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AVALIAÇÃO

EDUCACIONAL
Janice Natera

E-book 1
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO���������������������������������������������� 3
AVALIAÇÃO�������������������������������������������������� 4
DÉCADA DE 1960���������������������������������������� 5
DÉCADA DE 1970���������������������������������������� 7
Sistema de avaliação na década de 1970��������������8

DÉCADA DE 1980����������������������������������������11
DÉCADA DE 1990���������������������������������������15
Sistema de avaliação na década de 1990����������� 15

PLANEJAMENTO, CURRÍCULO E
AVALIAÇÃO������������������������������������������������ 23
AVALIAÇÃO COMO ARTICULAÇÃO,
NÃO COMO PODER��������������������������������� 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS����������������������30
SÍNTESE������������������������������������������������������� 32

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INTRODUÇÃO
Neste e-book você acompanhará um estudo sobre a
história da avaliação educacional durante algumas
décadas e de como vem sendo aplicada no Brasil.
Também conhecerá conceitos e concepções acerca
da avaliação educacional transmitida pelos profes-
sores em sala de aula.

Entenderá como foram inseridas as leis e documen-


tos oficiais brasileiros da educação. Além disso,
conhecerá os pensamentos de alguns autores que
realizaram pesquisas acerca do assunto na área
educacional.

3
AVALIAÇÃO
O tema avaliação, apesar dos avanços dos estudos
e pesquisas, especialmente nas últimas décadas,
comporta ainda questões importantes a serem
aprofundadas:
• Qual a importância da avaliação?
• Avaliar o que e para quê?
• A avaliação é a construção do destino escolar do
estudante?
• A avaliação é a porta para o êxito ou o fracasso
do estudante?

Diante dessas questões, serão apresentados os


avanços e retrocessos sobre avaliação durante as
últimas décadas. Por isso faz-se necessário expli-
car de forma resumida as principais ideias sobre a
avaliação no século 20 e 21, antes mesmo de tratar
dos conceitos e das teorias sobre avaliação.

Você verá discussões apresentadas por alguns auto-


res, leis e documentos sobre o tema avaliação, como
embasamento teórico para a reflexão das práticas
avaliativas dos professores.

Além disso, apresentaremos as tendências e as orien-


tações oficiais das últimas décadas. Elas parecem
contribuir para que se possa compreender as concep-
ções e o significado da avaliação da aprendizagem
escolar que o professor tem em relação à sua prática.

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DÉCADA DE 1960
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) é uma lei elaborada sempre que uma nova
constituição é promulgada, redefine as bases edu-
cacionais e tem como principal objetivo o ensino.

Na década de 1960, foi sancionada a LDB 4024/61


que dizia sobre a avaliação:

Art. 39. A apuração do rendimento escolar


ficará a cargo dos estabelecimentos de ensi-
no, aos quais caberá expedir certificados de
conclusão de séries e ciclos e diplomas de
conclusão de cursos.

§ 1º Na avaliação do aproveitamento do estu-


dante preponderarão os resultados alcança-
dos, durante o ano letivo, nas atividades esco-
lares, asseguradas ao professor, nos exames
e provas, liberdade de formulação de questões
e autoridade de julgamento.

A avaliação era de exclusão, classificação: “No co-


tidiano escolar, a única decisão que se tem tomado
sobre o estudante tem sido a de classificá-lo num
determinado nível de aprendizagem, a partir de men-
ções, sejam elas em notações numéricas ou nota-
ções verbais” (LUCKESI, 2014, p. 76).

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Uma avaliação que possuía um caráter controlador
e excludente:

Em nossa prática escolar, hoje, usamos a de-


nominação de avaliação e praticamos provas
e exames, uma vez que esta é mais compatível
com o senso comum exigido pela sociedade
burguesa e, por isso, mais fácil e costumeira
de ser executada. Provas e exames implicam
julgamento, com consequente exclusão; ava-
liação pressupõe acolhimento, tendo em vis-
tas a transformação (LUCKESI, 2014, p.171).

