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No que diz respeito ao texto “O salário mínimo”, podemos dizer que o escritor Jô
Soares usa a gramática de uma criança, personagem-autor do texto, para produzir o efeito
esperado, acreditarmos que é uma criança que escreve.
Nesse sentido o autor do texto, a criança, exprime suas ideias com base no seu
repertório sociocultural. A mímesis atua para que a verossimilhança nos faça acreditar que
realmente trata-se de de uma criança que escreve uma redação sobre salário mínimo para
sua professora.
Como Jô Soares faz isso? Podemos explicar esse efeito nos baseando na teoria dos
gêneros e na adequação que a linguagem requer para cada situação. No nosso caso, é o
Jô Soares escrevendo para seu público alvo, como se fosse um menino ou menina da 4a
série, talvez, para sua professora.
Portanto, o escritor precisa seguir um padrão linguístico que se assemelhe ao de
uma criança, assim como uma coerência entre as ideias. O tom irônico dos comentários e a
relação de lógica fica por conta do Jô Soares que utiliza o modelo de uma redação escolar
para construção do texto.
O "modelo" de educação linguística que subjaz ao texto se utilizando na variedade
culta da norma padrão me faria jurar que se trata de uma criança branca do sexo masculino
que havia escrito o texto “O salário mínimo”.
Assim, reconhecemos os gêneros textuais nos embasando em quem escreve e para
quem escreve. E por causa disso, o “maneirismo” utilizado na sua construção nos indica
como será nossa recepção do texto.