uma delas, nunca 2
ou as 3.

1- SEGURO DE FIANÇA LOCATÍCIA - o locatário paga a uma seguradora uma determinada


quantia. Se houver um sinistro e ele não puder mais pagar, a seguradora paga o aluguel.
Quem a aciona é o próprio locatário. A seguradora paga até 1 ano de aluguel. É mais usada
para locações comerciais, porque é muito cara.

2- CAUÇÃO - é uma GARANTIA REAL. O locatário oferece como garantia uma coisa móvel
ou imóvel.

Se for coisa MÓVEL - tem que haver TRADIÇÃO para o locador, criando-se o direito real
chamado de PENHOR. Quando a coisa móvel dada em garantia for dinheiro, este é
depositado em caderneta. Se não for usado, será retirado pelo locatário. Nesse caso, não há
tradição.

Se for coisa IMÓVEL - cria-se um direito real chamado de HIPOTECA.

3- FIANÇA - é uma GARANTIA PESSOAL, pois o locatário oferece uma pessoa em garantia.
É contrato ACESSÓRIO. O fiador celebra contrato com o locador, que é o credor, assumindo
obrigação de pagar o aluguel caso o AFIANÇADO, que é o locatário, não o faça. Quando o
fiador paga, SUBROGA-SE no lugar do credor.

Contrato de fiança gera 2 benefícios para o fiadora;


61

a) BENEFÍCIO DE ORDEM - o credor deve cobrar primeiramente do afiançado. Em muitos


casos, o fiador aceita abrir mão do benefício de ordem, dizendo que é devedor solidário,
ou dizendo que é devedor principal.
b) BENEFÍCIO DE DIVISÃO - é uma exceção, só ocorrendo quando houver mais de um
fiador. Esse benefício tem que ser EXPRESSO. Cada fiador diz por quanto da dívida se
obriga. Caso isso não seja dito, o credor pode cobrar tudo de qualquer um deles.

MORTE.

1- DO LOCADOR - Art. 10 LI - os herdeiros, que são terceiros, continuam a locação, não


havendo término da mesma. Por conseguinte, é um CONTRATO FUNGÍVEL. Art. 928 CC.

2- DO LOCATÁRIO - Art. 11 LI - as pessoas citadas na lei podem ficar no imóvel, se o


desejarem, SUBROGANDO-SE nos direitos do locatário morto. A lei criou uma ordem:

a) cônjuge sobrevivente ou companheiro.


b) herdeiros necessários, do Art. 1721 CC.
c) qualquer pessoa que viva sob a dependência do locatário.

ATENÇÃO - nos 3 casos, só substituem o locatário morto se já moravam lá por ocasião da


morte.

Art. 12 LI - usado para os casos de separação judicial, divorcio, separação de fato, fim de
concubinato. Passa a locatário quem permanecer no imóvel.
A condição é comunicar ao locador, para que possa exigir outro fiador ou outra garantia.

SUBLOCAÇÃO.
Art. 14 LI.
É o contrato celebrado pelo locatário para com terceiro, pelo qual o primeiro, mediante
remuneração do segundo, se obriga a ceder o uso total ou parcial da coisa, por certo prazo.

O locatário será o SUBLOCADOR, e o terceiro, SUBLOCATÁRIO.

A sublocação só é possível se houver prévio e expresso consentimento do LOCADOR, caso


contrário este poderá propor ação de despejo. Geralmente o sublocatário intervém como 3 o
interessado ou como assistente.

O sublocador pode ceder a totalidade ou parte do imóvel.

O valor do aluguel da sublocação não pode exceder o valor da locação, porque o sublocador está
apenas cedendo o uso, não podendo perceber frutos.

A exceção ocorre quando o valor do aluguel da sublocação pode chegar ao dobro do valor da
locação, o que acontece quando houver sublocação de parte do imóvel de HABITAÇÃO
MULTIFAMILIAR (cortiço). É caso em que a lei presume que haja locação, presumindo que o
habitante seja locatário. Art. 2o LI. É presunção relativa. Antes, o sublocatário era considerado
comodatario, podendo ser expulso a qualquer hora.

DIREITO DE PREFERÊNCIA, ou PRELAÇÃO, ou PREEMPÇÃO.


Art. 27 LI.
62
Quando o locador quiser vender o imóvel, ou celebrar um contrato de C e V, tem que dar
preferência ao locatário, que tem prazo de 30 dias para aceitar ou não. O silencio significa que
não quer exercer seu direito de preferência.

Se o locatário for preterido, tem 2 direitos, ALTERNATIVOS:

1- perdas e danos.

2- reaver a coisa para si, depositando seu preço e a reivindicando. Mas, para isso, é necessário
que o contrato de locação esteja registrado, para que o comprador saiba disso. O locatário só
tem preferência nos contratos do Art. 27 LI. Ex: isso não vale para doação. Comodatários
não tem direito de preferência.

Um terceiro, comprando o imóvel e o registrando, tem direito a que o locatário seja despejado.
Para isso, ele DENUNCIA A LOCAÇÃO, ou seja, propõe AÇÃO DE DESPEJO, que tem prazo
para ser proposta. Se esse prazo for perdido, presume-se que o novo dono aceitou a locação,
passando a ser locador.

Para que o locatário possa impedir que o terceiro denuncie a locação, seu contrato tem que ter 3
requisitos CUMULATIVOS:

1- contrato por prazo determinado.


2- deve haver cláusula de vigência em caso de alienação. Logo, tem que ser solene.
3- ser levado ao RGI. É o mais importante.

MODALIDADES DE LOCAÇÃO.
A ação de despejo será proposta de acordo com o tipo de locação.

1- LOCAÇÃO RESIDENCIAL - Art. 46 e 47 LI - existem 2 modalidades

 Art. 46 LI - por prazo igual ou superior a 30 meses. Tem que ser celebrado por escrito.
Nesses casos, basta o término do prazo para se poder propor ação de despejo,
denunciando-se a locação. Por isso se chama de DENÚNCIA VAZIA, ou IMOTIVADA,
uma vez que não há outro motivo exceto o decurso do prazo.
Se a ação não for proposta ao término do prazo, o contrato será prorrogado por prazo
indeterminado, podendo-se propor a ação de despejo a qualquer momento, desde que seja
dada notícia com 30 dias de antecedência. É o melhor artigo para o LOCADOR.

 Art. 47 LI - prazo menor que 30 meses. O contrato não tem forma, podendo ser escrito ou
oral. Pode ser aplicado para as locações com prazo igual ou superior a 30 meses que não
tenham contrato por escrito. Se o contrato é escrito, com prazo inferior a 30 meses, não
basta o término do prazo para a denúncia vazia. Deve também haver um dos motivos
listados nesse artigo, que faz remissão ao Art. 9o LI. Nesses casos, é DENÚNCIA CHEIA,
ou MOTIVADA.
No entanto, haverá um momento em que será cabível a denúncia vazia, que é ao final de 5
anos. É o melhor artigo para o LOCATÁRIO.
2- LOCAÇÃO POR TEMPORADA - Art. 48 LI - também se destina à moradia do locatário,
mas por tempo curto e determinado, não podendo ser superior a 90 dias.
Ultrapassados os 90 dias, já passa a ser contrato de locação residencial por prazo inferior a 30
meses, do Art. 47 LI, sendo a ele aplicadas todas as prerrogativas deste.

3- LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL - tem qualquer outro fim, menos moradia do locatário.
63
A doutrina o divide em espécies:

a) LOCAÇÃO COMERCIAL - Art. 51 LI - destina-se à exploração de comércio. Existe


direito a RENOVAÇÃO COMPULSÓRIA, que só pode ser usada uma vez, desde que o
locatário preencha os requisitos dos incisos do artigo. O motivo é a proteção ao FC, que é
uma universalidade de fato a favor do comerciante.

b) LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL - Art. 53 LI - esse é o nome doutrinário, havendo


outros. CUIDADO, porque o caput desse artigo foi modificado há 2 ou 3 anos. O locatário
utiliza o imóvel para uma das finalidades do caput desse artigo.
Nesse contrato, não existe renovação compulsória, mas o locador só pode exigir a saída do
locatário por um dos motivos dos incisos desse artigo.

c) LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL POR EQUIPARAÇÃO - Art. 55 LI - o locatário a usa


para MORADIA DE OUTREM, tendo o locatário de ser PJ. Ou seja, é moradia para um
dos membros da PJ, tais como empregados ou gerentes. Também não existe direito a
renovação compulsória. O locatário só sai por um dos motivos do Art. 9o LI, ou por
término do prazo. O locador tem direito a denúncia vazia.

d) LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL RESIDUAL ou COMUM - Art. 56 LI - terminado o


prazo, o locador tem SEMPRE direito a denúncia vazia. A locação pode ser prorrogada
por tempo indeterminado. O locador pode usar a denúncia vazia a qualquer tempo, desde
que com aviso prévio de 30 dias.

e) LOCAÇÃO DE ESPAÇO DE SHOPPING - Art. 54 LI - há os que a consideram como


um 5o tipo de locação não residencial e há outros que a consideram como um 4 o tipo de
locação. Há os que dizem ser um CONTRATO ATÍPICO, e outros que dizem ser um
CONTRATO MISTO. Alguns dizem que é locação comercial com regras especiais, pois o
aluguel pode ter preço variável, de acordo com o lucro da loja. Além disso, não há a
flexibilidade do horário, como nas locações comerciais comuns. O locador pode ingressar
no espaço locado para fiscalizar o fluxo de caixa.
Há mais detalhes na doutrina e na jurisprudência, porque a lei é omissa em muitos pontos.

DEPÓSITO.
Art. 1265 CC.
É o contrato pelo qual uma pessoa, o DEPOSITANTE, entrega a outra pessoa, o
DEPOSITÁRIO, coisa infungível (Art. 52 CC) para guardar e, depois, devolver.

CLASSIFICAÇÃO, ou CARACTERÍSTICAS.

1- CONTRATO REAL - só se forma, só se aperfeiçoa, como a ENTREGA da coisa, ou seja, a


entrega da coisa não é obrigação do depositante. Se o contrato não for formado, com a
entrega, não há obrigação alguma, ao passo que, se entregar fosse obrigação do depositante, a
não entrega daria azo a perdas e danos por descumprimento. A entrega NÃO está clara no
Art. 1265 CC, que deve ser analisado. A entrega está disfarçada pela palavra receber. Se não
se recebe a coisa, não há obrigação.

2- CONTRATO UNILATERAL - há obrigação apenas para o depositário, que é a de guardar e


devolver a coisa. Mas, ÀS VEZES, o depositante terá uma obrigação, que é a de indenizar as
despesas na guarda e conservação da coisa, se existirem. Por isso, nesses casos, o contrato se
chama BILATERAL IMPERFEITO.
64
3- CONTRATO GRATUITO - Art. 1265 § 1o CC - há vantagem apenas para o depositante mas,
desde que o contrato seja presumidamente gratuito. Se o contrato passar a oneroso, torna-se
contrato bilateral. Isso ocorre quando o depositário exige remuneração. Nesses casos, o
contrato é SEMPRE BILATERAL ONEROSO, e não bilateral imperfeito.

Depositário só pode usar a coisa se o depositante autorizar EXPRESSAMENTE. Isso não é visto
como vantagem e sim como descaracterização do contrato.

4- CONTRATO SOLENE, FORMAL - Art. 1281 CC - a lei exige que tenha forma por 2
motivos

a) a lei quer trazer seriedade ao ato. Por isso exige a forma, com finalidade ad solemnitatum.
Se essa formalidade for desobedecida, cabem as sanções do Art. 145 III CC, ou seja, o AJ
será nulo. Essa é a regra.

b) a lei quer que o ato seja provado através do contrato. Isso está mais ligado ao direito
processual, sendo um resquício da PROVA LEGAL, não se esquecendo que a regra é a
liberdade de provas. Por isso exige a forma com finalidade ad probationem. Se essa
formalidade for desobedecida, a conseqüência é PROCESSUAL, pois o ato não se prova.
Atualmente existe uma tendência na jurisprudência de não se trazer essa sanção, aceitando-
se outros meios de prova.

MODALIDADES DE DEPÓSITO.

1- VOLUNTÁRIO - possui todas as características acima mencionadas. O depositário é


escolhido pela livre vontade do depositante.

2- VOLUNTÁRIO IRREGULAR - Art. 1280 CC - refere-se a entrega de coisa fungível. Na


verdade, é um MÚTUO, aplicando-se portanto as leis deste.

3- NECESSÁRIO - o depositante não tem liberdade de escolher o depositário. O Art. 1282 CC


traz as modalidades:

 LEGAL - lei específica determina que haverá depósito. Ex: o depósito judicial, da L 8866.
Só se usa a lei geral quando a específica for omissa.

 MISERÁVEL - o depositante está em estado de calamidade. É levado a depositar pelas


circunstâncias, não podendo escolher.

4- NECESSÁRIO POR EQUIPARAÇÃO - alguns o consideram como uma 3 a modalidade de


depósito necessário. Na verdade, não é. Ele é assim chamado porque equipara-se ao
necessário. Art. 1284 CC - o hóspede que deixa sua bagagem no hotel. Na realidade, a
entrega não é real, sendo FICTA ou PRESUMIDA. Isso porque o quarto onde o hóspede está
é de livre acesso ao hotel.

CARACTERÍSTICAS DO DEPÓSITO NECESSÁRIO.


Ele tem características próprias.

1- CONTRATO REAL.

2- CONTRATO ONEROSO - Art. 1283 CC - não se presume gratuito. Por não se presumir
gratuito, passa a ser:
65

3- CONTRATO BILATERAL - no entanto, o Art. 1286 CC diz que a remuneração do


depositário está incluída na hospedagem.

4- CONTRATO NÃO SOLENE - a lei não exige forma para que se prove. Art. 1283 p.un CC.
A dificuldade é provar que houve a entrega.

DETALHE - mesmo que o depósito tenha prazo, é permitido ao depositário exigir a coisa a
qualquer momento, sendo o depositário obrigado a devolve-la.
Isso se aplica também ao depósito necessário.

Quando o depositário não quer devolver a coisa, torna-se DEPOSITÁRIO INFIEL. Nesse caso,
existe um procedimento especial para que devolva a coisa, que é a AÇÃO DE DEPÓSITO,
quando será condenado a devolver a coisa. Como MODO DE COERÇÃO, e não como sanção, a
lei prevê que ele pode ser preso.

ATENÇÃO - essa prisão não é pena, e sim um meio de coagir o depositário a devolver a coisa,
tanto que ele é posto em liberdade assim que a devolve. O prazo, no CC, é de 1 ano, estando o
CPC igual ao CC.

Se, mesmo sendo preso, o depositário não devolve a coisa, findo o prazo, o depositante tem que
se satisfazer com perdas e danos.

OBS - se o Brasil celebra um tratado que disponha diferentemente de uma LO, ao ser celebrado,
esse tratado só gera efeitos quando for ratificado por decreto. No entanto, há CONTROVÉRSIA,
da teoria monista, dizendo que se aplica imediatamente.
Um tratado que diz que não é permitida a prisão de depositário infiel ainda não foi transformado
em decreto. Para o direito civil, o tratado não pode ir contra a CF.

RESPONSABILIDADE CIVIL.
É continuação do estudo das obrigações.
A diferença é que agora, a obrigação não nasce de contrato, e sim da prática de ato contrário à
lei, que é o ATO ILÍCITO, ou pela PRÓPRIA LEI.

É a obrigação de reparar o dano que nasce da prática de ato ilícito ou que nasce da lei.

ATO ILÍCITO CIVIL é definido pelo Art. 159 CC. O agente não é preso, respondendo com seu
patrimônio, e não com sua liberdade.

Os 3 atos ilícitos tem a mesma definição, sejam civis, penais ou administrativos. O que muda são
as conseqüências de cada um.
A lei civil deu sentido amplo ao ilícito civil, ou seja, é todo comportamento que causa prejuízo.
Responde-se reparando o dano, ressarcindo o prejuízo.

Então, NA MAIORIA DAS VEZES, a responsabilidade civil (RC) nasce do ato ilícito.
No entanto, às vezes, a RC nasce da lei, quando a pessoa será obrigada a reparar o dano mesmo
não tendo praticado ato ilícito.

Pelo Art. 160 CC responde-se civilmente por prática de ato ilícito. No entanto, o conceito de ato
ilícito no direito civil é semelhante ao do direito penal, ou seja, no direito civil o ato ilícito
também está acobertado pelas excludentes de AJ do direito penal, embora estas não estejam
expressamente explicitadas no CC. Então, o Art. 160 CC foi revogado pelo CP.
66
Os Art. 1519 e 1520 CC foram baseados em outra legislação, havendo então um choque. O
resultado é que um ato ilícito gera reparação de dano.

No EN, se o causador do dano não foi o causador do perigo, a vítima pode exigir reparação do
causador do dano, que terá ação de regresso contra o causador do perigo. O causador do dano
praticou ato licito.
Ex: um incêndio numa vila, onde é necessário destruir uma casa para impedir que o incêndio se
propague para as demais.
Na maioria das vezes, o causador do dano é bombeiro ou PM.

Esse raciocínio é aplicável a todas as outras causas de exclusão de ilicitude. Ver Art. 1520 CC.

Se o causador do perigo morre, ou então se sobrevive com seqüelas, sua família nada pode fazer,
alegando que sofreu dano. Ela não pode acionar porque é substituto processual do causador do
perigo. Caso contrário, cada bandido que morresse, o Estado teria que indenizar a família.

RESPONSABILIDADE CIVIL RESULTANTE DE ATO ILÍCITO.


Os requisitos dessa responsabilidade , ou requisitos do ato ilícito, ou ainda, elementos da RC
estão no Art. 159 CC, com outras palavras.

ELEMENTOS OU REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1- AÇÃO - é ação lato sensu, pois engloba ação e omissão. Aqui vale tudo o que foi visto em
direito penal.

2- CULPA - é a frase voluntária negligencia ou imprudência. Inclui a imperícia. Ver Art. 18 II


CP. A culpa no direito civil é culpa lato sensu, ou seja, CULPA AMPLA, porque o direito
civil não faz distinção entre dolo e culpa, como o direito penal. Raramente a lei civil fará
distinção entre um e outra. Quando isso ocorre, ele usa outras expressões.
Ele divide a culpa em 3 graus:

 1o GRAU - CULPA GRAVE - é o DOLO do direito penal.

 2o GRAU - CULPA LEVE - é a CULPA do direito penal.

 3o GRAU - CULPA LEVÍSSIMA - é irrelevante para o direito penal. Poderia até ser
comparada com a culpabilidade do direito penal.

Na culpa leve, espera-se a atitude do homem médio do direito penal (culpa). Na culpa levíssima,
espera-se atitude de homem perfeito, técnico, profissional. Então, há culpa para o direito
civil, mas não para o direito penal, porque não houve desobediência a um dever de cuidado.

A CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA nada tem a ver com o elemento culpa da


responsabilidade civil. Será visto mais adiante que ela não exclui a culpa, e sim o NEXO
CAUSAL.

3- DANO - é a lesão a um BJT (interesse protegido pela lei). Quando for um BJT
economicamente apreciável, diz-se que ocorre DANO MATERIAL ou PATRIMONIAL. Se
o BJT não for economicamente apreciável, há DANO MORAL ou EXTRA PATRIMONIAL.
Ex: perda de uma perna inclui os 2 tipos.

Atualmente, o Art. 5o X CF e Sum 37 STJ sustentam que o dano pode ser moral e material.
67

Dano MATERIAL admite REPARAÇÃO.


Dano MORAL admite COMPENSAÇÃO.

DANO MATERIAL.
A regra para sua apuração em dinheiro está no Art. 1059 CC. As exceções começam no Art.
1537 CC. Trata-se das PERDAS E DANOS, onde se deve ressarcir a vítima do que perdeu e
o que razoavelmente deixou de ganhar (aqui o juiz deve usar o princípio da razoabilidade).

Chamam-se na doutrina de:

DANOS EMERGENTES - na verdade, é o que a lei chama de PERDAS.


LUCROS CESSANTES - é o que a lei chama de DANO.

DANO MORAL.
Art. 1553 CC. Sua apuração é por arbitramento do juiz, diante das circunstâncias do ato
concreto. Mais uma vez aplica-se o princípio da razoabilidade.
Nesse tipo de dano, sempre há recursos, de ambas as partes.

DANO ESTÉTICO.
Não foi previsto pela CF, e, por isso, alguns dizem que não é reparável.
Pode ser pedido como um 3o tipo de dano, mas é complicado, porque o juiz ao concede-lo tem
que usar a lei, onde ele não é previsto.

Para muitos, está dentro do dano moral ou do dano material, devendo ser analisado o caso
concreto.
Ex: um dano estético em quem provar que estava ingressando na carreira de modelo será dano
material.

4- NEXO DE CAUSALIDADE - é o elemento mais importante. É mais simples que no direito


penal. Está presente sempre que o dano for resultado da ação. Basta isso.

CAUSAS EXCLUDENTES DO NEXO CAUSAL:

a) FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO - muitos o chamam de CULPA EXCLUSIVA DE


TERCEIRO, mas não se vai olhar se houve dolo ou culpa. Olha-se a AÇÃO. Então, culpa
de terceiro é nome errado, porque se observa apenas a ação, e não a intenção.

Se foi AÇÃO CONJUNTA do réu e de 3 o, o pedido será procedente em parte, pois, se foram
os 2 causadores de dano, ambos indenizarão. Chama-se a isso de FATO CONCORRENTE
DE TERCEIRO, onde há responsabilidade civil ATENUADA.

b) FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA - cabem as mesmas observações do item anterior,


porque a doutrina a chama, erradamente, de CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.
Também cabe FATO CONCORRENTE DA VÍTIMA.

c) CASO FORTUITO (CF) ou FORÇA MAIOR (FM) - o causador do dano não foi a ação, e
sim o CF ou a FM. O problema é saber o que é cada um deles, porque a doutrina não é
unanime.
Existem 4 correntes:
68
 CF é evento da natureza, e FM é evento do homem. Essa corrente baseia-se no Art.
1285 CC.