A avaliação era um recurso necessário para o pro-


fessor, um objeto de exclusão, simplesmente com o
único objetivo de aprovar ou reprovar o estudante. A
metodologia tradicional era usada pelos professores,
principalmente em relação à avaliação classificatória.
Um ensino de boa qualidade, para eles, era aquele
em que se aplicavam provas, atribuíam-se notas ou
conceitos. Dessa forma, os interessados (direção,
família) tinham uma visão “clara” da “garantia” do
processo de aprendizagem do estudante, que seria
aprovado ou reprovado, e a escola perpetuava seu
caráter disciplinador.
O Estudante sentia medo do professor, então o ter-
mômetro para avaliar o estudante eram as provas
e o professor só conhecia o estudante através das
notas. Então ficava aquela lacuna, principalmente a
cada final de ano letivo, quando chegava o boletim
com aprovado ou reprovado, assim era comprova-
do o aprendizado do estudante: sabia tudo ou não
sabia nada.

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DÉCADA DE 1970
Em 1971 foi implantada a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, lei nº 5.692, revogando a
4.024/61 (antiga LDB), lei que contemplava as fi-
nalidades da educação, mas não apresentava preo-
cupações específicas em relação aos professores.

A Lei 5.692 concebia a ênfase na quantidade e não na


qualidade, nos métodos e não nos fins, na adaptação
e não na autonomia, nas necessidades sociais e não
nas aspirações individuais, na formação profissional
em detrimento da cultura geral.

Esta lei integrou todos os níveis de ensino e acabou


com a separação entre secundário e técnico; eliminou
também os exames de admissão para o ginásio (5ª
a 8ª) e ampliou o direito à educação de quatro para
oito anos, provocando no Brasil, na década de 1970
e início da década seguinte, um crescimento jamais
visto da rede pública de ensino.

Devido ao crescimento industrial na América Latina


nas décadas de 1960 e 1970, a educação deu ênfase
ao Ensino Médio, voltada aos trabalhadores. Devido à
situação, priorizou a formação e a capacitação para
que esses trabalhadores tivessem o domínio para
utilizar as maquinarias e pudessem dar ênfase aos
processos de produção.

Essa tendência levou o Brasil, na década de 1970, a


propor a profissionalização compulsória, estratégia

7
que também visava a diminuir a pressão da demanda
sobre o Ensino Superior.

Sistema de avaliação na década


de 1970
Quanto ao tema avaliação, a Lei n. 5.692/71 esta-
belecia em seu Artigo 14 e nos parágrafos 1º e 2º:

Art. 14 A verificação do rendimento escolar


ficará, na forma regimental, a cargo dos esta-
belecimentos, compreendendo a avaliação do
aproveitamento e a apuração da assiduidade.

§ 1º Na avaliação do aproveitamento, a ser ex-


pressa em notas ou menções, preponderarão
os aspectos qualitativos sobre os quantitati-
vos e os resultados obtidos durante o período
letivo sobre os da prova final, caso esta seja
exigida.

§ 2º O estudante de aproveitamento insufi-


ciente poderá obter aprovação mediante es-
tudos de recuperação proporcionados obriga-
toriamente pelo estabelecimento.

Fica evidente a preocupação com a “verificação” do


rendimento do estudante, que Luckesi (2014) define

8
como possibilidade de verificar ou avaliar os resulta-
dos de aprendizagem dos educandos, mas que, na
verdade, tem sido utilizada pelos professores como
padrão para a medida dos resultados de aprendi-
zagem: os erros e os acertos são transformados
em pontos e esses pontos, que não deixam de ser
medidas, são transformados em notas (números)
ou conceitos (símbolos).
Os números e os símbolos expressam a “qualidade”
da aprendizagem do estudante, ou seja, essa “quali-
dade” significa quantidade, e as observações que são
feitas só servem para classificar os estudantes em
aprovados ou reprovados. Quanto mais o professor
ensinava, “melhor” professor ele era, não importando
se o estudante aprendera ou não.
Pela Lei nº 5.692, a escola operava sob a forma de
verificação e os estudantes se sentiam ameaçados e
com medo da reprovação, fazendo da aprendizagem
uma “coisa” e não um processo.
No final da década de 1970, foi aprovado o Parecer
CEF, do Conselho Federal de Educação (nº 2164/78),
para que fossem esclarecidos alguns objetivos que
os professores não tiveram total compreensão na
leitura da LDB/71. De acordo com esse parecer, na
avaliação devem ser considerados:

1. Os objetivos que se pretendem atingir e que,


por sua vez, devem estar bem definidos, pre-
ferentemente em termos comportamentais,
já que “aprendizagem significa mudança de
comportamento”.

