Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS


FISIOLOGIA DA VOZ
PROFESSORA DRA. MARÍLIA ÁLVARES

ABUSO VOCAL E MAU USO

DESORDENS FÍSICAS
Enquanto o abuso vocal é o mau tratamento das pregas vocais, o mau uso se refere ao
uso incorreto da afinação, volume, suporte respiratório, equilíbrio de ressonância ou qualquer
combinação destes elementos. Em termos gerais, devido ao abuso e mau uso, a voz pode ser
prejudicada em níveis de disfonia, ou alteração em altura, intensidade e timbre, até uma afonia,
ou perda total da voz.
É extremamente difícil, se não impossível, separar problemas orgânicos dos funcionais.
Por exemplo, contínuo abuso das pregas vocais pode levar a nódulos, e, portanto, a desordem
orgânica é resultado direto do mau uso funcional. De fato, quase todo estrago vocal se situa na
laringe, geralmente causado por adução exagerada ou pouca adução das pregas vocais. Muita
força muscular no processo respiratório pode produzir uma adução não completa de seções das
pregas, enquanto falta de equilíbrio muscular na musculatura extrínseca geralmente resulta em
adução excessiva das pregas. O resultado nem sempre é predito, mas é certo que desequilíbrio
muscular é ineficiente, mesmo que ele nem sempre resulte em danos físicos perceptíveis.
Não se pode afirmar com total veemência que o abuso vocal, particularmente o
desequilíbrio muscular resultante do uso de força excessiva, produz problemas vocais
imediatamente ou desordens orgânicas. Pode levar meses e até anos antes do dano causado por
contínuos hábitos abusivos serem evidenciados em uma patologia como os nódulos vocais.
Infelizmente, este tipo de dano cumulativo é frequentemente irreversível; o aparelho vocal foi
injuriado permanentemente.
A citação “cantar com os juros e não com o capital” descreve um cantor que evita
tensão indesejada. Este tipo de canto atinge um máximo de efeito sonoro com um mínimo de
esforço. Ação física que é suave e eficiente, fiando-se nem em hiperfunção nem hipofunção não
é fácil de se adquirir ou manter no mundo de hoje. Tensão de grupos musculares é muito
comum de ocorrer na civilização moderna. Nós vivemos numa época muito tensa, e a
hiperfunção vocal pertence ao maior número de desordens psicossomáticas que traduzem tensão
interna em comportamento orgânico tenso.

