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Leandro Oss-Emer
Lucas Gouvea Manoel Bitterbir
Matheus Gomes Setti
Victória Camargo Brasil
Curitiba
2017
1. INTRODUÇÃO
3.1. PÓS-MODERNISMO
A Globalização, por muito tempo, foi vista como uma maneira não somente de
aproximar as diferentes nações, mas de fato unificar o mundo. Isso possibilitaria um
desenvolvimento conjunto dos diversos países; feito, contudo, tendo como base os
padrões europeus e americanos de cultura, riqueza e vida. Assim, nos países
desenvolvidos, haveria produtos americanos, filmes de Hollywood, hábitos europeus,
entre outros. Exemplo óbvio são as próprias cidades brasileiras, que sofreram, entre
meados do século XIX e XX, processos “modernizadores” — que, na realidade,
buscavam tão somente assemelhar as cidades brasileiras às europeias. A visão pós-
moderna não define progresso ou desenvolvimento, mas concebe singularidades de
cada região, que nunca serão unificadas artificilamente.
Conforme Featherstone (1997, pp. 124-125), as teorias modernistas
consideravam que, à medida em que cada país não ocidental — ou até mesmo
simplesmente não norte-americano ou europeu — se desenvolvesse, deixaria suas
próprias particularidades culturais locais e adotaria as características americanas e
europeias. Essa era a visão do Imperialismo do século XIX, que hierarquizava as
formas de cultura, tipicamente usando termos como sociedade “civilizada” ou “não
civilizada”.
O autor, contudo, cita Vattimo (1988), cuja opinião é de que, na Pós-
Modernidade, tal conceito de desenvolvimento já não é mais aceito. Indo ainda mais
a fundo, Vattimo não relativiza simplesmente as pretensões civilizatórias modernas,
mas toda a noção de progresso e superação do presente, levando ao “fim da
história”. Conforme o autor, o Pós-Modernismo deve ser visto como o abandono da
antiga forma como se percebia a história enquanto processo unitário, ou seja,
acreditando que todas as sociedades seguiriam um processo semelhante de
“progresso” ao longo do tempo, que levaria, essencialmente, a um mesmo resultado.
Novamente, aí, concebe-se um particularismo singular, segundo o qual cada
sociedade viveria sua história de maneira singular, não havendo conformidade
objetiva entre os diversos desenvolvimentos históricos.
Uma crítica pertinente partindo da visão pós-moderna ao historicismo —
pensamento moderno pautado na noção de desenvolvimento e progresso explicada
acima — é feita por Boaventura de Souza Santos:
O historicismo é hoje criticado tanto pelas correntes pós-modernas como
pelas pós-coloniais. Por um lado, ele impede de pensar que os países mais
desenvolvidos, longe de mostrarem o caminho do desenvolvimento aos menos
desenvolvidos, bloqueiam-no ou só permitem a esses países trilhá-lo em condições
que reproduzem o seu subdesenvolvimento. Na concepção dos estádios de
desenvolvimento fica sempre por explicar o facto de os países mais desenvolvidos
terem iniciado o seu processo de desenvolvimento sem necessidade de se
confrontarem com outros países já então mais desenvolvidos que eles. Para além de
desacreditar a ideia de modelos alternativos de desenvolvimento ou mesmo de
alternativas ao desenvolvimento, o historicismo torna impossível pensar que os
países menos desenvolvidos sejam mais desenvolvidos que os desenvolvidos em
algumas características específicas. Estas são sempre interpretadas em função do
estádio geral de desenvolvimento em que a sociedade se encontra. (SANTOS, 2008,
p. 33)
A globalização, por um lado, faz crescer o anseio por algo local, nacional, ao
mesmo tempo em que interfere e muda, reinventa tais costumes. O nacionalismo
não busca isolar a sociedade, no entanto também não deseja ter sua cultura
completamente engolida, "os nacionalismos do mundo moderno são a expressão
ambígua [de um desejo] por... assimilação no universal... e, simultaneamente, por...