9
2. A avaliação da aprendizagem deve ser
frequente.

2.1. O estabelecimento de ensino expressará


em seu regimento como procederá a avaliação
da aprendizagem e apuração da assiduidade;

2.2. Na avaliação do aproveitamento, a ser


expressa em notas ou menções, os aspectos
qualitativos e os resultados obtidos pelo ano
letivo sobre os da prova final, quando esta for
exigida;

2.3. O estudante de aproveitamento insuficien-


te poderá obter aprovação mediante estudos
de recuperação, proporcionados obrigatoria-
mente pelo estabelecimento.

Nessa década o estudante dependia do professor,


que o ameaçava e o controlava com notas, e isso
transformava a avaliação em autoritária, ou seja, o
poder estava com o professor. Se o estudante fosse
indisciplinado, o professor baixava a nota dele como
castigo, fazendo da disciplina uma avaliação.
Mas o despertar de uma nova década traria novas
perspectivas para a educação no Brasil. Começava a
retomada da democracia, impulsionada por grandes
manifestações de todos os segmentos da sociedade.

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DÉCADA DE 1980
A década de 1980 foi marcada politicamente no
Brasil pelo fim do período de Ditadura Militar, que
imperou desde 1964, dando abertura à democracia
em 1982 e o direito aos brasileiros de escolher os
governadores pelo voto direto.

O Brasil conseguiu efetivar sua nova Constituição


Federal em meio a grandes modificações no cená-
rio político e econômico: inflação em alta, baixo in-
vestimento de fundos públicos, sucessivos planos
econômicos.

Na sociedade, tivemos o aprofundamento de ques-


tões sociais e, intimamente, as pessoas começa-
ram a questionar seus próprios valores. No Brasil,
como no mundo, foi nessa década que houve o
maior avanço tecnológico, especialmente na área
da informática.

Durante o processo de elaboração da Constituição


Federal (1986-1988), essas concepções e propostas
foram amplamente debatidas e apresentadas ao
Congresso Constituinte, assegurando-se no texto
constitucional princípios fundamentais, como os
que aparecem nos artigos 205 e 206:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever


do Estado e da família, será promovida e in-
centivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

11
seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será· ministrado com base


nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e


permanência na escola

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e


divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções


pedagógicas, e coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabe-


lecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais do ensino,


garantido, na forma da lei, plano de carreira
para o magistério público, com piso salarial
profissional e ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, asse-
gurando regime jurídico único para todas as
instituições mantidas pela União;

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VI - gestão democrática do ensino público, na
forma da lei;

VII - garantia de padrão de qualidade.

[...]

Art. 208. [...] § 1.º O acesso ao ensino obri-


gatório e gratuito é direito público subjetivo
(BRASIL, 1988).

Esse conjunto de princípios norteia o Estado no sen-


tido da eliminação da exclusão social das crianças,
que vinha marcando a Educação brasileira ao longo
de décadas.
Dentro da educação, a avaliação ainda continuava
sendo um processo de determinação do aproveita-
mento do estudante em relação aos objetivos edu-
cacionais estabelecidos na Lei 5692/71, ou seja,
continuava ainda a exclusão, como podemos ver o
que dizia a lei:

[...] na avaliação do aproveitamento, a ser ex-


pressa em notas ou menções, preponderarão
os aspectos qualitativos sobre os quantitati-
vos e os resultados obtidos durante o período
letivo sobre os da prova final, caso esta seja
exigida (BRASIL, 1971, p.07).

