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FACULDADE SANTA MARIA DA GLORIA

DEYVID THIAGO APARECIDO FARFOS

DUMPING SOCIAL E SUA ASSOCIAÇÃO COM TRABALHO


ANÁLOGO AO ESCRAVO

MARINGÁ
2019
DEYVID THIAGO APARECIDO FARFOS

DUMPING SOCIAL E SUA ASSOCIAÇÃO COM TRABALHO


ANÁLOGO AO ESCRAVO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Direito
da Faculdade Santa Maria da Gloria sob
Orientação da Prof. Me. Muriana
Carrilho Bernardineli, como parte dos
requisitos necessários a obtenção de
titulo de Bacharel em Direito.

MARINGÁ
2019
DEYVID THIAGO APARECIDO FARFOS

DUMPING SOCIAL E SUA ASSOCIAÇÃO COM TRABALHO


ANÁLOGO AO DE ESCRAVO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Direito
da Faculdade Santa Maria da Gloria sob
Orientação da Prof. Me. Muriana
Carrilho Bernardineli, como parte dos
requisitos necessários a obtenção de
titulo de Bacharel em Direito.

Maringá, de Junho de 2019

BANCA EXAMINADORA

______________________________
Prof Me. Muriana Carrilho Bernardineli

_____________________________
Examinador 01

_____________________________
Examinador 02
DEDICATORIA

Dedico estre trabalho a Deus por minha vida, família e amigos.

A minha professora, Muriana, pela excelente orientação nesse trabalho e de imensa


contribuição a minha formação acadêmica.

Aos meus amigos e colegas de faculdade pela convivência e atenção dedicada


nesses anos de luta.

(Dentre eles, em especial, a Leticia pela fraternidade e carinho para comigo)

Aos meus pais, Vilmar e Eliana que me deram apoio, incentivo nas horas difíceis, de
desanimo e cansaço.

Aos meus irmãos Diego, Glenda, Glicia e Vitor pelo amor, incentivo e apoio
incondicional.

Ao meu namorado, Samuel que me fortaleceu e que para mim foi muito importante.

Ao meu avô Antenor, que segue vivo em minhas memórias.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte de minha formação, meu muito
obrigado.

Obrigado a todos, eu vos amo!


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para lutar por esse sonho.

Aos meus pais por serem minha base, minha fortaleza e onde eu recupero minhas
energias.

Aos meus avos que carregaram esse sonho comigo.

O meu muito obrigado!


EPIGRAFE

“Por que, afinal, furtar alguns pães é


crime e não o é subtrair o fruto do
trabalho e esforço humano?”
(autor desconhecido)
RESUMO
A discussão acerca do Dumping Social e seu reflexo na sociedade expõe
alguns detrimentos acarretados pela prática deste instituto, isso se dá pelo fato de
empregadores, visando a maximização de seus lucros, cometer ilícitos nos direitos
e também nas garantias trabalhistas prejudicando toda a cadeia econômica. É
possível afirmar em tese que quando o governo deixa de arrecadar tributos
trabalhistas que serviriam para manter programas sociais ou quando empresas
deixam de fornecer ambiente adequado aos trabalhadores causando a estes
doenças laborais que geram gastos no sistema público de saúde e previdenciários
causando assim rombo na esfera das políticas públicas e sociais do país. Com isso
entende-se que todos esses gastos provenientes da prática do Dumping Social
prejudica toda a ordem social e econômica do estado.

Palavras-chave: Dumping Social. Direitos trabalhistas. Trabalho


análogo ao escravo
ABSTRACT

The discussion about Dumping Social and its reflection in society exposes some
of the detriments caused by the practice of this institute, this happens because
employers, searching to maximize their profits, commit illicit in the worker’s rights
and also in their labor guarantees praying the entire economic chain. It is possible
to affirm when the government stops collecting taxes that would serve to maintain
social programs, or when companies fail to provide adequate work environment,
causing to them labor diseases, that generate public spending on health and
pensions, causing damage in the sphere of public and social policies of the country.
In this way, all the expenses resulting from the practice of Dumping Social, damage
the entire economic and social order of the state.

Keywords: Social Dumping. Work analogous to slavery. Labor Law.


ABREVIATURAS
OIT – Organização Internacional do Trabalho
ANAMATRA – Associação nacional dos magistrados da justiça do trabalho
ONU – Organização das nações unidas
DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos
CLT – Consolidação das leis trabalhistas
FGTS – Fundo de Garantia do Trabalhados Segurado
INSS – Instituto Nacional Seguridade Social
CONATRAE - Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo
OMS – Organização Mundial da Saúde
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10
1. CONCEITO DE DUMPING SOCIAL 12
1.1 DESIGNAÇÃO DO DUMPING SOCIAL 13
2 DUMPING SOCIAL NO BRASIL 15
3 DUMPING E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO 16
3.1 MEIO AMBIENTE 16
3.1.1 Meio Ambiente de Trabalho 17

4 TRABALHO ANÁLOGO AO ESCRAVO E DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA 19

4,1 TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO 20

4.1.1 Trabalho análogo ao de escravo correlacionado

ao Dumping Social 22

4,2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 24

4.2.1 Trabalho digno 26

5 DUMPING SOCIAL E O PREJUÍZO CAUSADO PELA SUA PRATICA 29


5.1 DUMPING SOCIAL E O DANO AO TRABALHADOR

INDIVIDUAL 29

5.2 DUMPING SOCIAL E O DANO COLETIVO 30

5.2.1 Dumping Social e o prejuízo causado a sociedade 32

6 LEGITIMIDADE, COMPETÊNCIA E INDENIZAÇÃO EM FACE DO


DUMPING SOCIAL 34
6.1 LEGITIMIDADE PARA O COMBATE AO DUMPING SOCIAL 34
6.2 ÓRGÃO COMPETENTE PARA JULGAR O DUMPING SOCIAL 35
7 REFLEXÕES FINAIS ACERCA DO TEMA ABORDADO 39
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40
REFERENCIAS 42
10

INTRODUÇÃO

O Direito do Trabalho nasceu como reação ao cenário que se apresentou


durante a Revolução Industrial que fomentou a crescente e incontrolável
exploração desumana do trabalho. Trata-se de uma das consequências da classe
trabalhadora, ocorrida no século XIX, contra a utilização sem limites do trabalho
humano.
Após o advento da revolução industrial, que ocorreu em meados do século
XVIII, a classe trabalhadora passa a sofrer um grande aumento de abusos cometido
com relação aos direitos trabalhistas. Com o decorrer do tempo e o
desenvolvimento da sociedade o Direito do Trabalho que se ergue como medida
protetiva dos trabalhadores desenvolvendo legislações e tratados na conquista por
direitos trabalhistas.
Muito embora os avanços da legislação trabalhista brasileira e a diversidade
de direitos e garantias proporcionadas aos trabalhadores (horas extras, descanso
semanal remunerado, gratificação natalina, férias, adicional noturno, entre outros),
muitas empresas desrespeitam o regramento jurídico e submetem seus
trabalhadores a condições precárias e injustas de trabalho.
A falta de pagamento de salário ou de verbas rescisórias devidas e da
contribuição previdenciária, estabelece uma crise em todo o sistema econômico.
Ao desrespeitar a legislação trabalhista resulta numa quebra do pacto social,
concebido a partir da Constituição Federal de 1988. O detrimento causado pelo
dano social à todo o coletividade excede os limites do direito patrimonial. Atinge
toda a classe operária, dos quais a mão de obra justifica a realidade inerente da
própria empresa.
No momento em que a empresa se utiliza da supressão de direitos
trabalhistas para diminuir seus custos de produção acaba prejudicando não apenas
os trabalhadores diretamente atingidos como também a sociedade e o princípio da
livre concorrência, trazendo como consequência direta para as relações de
trabalho, cabendo citar, a sua crescente desvalorização.
A grande preocupação com os efeitos resultantes da crise econômica no
mercado interno e a busca por maior competitividade entre as empresas tem
evidenciado ainda mais este tipo de prática injusta de submissão do trabalhador a
11

condições degradantes e até formas de trabalho escravo. Na tentativa de reduzir


os custos de produção, os empregadores optam por desrespeitar a legislação
trabalhista a fim de reduzir os custos do trabalho e tornar o preço de seus produtos
mais competitivos. Essa prática reiterada das empresas enseja a necessidade de
tutela do empregado pelo Estado, na figura do Juiz, o que proporcionou a criação,
no âmbito interno, do fenômeno do dumping social, que vem sendo
reconhecidamente aplicado pela jurisprudência atual.
A importância tema proposto se justifica, na atualidade, pela grande
repercussão social, posto que o mesmo vem sendo discutido no âmbito da OMC
com maior preocupação para o comércio do que propriamente com os Direitos
Sociais dos trabalhadores. Dessa forma, torna-se importante os estudos a respeito
do tema, com uma maior preocupação aos direitos sociais e trabalhistas.
O presente trabalho propõe-se a analisar o Dumping Social e suas
características, descrevendo sobre Trabalho Escravo Contemporâneo, como
também o prejuízo causado no âmbito social envolvendo o presente tema,
utilizando com base em artigos, livros, jurisprudências, julgados e legislações, com
a finalidade de informar e evidenciar como identificar e caracterizar o Dumping bem
como a utilização da mão de obra análoga ao de escravo no mercado econômico
global.
12