NÓDULOS E PÓLIPOS VOCAIS

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
Nenhuma desordem vocal gera maior temor em cantores treinados que os nódulos
vocais. Estes caroços espessos não permitem que as pregas se encontrem completamente, e
levam a um som ruidoso, estridente e com escape de ar e com baixa frequência fundamental
para oradores. Para cantores, evidências percebidas de nódulos incluem:
 Registro médio soproso
 “Quebra” quando aproximando do registro de cabeça
 Redução na quantidade de tempo fonatório possível
 Redução na intensidade da extensão
 Rouquidão
Uma vez que os nódulos são geralmente bilaterais (dos dois lados), há uma óbvia fenda naquela
seção da glote. Um sintoma que acompanha este quadro é a necessidade de limpar a garganta
constantemente como se fosse remover uma obstrução nas pregas.
Felizmente, muitos cantores eruditos ou seus professores detectam a presença de
nódulos em estágios iniciais quando eles podem ser tratados com relativa facilidade através de
terapia vocal ou com a mudança no tipo de literatura que está sendo cantada. Timbre velado em
níveis baixos de dinâmica, um leve zumbido no começo da fonação, e instabilidade na região
de passagem são indicações comuns que um exame da laringe é necessário. Certamente a
presença de qualquer um ou todos estes sinais não significa necessariamente que existem
nódulos. Muitos cantores desenvolvem um inchaço bilateral, simétrico e suave na junção dos
terços anterior e médio das pregas vocais depois de uso pesado da voz. Não há evidência para
sugerir que cantores com tais “inchaços fisiológicos” estão predispostos a desenvolverem
nódulos. Este tipo de inchaço geralmente desaparece depois de 48 horas de repouso.
Relembrando: as pregas vocais têm 3 camadas mucosas externas cobertas por uma fina
membrana ou epitélio. Abaixo da membrana fina está uma lâmina composta de 3 camadas. A
primeira camada, chamada “espaço de Reinke”, lembra uma massa de gelatina macia. A
segunda camada consiste de fibras elásticas com a consistência de bandas macias de borracha.
A camada mais profunda é constituída de fibras de colágeno como a linha de algodão. Estas
duas últimas camadas juntas são chamadas de ligamento vocal. Abaixo deste está o músculo
vocalis, o corpo principal das pregas vocais; ele é como um pacote de bandas de borracha mais
endurecida.
Apesar de estas três estruturas terem tecidos conectivos e parecerem se mover como
uma unidade durante a vibração, estudiosos acreditam que o epitélio e a primeira camada se
movem de uma maneira diferente das demais camadas. As reações do estresse vocal quase
sempre acontecem na primeira camada. É lá, na camada superficial ou mais externa das pregas,
que os nódulos se formam; eles geralmente não se estendem até os ligamentos vocais.
A maioria dos nódulos não precisa ser removida com cirurgia. Eles podem ser tratados
com sucesso com terapia vocal. Se, no entanto, a cirurgia for necessária, todo o esforço deve
ser feito para se preservar o ligamento vocal. Em outras palavras, se o tecido elástico logo
abaixo do espaço de Reinke não for violado e o ligamento vocal não for tocado, haverá um
mínimo de cicatriz. A terapia pós-operatória poderá, então, ser feita com maior sucesso.
O som produzido por pólipos vocais é semelhante ao dos nódulos, rouquidão,
soprosidade e aspereza. As características físicas são um pouco diferentes, no entanto. A
maioria dos pólipos é resultado de hemorragia nas pregas vocais, que, quando absorvidas,
deixam o tecido inchado e distendido. Enquanto os nódulos são calosidades, o pólipo
geralmente tem estrutura de um pequeno vaso sanguíneo. Alguns pólipos são largamente
plantados nas bordas das pregas vocais, enquanto outros se atrelam a estas através de um
pescoço estreito. Estes últimos às vezes penduram-se abaixo das pregas aduzidas, e por não
interferirem na vibração, nenhuma mudança na voz é ouvida. Os pólipos são, às vezes, tão
grandes quanto sementes de cereja, mas diferentes dos nódulos, eles são mais unilaterais (um
lado).
Tanto nódulos quanto pólipos aparecem na junção dos terços anterior e médio da prega,
isto é, a porção medial da prega vibrante. Os pólipos, diferente dos nódulos, são
frequentemente causados por simples eventos traumáticos tais como contínuos gritos.

