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denuncia póstuma de um negro

Negro, é isso que eu sou, um negro, é porque sou negro que o segurança do
supermercado me revista antes de sair, é porque sou negro que o reitor da universidade que
eu dou duro para pagar, me olha como se eu não tivesse futuro, é por que sou negro que os
meus colegas de turma não falam comigo e me olham com indiferença, eu não entendo
porque eu sou culpado de algo que eu não escolhi.

Eu tinha sim amigos que não são racistas, eu tinha sim uma mãe amorosa que nunca me
deixou passar necessidades, eu tinha um estilo maneiro, estava me formando na universidade e
apesar do preconceito sempre presente eu não tinha do que reclamar; Eu tinha uma vida igual a
de qualquer ser humano, eu estudava fazia uns bicos quando as contas apertavam, eu saía com
meus amigos, gostava de uma menina legal que aliás foi por causa das nossas cores que eu fui
assassinado.

Ana era o nome dela, nos conhecemos na universidade e viramos grandes amigos, no
decorrer desta amizade eu fui aos poucos me gostando mais e mais dela. Foi em um sábado a
noite que combinei com ela e alguns amigos de sairmos para comer em uma lanchonete e vadiar
um pouco, primeiro fomos a uma praça rimos muito, relembramos historias e momentos bons,
fomos comer duas grandes pizzas éramos um grupo de cinco pessoas bastante animado, as horas
passaram e foi ficando tarde e resolvemos voltar para nossas casas, eu muito cortês quis deixar
Ana até onde teríamos que nos separar.

Nossa conversa no caminho era engraçada e nervosa, as vezes eu desaparecia debaixo


das sombras das arvores, as vezes a lua refletia na pele alva dela, quando chagamos no
cruzamento onde nos separaríamos, ela parou bruscamente, me encarou, e se aproximou de mim
deixando seu corpo praticamente colado no meu, passou a mão por cima dos meus ombros e me
beijou, eu fui aos poucos segurando sua cintura até ter coragem suficiente para abraça-la com
mais vontade, foi quando nosso beijo foi interrompido por um grito grave ainda distante.

Quando olhamos, havia três rapazes, não três rapazes qualquer, eram três rapazes
brancos, eles se aproximaram rápido, me chamaram de macaco, arrancaram a Ana dos meus
braços, me insultaram e quando eles começaram a me bater me e me chutar, disseram que era
para que um preto como eu aprendesse a não mexer com suas garotas, e continuaram proferindo
golpes, eu ainda conseguia ouvir a Ana chorar e tentar se soltar, só eram duas pessoas mas eu
não conseguia mais me mexer, eles disseram a ela que um preto favelado que nem eu não
merecia as lagrimas dela, ai eu desfaleci. estes rapazes me mataram e você, até onde o seu
preconceito vai?

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