Você está na página 1de 6

O POSICIONAMENTO DO EXÉRCITO NA CAMPANHA DE COMBATE AO

COVID-19

Introdução

A missão do Exército é Servir. Servir Portugal e os portugueses.

Estamos completamente mobilizados para apoiar a população, no pleno


respeito das regras de coordenação superiormente estabelecidas.

É nossa prioridade nesta Campanha de Combate ao COVID-19,


concomitantemente, com a prestação de um apoio oportuno e de elevada prontidão à
população, em conformidade com as necessidades solicitadas, assegurar aos homens
e mulheres que se encontram na linha da frente, a segurança e proteção da
força, garantindo as condições que lhes permitam estar devidamente protegidos,
mitigando o risco de uma eventual infeção.

A abrangência e complexidade da missão do Exército suscita para além das


Operações de Apoio à População, a preservação do potencial humano e a continuidade
da satisfação dos compromissos internacionais. Neste sentido, e relevando a
complexidade da missão do Exército, importa estabelecer a “ponte” com os
cerca de 400 militares, homens e mulheres do Exército, que prestam serviço
no âmbito do esforço subsidiários de Segurança e Defesa, nas Nações Unidas,
na Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO), na União Europeia,
nomeadamente, no Mali, na República Centro africana, na Somália, no Iraque
e no Afeganistão, e para os quais mantemos todos os requisitos de
segurança e proteção dos nossos militares contra a ameaça, que neste caso inclui o
COVID-19.

Da Estratégia à condução da Campanha

Do ponto de vista da operacionalização do Apoio à População é evidente, que a


natureza de missão, focada na dispersão e descontinuidade territorial que caracteriza
Portugal, suscita a condução e o planeamento de uma campanha, focada nas
Capacidades do Exército em apoio às autoridades civis. Logo, o conceito
estratégico e operacional que lhe deveria estar subjacente seria o de considerar o
Exército como o Ramo apoiado e a Marinha e a Força Aérea como apoiantes.
Este conceito operacional e estratégico permitiria ao EMGFA concentrar-se na Saúde
Militar, vide Hospital das Forças Armadas, descentralizando no Exército a
condução da campanha, viabilizando uma diminuição de níveis hierárquicos,
em proveito de uma adequada e coerente definição de prioridades,
nomeadamente, com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
Até à presente data, o Exército, numa abordagem abrangente da Campanha,
Página 1 de 6
tem determinado prioridades – Grandes Centros, focos da epidemiologia de
Norte para Sul e ordem cronológica dos pedidos -, de forma a assegurar um
racional estratégico de cariz nacional para a satisfação dos pedidos, num
contexto de Campanha.

O Exército, em 08 de março de 2020, desenvolveu o Plano de


Contingência COVID-19, sustentado numa equipa multidisciplinar. Com a
participação do Grupo de Comando do CFT, o Estado-Maior do CFT, de representantes
dos Órgãos Centrais de Administração e Direção, da Academia Militar, do Regimento
de Apoio Militar de Emergência, de médicos, epidemiologistas, do Exército, foram
desenvolvidos cenários em harmonia com o conhecimento científico e incertezas
associadas ao desenvolvimento da pandemia. A operacionalização do plano de
contingência, materializou-se com o posicionamento prospetivo do Exército
nesta Campanha, refletido na decisão, de com esta equipa multidisciplinar de criar,
de imediato, uma célula de resposta (CR).

Para operacionalizar o plano, por determinação do Comandante do


Exército, com descentralização no Comandante das Forças Terrestres, a CR
de natureza multidisciplinar, ativou proativamente medidas e ações de prevenção e
mitigação, no Exército, para a Campanha de Combate ao COVID-19, com ênfase nas
linhas de ação estratégicas seguintes: Preservar o Potencial; Assegurar os
Compromissos Internacionais; e Apoio à População. A descentralização da conduta
da Campanha na CR, empenhada 24/7, assegurou agilidade e fluidez na
resposta operacional do Exército, de acordo com a intenção do Comandante,
aos pedidos de apoio que nos foram enviados, em torrente, pelo EMGFA e por vezes
de diferentes autoridades, não diretamente ligadas às medidas de coordenação e fluxo
de informação instituídas: ANEPC, EMGFA e Exército. Releva-se ainda nas ações
essenciais do funcionamento da CR, o desenvolvimento de um modelo de relatório de
situação diário (SITREP) que permitiu identificar quantitativos humanos, de materiais,
de eventos realizados e eventos futuros, do Exército, no contexto da Campanha. Esta
coerência de informação, resultante do esforço de todo o Exército, alavancou o
desenvolvimento digital do portal COVID-19, sustentado no software
Bussiness Intelligence, que na continuidade do desenvolvimento do portal
de apoio à decisão da estrutura superior de Exército, representa o nosso
posicionamento para a digitalização dos processos, na análise de grandes
quantidades de dados, para com menos recursos, aperfeiçoar o apoio à decisão, e
incrementar o produto operacional, neste caso materializado na Preservação do
Potencial Humano, no Assegurar dos Compromissos Internacionais e na eficiência e
oportunidade na concretização do apoio prestado pelo Exército, nesta fase, referido a
06 de abril de 2020, a mais de 92 entidades de 69 municípios, no Continente, Açores e
Madeira. Neste processo releva-se a decisiva importância da Confiança na

Página 2 de 6
estrutura de comando do Exército, da descentralização e digitalização de
processos, para empreender com ímpeto uma elevada adaptação ao
ambiente operacional, testemunhada, por uma elevada prontidão dos
Elementos da Componente Operacional do Sistema de Forças e das Forças de Apoio
Geral, na execução das missões atribuídas.