O abuso da voz é o maior causador de nódulos. Se há uma excessiva tensão das pregas
vocais e excessiva força de adução, os nódulos podem aparecer, e uma vez formados, eles
atrapalham o fechamento e a vibração das pregas, criando danos adicionais. As duas causas
funcionais principais de nódulos são o uso de pressão respiratória muito alta e/ou o uso de
ataque de glote. O fato de que os nódulos são mais comuns em sopranos e tenores reforça este
diagnóstico. Cantores de ambas as classificações às vezes tentam produzir notas agudas com
volume suficiente pelo uso crônico de ataques glotais. Se um cantor jovem (abaixo de 30 anos)
canta em tessitura extremamente alta, particularmente com grande volume e por um longo
tempo, ele ou ela corre o risco de permanente dano.
Uma vez que os nódulos interferem na finura e tensão adequadas das pregas, eles
causam particular dificuldade no cantar de notas agudas; cantar suave é quase impossível. À
medida que as pregas são forçadas, uma contra a outra, mais e mais violentamente para atingir
a nota, o problema físico aumenta.
Outro tipo de produção vocal precisa ser mencionado. Entre algumas metodologias
alemãs de canto é preferido um som escuro em níveis altos de dinâmica. Pressão respiratória
muito alta é característica deste método, assim como uma posição de cabeça e pescoço não
naturais (o queixo costuma ficar embutido, forçado para baixo e para trás). Este
posicionamento traz tensão excessiva para os músculos intrínsecos e extrínsecos da laringe.
Soma-se a isto a “equalização” das vogais que se dá por uma posição de boca bem aberta e
arredondada, um grande espaço faríngeo e a laringe abaixada. Sob tais condições, os parciais
mais baixos são enfatizados e há uma perda de parciais mais altos. Fica difícil de acreditar que
as leis físicas dos formantes das vogais sejam implementadas quando o acoplamento das
cavidades está sob controle tão rígido e artificial.
Quando acontece trabalho exagerado da massa muscular nas frequências médias da voz,
o vocalis se acha em excessiva contração a fim de manter amplitude de vibração suficiente; o
cricoaritenoideo lateral (adutor) estará sobrecarregado a fim de manter as pregas firmemente
fechadas. Em adição a esta tensão exagerada na região onde os nódulos geralmente aparecem, o
sistema resfriador local estará sendo impedido também, pois a fricção adicionada cria maior
calor e viscosidade nas pregas vocais. Esta condição acontece particularmente na voz feminina
cantada com muito peso e/ou muita intensidade na região média. O registro médio feminino é
especialmente problemático no que diz respeito à obtenção de foco. Cantar com mais volume e
mais pesado não é solução, pois isto acarretará o desequilíbrio vocal. Esta tendência ao abuso e
trabalho excessivo no registro médio pode ser uma das razões pela qual cantoras são mais
sujeitas a nódulos que cantores.

EDEMA DE REINKE
É uma lesão de aspecto gelatinoso difuso, que ocupa todo o espaço de Reinke na prega
vocal, e que geralmente acomete os dois lados. É mais comum em mulheres de meia idade e
tabagistas. A voz soa mais grave e pode chegar a causar dificuldade para respirar em casos
mais avançados com dimensões grandes.

CISTOS INTRA-CORDAIS E SULCOS VOCAIS


São lesões das pregas vocais que classificadas como alterações estruturais mínimas. São
lesões congênitas, que apresentam como principal manifestação clínica o grande
comprometimento da voz e isso se deve ao fato de se localizarem nas camadas mais profundas
das pregas vocais, região muito importante para a produção da voz. O tratamento microcirúrgico
é o indicado na maior parte dos casos.
Os cistos podem ser abertos ou fechados e os sulcos se apresentam em formas também
diferentes, dependendo do grau de penetração do sulco para o interior das pregas vocais.
Os pseudocistos da prega vocal se localizam na camada mais superficial (epitélio) das
pregas vocais, sendo esse um dado importante para os diferenciar dos verdadeiros.

LEUCOPLASIAS
As leucoplasias são lesões brancas, espessas, vistas na superfície das pregas vocais,
embora possa acometer toda mucosa das vias respiratórias superiores, decorrentes de irritação
crônica, continuada e intensa. São consideradas lesões pré-malignas devendo ser monitorizadas
e removidas em casos específicos, sob o risco de evoluir para o câncer de laringe.

PARALISIAS
A laringe recebe inervações motora e sensitiva. O acometimento dessa inervação em
situações específicas, como trauma cirúrgico, principalmente da glândula tireoide, em infecções
virais, em tumores dentre outras, pode levar à paralisia da laringe.
Antes de se iniciar qualquer terapia, é importante que se procure causas específicas para
a paralisia e estas causas podem estar no cérebro, no tronco encefálico, na região cervical ou até
mesmo no tórax.
O tratamento vai variar conforme o tipo da paralisia, uni ou bilateral, bem como a posição da
prega vocal paralisada, podendo ser indicado: fonoterapia, cirurgias endoscópicas e ainda
cirurgias no pescoço chamadas tireoplastias, que visam a reposicionar a prega vocal paralisada
na linha média, assim restaurando a qualidade vocal.

