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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

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TRIBUNAL ADMINISTRATIVO PROVÍNCIAL DE MANICA

Processo n.º 2923/2019

ACÓRDÃO N.º /V/2019

Acórdam, em conferência, no Tribunal Administrativo Provincial de Manica:

I. RELATÓRIO

1. O Conselho Municipal da Vila de Gondola, doravante designado por(CMVG),


com sede na cidade de Chimoio, sita na N6-Zona de Expansão, bairro Bela Vista,
submeteu nesta instância jurisdicional para efeito de fiscalização prêvia, o Contrato
Administrativo n.º 01/UGEA/CMVG/FE/2019, em observância ao disposto do n.°1 do
artigo 60 conjugado com o artigo 61 ambos da Lei n.º 14/2014 de 14 de Agosto,
alterada e repúblicada pela Lei 8/2015 de 6 de Outubro.

2. Trata – se do contrato celebrado entre a entidade supra-mencionada, representada no


acto pelo Presidente CMVG, Sr. Arlindo Cesário Ngozo na qualidade de entidade
contratante e a empresa Nazcon-Nazário Construções, Lda, representada pelo
proprietário senhor Sr. João Ricardo Ellis Costa dos Santos, como entidade contratada.

3. Definiu – se como objecto de contrato o fornecimento e colocação de Pavés ao


CMVG, tendo sido fixado o preço de 9.000.000, 00 Mt (Nove milhões), como valor
contratual.

4. Compulsados os autos, constatou-se que o processo foi instruido em duplicado,


conforme no abrigo n.º 2 do artigo 69 da Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto, alterado e

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republicado pela Lei n.º 8/2015, de 6 de Outubro, o mesmo contém varios elementos
instrutórios:

 Nota n.º 204/024-12/CMVG/2019, de 11 de Novembro, subscrita pelo Gabinete


do presidente do CMVG, referente ao invio do expediente ao Tribunal;
 Oficio n.º 865/V-TAPM/2019, de 17 de Setembro, referente á Devolução do
contrato em causa;
 Contrato n.º 90G000453/N.º12/UGEA/CMVG/2019;
 Informação Proposta n.º 90G00453/CP/N.º 01/2019, referente a instauração de
procedimento de contratação;
 Informação Proposta n.º 90G00453/CP/N.º 01/2019, referente a solicitação a
autorização para o lançamento do concurso;
 Informação Proposta n.º 90G00453/CP/N.º 01/2019, relativo a designação de
Júri;
 Comunicação à Unidade Funcional de Supervisão das Aquisições;
 Relatório de Avaliação do Contrato Público especifico e não descritivo;
 Mapa de quantidade do material;
 Declaração de Cabimento de Verba do concurso;
 Anúncio de concurso publicado na imprensa( no jornal);
 Anúncio de adjudicação publicado na impresa;
 Lista dos concorrentes do concurso;
 Acta da sessão de abertura das propostas;
 Certificado de Habilitação Literario equivalente;
 Curriculum Vitae;
 Bilhete de Identidade;
 Declaração da contratante;
 Informação Proposta n.º 90G00453/CP/N.º 01/CMVG/2019, relativo à
Recomendação de decisão;
 Notificação de decisão;
 Comunicação de Adjudicação n.º 90G00453/CP/N.º 01/CMVG/2019;
 Convocatória para assinatura do contrato;
 Notificação de adjudicação da Empresa contratada;
 Fundamentação do Júri;

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 Acta de Negociação do Valor de Contrato final;
 Alvara n.º 15/OP2/021T/2019, emitido aos 14 de Maio de 2019, da Empresa
Nazazcon Nazário Construções, Limitada;
 Declaração emitida pelo Tribunal Judicial da Provincial de Manica;
 Certidão de quitação emitida pelo Instituto Nacional de Segurança Social;
 Certidão n.º 1832/2019, emitida pela Autoridade Tributaria de Chimoio;
 Certidão n.º 407/DP/PM/INE/2019, emitida pelo Instituto Nacional de
Estatistica, Delegação Provincial de Manica;
 Certidão de Inscrição da Empresa Nazcon - Nazário Construções Lda no
Cadastro Único da UFSA; e
 Caderno de Encargos