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Mesmo sobressaindo-se os qualitativos aos quanti-
tativos, ainda continuavam as notas mensurando os
estudantes, classificando-os. O estudante era apro-
vado ou reprovado, e essas notas ainda os deixava
um pouco intimidados e envergonhados perante a
sala de aula.
Embora o governo tenha iniciado discussões para a
reformulação da educação, envolvendo novas pro-
postas de avaliação, nenhuma mudança ocorreu
nesse sentido até o final da década de 1980.
Os governos dos estados e municípios, preocupados
em recuperar a educação, cada um com sua indivi-
dualidade, foram desenvolvendo projetos de apoio
para subsidiar o professor em sua prática docente
e, consequentemente, auxiliar na avaliação do rendi-
mento escolar do estudante. Para tanto, a essência
destas propostas trata das questões da avaliação
da seguinte forma:
• Os resultados das avaliações servem como um
norte para o professor.
• Não usar um único instrumento de avaliação.
Aplicação de vários tipos de provas diagnosticam
melhor o estudante.
• O desempenho do estudante será refletido confor-
me o que foi atribuído a ele, ficando mais fácil para
a continuidade do seu desempenho.

Diante dessas colocações, já na década seguinte,


1990, o governo começou a agir com novos pensa-
mentos para o surgimento da nova LDB, que mudaria
a educação com novos paradigmas.

14
DÉCADA DE 1990
A década de 1990 foi marcada por gigantescas mu-
danças ocorridas devido à globalização: liberalização
do comércio, privatizações, planos econômicos e
principalmente a explosão da informática. Nesse
ambiente, o mercado de trabalho passou a necessitar
de trabalhadores com condições de adaptação ao
trabalho flexível.

Esse perfil exigia um currículo escolar e uma atua-


ção docente que privilegiassem a formação de um
novo tipo de trabalhador para atender à economia
global. Para isso eram necessárias mudanças na
educação, principalmente porque a evasão escolar
vinha ocorrendo cada vez mais, diante do quadro em
que a educação se encontrava.

Sistema de avaliação na década


de 1990
Em 1996, quando foi implantada a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB Nº
9394, em 20 de dezembro de 1996, havia uma gran-
de preocupação de se enfrentar os elevados índices
de evasão e reprovação, por isso vale destacarmos
os artigos 24 e 32 dessa LDB, que mencionam os
critérios de avaliação:

15
Art. 24 [...].

V - a verificação do rendimento escolar obser-


vará os seguintes critérios:

a) avaliação contínua e cumulativa do desem-


penho do estudante, com prevalência dos as-
pectos qualitativos sobre os quantitativos e
dos resultados ao longo do período sobre os
de eventuais provas finais;

b) possibilidade de aceleração de estudos


para estudantes com atraso escolar;

c) possibilidade de avanço nos cursos e nas


séries mediante verificação do aprendizado;

d) aproveitamento de estudos concluídos com


êxito;

e) obrigatoriedade de estudos de recuperação,


de preferência paralelos ao período letivo, para
os casos de baixo rendimento escolar, a serem
disciplinados pelas instituições de ensino em
seus regimentos.

[...]

16
Art. 32 [...].

IV - o fortalecimento dos vínculos de família,


dos laços de solidariedade humana e de to-
lerância recíproca em que se assenta a vida
social.

§ 1º. É facultado aos sistemas de ensino des-


dobrar o ensino fundamental em ciclos.

§ 2º. Os estabelecimentos que utilizam pro-


gressão regular por série podem adotar no
ensino fundamental o regime de progressão
continuada, sem prejuízo da avaliação do pro-
cesso de ensino-aprendizagem, observadas
as normas do respectivo sistema de ensino.

A mudança do sistema de avaliação dos estudan-


tes, ocorrida com a nova LDB, que estabeleceu as
diretrizes e bases da Educação Nacional, envolve
uma profunda mudança de concepção sobre ensino,
aprendizagem e avaliação, passando de classifica-
tória para ser contínua.

A ideia de uma avaliação mediadora, dialética e for-


mativa parecia levar a resultados negativos quanto
ao nível de conhecimento e cultura dos estudantes.
Achava-se que com essa nova educação o estudante
passaria sem saber e isso assustou a comunidade
escolar.

