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ZIZEK, Slavoj. Doc. Guia Pervertido do Cinema. Dir.

Shopie Fiennes, 2006

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[00:00:11] O problema para nós não é se nossos desejos serão ou não satisfeitos. O
problema é: como sabemos o que deseja? – Nossos desejos são artificiais; temos que ser
ensinados a desejar; CINEMA É A MAIS PERVERSA DAS ARTES; Não te dá o que
desejar, te diz como desejar.

[00:02:47] Espaço fantasmático projetado de modo que, a mostrar aquela realidade;


parte da realidade, na percepção da protagonista, na percepção dela, e na nossa
percepção, resulta elevada ao nível mágico, projetando na tela os seus sonhos – Arte
cinematográfica na sua forma mais pura

[00:04:08] A escolha de Matrix (pílula azul ou vermelha) não é entre ilusão e realidade
– É claro que Matrix é uma máquina de produzir ilusões; mas são ficções que
estruturam a nossa realidade; se tiramos da realidade as ficções simbólicas que as
regulam perdemos a realidade mesma – QUESTÃO NÃO É PERCEBER A
REALIDADE POR TRÁS DA ILUSÃO MAS A REALIDADE CONTIDA NA
PRÓPRIA ILUSÃO

[00:07:24] Nós não nascemos na realidade; para atuar como gente normal, que interage
com outras pessoas, que vive em uma espaço de realidade social, muitas coisas devem
ocorrer. Devemos estar adequadamente instalados na ordem simbólica; Quando nosso
espaço dentro do espaço simbólico é perturbado, a realidade se desintegra; O ataque dos
pássaros, em leitura psicanalítica, representa obviamente a irrupção explosiva do
Supereu materno, da figura materna decidida a evitar a relação sexual – Os pássaros são
energia incestuosa em estado puro

[00:09:31] Eu, Isso, Supereu [Três níveis da subjetividade humana] – Disposisção da


casa da mãe de Psicose: 1º nível (EU): Normal se comporta como um filho normal; 2º
nível (SUPEREU): Supereu materno [mãe morta é o exemplo de supereu]; 3º nível
(ISSO): reservatório das pulsões ilícitas / Freud: Supereu e Isso são intimamente ligados
– Supereu não é uma instância ética, mas é uma instância obscena, nos bombardeando
com ordens impossíveis e que ri de nós quando nós atingimos suas demandas; quando
mais obedecemos mais nos sentimos culpados

[00:13:12] Isso: inocência, diversão, mas, ao mesmo tempo, é possuído por uma espécie
de mal primordial, agressivo – Combinação entre corrupção absoluta e inocência é
ISSO.

[00:16:00] Mabuse era só uma voz; Alienígena invasor (Mabuse, Exorcista, Alien) –
Nós mesmos somos alienígenas controlando nossos corpos; Nosso Eu, nossa força
psíquica, é uma força alienígena que controla o corpo

[00:18:40] O Grande Ditador: Chaplin é dois personagens [bom judeus, e líder


maligno]; O barbeiro judeu (o vagabundo) é representante do cinema mudo [como
cartuns – não conhece morte, sexualidade, sofrimento / simplesmente vivem suas
pulsões egoístas – Existe o mal mas um tipo ingênuo e bom de mal] // Som no cinema
traz mais profundidade, sentimento, interioridade, culpa, remorso [e outros termos do
complexo universo edípico]; A questão do filme não é: como se livrar do totalistarismo,
de seu terrível poder de sedução? É também uma questão formal: como se livrar da
dimensão aterradora da voz? Como transformam esta voz em meio de expressão de
amor ou humanidade? – Duplo problema do discurso final: Barbeiro é aplaudido como
Hynkel seria; A música (Lohegrin, Wagner) que acompanha o discurso é a mesma que
Hynkel dançava com o globo no meio do filme [musica como redentora ou música
como meio de exacerbar os sentimentos (ameaça)]

[00:25:03] Pulsão de morte não é uma busca budista de aniquilação; é o oposto –


representa a dimensão daquilo que em ficções de terror como os filmes de Stephen King
é chamado de não morto, de mortos-vivos, algo que permanece vivo ainda depois da
morte; uma coisa que é, de algum modo, imortal em sua própria mortalidade. Segue
adiante, vivo, por mais que você corte continua indestrutível; Dimensão de imortalidade
diabólica

[00:26:52] Objeto parcial autônomo – o que não se pode controlar (punho: Dr.
Fantástico, Clube da Luta) – Conflito com o duplo, enfrentar eu mesmo, um versão
castrada de meu próprio eu / A única forma de se livrar do objeto parcial autônomo é se
convertendo neste objeto

[00:47:03] Desejo é uma ferida da realidade; a arte do cinema consiste em provocar o


desejo, jogar com o desejo – mas, ao mesmo tempo, mantendo uma distância segura,
domesticando, deixando palpável

[00:48:43] Normalmente as pessoas lêem Freud como se o sentido secreto de tudo fosse
a sexualidade, mas não é isso que Freud queria dizer; Freud queria dizer o contrário –
Não é que tudo seja uma metáfora para sexualidade, que estaríamos sempre pensando
em sexo, a questão freudiana é: em que estamos pensando quando fazemos sexo?
Quando se trata de sexualidade, nunca é somente entre eu e minha companheira, é
precisa que haja sempre algum elemento fantasmático, deve haver um terceiro elemento
imaginário que me torne possível, que possibilite que engaje na sexualidade.