II. Fundamentação

5. Em analise dos autos do processo supra citado, que o Conselho Municipal da Vila de
Gondola no dia 06 de Setembro deu entrada no Tribunal Administrativo da Provincia de
Manica, o mesmo Tribunal devolveu no dia 17 de Setembro, para a entidade
Contratante juntar o Certificado de qualificação, comprovativo da Comunicação à
UFSA, Cabimento de Verba, Anúncio de adjudicação Públicado no jornal, Relatório de
Avaliação, garantia provisória, garantia definitiva, indicar a cláusula do foro judicial,
certificado de habilitações literaria e proficional dos responsaveis pela execução do
projecto e que o contrato se encontrava em execução prévia ilegal.

6. O Contrato em epigrafo, aquando da sua reentrada, no dia 27 de Novembro do ano


em curso, deu entrada nesta jurisdição Administrativa a nota n.º 204/024-
12/CMVG/2019, na qual refere que “Em resposta do oficio n.º 865/V-TAPM/2019, a
entidade não juntou o Certificado de qualificação referente ao códico (SC3) no que diz
o certificado de pavês a serem usados, a garrantia provisoria e por fim o Relatório
descrito”.

7. Outrossim, segundo a informação prestada pela entidade Contratante que faz mensão
da nota de envio do expediente em resposta à devolução enviada pelo Tribunal
Administrativo que diz que o contrato anteriormente celebrado se encontrava em
execução, porque o mesmo mencionava que produz efeitos apenas com a assinatura das

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partes, sem a prévia submissão ao Tribunal Administrativo para obtenção do visto,
tendo apenas como fundamento a emergencia derivada da situação causada pelo ciclone
IDAI, o que ja não se verifica no contrato actual uma vez que o mesmo indica que a
obras terão o inicio após o Visto do Tribunal Administrativo, contrariando a Legalidade
do mesmo.

8. Ora vejamos, relativamente a esta situação o Tribunal deu uma oportunidade para que
a entidade contratante se pronunciase e retratasse com vista a sanar as irregularidades,
mas entidade contratante achou que já estava tudo anexo se esquecendo dos requisitos
Legais exigidos pelo Decreto n.º 5/2015, de 6 de Outubro, que aprova o regulamento
das empreitadas.

III. DO DIREITO

9. A instrução procesual deve conformar-se com as disposições do Regulamento de


Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de
Serviço ao Estado, aprovado pelo Decreto n.º 5/2016, de 8 de Março, na Lei n.º 8/2015,
de 6 de Outubro, que altera e republica a Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto, bem como
das instruções de Execução Obrigatória do Tribunal Administrativo, de 30 de Dezembro
de 1999, publicadas no B.R. n.º 52, I Série, IV Suplemento.

10. Por outro lado, do conteudo do Relatório da Avaliação constante do processo, não
faz uma clara especificação em descritivo, pese embora mencionam o critério
conjugado, onde traz duvidas, dentre os vários concorrentes com o valor contratual
baixo a que cabe no valor estimado do concurso foram adjudicar uma Empresa com o
valor contratual inicial de 9.894.728,06Mt e em seguida foram negociar para a redução
do mesmo para adequar ao valor estimado no concurso que é de 9.000.000,00 Mt.

11. Certo é que, com esta norma geral importa referir que quando se trata de concurso
publico temos que seguir os requisitos Legais pre difinidos, com pena de atropelarmos a
Lei, logo a entidade contratante não se ilustrou no critério conjugado.