ÚLCERA DE CONTATO
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
Na parte final posterior das pregas vocais, a camada superficial de fibras elásticas se
torna mais fina e age como um absorvente de choque para proteger as terminações das pregas
de possível estrago causado por vibração. Esta camada fina se ata ao processo vocal da
cartilagem aritenoidea, que é coberta com a membrana mucosa. Um ferimento neste tecido é
chamado úlcera de contato ou granuloma, e é geralmente bilateral (nem sempre). O que é num
primeiro momento uma lesão ulcerosa, pode se tornar tecido granuloso ou fibroso ao redor da
cratera ulcerosa. Os primeiros sintomas são voz que se cansa facilmente, dor laríngea ocasional
e fortes inflamações do processo vocal. Embora repouso vocal traga certa recuperação e
aparente perda de sintomas, eles recorrem mais frequentemente e mais fortes com o passar do
tempo, se o problema que causa a condição não é corrigido.

O encontro forçado dos processos vocais, mais comumente chamados ataque de glote, é
a causa principal das úlceras de contato.
Além dos grupos de risco citados acima, pessoas que falam em tom muito grave (não
usual) também estão sujeitas às úlceras de contato. Vozes que precisam mostrar certa
autoridade (pastores, sargentos do exército, advogados etc.) são geralmente graves e cheias de
ataque glotal. Úlceras de contato são encontradas mais em homens. Personalidades
compulsivamente perfeccionistas são particularmente sujeitas a tal deserdem. Em casos de
temperamentos como estes, o problema físico parece ter uma causa reforçada que é, pelo menos
parcialmente, psicossomática. Embora o tratamento preferido seja a reabilitação vocal, as
úlceras de contato são difíceis de serem tratadas porque o lado psicológico do indivíduo está
envolvido.
Outras causas de úlcera de contato são entubação durante anestesia geral e refluxo
gastroesofágico. Esta última condição prevalece especialmente entre cantores profissionais que
sempre comem e bebem tarde da noite depois de apresentações. O melhor antídoto, com
certeza, é o espaço de horas entre a última refeição e ir se deitar. Se o problema persiste, o
levantamento da cabeça, pescoço e torso com travesseiros deverá prevenir a lavagem de ácido
gástrico sobre os enchimentos das aritenoides. Evitar produtos lácteos, cafeína, álcool e
alimentos apimentados também é recomendado.

MUDANÇAS HORMONAIS

A GLÂNDULA TIREOIDE
Algumas mudanças hormonais são de grande importância para cantores.
A glândula tiroide, que produz um hormônio que afeta a taxa metabólica, se situa na
base do pescoço. A hipofunção desta glândula abaixa a altura vocal e frequentemente causa um
som áspero. Esta condição é reversível e geralmente pode ser tratada com medicação. Se a
cirurgia é necessária, no entanto, grande cuidado deve ser tomado para não prejudicar os
músculos extrínsecos da laringe ou o nervo recorrente laríngeo, que se situa bem próximo da
glândula tiroide.

MENSTRUAÇÃO
Durante os últimos anos cientistas têm discutido à respeito da menstruação afetar ou não
a voz cantada. Baseados em mudanças acústicas e fisiológicas relatadas em numerosos estudos
feitos nos anos 60 e 70, a maioria dos teatros de ópera europeus não exigem que cantoras
cantem durante o período anterior ou durante os primeiros dias de menstruação. Em 1989, um
estudo realizado com 38 mulheres mostrou em mais de 50% um quadro de rouquidão e aumento
de fadiga vocal durante este período de clara mudança hormonal.
Durante o período pré-menstrual, o nível de estrógeno cai, os tecidos da laringe
começam a absorver água, fazendo com que as pregas vocais inchem. Ao mesmo tempo
acontece um aumento no fornecimento de sangue para as pregas vocais por causa da grande
atividade da glândula tiroide. Aumento de água e fornecimento de sangue significa que as
pregas terão uma massa maior.
Possíveis mudanças na fonação incluem rouquidão, soprosidade, redução da extensão,
particularmente das notas agudas.