[01:03:11] Um sujeito é algo parcial, por traz há um vazio, um nada. Buscamos


preencher este nada com fantasias – ver o que falta é ver a subjetividade; fantasia
realizada é pesadelo

[01:22:16] Conexão realidade e fantasia: pornografia como um gênero artístico


conservador – Mostra o que se não se vê, ao preço de não poder ser levada a sério a
história – Ela tenta ser o mais realista possível, mas ela tem que manter uma quantidade
mínima de suporte imaginativo (fantasmático)

[01:27:33] Excessiva realidade que encontramos na nossa imaginação; O conceito de


FANTASIA em psicanálise é muito ambíguo e vazio; por um lado, temos esse lado
calmante da imaginação, no outro fantasia como uma carga explosiva de desejos
selvagens // Quando fantasia desintegra não somos levados à realidade mas a um tipo de
pesadelo da realidade, tão chocante que é impossível ser uma realidade normal

[01:40:34] A lição básica da psicanálise é que o que se às nossas experiência na vida, é


que as emoções são coisas enganosas; não há emoções específicas enganosas, porque,
como Freud literalmente disse, a única emoção sincera é a ansiedade, todas outras
emoções são falsas – A questão, é claro, é se podemos considerar o cinema apenas
como uma falsidade e engano

[01:41:39] O cinema é a arte das aparências, que nos diz algo sobre a própria realidade;
isso nos diz algo sobre como a realidade se moldou; visão existencial da realidade –
imperfeição do universo, realidade incompleta [o que faz do cinema uma arte muito
contemporânea]

[01:44:31] Todos os filmes modernos são filmes sobre a possibilidade ou


impossibilidade de se fazer um filme – Como você faz as pessoas hoje continuarem
acreditando na magia do cinema; o estranho é que, embora saibamos que é pura
representação e imaginação, ele ainda nos fascina, essa é a essência da magia do cinema
/ você vê uma cena de sedução, e você sabe que é falso, mas se mantém fascinado por
ela, a ilusão permanece; há algo real nessa ilusão, algo mais real do que a realidade
por trás dessa ilusão

[01:48:22] há uma verdade mais profunda nessa aparência; este é o paradoxo do cinema,
o paradoxo da crença; não é simplesmente acreditar ou não acreditar; sempre
acreditamos com algum tipo de condicional; sei muito bem que é ficção e fingimento,
mas me permito ser emocionalmente afetado

[01:55:41] Materialismo cinematográfico – Abaixo do nível do significado; níveis


básicos de moldes e formas que se comunicam, interagem e se influenciam como um
pano de fundo anterior à realidade [protorealidade] – pano de fundo que inclui uma
realidade mais densa e estabelecida do que a realidade narrativa (a história que nós
vemos) e é isso que confere intensidade e caráter especial à experiência cinematográfica

[01:57:07] A coisa como encarnação de algo que vem do nosso espaço interior //
Encontro cinema e filosofia: Ótimos diretores podem nos permitir pensar em termos
visuais

[02:05:51] A autoridade parental natural é uma pessoa comum que “vestindo um


emblema de autoridade”, insígnia do falo, que fornece a ele uma autoridade simbólica –
este é o pênis ou falo – um pênis é algo que é adicionado a você como a coroa de um rei
(pois esse é o pênis dele), algo que você veste e que lhe dará poder

[02:10:00] Superego não é simplesmente terrorismo excessivo ou um aviso final do


sacrifício completo – mas ao mesmo tempo é obsceno e cínico
[02:13:55] Nossa principal preocupação hoje não é a crença de que o que nos é
apresentado é apenas uma fantasia que não a leva a fantasia a sério, mas, pelo contrário,
não levamos as fantasias com a seriedade necessária; perguntamos: você acha que é
apenas um jogo? Não, é fato que é mais realidade do que parece a você; por exemplo:
pessoas que jogam videogames, eles adotam uma persona na tela – um estuprador ou
algo parecido. A idéia é que ele na realidade é uma pessoa fraca, então usa uma figura
forte, sexy, sexualmente imoral no avatar - esta seria uma leitura ingênua do assunto; e
se for o oposto – Aquele pessoa forte, bruta, o estuprador, são atributos semelhantes da
minha personalidade e que por questões sociais eu fico inábil de expressá-las, então, por
seu um jogo eu posso ser mais honesto e praticar minha identidade e personalidade /
Precisamos de uma desculpa para exibir e praticar o que realmente somos

[02:28:31] Para entender o mundo hoje, precisamos literalmente do cinema, somente no


cinema podemos obter aquela dimensão perigosa que não podemos realmente enfrentar;
Se você está procurando uma realidade mais confiável do que a própria realidade,
assista ao cinema de ficção

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[FILMES]

- Possesed (1931)

- Matrix (1999)

- Os Pássaros (1963)

- Psicose (1960)

- Sopa de pato (1933)

- O exorcista (1973)

- O testamento do Dr. Mabuse (1931)

- Alien (1979)

- O grande ditador (1940)

- Cidade dos sonhos (2002)

- Doutor fantástico (1964)

- Clube da luta (1999)

- A conversação (1974)

- Veludo Azul (1986)

- Um corpo que cai (1958)


- Solaris (1962)

- Persona (1966)

- De olhos bem fechados (1999)

- A professora de piano (2001)

- Trilogia das cores: Azul (1993)

- Alien: ressureição (1997)

- Dogville (2003)

- O mágico de Oz (1939)

- Frankstein (1931)

- Stalker (1979)

- Luzes da Cidade (1931)

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