12. Na verdade, o contrato ilustra que foi celebrado no dia 08 de Julho do ano em curso,
o que demostra que se encontra em execução, onde a entidade assume e ao mesmo
tempo contraria-se no contrato posterior dizendo que os efeitos são após o visto do
Tribunal Administrativo, dando a entender fazer distrair o Tribunal.

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13. Assim o acordo entre as partes facilmente ira colidir com a natureza e efeitos do
Visto, previsto no artigo 61 da Lei n.º 14/2014, de 14 de Fevereiro, alterada e
repúblicada pela Lei n.º 8/2015, de 6 de Outubro, segundo o qual “ O Visto constitui um
acto jurisdicional condicionalmente da eficácia global dos actos e mais instrumentos
legalmente sujeitos à fiscalização prévia.”

14. Ademais, a execução de um contrato, nunca pode ser feita antes da submissão do
processo à fiscalização prévia, isto é, qualquer acto só é exequivel a partir da data do
visto do Tribunal Administrativo, porque constitui uma infracção financeira, nos termos
previsto da alinea b) do n,º 1 do artigo 98 da Lei n,º 14/2014, de 14 de Agosto, alterada
e republicada pela Lei n.º 8/2015, de 6 de Outubro.

15. Perante o exposto, constata –se ainda, que o contrato não apresenta outros elementos
instrutórios, nomeadamente:

 A garantia provisória, prevista do n.º 2 fo artigo 103 do regulamento de


Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimentos de Bens e
Prestação de Serviços ao Estado, aprovado pelo Decreto n.º 5/2016, de 8 de
Março.
 O comprovativo da remessa à UFSA, com o carimbo de acusação da recepção
naquela entidade domiciliada em Maputo, nos termos previstos no artigo 99 do
Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimentos
de Bens e Prestação de Serviços ao Estado, aprovado pelo Decreto n.º 5/2016, de
8 de Março.

16. Perante tais irregularidades, o contrato sub judice não reúne os requisitos legais para
a concessão do visto.

IV. DECISÃO

Nestes termos, pelos fundamentos expostos e ouvido o Digno Magistrado do Ministerio


Público junto dos Juizes de Direito do Tribunal Administrativo Provincial de Manica,
acordam em:

 Recusar o visto solicitado pelo Conselho Municipal da Vila de Gondola, relativo


ao Contrato n.º 90G000453/N.º 12/UGEA/CMVG/2019, por não reunir

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condições e por intempestividade da submissão à fiscalização prévia decorrente
da execução prévia ilegal, nos termos previsto da alinea c) do artigo 77 da Lei
n.º 8/2015, de 6 de Outubro, que altera e república a Lei n.º 14/2014, de 14 de
Agosto.
 Ordenar a instauração de processo de multa contra o sr. Arlindo Cesário Ngozo-
Presidente do CMVG, a sra. Cremilda Elzira Mario-Vereadora das Finanças e o
Sr.Laviano Gervásio Benedito- Chefe da UGEA, por prática da infração
financeira prevista e punida nos termos da alinea b) do n.º 1 do artigo 98 da Lei
n.º 14/2014, de 14 de Agosto, alterada e republicada pela Lei n.º 8/2015. De 6 de
Outubro, concretamente na, “Execução do acto sem prévia sujeição ao Visto”.

Não dão os devidos emolumentos.

Registe e notifique-se ao Ministerio Público para nos termos do disposto no artigo 38 da


Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto, alterada e repúblicada pela Lei n.º 8/2015, de 6 de
Outubro e o Conselho Municipal da Vila de Gondola, para querendo, interpor recuso,
no prazo de 10 dias, nos termos do estabelecido nos artigos 118 e 119 da Lei supra
citada.

Chimoio, aos 11 de Dezembro de 2019

Casimiro Carlos Cossa – Relator

Nelson Donaldo Taylor

Euridice Dina Cardoso Mafuiane

Nelson Francisco Cumbi

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Pelo Ministério Público

Inacio Vumbuca – Procurador da República Principal

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