HORMÔNIO MASCULINO
O uso de qualquer hormônio que está relacionado à testosterona, o hormônio masculino,
causa mudanças na estrutura das pregas vocais no tocante à forma de aumento de massa,
semelhante àquelas observadas durante o período da puberdade. Se o hormônio é tomado por
um longo período de tempo, o efeito é, às vezes, irreversível. As pregas engrossam e se tornam
irregulares, e os tecidos conectivos dos ligamentos vocais são alterados de forma que a mistura
de registros se torna mais difícil.
O andrógeno estruturalmente relacionado ao hormônio masculino é frequentemente
usado no tratamento de alguns distúrbios endocrinológicos na mulher, como endometriose e
outros. O efeito colateral do andrógeno é tornar a voz mais grave.

ALTERAÇÕES NO TECIDO (PERÍODO CURTO)

RESFRIADO COMUM
O resfriado comum, ao contrário do que se pensa, é transmitido mais por contato de
mão que por um espirro, tosse ou beijo e, portanto, a melhor medida preventiva é lavar as mãos
frequentemente e tentar mantê-las longe da boca e nariz.
Embora o resfriado comum seja uma infecção virótica, ele abre portas para uma série de
infecções bacterianas, como sinusite, bronquite e laringite, o que provavelmente nos
incapacitará por mais de uma semana. O melhor tratamento é o repouso, o aumento de ingestão
de líquidos (pelo menos 10 copos/dia), e permitir seu sistema imunológico trabalhar a seu favor.
Umidade de 40 a 50% no quarto manterá o muco mais fino, aquoso. Em condições normais, o
corpo processa cerca de ¼ ou ½ de muco/dia, e se este se torna mais denso e pouco produzido,
ele irrita a faringe e as pregas vocais.
Para algumas pessoas, gargarejo com solução salina de ¼ de sal (colher de chá) e ¼ de
bicarbonato de sódio (colher de chá) em 1 xícara de água morna ajuda a aliviar a irritação na
faringe. Embora sprays anestésicos e pastilhas sejam usados em inflamações de garganta, eles
tendem adormecer as terminações nervosas. Qualquer medicação que contenha ingrediente com
o sufixo “caína” é um anestésico. Se anestésicos ou pastilhas são usados antes de performances,
o cantor perde a sensibilidade de quanto esforço ele está usando para cantar, pois a ação das
pregas não pode ser monitorada seguramente, uma vez que as terminações nervosas estão
entorpecidas. Dor e/ou aumento da temperatura do corpo é sintoma que algo está errado, e
qualquer substância que mascara a dor é um convite a se cantar de qualquer forma e ignorar as
condições físicas. Em casos de infecção bacteriana grave, o melhor negócio é consultar um
médico.
Vitamina C e anti-histamínicos podem ser usados durante os primeiros dias de muita
coriza, mas ambos têm efeito ressecador, e a ingestão de água deve ser aumentada. Anti-
histamínicos particularmente fazem com que o muco fique mais viscoso (espesso). Além de
anestésicos, os sprays e pastilhas também têm efeito desidratador por causa de seu alto teor de
ácido e açúcar, ambos causadores de viscosidade do muco.
O uso de descongestionantes é um meio favorável à limpeza da congestão nasal e alívio
para a inabilidade de respirar livremente. No entanto, eles causam desequilíbrio dos fluídos da
membrana mucosa e resultam em inchaço do tecido. Além disto, eles podem se tornar um vício
com o uso frequente.