1 CONCEITO DE DUMPING SOCIAL

O termo Dumping origina da língua inglesa e provém do verbo dump que


em tradução livre significa despejar ou esvaziar, já o vocábulo Dumping Social é
utilizado para definir a prática utilizada por grandes empresas para a
comercialização de produtos com preços baixos em relação ao mercado, resultante
do desrespeito às legislações trabalhista.
Sintetizando, isso ocorre na prática por empresas que visam dominar o
mercado e assim comercializando seus produtos a baixo custo e superando os
concorrentes e motivando uma desleal concorrência.
Jorge Luiz Souto Maior é, atualmente, um dos maiores defensores da teoria
do dumping social no mercado interno.
É bem verdade que a expressão “dumping social” foi utilizada,
historicamente, para designar as práticas de concorrência desleal em
nível internacional, verificadas a partir do rebaixamento do patamar de
proteção social adotado em determinado país, comparando-se sua
situação com a de outros países, baseando-se no parâmetro fixado pelas
Declarações Internacionais de Direito. No entanto, não é, em absoluto,
equivocado identificar por meio da mesma configuração a adoção de
práticas ilegais para obtenção de vantagem econômica no mercado
interno.1

Nesta conjuntura observa-se que a prática desse instituto não prejudica


somente o trabalhador, mas também causa desequilíbrio financeiro no mercado
interno econômico e em toda a sociedade principalmente nas classes de minorias
e em situações de risco, como exemplo podemos analisar crianças submetidas ao
trabalho infantil e de pessoas em condições análogas à escravidão. Por sua vez,
Grieco2 destaca que o instituto está “[...] relacionado a menores custos da
produção, como consequência de baixos salários e menos proteção social
concedida a trabalhadores menores ou semi-escravos”.

Mayorga e Uchoa em seu artigo publicado em 2014 afirma que:

Os novos mecanismos utilizados pelos empresários a luz de uma


economia globalizada deram lugar ao termo conhecido como Dumping
Social, que vem a caracterizar as práticas adotadas por algumas
empresas multinacionais para obterem maiores benefícios e menores

1 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; MOREIRA, Ranúlio Mendes; SEVERO, Valdete Souto. Dumping
social nas relações de trabalho. LTr – Legislação do trabalho, 2012. p. 10.
2 GRIECO, Francisco de Assis. O Brasil e a Nova Economia Global. São Paulo: Aduaneiras, 2001.
13

custos de produção a partir do desrespeito aos direitos e garantias


trabalhistas, internacionalmente reconhecidos.3
Frente este contexto, empresas multinacionais passaram a burlar a
legislação trabalhista com o intuito de reduzir os custos de sua mão de obra
tornando o preço de sua mercadoria mais competitiva. Com a globalização do
mercado econômico a questão do dumping tem uma ligação de natureza
econômica em relações internacionais de concorrência de empresas em nível
mundial com políticas econômicas que traduzem o enfraquecimento de outras
empresas nesse mercado. É um conceito tradicionalmente econômico de tradução
de uma política econômica mais agressiva no sentido de derrubar a concorrência
de outra empresa do mesmo ramo ou de um ramo análogo.

Neste aspecto, Souto Maior, Mendes e Severo nos traz que:

O “dumping social”, assim identificado como prática reincidente, reiterada,


de descumprimento da legislação trabalhista, como forma de possibilitar
a majoração do lucro e de levar vantagem sobre a concorrência, ainda
que tal objetivo não seja atingido, deve repercutir juridicamente, pois
causa grave desajuste em todo o modo de produção, com sérios prejuízos
para os trabalhadores e para a sociedade em geral.4

Assim sendo, ao ser verificado a pratica do dumping na medida em que os


empresários buscam conquistar o mercado eliminando a concorrência à custa da
não concessão dos direitos e garantias da classe trabalhadora, pois de forma
consciente, destinada e frequente violam direitos com finalidade de conseguir
proveitos econômicos e financeiros, e como consequência aumentam sua
concorrência de forma desleal, acometendo diretamente trabalhadores e empresas
que corretamente cumprem com os direitos trabalhistas e sua função social.

1.1 DESIGNAÇÃO DO DUMPING SOCIAL

A concepção do Dumping Social surge da união do pensamento empresarial


na pratica da concorrência desleal a nível mundial, assim denominando o instituto

3MAYORGA, Ludy Johanna Prado; UCHOA, Anna Walléria Guerra. Efeitos do dumping social no
direito ao meio ambiente do trabalho sadio: atuação da OIT e OMC. Direito do trabalho [Recurso
eletrônico on-line] organização CONPEDI/UFSC; Florianópolis: CONPEDI, 2014. Disponível em:
<https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/1939/85650/2015_rev_trt09_v04_n043.pdf?sequence
=1> Acesso em: 10 jun. 2019.
4SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; MOREIRA, Ranúlio Mendes; SEVERO, Valdete Souto LTr –

Legislação do trabalho, 2012, passim.


14

com os efeitos negativos deste comportamento, que pode ser analisado mediante
o desrespeito aos direitos tanto sociais como trabalhistas.
Nas palavras de Goyos,5 o dumping social seria a vantagem relativa e
comparativa dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento sobre os países
desenvolvidos, em termos e trocas internacionais, pelo baixo custo de mão de obra
nos primeiros. E é essa vantagem considerada ilícita e ou injusta pelos
protecionistas quando na realidade o custo mais baixo é decorrente da própria
situação do estágio de desenvolvimento e muitas vezes da miséria que atinge parte
da população global.
Frota6 afirma que “A palavra dumping é utilizada principalmente em termos
comerciais e especialmente no conceito do direito internacional para denominar a
prática de colocar no mercado produtos abaixo do custo, com a finalidade de
suprimir a concorrência e aumentar seu território de mercado.
A empresa não deve ter como vista principalmente o proveito como intuito
único de sua existência, transgredindo os direitos obtidos com demasiada
dificuldade pela classe trabalhadora no decorrer dos tempos.
Consonante a isso Barros7 afirma que; o dumping social é visto quando
empresas burlam as legislações trabalhistas e por resultado conquistam vantagens
indevidas aumentando assim seus lucros nas vendas de seus produtos e serviços,
haja vista a redução significativa nos custos de produção. Com isso gerando um
dano social direto nas empresas que respeitam a legislação.

A exemplo disso Frota8 afirma que:

O dumping é frequentemente constatado em operações de empresas que


pretendem conquistar novos mercados. Para isto, vendem seus produtos
a um preço extremamente baixo, muitas vezes inferior ao custo de
produção. É um expediente utilizado de forma temporária, apenas durante
o período em que se aniquila o concorrente.
Pode-se afirmar, de certa forma, que, após a prática desse tipo de dumping
a empresa alcança seu objetivo, que inicialmente era de derrubar seus

5
GOYOS JR., Durval de Noronha. O dumping social e a agenda para a nova rodada de
negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). In: SANTOS, Alves dos et al. Direito
do trabalho na integração regional. São Paulo: Observador Legal, 2002. p. 163- 172.
6 FROTA, Paulo Mont`Alverne. “O dumping social e a atuação do juiz do trabalho no combate

à concorrência empresarial desleal”. Revista Ltr, n. 78, v. 02, fev. 2014, p. 206.
7 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho.8. ed. São Paulo: LTr, 2012.
8 Idem, Ibiden, 2014
15

concorrentes e passa a cobrar um preço maior em seus produtos de modo que


possa compensar o prejuízo inicial.

2 DUMPING SOCIAL NO BRASIL

No Brasil, as garantias aos trabalhadores estão presentes em diversas leis,


enunciados e jurisprudências, com maior relevância a Consolidação das Leis
Trabalhistas – CLT. Em 1988 a Constituição Federal trouxe muitas garantias sociais
e trabalhistas, em seu preambulo a carta assegura “o exercício dos direitos sociais
e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista
e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna
e internacional.”9

Além disso Gilberto Junior completa que:

[...] A promessa constitucional é de estruturação da ordem social e


econômica brasileira no sentido de, pelo trabalho, garantir a todos
uma vida digna, com efetivo acesso aos direitos sociais previstos
no artigo sexto do seu texto, que se pode considerar o mínimo
existencial.10

Ademais a carta constitucional em seu capitulo II garante o trabalho como


um dos direitos social, no artigo 7º do mesmo capitulo temos como direitos
garantidos á melhoria da condição social dos trabalhadores, além de outros a
proteção a saúde, contra despedida arbitrária, irredutibilidade do salário, horário de
trabalho não superior a 8 horas, férias, aposentadoria, licença a gestante, a higiene
e segurança no trabalho, proteção ao trabalho infantil, etc.
Desse modo observa-se que o Estado brasileiro conta com uma vasta
legislação que garante ao trabalhador proteções sociais individuais e coletivos, e

9 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2014.
10 JUNIOR, Gilberto Carlos Maistro. Primeiras reflexões sobre a reforma trabalhista e seus
reflexos em 2018: Algumas linhas sobre a intermitência frente ao compromisso
constitucional para o trabalho no Brasil. Disponível em:
<http://emporiododireito.com.br/leitura/primeiras-reflexoes-sobre-a-reforma-trabalhista-eseus-
reflexos-em-2018-algumas-linhas-sobre-a-intermitencia-frente-ao-compromissoconstitucional-
para-o-trabalho-no-brasil>. Acesso em 3 Jun 2019
16

não haveria o que se falar em pratica de dumping social relacionado ao abuso do


trabalho.
Das diversas formas de pratica do dumping no Brasil as mais comuns são
as lesões a CLT, como o não registro do trabalhador, não pagamento de horas-
extras e FGTS há também o dumping no não pagamento de tributos, utilização de
mão de obra infantil e o trabalho análogo ao de escravo bastante encontrado em
fabricas de costura e no agronegócio, pode-se então dizer que além do dumping
de exportação que ocorre quando uma empresa exporta um produto com um peço
inferior ao que pratica, no âmbito brasileiro o dumping assumi diversas
modalidades.