A Utilidade do Sistema de Forças Nacional: Operações, Solidariedade e


Saúde

Os dados obtidos na presente data, enfatizam a ligação umbilical do


Exército ao povo português, potenciada pela dispersão do seu Sistema de
Forças Nacional. O Exército assegura o apoio à população, com evidência utilidade,
nomeadamente, no Estado de Emergência, através da abrangente localização
geográfica de infraestruturas Regimentais e de Grandes Unidades e outras Forças de
Apoio Geral, de Chaves a Tavira, Açores e Madeira. Enfatizar que a Força Aérea
tem apoiado o Exército no reabastecimento para os Açores e Madeira, de artigos
necessários à prevenção e combate ao COVID-19.

A sistematização que aqui sugerimos para caracterizar o abrangente apoio do


Exército às entidades civis, a mais de 92 entidades de 69 municípios, articula-se em
três domínios: Operações, Solidariedade e Saúde.

Nas Operações, destacamos a execução de missões táticas de


descontaminação, realizadas pelo Elemento de Defesa Biológica, Química e Radiológica
(ElemDefBQR), em Resende, Vila Real e Melgaço. Este nicho de Excelência do
Exército que conta com cerca de 10 anos de investimento do Exército na
edificação desta Capacidade, foi desenvolvido através do aperfeiçoamento
operacional das tarefas essenciais para o cumprimento da missão, onde a realização do
exercício setorial do Exército, designado de CELULEX, com forte crescimento
internacional a partir de 2015, muito contribuíram para um aperfeiçoamento contínuo
do ElemBQR, sustentado nas melhores práticas internacionais, no âmbito do combate
ao Ébola e Antrax. Este ElemBQR trabalha em estreita ligação com a Unidade Militar
Laboratorial Biológica, Química (UMLBQ) do Exército. Esta UMLBQ têm realizado
projetos de Investigação, Inovação e Desenvolvimento (I2D), envolvendo
Universidades, a Academia Militar, Empresas e o ElemBQR, dos quais se revela a
validação do emprego de um descontaminante para o combate ao Ébola, Antrax e
agora para o COVID-19, que quando aplicado com atomizadores ou nebulizadores,
permite destruir com elevada eficiência o vírus em apreço. Como se compreende, o
conceito de descontaminação, nomeadamente, biológico e químico, exige capacidades
com competências, doutrinárias, técnicas, científicas e tecnológicas que não
se replicam no imediato e que requerem peritos devidamente certificados
(i.e., detentores do curso de NBQ, ministrado no Exército).

Página 3 de 6
Atualmente o Exército, avaliando prospetivamente a tendência de
incremento de pedidos de apoio para desinfeção 1 de infraestruturas,
ambulâncias e outros locais, iniciou em 06 de abril de 2020, um processo de formação
de cerca de 200 militares, homens e mulheres, no RE1 e RE3, para se constituírem
cerca de 40 equipas de desinfeção, validadas, para atuarem no país de acordo com os
pedidos das entidades civis, que venham a ser formalizados.

Na Solidariedade, gostaríamos de relevar o esforço de cariz


administrativo-logístico, que tem abrangido todo o país, pelas quantidades e
dimensão dos apoios, materializados com a entrega de camas, camas de campanha,
tendas, citando como exemplo, os apoios prestados ao Hospital edificado no palácio da
Rosa Mota, no Porto, e o apoio com camas e no transporte de alimentação, diária, no
Hospital Santa Maria em Lisboa. Por outro lado, o Exército sustentado na sua
implementação territorial, em apoio ao Ministério da Saúde, disponibilizou
Centros de Acolhimento (CA), no continente, Açores e Madeira, que pelo
respeito da Dignidade Humana e em apoio ao Sistema Nacional de Saúde,
estão a ser preparados para acolher pacientes infetados, em espaços, especialmente
preparados e confinados, em determinadas unidades militares. Constitui
responsabilidade do Ministério da Saúde, através do Sistema Nacional de Saúde,
assegurar o apoio médico necessário para os pacientes, que se pretendem não ser de
alto risco, a acolher nos CA. Complementarmente, realizamos diariamente, em
Lisboa, a distribuição de refeições aos sem-abrigo.