TONSILITE
Tonsilite ou inflamação aguda da garganta ocorre quando as amígdalas e glândulas
linfáticas do pescoço se tornam inchadas e inflamadas, fazendo a deglutição e/ou o conversar
doloroso. Esta condição é geralmente causada por bactérias e pode ser tratada com antibióticos.
As pregas vocais poderão estar avermelhadas e inchadas, e a pessoa quase sem voz, ou a
superfície superior das pregas apresenta-se inalterada, enquanto a superfície mais inferior e a
traqueia estão avermelhadas (traqueíte). A traqueíte dura, em média, de 10 a 14 dias e deve ser
tratada com antibióticos.

LARINGITE
A causa de uma laringite é geralmente um resfriado comum, e pode ser tanto virótico
quanto bacteriano. As membranas mucosas das pregas vocais ficam extremamente vermelhas e
inchadas, e isto causa maior calor e fricção. Às vezes pouca dor de garganta é sentida, mas a
pessoa não pode falar (perde a voz) ou o som fica enfraquecido e tem falhas constantemente.
Sob tais condições, as pregas vocais ficam extremamente vulneráveis ã hemorragias. Aspirinas
não devem ser tomadas, pois ela afina o sangue e pode provocar hemorragias. Repouso vocal é
aconselhadíssimo. Sussurrar não, pois o sussurro é produzido com extrema tensão das pregas
vocais e requer muita compressão medial.
Deve-se evitar cantar quando qualquer traço de laringite estiver presente porque este
tipo de mau uso vocal pode trazer consequências danosas para sempre. Frequentemente a voz
cantada, pelo menos num primeiro momento, parece normal, mas a voz falada evidencia o
embaçamento e rouquidão.

DESORDENS FUNCIONAIS

REFLUXO GASTROESOFÁGICO
Como o próprio termo diz, esta condição acontece quando o ácido gástrico sai do
estômago e atinge o esôfago e órgãos próximos como a laringe. Como e por que isto acontece:
cada 3 ou 4 horas há produção de uma maior quantidade de ácido no estômago com a finalidade
de ajudar na digestão dos alimentos. Caso haja algum problema nos esfíncteres superior e
inferior do esôfago (dilatação ou alargamento), a saída do ácido estomacal em direção ao
esôfago é facilitada. A pessoa pode, então, apresentar sintomas como dor gástrica, azia ou
sensação de queimação (pirose), pigarro aumentado, tosse geralmente entre 10 – 30 minutos
depois da refeição e que pode se tornar crônica, sensação de “nó” ou “bolo” na garganta,
irritação ou ardor na garganta, e maior propensão ao cansaço no falar ou cantar; inchaço,
vermelhidão na região posterior da laringe (esses sinais são vistos apenas com exame da laringe.
O que pode causar o RGE: tabagismo, álcool, gravidez, obesidade (por causa da pressão
que causa dentro do abdômen); alguns tipos de alimentos como frutas ácidas, molho de tomate;
bebidas gasosas ou com temperatura muito alta ou com alto teor de cafeína; comidas muito
gordurosas ou muito condimentadas; medicamentos, hérnia de hiato (parte do estômago se
insere na região acima do diafragma); estresse. Os profissionais que devem ser consultados
quando tais sintomas aparecem são gastroenterologista e otorrinolaringologista.
O refluxo não é uma doença crônica, mas pode se tornar. Para se evitar o mesmo é
importante não ficar sem se alimentar por tempo prolongado (alimentar-se de 3\3 ou de 4\4
horas), mastigar bem os alimentos; evitar ingerir líquido ou mais de 200ml durante as refeições
(de preferência ingerir água 30 minutos ante ou depois); diminuir a ingesta ou evitar frutas e
alimentos ácidos, pimentas, muito consumo de alho e cebola, mostarda, ketchup processados,
frituras (excesso de gordura), excesso de doces e sal; leite e derivados (chocolate, queijos,
iogurte) também podem causar refluxo em algumas pessoas (evitar principalmente antes do uso
intenso da voz – ingerir maçã ou salsão, que são tidos como alimentos adstringentes ou que
“afinam” a saliva, ajudando no não acúmulo de pigarro exagerado); evitar deitar-se logo após as
refeições (observar no mínimo 2 horas de espaço entre a refeição ou 4 horas, caso acompanhada
de ingesta de líquidos); administrar o estresse (terapia, mudança de hábitos, meditação);
hidratação com água (de 15\15 ou 30\30 minutos beba pequenas quantidades do líquido) ou
chás claros, sem cafeínas; manter a hidratação durante o dia (cerca de 35ml para cada quilo do
indivíduo); elevar a cabeceira da cama cerca de 15 cm.