 CF é evento interno, ligado à pessoa, e FM é evento externo.

 CF é evento previsível, mas que não se consegue evitar, é inevitável. FM é imprevisível


e inevitável. É difícil saber o que é ou não previsível.

 não há diferença entre CF e FM, porque a conseqüência é a mesma. Além disso, o


próprio CC disse que são iguais. Ver Art. 1058 p.un CC. É fato NECESSÁRIO cujos
efeitos são INEVITÁVEIS. Essa é a MELHOR corrente.

NÃO HÁ CORRENTE MAJORITÁRIA.

d) CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR - tem que existir um contrato com essa cláusula. Na
verdade, há nexo causal, pois a ação causou dano, mas a vontade das partes disse que não
haveria indenização.

Até aqui foi estudada a regra. Há exceções.

CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL.

1- pelo local do ato ilícito

 RC CONTRATUAL - inexecução de contrato é ato ilícito, porque viola o direito do


credor. Mas isso está previsto em um artigo próprio, que é o Art. 156 CC. Gera RC, com
obrigação de reparar dano.

 RC EXTRA CONTRATUAL ou AQUILIANA - nesses casos, o ato ilícito é outro, diverso


da inexecução.

ATENÇÃO - RC de transportadora é contratual, porque houve celebração de contrato. É


diferente do atropelamento, que é extra contratual.

2- pela existência ou não de culpa

 RC COM CULPA ou SUBJETIVA - necessita dos 4 elementos da RC, ou seja, ação, dano,
nexo causal e culpa.

 RC SEM CULPA ou OBJETIVA - só precisa dos 3 primeiros elementos. Sendo objetiva,


não se discute a culpa. Não adianta o réu provar que não teve culpa. No entanto, O NEXO
CAUSAL PODE SER DISCUTIDO, pois é seu elemento e, nessa discussão, pode ser
levantada a culpa de 3o ou a culpa exclusiva da vítima, que são excludentes do nexo causal.
No entanto, há uma RC objetiva que exclui o nexo causal (qual? Não foi dito)

 RC COM CULPA PRESUMIDA - precisa dos 4 elementos mas existe uma diferença em
relação à RC com culpa. Nesta última, a prova do fato constitutivo do direito incumbe ao
69
AUTOR, que é a VÍTIMA. Na RC com culpa presumida, para facilitar a vítima, a
doutrina, a jurisprudência e a lei TIRAM DA VÍTIMA O ÔNUS DA PROVA dessa culpa.
Então, o réu, em sua defesa, deverá provar que não teve culpa e isso será aceito, porque
essa RC é com culpa. Apenas a vítima não precisará prová-la, pois é presumida, mas esse
presunção é iuris tantum.

3- pelo fato

 RC POR FATO PRÓPRIO - é a regra. Quem responde é quem praticou o fato. Responde
quem causou o dano. Art. 1518 CC.

 RC POR FATO DE OUTREM - responde civilmente quem NÃO causou o dano, dano este
que foi causado por 3o. Art. 1521 c/c 1518 CC. Ex: o patrão responde pelo dano causado
por seu empregado. A vítima tem a faculdade de poder propor a ação tanto contra o patrão
quanto contra o empregado. De acordo com o Art. 1524 CC, o patrão, ao responder, sub
roga-se nos direitos do credor.
Nesses casos, quando se responde por dano praticado por outrem, quem responde tem ação de
regresso contra o causador do dano EXCETO os pais de filhos menores, quando estes
causam o dano. O Art. 1524 CC só serve para fazer essa ressalva. A indenização é paga
pelos pais em razão do pátrio poder. Por isso eles não tem ação de regresso.

 RC POR FATO DA COISA - aciona-se quem tem a GUARDA DA COISA, que responde
civilmente pelo fato que a coisa praticar. A REGRA é que quem guarda é o proprietário
da coisa, havendo exceções.

CASOS CONCRETOS DA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE.


Qualquer RC será:
 contratual ou extra contratual
 objetiva ou subjetiva
 por fato próprio, de 3o ou da coisa.

a) Art. 1527 CC - se a coisa é um animal, a lei previu a RC do dono ou detentor. Só não vai
pagar se alegar os incisos desse artigo.

IV) é nexo causal, que existe nos 3 tipos de RC.


Quem guarda é o réu, não respondendo se houver CF ou FM, que excluem o nexo causal.

III) é culpa exclusiva da vítima, que exclui o nexo causal.

II) é culpa exclusiva de 3o, o que exclui o nexo causal.

I) não teve culpa. Culpa in vigilando.

Logo, conclui-se que esta RC é RC COM CULPA PRESUMIDA, porque pode se discutir a
culpa e, além disso, quem tem que provar que não teve culpa é o réu.

Então, é RC POR FATO DA COISA, COM CULPA PRESUMIDA, e EXTRA CONTRATUAL


ou AQUILIANA.

b) Art. 1529 b CC - coisas que caem, ou são jogadas de uma casa. Effusis et dejectais.
Responde o HABITANTE.
70
Não se aplica o Art. 159 CC porque foi coisa.
A lei diz que precisa de culpa.

Então, é RC OBJETIVA ou SEM CULPA, POR FATO DA COISA, e EXTRA


CONTRATUAL.

Quando não se sabe de que apartamento veio, existem 2 correntes:

 a vítima propõe ação em face do condomínio. Isso às vezes é injusto, porque o condomínio
é o conjunto de donos, e, quem tem que responder é o habitante. No entanto, o condomínio
cobrará do dono, não importando se vai agir ou não de regresso contra o habitante. Além
disso, existem os apartamentos de fundos, que nada tem a ver.

 a vítima propõe ação em face dos habitantes dos apartamentos de onde poderia em tese a
coisa ser lançada. É pior para a vítima mas melhor para o condomínio. O causador acaba
aparecendo.

c) Art. 1528 CC - é também por fato da coisa. Sua interpretação é difícil. Há divergências. Uns
dizem que é culpa presumida e outros dizem que é sem culpa. Então, a regra, nos casos
concretos, é que será tanto culpa presumida quanto sem culpa, dependendo da interpretação
que se queira adotar.

 MINORIA - se o réu consegue se defender provando que a ruína não foi por falta de
reparo, ou seja, que foi sem culpa, não há RC. Nessa interpretação, a RC é COM CULPA
PRESUMIDA.

 MAIORIA - se houve ruína e esta não decorreu de falta de reparo, só resta o CF e a FM.
Então, se não houvesse CF ou FM, seria por falta de reparo. Ou seja, a ruína só ocorreria
nessas 3 situações. Sendo a falta de reparo uma ação (omissão), a RC É SEM CULPA ou
OBJETIVA. A única defesa do réu é excluir o nexo causal. Ele não pode alegar que não
teve culpa.

Quando ocorre a ruína de um imóvel, esta pode ser:

 por falta de reparos cuja necessidade é manifesta. Nesse caso há culpa presumida. A culpa
presumida pode ser com presunção relativa ou absoluta. Nesse último caso, será objetiva.
No 1o caso pode-se discutir a culpa, e no 2o caso, não. Depende de como o caso for
encarado.
Como já foi dito acima, a maioria da doutrina entende que é responsabilidade objetiva. Logo,
a maioria dos casos de responsabilidade civil pela coisa é de responsabilidade objetiva.

 caso fortuito ou força maior, que excluem o nexo causal.

Resumindo, se um caso for considerado como culpa presumida, a maioria dos casos será de
culpa presumida. Se for considerado sem culpa, a maioria dos casos será sem culpa.

d) L 8078/90 - CDC - se a hipótese se encontra no CDC, fica afastado o CC. O CDC é aplicado
sempre que houver RJ DE CONSUMO. Só se aplica o CDC quando há RJ de consumo.

RJ DE CONSUMO - é aquela onde em um dos pólos está o consumidor e no outro o fornecedor.


Os respectivos conceitos estão nos Art. 2o e 3o CDC.
71

Art. 2o CDC diz quem é CONSUMIDOR. É o DESTINATÁRIO FINAL.

OBS - se for compra para ser dada de presente, a jurisprudência aceita como consumidores o
doador e o donatário.

Art. 3o CDC diz quem é o FORNECEDOR. É quem exerce a ATIVIDADE (prática reiterada do
ato) de fornecer produto ou serviço.

Os PRODUTOS e SERVIÇOS estão definidos no Art. 3o § 2o CDC. Serviços são oferecidos,


por exemplo, por bancos e seguradoras. Mas estes dizem que o CDC é lei genérica, e, como
eles tem lei especial, o CDC só se aplicaria nos casos omissos. Esse entendimento não é
acatado pela doutrina, pois, a lei especial, no que for diferente do CDC, está revogada. Art. 2o
LICC.

Condomínio e condôminos teriam uma RJ de consumo, mesmo o condomínio sendo ente


despersonalizado. A discussão é se o condomínio é prestador de serviço. Se considerar que é,
então há RJ de consumo. A doutrina se divide, não havendo entendimento majoritário.

Art. 1o CDC - o CDC é norma de ordem pública. Logo, é NORMA COGENTE (diferente de
norma dispositiva). Não aceita pacto ou convenção com disposições diferentes dela, a não ser
que ela permita.
A maioria das normas do CC é dispositiva, aceitando disposição em contrário.

Art. 6o CDC - traz 2 direitos básicos do consumidor:

 facilitação de sua defesa em juízo. O juiz pode inverter o ônus da prova nos 4 elementos:
ação, dano, nexo e culpa. Em relação à culpa, só nos casos em que o CDC admitir a
responsabilidade civil subjetiva.

 efetiva reparação do dano. Ex: a lei que trata do transporte aéreo internacional e nacional
diz que a responsabilidade da transportadora é tarifada. No entanto, o CDC se aplica às
transportadoras, e elas tem que respeitar esse direito básico. Logo, a Convenção de
Varsóvia é o Código Brasileiro do Ar, nessa parte, foram revogados.

CLASSIFICAÇÃO DA RC NO CDC:
 Art. 12 CDC - por fato do produto ou do serviço.
 Art. 18 CDC - pelo vício do produto ou do serviço.
VÍCIO - é um defeito do serviço ou do produto. Quando este defeito gera um acontecimento,
quando tem conseqüência, cria um FATO do produto ou do serviço.

Esse vício já era conhecido no CC como VÍCIO REDIBITÓRIO. O fato, no CC, é RC.

FATO:

1- DO PRODUTO - Art. 12 e 13 CDC.


2- DO SERVIÇO - Art. 14 CDC.

Em ambos, a RC é objetiva, não se aplicando o CC.


72
De acordo com o CDC, quem responde não é o comerciante, quando se tratar do Art. 12 CDC.
A responsabilidade do comerciante ocorre nos casos do Art. 13 CDC, sendo responsabilidade
subsidiária.

Art. 12 § 3o e 14 § 3o CDC trazem excludentes da RC.


Dentre as 4 excludentes do nexo, as que o CDC admite são: culpa da vítima e culpa de terceiro.

A cláusula de não indenizar não pode ser argüida devido ao Art. 25 c/c 51 I CDC. É nula de
pleno direito.

Em relação ao CF e à FM, o CDC se omitiu.


A doutrina aceita. Logo, há 2 correntes:

1- prevalece a doutrina.

2- prevalece a lei - o comerciante repara o dano do consumidor, que é a parte mais fraca. O
CDC quis assim, não aceitando exclusão de RC em CF e FM.

São prestadores de serviços, entre outros, o estacionamento e a transportadora terrestre, pois


ambos recebem remuneração. Então, a responsabilidade de ambos é objetiva.

Sum 130 STJ - estacionamento responde por furto e dano. Em relação ao roubo, há
controvérsia, dependendo de se considerar CF e FM como aplicáveis ou não.
Mas, se roubo é fato exclusivo de terceiro, não cabe RC. A obrigação do estacionamento é
vigiar. Por isso, o furto entra.

Sistema VAGA CERTA - o Estado é prestador de serviço. É responsabilidade civil objetiva.

Estacionamento sem remuneração também é responsabilidade civil objetiva.

Em relação a transporte, ver Dec. De 1912, que trata da RC de estrada de ferro em relação a
dano ao passageiro. Isso foi aplicado a qualquer transporte terrestre até o CDC.
Ver Art. 17 dessa lei - se a RC fosse com culpa presumida, poderia se discutir a culpa. Esse
artigo não aceita discussão de culpa, e sim de nexo. Na verdade, não aceitou discussão de culpa.
Logo, a RC é objetiva. Riscar a expressão “culpa presumida” e colocar “vide Art. 14 CDC”.
A lei de 1912 já dizia que a RC era objetiva.

Em caso de culpa de terceiro, a transportadora responde e age de regresso contra o terceiro. Sum
18 STF.
Art. 17 CDC - as outras vítimas se valem também do CDC. São CONSUMIDORES POR
EQUIPARAÇÃO.

Art. 14 CDC
§ 4o - RC por fato de serviço que não é objetiva - é o caso do PROFISSIONAL LIBERAL. É
porque o tipo de serviço, apesar de ser obrigação de fazer, é obrigação de meio, e não de
resultado.
Se o profissional liberal não colocou sua técnica, seu conhecimento e seu desempenho para
conseguir um objetivo, ele terá culpa.

VÍCIO.

VÍCIO DO PRODUTO.
73
Art. 18 CDC.
Pode ser de 2 tipos: OCULTO e APARENTE.

O 1o direito está no Art. 18 caput CDC, que é o de trocar a parte defeituosa. O prazo é de 30
dias, que, de acordo com o Art. 18 § 2o CDC pode ser diminuído ou aumentado.
Se o vício não for sanado no prazo, nasce o 2 o direito, que está no Art. 18 § 1o CDC, que é
trocar o produto, OU pegar o dinheiro de volta, OU ficar com o produto defeituoso, com
abatimento. Esses direitos são ALTERNATIVOS, e não cumulativos.

Às vezes, há uma 3a opção, que está no Art. 18 § 3o CDC, que é usar diretamente o § 1o quando
o defeito compromete todo o produto.

Art. 19 CDC também é para vício do produto, mas ligado a quantidade líquida.

VÍCIO DE SERVIÇO.
Art. 20 CDC.
São alternativos.
A melhor opção é a reexecução do serviço.

Art. 23 CDC - ignorar o vício não exime o fornecedor da RC. Logo, não ter culpa também não
exime. É RC objetiva.

Art. 25 CDC - já visto.

PRAZO.

1- no fato de produto ou serviço, é PRESCRICIONAL. Ver Art. 27 CDC. É de 5 anos. O termo


inicial é quando se souber a autoria do fato. Não basta a ocorrência do fato.

2- no vício do produto ou serviço, é DECADENCIAL. Ver Art. 26 CDC. É de 30 dias, para os


não duráveis, e de 90 dias para os duráveis. O termo inicial varia. Se o vício for aparente, o
prazo começa a contar da aquisição do produto ou realização do serviço. Se for oculto, o
prazo começa a contar de quando se descobre o defeito.

Art. 50 CDC- garantia verbal da loja não existe. Tem que ser por escrito e é
COMPLEMENTAR ao CDC.
Ex: televisor com garantia até 2002. A lei dá mais 90 dias após o término. A redação do artigo
confunde.
Ler a parte contratual do CDC.

LEI NOVA.
L 9708/98 - altera a redação do Art. 58 L 6015 (Lei de Registros Públicos), que diz que o
prenome é imutável. O que muda é o nome.

OBS - prenome é o 1o nome, e nome é o resto.

Há casos em que o prenome pode ser alterado, quando é vexatório. Ao se completar 21 anos,
existe um prazo decadencial de 1 ano para se pedir isso ao juiz.
A doutrina e a jurisprudência aceitavam acréscimo ao prenome, não o mudando.
HOJE, essa lei permite que o prenome seja MUDADO por apelido público e notório.
Ex: Lula, Xuxa.
74

RC DOS PAIS PELOS ATOS DOS FILHOS MENORES

Essa RC é polemica. Há quem diga que é SUBJETIVA, com base no Art. 1523 CC. Quem
prova a culpa dos pais é a vítima, e essa culpa é a culpa in vigilando.

Como é difícil provar isso, outros dizem que, com base no Art. 1521 I CC e Sum 341 STF, a
culpa é presumida, por analogia com a responsabilidade dos patrões em relação aos atos do
empregado.

Além disso, o Art. 1523 CC deveria se aplicar a ele, e não o fez. Se a lei não diferencia, o
intérprete não pode diferenciar. Os pais é que tem que provar que não tem culpa, para que não
respondam.

Existem outros, ainda, que dizem que a responsabilidade é OBJETIVA por interpretação
histórica. O 1o Código de Menores foi o de 1927. O 2 o foi em 1979, sendo substituído pelo atual
ECA. Em 1916, a RC dos pais era subjetiva. O Código de 27 disse que era RC com culpa
presumida. O Código de 79 nada disse, mas revogou o de 27.
Se o Código de 27 acabou com a RC subjetiva, e o de 79 acabou com a RC com culpa
presumida, só sobrou a culpa objetiva, porque o Art. 1521 I CC não diz que culpa é essa.
Mas o ECA revogou o Código de 79, e nada disse a respeito. Logo, a RC dos pais continua a
existir, mas não há lei exigindo culpa. A doutrina defende a culpa objetiva, e a prática usa a RC
com culpa presumida.

Quando um pai responde por dano causado pelo filho, é RC POR FATO DE TERCEIRO.
Ver Art. 156 CC, que diz que o RI tem RC com culpa, ou seja, RC subjetiva.

CC não fala da RC do menor AI. Dessa lacuna se tiram 3 conclusões, que formam 3 correntes:

1- se for extra contratual, Art. 159 CC. Se for contratual, Art. 1056 CC. Como ambos exigem
culpa, a RC é com culpa.

2- não há artigo exigindo culpa do AI. A regra é RC por fato próprio. Logo, a lei quis que
respondessem, porque essa é a regra, e, além disso, não quis que fosse com culpa, logo, é RC
objetiva, pelo Art. 1518 CC. É muito usada para os loucos com bens. Ver Art. 1521 II CC.

3- quando o AI pratica sozinho um AJ ilícito, ele é nulo pelo Art. 1451 CC. Sendo nulo, é
ineficaz, não gerando efeitos, não gerando RC. Logo, os AI são civilmente irresponsáveis.
Essa corrente é a mais utilizada para o menor, cujos pais responderão.

CONCLUSÃO - menores com 16 anos, se causarem dano, não responderão. No entanto, o ECA
diz que criança é até 12 anos incompletos, e adolescente é de 12 a 18 anos. O ECA é posterior ao
CC. Pelo CP, menor de 18 anos não tem responsabilidade penal, mas responde por seus atos.
Ver Art. 103, 104 e 105 ECA .
Então, criança que pratica ato infracional responde na forma do Art. 101 ECA. O adolescente
responde na forma do Art. 112 ECA. O inciso II desse artigo fala em reparação de dano,
explicado no Art. 116 ECA.

Então, o ECA abrange parte dos AI do CC, que são os menores entre 12 e 16 anos. Há
controvérsia quanto à RC deles, havendo 2 correntes:
75
1- se o juiz pode aplicar ao AI entre 12 e 16 anos a medida de reparar o dano, então eles tem RC
com culpa, que eqüivale ao dolo e a culpa do penal.

2- continua tudo igual, ou seja, o menor de 16 anos não tem RC, porque a responsabilidade do
ECA não é penal e nem civil. Seria uma medida socializadora e educadora. Mas há quem diga
que essa medida tem natureza de responsabilidade civil.

DIREITOS REAIS.

Direito REAL é diferente de direito PESSOAL.


Ambos são direitos SUBJETIVOS, pois há dever de agir ligado a um dever.
No entanto, há diferenças:

DIREITO PESSOAL. DIREITO REAL.

SA (credor) e SP (devedor) são determináveis. SA é sempre determinado e o SP é


indeterminado.

Objeto - prestação. Objeto - coisa.

Eficácia relativa. Eficácia erga omnes.

Fonte - vontade e lei. Fonte - lei.

Tem seqüela.

OBS - os 2 únicos casos de manifestação de vontade UNILATERAL que cria obrigação (direitos
pessoais) são a PROMESSA DE RECOMPENSA e os TÍTULOS AO PORTADOR (ex: vale
refeição ).

No direito real, o SA é SEMPRE determinado. Ele receberá um nome de acordo com o direito
real em questão. Em relação ao direito real de propriedade, chama-se proprietário.
SA é o titular do direito real.
Já o SP, em relação aos direitos reais, é a COLETIVIDADE. Ela é titular de um dever, que é a
ABSTENÇÃO em relação à coisa.
A coisa é OBJETO do direito real, e não titular.

Por ser mais importante que o direito pessoal, os direitos reais somente são criados por lei. Logo,
são numerus clausus. Estão no Art. 674 CC e, fora desse artigo, estão a alienação fiduciária em
garantia e o compromisso de C e V registrado.
Não podem ser criados pela vontade, como os direitos pessoais.

A seqüela só existe para o direito real. Trata-se do poder de o titular perseguir a coisa, esteja
com quem ou onde estiver.

PROPRIEDADE.
Seu conceito está no Art. 524 CC. É um direito real que consiste em usar, fruir, dispor e
reivindicar a coisa. São os 4 direitos elementares, ou poderes, da propriedade.
76
USAR é colocar a coisa em serviço. Emprestar é um modo de usar. Guardar também é modo de
usar.

FRUIR é obter os frutos que a coisa possa gerar. O aluguel é forma de fruição.