3 DUMPING E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO

Neste tópico serão estudados o meio ambiente de trabalho, o trabalho digno


e o papel do estado na proteção dos direitos individuais e coletivos. Trazendo um
breve conceito de meio ambiente e aprofundando na prática do dumping ligado ao
trabalho escravo e a dignidade humana.

3.1 MEIO AMBIENTE

O meio ambiente é estabelecido por um conceito bastante amplo. A


Constituição Federal em seu artigo 200, inciso VIII fala sobre a proteção do meio
ambiente e nele pode-se compreender o trabalho.
Para o constituinte, a saúde pública é uma das interfaces do meio ambiente
do trabalho, não podendo esquecer que o atual conceito de saúde, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), é que “a saúde é um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou
enfermidade”11

A lei 6.938/81 em seu artigo 3, inciso I prevê:

Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e


interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga
e rege a vida em todas as suas formas.12

11 Comissão Nacional da Reforma Sanitária, Relatório final da 8ª Conferência Nacional de Saúde


1986, Documento I, p. 13.
12 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 59.
17

Este conceito jurídico está intimamente ligado com o artigo 225 de nossa
carta Magna, o qual estabelece que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem como o uso comum do povo e essencial a sadia
qualidade de vida”

Antunes13 colabora conosco trazendo o seguinte conceito de meio ambiente:

Meio ambiente compreende o humano como parte de um conjunto de


relações econômicas, sociais e políticas que se constroem a partir da
apropriação dos bens naturais que, por serem submetidos à influência
humana, transformaram-se em recursos essenciais para a vida humana
em quaisquer de seus aspectos.

A doutrina classifica o meio ambiente em razão do bem a ser tutelado. De


acordo com Sanchez14 pode ser dividido em: 1) meio ambiente natural, constituído
pela fauna, flora, ar, solo e água; 2) meio ambiente artificial, criado pela ação
transformadora dos homens, como as edificações e equipamentos públicos; 3)
meio ambiente do trabalho, compreendido como o local onde o ser humano
desenvolve suas potencialidades; 4) meio ambiente cultural, integrado pelo
patrimônio histórico, turístico, paisagístico, arqueológico e artístico; e 5) patrimônio
genético, entendido como a tutela e preservação da vida em todas as suas formas.
Deste modo, Leite15 nos traz que a proteção ao meio ambiente, incluído o do
trabalho, é, antes de tudo, uma questão de cidadania. Ademais, um meio ambiente
equilibrado e sadio faz parte dos direitos fundamentais da pessoa humana.

3.1.1 Meio Ambiente de Trabalho

Meio ambiente de trabalho pode ser definido como o espaço onde pessoas
frequentemente exercem suas atividades laborativas. Para caracterizar um meio
ambiente de trabalho como equilibrado e salutífero depende do espaço salubre e

13 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
14 SANCHEZ, Adilson. A Contribuição Social Ambiental – Direito Ambiental do Trabalho: SAT,
NTEP, FAP, Aposentadoria Especial. São Paulo: Atlas, 2009. p. 13-14.
15 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. O Ministério Público do Trabalho e a Defesa dos Direitos

Humanos. In: DE SENA, Adriana Goulart; DELGADO, Gabriela Neves; NUNES, Raquel Portugal
(coord.). Dignidade Humana e Inclusão Social: Caminhos para a Efetividade do Direito do
Trabalho no Brasil. São Paulo: LTR, 2010, p.177-193.
18

da ausência de agentes que afetem a segurança e a saúde tanto psíquica quanto


física do empregado.
É sabido que o ambiente de trabalho faz parte de um mercado econômico o
qual possui como objetivo a alta produtividade tendo como base as inovações
tecnológicas, onde se busca a obtenção do lucro, não importando, muitas vezes,
se há ou não um sacrifício do trabalhador, fazendo com que o mesmo deixe de lado
a dignidade da pessoa humana.
No entendimento de Leda Maria Messias da Silva16, meio ambiente de
trabalho pode ser determinado como não só sendo um local onde o empregado
elabora seu trabalho, mas identicamente fazendo parte do meio ambiente do
trabalho, fatores tanto internos quanto externos que interajam com o trabalho e
intervir de alguma forma nesse meio ambiente, colaborando para equilíbrio ou
desequilíbrio.
No âmbito internacional a Convenção 155 da OIT17 tem grande destaque
pois se refere diretamente ao meio ambiente de trabalho, a segurança e a saúde
do trabalhador, salientando com clareza que o meio ambiente de trabalho não se
refere apenas a edificação e estabelecimento onde se labora, mas sim todo aquele
ambiente onde os trabalhadores devem comparecer e permanecer e que estejam
sob cuidados do empregado direta ou indiretamente.
O artigo 3º da convenção de número 155 da OIT18 esclarece a abrangência
da expressão saúde, correlacionado ao trabalho afirmando que:

“Termo ‘saúde’, com relação ao trabalho, abrange não só a


ausência de afecções ou de doenças, mas também os elementos
físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente
relacionados com a segurança e a higiene no trabalho”.

16 SILVA, Leda Maria Messias da. O cumprimento da função social do contrato no tocante ao
meio ambiente de trabalho. Revista LTr – Legislação do Trabalho. Publicação mensal de
legislação, doutrina e jurisprudência. São Paulo. Set., ano 72, n. 9, p. 1120-1126.
17 Convenção aprovada na Conferência Internacional do Trabalho em Genebra, 1981, ROCHA, s.

H. As convenções 155 e 161 da oit sobre meio ambiente do trabalho e seus reflexos na
jurisprudência do tst. Revista da agu, v. 13, n. 41, 30 set. 2014.
18 Idem, 2014.
19

Levando em consideração os problemas que mais degradam o meio


ambiente de trabalho, podemos destacar instalações inapropriadas, falta de
isolamento térmico, inexistência de controle da qualidade do ar, partículas de
produtos químicos e poeira em todo o ambiente, ruídos e vibrações inquietantes,
ausência de condições sanitárias, iluminação e ventilação decadentes, supressão
de Equipamentos de Proteção Individual adequados, dentre outras condições que
podem comprometer a saúde dos trabalhadores.
O meio ambiente de trabalho seguro e saudável proporciona um melhor
nível de produtividade, além de reduzir os custos com processos no âmbito
trabalhista e multas como também afetar positivamente toda a sociedade, haja vista
que se uma empresa que cumpre com seus deveres previdenciários e trabalhistas
colabora com a redução de pedidos de auxílio doença e até mesmo numa
diminuição de aposentadoria por invalidez. Com a jornada de trabalho sendo
executada, por mais que não seja por horas exaustivas, o trabalhador passa uma
parcela considerável de sua vida, fazendo com que os efeitos das atividades
desenvolvidas transcendem a esfera de trabalho atingindo diretamente as demais
áreas de convivência e à qualidade de sua vida enquanto laboradore. Vale salientar
que sendo um ambiente saudável, torna-se um ponto positivo para o sistema único
de saúde quando tomamos por base a redução de tratamentos e atendimento de
vítimas por acidentes laborais.

4 TRABALHO ANÁLOGO AO ESCRAVO E DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA

A erradicação do trabalho escravo representa muito mais que uma questão


interna de determinada nação, representa a proteção daquilo que é mais caro aos
indivíduos, ou seja: a sua dignidade.

Com a erradicação do termo escravatura, surge o conceito de trabalho


forçado, sendo que a prestação de serviço se dá através da coação e privação de
liberdade, de forma que o trabalhador não decide por vontade própria se deseja
iniciar a atividade laborativa, e após longos períodos de trabalho, quando o
laborador quer interromper a execução, o mesmo é impedido, visto que este
adquiriu uma divida com o empregador.
20

A Constituição Federal, traz em seu artigo 1° como fundamentos da


República a dignidade da pessoa humana, do mesmo modo o respeito aos valores
sociais do trabalho, substanciando a iniciativa de ordem econômica à valorização
do trabalho humano, uma vez que tão somente se faz possível assegurar o direito
ao trabalho digno, quando garantidos os meios de subsistência dos cidadãos
protegidos pelo ordenamento jurídico.

Somente ter direito a um trabalho não quer dizer que seja uma valorização,
mas ter direito à livre escolha do mesmo, não trabalhando em condições
degradantes ou análogas a de escravo verificadas no trabalho forçado ou
obrigatório combatidos pelas convenções anteriormente estudadas, é considerar o
trabalho humano com condições dignas, promovendo uma sociedade livre, justa e
solidária, objetivo maior de nossa Carta Magna, conforme previsto no artigo 3º, I,
desta.