FONAÇÃO PROLONGADA OU USO DEMASIADO DA VOZ


Quando o uso demasiado da voz se torna abuso? Assim como outros atletas, os atletas
da voz são suscetíveis à ferimentos. Por serem performers altamente motivados, os cantores têm
tendência a extrapolar no uso da musculatura vocal, principalmente os adutores das pregas
vocais. Os músculos adutores e abdutores estão entre os mais rápidos em resposta no corpo e,
portanto, o risco de sobrecarregá-los e causar danos ao tecido é sempre alto.
O excesso do uso vocal é, de longe, o mau uso mais comum. Muitos cantores não
reconhecem que há limites à quantidade de tempo que eles deveriam cantar num só dia. O ato de
cantar é como qualquer outra atividade esportiva. O tônus muscular diminui e a habilidade do
músculo para responder rápido e precisamente é perdida. Se o excesso vocal continua por um
longo período de tempo, danos permanentes podem ocorrer.
Fonação prolongada em altas frequências é especialmente perigosa. Quando o músculo
respiratório está cansado, o fluxo de ar se torna pequeno e sob muita pressão subglótica, ou
então há uma flutuação na emissão do ar ao invés de um fluxo contínuo e suave. Em ambos
casos, a respiração, que age como uma almofada para proteger e resfriar as pregas, é
inadequada. Assim, a energia respiratória eficiente é impossível, e músculos inapropriados,
como os falsos elevadores e a raiz da língua, começam a trabalhar. Se a tensão resultante se
torna habitual, a liberdade funcional não será mais possível de acontecer.
Soma-se à fadiga vocal e dos músculos respiratórios o aumento da viscosidade das
pregas vocais. Fricção e desidratação também aumentam.
A prática do canto por 3 ou 4 horas/dia destruirá o órgão vocal mais robusto. Uma hora
e meia por dia, com intervalos, deveria ser o máximo de estudo, e deveria proporcionar
flexibilidade sem risco ou fadiga. O famoso soprano Zinca Milanov disse certa vez: “Nunca dê
mais do que você tem! Este é o maior mal para a voz.”

BIBLIOGRAFIA

BEHLAU, Mara; Pontes, Paulo. Higiene Vocal – Informações Básicas. S.Paulo: Editora Lovise, 1993

BUNCH, Meribeth. Dynamics of the Singing Voice. New York: Springer, 1997.

DINVILLE, Claire. A técnica da Voz Cantada. Rio de Janeiro: Enelivros, 1993.

DOSCHER, Barbara M. The Funcional Unity of the Singing. 2nd edition. The Scarecrow Press, 1994.

EMMONS, Shirlee; THOMAS, Alma. Power Performance for Singers. New York: Oxford University
Press, 1998.

McCOY, Scott. Your Voice: An Inside View – Multimidia Voice Science and Pedagogy. Princeton,
NJ: Inside View Press, 2004.

PINHO, Sílvia M. Rebelo Pinho. Manual de Higiene Vocal para Profissionais da Voz. 2ª Ed. Carpicuiba:
Pró-Fono, 1999.

_______.Tópicos em Voz. São Paulo: Guanabara Koogan, 2001.

_______. Temas em voz profissional. São Paulo: Revinter, 2007.

REID, Cornelius. Voice: psyche and Soma. New York: Music House, 1982.

WARE, Clifton. Basics of Vocal Pedagogy. New York: McGraw-Hill, 1997.

Você também pode gostar