DISPOR significa principalmente alienar, que é transferir a coisa, o que inclui vender, doar,
trocar, entregar em dação em pagamento. Significa também destruir, transformar e consumir a
coisa. Consumir é dar à coisa um destino, uma finalidade, o que pode implicar em alienar a
coisa.

REIVINDICAR é a demonstração da seqüela. É a maneira pela qual o direito de seqüela é


exercido, ou seja, de buscar a coisa de quem injustamente a detenha, através de uma AÇÃO
REIVINDICATÓRIA.

A propriedade é o maior direito real que existe. É o mais completo. Os outros não tem todos os
poderes da propriedade.

CARACTERÍSTICAS.

1- direito real pleno. A regra, de acordo com o Art. 525 CC é a propriedade ser plena. No
entanto, há casos de PROPRIEDADE LIMITADA, que ocorre quando a propriedade tem um
ÔNUS REAL, ou seja, a propriedade perde um ou mais de seus direitos elementares. Ex:
cláusula de inalienabilidade, quando se perde o direito de dispor sob forma de alienação,
permanecendo os direitos de usar, fruir e reivindicar.

2- direito real matriz. A partir dela é que nascem os outros direitos reais. Uma casa pode ser
objeto de 2 direitos reais: o direito de propriedade do proprietário, e o direito de uso, caso
tenha sido cedida a alguém. Nesse caso, a propriedade tem GRAVAME.

3- direito real exclusivo. Não admite mais de um titular sobre a mesma coisa. Em relação ao
condomínio, ver Art. 623 CC. O condomínio não é exceção a essa regra, pois cada
condômino é proprietário de PARTE da coisa, que se chama FRAÇÃO IDEAL. Ver também
Art. 624 CC, que também demonstra isso. O Art. 629 CC trata do direito potestativo dos
condôminos, que é o direito de divisão, que acaba com o condomínio. Pode ser feito extra
judicialmente. Existe preferencia de outro condômino, de acordo com o Art. 1139 CC. Se
não for resolvido extra judicialmente, vai-se a juízo, onde o juiz compele o outro a alienar.

4- direito real perpétuo - o titular do direito real de propriedade não vai perde-lo em razão de
não usá-lo. O não uso deve ser interpretado corretamente, pois guardar é modo de usar. No
entanto, se outra pessoa tiver POSSE sobre a propriedade de alguém, vai acabar adquirindo
essa propriedade. Logo, NÃO É o não uso que gera a perda da propriedade, e sim a posse de
outrem.

No entanto, há uma EXCEÇÃO, que é a PROPRIEDADE RESOLÚVEL, que não é perpétua.


Art. 647 e 648 CC. São hipóteses diferentes, sendo que a doutrina deu um nome diferente à
hipótese do Art. 648 CC, chamando-a de PROPRIEDADE REVOGÁVEL.

PROPRIEDADE RESOLÚVEL.
Quando a propriedade tem CONDIÇÃO RESOLUTIVA é propriedade resolúvel. Alguns dizem
que é PROPRIEDADE CONDICIONAL. Esse tipo de propriedade também pode ter um
TERMO. Quando a condição resolutiva ocorre (é evento futuro e incerto), faz cessar os
77
efeitos ex tunc. Ex: doação com cláusula de reversão, já vista. Outro exemplo é a C e V com
cláusula de retrovenda.
Quando um proprietário dispõe de propriedade resolúvel, o novo propriedade adquire uma
propriedade resolúvel. A propriedade resolúvel não é limitada.
Se a condição resolutiva ocorre e a propriedade já não está com o 1 o dono, a propriedade, para o
2o dono, é PLENA.
Então, a propriedade resolúvel é PLENA no conteúdo e LIMITADA por condição ou termo.
Então, é plena no conteúdo e limitada no tempo.

PROPRIEDADE REVOGÁVEL.
Art. 648 CC. É assim chamada porque não tem dentro dela uma causa de extinção. Sublinhar,
no artigo, a expressão “causa superveniente”.
Essa propriedade não tem condição resolutiva nem termo. Mas, após a aquisição, ocorre um
evento que vai gerar a perda da propriedade.
Ex: revogação de doação por ingratidão do donatário. Essa propriedade é plena, tanto no
conteúdo quanto no tempo. Se o donatário vende a coisa e pratica ato de ingratidão, o doador
pode propor ação de revogação de doação. Julgada procedente, o donatário tem que pagar o
valor da propriedade, pois quem a comprou dele é considerado PROPRIETÁRIO
PERFEITO.

MODOS DE AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE.


São os mesmos, apesar de o CC separá-los.
Ex: registro é modo de aquisição e perda de propriedade.

Apenas a DESAPROPRIAÇÃO é colocada pelo CC como modo de perda de propriedade, e ele


não a coloca como modo de aquisição. Mas ela É TAMBÉM modo aquisição. Foi vista no
direito administrativo.

CC também separa imóvel e móvel.

IMÓVEL.
Art. 530 CC.

I) transcrição de título aquisitivo no Registro de Imóveis - a Lei de Registros usa o nome


REGISTRO.
TÍTULO AQUISITIVO - contrato escrito que gera a OBRIGAÇÃO de transferir a propriedade.
Só o registro do título aquisitivo transfere a propriedade. Doação também é título aquisitivo.
A promessa de C e V gera apenas a obrigação de celebrar contrário de C e V, e é este que gera a
obrigação de transferir a propriedade. Logo, promessa de C e V não é título aquisitivo.

Um imóvel é matriculado no RGI, que tem toda a sua historia. O registro tem EFEITO
CONSTITUTIVO, mas nem sempre. Se outros títulos, que não sejam título aquisitivo, forem
levados a registro, terão apenas EFEITO DECLARATÓRIO.
Ex: formal de partilha. O que transfere é a morte.

II) acessão - a acessão aumenta a propriedade. É o aumento de propriedade. É a união de


coisa imóvel a outra por forças externas, seja pela natureza, seja pelo homem, ou pelo homem
e pela natureza (mista). Logo, a acessão pode ser

 NATURAL - ex: avulsão. Levada a registro, tem apenas EFEITO DECLARATÓRIO.


78
 INTELECTUAL - pelo homem. Trata-se de construção ou edificação. Art. 59 CC. Por
ora, a propriedade é o terreno. Se o terreno é de um e outro constrói nele, a construção
pertence ao proprietário do solo, que terá de indenizar o construtor, que teve as despesas
da edificação. NÃO CONFUNDIR construção com benfeitoria, que também é acessório,
mas não aumenta a propriedade. Piscina é benfeitoria, porque não aumenta o volume da
propriedade.

 MISTA

III) usucapião

IV) direito hereditário - a sucessão transfere a propriedade.

MÓVEL.

I) ocupação - Art. 592 CC. É o assenhoramento de coisa abandonada (res derelicta) ou sem
dono (res nullius).

CUIDADO - não pode haver assenhoramento de COISA PERDIDA. Daí nasce a INVENSÃO,
que dizem que é ocupação. Art. 603 CC. Quem encontra a coisa perdida é o INVENTOR,
que tem 2 obrigações:

 tentar localizar o dono, que tem obrigação de recompensar o inventor. A maioria da


doutrina diz que tem que ser em dinheiro. Se não quiser recompensar o inventor, o dono da
coisa tem a opção de abandoná-la.

 procurar autoridade competente e entregar-lhe a coisa perdida. A lei não diz qual
autoridade competente. Ou é autoridade policial ou autoridade judiciária. A autoridade
policial tenta investigar. Se não encontrar o dono, entrega à autoridade judicial, que vai
determinar que a coisa vá ao DEPÓSITO PÚBLICO, que, um dia, vai vende-la, indo o
dinheiro para o Estado. Ver o CPC.

II) especificação - Art. 611 CC. É a criação de uma espécie nova a partir do trabalho de
uma pessoa em matéria prima alheira. A coisa pertencerá ao ESPECIFICADOR, que teve o
trabalho, mas este vai ter que indenizar o dono da matéria prima.

III) usucapião - Art. 618 CC.

IV) tradição - Art. 620 CC. É a entrega de coisa com intenção de transferi-la. Não é mera
entrega. Lembrar que o comodato também tem entrega, mas não se adquire a coisa, não há
tradição com intenção de transferir a propriedade da coisa. Se não é essa a intenção, transfere-
se apenas a posse. Logo, tradição também é modo de adquirir posse.

Na tradição do Art. 620 CC há título aquisitivo. Título aquisitivo de coisa IMÓVEL transfere a
propriedade através de registro. Título aquisitivo de coisa MÓVEL transfere a propriedade
por tradição.

No entanto, nem sempre a entrega é verdadeira.


Daí se classificar a tradição.

CLASSIFICAÇÃO DA TRADIÇÃO.
79

1- REAL - a coisa passa de mão para mão. É a verdadeira tradição, quando a coisa é entregue
em si mesma.

2- FICTA ou SIMBÓLICA - aqui começam as divergências, pois há quem diga que a ficta é
diferente da simbólica. Para os que acham que é a mesma coisa, é a tradição em que a coisa
não é entregue em si mesma. Os que diferenciam as 2 dizem que na simbólica, é entregue
algo que represente a coisa, como por exemplo a chave de uma casa. Na ficta, nada é
entregue. Ex: não há exemplo para a propriedade, apenas para a posse, como na chegada a um
hotel, em relação à bagagem do hóspede.

POSSE.
Art. 485 e ss. CC.
CC não dá a definição de posse, e sim de possuidor.
Por causa disso, há 2 teorias para explicar a posse.

1- TEORIA SUBJETIVISTA ou de SAVIGNY

2- TEORIA OBJETIVISTA ou de IHERING.

Para ambas, a posse tem 2 elementos:

a) a coisa, ou CORPUS
b) a vontade que atua sobre a coisa, ou ANIMUS.

1a TEORIA.
Para a 1a teoria, animus é a vontade de ter a coisa. A pessoa tem a coisa e tem intenção de se
tornar propriedade, por isso é chamado de ANIMUS DOMINI.
Essa vontade de ser dono tem que ser possível dentro do direito, pois, se for inviável, não há
animus domini, a não ser para o leigo.

Ex: num contrato de locação, o locatário não pode achar que é dono, mesmo quando o imóvel já
está alugado há muito tempo. Logo, um locatário não tem animus domini, e sim OPPINIO
DOMINI. Um usufrutuário também não tem animus domini.

Logo, quem assinar um contrato que o obrigue a devolver a coisa, não pode ter animus domini.
Idem quem tem direito real sobre coisa alheia.

Então, para a teoria subjetivista, estes não tem posse. Quem tem posse, por exemplo, é o
proprietário. Aquele que invade terreno abandonado tem animus domini.

Essa teoria não foi adotada pelo CC, mas é necessária para o estudo do usucapião.

2a TEORIA.
Para a 2a teoria ocorre posse quando aquele que tem a coisa comporta-se como dono. Na
verdade, nem animus é, porque sua vontade não foi inquirida. É AFFECTIO TENENDI.
Então, para essa teoria, o locatário e o usufrutuário tem posse. Idem o proprietário.

Então, para as 2 teorias o proprietário tem posse.

Art. 485 CC define possuidor de acordo com a 2a teoria.


Então, o CONCEITO de posse, de acordo com a 2a teoria, é a visibilidade do domínio.
80

Em relação à DETENÇÃO, esta vem da posse. Não é direito real e não foi tratada pelo CC,
embora mencionada várias vezes.
Será vista de acordo com as 2 teorias acima.

1a TEORIA.
A 1a teoria a define como a ausência do animus domini. O detentor está com a coisa mas não tem
vontade de ser seu dono. O locatário e o usufrutuário, para essa teoria, são detentores.

2a TEORIA.
Diz que a detenção ocorre quando o sujeito tem a coisa, tem comportamento de dono, mas a lei
impede a posse. É o impedimento legal à posse. A lei impede a posse nos Art. 487 e 497 CC.

Art. 487 CC - colocar entre aspas “conserva a posse” e colocar CONSERVA A COISA. É o
chamado SERVO ou FÂMULO da posse. É detentor, e não possuidor. Ex: empregada
doméstica, caseiro.

Art. 497 CC - atos de mera permissão ou tolerância não geram posse. Permissão é
comportamento ativo, ação. Tolerância é comportamento negativo, omissão, abstenção. Ex:
visitas tem comportamento de dono. Só não tem posse porque a lei não permite.

Na 2a parte desse artigo, os atos violentos ou clandestinos não geram posse, só depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
Ato violento é o ato de força. Ato clandestino é sigiloso. Roubo é violento e furto é clandestino.

Existe uma corrente que diz que enquanto há violência, há detenção. Cessada a violência, há
posse. Então, no roubo, ocorre a posse quando consumado o crime. No roubo tentado só há
detenção.

Uma outra corrente diz que só há posse quando decorre 1 ano e 1 dia, ou seja, só cessa a
violência após decorrido esse tempo.

Outra corrente diz que só cessa a detenção e passa a haver posse quando ocorrer a EP pela
prescrição, porque o Estado não pode mais punir o agente.

A adotada pelos civilistas é a 1a, que não é aceita pelos penalistas.


Em relação à clandestinidade, ocorre o mesmo.

NATUREZA JURÍDICA DA POSSE.


Há 2 teorias:

1- posse é FATO - é MINORITÁRIA, mas é a CLÁSSICA. É a teoria de Bevilaqua. A posse é


um acontecimento, um fato, que gera efeitos no direito, ou seja, é FATO JURÍDICO. Não é
direito real porque direito real é taxativo, está previsto na lei, no Art. 674 CC, que não fala
em posse.

2- posse é DIREITO REAL - é a moderna. Hoje em dia já se entende que posse é direito real,
porque o próprio CC, que é lei, a previu, apesar de não a ter colocado não Art. 674 CC. Há
também outra razão, no Art. 75 CC, pois, quando ela sofre lesão, nasce a AÇÃO
POSSESSÓRIA, que só existe porque posse é direito, que pode sofrer lesão. Além disso, se a
propriedade, que é o principal, é direito real, então a posse, que é acessório, também é direito
real.
81

Com a reforma, o CPC diz que quando a ação é real, é necessário que litiguem em juízo ambos
os cônjuges. No entanto, a posse tem ação em que o CPC não exige isso. Ou seja, foi tratada
como ação pessoal, e não como ação real, dando a entender que posse é fato. Por isso, hoje,
alguns continuam dizendo que posse é FATO. Mas, a MAIORIA dos processualistas não
concorda, porque quem dá a natureza jurídica é o direito material, o direito civil. Não importa o
tratamento que o CPC dá à ação possessória.

CARACTERÍSTICAS ou CLASSIFICAÇÃO DA POSSE.

1- POSSE JUSTA e POSSE INJUSTA.

Posse justa é a que não tem vício.

Posse injusta é a que tem vícios ou defeitos, quais sejam;

 VIOLÊNCIA - a posse é violenta quando há uso de força para se obter a coisa.


Inicialmente há detenção. Cessada a violência, a posse aparece, mas é injusta. Art. 489
CC.

 CLANDESTINIDADE - a posse é clandestina quando adquirida por ato secreto. Enquanto


não se tornar pública, é detenção. Quando cessar a clandestinidade, aparece a posse injusta.

 PRECARIEDADE - a posse é precária quando obtida por abuso de confiança. É injusta.


Abuso de confiança seria a chamada “folga”. Ex: pessoa que não devolve uma coisa na
data combinada. É a negativa de restituição da coisa. Lembrar da mora. Se não houver
prazo para devolução, não é abuso de confiança. A mora só vem da notificação, protesto
etc. Art. 960 CC. A posse precária não passa pelo estágio de detenção, começando
diretamente como posse injusta.

2- POSSE DE BOA FÉ e POSSE DE MÁ FÉ.


Art. 490 CC.

A posse é de boa fé quando o sujeito não sabe do vício da posse, ou este não existe.

A posse é de má fé quando o possuidor sabe do vício. Uma posse pode ser clandestina e de boa
fé. Ex: a mulher de um assaltante, que recebe um presente que foi roubado, mas não sabe
disso. A posse do marido é que é de má fé.

Ver Art. 490 p.un CC - presume-se ser possuidor de boa fé quem tem o justo título (será
explicado depois). O contrário pode ser provado.

3- POSSE DIRETA e POSSE INDIRETA


Art. 486 CC.

A posse só pode ser assim classificada quando ocorre seu DESDOBRAMENTO ou PARTILHA.
Ou seja, nem todas as posses podem ser assim classificadas.
Todo proprietário tem posse. Se ele empresta a coisa a alguém, ele, comodante, tem posse
indireta e o comodatario, que se comporta como dono, tem posse direta.

Logo, há um desdobramento, ou partilha, quando há cessão de uso ou fruição da coisa.


82
Terá posse direta aquele que tem a coisa na sua esfera IMEDIATA de poder, ou seja, aquele que
recebe o uso e fruição da coisa.
Terá posse indireta quem tem a coisa na sua esfera MEDIATA de poder.

MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE.


Art. 493 CC.
São os mesmos da perda e valem para qualquer direito real.

1- MODO ORIGINÁRIO - sua ocorrência é objeto de divergência. A corrente MAJORITÁRIA


diz que ocorre quando não há ato de transferência. A corrente MINORITÁRIA, de Caio
Mário diz que ocorre quando a coisa não tem titular anterior.

2- MODO DERIVADO - também há controvérsias. A corrente MAJORITÁRIA diz que ocorre


quando há ato de transferência. A corrente MINORITÁRIA, de Caio Mário diz que ocorre
quando a coisa tem titular anterior.

Essa diferenciação só tem importância para o estudo e o usucapião.

Art. 493 CC não é didático, porque todas as situações cabem no inciso III.
Nos casos abaixo, a diferença das correntes não é importante.

I) apreensão - é modo originário.

II) registro - é modo derivado.

O mais importante dos modos é a TRADIÇÃO, que apenas transfere a PROPRIEDADE de coisa
móvel.
No entanto, a tradição transfere a POSSE de coisa MÓVEL e IMÓVEL.

Logo, a tradição pode ser REAL, quando a coisa é entregue em si mesma, e pode ser FICTA ou
SIMBÓLICA, quando se entrega algo que simbolize a coisa. Por isso, o comodatario adquire a
posse de um imóvel pela entrega das chaves.

A tradição também pode ser CONSENSUAL, vindo de um consenso, da vontade.


Nesse caso, não se vêem os 2 tipos de tradição já estudados.

A divisão abaixo é controversa, porque há quem diga que a tradição FICTA é a LONGA MANU,
considerando-a como modo de tradição consensual, chamando a CONSENSUAL de BREVE
MANU, não considerando o CONSTITUTO POSSESSÓRIO como tradição.

Assim, a tradição consensual, para a maioria, se divide em:

1- BREVE MANU - quando alguém tem posse e não é proprietário da coisa, tem a posse em
nome de terceiro. Quando tem posse e é proprietário da coisa, é posse em nome próprio.
A tradição breve manu é ter a posse em nome de terceiro e passar a te-la em nome próprio.
Ex: venda de um imóvel ao comodatario que nele se encontra, que já tenha posse direta e receba
a indireta, acabando o desmembramento da posse. Ninguém viu esse recebimento de posse.

2- CONSTITUTO POSSESSÓRIO - é o contrário da tradição breve manu. O sujeito tem posse


em nome próprio e passa a ter a posse em nome de terceiro. Também ninguém vê esse
recebimento de posse.
Ex: proprietário que vende seu imóvel e pede um prazo para dele sair.
83
No contrato de C e V deverá constar a CLAUSULA CONSTITUTI, na qual se transfere ao
comprador a posse indireta, posse esta que ele não tinha.

DETALHE PROCESSUAL - se ao final do prazo o imóvel não é desocupado, surge situação


onde há controvérsia:

 alguns entendem que há abuso de confiança, que consiste em uma prática de ato de
propriedade, de esbulho, cabendo ação possessora, sob forma de AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE.

 alguns dizem que se deve ir a juízo pedir a posse direta através de AÇÃO DE IMISSÃO
DE POSSE, que NÃO É ação possessora e sim de propriedade. Isso não está no atual CPC,
daí a dúvida, pois só havia no outro CPC.

EFEITOS DA POSSE.
No Brasil foi adotada a teoria da PLURALIDADE DOS EFEITOS DA POSSE.

Seus efeitos são:

1- direito às benfeitorias
2- direito aos frutos.
3- direito às indenizações dos prejuízos.

Esses 3 são simples leitura da lei.

4- direito aos INTERDITOS POSSESSÓRIOS. Art. 499 CC. Se dão através das AÇÕES
POSSESSÓRIAS. Ver Art. 75 CC. A posse é um direito, tanto que, quando sofre lesão, há
ação para curar essa lesão.

A posse pode sofrer 2 tipos de lesão:

a) ESBULHO - é a perda da posse por violência, clandestinidade ou precariedade, que são os


3 defeitos da posse. O interdito possessório cabível é a AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE.

b) TURBAÇÃO - é a perturbação da posse. O interdito possessório cabível é a AÇÃO DE


MANUTENÇÃO DE POSSE.

Essas 2 ações defendem a posse e não a propriedade.


Defendem o ius possessiones, que é o direito de posse.
Não é necessário que se tenha a propriedade da coisa.

Quando se quer discutir a propriedade, usa-se a AÇÃO PETITÓRIA, que discute o ius
possidendi, que é o direito de possuir.
Ex; ação reivindicatória.

As 2 ações da posse tem PROCEDIMENTO ESPECIAL, a ser visto no CPC.


As ações de posse são fungíveis. Se for proposta a ação errada, será aceita, pois uma substitui
a outra.

A ação possessora tem natureza dúplice, pois é, ao mesmo tempo, ação de conhecimento e de
execução.
84

Tanto no caso de esbulho quanto no de turbação é possível LIMINAR.