adesão ao particular, à reinvenção das diferenças. Na verdade, trata-se de um
universalismo através do particularismo e de um particularismo através do
universalismo" (Wallerstein, 1984, pp. 166-7). Hall explica tal fenômeno de modo
muito claro:
Há, juntamente com o impacto do "global", um novo interesse pelo "local". A
globalização (na forma da especialização flexível e da estratégia de criação de
"nichos" de mercado), na verdade, explora a diferenciação local. Assim, ao invés de
pensar no global como "substituindo" o local seria mais acurado pensar numa nova
articulação entre "o global" e "o local". Este "local" não deve, naturalmente, ser
confundido com velhas identidades, firmemente enraizadas em localidades bem
delimitadas. Em vez disso, ele atua no interior da lógica da globalização. Entretanto,
parece improvável que a globalização vá simplesmente destruir as identidades
nacionais. E mais provável que ela vá produzir, simultaneamente, novas
identificações "globais" e novas identificações "locais". (Hall, 2006, pp. 77-78)
A migração no modo que se dá hoje faz com que os grupos migratórios não
encontrem as devidas oportunidades nos locais de destino. Muitos difundem o mito
de que a globalização contribuiu para um maior contato entre as culturas sem
apresentar o lado negativo dessa suposta integração. O que se mostra na prática do
dia a dia é o oposto: populações árabes e muçulmanas sendo marginalizadas – e
por vezes perseguidas – na Europa deixam clara a mensagem de que não há
espaço para esse contato entre culturas. O diferente e “exótico” convém apenas
quando a intenção é o turismo, não quando há a necessidade de respeito.
Discriminados, os grupos étnicos e culturais se fecham em subúrbios e continuam a
pertencer à margem da população.
A íntima proximidade de aglomerações “etnicamente estrangeiras”
dissemina hábitos tribais na população local, e o propósito das estratégias
insinuadas por esses hábitos é o isolamento compulsório, “guetificante”, dos
“elementos estrangeiros”, o que, por sua vez, aumenta os impulsos
defensivos das populações de imigrantes: sua propensão ao estranhamento e
ao fechamento em círculos próprios. (BAUMANx, p. 41)
O que se extrai dessa situação é que todos os povos querem contato com
culturas diferentes, mas nenhum deles está disposto a abrir mão de seu
“absolutismo cultural” e aceitar a diferença em um ambiente de coexistência. Os
grandes fluxos de comunicação aumentaram o contato entre culturas e, em grande
parte, tudo o que foge do padrão universalmente imposto é tido como arcaico e é
visto como algo a ser combatido – até que alguma marca se aproprie e transforme
essa cultura em produto. Ao mesmo tempo em que a globalização nos permitiu
reconhecer que a cultura é uma via de mão dupla – em que é preciso disponibilizar
ao mundo sua cultura e estar apto a receber as demais influências -, ela também
mostrou ser um meio para fomentar fundamentalismos e soterrar traços culturais.
Por fim, nessa linha reconhece o autor:
Além do mais, não se quer dizer com isso que os fluxos culturais
intensificados resultarão necessariamente em maior tolerância e cosmopolitismo.
Uma familiaridade crescente com “o outro”, seja através de relações face a face, seja
através de imagens ou representações da visão de mundo e da ideologia do outro,
poderá levar igualmente a um perturbador senso de imersão e envolvimento. Isso
poderá resultar em um recuo diante da ameaça da desordem cultural, buscando-se
abrigo na segurança da etnicidade, do tradicionalismo, do fundamentalismo [...].
(Featherstone, p. 129).
5. REFERÊNCIAS
ROBINS, Kevin. "Tradition and translation: national culture in its global context". In
Corner, J. and Harvey, S. (orgs.), Enterprise and Heritage: Crosscurrents of National
Culture. Londres: Routledge, 1991.
WEBSITES:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/08/19/Burqu%C3%ADni-quais-as-
quest%C3%B5es-que-envolvem-a-proibi%C3%A7%C3%A3o-do-traje-
mu%C3%A7ulmano-nas-praias-francesas>. Acesso em: 03 nov. 2017.
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/07/20/Por-que-parte-da-Europa-
pro%C3%ADbe-o-v%C3%A9u-isl%C3%A2mico.-E-o-que-dizem-as-
mu%C3%A7ulmanas>. Acesso em: 03 nov. 2017