4.1 TRABALHO ANÁLOGO AO ESCRAVO

Com base no Código Penal brasileiro no seu artigo 149, caracteriza-se como
trabalho análogo ao escravo aquele que expõe o trabalhador a condições
degradantes de trabalho, quer sejam elas aquelas incompatíveis com a dignidade
da pessoa humana, quer sejam elas as jornadas exaustivas em que o empregado
é submetido a uma elevada carga de trabalho e caracterizadas pela violação dos
direitos fundamentais assim expondo a vida e a saúde dos trabalhadores ou
restringindo por qualquer meio sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto. Não sendo requisito para caracterizar o delito que todos
os elementos do referido artigo estejam presentes, basta a caracterização de um
único elemento.
Além das formas de combate ao trabalho análogo ao de escrado ou, como
alguns autores denominam, escravo contemporâneo, o representante do executivo
em âmbito nacional, analisando de que a dignidade do trabalhador constitui um dos
pilares que fundamentam o Estado Democrático de Direito, foi gerada a Comissão
Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE), o qual trata-se de um
órgão vinculado à Secretaria de Direitos Humanos, com o objetivo de acompanhar
minuciosamente o cumprimento de ações estabelecidas pelo Plano Nacional para
21

a Erradicação do Trabalho Escravo, tendo este órgão o objetivo de propor medidas


convenientes do referido plano à realidade, conforme se fizer necessário.
O código penal passou a usar a expressão “trabalho análogo ao de escravo”
tendo em vista que o trabalho escravo fora abolido pela Lei Aurea, assinada pela
princesa Isabel em 13 de maio de 1888.
São entre outros, elementos do trabalho análogo ao de escravo o trabalho
forçado, a jornada exaustiva, a servidão por dívida e condições degradantes.
Trabalho escravo19: neste caso o empregado é obrigado a se aquiescer a
condições de trabalho em que é abusado, sem que exista a possibilidade de
ausentar-se do local por causa de débitos com o empregador, ou por ameaças
psicológicas ou violências físicas.
Jornada exaustiva20: nesta modalidade o trabalhador coloca em risco sua
integridade física por motivo de o empregador expor a pessoa a um expediente
desgastante que acaba sendo superior ao horário previsto em legislação, não
respeitando intervalos intrajornada tão pouco descanso semanal remunerado.
Servidão por dívida21: ocorre quando o empregador desconta de forma
abusiva do salário do trabalhador dividas adquiridas pelos trabalhadores referente
a transporte, alimentação, aluguel e muitas vezes ferramentas de trabalhos, e
assim o empregado sempre estará em dívida com o patrão e estando rendido a
este por motivo de dividas.
Condições degradantes22: é caracterizado por um conjunto de elementos
que definem e caracterizam a precariedade do emprego em que o trabalhador está
submetido, neste caso ferindo sua dignidade inerente a todo ser humano.
No Brasil o trabalho degradante provem do trabalho escravo, tendo o
trabalhador a privação de liberdade, onde em muitos casos fica atrelado a um
debito com o empregador, tendo seus documentos retidos, como no caso de
imigrantes em que são confiscados seus passaportes, além do trabalho em lugares
geograficamente isolados evitando contatos com a comunidade externa e ate
mesmo a fiscalização trabalhista. A degradação vai desde o constrangimento físico

19 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Trabalho decente: análise jurídica da exploração do trabalho:
trabalho forçado e outras formas de trabalho indigno. São Paulo: LTr, 2004.
20 Idem, Ibden, 2004
21 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. São Paulo: LTr, 2004, passim.
22 Idem, 2004.
22

e/ou moral a qual o trabalhador torna-se sujeito, acomodações sem condições de


habitação, ausência de instalações sanitárias, falta de água potável, remuneração
inexistente ou menores que o previsto na legislação, condições mínimas de
segurança do trabalho, jornadas de trabalhos exaustiva, o endividamento pela
venda de mercadorias vendidas pelo próprio empregador, dentre outros.

4.1.1 Trabalho análogo ao de escravo correlacionado ao Dumping


Social

O trabalho escravo, que já fora considerado necessário e natural para a


evolução da sociedade, é uma das mais antigas e rentáveis formas de uso da mão
de obra humana.
Aqui é de grande relevância salientar que a dignidade humana veda a
coisificação do indivíduo, sendo ela um meio para conseguir o fim desejado, seja
ela utilizar o empregado como instrumento.
Sobre o tema Miraglia23 explica: “Não obstante, a fim de evitar a referência
a inúmeras praticas indignas que possam caracterizar o trabalho em condições
degradantes e cerceamento da liberdade.”
Essa pratica parte do preceito em que o baixo preço de alguns produtos e
mercadorias deriva da utilização de mão de obra escrava e infantil, combinado com
baixas remunerações, situações precárias de trabalho e por negarem aos
trabalhadores direitos essenciais garantidos por leis internacionalmente
reconhecidas.
Recentemente o trabalho dos imigrantes irregulares em condições análogas
a de escravidão é notícia em todo o mundo tanto em áreas urbanas como em
atividades rurais. O imigrante ilegal acaba se tornando vulnerável haja vista sua
situação ilegal dentro do território em que se encontra e por esse motivo tendem a
não denunciarem os abusos que sofrem por medo de serem deportados devido as
condições que sofrem em seus países de origem, muitas vezes por motivo de crise
política e social, economia baixa, falta de alimentos e alta inflação que faz com que

23
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. Trabalho escravo contemporâneo: conceituação à luz do
princípio da dignidade da pessoa humana. 2ª ed. São Paulo: LTr,- Legislação do trabalho 2015.
23

aumente a pobreza ou até mesmo para fugirem de guerras, acabam por aceitarem
essa condição.

De acordo com Baeninger:24

Os movimentos migratórios entre os países da América Latina são


históricos e complexos, pois envolvem fluxos intercontinentais que
compreendem diversas formas de mobilidade da população e derivam
tanto de fatores econômicos, quanto políticos.

Atualmente a relação de migração entre Brasil e bolivianos está associada


com essa pratica de dumping. Veja que a ligação entre oferta vantajosa de
trabalhos por aliciadores e a crise política que eles enfrentam acabam por
impulsionar a vinda de bolivianos para pequenas fabricas e oficinas de tecelagem
na cidade de São Paulo. Ao chegar nessas oficinas que funcionam em lugares
escondidos pois em grande maioria são ilegais ou não tem permissão para estarem
funcionando, esses trabalhadores são explorados e sua mão de obra super
desvalorizada.
Com uma carga horaria diária de 16 horas, esses trabalhadores têm como
remuneração salários irrisórios que muitas vezes não chegam a metade do salário
mínimo. Sem direito a adicionais noturno ou horas extras e em locais insalubres
que oferecem riscos a sua saúde e integridade física.
Geralmente com jornadas exaustivas e remuneração com base em sua
produção o trabalhador se esforça até seu limite para receber apenas alguns
centavos por cada peça costurada.
Nesses casos caracteriza-se a pratica do dumping social porque o
empresário passa a obter lucros a partir do uso de trabalhadores em condições
análogas a de escravo em locais precários, assim causando uma concorrência
desleal para uma maior obtenção de lucros.

24
BAENINGER, Rosana. O Brasil na rota das migrações latino-americanas. In: Imigração
Boliviana no Brasil. Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Unicamp; Fapesp; CNPq;
Unfpa, 2012. p. 9-18.
24

É dentro desse âmbito que o Dumping Social atua, nas palavras de Jorge
Luiz Souto Maior25 com a evolução da civilização a viabilidade de praticar atos que
ultrapassem as garantias dos trabalhadores, acarretam em danos sociais.
Gauderio jornalista e fotografo em reportagem para Folha de São Paulo em
2007 retrata o tráfico de bolivianos para trabalho em fabricas de costuras na capital
paulista. Para isso o repórter viaja até a Bolívia afim conhecer como funciona os
aliciadores, se denominando como overloquista, pessoa que trabalha com uma
máquina de costura específica, com objetivo de ser aceito para trabalhar nas
fabricas de São Paulo. O repórter se submete a uma exaustiva jornada de 17 horas
em registro em carteira e sendo obrigado a aceitar um contrato verbal onde teria
que trabalhar por cerca de três meses sem salários para custear suas passagem,
alimentação e moradia.
O jornalista relata que é fácil encontrar anúncios com vagas para costureiros
com e sem experiencias para trabalhar no Brasil.26
Consoante com a reportagem acima citada é possível caracterizar
elementos que configurem o crime de trabalho análogo ao de escravo sendo eles
a jornada exaustiva, servidão por dívida, condição degradante e o próprio trabalho
escarvo.

4.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O documento de maior importância para os direitos humanos é a Declaração


Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que fora proclamada em dezembro de
1948 como conduta a ser conquistada por todos povos e nações.
No momento em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos declara
que todos os homens nascem livre e iguais em dignidades e direitos ela afirma que
a dignidade e a liberdade é a base de todos os direitos humanos. Em seu artigo 3º
ela novamente menciona que é direito universal a liberdade ao reconhecer que
“todo homem tem direito a vida, a liberdade e a segurança pessoal”.

25
SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; LTr – Legislação do trabalho, 2012, passim.
26 FOLHA ON LINE. Leia integra do bate-papo com Antônio Gaudério sobre trafico de mão-de-obra
boliviana em SP. 20 dez 2007b. Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2007/12/356995-leia-integra-do-bate-papo-com-antonio-
gauderio-sobre-trafico-de-mao-de-obra-boliviana-em-sp.shtml. Acesso em 08 jun 2019
25

A respeito do trabalho escravo a DUDH afirma em seu artigo 4º que ninguém


será mantido em escravidão ou servidão e que o tráfico de pessoas e escravos
serão proibidas em todas as formas. O artigo 5º da referida declaração menciona
que ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento e castigo cruel, desumano
ou degradante.
Desta forma a DUDH tem como propósito constituir um Estado de direito
digno onde todos os cidadãos sejam portadores de direitos e garantias
independente de sua condição socioeconômica, religião, sexo, cor, nacionalidade
e idade. O fato pelo qual é preciso converter esses valores, que em suma é inerente
de todo ser humano, em direitos positivado é de que todos são livres e iguais por
natureza, porém os homens não nascem livres tão pouco iguais.