Mas há casos em que não dá tempo de ir a juízo.
Quando há JUSTO RECEIO de esbulho ou turbação, cabe o INTERDITO PROIBITÓRIO,
que é um 3o tipo de ação possessora. Ver Art. 50 I CP. O medo tem que ser fundado, tem que
ser provado. Ex: o MST dizendo que vai invadir.

Nesse 3o tipo de ação, a condenação é a não fazer, sob pena de se pagar multa diária. Se a
multa for muito alta, não terá efeito. Idem se for baixa demais, pois na grande maioria dos
casos isso não é respeitado.

No momento em que estão ocorrendo, ou que estão prestes a ocorrer, o esbulho ou a turbação,
a posse pode ser defendida pelo próprio possuidor. É como no direito penal. Devem ser
usados os meios necessários, mas moderadamente. Ver Art. 502 CC, que trata da LD de
posse. É o chamado DESFORÇO PESSOAL, mas que pode ser via terceiros.

Quando ocorre uma invasão e permanência em domicílio alheio, é crime permanente. A


qualquer momento o dono pode usar o desforço pessoal.
Se o local invadido não se encaixar no conceito de casa do direito penal, não há desforço
pessoal. Cabe então a AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. O possuidor já sofreu o
esbulho. Ou seja, não está sofrendo o esbulho naquele momento.

5- direito ao usucapião - Art. 530 IV e 618 CC. Usucapião é modo de aquisição de propriedade.
Pode ser de coisa móvel ou imóvel. No usucapião, para se adquirir a propriedade, é
necessário antes a posse.

CONCEITO - é modo de aquisição de propriedade de coisa móvel ou imóvel por quem tem
posse prolongada, aliada a outros requisitos legais. Também pode ser modo de aquisição de
outros direitos reais, como a enfiteuse, a servidão etc.

Alguns autores dizem que é MODALIDADE DE PRESCRIÇÃO. Há controvérsias.

No entanto, a razão do usucapião NÃO É a inércia do proprietário, e sim a posse de quem ficou
com o bem. Logo, é diferente da prescrição, que decorre da inércia do titular do direito de
ação. Há apenas uma certa semelhança.
A respeito, existem 2 correntes:

a) não é modalidade de prescrição, porque esta é decorrente da inércia, e o usucapião é


decorrente da posse. Além disso, se fosse modo de prescrição, o CC o teria tratado junto
com a prescrição.

b) é modalidade de prescrição, porque a prescrição da parte geral é prescrição EXTINTIVA,


e a prescrição do direito das coisas, direito real, não gera perda, e sim aquisição de
propriedade. É prescrição AQUISITIVA. As razões para isso são:

 nos 2 casos, prescrição e usucapião, há perda e inércia.


 Art. 553 CC ou Art. 619 p.un CC - o legislador deu ao usucapião o mesmo tratamento
da prescrição. O CC não tratou dele junto com a prescrição, mas mandou aplicar as
mesmas regras. As causas de interrupção da prescrição estão nos Art. 168 a 170 CC
(suspensão) e Art. 172 CC (interrupção). Aplicar neles o Art. 553 CC.
85
TIPOS DE USUCAPIÃO.
Existem 4 modalidades:

1- EXTRAORDINÁRIO - para moveis e imóveis. Ver Art. 550 e 618 CC.

2- ORDINÁRIO - para moveis e imóveis. Ver Art. 618 e 551 CC.

Art. 553 CC se aplica ao usucapião de imóveis, seja ordinário ou extraordinário.

Art. 619 p.un CC se aplica ao usucapião de moveis, ordinário ou extraordinário.

3- RURAL ou ESPECIAL ou PRO LABORE - Art. 191 CF. Apenas para bens imóveis. A L
6969/81 também trata dele mas, na divergência com a CF, prevalece esta. Aqui também se
aplica o Art. 553 CC.

4- URBANO ou ESPECIAL URBANO ou CONSTITUCIONAL - Art. 183 CF. A CF não


deu esse nome, que é doutrinário. Apenas para imóveis. Também se aplica o Art. 553 CC.

REQUISITOS DO USUCAPIÃO.
Há 2 tipos de requisitos:

a) GENÉRICOS - estão presentes em qualquer tipo de usucapião.

b) ESPECÍFICOS - variam de um tipo de usucapião para outro.

REQUISITOS GENÉRICOS.

1- posse ad usucapionem - é a posse da teoria de Savigny, subjetivista. O sujeito tem a coisa e


tem animus domini, ou seja, vontade de ser dono dela. O desejo de ser dono é chamado de
opinio domini.

Um promitente comprador não tem animus domini, apesar de ter a posse da coisa e estar
pagando seu preço.

2- tempo - Art. 550 CC - 20 anos (antes eram 30), Art. 619 CC - 5 anos, Art. 551 CC - 10 ou
15 anos, dependendo se presentes ou ausentes. Ver os demais artigos, para ver o resto dos
tempos.

Para distinguir, ver o Art. 551 p.un CC. Os presentes RESIDEM no mesmo Município. A
interpretação MAJORITÁRIA é a literal.

Há uma 2a corrente que faz interpretação lógica, pela qual o proprietário tem que vigiar o
imóvel. Então, se ele está longe do imóvel, o prazo é maior.
Então, para essa corrente, são presentes quando o proprietário está no mesmo Município em que
se localiza a coisa. Essa é a interpretação clássica, de Beviláqua.

3- continuidade - o tempo de posse deve ser CONTÍNUO, sem interrupção. Lembrar do Art.
553 CC, e Art. 172 CC. O prazo recomeça do início.
86

DETALHE - Art. 172 I CC - só vai ocorrer interrupção na citação por ação


REIVINDICATÓRIA ou POSSESSÓRIA. Além disso, tem que ser proposta pelo
proprietário. Não basta citação numa ação possessória ou petitória. A ação tem que ter sido
considerada procedente. O prazo não se interrompe.

4- a posse tem que ser mansa e pacífica, ou seja, sem oposição ou contestação. Está ligada com o
item anterior, porque a maneira de se opor é promovendo as ações.

Então, a citação, por exemplo, além de interromper a prescrição, é oposição à posse. Quando há
interrupção há contestação.

USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO só exige os requisitos genéricos.

REQUISITOS ESPECÍFICOS.

1- o usucapião EXTRAORDINÁRIO não tem requisitos específicos. Por isso tem um tempo
maior. Art. 550 CC.

ATENÇÃO - é necessário que se prove ao juiz através de AÇÃO DE USUCAPIÃO, que é


procedimento especial. Ver no CPC.
A sentença julga o pedido procedente. A natureza jurídica dessa sentença é DECLARATÓRIA,
porque o que transfere a proprietário é o preenchimento dos requisitos legais. Ver Art. 550
CC, que diz que o juiz assim a DECLARA. O registro também tem natureza
DECLARATÓRIA.

No Art. 530 CC, o inciso I é CONSTITUTIVA e os demais, DECLARATÓRIA.

2- usucapião ORDINÁRIO - Art. 551 CC - tem os 4 requisitos genéricos e também tem


requisitos específicos, que são o JUSTO TÍTULO e a BOA FÉ.

OBS - no usucapião extraordinário de móvel, para os que defendem que cessada a violência, a
posse é mansa, o ladrão adquire o móvel por usucapião extraordinário após 5 anos. O jeito é
dizer que as causas de interrupção da prescrição no direito penal também valem para o CC,
porque o Art. 553 CC não especifica.

JUSTO TÍTULO.
É o título hábil, em tese, para transferir a propriedade. Pelo Art. 530 I CC, o título aquisitivo
transfere a propriedade. Quando houver contrato que gere obrigação de transferir a
propriedade, a obrigação é cumprida levando-se o título a registro.
Se o título aquisitivo tem vício, ele não será registrado. O título aquisitivo viciado é que é o justo
título. Os defeitos são dados pela doutrina:

a) adquirir de quem não é dono.


b) o vendedor é o dono, mas não pode dispor da coisa. Ex: um apartamento gravado com
cláusula de inalienabilidade.
c) o vendedor é o dono, mas há erro no modo de transmissão.

BOA FÉ.
É o desconhecimento do vício do título. Art. 490 p.un CC. Essa presunção é relativa.
87
3- usucapião RURAL e URBANO - Art. 191 e 183 CF - ambos tem os 4 requisitos genéricos.
Os requisitos específicos de cada um são:

a) LOCALIZAÇÃO - um imóvel rural tem que ter finalidade rural, não importando sua
localização. Ex: para plantar. Um imóvel urbano tem que ter finalidade urbana, não
importando a localização. Ex: para residir.

Essa é a corrente MAJORITÁRIA. Existe outra corrente, que diz que não se deve observar a
finalidade, e sim a localização. Baseia-se no Art. 191 CF, que diz que a localização é na
área rural.

b) ÁREA - um imóvel rural tem área de até 50 hectares. Um imóvel urbano tem área de até
250 metros quadrados.

Em relação a este último, há controvérsia se essa metragem se refere à área do terreno ou à


área construída, que pode ultrapassar essa metragem, caso seja de vários andares. A
doutrina MAJORITÁRIA entende que é a área do terreno que não deve ultrapassar os 250
metros quadrados.

c) UNICIDADE - o usucapiente não pode ser proprietário de qualquer outro imóvel, rural ou
urbano. No entanto, é impossível se provar que não é dono de outro imóvel. O réu na ação
de usucapião, que é o proprietário do imóvel, se souber que o usucapiente é dono de outro
imóvel, pode realizar essa prova.

d) FINALIDADE - em relação ao urbano, o usucapiente tem que provar que nele tem a sua
moradia. Em relação ao imóvel rural, o usucapiente, além de provar que é sua moradia,
tem que provar que tornou o imóvel produtivo. Por isso, a doutrina MAJORITÁRIA
entende que o critério é a finalidade.

CONTROVÉRSIAS MAIS IMPORTANTES.

1- em relação á possibilidade ou não de o absolutamente incapaz poder usucapir.


A respeito, existem 2 correntes:

 não pode, porque a posse do usucapião é com animus domini, e o AI não tem vontade
própria. Logo, não pode ter animus domini. Para Savigny, ele só tem a detenção, não a
posse.

 pode, porque o AI pode praticar atos da vida civil através de seu representante. Logo, tem
que haver um representante legal.

Não há corrente majoritária.

Não se aplica o Art. 169 I CC, porque os Art. 553 e 619 p.un CC referem-se ao usucapião
extraordinário e ordinário de bens moveis, mas podem ser aplicados ao rural e urbano.

A prescrição corre A FAVOR do AI usucapiente. Não corre contra. Logo, esse artigo não se
aplica.
Se o AI fosse réu, correria prazo prescricional.

2- em relação à possibilidade de um condômino poder usucapir a parte de outro condômino.


88
De acordo com o Art. 492 CC, em regra, a posse tem as características com que foi adquirida.
Logo, se a posse é sem animus domini, assim permanece, a não se que se prove que houve
mudança do caráter da posse, o que configura a INTERVERSÃO DA POSSE, que deve ser
provada.

O fato de um condômino morar sozinho no imóvel de ambos não autoriza usucapião. Essa é a
corrente MAJORITÁRIA. O condômino não tem animus domini, não tem vontade de ser
dono da parte do outro.
Mas, havendo prova em contrário quanto à inversão da posse (ex: o que está morando impede o
outro de morar), passa a haver animus domini, e ocorrerá o esbulho.
Por isso, também há 2 correntes:

 não pode, porque não tem animus domini.

 pode, desde que se demonstre a interversão da posse.

Na realidade, não há controvérsia.

3- em relação ao usucapião de terra não registrada. Os Art. 191 p.un CF e Art. 183 § 3o CF
dizem que bem público não pode ser objeto de usucapião.

No entanto, o conceito de terra não registrada é controverso, havendo 2 correntes;

 terra não registrada é terra devoluta. É terra que não está registrada em nome de ninguém,
devendo ser devolvida ao Estado. Ou estas terras pertencem à União ou ao Estado
Membro. Por isso, não é possível o usucapião.

 MAJORITÁRIA - terra não registrada não é considerada automaticamente terra devoluta.


De acordo com essa corrente, a terra devoluta é a que o Estado considera sua, através de
uma AÇÃO DISCRIMINATÓRIA que a considere devoluta. Logo, a terra não registrada é
coisa sem dono, e, se não proposta a ação, pode ser usucapida.

 Silvio Rodrigues diz que é possível usucapião de terra devoluta. É difícil.

4- em relação à possibilidade de o compromissário poder usucapir antes de quitar o preço, e


após.

Compromisso de C e V não é justo título. Gera obrigação do tipo fazer, e não de transferir a
propriedade. Logo, não é título aquisitivo. É defeituoso.
Então, quem tem compromisso de C e V não consegue usucapião ordinário, que requer justo
título.

Em relação aos outros tipos de usucapião, deve-se verificar se o compromissário tem animus
domini.

Então, antes da C e V realizada, o compromissário não pode ter animus domini, porque sabe que
só será dono após quitar o preço e registrar o imóvel. Logo, não pode usucapir. Do contrário,
não pagaria, usucapiria.
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Após quitação, se o compromitente não quiser mais celebrar a venda, cabe AÇÃO DE
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA. Não cabe ação de usucapião porque não havia animus
domini.

No entanto, o compromisso de C e V REGISTRADO gera direito real (o não registrado gera


apenas direito pessoal). Logo, a ação de adjudicação compulsória é ação real, se o
compromisso de C e V estiver registrado. Essa ação prescreve em 10 ou 15 anos, a partir do
momento em que o compromitente furta-se ao compromisso (a ação pessoal prescreve em 20
anos).

Quando o compromissário deixa passar o prazo, não pode mais propor ação de adjudicação.
A única saída é a ação de usucapião, dando-se animus domini a partir da quitação.

AÇÃO REIVINDICATÓRIA.
É a proposta pelo proprietário. É ação real, que teria prazo de 10 ou 15 anos. No entanto, é
IMPRESCRITÍVEL. Perde-se a propriedade quando outra pessoa a adquire por usucapião. Pode
ser proposta enquanto a propriedade não for adquirida por usucapião.

Propriedade é de real perpétuo, não se perdendo pelo não exercício.


DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS.
Os direitos reais se classificam em:

1- direitos reais sobre coisa própria - o único é a propriedade.

2- direitos reais sobre coisas alheias - o resto. Estão no Art. 674 CC, que, no seu caput,
excepciona a propriedade.

Em um direito real, o TITULAR é o SA, a COISA é o objeto, e a COLETIVIDADE é o SP.


Apenas na propriedade o titular do direito real é o dono da coisa.

Os direitos reais sobre coisas alheias se dividem em 2 grupos:

a) DE USO E GOZO - ou de uso e fruição. O titular desses direitos não é dono. Só pode usar e
fruir da coisa alheia.
Ex: no direito real de USO, o titular, chamado de USUÁRIO, só pode usar a coisa. No direito
real de USUFRUTO, o titular, chamado de usufrutuário, usa e frui. Esse pode, por exemplo,
alugar. O anterior pode, no máximo, emprestar. No direito real de RENDAS
CONSTITUÍDAS SOBRE IMÓVEL, o titular só pode fruir. Não pode usar.
Em resumo, pode-se só usar, só fruir, ou usar e fruir.

b) DE GARANTIA - são os 3 últimos incisos do artigo. São os direitos criados para garantir o
cumprimento de uma obrigação. O titular não recebe a coisa para usar ou fruir. Recebe-a
apenas como garantia.
Nos 3 casos elencados o devedor entrega coisa de sua propriedade como garantia. Logo, os
credores são: o PIGNORATÍCIO, do PENHOR, o HIPOTECÁRIO, da HIPOTECA e o
ANTICRÉTICO, da ANTICRESE.

No PENHOR, a coisa entregue em garantia é MÓVEL.

Na HIPOTECA e na ANTICRESE, há entrega de coisa IMÓVEL. A diferença entre os 2 ocorre


no caso de não cumprimento da obrigação pelo devedor.
90

Na hipoteca, o credor aliena a coisa e é pago com o dinheiro recebido. Se sobrar, a diferença vai
para o devedor. Se faltar, o credor pega outros bens do devedor.

Na anticrese, o credor não pode alienar o bem. Na execução, este é levado a fruição, sendo o
fruto entregue ao credor até que este seja ressarcido. Ou seja, a coisa continua no patrimônio do
devedor.

Um credor, obviamente, prefere a hipoteca e um devedor, a anticrese. A anticrese está em


desuso.

DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA DE USO E GOZO.


Os mais importantes são:

ENFITEUSE.
Guarda semelhança com o usufruto, pois, em ambos, o titular usa e frui da coisa.

ENFITEUSE. USUFRUTO.

CONCEITO. É o direito real pelo qual o titular É o direito real pelo qual o titular
pode usar e fruir da coisa alheia pode usar e fruir de coisa alheia
mediante remuneração, de modo temporariamente.
perpétuo.

PARTES. ENFITEUTA (titular). USUFRUTUÁRIO (titular)


SENHORIO DIRETO (proprietário) NU PROPRIETÁRIO (proprietário)

OBJETO. Só bem imóvel. Art. 680 CC. Qualquer bem, móvel ou imóvel.

REMUNERAÇÃO. FORO. É anual. Como é assistencial, não há


Esse direito do enfiteuta transfere-se remuneração pelo uso e gozo da
com a morte. O bem pode ser coisa. Por isso não pode ser alienado,
alienado, tendo o senhorio direto ou seja, o usufrutuário não pode
preferencia. Art. 686 CC - trata do dispor da coisa EXCETO se for para
LAUDEMIO, que é um preço pago vende-la para o nu proprietário, para
ao senhorio direto por ocasião da que sua propriedade se torne plena.
alienação do bem, e que corresponde O usufruto cessa com a morte do
a 2,5% do valor da venda. usufrutuário, podendo até mesmo
cessar antes, dependendo da
condição que houver sido imposta.

DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA DE GARANTIA FORA DO CC.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA.


Hoje em dia, é usada tanto para bens moveis quanto para imóveis, pois a L 9514/97 ampliou o
instituto para os bens imóveis.
Sobre bem móvel, ver o DL 911/69.
91
Art. 1o DL 911/69 conceitua a alienação fiduciária em garantia.

Quando se compra algo a prestação, estabelece-se um contrato de C e V entre o comprador e a


loja. Uma vez que a propriedade se transfere com a tradição, a loja, após a tradição, não teria
qualquer garantia de que o comprador continuaria pagando as prestações. Para não perder a
garantia, a loja usa de um artifício, que é o de fazer o comprador assinar um contrato pelo qual
ele passa a ser devedor de uma IF, que lhe empresta o dinheiro para que pague à loja, e pede
como garantia o bem que está sendo adquirido.
Desse modo, a IF fica com a propriedade resolúvel, que termina com o final do pagamento. O
comprador fica com a posse direta do bem e a IF, que é o proprietário, fica com a posse indireta.
O comprador permanece como DEPOSITÁRIO da coisa, podendo, no entanto, usar e fruir da
coisa, o que o depositário normal não pode fazer.

Formam-se então as seguintes figuras:

IF - é o ADQUIRENTE (porque adquiriu a propriedade resolúvel), ou FIDUCIANTE (porque


financia), ou CREDOR.

COMPRADOR - é o ALIENANTE (porque alienou a propriedade resolúvel da coisa) ou


FIDUCIÁRIO (porque foi financiado), ou DEVEDOR.

Esse comprador, enquanto não acabar de pagar as prestações, não é dono, ou seja, não pode
alienar o bem, o que constitui ilícito penal, previsto no CP.

Se o comprador parar de pagar, o credor pode buscar a coisa, que é dele, propondo AÇÃO DE
BUSCA E APREENSÃO.

Se a coisa é apreendida, a lei veda o PACTO COMISSÓRIO, ou seja, a IF não pode usar a coisa,
tendo que vende-la e ficar com o dinheiro.

Se a busca e apreensão for frustrada, ou seja, se a coisa não é apreendida, por não mais estar com
o devedor, por qualquer motivo, a ação de busca e apreensão converte-se em AÇÃO DE
DEPÓSITO, para possibilitar a prisão do depositário infiel. Se isso não resolver, parte-se para a
execução comum.

Caso o credor tenha pago parte das prestações, ele não perde esse dinheiro por força do Art. 53
CDC. Esse artigo aplica-se também, por analogia, ao consórcio.

CASAMENTO.
É o AJ que cria a família.
Existem 3 modos de se criar família:

1- tradicional - pelo casamento.

2- pela união estável - Art. 226 § 3o CF.

3- pela monoparentalidade - constitui a família monoparental, que é a união de qualquer dos pais
com seus filhos. Art. 226 § 4o CF a reconhece.

NATUREZA JURÍDICA.
A maioria da doutrina diz que é contrato, pois há acordo de vontades que gera obrigação. Como
todo contrato é NJ, então o casamento é NJ, o que é mais do que AJ.
92

Outros dizem que é AJ complexo, ou seja, há 2 vontades em patamares diversos, não havendo
apenas a vontade dos nubentes, mas também a vontade do Estado.

Outra corrente diz que é instituição, ou seja, conjunto de regras pré fixadas a que a vontade
adere, que são os REQUISITOS DE EXISTENCIA.
Um AJ existe quando presentes seus elementos essenciais, que são: AGENTE, OBJETO e
FORMA.

No casamento, os requisitos de EXISTENCIA estão ligados aos elementos essenciais de um AJ:

1- DIVERSIDADE DE SEXOS - os AGENTES tem que ser um homem e uma mulher.

2- CONSENTIMENTO LIVRE - é o OBJETO, é o conteúdo da vontade.

3- CELEBRAÇÃO - é a FORMA.