17
Os professores se sentiam inseguros ao se depara-
rem com as mudanças educacionais. Parecia que
os cursos de formação estavam se esquecendo de
preparar os professores para o enfrentamento de
uma sala de aula, pois alguns saíam da faculdade
sabendo puramente o conteúdo de sua disciplina,
sem saber as metodologias.

O Estado implantava projetos e propostas, mas sem


o devido preparo do conjunto de profissionais das
escolas, que se tornavam inseguros e sem um norte
para sua prática educacional.

Muitas dúvidas ficaram diante dos professores, prin-


cipalmente quanto ao trecho em que a LDB diz que
a avaliação é contínua. A interpretação que tiveram
é de que o estudante seria promovido automatica-
mente, por este motivo a importância da leitura e do
estudo da LDB, para não haver equívocos.

Podcast 1

Avaliação Educacioanal: túnel do tempo conforme LDB

1961 4024 Provas; Exames; Autoridade; Julgamento�

1971 5692 Verificação; Menesão; Aprovação; Reprovação�

1996 9394 Continua; Cumulativa; Quantativa; Desempenho�

Figura 1: A avaliação educacional ao longo do tempo, conforme a


LDB. Fonte: Elaboração própria.

18
A verificação do rendimento escolar de forma diag-
nóstica, facilitadora, contínua, formativa, dialógica
e participativa – para que se tenha uma avaliação
emancipatória e justa – assustou um pouco os pro-
fessores, pois eles vinham de um aprendizado tra-
dicional, e foi muito complicado para que os profes-
sores aceitassem essa nova proposta.

Com a implantação da nova LDB, faz-se necessário


que o professor reflita muito, retome conceitos e
busque novas metodologias, para que o estudante
não seja o maior prejudicado e injustiçado. É muito
importante que o professor esteja em constante for-
mação continuada devido às mudanças que ocorrem
na educação.

É importante trabalhar-se com o estudante a ideia


da avaliação como um processo de formação.
Isso ajudaria a modificar os significados negativos
que a cultura da avaliação traz e, dessa forma, o
estudante saberia que a avaliação interessa prin-
cipalmente para saber como ele aprende e de que
modo pode efetivamente saber o grau de aprendiza-
gem que desenvolveu durante todo o processo de
ensino-aprendizagem.

Assim, a avaliação deixa de ser um instrumento


puramente meritório, no sentido acumulativo, de
julgamento quantitativo, e passa a ser um instru-
mento de condução, de orientação durante o pro-
cesso ensino-aprendizagem no dia a dia, na relação
professor-estudante.

19
Portanto, não adianta avaliar por avaliar, ter os dados
nas mãos e não proceder a nenhum tipo de modifi-
cação, de intervenção no processo de ensino-apren-
dizagem. Faz-se necessário analisar e discutir os
dados obtidos a partir dos instrumentos de avaliação
utilizados, aí está a importância do estudante saber
o que acertou e o que errou, pois ele entenderá o que
é um ensino significativo e de qualidade.

No final da década de 1990, mais precisamente em


1997, o MEC elaborou os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para dar um suporte aos profes-
sores nas suas práticas pedagógicas.

Em relação à concepção da avaliação de


aprendizagem:

É importante ter claro que a avaliação inicial


não implica a instauração de um longo período
de diagnóstico, que acabe por se destacar do
processo de aprendizagem que está em curso,
no qual o professor não avança em suas pro-
postas, perdendo o escasso e precioso tempo
escolar de que dispõe. Ela pode se realizar no
interior mesmo de um processo de ensino e
aprendizagem, já que os estudantes põem
inevitavelmente em jogo seus conhecimen-
tos prévios ao enfrentar qualquer situação
didática.

A avaliação inclui a observação dos avanços


e da qualidade da aprendizagem alcançada

20
pelos estudantes ao final de um período de
trabalho, seja este determinado pelo fim de
um bimestre, ou de um ano, seja pelo encer-
ramento de um projeto ou sequência didática.