Na Saúde, gostaríamos de descrever o desempenho do Laboratório


Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, no âmbito do armazenamento e
distribuição da Reserva Estratégica de Medicamentos e de Equipamentos de proteção
Individual, bem como a produção de desinfetante (2700 litros diários), satisfazendo as
necessidades do Sistema Nacional de Saúde. De referir o reforço do módulo
Sanitário do Exército ao HAFAR, com a finalidade de prestar apoio aos militares e
Família Militar, bem como às Forças de Segurança, no âmbito desta Campanha de
Combate ao COVID-19. Ainda em complemento do SNS, a UMLBQ realiza por
dia aproximadamente, 50 testes de COVID-19, permitindo mitigar cadeias de
transmissão do COVID-19. Os psicólogos do Exército neste momento encontra-
se também empenhados no apoio, necessário, aos militares que participaram em
ações de apoio aos lares e ainda a militares em situação de quarentena que suscitem
um acompanhamento adicional. Resulta desta descrição que o empenhamento dos
médicos militares é elevada, tanto no polo hospital do Porto, como no HFAR em

1 Atividade menos complexa do que a descontaminação, exigindo menos competências, embora,


requerendo formação específica. A desinfeção obtém a destruição do vírus, ficando, no entanto, aquém
da eficiência dos resultados da descontaminação.
Página 4 de 6
Lisboa, admitindo-se que a anunciada reabertura do Hospital em Belém, com cerca de
150 camas, venha a incrementar a taxa de esforço atual.

O Futuro está Aberto: Confiança, Resiliência e Inovação

O Futuro está aberto. Existem biliões de possibilidades e existem muitos


Futuros. No entanto, também, deve a Sociedade Civil, contribuir para o Futuro, que
melhor corporize a saída desta pandemia e nos permita dispor das ferramentas para
alavancar o desenvolvimento sustentável de Portugal e das Organizações
Internacionais onde nos inserimos.

Assim, pretendemos destacar a Confiança, a Resiliência e a Inovação,


como os vetores promotores de Segurança e de Desenvolvimento Sustentável
relevando os seguintes aspetos:

Confiança, nas Instituições, no Capital de Conhecimento e nas Pessoas, para


que com determinação - O Povo Português é determinado; A história prova-o -, o
compromisso da vontade de vencer, seja uma realidade.

Resiliência, que no resultado da dialética da ação conhecimento, cada


período vivido, menos bom, nos torne mais fortes – antifrágeis –, significando esta
atitude, numa perspetiva otimista-realista, a procura incansável do aperfeiçoamento
contínuo. Com este posicionamento, todos seremos elos de uma Vontade Global para
obter sucesso nesta Campanha de Combate ao COVID-19, e desejavelmente,
contribuindo para a estratégia de saída desta Campanha para os desafios de
Desenvolvimento que nos aguardam, no 2º semestre 2020 e 2021, onde Portugal terá
a presidência da União Europeia.

Inovação, aqui referida como o fator que nos deve trazer a Vantagem
Competitiva que necessitamos para vencer a Campanha e estruturar a estratégia
de saída. Esta Campanha de Combate ao COVID-19 é Global. Nesta Campanha não
há Guerreiros isolados. Portugal não está sozinho, nem se deve isolar neste,
nem em outros combates.

A União Europeia (EU) é um ator Global contribuindo para o apoio do sistema


Internacional, numa abordagem integrada e multilateral, em coordenação com
as Nações Unidas, outras Organizações Internacionais (NATO), Instituições
Financeiras Internacionais, assim como o G7 e G20.

Um apelo à brilhante comunidade científica de Portugal, às Universidades, às


Pequenas Médias Empresas (PME), à Sociedade Civil, para que nos diferentes fora,
empreendam projetos, financiados pela UE, otimizando as redes de
descentralização e de digitalização do Capital de Conhecimento, promovendo
soluções para derrotar o COVID-19 e, que prospetivamente, contribuam para a
estratégia de saída desta Campanha, desenvolvendo soluções para o curto e médio
Página 5 de 6
prazo. Relembramos, que a Comissão Europeia, aprovou em 04 de abril de 2020, o
auxílio estatal no valor de 13 mil milhões de euros, direcionado para as PME e
grandes empresas, com a finalidade de assegurar a continuidade das suas atividades.
Outros exemplos de incentivo estão em curso (i.e., Segurança e Defesa) pelo que a
rentabilização destas ferramentas financeiras são desejáveis.

No plano interno é olhar para os exemplos otimistas-realistas que se começam


a verificar e que, se julgam, merecer uma divulgação com cariz pedagógico:

 As empresas de moldes e de têxteis que transformaram as linhas de


produção para produzir viseiras e máscaras. Os pedidos chegam de todo
o Mundo;

 A indústria conserveira em Portugal que incrementou a sua produção


contribuindo para diversificar a oferta no mercado Internacional.

Exortamos, assim, para que estes exemplos se repliquem nos diferentes fora,
expressos anteriormente (vide a possibilidade de crescimento da telemedicina),
posicionando Portugal para derrotar o COVID-19, e obter sucesso no curto
médio-prazo, de acordo com as novas realidades que se prospetivam.

O Futuro está aberto.

Juntos somos mais Fortes.

Pedro Brito Teixeira

Cor Inf

Página 6 de 6

Você também pode gostar