Existem 5 formas de celebração:

a) Art. 192 CC - na casa das audiências, ou seja, os nubentes vão ao juiz de paz. O local que
o juiz escolhe se chama casa das audiências.

b) Art. 198 CC - o juiz é compelido a ir a um local, porque um dos nubentes está doente.
Não se trata dos casos excepcionais, onde o juiz vai se quiser.

c) Art. 199 II CC - é o CASAMENTO NUNCUPATIVO, ou in extremis vitae momentis.


Ocorre na presença de 6 testemunhas, que depois confirmam para uma autoridade.

d) Art. 201 CC - é o CASAMENTO POR PROCURAÇÃO. Ocorre na casa das audiências,


só que um dos nubentes dá procuração a outrem. O mandatário não precisa ser advogado,
mas é conveniente que seja. Também é conveniente que o mandatário seja do mesmo sexo
do mandante, mas isso não é essencial. A doutrina entende que só cabe procuração para
um dos nubentes, mas, em casos extremos, aceita-se que haja procuração para ambos.

e) Art. 71 L 6015/73 - casamento religioso com efeitos civis. Após a cerimonia religiosa,
com a certidão do casamento religioso, dá-se entrada no registro civil no prazo de 30 dias.
Caso se perca o prazo, há divergência doutrinária:

 1a corrente - deve ser realizado casamento na casa das audiências.


 2a corrente - aceita-se o registro tardio, desde que no prazo de validade da habilitação.

FASES DO CASAMENTO.

1- HABILITAÇÃO - fase em que se verifica se há algum impedimento matrimonial. Art. 183


CC caso não haja, será fornecida CERTIDÃO DE HABILITAÇÃO, válida por 90 dias a
partir de sua expedição.

2- CELEBRAÇÃO - por um dos 5 modos já vistos.

3- REGISTRO - geralmente é decorrência da 2a fase.

REQUISITOS DE VALIDADE DO CASAMENTO.


93
Um AJ, para ser válido, tem requisitos: agente CAPAZ, objeto LÍCITO e forma PRESCRITA
OU NÃO DEFESA EM LEI.

No casamento, os requisitos de validade são:

1- ausência de impedimento matrimonial. Os impedimentos estão no Art. 183 CC:

 incisos I a VIII - são os IMPEDIMENTOS ABSOLUTOS ou IMPEDIMENTOS


DIRIMENTES PÚBLICOS. Se o casamento for celebrado, será nulo, de acordo com o
Art. 207 CC.

 incisos IX a XII - são os IMPEDIMENTOS RELATIVOS ou IMPEDIMENTOS


DIRIMENTES PRIVADOS. O inciso IX trata dos coactos, onde há coação moral. A
coação física faz faltar a vontade, que é elemento essencial. Em relação ao inciso XI, a
desigualdade de idades continua valendo, não sendo considerada discriminação entre
homem e mulher, porque é apenas biológica. Até os 21 anos, há necessidade de
consentimento, que o juiz pode suprir. A conseqüência dos dirimentes privados é a
anulabilidade do casamento, de acordo com o Art. 209 CC.

 incisos XIII a XVI - são os IMPEDIMENTOS IMPEDIENTES ou CAUTELARES


PROIBITIVOS. São ligados a questões patrimoniais. Esses casamentos não são nulos e
nem anuláveis. São válidos, mas há sanção, porque se exige a separação de bens. Art. 226
e 258 p.un CC.

2- autoridade competente, que é o juiz de paz. A CF ainda não é aplicada. Ela prescreve a
escolha do juiz de paz por votação. Atualmente são nomeados pelo Tribunal de Justiça.
Se o casamento for celebrado por autoridade incompetente, será nulo. Art. 208 CC.

3- não deve haver erro quanto à pessoa dos cônjuges. De acordo com o Art. 218 CC, o
casamento será anulável. Os erros são apenas os elencados no Art. 219 CC, que é taxativo.
Em relação ao inciso IV, após a CF 88 muitos sustentam que não é mais causa de erro.
Youssef Said Cahali diz que é o fato de a mulher esconder o defloramento do marido.

Logo, se um casamento não tem os requisitos de validade, será nulo ou anulável, dependendo do
caso.

CASAMENTO PUTATIVO.
Art. 221 CC.
Embora nulo ou anulável, gera efeitos, ou seja, é EFICAZ. É porque o legislador diz que se deve
olhar para a boa fé ou má fé de quem casa.

Se de boa fé, a lei aceita que gere efeitos. Então, a putatividade só gera efeitos de boa fé.

Ato nulo não convalesce com o tempo, mas há EXCEÇÃO. A nulidade é sanada se não for
alegada em 2 anos a celebração do casamento por autoridade incompetente.
Logo, no casamento há exceção à regra geral de ato nulo não gera efeitos, o que ocorre na
putatividade, e de que ato nulo não convalesce, como no caso acima.

EFEITOS DO CASAMENTO.

1- Art. 229 CC - cria a família. Antigamente, era o único caso de criação de família. Hoje em
dia, a união estável e a monoparentalidade também a criam. Em relação à 2 a parte do artigo,
94
deve-se dizer que o casamento TINHA efeito de legitimar os filhos. Hoje em dia não possui
mais esse efeito.

2- Art. 230 CC - inicia o regime de bens.

3- Art. 231 CC - cria deveres para ambos os cônjuges. Os deveres do marido estão a partir do
Art. 233 CC e os da mulher, a partir do Art. 234 CC. Estes deveres foram
PARCIALMENTE REVOGADOS pela CF 88, que igualou ambos.

 fidelidade reciproca.

 vida em comum no domicílio conjugal. Isso nem sempre é o mesmo que coabitação, que
significa morar sob o mesmo teto. É mais do que isso, pois vida em comum é coabitação +
débito conjugal.

 dever de alimentos - é o 1o caso em que a lei prevê obrigação alimentar.

4- Art. 240 p.un CC - uso do nome do marido pela mulher. É opcional.

REGIME DE BENS.
É o conjunto de normas jurídicas que regem o aspecto patrimonial do casamento.

PRINCÍPIOS.

1- PRINCÍPIO DA VARIABILIDADE DE REGIMES.


Existem atualmente 4 regimes:

 comunhão universal de bens.


 comunhão parcial de bens.
 separação de bens.
 regime dotal.

2- PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE DO REGIME DE BENS.


É escolhido apenas um dentre os 4 regimes, e este vigorará por toda a sociedade conjugal. Art.
230 CC.

3- PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE ESCOLHA DO REGIME DE BENS.


Art. 256 CC - cada pessoa que casa pode escolher seu regime de bens através de contrato antes
do casamento, que se chama de PACTO ANTENUPCIAL.
Se este pacto não for feito, a lei escolhe o regime, que é o REGIME LEGAL. Atualmente, este
regime é o da COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. Art. 258 CC. A L 6515/77 mudou a
redação anterior, em que o regime legal era o de comunhão universal de bens.

ATENÇÃO - para os casados antes de 77, o regime é o de comunhão universal de bens.

No entanto, há pessoas a quem a lei impõe a SEPARAÇÃO DE BENS.


Então, em relação ao regime de separação total de bens, se escolhido pelas pessoas, chama-se de
SEPARAÇÃO CONVENCIONAL. Se imposto por lei, chama-se de SEPARAÇÃO LEGAL
ou OBRIGATÓRIA
ATENÇÃO - não é o mesmo que regime legal, que atualmente é o da comunhão parcial de bens.
95
REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS.
Art. 262 CC.
A regra principal diz que todos os bens adquiridos antes e durante o casamento vão se
comunicar, ingressando na comunhão. Isso torna os cônjuges MEEIROS um do outro.
ATENÇÃO - cônjuge não é condômino.

CONDOMINOS. MEEIROS.

Cada condômino é proprietário de FRAÇÃO Os bens em comunhão pertencem POR


IDEAL. INTEIRO a cada um dos cônjuges.
Registro é em nome de todos os condôminos. Basta registro em nome de um deles.

Existe direito potestativo de divisão. Não existe direito potestativo de divisão, exceto
quando a sociedade conjugal terminar.
EXCEÇÃO - há bens que são EXCLUSIVOS, mesmo adquiridos antes ou durante o casamento.
Estão no Art. 263 CC. Além desses, podem ser acrescentados outros.

Herança recebida durante a comunhão universal é de ambos. Idem para doações.


Para se evitar isso, foi criada a CLÁUSULA DE INCOMUNICABILIDADE por quem fez a
doação ou deixou a herança. Em relação à herança, é necessário testamento.
A doutrina dominante entende que prevalece a vontade do testador.

REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.


Art. 269 CC.
Bens adquiridos antes do casamento são exclusivos. Os adquiridos durante o casamento se
comunicam, tornando os cônjuges MEEIROS em relação a eles.

EXCEÇÕES - só se comunicam os bens adquiridos a TÍTULO ONEROSO. Os bens adquiridos


a TÍTULO GRATUITO SÃO EXCLUSIVOS. Logo, heranças e doações são exclusivos.

Se o testador der a metade disponível para o outro cônjuge e a metade legal ficar para o filho,
ambos serão condôminos.

Bens sub rogados no lugar dos exclusivos também serão exclusivos. Ou seja, o bem colocado no
lugar do exclusivo também será exclusivo. O problema é que geralmente não se pode comprar
um bem novo apenas com o dinheiro da venda do exclusivo. A parte restante do bem se
comunica.

Salário também é bem exclusivo. No entanto, o que se adquire com o salário não é exclusivo.

REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS.


Art. 276 CC.
Os bens adquiridos antes ou durante o casamento são exclusivos. Neste regime não há meeiros.
No entanto, os cônjuges podem ser condôminos.

Na sociedade de fato, os bens adquiridos durante o casamento são partilhados. Essa situação é
melhor do que o casamento pelo regime de separação de bens. Ver Sum 380 STF.
Deveria ter sido dado algo a quem se casou em regime de separação de bens para que o
casamento fosse estimulado.
Então, a Sum 377 STF determinou que no regime de SEPARAÇÃO LEGAL, os aquestos se
comunicam. Aquestos são bens adquiridos a título oneroso.
96

No regime de SEPARAÇÃO CONVENCIONAL, no qual houve pacto antenupcial, aplica-se o


Art. 259 CC, que tem redação difícil.
Há 2 possibilidades:

1- diz-se que se adota o regime de separação de bens e não se menciona sobre os bens adquiridos
durante o casamento, havendo silencio.

2- diz-se que se adota o regime de separação de bens e se diz também que os bens adquiridos
durante o casamento não se comunicam.

No 1o caso, aplica-se a regra do regime de COMUNHÃO PARCIAL, ou seja, os bens adquiridos


durante o casamento se comunicam. Isso constitui o regime de SEPARAÇÃO PARCIAL.
No 2o caso, os bens não se comunicam, constituindo o regime de SEPARAÇÃO TOTAL.
SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRICIO.
L 6515/77.
Antes dessa lei, o casamento só terminava com a morte. O divórcio proporcionou o fim do
VÍNCULO CONJUGAL em vida.
A separação judicial só põe fim à SOCIEDADE CONJUGAL.

Art. 3o - separação judicial não termina o casamento. Apenas põe fim a alguns de seus efeitos.
Continua o dever de mútua assistência, por exemplo.

Art. 46 - separação judicial pode ser revertida sem que se precise contrair novo casamento.

Art. 33 - o divorciado tem que casar novamente, se quiser voltar a viver com quem era casado.

Quem está separado judicialmente não pode casar.


Quem está divorciado pode se casar quantas vezes quiser.

SEPARAÇÃO JUDICIAL.
Modalidades:

1- CONSENSUAL - Art. 4o - tem 2 requisitos:

 mútuo consentimento

 ser casado há mais de 2 anos, o que constitui o PERÍODO DE PROVA.

2- LITIGIOSA - Art. 5o - tem 3 modalidades:

a) SANÇÃO - Art. 5o caput - um dos cônjuges infringiu um dever do casamento ou teve


conduta desonrosa, e, com isto, tornou insuportável a vida em comum. Os deveres estão no
Art. 230 CC. Em relação à conduta desonrosa, sua abrangência é mais ampla.
Não há prazo mínimo de casamento.
Como é litigiosa, é necessário que haja resistência da outra parte. Se não houver, há consenso.
Mas, nesse caso, tem que estar separado há 2 anos. Logo, quem quiser se separar com
menos de 2 anos de casado, tem que resistir à separação.

b) FALÊNCIA - Art. 5o § 1o - tem 2 requisitos:


97
 separação de fato por mais de um ano, ou seja, cessação da vida em comum por mais de
1 ano.
 prova de que é impossível a reconstituição daquele casamento.

c) REMÉDIO - Art. 5o § 2o - a separação é a única solução para os cônjuges. Theotonio


Negrão a cortou de seu código. Também tem requisito:

 um dos cônjuges tem que ter grave doença mental, manifestada após o casamento. A
duração da doença tem que ser superior a 5 anos, e tem que ter havido médico dizendo
que a cura é improvável. É melhor sair de casa e ficar separado por mais de um ano.

Quando uma separação é litigiosa, surgem as figuras do CONJUGE CULPADO e do CONJUGE


INOCENTE, ou seja, discute-se a culpa.

Em relação às 3 modalidades de separação litigiosa, na modalidade sanção, cônjuge culpado é o


que infringiu o dever ou teve conduta desonrosa. Nas modalidades falência e remédio, culpado é
quem vai ao juiz, ou seja, quem é o autor da ação de separação judicial. O réu é o cônjuge
inocente.

Logo, em uma mesma situação, dependendo de qual modalidade de separação se deseja, um


cônjuge pode ser culpado ou inocente.

DIVÓRCIO.
Espécies:

1- DIVÓRCIO CONVENÇÃO ou INDIRETO - aquele em que os cônjuges já estão separados


judicialmente. De acordo com o Art. 36 p.un, há 2 requisitos, que não são bem claros

 separação judicial há mais de 1 ano.

 ter cumprido todas as obrigações assumidas na separação judiciário. Ex: pagar alimentos.

No entanto, a CF 88 só exige o 1o requisito. A doutrina de hoje diz que apenas este é necessário.
Esse entendimento é majoritário.

2- DIVÓRCIO DIRETO - para quem está casado. Não é necessária a separação judicial. O
separado judicialmente, na morte do cônjuge, torna-se viuvo, o que não acontece com o
divorciado.
Também tem 2 requisitos:

 separação de fato há mais de 2 anos.

 estes 2 anos tem que ser contínuos.

Aqui não se discute culpa. Logo, não há cônjuge culpado ou inocente.

Os 2 tipos de divórcio acima podem ser:

1- CONSENSUAIS - ambos vão ao juiz.


98

2- LITIGIOSOS - apenas um vai ao juiz, enquanto o outro resiste.

Existem muitas pessoas que querem se separar judicialmente de forma consensual, mas para isso
tem que ter 2 anos de casados.
A solução encontrada foi a de arranjarem testemunhas que digam que estão separados de fato há
mais de 2 anos e ingressar com divórcio direto consensual.

SEPARAÇÃO DE CORPOS.
Instituto criado pelo CC como procedimento cautelar especial.
Tem apenas a finalidade de afastar os corpos, permitindo o fim da coabitação por algum motivo.
Uma cautelar tem que ter fumus boni iuris e periculum in mora.
Julgada procedente, a ação cautelar tem prazo de 30 dias para que se ingresse em juízo com ação
de separação judicial ou divórcio.

Hoje em dia, a separação de corpos é MEDIDA SATISFATIVA também. É usada pelos que
ainda não podem se separar judicialmente ou se divorciar. Ou seja, não há ação principal a ser
proposta. Cria uma situação que gera efeitos até a ação principal, que não tem limite de 30 dias.
Acaba apenas com a coabitação.

No entanto, houve uma evolução na doutrina, e hoje a separação de corpos acaba com a
fidelidade e também com o regime de bens.
Aceitar isso é entende que o regime de bens pode cessar durante a vigência do casamento.

Logo, o casado que é separado de fato há 2 anos não deve ter comunicabilidade de seus bens.
Logo, a doutrina (principalmente) e a jurisprudência aceitam que cesse o regime de bens também
para ele.

EFEITOS DA SEPARAÇÃO JUDICIAL E DO DIVÓRCIO.

1- cessa o dever de coabitação e fidelidade, em AMBOS. Isso é previsto no Art. 231 CC. Em
relação à mútua assistência, esta gera obrigação de alimentos. A lei do divórcio não previu.
Ver seus Art. 3o e 24.
Na separação judicial, EM REGRA, NÃO CESSA o dever de alimentos (assistência material).
No divórcio, pelo Art. 24, acabam TODAS as conseqüências do casamento. Logo, EM
REGRA, CESSA a obrigação de alimentos.

2- cessa o regime de bens para AMBOS, pelos Art. 3o e 24. Se eram meeiros, deverá haver
partilha.
No entanto, no divórcio, cessa o casamento, e na separação judicial cessa apenas a sociedade
conjugal.
Logo, se a separação judicial não põe fim ao casamento, não obrigaria, teoricamente, a
realização da partilha. Art. 43. Mas, pelo Art. 31, há autorização para a partilha. Isso pode
ocorrer no divórcio ou antes. Os cônjuges se dirigem a uma Vara de Família e iniciam
procedimento de partilha, que é o INVENTÁRIO.
Em relação ao divórcio, a situação muda conforme seja direto ou indireto. No indireto, seja
consensual ou litigioso, pelos Art. 43 e 31, a lei exige a partilha. No direto, a situação muda
conforme seja consensual ou litigioso. De acordo com o Art. 40 § 2o IV, no consensual a
partilha deveria ser obrigatória (pela palavra “deverá”). No entanto, pelo Art. 34 § 2o, o juiz
pode não homologar o acordo de separação judicial. A jurisprudência manda que ele só
homologue a separação judicial, e não a partilha. Se ele pode fazer isso na separação judicial,
99
pode fazer também no divórcio consensual. A partilha vai para as vias ordinárias. Logo, as
partes, se quiserem, podem apresentar apenas o pedido de divórcio, e não de partilha.
Além disso, no litigioso, isso é possível. Logo, no consensual, também é possível. Ver Sum 197
(ou 195) STJ, que diz que, no divórcio direto, a partilha pode ser feita depois.

3- cessa todo e qualquer direito sucessório entre os cônjuges. Art. 1611 caput CC. Em
AMBOS. Se, durante o processo, um dos cônjuges falecer, ele ainda é casado. O juiz não
pode mais julgar aquele pedido. Se estão casados, o sobrevivente herda.

4- em relação ao nome da mulher, na separação judicial consensual, o acordo fixa se ela


continua com sobrenome de casada ou não. Se mantiver, pode voltar a usar o nome de solteira
a qualquer tempo. No entanto, há o costume de que se a mulher mantém o nome de casada,
deve manter conduta ilibada. Se não mantiver, o ex marido pode ir ao juiz pedir que volte a
usar o nome de solteira. O conceito de conduta ilibada varia. O juiz analisa o caso e decide se
a conduta foi ou não ilibada.
Na separação judicial litigiosa, de acordo com o Art. 17, observa-se se a mulher é culpada ou
inocente. Se for inocente, pode optar. Se foi culpada, é obrigatório que volte a usar o nome de
solteira.
No divórcio, a regra está no Art. 25, que traz a regra pela qual todos os efeitos do casamento
cessam. Em regra, a mulher volta a usar o nome de solteira. As exceções estão no Art. 25
p.un, quando poderá manter o nome de casada se provar uma das condições elencadas. O
exemplo do inciso I é a Luiza Brunet.

5- enquanto o filho é menor, está sob o pátrio poder de ambos os pais, SE JUNTOS. Um dos
efeitos do pátrio poder é a guarda e o sustento. Na separação judicial, a guarda se divide em
GUARDA PROPRIAMENTE DITA e VISITAÇÃO. Mesmo fora da visitação não se perde a
guarda. Ambas podem ser revistas a qualquer momento. Art. 9o, 10, 11, 12 e 13 tratam da
guarda na separação judicial.
São adotados para o divórcio por analogia.
Então, ambos continuam com pátrio poder, mas essa decisão NÃO FAZ CJ, podendo ser
alterada. O costume tem influencia. Faz-se o que for melhor para os filhos.
Em relação ao sustento, quem tem a guarda propriamente dita é quem sustenta no dia a dia.
Quem tem a visitação, paga alimentos.

ATENÇÃO - o pátrio poder não cessa para nenhum dos cônjuges, tanto na separação judicial
quanto no divórcio.

UNIÃO ESTÁVEL.
A grande dúvida é saber qual lei vai ser aplicada.
Deve-se observar os ENUNCIADOS da Corregedoria Geral de Justiça do Rio de Janeiro, que
servem de orientação para os magistrados.

É matéria controvertida.
Será dividida em fases:

ANTES DA CF 88.
Nessa época, nem existia ainda esse nome. A união estável era conhecida como
CONCUBINATO, que era a união de um homem e uma mulher como se casados fossem.
Essa união não era reconhecida pela lei. Constituía família ilegítima.

Como não havia lei regulando, a doutrina entendia que eram necessários requisitos para que
fosse caracterizado o concubinato:
100

a) continuidade de relações sexuais. O entendimento majoritário é de era por período de 5 anos.

b) notoriedade da união. Não podia ser sigilosa.

c) honorabilidade da união. Deveriam ser vistos e reconhecidos como casal.

d) fidelidade presumida.

e) coabitação. Era indício. Não era necessário, pela Sum 382 STF.

Os requisitos b, c e d constituíam a VIDA MORE UXORIO, ou seja, como se casados fossem.

A doutrina classificava o concubinato em:

1- PURO - nenhum dos 2 tinha impedimento matrimonial.

2- IMPURO - um dos 2, ou ambos, tinham tal impedimento.