ROSSEAU27 em sua mais importante obra denominada “DO CONTRATO


SOCIAL” afirma no primeiro capítulo da obra que;

O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra sob ferros. De tal


modo acredita-se o senhor dos outros, que não deixa de ser mais
escravos que eles. Como é feita essa mudança? Ignoro-o. Que é que a
torna legitima? Creio poder resolver essa questão.
Se eu considerasse tão somente a força e o efeito que dela deriva, diria:
Enquanto o povo é constrangido a obedecer e obedece, faz bem; tão logo
ele possa sacudir o jugo e o sacode, faz ainda melhor; porque, recobrando
a liberdade graças ao mesmo direito com o qual lhe arrebataram, ou este
lhe serve de base para retoma-la ou não se prestava em absoluto para
subtrai-la. Mas a ordem social é um direito sagrado que serve de alicerce
a todos os outros. Esse direito, todavia, não vem da natureza; esta, pois,
fundamentado sobre convenções.
Em consonância Bobbio28 declara que:

“[...] A afirmação de direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva:


universal no sentido de que os destinatários dos princípios nela contido
não são mais apenas os cidadão deste ou daquele Estado, mas todos os
homens; positiva no sentido de que põe em movimento um processo em
cujo final os direitos dos homens deverão ser não mais apenas
proclamados ou apenas idealmente reconhecidos, porém efetivamente
protegidos até mesmo contra o próprio estado que os tenha violado.”

Ademais vale salientar que além da DUDH existem diversos tratados e


convenções sobre garantias e direitos humanos. Em nossa Carta Magna temos
positivado em seu artigo 5º reconhecendo que “Todos são iguais perante a lei, sem

27 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Coleção A Obra Prima de Cada Autor. São
Paulo – SP: Editora Martin Claret, 2003.
28 BOBBIO, Noberto, A Era dos Direitos, 4 º Reimpressão, Tradução de Carlos Nelson Coutinho,

Editora Campus, Rio de Janeiro, 1992


26

distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros a


inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, a igualdade [...]”.
Outro importante órgão na atuação em defesa dos direitos e de dignidade
trabalhistas é a Organização Internacional do Trabalho – OIT, que ao longo dos
anos realizou diversas convenções e recomendações com o intuito de garantir o
mínimo de dignidade entre os povos de todas as nações e frear os avanços de um
capitalismo agressivo contra as garantias dos trabalhadores, porém com baixo
poder coercitivo em relação a soberania dos ordenamentos de cada nação a OIT
tem encontrado dificuldade para se mostrar eficaz no combate a proteção dos
direitos fundamentais.
Em síntese, os organismos internacionais têm por fim garantir os direitos a
todos os cidadãos do planeta.

4.2.1 Trabalho digno

Com o advento do Estado Liberal de Direitos como novo modelo de governo


gerou o reconhecimento da proteção a vida, a liberdade, a integridade física de
todo ser humano. A frente dessa forma de governar o ordenamento jurídico, o
mercado de trabalho e a sociedade passou a precisar de maiores garantias
trabalhistas com a finalidade de reger as relações trabalhistas para garantir que
haja uma sociedade universal em direitos.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho – OIT29, agencia
da qual o Brasil é pais membro, o trabalho indigno é o controle abusivo de um ser
humano sobre outro e tem como principal missão “promover oportunidades para
que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em
condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade”, sendo ela requisito
indispensável para a redução das desigualdades sociais e a diminuição da pobreza
assim garantindo aos trabalhadores uma vida digna com condições de trabalho
seguro que seria o mínimo para a subsistência e liberdade de todos.
A OIT fornece como principais diretrizes para combater o trabalho indigno
um conjunto de indicadores basilar de trabalho decente, entre eles estão a
conciliação entre o trabalho e a vida familiar, a oportunidade de emprego, a jornada

29 CONHEÇA a OIT. Organização Internacional do Trabalho, 19 set. 2006. Disponível em:


http://www.ilo.org/brasilia/conheca-a-oit/lang--pt/index.htm. Acesso em: 8 jun. 2019
27

de trabalho, incluindo o dialogo social e a representação de trabalhadores e


empregadores.30
Apesar dos grandes feitos e progressos relacionados as leis do trabalho, é
necessário ainda que algumas dessas garantias sejam fortalecidas para serem
incorporadas, por exemplo, os direitos sem discriminação ao livre acesso ao
trabalho que pode ser entendida como atitudes que violam o direito da
personalidade dos trabalhadores instituindo diferenças com base em critérios
ilegais e injustos, tais como opção sexual e religiosa, idade, sexo e ou raça. Esse
tipo de segregação ou discriminação representa grande parte do preconceito que
muitos trabalhadores encontram no mercado de trabalho atual, do qual pode-se
conceituar como um afronto aos direitos e princípios fundamentais, além de justiça
e igualdade.
A Lei 9.029/95 em seus dois primeiros artigos assegura que:
Art. 1º Fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e
limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua
manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação
familiar ou idade, ressalvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao
menor prevista no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal. Art. 2º
Constituem crime as seguintes práticas discriminatórias: I - a exigência de
teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro
procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez; II - a adoção
de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem; a)
indução ou instigamento à esterilização genética; b) promoção do controle
de natalidade, assim não considerado o oferecimento de serviços e de
aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de
instituições públicas ou privados, submetidos às normas do Sistema Único
de Saúde (SUS) Pena: detenção de um a dois anos e multa.
Não obstante as garantias fundamentais e de direitos humanos
reconhecidas por tratados internacionais e na Constituição Federal, a Comissão de
Direitos Humanos e Legislação Participativa aprovou proposta que impede
empresas e entidades nacionais ou com representação no país a pactuarem
contratos com entidades que explorem trabalhos escravos ou degradantes em
outros países, sendo definido como trabalho degradante aquele que viola a

30 CONHEÇA a OIT. Organização Internacional do Trabalho, 2006, passim.


28

dignidade da pessoa humana por meio de trabalho escravo e infantil nos termos
dos pactos e tratados internacionalmente reconhecidos.
A finalidade de tal projeto é a de evitar a pratica do dumping social, que visa
burlar a legislação contratando empresas e fornecedores que atuam em países
onde não existem leis e garantias aos trabalhadores e usam do trabalho análogo
ao de escravo para a fabricação de seus produtos.31
Recentemente o Brasil prioriza o combate as formas de trabalho indigno e a
promoção do trabalho dito como decente, tendo como alicerce a melhoria e
promoção de mais empregos assim gerando mais igualde de tratamento e
oportunidades, com intuito de erradicar o trabalho escravo e infantil fortalecendo o
dialogo social entre trabalhadores e empresas. O Programa Nacional de Trabalho
Decente, acordado em 2009, além de reforçar as prioridades já ditas a cima
estabeleceu metas e prazos para serem cumpridos e avaliados nos anos seguintes.
Cabe também salientar sobre a conhecida Lista Suja, portaria que
estabelece a inclusão semestral de empresas que utilizam de trabalho análogo ao
de escravo, com a finalidade de impedir que esses empregadores contratarem
empréstimos e até mesmo vinculação com órgão da administração pública.
A portaria Interministerial do Ministério do Trabalho e Previdência Social –
MTPS de n 4 de 11/05/2016 traz em seu artigo 1º:
“Estabelecer, no âmbito do Ministério do Trabalho e Previdência Social,
cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a
condições análogas a de escrevo, bem como dispor sobre regras que lhes
são aplicadas.” 32

O nome do empregador será divulgado no site oficial do MTPS


permanecendo por um período de 2 anos, tempo em que haverá inspeção e
monitoramento para averiguar a regularidade e condições do trabalho, havendo
reincidência da empresa seu nome permanecera nesta lista por mais 2 anos.

31 ROTA, Paulo Mont`Alverne. “O dumping social e a atuação do juiz do trabalho no combate à


concorrência empresarial desleal”. Revista Ltr, - Legislação do trabalho. n. 78, v. 02, fev. 2013,
p. 206.
32 BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. Portaria Interministerial MTPS/MMIRDH

nº 4 de 11 de maio de 2016. Dispõe sobre as regras relativas ao Cadastro de Empregadores que


tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo. Publicada no Diário Oficial
em 13 de maio de 2016.
29

A referida portaria elenca em seu artigo 13 que; “Compete a Secretaria de


Direitos Humanos acompanhar os procedimentos para inclusão e exclusão de
nomes do cadastro de empresas.
A fiscalização tem por finalidade regularizar os vínculos empregatícios e
libertar trabalhadores que se encontram em condições análogas a de escravos.

5 DUMPING SOCIAL E O PREJUÍZO CAUSADO PELA SUA PRATICA

Neste capitulo será feita uma análise sobre os prejuízos que acarretam a
prática do dumping, tanto no âmbito trabalhista individual e coletivo, como também
os reflexos desse dano na sociedade em geral. Apresentando o dumping social
como um dano não só social, mas também coletivo e individual, haja vista que
alcança ao mesmo tempo trabalhadores inserido no contexto da exploração da mão
de obra e pessoas em situações de vulnerabilidade social que poderão ser aliciadas
ao trabalho escravo.
Haja vista que o instituto aqui tratado ser conteúdo de pesquisas e estudos
contemporâneas, há muitos entendimentos acerca dos riscos e danos ocasionado
pela sua pratica.