A avaliação final é subsidiada pela avaliação


contínua, pois o professor recolhe todas as in-
formações sobre o que o estudante aprendeu
ao acompanhá-lo, sistematicamente. Esses
momentos de formalização da avaliação são
importantes por se constituírem em boas si-
tuações para que estudantes e professores
formalizem o que foi e o que não foi aprendido
(BRASIL, 1997, p. 98).

A percepção é que os documentos oficiais falam


sobre a avaliação da aprendizagem não mais como
aquele instrumento medidor e de classificação, ela
deixou de ser quantitativa e passou a ser qualitativa,
preocupa-se com o aprendizado do estudante.

A avaliação é hoje compreendida pelos edu-


cadores como elemento integrador entre a
aprendizagem e o ensino, que envolve múlti-
plos aspectos:

• o ajuste e a orientação da intervenção peda-


gógica para que o estudante aprenda da melhor
forma;

21
• obtenção de informações sobre os objetivos
que foram atingidos;

• obtenção de informações sobre o que foi


aprendido e como;

• reflexão contínua para o professor sobre sua


prática educativa;

• tomada de consciência de seus avanços, difi-


culdades e possibilidade (BRASIL, 1997, p. 98).

A avaliação passou do medo que o estudante tinha


do professor para auxiliar na aprendizagem e a ter
um ensino de qualidade, ajudando o professor a rever
as dificuldades do estudante, se houver necessidade,
e auxiliar a revisar o que for necessário.

22
PLANEJAMENTO,
CURRÍCULO E
AVALIAÇÃO
Planejamento, currículo e avaliação têm que estar
articulados, têm que trabalhar juntos para um bom
andamento na sala de aula. Faz-se necessário o pla-
nejamento escolar, pois ele é a ponte para fazer um
currículo e, dentro deste currículo, como o professor
trabalhará certos conteúdos e como ele direcionará
a avaliação.

REFLITA
- Planejamento: o planejamento escolar é a arti-
culação entre professores e gestores para as ati-
vidades do ano letivo de uma escola.

- Currículo: é um norte para o professor trabalhar


sua aula.

Os instrumentos de avaliação têm que estar inclusos


na aula do professor, afinal a avaliação é cumulativa
e contínua, ela é um instrumento que deve estar dire-
tamente ou indiretamente ligada a cada aula. Afinal,
ela não é o fim e sim um meio.

Hoje, a maior causa da importância do currículo é


devido ao surgimento em massa da escolarização
em todo o Brasil e, com isso, a necessidade de padro-

23
nização do conhecimento a ser ensinado. Para isso o
currículo tem que ser baseado nos PCNs, adaptando-
-se a cada região, ou seja, o conteúdo é o mesmo,
porém as contextualizações são feitas conforme a
realidade do estudante.

SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o que os PCNs di-
zem sobre a avaliação, acesse: http://portal.
mec.gov.br/programa-saude-da-escola/195-
-secretarias-112877938/seb-educacao-
-basica-2007048997/12598-publicacoes-
-sp-265002211.

Acesso em: 20 dez. 2019.

24
AVALIAÇÃO COMO
ARTICULAÇÃO, NÃO
COMO PODER

Professor

Teoria Avaliação Práticas

Aluno

Figura 2: Avaliação como um meio. Fonte: elaborado pela autora


(2020).

Para ministrar suas aulas, o professor tem que ter


o mínimo de conhecimento da sua área de estudo,
a fim de poder transmitir o conteúdo programático,
e depois, transformar esse conhecimento em práti-
ca pedagógica a partir da realidade do estudante,
conforme os PCNs, não podendo esquecer de que
a prática avaliativa não é mais classificatória, exclu-
dente e seletiva, ela deve ser inclusiva, democrática,
crítica e reflexiva.

A avaliação não deve ser vista como um instrumento


de poder, existem alguns equívocos em relação a ela,

25
principalmente com a avalição tradicional. Muitos
professores ainda seguem esse padrão e cometem
alguns equívocos na correção, como colocar certo
ou errado, parabéns ou péssimo. O professor pre-
cisa analisar o que o estudante aprendeu, ele não
pode simplesmente exigir que o estudante escreva
da forma como a matéria foi transmitida, e sim com
as suas palavras, desde que esteja correto.