CC só trouxe os impedimentos em relação aos concubinos, sem trazer seus direitos, que eram
conferidos pela jurisprudência, não estando na lei:

1- direito de ver reconhecida entre eles a existência de uma sociedade de fato. Sum 380 STF.
Esse direito veio por analogia ao contrato de sociedade, regulamentado no Art. 1363 CC. Se
não há contrato levado a registro, não há sociedade de direito, e sim de fato. A importância é
que, durante a sociedade de fato há, geralmente, construção de patrimônio (refere-se ao
patrimônio adquirido, e não ao ganho), que será de ambos, mesmo que no nome de apenas
um deles.

A Sum 380 STF não resolve um problema, que é quanto à natureza do esforço. Alguns dizem
que é apenas material, ou seja, em dinheiro. Outros dizem que o esforço pode ser moral,
sendo esse o entendimento majoritário.
A partilha desse patrimônio deve ser proporcional ao esforço (o que é difícil de se determinar),
ou então, que deve ser meio a meio.

OBS - nem sempre que houver concubinato haverá sociedade de fato. Não haverá sociedade de
fato quando não tiver havido aquisição de nenhum bem.
Também é possível não haver concubinato e haver sociedade de fato, como no caso da união de
homossexuais.

2- por analogia ao Art. 1216 CC, que trata do contrato de locação de serviço, pode haver esse
tipo de contrato no concubinato. Isso foi ocasionado pela falta de previsão legal de alimentos
antes da CF 88.
Por essa regra, terminado o concubinato, um dos cônjuges tem direito a indenização pelos
serviços domésticos prestados. Deve ser provado que foram prestados serviços e que não foi
percebido salário.

Hoje em dia, quando não existe união estável, há concubinato. Portanto, esses direitos continuam
valendo. O 2o direito só é cabível quando não existe o 1 o, mas nada impede que ambos sejam
pedidos.
101
Qualquer litígio em concubinato é discutido em vara CÍVEL, por analogia aos contratos do CC.
Nesses casos, deve-se evitar qualquer menção a família, para que o juiz não se declare
incompetente.

APÓS CF 88 E ANTES DA L 8971/94.


A partir daí, o Art. 226 § 3o CF reconheceu a união estável como entidade familiar.

A 1a controvérsia foi no sentido de a entidade familiar ser ou não família. Foi decidido que é
família.

A 2a controvérsia foi a sobre a definição de união estável, pois antes dela, só se conhecia o
concubinato.
Alguns disseram que era outro nome para o concubinato, mas o entendimento MAJORITÁRIO
era de que a união estável era CONCUBINATO PURO, por causa da expressão “devendo a lei
facilitar a conversão em casamento”.
A partir daí, o termo concubino passou a ser designação do CONCUBINATO IMPURO. O
termo companheiro passou a designar o concubinato puro, ou união estável.

Nessa fase, os direitos dos companheiros eram controvertidos.


Alguns diziam que tinham os mesmos direitos dos casados, porque a união estável foi
reconhecida como família.
Ex: aplicando-se o Art. 168 I CC, não corre prazo prescricional durante a união estável.
No entanto, esse entendimento é MINORITÁRIO.

A MAIORIA, NESSA FASE, dizia que tinham os mesmos direitos dos concubinos, porque
enquanto não houvesse lei dando-lhes os mesmos direitos dos casados, não teriam nenhum
direito do casamento.

APÓS L 8971/94 E ANTES DA L 9278/96.


Durante a vigência da L 8971/94, entendia-se que havia requisitos para a união estável.

De acordo com o Art. 1o, deveria haver um mínimo de 5 anos, ou prole em comum. O homem e
a mulher tinham que ser solteiros, ou divorciados, ou viúvos ou separados judicialmente. Apesar
de o separado judicialmente não poder casar, pois a separação judicial era impedimento
matrimonial, essa lei aceitou que tivessem união estável, porque poderiam se divorciar por modo
indireto, cujo requisito era 1 ano de separação judicial.

Os direitos dos concubinos continuavam os mesmos, mas a lei trouxe direitos aos companheiros:

1- Art. 1o - direito a alimentos.

2- Art. 2o - direito sucessório.

3- Art. 3o - possibilidade de divisão do patrimônio constituído durante a união. Ou seja, trouxe o


regime de bens.

APÓS A L 9278/96 ATÉ HOJE.


Atualmente existem várias controvérsias, a saber:

1- se esta lei revogou totalmente (ab rogou) ou parcialmente (derrogou) a anterior. O 1 o


entendimento é o de que houve ab rogação, pois, de acordo com o Art. 2o LICC teria havido
102
revogação tácita. No entanto, a doutrina entendeu que houve derrogação, porque a lei antiga
não é totalmente incompatível com a nova.

Então, tudo depende do que se entender por lei tácita. Se for entendido que basta que trate de
modo diverso o mesmo assunto, então houve ab rogação. Ser for entendido que tem que ser
incompatível, então houve derrogação.

2- quanto ao tempo. A 1a corrente diz que a lei não menciona, enquanto a lei anterior menciona.
Quem entende que a lei nova derrogou a anterior, diz que o prazo está na lei anterior.

A 2a corrente diz que, se a lei não diz, usa-se o entendimento clássico, do CC, que é de 5 anos.
Essa corrente sustenta que a lei nova ab rogou a anterior. Para ela, não há diminuição do
prazo pela existência de prole, como a lei anterior.

Um 3o entendimento diz que não são 5 anos, porque se é possível se conseguir divórcio com 2
anos, então o período de 2 anos seria suficiente. Baseia-se no Art. 40 da Lei do Divórcio.

Um 4o entendimento diz que a lei nova ab rogou a anterior e que o legislador não colocou o
tempo porque não quis, querendo que o juiz decidisse. A lei apenas diz que a união tem que
ser duradoura, contínua, e com o objetivo de criar família. Então, o juiz aprecia a intenção e
não o tempo.

3- se é necessário ou não a coabitação. A 1a corrente diz que a lei não exige coabitação, valendo
a Sum 382 STF, pela qual a coabitação é mero indício.

A 2a corrente diz que a lei exige tacitamente, porque o próprio nome já diz - convivência. Além
disso, o Art. 2o III fala do dever de guarda dos filhos comuns. Só se pode guardar juntos a
prole se morarem juntos. Além disso, o Art. 7o p.un fala em imóvel residencial da família. E,
ainda, o Art. 8o, que fala em domicílio, que é comum.

4- sobre o estado civil dos conviventes. Para alguns, a lei não mencionou o estado civil, porque
a 1a lei já o menciona. É a teoria dos que dizem que a 2a lei apenas derrogou a 1a.

Outra corrente diz que a lei não mencionou o estado civil e não se pode aplicar a anterior,
porque esta foi ab rogada. Para esta corrente, seria o estado civil clássico do concubinato
puro, ou seja, solteiro, divorciado ou viuvo. Não entra o separado judicialmente.

Desse entendimento surgiu outro, também considerando a 1 a lei como ab rogada. Diz que os
separados judicialmente também podem conviver em união estável porque a lei anterior já
havia admitido isso. É para evitar um retrocesso. Esse é o entendimento da
MAGISTRATURA DO RJ.

Existe ainda um outro entendimento, que é também daqueles que consideram a 1 a lei ab rogada.
Ou seja, se a lei nova não menciona, qualquer estado civil vale, inclusive o casado, mas não
qualquer casado, e sim o separado de fato por mais de 2 anos, que é o DIVORCIADO DE
FATO. Quem aceita essa teoria tem que aceitar que para o separado de fato há mais de 2 anos
não há regime de bens. Isso se choca com o Art. 230 CC, mas é inspirado pela vedação do
enriquecimento sem causa. Tem que se aceitar também que cessa o direito sucessório. Tudo
isso é para permitir o regime de bens e o direito sucessório entre os conviventes.

DIREITOS DOS CONVIVENTES PELA NOVA LEI.


Também geram controvérsias:
103

1- direito a alimentos existe entre os conviventes. Art. 2o. Quando a união estável acaba, o Art.
7o diz que há continuidade no provimento de alimentos.

2- direito sucessório dos conviventes. Existem 2 correntes. Para os que sustentam a ab rogação,
diz que se encontra apenas no Art. 7o p.un, sendo o direito real de habitação.

Para os que sustentam a derrogação, há compatibilização entre as 2 leis, ou seja, equipara-se o


convivente ao cônjuge.
A MAGISTRATURA aceita a 1a corrente e a doutrina aceita a 2a corrente.

Se for considerado que o direito sucessório dos conviventes é igual ao dos cônjuges, aplica-se o
Art. 1611 caput, § § 1 o e 2o CC, ou seja, se não há descendente ou ascendente, a herança vai
para o convivente, como vai para o cônjuge, que é herdeiro, recebendo direito real de
propriedade. Ver Art. 2o da 1a lei. Se houver descendente ou ascendente, o direito sucessório
vai depender do regime de bens:

 se for RCP, RS ou RD, há direito real de usufruto. Ver Art. 2o da 1a lei.

 se for RCU, há direito real de habitação. Ver Art. 7o da 2a

Dessa forma, se conjugam as 2 leis.

3- regime de bens - Art. 5o e 2o da lei. Os bens adquiridos a título oneroso, ou seja, herança e
doação não entram, pertencem a ambos, em condomínio. Não há exigência de esforço
material. Ficou igual à comunhão dos casados.

No entanto, no casamento, o cônjuge é meeiro, e não condômino. Quando a lei estabeleceu


condomínio, a união estável ficou melhor do que o casamento. Logo, esse artigo é
inconstitucional, porque o Art. 226 § 3o CF é afrontado. Isso não facilita o casamento.

Outro modo de interpretação é considerar “condomínio” como sinônimo de “meação”. É o que


vem sendo aplicado. Fica semelhante ao RCP.

No entanto, pelo Art. 5o, é possível que os conviventes celebrem contrato semelhante ao pacto
ante nupcial. O problema é quando esse contrato deve ser celebrado. Alguns dizem que deve
ser antes de se começar a união estável. Outros dizem que a união estável não tem marco
inicial. Logo, pode ser celebrado a qualquer tempo, mas não pode ser mais alterado. Outra
corrente diz que pode se fazer vários contratos, e quando se quiser.

PARENTESCO.
A partir do Art. 330 CC.

CONCEITO.
É o vínculo que une pessoas por 2 razões: por consangüinidade, o que constitui o
PARENTESCO NATURAL ou BIOLÓGICO, ou por ficção, o que constitui o PARENTESCO
CIVIL ou MERAMENTE CIVIL.

Há parentesco por ficção, ou civil, quando houver ADOÇÃO.

Há parentesco por consangüinidade ou natural em 2 situações:


104
a) quando uma pessoa descende da outra (avô-pai-filho), o que constitui o PARENTESCO EM
LINHA RETA. Nesse tipo de parentesco não há limite.

b) quando as pessoas tem um ancestral em comum, como os irmãos, o que constitui o


PARENTESCO EM LINHA COLATERAL ou TRANSVERSAL. Nesse tipo de parentesco,
a lei impôs um limite, pois só vai até o 6o grau.

GRAU - distância entre as gerações.


Ex: pai e filho são parentes de 1o grau. Avo e neto são de 2o grau.
Em relação aos colaterais, deve-se subir ao ancestral comum e depois descer. Logo, irmãos são
parentes em 2o grau (irmão - pai - outro irmão). Logo, no parentesco colateral não existe 1o grau.

Essa classificação em grau é importante porque a HERANÇA só vai até o parente colateral de 4 o
grau. Os parentes do 5o grau em diante só herdarão se houver testamento. Em linha reta não há
limite.

Outra importância da classificação em graus é que um parente colateral pode pedir


ALIMENTOS a outro, mas só até o 2o grau, ou seja, irmãos. Em linha reta não há limite.

AFINIDADE.
A definição está no Art. 334 CC.
Alguns autores, principalmente de SP, dizem que é um 3 o tipo de parentesco, porque esse artigo
encontra-se no capitulo de disposições gerais sobre parentesco.
Isso possibilita herança e alimentos entre parentes por afinidade.

OBS - diz-se CONJUGE VARÃO e CONJUGE VIRAGO.

Cônjuge não é parente. São pessoas vinculadas pelo matrimonio, e não por parentesco, exceto no
caso de primos que se casam.

Aqui no RJ sustenta-se que afinidade NÃO É PARENTESCO. Ser afim não é ser parente.
Afinidade é o que une um cônjuge aos parentes do outro cônjuge.

Sogros são afins em linha reta de 1o grau.


Cunhado é afim em linha colateral de 2o grau.

A afinidade em linha reta não termina NUNCA, mesmo terminado o casamento. Por isso é que
existe impedimento matrimonial entre genro e sogra.
Já a afinidade em linha colateral cessa com o fim do casamento.

FILIAÇÃO.
É o parentesco próprio entre pais e filhos. O Art. 227 CF trouxe a IGUALDADE ENTRE OS
FILHOS, não se podendo mais distinguir filhos legítimos e ilegítimos.
Logo, não se estuda mais legitimação de filhos.

Se todos são filhos, todos tem direito à filiação na certidão de nascimento, a alimentos, a
herança, a proteção do pátrio poder (guarda). São os 4 direitos dos filhos.

No entanto, para fins de estudo, existe uma divisão entre os filhos. No entanto, não se deve dizer
“filho adotivo” e sim “filho proveniente de adoção” etc.:
105
1- FILHOS HAVIDOS DENTRO DO MATRIMONIO - mãe é aquela que deu à luz, e não a
que forneceu o óvulo. O meio de prova é a certidão de que a criança nasceu com vida,
fornecida pelo hospital, e que é levada a cartório. Qualquer pessoa pode levar essa certidão ao
cartório. Em caso de parto fora do hospital, 2 testemunhas suprem a certidão. Em regra, elas
testemunham que viram a mulher gravida e depois com o filho. Não precisam ter
testemunhado o parto.
A conclusão é que a mãe é SEMPRE CERTA.

Em relação ao pai, o Art. 231 II CC, em função do dever de fidelidade, presume-se que o pai é
o marido. Art. 338 CC. No entanto, é presunção iuris tantum, admitindo prova em contrário.
É a chamada PRESUNÇÃO PATER EST.

Em relação ao registro, este pode ser feito pela mãe, mostrando a certidão do hospital ou das 2
testemunhas, sendo o único caso em que ela pode mandar colocar o nome do pai, desde que
seja o marido, fato comprovado por certidão de casamento. Ou seja, ela não pode colocar o
nome de outro homem.

Se, mais tarde, for descoberto que o filho não é do marido, e este já o registrou, querendo este
negar sua paternidade, terá de mover AÇÃO NEGATÓRIA ou CONTESTATÓRIA DE
PATERNIDADE. Art. 344 CC. Só o marido tem legitimidade para propor essa ação.
Além disso, tem que alegar um dos motivos TAXATIVOS previstos na lei. O autor é o pai e o
réu é o filho. Os motivos estão no Art. 339 CC. Além disso, ainda há um prazo para isso, que
é DECADENCIAL, pelo Art. 178 § 3o CC.

Tudo isso visava proteger a família. No entanto, hoje, é mais importante proteger o filho.
Hoje em dia, a doutrina leva a jurisprudência a aceitar que qualquer pessoa conteste o registro de
nascimento, desde que interessado. Essa ação não é negatória ou contestatória de paternidade.
Muitos a chamam de AÇÃO DE NULIDADE DE REGISTRO. O interessado pode ser o
próprio filho.
Pode ser alegado qualquer motivo, mas esse motivo tem que provar o interesse.

Essa ação é válida, ainda que seja para desfazer o registro sem colocar nada em seu lugar.
São ações IMPRESCRITÍVEIS, não havendo prazo.
Invoca-se o interesse de o filho saber quem é seu pai, direito este embasado pela CF.

OBS - irmãos podem ser:

 BILATERAIS ou GERMANOS - são do mesmo pai e da mesma mãe.

 UNILATERAIS - o nome varia dependendo do lado que os une. Se for o lado do pai,
serão irmãos CONSANGUÍNEOS. Se for o lado da mãe, serão irmãos UTERINOS.

Se, à época do registro, pai e mãe, embora casados, estavam separados, não há porque colocar a
presunção pater est. Se, mesmo assim, a mãe faz o registro e coloca o nome do marido, este,
apesar de não ter base no Art. 339 CC, pode, embasado pela doutrina e jurisprudência, que a
admitem unanimemente, propor ação de nulidade de registro, a qualquer tempo, desde que
prove que estava separado de fato.

2- FILHOS HAVIDOS FORA DO MATRIMONIO - L 8560/92 - a mãe é SEMPRE CERTA.


Em relação ao pai, não há presunção, como no caso anterior. A criança só terá pai quando
houver um procedimento de RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE.
106
Existem 2 tipos:

 VOLUNTÁRIO - há iniciativa do pai, que procura reconhecer o filho, através de um dos


modos indicados pelo Art. 1o L 8560/92. Se o filho já foi registrado apenas com o nome
da mãe, basta documento público ou particular, não sendo necessário propor ação, nem
sendo necessário o consentimento da mãe. Essa lei, em seu Art. 4o, só exige o
consentimento do filho maior.
Se for provado que quem registrou não é o pai, cabe ação de nulidade de registro.

Outro modo é através de testamento, que só gera efeitos após a morte do testador.

Art. 1o da lei diz que o reconhecimento de paternidade é IRREVOGÁVEL. Isso significa


que, em caso de reconhecimento de paternidade por escrito público, não se pode usar de
novo o escrito público caso se verifique que houve engano. Só é cabível a ação de nulidade
de registro.

No caso de haver um 1o testamento reconhecendo a paternidade, e um 2 o testamento, posterior


a este, negando a paternidade, isso NÃO REVOGA O RECONHECIMENTO. Será
necessário propositura de ação tendo como prova o 2o testamento.

Outro modo de reconhecimento voluntário é diante do juiz, mesmo em outro tipo de ação. Na
ocasião, o juiz lavra um termo e o leva a registro. Alguns estão entendendo que cabe ação
de reconhecimento de paternidade, mas é desnecessário.

 COERCITIVO - ocorre quando o pai não quer reconhecer o filho. É feito em juízo,
mediante propositura de ação pelo FILHO, que, se menor, é representado ou assistido pela
mãe, em face do SUPOSTO PAI.
A ação se chama AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. O ônus da prova é do
autor.
Não é obrigatório o exame, mas, diante da negativa, a doutrina autoriza o juiz a tirar as
seguintes conclusões da negativa:

a) o réu é o pai.

b) o réu não é o pai, mas não tem certeza disso.

Então, o juiz conclui, ou que é o pai, ou que tem chance de ser o pai. Ele deve aliar essas 2
conclusões com outras provas, ou seja, a negativa do exame não é suficiente, tendo que
haver outras provas.

Essa sentença é DECLARATÓRIA, pois o juiz declara que o réu é pai desde o dia do
nascimento do filho.

Além da ação ser declaratória, também é AÇÃO DE ESTADO, e, por isso, não tem prazo.

Art. 2o L 8560/92 trouxe legitimidade a outra pessoa que não o filho para a propositura dessa
ação, que é o MP, quando houver procedimento de AVERIGUAÇÃO OFICIOSA. Ou
seja, sempre que é feito registro só com o nome da mãe, a lei obriga o oficial a perguntar à
mãe quem é o suposto pai.
Nessa ocasião, a mãe pode dar 3 respostas: ou diz o nome, ou não diz, ou diz que não sabe. O
oficial faz certidão da informação prestada pela mãe e a remete ao juiz.
107
Se a mãe houver dito o nome, o juiz notifica o suposto pai em 30 dias para que diga da
paternidade, em segredo de justiça. Na maioria das vezes, o pai reconhece a paternidade
em juízo e o juiz manda lavrar o registro. Se o pai negar a paternidade ou não comparecer,
o juiz remete os autos ao MP. O juiz também assume essa conduta se a mãe não diz o
nome do pai ou se diz que não sabe.

No MP, o promotor tem 2 opções:

 propor ação de investigação de paternidade, se entender que há indícios suficientes.


 requerer arquivamento, se não houver indícios suficientes.

3- FILHOS PROVENIENTES DE ADOÇÃO - adoção é o ato pelo qual uma pessoa aceita
estranho na qualidade de filho.
Hoje em dia há 2 adoções: a do ECA e a do CC.
A adoção do ECA revogou a adoção plena do Código de Menores.

Art. 39 e ss. ECA tratam da adoção de criança até 12 anos e de adolescentes até 18 anos ou
maiores de 18 anos se já estavam na guarda de quem adota.

A adoção do CC é para maiores de 18 anos.

As diferenças mais importantes entre as 2 adoções são as seguintes.

a) em relação ao nascimento do vínculo

 Art. 47 ECA - o vínculo se forma mediante sentença, e não pelo registro. Logo, deve
ser pedida ao juiz mediante AÇÃO DE ADOÇÃO. Sempre no Juízo de Infância e
Juventude, se houver.

 Art. 375 CC - o vínculo se forma mediante escritura pública, que só gera efeitos a
partir do registro.

Só existem esses 2 tipos de adoção. Não existe adoção por testamento e nem se dizendo que é
seu o filho de outrem, o que constitui a chamada ADOÇÃO À BRASILEIRA. Mas o juiz
pode considerá-los válidos desde que preenchidos os requisitos legais de adoção.

b) em relação à revogabilidade da adoção.

 Art. 48 ECA - a adoção do ECA é irrevogável.

 Art. 373 e 374 CC - adoção do CC admite revogação, por 3 modos:

1- repúdio - é ato unilateral do filho, que diz que não quer a adoção. É cabível em 1 ano
a partir da data em que se tornou capaz. O prazo é decadencial.

2- acordo - é bilateral. O registro deve ser desconstituído.

3- deserdação - é ato unilateral do adotante, se ocorrer uma das hipóteses previstas.

c) em relação ao vínculo com a família natural do adotado.