5.1 DUMPING SOCIAL E O DANO AO TRABALHADOR INDIVIDUAL

Ainda que os avanços das leis trabalhistas e as garantias concedidas aos


trabalhadores sejam grandes existe também um aumento da pratica de desrespeito
a essas legislações, assim podendo afirmar que muitas vezes esses direitos são
indisponíveis, nas palavras de Godinho

Absoluta será a indisponibilidade, do ponto de vista do Direito Individual


do Trabalho, quando o direito enfocado merecer uma tutela de nível de
interesse público, por traduzir um patamar civilizatório mínimo firmado
pela sociedade política em um dado momento histórico. É o que ocorre,
como já apontado, ilustrativamente, como o direito à assinatura de CTPS,
ao salário mínimo, à incidência das normas de proteção à saúde e
segurança do trabalhador.33

33GODINHO, Maurício Delgado. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr – Legislação
do trabalho 2015.
30

A Constituição Federal quando elenca os direitos sociais em seu artigo 6°


dispõe sobre a moradia, o trabalho, a alimentação, a saúde entre outros, já no artigo
seguinte encontra-se um rol de direitos inerente aos trabalhadores, na qual lhes
são resguardados o direito a reivindicar seu cumprimento perante o poder
judiciário.
Muito embora os trabalhadores tenham positivadas várias garantias como
as horas extras, férias, descanso semanal remunerado, adicional de
periculosidade, entre outros quando existe a pratica do dumping e ainda que a
legislação disponha a possibilidade de o juiz aplicar penas estabelecer multas aos
atos de sua competência, entende-se que esse dispositivo não é aplicável, nas
ações individuais o empregado não teria competência para pleitear, haja vista se
tratar de um direito coletivo do qual não lhe é devido. No âmbito coletivo trabalhista
há uma total ausência legal para a aplicabilidade de dispositivos do direito coletivo
no direito processual individual do trabalho. Ou seja, o trabalhador individual não
será legitimo para alcançar sentença genérica que possa beneficiar toda a classe,
pois é vedado juridicamente.
Em outras palavras, não existe no ordenamento pátrio a possibilidade de na
reclamação trabalhista o magistrado aplicar condenação empresarial por dumping
social sem que o reclamante tenha expressado na inicial.
Entre tanto a reparação do dano poderá ter natureza social e não
exclusivamente individual, portanto não há que se falar em interesse ressarcir
unicamente o dano individual, mas sim o de impedir que outras empresas possam
vir a praticar dumping e que novos trabalhadores possam vir a sofrer danos
análogos.

5.2 DUMPING SOCIAL E O DANO COLETIVO

A prática do dumping social tem natureza jurídica de dano coletivo pois trata-
se de uma desorganização a ordem social e jurídica. Agindo desta forma o
empregador deixa cumprir com sua função social que é a de recolher impostos,
gerar emprego atentar-se ao meio ambiente, e entre outras a de circular riquezas.
Tem-se que o dano social é, nas palavras de Pereira34 a conduta que promove o

34 PEREIRA, Ricardo Diego Nunes. Os novos danos. Danos morais coletivos, danos sociais e danos
por perda de uma chance. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, nº. 2713, 5 dez. 2010. Disponível em:
. Acesso em: 22 jul. 2015.
31

rebaixamento no nível da coletividade resultante de práticas socialmente


reprováveis.
Outro aspecto importante na pratica do dumping, se refere a concorrência
desleal, onde além do dano ao trabalhador a economia interna também sofre
reflexo dessa atitude. A partir daí surge o motivo pelo qual a violação dos direitos
dos trabalhadores acarreta um desequilíbrio de âmbito social, tendo em vista o
desequilíbrio econômico e de direitos coletivos inerente a toda sociedade.

No entendimento de Souto Maior35, o magistrado afirma que:

O prejuízo causado vai além da esfera trabalhista, haja vista que ao não
recolher as contribuições sociais como o Fundo de Garantia do
Trabalhador Segurado – FGTS e a contribuição previdenciária, programas
do governo referentes a moradia, saneamento básico, infraestrutura
urbana, seguro desemprego não poderá ser efetivado, assim
configurando um dano de âmbito social.28
Nas palavras de Neto:

Os chamados direitos coletivos correspondem a uma modalidade de


interesses transindividual ou metaindividuais, cuja característica básica é
a proteção para além da esfera individual, posicionando-se na orbita
coletiva composta por um grupo, classe, categoria de pessoas ou até
mesmo toda a coletividade36
Complementado a ideia, o magistrado Souto Maior (2014, p.21) salienta que
o prejuízo causado vai além da esfera trabalhista, haja vista que ao não recolher
as contribuições sociais, tais como o FGTS e a contribuição previdenciária,
programas de governo referentes à habitação popular, saneamento ambiental,
infraestrutura urbana, seguro desemprego, etc., não poderão ser efetivados,
configurando um dano de espectro social. Com mais exatidão o trecho do acórdão
do TRT da 18ª Região explica: "A figura do dumping social caracteriza-se pela
prática da concorrência desleal, podendo causar prejuízos de ordem patrimonial ou
imaterial à coletividade como um todo. No campo laboral, o dumping social
caracteriza-se pela ocorrência de transgressão deliberada, consciente e reiterada
dos direitos sociais dos trabalhadores, provocando danos não só aos interesses
individuais, como também aos interesses metaindividuais, isto é, aqueles

35
SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; MOREIRA, Ranúlio Mendes; SEVERO, Valdete Souto LTr –
Legislação do trabalho, 2012, passim.
36
MEDEIROS Neto, Xisto Tiago de Dano moral coletivo— 4. ed. ampl., atual. e rev. — São Paulo:
LTr – Legislação do trabalho, 2014.
32

pertencentes a toda a sociedade, pois tais práticas visam favorecer as empresas


que delas lançam mão, em acintoso desrespeito à ordem jurídica trabalhista,
afrontando os princípios da livre concorrência e da busca do pleno emprego, em
detrimento das empresas cumpridoras da lei. (Recurso de Revista n.TST-RR-1646-
67.2010.5.18.0002).

5.2.1 Dumping Social e o prejuízo causado a sociedade

No atual sistema econômico global, o trabalho é a fonte primária de


manutenção da sociedade não só no âmbito individual como também no coletivo,
quando o trabalhador tem lesado, por parte do empregador, seus direitos ou
garantias ele não é o único a ser prejudicado, mas sim toda a coletividade como,
por exemplo, a falta de pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS). Os recursos arrecadados com o FGTS são aplicados em projetos públicos,
como o financiamento de habitação e obras de infraestrutura e saneamento básico.
O modelo de Política Nacional de Habitação, além de outros fundos utiliza o
FGTS nos programas de moradias populares, ou seja, o dinheiro é usado pelo
governo para investimentos o qual não é contemplado pelo setor privado, e nesse
sentido pode-se afirmar que o dumping agride todo o corpo social.
Outro dano causado pelo dumping social é na esfera econômica do mercado
interno. Onde as grandes empresas visam à otimização dos lucros lesando direitos
trabalhistas e assim causando concorrência desleal no mercado. Um exemplo
disso são empresas que mudam para países onde as legislações trabalhistas são
mínimas ou inexistentes, assim aumentando seus lucros e obrigando que
empresas menores deixem de existir por não ter a possibilidade de concorrer com
os preços de mercado e nesse caso aumentando o desemprego. Com isso pode-
se afirmar que o dumping social não só causa prejuízo ao trabalhador tirando
direitos e garantias sociais previstas na carta magna e na legislação trabalhista,
como também a concorrência desleal no mercado interno e assim acarretando na
precarização de todo o Estado social.

Dentro deste contexto social, o Tribunal Regional do Trabalho 18 Região –


TRT 18, traz uma definição clara do dumping social na esfera coletiva:

DUMPING SOCIAL. PRÁTICAS LESIVAS AOS VALORES SOCIAIS DO


TRABALHO E AOS PRINCÍPIOS DA LIVRE CONCORRÊNCIA E DA
BUSCA DO PLENO EMPREGO. DANO DE NATUREZA COLETIVA
33

CAUSADO À SOCIEDADE. INDENIZAÇÃO SUPLEMENTAR DEVIDA. A


figura do dumping social caracteriza-se pela prática da concorrência
desleal, podendo causar prejuízos de ordem patrimonial ou imaterial à
coletividade como um todo. No campo laboral o dumping social
caracteriza-se pela ocorrência de transgressão deliberada, consciente e
reiterada dos direitos sociais dos trabalhadores, provocando danos não
só aos interesses individuais, como também aos interesses
metaindividuais, isto é, aqueles pertencentes a toda a sociedade, pois tais
práticas visam favorecer as empresas que delas lançam mão, em acintoso
desrespeito à ordem jurídica trabalhista, afrontando os princípios da livre
concorrência e da busca do pleno emprego, em detrimento das empresas
cumpridoras da lei. Essa conduta, além de sujeitar o empregador à
condenação de natureza individual decorrente de reclamação, por meio
da qual o trabalhador lesado pleiteia o pagamento de todos os direitos
trabalhistas desrespeitados, pode acarretar, também, uma sanção de
natureza coletiva pelo dano causado à sociedade, com o objetivo de coibir
a continuidade ou a reincidência de tal prática lesiva a todos os
trabalhadores indistintamente considerados, pois é certo que tal lesão é
de natureza DIFUSA. Sentença mantida no particular. (TRT-18 - RO:
00016291220115180191 GO 0001629-12.2011.5.18.0191, Relator:
ELVECIO MOURA DOS SANTOS, Data de Julgamento: 03/09/2012, 3ª
TURMA.37