FIQUE ATENTO
Aprender é saber interpretar o que foi ensinado,
não decorar o que foi transmitido pelo professor.
O estudante precisa saber, aprender, porque o en-
sino e o aprendizado são constantes e contínuos.

Uma das primeiras formas do professor demons-


trar poder na avaliação inicia-se durante suas aulas,
quando ele ocupa uma posição acima do estudante,
evitando que o estudante tire suas dúvidas, mostran-
do que tem autoridade, tentando intimidá-lo.

O afastamento dos padrões ligados à conser-


vação e transmissão de determinados valores
sociais, ainda presentes em nossa socieda-
de, pode gerar a insegurança de que falam os
professores, quando muitas vezes justificam
uma concepção de autoridade baseada na
reprodução da hierarquia social e escolar. O
professor exerce o poder inerente aos seus
quatro papéis de forma a manter inquestioná-
vel e distante de críticas a sua posição, seja

26
em âmbito institucional ou pessoal, ao mesmo
tempo que o estudante não pode exercer seu
poder na vivência de modelos no relaciona-
mento com os colegas e o próprio professor
(FURLANI, 1991, p. 33-34).

Durante anos e anos o poder dado ao professor foi


deixando alguns estudantes traumatizados e muitos
até saíam da escola, devido àquele tipo de avalia-
ção, mas, logo após a mudança da LDB 9394/96,
os professores começaram a processar as novas
mudanças e entendê-las, aceitando que os novos
parâmetros eram muito melhores. A evasão escolar
diminuiu a cada ano, desde então, e as expectativas
dos professores foram aumentando.

Podcast 2

Para que não haja poder por parte do professor ao


avaliar, como poderiam ser os instrumentos?

Para ser uma avaliação justa e fundamentada no


aprendizado do estudante, primeiramente o profes-
sor precisa saber os instrumentos que poderão ser
usados e principalmente saber elaborar esses instru-
mentos, também deve estabelecer critérios no que
será avaliado. Sempre usar a capacidade do que o
estudante aprendeu e avaliar o seu desempenho.

Para o professor construir uma avaliação sobre um


certo conteúdo, ele tem que ter habilidade e estar

27
bem atento a como será esta construção, você verá
algumas dicas:
• Que seja uma ferramenta que permita com que o
estudante perceba suas dificuldades e seus apren-
dizados e que envolva o conteúdo ensinado;
• Entre o ensino e a aprendizagem tem que haver
ligação;
• Verificar qual é o nível de conhecimento que o es-
tudante tem;
• Tem que ter um objetivo para que o estudante não
fique “perdido”;
• Deixar bem claro o que o professor quer, para que
o estudante possa entender;
• Ter organização do que está pedindo;
• Ter critérios no que irá avaliar.

Ouve-se muito de alguns estudantes: “eu amo aquela


disciplina, o professor é muito legal”.

Afinal, o que significa isso? Talvez alguns professores


já tenham deixado aquele velho paradigma para trás,
deixaram de ser autoritários. E como conseguiram
reverter essa ideia? Talvez esse “professor legal” seja
um professor que tenha conseguido olhar diferente
para a educação e ele buscou e se preparou para
novas metodologias.

São novos tempos e muitas mudanças, principal-


mente em relação às tecnologias. Os estudantes têm
as informações com mais facilidade e com muita

28
rapidez, portanto, o professor também precisa desta
rapidez, precisa se atualizar, assim ele estará prepara-
do para trabalhar com os estudantes, principalmente
com situações do dia a dia.

Como a avaliação já se inicia durante a aula, se o


professor der oportunidade ao aludo de se expres-
sar, ela deixa de ser um instrumento de poder do
professor e a relação professor-estudante passa a
ser de confiança.

[...] a autoridade do professor é vista como


poder legitimado pelas partes envolvidas, que
surge da aliança entre o conhecimento e a
experiência na condução da classe, buscan-
do orientar o indivíduo, ajudar o estudante a
crescer social, psicológica e intelectualmente
(NOVAIS, 2004, p. 26).