108
 Art. 41 ECA - a adoção do ECA faz com que o adotado ingresse totalmente em uma
família substituta. Termina seu vínculo com os pais biológicos.
 Art. 378 CC - não cessa o vínculo do adotado com sua família natural. Apenas ocorre a
transferência do pátrio poder ao adotante. A conseqüência é que o adotado pode herdar
2 vezes, pedir alimentos 2 vezes etc.
Como alguns autores dizem que a adoção do CC é mais frágil, não pode ser melhor que a do
ECA, tendo sido revogada por este. Então, para pessoas maiores de 18 anos, aplica-se o ECA
por analogia, porque não há lei.

PÁTRIO PODER.
É o conjunto de direitos atribuídos aos pais para cumprirem os deveres de sustento, guarda e
educação dos filhos menores. Art. 22 ECA.

OBS - pais que tem visitação também tem guarda.

Art. 21 ECA diz quem são os titulares do pátrio poder. É exercido em igualdade de condições
por ambos os pais. Pelo CC, prevalecia o pai. Havendo conflito de vontades, o juiz decide.

Os direitos dos pais são ligados a:

1- à pessoa dos filhos - Art. 384 CC - tem direito a representação e assistência dos filhos, tem o
direito de requere-los da companhia de estranhos etc.

2- aos bens dos filhos - Art. 385 e ss. CC - tem direito a administrar os bens dos filhos com o
fim de sustentá-los, podem dispor dos bens moveis mas não dos imóveis, exceto em caso de
necessidade do filho, mediante autorização judicial. Na colisão de interesses entre pais e
filhos é nomeado curador especial. No RJ, é membro da defensoria pública. O usufruto de
bens dos filhos é inerente ao pátrio poder, sendo USUFRUTO LEGAL. Se for sobre imóvel,
nasce por registro, exceto quando o usufruto decorre de direito de família (do Art. 389 CC).
Esse é o único.
CUIDADO COM O USUFRUTO VIDUAL, que decorre de direito sucessório, e não de direito
de família.

EXTINÇÃO DO PÁTRIO PODER.


Normalmente se extingue com a maioridade dos filhos, mas existem outros casos, que estão no
Art. 392 CC.

A proteção dada aos maiores de 21 anos que sejam incapazes é a CURATELA, e não o pátrio
poder. Deve ser proposta AÇÃO DE INTERDIÇÃO.

A morte dos pais ou dos filhos também extingue o pátrio poder.


Se os pais do menor morrem, cabe a TUTELA.

Se os pais não cumprem os deveres inerentes ao pátrio poder, há sanção, que é a suspensão do
pátrio poder. Art. 392 CC.
Esta ocorre quando:

1- há abuso do pátrio poder - esse conceito é relativo. Ver Art. 394 CC. A ação está no Art. 155
ECA.

2- é efeito secundário da sentença penal condenatória, nos crimes ligados ao pátrio poder. Art.
395 CC. Há descumprimento injustificado do pátrio poder. A ação está no Art. 155 ECA.
109

Se ambos perdem o pátrio poder, podem ter seus filhos colocados em adoção, apenas não
deixando de ser pais. O Estado passa a ser o responsável.

OBS - a tutela é para proteção do menor incapaz. É cabível na morte dos pais, mas o Art. 406
CC elenca 2 casos em que é cabível:

I) pais mortos ou declarados ausentes.

II) decaindo os pais do pátrio poder. Ver Art. 36 p.un ECA, que fala de perda ou suspensão
do pátrio poder.

Logo, a adoção também cabe para morte dos pais ou para perda do pátrio poder.

OBS - ordem da tutela: tutor testamentário, tutor legítimo e tutor judicial.

ALIMENTOS.
Trata-se dos alimentos legítimos.
Só existem com previsão da lei.
Não serão tratados os alimentos deixados.

PRINCÍPIOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.

1- PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE DOS ALIMENTOS- Art. 400 CC - deve-se


provar que quem deve alimentos pode pagá-los. Além disso, só os recebe quem deles
necessita. A condenação será proporcional à necessidade de quem recebe aliada à
possibilidade de quem deve.

OBS - Art. 1687 CC - alimentos não abrangem só comida.

2- PRINCÍPIO DA VARIABILIDADE DOS ALIMENTOS - Art. 401 CC - a sentença


prolatada na ação de alimentos não faz CJ material, apenas formal, pois sempre que o
binômio necessidade - possibilidade sofrer alteração, há necessidade de revisão dos alimentos.

A revisão pode gerar EXONERAÇÃO dos alimentos, ou diminuição destes, ou ainda, seu
aumento.
Ocorrendo exoneração, nada impede que, no futuro, sejam novamente fixados alimentos.

3- PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR - Art. 402 CC - a


obrigação alimentar não se transfere aos herdeiros do devedor. É obrigação personalíssima.

Ver o Art. 1796 CC, que trata dos pagamentos das dívidas no inventário. O restante é dividido
pelos herdeiros.
Logo, morto o devedor de alimentos, serão pagos os alimentos, retroativamente devidos, pelo
espólio, dentro das forças da herança. Ou seja, se a herança não tem força, os herdeiros não
pagam. Tampouco pagam alimentos futuros.

4- PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DOS ALIMENTOS - Art. 404 CC - o motivo é


que o renunciante pode virar um peso para o Estado. Qualquer documento nesse sentido não
vale.
110
5- PRINCÍPIO DA IMPRESCRITIBILIDADE DOS ALIMENTOS - Art. 178 § 10 I CC - a
obrigação alimentar é imprescritível. O fato de não ser pedida não significa renúncia, pois
pode-se pedir a qualquer momento.

No entanto, quando existe sentença, há prazo para faze-la valer. Cada mês é considerado 1
prestação, e cada prestação prescreve em 5 anos.

Na execução, o credor pode pedir que o juiz mande pagar alimentos, sob pena de prisão. Essa
prisão não é pena, e sim modo de coerção, pois, tão logo o devedor pague, será solto.

No entanto, alguns autores dizem que o juiz pode não mandar prender o devedor, só o fazendo
em caso de necessidade do credor, ou seja, se o credor demora a cobrar alimentos, presume-se
que não esteja tão necessitado deles, não cabendo prisão.
Outros autores dizem que cabe prisão, mesmo tendo o credor demorado a pedir. No entanto, só
cabe para que o devedor pague apenas os 3 últimos meses.

HIPOTESES LEGAIS DE PREVISÃO DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.

1- CASAMENTO - Art. 231 III CC - obrigação de mútua assistência, que inclui os alimentos.

2- UNIÃO ESTÁVEL - Art. 2o L 9278/96.

3- SEPARAÇÃO JUDICIAL :

a) CONSENSUAL - o acordo pode fixar alimentos, ou pode trazer a renúncia. Aqui existe
controvérsia, pois o Art. 404 CC prevê que alimentos são irrenunciáveis. Em função
disso, durante muito tempo, o STF entendeu que, em lugar de renúncia, deve-se ler
“desistência”. No entanto, hoje, quem julga é o STJ, que não entende como o STF,
embasando-se no Art. 396 CC, que diz que apenas os alimentos entre parentes são
irrenunciáveis, e cônjuges não são parentes. Lembrar que o parentesco não termina, mas o
casamento sim. Logo, o STJ entende que o Art. 404 CC não se aplica à separação judicial,
e sim para os parentes.

Nos casos em que o acordo é omisso, o juiz provoca para que se fixe alimentos ou se renuncie
a eles. Alguns dizem que o silêncio é renúncia tácita, não podendo os alimentos serem
cobrados no futuro. Outros dizem que podem ser pleiteados a qualquer momento.

b) LITIGIOSA - Art. 19 L 6515/77 - o culpado pensiona o inocente. Mas isso não é


automático. Deve ser provado que o inocente precisa dos alimentos e o culpado pode pagá-
los.

Em relação à separação judicial, comparar o Art. 23 L 6515/77 com o Art. 402 CC.
Existe controvérsia sobre se a obrigação alimentar é personalíssima, pelo CC, ou não, pela lei
do divórcio.
Há 3 posições:

a) a lei do divórcio é lei posterior tratando do mesmo assunto e, portanto, revogou


tacitamente o CC a esse respeito. Então, por este posicionamento, a obrigação alimentar
passou a ser fungível, transferindo-se aos herdeiros.

b) o CC traz a regra e a lei do divórcio trata da obrigação alimentar referente apenas à


separação judicial, sendo, portanto, regra especial. Então, por esta teoria, o CC vale para
111
os outros casos, que não os de separação judicial. Logo, a obrigação alimentar é
personalíssima, mas fora das hipóteses da lei do divórcio.

c) MAJORITÁRIA - Art. 23 L 6515/77 faz remissão ao Art. 1796 CC, ou seja, só se


transferem as dívidas e não as obrigações futuras, ou seja, apenas são pagas as obrigações
que eram devidas até a morte. Logo, por essa teoria, não houve alteração do Art. 402 CC,
continuando as obrigações alimentares como personalíssimas.

4- DIVÓRCIO - deve ser lembrado que os 2 tipos de divórcio podem ser CONSENSUAIS ou
LITIGIOSOS

a) DIVÓRCIO CONVERSÃO - como os cônjuges já estão separados judicialmente,


geralmente já existe acordo sobre alimentos.

 CONSENSUAL - ou existe acordo sobre a fixação dos alimentos, ou existe renúncia ou


nada é dito sobre o assunto.
Se o acordo anterior foi no sentido de se fixar alimentos e, sendo a separação judicial
anterior também consensual, vale qualquer novo acordo entre os cônjuges, mesmo
sendo diferente do acordo anterior. Se a separação judicial anterior foi litigiosa, há os
que dizem que o acordo do divórcio conversão consensual é livre, e há os que dizem
que não se pode contrariar o Art. 19 da lei do divórcio. NÃO HÁ CORRENTE
MAJORITÁRIA.

Se o acordo anterior foi com renúncia de alimentos, a obrigação de alimentos cessa com o
divórcio conversão, que acaba com os efeitos do casamento. Significa renúncia mesmo,
e não desistência.

Se o acordo anterior ficou em silencio, existe controvérsia. Para alguns, valem as regras da
separação judicial, continuando tudo igual. Para outros, o silencio é ato incompatível
com quem quer alimentos, sendo considerado renúncia tácita. NÃO HÁ CORRENTE
MAJORITÁRIA.

 LITIGIOSO - nesse caso, o juiz nada pode falar sobre alimentos. O juiz teria que fixar
alimentos, mas não há embasamento legal para isso. Ver Art. 36 da lei do divórcio.
Para muitos autores, vale o acordo da separação judicial. Para outros, cessa a obrigação
alimentar. Mas, nesse último caso, se já existe sentença TJ a respeito, em ação de
alimentos, e não em ação de separação judicial, vale a sentença.

b) DIVÓRCIO DIRETO

 CONSENSUAL - há acordo. Ver Art. 40 § 2o CC. ATENÇÃO - é possível que haja


fixação, renúncia ou silencio. A fixação é sempre livre, porque não há cônjuge culpado.

Em relação à renúncia, no divórcio ela não é interpretada como desistência, e sim como
renúncia mesmo. Ou seja, não se pode mais pleitear alimentos.

Em relação ao silencio, há controvérsia. A MAIORIA entende que há renúncia tácita, ou


seja, se mais tarde um deles pleitear alimentos, o juiz não terá embasamento legal para
fixá-los. Outros, MINORIA, acham que se pode pleitear alimentos a qualquer
momento.
112
 LITIGIOSO - aqui o juiz é obrigado a falar de alimentos. O juiz fixa alimentos, mas
tem que ter suporte legal, QUE NÃO EXISTE. Por isso, a MAIORIA diz que, com o
divórcio direto litigioso, acaba a obrigação alimentar porque o divórcio põe fim a todos
os efeitos do casamento.
No entanto, para os casados ANTES DA CF 88, o divórcio era mais difícil, e o casamento
era indissolúvel. É difícil explicar que os alimentos acabam. O juiz se vê obrigado a
fixá-los, mas usando o costume, que, nesse caso é contra legen.
Ver o Art. 40 § 1o da lei do divórcio, que foi revogado após a CF 88. É daí que o juiz tira
o costume. Esse artigo dizia que quando havia separação de fato, existe culpado. E o
único requisito para o divórcio direto é a separação de fato há mais de 2 anos. O juiz
fixa os alimentos, colocando como devedor o responsável pela separação. No entanto,
isso não é bom, por falta de embasamento legal. Assim, alguns juizes fixam alimentos
como indenização.

5- FIM DA UNIÃO ESTÁVEL - Art. 7o L 9278/96. Em virtude desse artigo, alguns autores
dizem que só é possível fixar alimentos em caso de término de união estável quando esta
termina por “rescisão”. Outros dizem que cabe quando a união estável termina por qualquer
outra razão, e são a MAIORIA.

Na “rescisão” ocorre o fim por culpa de uma das partes. Mas, nesse caso, não se sabe quem é o
culpado. Por isso, a maioria acha que cabe em qualquer caso.

6- ALIMENTOS DECORRENTES DO PÁTRIO PODER - Art. 22 ECA - no dever de sustento


está a obrigação alimentar. É presunção absoluta.

Sustento traz presunção absoluta de necessidade dos filhos. Logo, não é necessário que o filho
prove sua necessidade.

Na separação judicial e no divórcio, o juiz fixa que aquele que tiver o direito de visitação pagará
alimentos aos filhos menores, sujeitos ao pátrio poder.
Quem os guarda no dia a dia, também os sustenta no dia a dia, o que já não acontece com quem
tem a visitação que, por isso, paga os alimentos fixados pelo juiz, ainda que o que tenha a
guarda possua meios para sustentar sozinho os filhos, e ainda que o que tenha visitação não
tenha essas condições.

REGRA - o pátrio poder cessa aos 21 anos. Mas a lei do IR permite que filhos sejam
dependentes até os 24 anos, se estiverem cursando grau superior. Por isso, alguns entendem
que os alimentos devem ser mantidos até os 24 anos, desde que o filho esteja cursando grau
superior. É possível até que vá até os 26 anos, para não frustrar o grau superior. Outros
entendem que a obrigação alimentar cessa aos 21 anos. Se o filho cursar grau superior, deve ir
ao juiz pedir alimentos com base nisso.

Logo, a ação de execução de alimentos vai variar de acordo com a posição do juiz. É melhor o
pagante ir a juízo pedir exoneração de alimentos.

7- ALIMENTOS DECORRENTES DO PARENTESCO - Art. 396 CC - lembrar que pátrio


poder também é parentesco. Os alimentos decorrentes do parentesco podem ser pedidos a
ascendentes e descendentes, ambos sem limite de grau, e também aos irmãos. Basta que se
prove a necessidade.

OBS - um filho que perdeu os alimentos porque o pai perdeu o pátrio poder pode ingressar em
juízo pedindo alimentos por parentesco, desde que prove a sua necessidade.
113

Existe uma ordem. Pleiteia-se primeiro ao ascendente, depois ao descendente e depois a irmãos.
Art. 398 CC.

Art. 399 CC foi modificado. Seu parágrafo único prevê que os PAIS, e não os ascendentes,
pedem primeiramente a seus filhos, e não a seus pais.
A corrente MAJORITÁRIA diz que esse artigo mudou a ordem, ou seja, filho maior e capaz
passou a ser a 1a opção.
A corrente MINORITÁRIA diz que esse artigo trouxe exceção, continuando a ordem a mesma.
O pai tem que provar que é velho, carente e enfermo.

Se o parente da 1a opção não pode pagar o total necessário, pode ser ajudado por outro parente,
como, por exemplo, os avós. Por isso, está surgindo jurisprudência permitindo visitação dos
avós.

DIREITO SUCESSÓRIO.

A sucessão é a substituição de uma pessoa por outra, em decorrência de morte. Ver Art. 10 CC.

TODOS tem patrimônio, seja positivo ou negativo.

A sucessão, ou a ABERTURA DA SUCESSÃO ocorre, por ficção, no momento da morte.


Isso foi baseado no PRINCÍPIO DE SAISINE, ou seja, se há perda da personalidade com a
morte, e o patrimônio não pode ficar sem titular, a substituição deve ocorrer nesse momento.

Então, o herdeiro recebe o patrimônio e a posse no momento da morte.

Art. 1577 CC trata da lei que rege a sucessão. Aplica-se a lei em vigor no momento da morte,
no momento da abertura da sucessão.
Pela L 8971/94, o companheiro, que não herdava até então, passa a herdar.
Mas, pela L 9278/96, o companheiro passou a não herdar mais, tendo apenas direito real de
habitação.

Ver Art. 1605 § 2o CC, que trata da sucessão de filhos. Esse artigo não dá tratamento igual a
todos os filhos. No entanto, desde a CF 88 esse parágrafo NÃO ESTÁ MAIS EM VIGOR,
porque não foi recepcionado.

Hoje em dia, uma sentença dada hoje, mas que seja em relação a uma morte ocorrida antes da
CF 88 será regida pela lei em vigor à época.
Então, CUIDADO com o Art. 1577 CC.

CLASSIFICAÇÃO DAS SUCESSÕES.

1a CLASSIFICAÇÃO.

1- LEGÍTIMA - Art. 1603 CC diz quem vai substituir o morto. A sucessão legítima ocorre nos
seguintes casos:

 morte sem testamento, ou morte ab intestato.


114
 existe testamento mas este é considerado NULO (como no caso de ser elaborado em
aeronave, pois não se admite analogia em testamento) ou CADUCO, ou seja, aquele que
não pode ser cumprido (como no caso de o escolhido já ter morrido).

 há testamento, mas este não contemplou todos os bens deixados pelo morto.

 há herdeiro necessário, ou herdeiro forçado, que não pode ser excluído, por força de lei.
Os herdeiros necessários são os previstos no Art. 1721 CC. Estes tem que receber metade
dos bens do morto. É a METADE LEGÍTIMA ou NECESSÁRIA. A outra, a METADE
DISPONÍVEL, pode ser deixada para quem o morto quiser, mesmo existindo herdeiro
necessário.

Além disso, se quem morreu era casado em regime de COMUNHÃO UNIVERSAL, já divide
com o outro cônjuge, que é MEEIRO, e não herdeiro. Ou seja, quando se fala em herança,
já se excluiu a MEAÇÃO do outro cônjuge. Então, o que o outro cônjuge leva não é
herança, e sim um direito próprio, que é a meação, uma vez que o casamento acabou.

2- TESTAMENTÁRIA - o morto escolhe seu sucessor. O TESTAMENTO é um AJ destinado a


produzir efeitos após a morte do testador. Quando alguém falece sem deixar testamento, diz-
se que a morte é ab intestato.

2a CLASSIFICAÇÃO.

1- A TÍTULO UNIVERSAL - Art. 57 CC - a herança é um conjunto de bens porque a lei assim


o quer. Sua NATUREZA JURÍDICA é a de UNIVERSALIDADE DE DIREITO, pois
existem diversos bens.

A sucessão a título universal ocorre quando uma pessoa recebe herança, seja ficando com todos
os bens, seja ficando com COTA-PARTE, mas não se sabendo o que há de patrimônio. O
sucessor se chama HERDEIRO.

2- A TÍTULO SINGULAR - ocorre quando a pessoa recebe um LEGADO. O sucessor se chama


LEGATÁRIO. Ou seja, recebe um bem individualizado, que sabe qual é.

As diversas espécies de legados estão no Art. 1678 CC.

LEGADO DE COISA ALHEIA - é NULO, a não ser que o morto venha a se tornar dono da
coisa antes de morrer.

Art. 1685 CC - o morto é credor e dá, no testamento, a quitação da dívida.

Art. 1687 CC - trata do legado de alimentos. O herdeiro pagará alimentos nas forças da herança.

Art. 1688 CC - usufruto a outro.

OBS - Art. 1572 CC - o herdeiro recebe no momento da morte. Em relação ao legatário, ocorre
o mesmo, de acordo com o Art. 1692 CC.

ACEITAÇÃO E RENÚNCIA.
Art. 1581 e ss. CC.
115
Ocorrem tanto na sucessão legítima quanto na testamentária. O sucessor, seja herdeiro ou
legatário, pode concordar ou não em receber a herança ou legado a ele deferido.
Haverá aceitação quando este concordar, e renúncia quando não concordar em receber o que lhe
é deferido.
ACEITAÇÃO.
Pode ocorrer de 2 modos:

1- EXPRESSA - o herdeiro diz claramente, por escrito, fazendo declaração nos autos do
processo de inventário, ou por escritura pública.

2- TÁCITA - o sucessor tem comportamento que é incompatível com o daquele que renuncia.
Ex; o herdeiro que cede seu quinhão hereditário. Se cedeu é porque aceitou receber. NÃO SE
TRATA DE RENÚNCIA. Então, CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS NÃO É
RENÚNCIA, e sim demonstração de aceitação tácita. Essa cessão pode ser gratuita ou
onerosa. Se gratuita, é semelhante à doação, sendo aplicadas as regras desta. A cessão gratuita
não pode ser universal, senão é NULA. Se onerosa, é semelhante à C e V, sendo aplicadas
essas regras.

OBS - há atos que o herdeiro pratica e que NÃO SÃO aceitação tácita. Ex: pagamento de funeral
não é aceitação tácita, pois quem paga o funeral é o espólio.

RENÚNCIA.
Tem que ser SEMPRE EXPRESSA, pois não existe renúncia tácita. Tem que se por escrito
público ou particular.

Em relação à outorga uxória ou marital, estas não são necessárias na renúncia, porque não estão
taxadas na lei.

A renúncia é direito personalíssimo de quem é chamado. A lei não a previu como caso de
necessidade de outorga.

Art. 1589 CC - trata da RENÚNCIA ABDICATIVA. Esse nome vem do fato de que existe um
outro ato, QUE NÃO É RENÚNCIA, mas que a doutrina assim o chama, que é a RENÚNCIA
TRANSLATIVA.

Quando um sucessor renuncia, deve ser consultado esse artigo.