É nítido, portanto, perceber que o ato de desrespeito as normas, tanto


trabalhistas como de garantias sociais, acabam por atingir uma grande quantidade
de pessoas, de maneira que desestabiliza toda a ordem econômica do Estado,
trazendo consequências negativas para o mercado interno como a concorrência
desleal com as demais empresas, corrobora também para uma super lotação da
Justiça do Trabalho e previdência social a ausência dos depósitos do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço que influi negativamente na construção de
programas de habitação popular e no saneamento básico, prejudicando assim uma
grande quantidade de pessoas.
Contudo, entende-se que a pratica da exploração da atividade de uma
empresa não pode ter como finalidade somente o interesse do empregador, mas
sim da sociedade como um todo, haja vista que a relação trabalhador e empregador
reflete em toda a sociedade e meio ambiente. E neste sentido, pode-se dizer que,
genericamente o instituto do Dumping Social não é um problema apenas de âmbito
trabalhista, mas sim da sociedade como um todo.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO – 18. REGIÃO. Jurisprudência. Goiás, 2012. Disponível


37

em: <http://sistemas.trt18.jus.br/visualizador/pages/conteudo.
seam?p_tipo=2&p_grau=2&p_tab=sap290&p_id=1332259&p_num=4308&p_ano=2012&p_cid=RO
&p_tipproc=RO&p_npag=0>. Acesso em: 5 jun. 2019
34

6 LEGITIMIDADE, COMPETÊNCIA E INDENIZAÇÃO EM FACE DO


DUMPING SOCIAL

Neste item será apresentado as pessoas legitimadas para propor ação em


face do instituto supracitado, o órgão competente para julgar e condenar empresas
que violam as legislações com o intuito de aumentar seus lucros e também o
cabimento de indenizações.

6.1 LEGITIMIDADE PARA O COMBATE AO DUMPING SOCIAL

Por ser considerado instituto de direito coletivo do trabalho, haja vista sua
inserção nos direitos coletivo e difusos, o dumping social apenas poderá ser
demandado em juízo por um de seus legitimados, que defendem em nome próprio
direitos alheios com mandatória legal. Assim apenas entidades listadas nos
dispositivos legais tem poder para postular sobre esses direitos e interesses, a
partir destes julgados seus efeitos serão erga omnes.
Os sindicatos que representam categorias e classes profissionais que
sofrem abusos por meio do dumping, são legitimados a propor ações, inclusive de
danos morais coletivos do qual o valor indenizado será revertido para um fundo
trabalhista ou até mesmo para associações ou instituições que protejam os
trabalhadores e combatam ilicitudes no âmbito trabalhista.
Também tem legitimidade para ingressar com esse tipo de ações o
Ministério Público do Trabalho, sejam elas ações coletivas e até mesmo inquérito
civil.
Através das próprias peculiaridades do dumping social, serão raríssimas38
as situações em que o trabalhador, individualmente considerado, terá condições de
postular em juízo, com chances razoáveis de sucesso, por meio de uma
reclamatória trabalhista na Justiça do Trabalho, a lesão individual específica
oriunda do dumping social, como titular do direito individual homogêneo,
apresentando as provas correlatas, com fulcro no art. 5º., inciso XXV, da

38INDENIZAÇÃO – DUMPING SOCIAL – AÇÃO INDIVIDUAL – DESCABIMENTO – "Reclamatória


trabalhista individual. Dumping social. Não havendo pedido de condenação da reclamada ao
pagamento de dano social, a condenação de ofício configura decisão extra petita. Além disso, o
dumping social decorre de violação de direitos de caráter coletivo, o que impossibilita a
condenação em ação individual. Cabível a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho
para que promova a devida ação, nos termos da Lei nº 7.347/1985. Recurso provido no item."
(TRT 04ª R. – RO 0039500-13.2009.5.04.0005 – 1ª T. – Rel. José Felipe Ledur – DJe 24.01.2011)
35

Constituição Federal e no art. 104 da Lei n. 8078/90, já que não existe


litispendência entre a ação individual e a ação coletiva.
O trabalhador individual não possui legitimidade pois o dumping social
possui características próprias já citadas a cima.
Consequentemente, após configurada a pratica do dumping, ao pretender
em juízo, a parte ofendida deve incluir o pedido de reparação já na inicial. Se não
o fizer, o ilícito poderá ficar sem punição, pois o juiz é impedido deferir de oficio a
indenização, esse é o entendimento do TST.

6.2 ÓRGÃO COMPETENTE PARA JULGAR O DUMPING SOCIAL

Por ser caracterizada como ação coletiva a competência para julgamento de


ações envolvendo o dumping social será das Varas do Trabalho no local onde
ocorrera o dano. O artigo 2 da Lei n 7.347/85 traz que: “As ações previstas nesta
Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá
competência funcional para processar e julgar a causa.”

Em conformidade com o referido artigo o Enunciado n. 04 de Associação


Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – ANAMATRA, estabelece:

DUMPING SOCIAL. DANO À SOCIEDADE. INDENIZAÇÃO


SUPLEMENTAR. As agressões reincidentes e inescusáveis aos direitos
trabalhistas geram um dano à sociedade, pois com tal prática
desconsidera-se, propositalmente, a estrutura do Estado social e do
próprio modelo capitalista com a obtenção de vantagem indevida perante
a concorrência. A prática, portanto, reflete o conhecido “dumping social”,
motivando a necessária reação do
Judiciário trabalhista para corrigi-la. O dano à sociedade configura ato
ilícito, por exercício abusivo do direito, já que extrapola limites econômicos
e sociais, nos exatos termos dos arts. 186, 187 e 927 do Código Civil.
Encontra-se no art. 404, parágrafo único do Código Civil, o fundamento
de ordem positiva para impingir ao agressor contumaz uma indenização
suplementar, como, aliás já previam os artigos 652, “d”, e 832, § 1º, da
CLT.39

Com o enunciado, fica fundamentado alternativa do juiz trabalhista impor


multa ou indenização à empresa que cometa o dumping social, ainda que não
tenham sido requeridas.

39
ANAMATRA. Enunciado nº. 4. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/ . Acesso em: 5 jun.
2019
36

Assim é de grande importância o entendimento do Excelentíssimo


Desembargador Do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região dr. Ricardo
Carvalho a Fraga:
“A legitimidade do juiz, para deferir o pagamento de multa por dumping
social, se justifica pela necessidade de coibir as práticas reiteradas de
agressões aos direitos trabalhistas, por meio do reconhecimento da
expansão dos poderes do julgador no momento da prestação jurisdicional,
nas reclamatórias trabalhistas em que se verifica a ocorrência do referido
dano”40

A partir do momento em que o judiciário não é capaz de entregar à sociedade


uma prestação jurisdicional efetiva, eficaz, vê o seu poder diminuído:

O judiciário não pode ficar inerte diante de tal situação, pois o simples
desrespeito a preceito legal de ordem pública, gera descontentamento e
prejuízo social, uma vez que o Estado passa a despender longo tempo,
esforço e numerário para decidir centenas de ações idênticas, pela
violação dos mesmos preceitos legais, por uma mesma empresa, e, as
vezes, em face do mesmo trabalhador, fazendo cair em descrédito várias
instituições do Estado, inclusive o Estado Juiz.41

Quanto ao entendimento em relação a condenação pela pratica do dumping


os tribunais seguem um mesmo sentido como demonstra a emenda a baixo:

“REPARAÇÃO EM PECÚNIA: CARÁTER PEDAGÓGICO – DUMPING


SOCIAL. CARACTERIZAÇÃO – Longas jornadas de trabalho, baixos
salários, utilização da mão de obra infantil e condições de labor
inadequadas são algumas modalidades exemplificativas do denominado
dumping social, favorecendo em última análise do lucro pelo incremento
de vendas, inclusive de exportações, devido à queda dos custos de
produção nos quais encargos trabalhistas e sociais se acham inseridos.
“As agressões reincidentes e inescusáveis aos direitos trabalhistas geram
um dano à sociedade, pois com tal práticas desconsidera-se,
propositalmente, a estrutura do Estado Social e do próprio modelo
capitalista com a obtenção de vantagem indevida perante da
concorrência. A prática, portanto, reflete o conhecido dumping social” (1ª
Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho,
enunciado n. 04). Nessa ordem de ideias, não deixam as empresas de
praticá-lo, notadamente em países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, quando infringem comezinhos direitos trabalhistas na
tentativa de elevar a competitividade externa. “Alega-se, sob esse
aspecto, que a vantagem derivada da redução do custo de mão de obra
é injusta, desvirtuando o comércio internacional. Sustenta-se, ainda, que
a harmonização do fator trabalho é indispensável para evitar distorções

40Acórdão do processo 0011900-32.2009.5.04.0291 (ed), redator: Ricardo Carvalho Fraga,


participam: Flávia Lorena Pacheco, Luiz Alberto de Vargas. Data: 01.02.2011. Origem: 1ª vara do
trabalho de sapucaia do sul. Disponível em: www.trt4.jus.br. Acesso em 29 jun. 2019
41SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; MOREIRA, Ranúlio Mendes; SEVERO, Valdete Souto LTr –

Legislação do trabalho, 2012, passim.