Por isso que o papel do professor é muito importante.


Após essas mudanças, ele passou a ter um papel
de mediador, amigo, um papel dialógico, em que o
estudante tem a chance de tirar as suas dúvidas,
sendo que antes o professor era falante, explicava
uma vez ou duas no máximo e hoje ele é um trans-
missor de conhecimentos, ele explica quantas vezes
o estudante necessitar e sempre com boa vontade,
porque foi preparado para essa nova proposta me-
todológica da educação.

29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os avanços da avaliação da aprendizagem durante
as últimas décadas, a partir dos documentos oficiais
e dos pensamentos de alguns autores através de
suas pesquisas, têm trazido novos paradigmas para a
educação e muitas discussões vêm sendo realizadas
para melhorar a educação brasileira.

Nas LDBs 4024/61 e 5692/71 a avaliação era a de


julgar, verificar, de exclusão, onde o professor era
autoritário, só ele falava, não dava a oportunidade
ao estudante de dialogar durante as aulas. A rela-
ção professor-estudante e estudante-estudante não
existia, entre eles havia uma barreira.

O grande diferencial foi a partir da LDB 9394/96, a


partir da qual a avaliação passou a ser contínua, o
professor deixou de ser aquele professor falante e
passou a transmitir o conteúdo como mediador, dan-
do espaço ao estudante.

Portanto, a necessidade de conscientização do pro-


fessor e do estudante é que se tenha diálogo durante
as aulas, pois é a partir daí que se começa a avaliar
os estudantes.

Finalizando, o professor pode sim ter autoridade


sem ser autoritário, o que deve haver é respeito en-
tre ambas as partes. Tudo tem sua hora e seu lugar,
o professor tem que ter a hora de falar e de escutar
e o estudante também.

30
FIQUE ATENTO
Às vezes, “combinados” estabelecidos entre pro-
fessores e estudantes são muito bons para o de-
sempenho escolar.

Às vezes, “combinados” estabelecidos entre profes-


sores e alunos são muito bons para o desempenho
escolar.

Combinados

Levante a mão
se quiser falar�

Fale um de cada Vez

Ouçam uns aos


outros�

Não diga coisas


de forma
desagradável�

Pense em coisas
legais para dizer
aos outros�

Você não precisa falar,


se não tiver vontade�

Figura 3: Fonte: Elaboração própria.

31
SÍNTESE

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL

CONTEÚDO:

A retrospectiva sobre a Avaliação de Aprendizagem a partir das


décadas de 1960 até os dias de hoje;

 Foram analisadas as seguintes leis de diretrizes e bases:


• Lei nº 4�024 de 1961;
• Lei nº 5�692 de 1971;
• Lei nº 9�394 de 1996�

 Foi analisado o que diz o Parâmetro Curricular Nacional (PCN)


sobre a avalição de aprendizagem�

Nas LDBs 4024/61 e 5692/71 a avalição de aprendizagem era o de


julgar, verificar e excluir, o professor era autoritário� As provas eram
para mensurar, o aluno era apenas um número, foi bem na prova:
passou, não foi: reprovou� O aluno não sabia sequer o que tinha
aprendido�

Já no final da década de 1990, a LDB 9394/96 veio para


revolucionar a educação� A avaliação passou de exclusão para ser
inclusiva, ou seja, o professor passou a ser o mediador na sala de
aula, passou a transmitir o conteúdo, dando ao aluno a
oportunidade de diálogo�

A implantação dos PCNs veio para dar um norte à educação


brasileira, o conteúdo para todo o Brasil é o mesmo, porém cada
estado/cidade adapta conforme a regionalidade ou necessidade�
Assim, a avaliação tornou-se um instrumento de mediação entre
aluno e professor, onde o aprendizado passou a ter significado�
Referências
Bibliográficas
& Consultadas
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Fixa as diretrizes e bases da educação nacional.
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Brasília, 1961.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 11 de agosto de 1971.


Fixa as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, 1971.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.


Fixa as diretrizes e bases da educação nacional.
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Brasília, 1996.

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br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
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