Se um herdeiro testamentário ou legatário renuncia, o testamento caduca. Nesse caso, parte-se
para a sucessão legítima.
Aqui entra o artigo acima, pois, se um filho, por exemplo, renuncia, sua parte é dividida pelos
outros filhos (herdeiros da mesma classe). Essa é a RENÚNCIA ABDICATIVA. Nesta
renúncia, quem renuncia não diz em favor de quem está renunciando. Sua parte volta ao monte,
sendo dividida.

No entanto, um herdeiro pode dizer que renuncia EM FAVOR de alguém. Como isso não é
tratado em lei, a prática a chamou de RENÚNCIA TRANSLATIVA. Na verdade, não se trata de
renúncia, pois esta só ocorre em favor do monte.
Na verdade, sua NATUREZA JURÍDICA é de ACEITAÇÃO SEGUIDA DE CESSÃO DE
DIREITOS HEREDITÁRIOS GRATUITA. Ou seja, só se pode transferir a outrem o que se
aceita.
É chamada de renúncia para burlar o fisco, porque na renúncia não se paga imposto, ao passo
que tanto na aceitação quanto na cessão é pago imposto.
116
A renúncia translativa ocorre por escritura pública, porque o Art. 43 III CC diz que direito a
sucessão aberta é direito imóvel, que, ao ser cedido, necessita de escritura pública, pelo Art. 134
II CC.
Além disso, de acordo com o Art. 235 CC, também é necessária a outorga uxória ou marital.

A renúncia abdicativa não precisa de nada disso.

LEGITIMIDADE PARA SUCEDER.


Art. 1717 e ss. CC.
É a chamada “capacidade” para suceder. Mas não se trata de capacidade de fato ou de direito,
mas a lei usou o termo capacidade.

Os requisitos valem tanto para testamento COMO PARA A LEI.


A pessoa tem que preencher 2 requisitos.

1- existir no momento da morte - Art. 1717 CC - o incapaz, aqui, é a pessoa dos Art. 1718 e
1719 CC. No entanto, o nascitura tem direito, por causa do Art. 1718 CC, pois já é
concebido, podendo, portanto, suceder. É exceção ao Art. 1717 CC.

Em relação à COMORIÊNCIA, esta é tratada no Art. 11 CC. É a presunção relativa que ocorre
quando 2 pessoas morrem no mesmo evento, não se podendo dizer quem morreu em 1 o lugar.
Se os comorientes forem pai e filho, o filho não existe no momento da morte do pai, logo,
não há sucessão entre os comorientes, porque um não existe no momento da morte do outro.

2- não ter sido excluído da sucessão. Existem 2 modos de se excluir alguém de uma sucessão,
seja herdeiro ou legatário. Ambos os modos retiram herdeiros da sucessão.

a) INDIGNIDADE - Art. 1595 CC - o artigo é taxativo. É apenas nestes casos. Serve para
exclusão de qualquer herdeiro ou legatário, menos os necessários.

Só é discutida após a morte. Ex: Art. 1595 I CC - quem tiver interesse na exclusão deste
herdeiro, vai, após a morte, propor AÇÃO DE INDIGNIDADE. Isso ocorre para que o
suposto indigno possa se defender. Sua 1 a defesa será negar a prática do ato a ele
imputado. Se for provado que foi mesmo ato de indignidade, sua 2 a defesa será provar que
houve perdão do autor da herança, que o reabilitou. Ver Art. 1597 CC. O perdão é por
comportamento (ato autentico) ou por testamento.

Se o indigno foi excluído, ver o Art. 1599 CC, que remete ao Art. 1602 CC. Se o testador
quisesse chamar o descendente do herdeiro testamentário, teria feito isso. Logo, na falta de
herdeiro testamentário, será chamado o herdeiro legítimo.

Na sucessão legítima, em caso de indignidade, será chamado seu sucessor. Logo, só se chama
o descendente do herdeiro em caso de sucessão legítima, não de sucessão testamentária.

b) DESERDAÇÃO - Art. 1741 CC - são mais abrangentes. Engloba os atos do Art. 1595
CC ou dos Art. 1744 e 1745 CC. Serve para exclusão apenas dos herdeiros necessários.
Chega-se a essa afirmação por conclusão.

Art. 1744 CC é para ascendente que deserda ascendente e o Art. 1745 CC é o contrário.

Para a MAIORIA da doutrina, o Art. 1744 III CC não foi recepcionado pela CF 88.
117
A iniciativa de exclusão por deserdação é por meio de testamento, dizendo o motivo. Art.
1742 CC. Mas é possível que o testador esteja mentindo.
Por isso, não basta o testamento. O interessado tem que provar, por meio de ação, que o que é
dito no testamento é verdadeiro. Deve haver ampla defesa e contestação por parte do
deserdado. Este pode provar que o fato alegado não ocorreu, ou que houve perdão. Aplica-
se o Art. 1597 CC por analogia (perdão do indigno aplicado ao deserdado).

Logo, é possível o perdão para o deserdado.


Se o herdeiro não necessário pode ser reabilitado, então, o herdeiro necessário, que a lei quer
que receba sempre, também pode. Não há controvérsia na doutrina.

Art. 1599 CC, por analogia, é aplicado ao deserdado. Seus descendentes são chamados a
receber.

Ascendentes e descendentes só podem ser excluídos por deserdação, e não por indignidade,
porque o ato de indignidade também vale para a deserdação. Se foi praticado e o autor da
herança nada fez, é porque perdoou (e não deserdou). Logo, a deserdação é necessária.

A ÚNICA exceção é na morte imediata do ascendente ou descendente, porque será exclusão


por indignidade, pois não houve tempo de testar, deserdando, e não houve perdão.

SUCESSÃO LEGÍTIMA.
Ocorre em 4 hipóteses, já abordadas.

MODOS DE SUCEDER.
Os sucessores são chamados de diversos modos.
Deve ser seguida a ordem estabelecida no Art. 1603 CC, que trata dos herdeiros legítimos.

a) sucessão por direito próprio - é a 1 a modalidade e é a REGRA. Sucede quem é da classe mais
próxima e de grau mais próximo. No Art. 1603 CC, cada inciso corresponde a 1 classe. Deve
ser seguida essa ordem. A 1a classe é a dos descendentes e estes se classificam em graus,
sendo o mais próximo o de filho, seguido do neto etc.

b) sucessão por direito de representação - encontra-se a partir do Art. 1620 CC. Ocorre quando
quem sucederia por direito próprio não está vivo no momento da morte, ou seja, é PRÉ
MORTO. Nesse caso, a lei chama alguém para ocupar o lugar deste, tornando-se seu
representante. Só podem representar o pré morto:

 o descendente do pré morto, caso este seja descendente. O descendente do pré morto
também é descendente do autor da herança. Atentar para que esta sucessão é por direito de
representação, e não por direito próprio.
 o FILHO do irmão do pré morto, ou seja, o sobrinho do autor da herança. Atentar para o
fato de que a lei não fala em descendente, mas em filho.

CONCLUSÃO - somente podem ser representados o descendente e o irmão do autor da


herança. ATENÇÃO para isso.

c) sucessão por direito de transmissão - Art. 1585 CC - ocorre quando quem receberia por
direito próprio está vivo na hora da morte do autor da herança, mas morre antes de aceitar.
Quem recebe por direito de transmissão são os herdeiros deste herdeiro, sejam ascendentes,
descendentes, colaterais etc.
118

MODOS DE PARTILHAR.

a) partilha por cabeça - é a REGRA. Vale para a sucessão por direito próprio.

b) partilha por estirpe - ocorre na sucessão por direito de representação e na sucessão por direito
de transmissão. O(s) sucessor(es) recebe(m) o quinhão do outro (pré morto). Então, a cabeça
do pré morto é contada, porque há alguém que levará sua estirpe. Ex: se o pré morto tinha
direito a receber 1/3 da herança partilhada por cabeça, tendo 2 representantes, cada um
receberá 1/6. Se não existe ninguém para receber o quinhão do pré morto, sua cabeça não será
contada. Ou seja, em nosso exemplo, os outros 2 recebem cada um a metade da herança, pois
o 3o, que receberia 1/3, é pré morto sem descendentes.

c) partilha por linha - ocorre na sucessão por direito próprio onde, no entanto, a lei entendeu que
deveria haver divisão por linha paterna e materna. Ver Art. 1608 CC.

DIVERSIDADE DE LINHA - corresponde ao mesmo grau com diferente número de pessoas em


cada linha.
Ex: se um filho sem herdeiros morre, e sua mãe é pré morta, o pai receberá tudo. Os avós
maternos não recebem. Mas, se ambos os pais são pré mortos, os 4 avós do morto recebem
por direito próprio, ocorrendo a divisão por cabeça. Mas, se um dos avós é pré morto,
ocorrerá igualdade de graus mas diversidade de linha. A divisão será: ½ para linha materna e
½ para linha paterna, mesmo que uma dessas linhas só tenha um avô vivo.

Art. 1604 e 1605 CC - ver Art. 227 CF - não há mais distinção entre filhos. Filho é sempre
descendente em 1o grau.
Art. 1605 § 2o só se aplica hoje a sucessão aberta antes de 88.

Art. 1612 CC - sucessão de colaterais só vai até o 4o grau.

Art. 1614 CC - irmão bilateral recebe mais do que o irmão unilateral. Isso foi recepcionado pela
CF 88, porque é sucessão de irmãos, e não de filhos. Ou seja, é sucessão entre colaterais, e não
entre descendentes.

DIREITOS SUCESSÓRIOS DO CONJUGE SOBREVIVENTE.


Art. 1611 caput CC - a sociedade conjugal tem que estar em vigor. Ou seja, não se pode estar
separado judicialmente ou divorciado. No entanto, pode-se estar separado de fato, porque nesse
caso ainda é cônjuge.

Cônjuge, como já visto, não é herdeiro necessário. Pode ser meeiro, mas receber meação não é
receber herança.

Para que o cônjuge seja herdeiro, não pode haver descendente, ascendente, ou testamento
(porque, se houver testamento, este pode excluir o cônjuge).

Art. 1572 CC - domínio é propriedade. O domínio vem para quem recebe herança. O cônjuge só
será herdeiro nos casos acima. No entanto, nas hipóteses em que não for herdeiro, terá outro
direito sucessório.
Ou seja, quando houver descendente ou ascendente, o cônjuge terá outro direito, que dependerá
do regime do casamento.
119
1- casamento em comunhão universal (era o regime legal à época de elaboração do CC) - o
cônjuge sobrevivente recebe DIREITO REAL DE HABITAÇÃO.

2- casamento em RS, RCP ou RD - o cônjuge sobrevivente recebe DIREITO REAL DE


USUFRUTO.

Em ambos, o cônjuge sobrevivente só terá esses direito enquanto for viuvo, ou seja, tais direitos
cessam com a morte ou com novo casamento.
No entanto, continuam para aqueles que vão viver em união estável.

Por isso se diz que o direito de usufruto é VIDUAL.

Art. 1611 § 1o CC - no usufruto, se houver herdeiro necessário DESCENDETE, o cônjuge


sobrevivente usufrui ¼ dos bens. Ou seja, a propriedade dos bens vai para o herdeiro, e o
cônjuge sobrevivente usufrui de ¼ desses bens. Em relação a esse ¼, a propriedade do herdeiro é
limitada.

No caso de herdeiro necessário ASCENDENTE, o cônjuge sobrevivente frui de ½.

A lei deu o usufruto para proteger o cônjuge sobrevivente, para ajudar sua sobrevivência.
Em vista disso, nos casos em que o cônjuge sobrevivente for herdeiro por testamento (em
relação à metade disponível), a doutrina e a prática dizem que não terá direito ao usufruto.
Se o cônjuge sobrevivente renunciar à herança, passa a ter direito ao usufruto.

Em relação ao direito real de habitação, para o cônjuge sobrevivente de casamento com


comunhão universal, este é direito de habitar IMÓVEL, ou seja, só recai sobre imóveis. O
habitante só pode habitar, não podendo alugar, emprestar etc. No entanto, pode deixá-lo fechado.

Isso ocorre porque esse cônjuge é meeiro, e presume-se que a meação o resguarde. Logo, em
princípio, o direito de habitação não seria necessário. No entanto, às vezes só existe 1 imóvel,
sendo, neste caso, necessário o direito real de habitação. Art. 1611 § 2o CC.

Nesse caso, metade do imóvel vai para o herdeiro legal e metade para o cônjuge sobrevivente,
que terá o direito real de habitação. Ocorrerá então um condomínio, pelo qual AMBOS podem
usar o imóvel, pois há direito potestativo de divisão, o que pode acabar com o condomínio,
tirando o teto do cônjuge sobrevivente. Foi por esse motivo que a lei concedeu o direito de
habitação.

ATENÇÃO - mesmo que esse único imóvel seja vendido, continua o direito de habitação do
cônjuge sobrevivente.

DIREITOS SUCESSÓRIOS DOS CONVIVENTES.


Lembrar que a lei de sucessão é a que está em vigor na data da morte.
Então, se o companheiro morreu antes da entrada em vigor da L 8971/94, o sobrevivente não
terá nenhum direito sucessório.

Durante a vigência dessa lei e até a L 9278/96, o direito sucessório do convivente foi igual ao do
casado pelo RCP, que era o regime legal da época. Ou seja, o companheiro herdava se não
houvesse descendente ou ascendente, ou então tinha usufruto vidual.

A partir da L 9278/96, ocorreu controvérsia, havendo 2 correntes:


120

1- MAJORITÁRIA - o direito sucessório do companheiro sobrevivente é o da última lei, a de


96, que só traz, que só traz um direito sucessório para o cônjuge sobrevivente, que é o direito
real de habitação, igual ao do casamento com comunhão universal. A diferença é que agora
não importa quantos imóveis existam, pois o direito incidirá sobre o imóvel de residência do
companheiro falecido, enquanto o sobrevivente não constituir nova união, que pode ser até
união estável.

2- MINORITÁRIA - defendida na doutrina, mas com pouca aplicação na prática. Diz que a lei
de 96 é compatível com a de 94, ou seja, deve-se procurar dar aos conviventes o máximo que
se puder igual ao casamento. Esse é o espírito da lei.

Caso não exista pacto celebrado antes da união estável, haverá condomínio entre os
companheiros. Caso haja pacto, este prevalece.

Então, hoje, caso não haja ascendente ou descendente, o convivente é herdeiro (Art. 2o L
8971/94). Se o convivente não for herdeiro, terá ou o direito real de usufruto (Art. 2o L
8971/94) ou o direito real de habitação (Art. 7o L 9278/96). Ocorrerá usufruto quando forem
condôminos dos bens adquiridos durante a união estável. Caso exista contrato dizendo que
tudo é separado, haverá também usufruto (no casamento com regime de separação há
usufruto). Se o contrato disser que tudo se comunica, haverá direito real de habitação, porque
no casamento com RCU existe esse direito.

DIREITO SUCESSÓRIO DO COLATERAL.


De acordo com o Art. 1612 CC, só herda o colateral até o 4o grau.

De acordo com o Art. 1619 CC, caso não exista colateral até o 4 o grau, mesmo existindo
colaterais do 5o grau em diante, herda o Município, ou o DF ou a União. O que determinará isto
é o local de situação do bem, ou seja, a União só herda se o bem estiver em um território, o que
atualmente não existe.

É necessário um procedimento. Tão logo o juiz tome conhecimento do falecimento sem herdeiro
notório, dá início à ARRECADAÇÃO, onde arrecada os bens e nomeia um CURADOR para
administrá-los, declarando que a herança jaz sem dono, ou seja, é HERANÇA JACENTE.
Durante 1 ano serão publicados editais mensais no DO para chamar eventuais herdeiros.

Caso apareça algum herdeiro, o processo de arrecadação se transforma em processo de


inventário.
Se não aparecer, o juiz declara a existência de HERANÇA VACANTE. Nesse caso, aguarda-se
5 anos, após os quais os bens vão para o Município, ou DF ou União.
Esse prazo é decadencial.
Caso apareça algum herdeiro neste prazo de 5 anos, este propõe AÇÃO DE PETIÇÃO DE
HERANÇA.

De acordo com o Art. 1603 CC, neste período de 5 anos a propriedade dos bens era do
Município, ou do DF ou da União, mas ainda não consolidada.
Quando consolidada, retroage ao momento da abertura da sucessão.

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.
121
Art. 1626 CC dá o conceito de testamento. As características deste também estão neste artigo,
devendo ser sublinhados os seguintes termos, que vem justamente a ser tais características:

1- ALGUÉM - ou seja, UNILATERAL. Significa que é ato apenas do TESTADOR. Ver o Art.
1630 CC, pelo qual é nulo o testamento conjuntivo. Também será nulo o testamento que
mencionar testamento de outrem.

2- DE CONFORMIDADE COM A LEI - significa que é AJ FORMAL. Ver Art. 1631 CC, pelo
qual não se admitem outras formas além das 2 citadas:

 ORDINÁRIO ou COMUM - este pode ser PÚBLICO, CERRADO, ou PARTICULAR.


Suas características encontram-se na lei, mas existem alguns detalhes:

a) PÚBLICO - sabe-se de sua existência e de seu conteúdo, podendo qualquer pessoa pedir
certidão ao cartório, tendo assim acesso a este conteúdo.

b) CERRADO - sabe-se de sua existência mas não se conhece seu conteúdo. Geralmente o
testador o faz sozinho e o leva ao cartório, onde será lacrado e registrado, só sendo
aberto o lacre após a morte, caso contrário, não será cumprido.

c) PARTICULAR - não se sabe de sua existência nem de seu conteúdo. É feito na


presença de testemunhas, que o confirmam após a morte. Geralmente fica na casa do
testador. Se as testemunhas não apontarem sua existência, não será cumprido, pois
ninguém tem conhecimento de sua existência.

 ESPECIAL - para casos extremos. Pode ser MILITAR (ou TERRESTRE), ou


MARÍTIMO. Na categoria dos testamentos especiais encontra-se o TESTAMENTO
NUNCUPATIVO.

OBS - CODICILO não é tipo de testamento. O termo significa “testamento pequeno”. Ver
Art. 1651 CC. O codicilo não serve para tudo o que serve um testamento. O testamento serve
para indicar o testamenteiro, que recebe prêmio, serve para deserdar herdeiro necessário etc.
O codicilo só serve para:

 dispor de bens moveis de pequeno valor, considerando-se pequeno valor até 10% do
patrimônio.

 nomear testamenteiro.

Observa-se, portanto, que não serve para deserdar.


Atentar para o fato de que o codicilo pode até revogar um testamento em um determinado
aspecto, se posterior a ele.

3- ATO REVOGÁVEL - basta fazer outro testamento, para que o anterior seja revogado. No
entanto, é possível se fazer tantos testamentos quantos forem os bens, sem que um revogue o
outro. Concluis-se, portanto, que devem ser abertos TODOS os testamentos, e não apenas o
último.

A revogação pode ser EXPRESSA ou TÁCITA. Será tácita quando o testamento posterior for
incompatível com o anterior.
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No entanto, a paternidade reconhecida por testamento é IRREVOGÁVEL, ainda que testamento
posterior a negue. A única saída é os interessados usarem esse 2 o testamento para propor ação
de nulidade de registro.

INSTITUTOS LIGADOS À SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.

SUBSTITUIÇÃO.
Art. 1729 CC.
Existem 2 tipos de substituição:

1- SIMPLES - o testador cria uma ordem ALTERNATIVA de herdeiros ou legatários. Usa-se a


expressão OU. É para o caso de um dos sucessores morrer antes do testador, ou para o caso
de um dos herdeiros renunciar. Serve para evitar que se caia na sucessão legítima. Será
herdeiro o 1o daquela determinada ordem que estiver vivo e aceitar.

2- FIDEICOMISSÁRIA - o testador cria uma ordem SUCESSIVA de herdeiros ou legatários. A


isso se chama de FIDEICOMISSO, que só vai até o 2o herdeiro.

Suas figuras são:

 FIDEICOMITENTE - é o testador.

 FIDUCIÁRIO ou GRAVADO - é o 1o herdeiro. O 1o herdeiro substitui o testador em caso


de morte deste. No entanto, o fideicomisso impede que este 1 o herdeiro disponha dos bens
deixados, pois o fideicomitente já disse para quem vão os bens. Quem decide quando os
bens irão para o 2o herdeiro é o fideicomitente. Ou seja, pode dizer que irão para o 2 o
herdeiro com a morte do 1o herdeiro, ou então estabelecer uma data qualquer etc. Pode ser
por TERMO (certo) ou por CONDIÇÃO (incerto).
Conclui-se, então, que o fiduciário recebe uma PROPRIEDADE RESOLÚVEL, ou seja, pode
fruir, usar, reivindicar e ATÉ DISPOR, mas quem a adquirir LEVA O GRAVAME.
Se o fiduciário morre antes da condição ou termo, seus herdeiros herdam COM O
GRAVAME, ou seja, quando ocorrer a condição ou o termo, o herdeiro perde a
propriedade do bem para o fideicomissário.

 FIDEICOMISSÁRIO - é o 2o herdeiro. Se ele morrer antes da ocorrência da condição ou


do termo, a propriedade se consolida com o fiduciário ou com seu herdeiro, SEM
GRAVAME.

REDUÇÃO TESTAMENTÁRIA.
Art. 1726 CC.
Quem tem herdeiro necessário e vai testar, só pode dispor da metade disponível, ou sucessível.
Se o testador ultrapassar esta metade, invadindo a metade legítima, o testamento não será nulo,
será apenas reduzido.
A forma encontra-se nos Art. 1727 e 1728 CC.

COLAÇÃO.
Art. 1785 CC.
Um eventual adiantamento da metade legítima tem que ser trazido a inventário. Esse ato se
chama colação, já tendo sido visto na parte de doação.

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