37

num mercado que se globaliza” (LAFER, Celso – “Dumping Social”, in


Direito e Comércio Internacional: Tendências e Perspectivas, Estudos em
homenagem ao Prof. Irineu Strenger, LTR, São Paulo, 1994, p. 162).
Impossível afasta, nesse viés, a incidência do regramento vertido nos art.
186, 187 e 927 do Código Civil, a coibir – ainda que pedagogicamente –
a utilização, pelo empreendimento econômico, de quaisquer métodos
para a produção de bens, a coibir – evitando práticas nefastas futuras – o
emprego de quaisquer meios necessários para sobrepujar concorrentes
em detrimento da dignidade da pessoa humana.”42

Ainda no mesmo sentido decidiu o relator Julio Bernardo do Carmo:

“DANO À SOCIEDADE (DUMPING SOCIAL). INDENIZAÇÃO


SUPLEMENTAR. JUSTIÇA DO TRABALHO. APLICAÇÃO. As agressões
reincidentes e inescusáveis aos direitos trabalhistas geram um dano à
sociedade, pois com tal prática desconsidera-se, propositalmente, a
estrutura do Estado Social e do próprio modelo capitalista com a obtenção
de vantagem indevida perante a concorrência. A prática, portanto, reflete
o conhecido “dumping social”, motivando a necessária reação do
Judiciário trabalhista para corrigi-la. O dano à sociedade configura ato
ilícito, por exercício abusivo do direito, já que extrapola limites econômicos
e sociais, nos exatos termos dos arts. 186, 187 e 927 do Código Civil.
Encontra-se no art. 404, parágrafo único do Código Civil, o fundamento
da ordem positiva para impingir ao agressor contumaz uma indenização
suplementar, como, aliás, já previam os arts. 652, “d” e 832, §1º, da CLT.
(Súmula n. 04, da primeira Jornada de Direito Material e Processual na
Justiça do Trabalho, em 23.11.2007)” 43

Em consonância com as demais emendas tem-se o julgado do TRT 18ª


Região:

“DUMPING SOCIAL”. INDENIZAÇÃO. DANO SOCIAL. A contumácia da


reclamada em descumprir a ordem jurídica trabalhistas atinge uma grande
quantidade de pessoas, disso se valendo o empregador para obter
vantagem na concorrência econômica com outros empregadores, o que
implica dano àqueles que cumprem a legislação. Essa prática,
denominada “dumping social” prejudica toda a sociedade e configura ato
ilícito, por tratar-se de exercício abusivo do direito, já que extrapola os
limites econômicos e sociais, nos termos dos arts. 186, 187 e 927 do
Código Civil. A punição do agressor contumaz com uma indenização
suplementar, revertida a um fundo público, encontra guarida no art. 404,
§ único, do Código Civil e tem caráter pedagógico, com intuito de evitar-
se a reincidência na prática lesiva e o surgimento de novos casos”. 44

Portanto o dumping pode ser caracterizado como um instituto que prejudica


não apenas o empregado diretamente ligado a empresa que pratica o ato lesivo,

42 Acórdão do processo 00394-2008-003-16-00-3 (RO), Relator: ILKA ESDRA SILVA ARAÚJO,


Data: 09/10/2009. Disponível em: www.trt16.jus.br. Acesso em 28 de jun. 2019
43
Acórdão do processo 00866-2009-063-03-00-3 (RO), Relator: JULIO BERNARDO DO CARMO,
Data: 19/08/2009. Disponível em: www.trt3.jus.br. Acesso em 29 de jun. 2019
44
Acórdão do processo 00539-2009-191-18-00-7 (RO), Relator: ELZA CÂNDIDA DA SILVEIRA,
Data: 04/02/2010. Disponível em: www.trt18.jus.br. Acesso em 29 de jun. 2019
38

mas também a sociedade como um todo, haja vista que a concorrência desleal,
muitas vezes parte do desrespeito a dignidade do trabalhador, assim podendo
afirmar que atinge diretamente outras empresas e os demais trabalhadores e toda
a sociedade.
Portanto pode-se afirmar que facultar ao magistrado agir de oficio perante
ações de pratica de dumping nada mais é que resguardar o poder do ordenamento
jurídico, em outras palavras seria dizer que assim o juiz impõe o respeito as
legislações do direito do trabalho e também a dignidade do trabalhador como
pessoa humana inserida no mercado de trabalho, de modo que o não respeito as
garantias trabalhistas resulta em ofensa ao Estado Democrático de Direito e a
função social das empresas perante o coletivo.
39

7 REFLEXÕES FINAIS ACERCA DO TEMA ABORDADO

Diante de todo exposto, verifica-se que a reiterada pratica do Dumping


Social influencia negativamente na concorrência do mercado entre empresas de
determinados ramos com a finalidade de conquistar o mercado interno, porém há
outras espécies de danos causados pela pratica do instituto supra citado, como
exemplo o desrespeito as garantias e direitos trabalhistas visando o aumento de
seus lucros, o uso de trabalho análogo ao escravo e trabalho infantil.
Outro ponto que merece atenção trata-se do prejuízo causado a sociedade,
pois ao burlar as legislações trabalhistas, deixar de recolher tributos ou não
pagando o FGTS aos funcionários prejudica programas sociais como o programa
de moradia conhecido como Minha Casa Minha Vida o qual utiliza de recursos do
FGTS para o financiamento de moradias para classes de minorias.
Por se tratar de um tema atual o dumping ainda é pouco conhecido e por
esse motivo o estudo de meios de combate a essa pratica se revela de grande
importância, tendo vista garantir a dignidade dos trabalhadores e os interesses não
só do trabalhador individual como também todo o coletivo.
40

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se inserir na esfera trabalhista o conceito de dumping passou a ser


chamado de dumping social, de acordo com a tese o magistrado pode aplicar
indenização aquelas empresas que agridem de forma reiterada os direitos
trabalhistas causando prejuízo a toda sociedade.
O dumping tem uma questão de natureza econômica, tradicionalmente
falando relações internacionais, de concorrências de empresas em nível
internacional com políticas econômicas que traduzem o enfraquecimento da
participação de outras empresas nesse mercado, com políticas de reservas de
mercado, é um conceito econômico que serve para definir essa modalidade de
identificação dessa política agressiva, no sentido de derrubar a concorrência de
outra empresa do mesmo ramo ou análogo.
Desde a DUDH de 1948 e os pactos que vieram depois para regular essa
declaração a atividade econômica está sempre relacionada a sua dimensão social.
O econômico e o social caminham juntos na medida em que a efetivação dos
direitos sociais garantidos historicamente na perspectiva de direitos trabalhistas e
direitos previdenciários, direito a vida, então quando as práticas econômicas das
empresas podem produzir a um rebaixamento da qualidade de vida e dificultam a
eficácia dos direitos sociais.
Dentro do prisma coletivo pode-se chamar de dano a sociedade, em
comparação com as relações direito na perspectiva individual uma pessoa que gera
dano a outra pessoa fica obrigada a reparar esse dano, numa relação patrimonial
ou até extrapatrimonial de natureza individual, mas quando o ato de uma pessoa
representa o rebaixamento da condição humana ele sai da esfera individual e entra
numa esfera social. Essa esfera social do ponto de vista das análises coletivas
pode ser um coletivo homogêneo que são pessoas numa mesma situação, pode
ser um coletivo estrito senso, ou seja pessoas não determinadas mas que podem
ser determinadas por uma abrangência especifica, ou um coletivo no sentido difuso
que engloba todas as pessoas que estão sendo atingidas indistintamente por
aquele ato.
E sobre esse olhar difuso é que se fala em dano a sociedade, por práticas
econômicas abusivas, e nas relações de trabalho essas práticas estão postas
41

numa realidade muito simples, uma empresa que sistematicamente e


reiteradamente não cumpre com a legislação trabalhista, tendo com isso uma
possibilidade de lucro, porque não necessariamente ela fica condicionada a
existência do dano pelo fato de ela ter um lucro. A pratica econômica abusiva ela é
por si uma infração independente do sujeito receber um benefício, e nesse caso o
trabalhador não fica vinculado a provar um dano pela pratica econômica.
Então ela agride reiteradamente os direitos trabalhistas e sociais, abusam
de trabalho infantil e o análogo ao escravo e faz isso sistematicamente ao longo do
tempo e consequentemente uma empresa que age dessa forma ela tem um
potencial de obter uma vantagem econômica sobre a sua concorrente que
inversamente recolhe os tributos, recolhe fundo de garantia e respeita as
legislações, ou seja o custo dessas duas empresas é muito diferenciado e
consequentemente ela faz um desajuste dentro da lógica econômica, porque
ganhando na concorrência a empresa cumpre com sua função social corretamente
vendo que a outra não sofre nenhuma punição no sentido de que ela não é
reprimida, não há uma repressão jurídica para conter o aumento desse ato, só
restando a esta perder realmente a concorrência ou ela tenta agir da mesma forma,
nesse sentido que se fala em desajuste econômico completo gerando o
enfraquecimento da eficácia da legislação trabalhista em nível mais amplo.
Diante do exposto, basta aplicar dois dispositivos do CC atual, sendo eles
os artigos 186 e 187, esses artigos em síntese afirmam que a responsabilidade civil
dentro de uma perspectiva apenas individual, ou seja de quem causa dano a
alguém fica obrigado a reparar, trazendo esses dispositivos para o âmbito do
dumping dizem agora que quem causa dano a alguém no sentido de não respeitar
o direito alheio comete um ato ilícito, e esse ato ilícito se configura também por
práticas abusivas de natureza econômica e social, ou seja quando a pessoa pratica
um ato para além dos limites econômicos e sociais.
42

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